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Evasões O Borda D'Água<br />
Sabe o leitor on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong><br />
encontrar esta nota <strong>de</strong> carácter<br />
histórico? Encontramo-la<br />
entre muitas, variadas e importantes<br />
informações numa das<br />
mais curiosas e interessantes<br />
publicações portuguesas. Referimo-nos<br />
ao "Borda D'Água",<br />
o "verda<strong>de</strong>iro almanaque" que<br />
é um "reportório útil para toda<br />
a gente", <strong>de</strong> que acaba <strong>de</strong> sair<br />
a edição <strong>de</strong>dicada ao ano <strong>de</strong><br />
2005.<br />
Mas não se limita a informações<br />
<strong>de</strong> almanaque, naturalmente<br />
pouco profundas e<br />
ligeiras, o conteúdo que a publicação<br />
nos traz, com a a intenção,<br />
a sabedoria e a <strong>de</strong>dicação<br />
ao povo português que lhe<br />
é inerente. O "Borda D'Água"<br />
é um verda<strong>de</strong>iro serviço público<br />
que chega aos mais recônditos<br />
e obscuros lugares do<br />
país, aconselhando <strong>de</strong>vidamente<br />
os seus leitores. Ao fim<br />
e ao cabo exerce as funções<br />
que competem a diversos responsáveis<br />
e que, por negligência<br />
e incompetência, muitas<br />
vezes não cumprem. Este<br />
pequeno opúsculo merece a<br />
gratidão <strong>de</strong> todo um país que<br />
apren<strong>de</strong>u a conhecer o tempo,<br />
os movimentos das marés,<br />
os saberes da terra, a semear<br />
e a colher nas suas páginas.<br />
Publicação vetusta, os próprios<br />
responsáveis <strong>de</strong>sconhecem<br />
o ano em que pela primeira<br />
vez viu a luz do dia.<br />
Pelo menos remonta a 1812,<br />
agra<strong>de</strong>cendo a quem possua<br />
algum exemplar anterior a essa<br />
data que informe "para recuarmos<br />
a ida<strong>de</strong> provecta da nossa<br />
folhinha… <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, mas<br />
também arca <strong>de</strong> sacralizações<br />
ou festas eternas que <strong>de</strong>ram<br />
origem aos calendários".<br />
Na sua Apresentação o almanaque,<br />
que se apresenta pela<br />
segunda vez sob nova orientação,<br />
é claro quanto aos seus<br />
<strong>de</strong>sejos. Preten<strong>de</strong> ser uma companhia<br />
para o quotidiano do<br />
leitor, assim como um instrumento<br />
para o seu <strong>de</strong>spertar. E<br />
preten<strong>de</strong>, mesmo, ultrapassar<br />
as limitações com que uma<br />
publicação <strong>de</strong> pequenas dimensões<br />
normalmente se <strong>de</strong>bate.<br />
E aborda, <strong>de</strong> modo bem interessante<br />
e saudável aliás, temas<br />
como a agricultura tradicional<br />
ou biológica, as plantas<br />
medicinais e o Espírito Santo,<br />
mergulhando em profundas e<br />
arreigadas tradições portuguesas.<br />
Mas, o "Borda D'Águia" não<br />
se fica pelo que atrás foi dito.<br />
Ao longo das suas 22 páginas<br />
são fornecidos dados astronómicos<br />
e agro-lunares, assim<br />
como as previsões do tempo,<br />
a tabela das marés, as feiras,<br />
as festas, as festivida<strong>de</strong>s e os<br />
dias nacionais, internacionais<br />
e mundiais. E a primeira gran<strong>de</strong><br />
surpresa resi<strong>de</strong> na enorme<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação contida<br />
em tão magras páginas.<br />
Contudo, tudo o que o director<br />
da publicação, Pedro Teixeira<br />
da Mota, preten<strong>de</strong> oferecer<br />
ao leitor ali se encontra,<br />
com uma linguagem clara e<br />
sintética que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />
um exemplo para muitos profissionais<br />
da comunicação<br />
social.<br />
