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Dossier | Atelier 200 - Teatro Nacional São João no Porto

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As Troianas<br />

Si<strong>no</strong>pse*<br />

Tragédia do poeta trágico grego Eurípides (484 ‑406 a.C.), escrita em 415.<br />

Originalmente, esta era a terceira parte de uma trilogia que compreendia<br />

Alexandre e Palamedes e que devia terminar com um drama satírico<br />

intitulado Sísifo. As três tragédias (das duas primeiras não restam senão<br />

fragmentos) tinham por argumento três momentos de uma mesma lenda<br />

épica: a Guerra de Tróia. Foi a única vez que Eurípides procedeu desta forma,<br />

aproximando ‑se intencionalmente das trilogias de Ésquilo.<br />

As Troianas retratam o instante crucial do imenso drama. A cidade foi<br />

tomada e destruída pelos Gregos: todos os homens morreram. As mulheres<br />

dos vencidos (representadas pelo Coro das Prisioneiras Troianas) aguardam<br />

a sua sorte <strong>no</strong> campo dos vencedores; a pouca distância, fumegam as ruínas<br />

da sua pátria. A ação inicia ‑se com um prólogo <strong>no</strong> qual Poséidon, o deus<br />

que construíra as muralhas de Tróia e não tinha cessado nunca de defender<br />

a cidade, chora o desastre. Atena, que até esse momento tinha tomado<br />

o partido dos Gregos, sobrevém: sente ‑se ofendida pelo ultraje feito a<br />

Cassandra, que foi levada do seu templo pela força, e jura que os vencedores<br />

pagarão por este sacrilégio <strong>no</strong> seio das tempestades que assolarão o seu<br />

caminho de regresso. A velha Hécuba, prostrada diante da sua tenda, chora<br />

pelo seu desti<strong>no</strong>, ainda que tentando em vão resignar ‑se; amaldiçoa Helena,<br />

a odiosa esposa de Menelau, responsável pela guerra.<br />

O Coro das Prisioneiras Troianas (divididas em dois grupos) entra em<br />

cena. As mulheres interrogam ‑se <strong>no</strong> meio de lamentações sobre qual<br />

será a sua sorte e para que cidades da Grécia serão conduzidas como<br />

escravas. O arauto Taltíbio comunica ‑lhes finalmente a decisão dos chefes<br />

hele<strong>no</strong>s: Cassandra, a profetisa virgem, tornar ‑se ‑á escrava e concubina de<br />

Agamém<strong>no</strong>n; Policena será “consagrada” ao túmulo de Aquiles (perífrase<br />

que Hécuba não compreende ainda e que significa que a princesa será<br />

sacrificada às mãos do herói); Andrómaca, esposa de Heitor, servirá<br />

Pirro, filho de Aquiles; quanto à velha Hécuba, irá ser escrava de Ulisses.<br />

Subitamente, o clarão de um incêndio sai da tenda de Cassandra, que logo<br />

aparece brandindo uma tocha. Delirante, a profetisa rodopia numa dança<br />

desenfreada: canta, com um desespero que se aproxima de uma alegria<br />

frenética, as bodas que a vão unir ao ímpio Agamém<strong>no</strong>n, ela, a sacerdotisa<br />

consagrada aos deuses. Apaziguada, vaticina o infortúnio que o seu enlace<br />

causará e convida a sua mãe a regozijar ‑se pela ruína dos destruidores<br />

de Tróia, que sobrevirá graças a si: sim, a cidade aniquilada terá me<strong>no</strong>s a<br />

lamentar que os seus vencedores.<br />

Enquanto o arauto leva Cassandra, Hécuba reincide na evocação do seu<br />

passado funesto e chora o seu desti<strong>no</strong> de escrava. Esta parte, dominada pela<br />

comovente figura de Cassandra, termina num lamento do Coro, que evoca<br />

os derradeiros momentos de Tróia, o fatal ardil do cavalo de pau e o saque da<br />

cidade. Os quadros seguintes são consagrados ao infortúnio de Andrómaca,<br />

que aparece em cena acompanhada do jovem Astianacte, seu filho, para<br />

anunciar uma triste <strong>no</strong>va a Hécuba: Policena, a filha da velha rainha, acaba de<br />

ser imolada <strong>no</strong> túmulo de Aquiles. Enquanto Andrómaca tenta acalmar a dor<br />

da sua sogra, Taltíbio regressa. A sua missão repugna ‑lhe: tem de comunicar<br />

às duas mulheres a monstruosa decisão que os Gregos tomaram; aconselhados<br />

por Ulisses, decidiram desfazer ‑se do jovem Astianacte, arremessando ‑o<br />

do alto das muralhas. Extenuada, Andrómaca não resiste; separa ‑se do filho<br />

chorando e lança a sua maldição sobre os vencedores, enquanto o Coro canta a<br />

dolorosa história de Tróia, duas vezes destruída.<br />

O terceiro episódio da tragédia coloca em cena Helena e Menelau. O rei de<br />

Esparta vem à procura da sua esposa, a fim de a levar de volta à Grécia e punir<br />

a sua traição com a morte. Hécuba aprova a sua decisão e aconselha ‑o a não<br />

prolongar por demasiado tempo a sua relação com a infiel, com receio de que<br />

venha de <strong>no</strong>vo a ficar fascinado pelo seu encanto. Helena aparece e suplica a<br />

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