Bordejar o incapturável: A propósito do conceito de pulsão em ...
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Referência que se perfila, antes <strong>de</strong> mais nada, como um convite <strong>de</strong> Freud para continuarmos<br />
a tarefa <strong>de</strong> eclarecer os aspectos obscuros da Teoria das Pulsões.<br />
Por certo, esta tarefa não foi somente brilhant<strong>em</strong>ente introduzida por Freud, mas também<br />
<strong>de</strong>senvolvida por ele nos seus aspectos principais. De mo<strong>do</strong> que não se trata meramente <strong>de</strong><br />
assinalar o carácter inacaba<strong>do</strong> da Teoria das Pulsões, mas <strong>de</strong> mostrar, <strong>em</strong> tais referências <strong>de</strong><br />
Freud, que a psicanálise se perfila como uma teoria aberta e <strong>em</strong> continua expansão. Sobretu<strong>do</strong>,<br />
ao reconhecer que na obra <strong>de</strong> Freud não existe somente duas teorias da <strong>pulsão</strong> mas diferentes<br />
níveis <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong>ste <strong>conceito</strong> <strong>em</strong> relação com os outros <strong>conceito</strong>s que compõ<strong>em</strong> a teoria<br />
psicanalítica.<br />
Com efeito, essas questões revelam, nada menos, a fecundida<strong>de</strong> teorética-clínica da Teoria<br />
das Pulsões introduzida por Freud. Mas, também, mostram que o <strong>de</strong>senvolvimento propriamente<br />
dito da Teoria das Pulsões não é uma tarefa livre <strong>de</strong> obstáculos; seja os que Freud advertiu no<br />
<strong>de</strong>correr da sua obra; seja os <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s posicionamentos ambíguos que subjac<strong>em</strong> na sua<br />
reflexão sobre as pulsões. Obstáculos que muitos autores buscaram tapar com novas <strong>de</strong>finições e<br />
novos <strong>conceito</strong>s, <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> buscar saídas consequentes <strong>em</strong> relação com as ambiguida<strong>de</strong>s<br />
existentes <strong>em</strong> matéria pulsional, e s<strong>em</strong> ater<strong>em</strong>-se à coêrencia <strong>de</strong>sses <strong>em</strong> relação com o conjunto<br />
da obra. O resulta<strong>do</strong> é um amálgama <strong>de</strong> novos <strong>conceito</strong>s que mais confun<strong>de</strong>m que esclarec<strong>em</strong>. O<br />
que revela que, apesar da constante reflexão acerca <strong>do</strong> estatuto <strong>do</strong> <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pulsão</strong>, alguns<br />
autores se contentaram com uma teoria “insufuciente” das pulsões.<br />
Dentro <strong>de</strong>sta mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações, não se trata <strong>de</strong> sublinhar a dimensão pulsional<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento das relações <strong>de</strong> objeto ou, tampouco, <strong>em</strong> opor a <strong>pulsão</strong> ao objeto, mas <strong>de</strong><br />
estabelecer vias <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> entre eles, tal como propõe Green (1987). Daí que a tendência a<br />
antropomorfização das instancias que compõ<strong>em</strong> a segunda tópica esteja totalmente vinculada<br />
com a probl<strong>em</strong>ática <strong>do</strong> objeto, <strong>em</strong> concreto, com a sua situação tópica.<br />
Pois b<strong>em</strong>, a metapsicologia, ou seja, a dimensão que busca discutir os processos psíquicos<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ponto <strong>de</strong> vista tópico, econômico e dinâmico, introduzirá uma nova modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
leitura <strong>do</strong>s processos psíquicos, oposta aos paradigmas da ciência, mas também distinta das<br />
i<strong>de</strong>ias abstratas <strong>do</strong> discurso metafísico. Contu<strong>do</strong>, mesmo sen<strong>do</strong> certo que o <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pulsão</strong><br />
produz uma ruptura com o pensamento científico não se trata <strong>de</strong> uma operação acabada, mas <strong>do</strong><br />
início <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> “outra cena” que é o <strong>de</strong>scobrimento <strong>do</strong><br />
inconsciente.<br />
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