O ANO EM QUE ESTAMOS<br />
O "Juízo do Ano", com que<br />
termina o "Borda D'Água", não<br />
é optimista, nem podia sê-lo<br />
quando se colocam óbvias e<br />
básicas interrogações sobre a<br />
melhoria dos meios <strong>de</strong> prevenção<br />
e combate aos incêndios, a<br />
diminuição do esbanjamento,<br />
as assimetrias dos or<strong>de</strong>nados e<br />
reformas, a burocracia, a justiça,<br />
o sistema prisional, as poluições,<br />
o rastreio das doenças, a<br />
harmonia vital das pessoas, a<br />
saú<strong>de</strong>, o emprego, a educação,<br />
as artes e ofícios, a investigação<br />
científica e tantas outras<br />
insuficiências negras do nosso<br />
presente.<br />
Mas, outros aspectos negativos<br />
são referidos a nível internacional,<br />
como a intervenção<br />
do império americano, a recusa<br />
<strong>de</strong> subscrição do tratado <strong>de</strong><br />
Kyoto pelos maiores poluidores<br />
e o médio oriente, por exemplo.<br />
Pontos positivos são referidos,<br />
como as organizações activas<br />
pelo bem da Terra e dos mais<br />
<strong>de</strong>sfavorecidos, pelo controlo da<br />
poluição, a ciência e a cultura.<br />
Por fim, não esquece a luz do<br />
espírito, a consciência do "Espírito<br />
divino" que nos levará a<br />
viver "amorosa, sábia e fraternalmente<br />
em 2005".<br />
O "Borda D'Água" é o mais<br />
conhecido dos almanaques que<br />
se publicam em Portugal. Muito<br />
conhecido se tornou nos últimos<br />
anos "O Seringador", com quem<br />
disputa a primazia no interesse<br />
dos agricultores por este tipo <strong>de</strong><br />
publicações. Obra fundamental<br />
para a feitura das previsões do<br />
tempo, para <strong>de</strong>scobrir os movimentos<br />
da natureza e para os<br />
dados astronómicos e agro-lunares<br />
e que supomos servir <strong>de</strong> suporte<br />
para os almanaques populares<br />
é o "Lunário Perpétuo" que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
há mais <strong>de</strong> 200 anos, tem servido<br />
numerosas gerações. Da<br />
autoria <strong>de</strong> Jerónimo Cortês, Valenciano,<br />
o "Lunário e Prognóstico<br />
Perpétuo" é um manancial inesgotável<br />
<strong>de</strong> notícias, avisos e <strong>de</strong>scobertas<br />
da natureza que fascina<br />
pelo que ainda hoje mantém<br />
<strong>de</strong> actualida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> ser anterior<br />
à revolução francesa <strong>de</strong> 1789.<br />
Voltemos ao nosso almanaque.<br />
Aí encontrará o leitor o que<br />
necessita se aos trabalhos da agricultura,<br />
jardinagem e pecuária se<br />
<strong>de</strong>dicar. Indispensável se torna a<br />
quem precisa <strong>de</strong> conhecer as marés,<br />
as horas do nascer e do pôr do<br />
sol, o tempo, as fases da lua, os<br />
signos do Zodíaco, os santos que<br />
diariamente abençoam os dias do<br />
calendário, as feiras, as festas e<br />
tudo o mais que preenche a vida<br />
rural.<br />
O "Borda D'Água" é, a todos<br />
os títulos, um caso notável. Aparentemente<br />
anacrónico, ele é inseparável<br />
da sabedoria popular.<br />
Quem mais que este almanaque<br />
po<strong>de</strong>ria concluir que "O Natal é<br />
para todos: o asno e a vaca também<br />
estão no presépio"?<br />
Orlando Cardoso<br />
orlccardoso@clix.pt<br />
Foi o grego<br />
Pitágoras, no<br />
século VI a. C.,<br />
quem primeiro<br />
chamou ao<br />
universo<br />
Cosmos, ou seja,<br />
or<strong>de</strong>m e beleza,<br />
daqui nascendo<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
harmonia do<br />
macrocosmos e<br />
do<br />
microcosmos.<br />
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JORNAL DE LEIRIA | 13 DE JANEIRO DE 2005