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Revista Brasileira de Ortopedia; 2006 - Prodot

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RBO - <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ortopedia</strong> e Traumatologia http://www.rbo.org.br/materia.asp?mt=1732&idIdioma=1<br />

Pé torto congênito*<br />

MARIA HENRIQUETA RENNÓ MERLLOTTI, SUSANA DOS REIS BRAGA, CLÁUDIO SANTILI<br />

DEFINIÇÃO<br />

Pé torto congênito (PTC) é o termo usado para <strong>de</strong>screver a <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> complexa que inclui alterações <strong>de</strong><br />

todos os tecidos músculo-esqueléticos distais ao joelho, ou sejam, dos músculos, tendões, ligamentos, ossos,<br />

vasos e nervos(1).<br />

A <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> resultante consiste <strong>de</strong> eqüino do retropé, varo (ou inversão) da subtalar, cavo por flexão<br />

plantar do antepé e adução do médio e do antepé.<br />

O PTC idiopático ocorre em crianças sem alterações subjacentes que justifiquem o quadro e não se resolve<br />

<strong>de</strong> forma espontânea. Outros tipos <strong>de</strong> pés tortos são: o postural, que se resolve habitualmente com<br />

manipulações; o neurológico, associado à mielomeningocele; e o sindrômico, presente nas crianças com<br />

outras anomalias congênitas; os dois últimos, geralmente rígidos e muito resistentes ao tratamento.<br />

EPIDEMIOLOGIA<br />

A incidência do PTC apresenta ampla variação conforme a raça, sendo <strong>de</strong> 0,93 a 1,5 para cada 1.000<br />

nascidos vivos da cor branca e <strong>de</strong> até 6,8 para cada 1.000 nascidos vivos polinésios.<br />

O sexo masculino é duas vezes mais afetado. O envolvimento é bilateral na meta<strong>de</strong> dos casos e, quando<br />

unilateral, é mais freqüente à direita.<br />

Etiologia<br />

O PTC é um dos <strong>de</strong>feitos congênitos mais comuns do pé; entretanto, sua patogênese ainda não foi<br />

totalmente esclareci-(1,4).<br />

Segundo Cummings et al, a primeira <strong>de</strong>scrição clínica do PTC foi feita por Hipócrates, que propôs como fator<br />

causal a compressão sofrida pelo pé no ambiente intra-uterino(2). Tredwell et al observaram que aumenta a<br />

incidência <strong>de</strong> PTC quando ocorre perda <strong>de</strong> líquido amniótico entre a 11a e a 12a semanas <strong>de</strong> gestação(5).<br />

Christianson et al observaram que a presença <strong>de</strong> contraturas é mais freqüente quanto mais precoce e<br />

dura-douro for o período <strong>de</strong> oligodrâmnio, sendo o pé torto a contratura mais encontrada(6).<br />

Kawashima e Uhthoff <strong>de</strong>monstraram que, entre a oitava e a 10a semanas após a concepção, o pé passa por<br />

um estágio fisiológico que lembra o PTC maduro, sugerindo, então, que, provavelmente, existe uma parada<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento, que impediria o curso normal <strong>de</strong> correção espontânea da <strong>de</strong>formi-da<strong>de</strong>(7).<br />

Ippolito e Ponseti acreditam na existência <strong>de</strong> alterações histológicas e estruturais como <strong>de</strong>feitos<br />

primários(8). Há, ainda, a hipótese <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> seja secundária a anormalida<strong>de</strong>s neurogênicas, em<br />

que a diminuição da inervação na região póstero-medial do pé seria responsável pelo encurtamento e fibrose<br />

da musculatura, sendo comparável a uma forma limitada <strong>de</strong> artrogripose(9).<br />

Fatores genéticos apresentam reconhecida influência na ocorrência do PTC(10-11). Wynne-Davies(10)<br />

observou que a ocorrência é 17 vezes maior em parentes <strong>de</strong> primeiro grau, seis vezes maior em parentes <strong>de</strong><br />

segundo grau e aproximadamente igual à da população geral quando parentes <strong>de</strong> terceiro grau. Nos gêmeos<br />

monozigóticos a concordância é <strong>de</strong> 32,5%, enquanto que nos gêmeos fraternos é <strong>de</strong> apenas 2,9%,<br />

semelhante à <strong>de</strong> irmãos que não são gêmeos, na população caucasiana. Pais não afetados têm a<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1:40 <strong>de</strong> ter um segundo filho afetado, enquanto que o risco <strong>de</strong> ter uma filha afetada é<br />

muito pequeno. Pais não afetados com uma filha afetada têm a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1:16 <strong>de</strong> ter um filho afetado<br />

e 1:40 <strong>de</strong> ter outra filha afetada. Dessa forma, consi<strong>de</strong>ra-se que a herança seja feita através <strong>de</strong> um gene<br />

dominante <strong>de</strong> baixa penetrância, ou seja, <strong>de</strong> padrão multifatorial.<br />

Anatomia<br />

A <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> no PTC é resultado do somatório entre o mau alinhamento dos ossos, alteração da<br />

conformação óssea e concomitante retração das partes moles.<br />

O osso que apresenta maior <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> é o tálus, que tem seu colo encurtado e sua superfície medial<br />

diminuída. O ângulo formado pelo eixo longo da cabeça e do colo com o eixo longo do corpo do tálus é<br />

chamado ângulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>clinação, que num pé do adulto normal é <strong>de</strong> aproximadamente 150o a 160o e no PTC<br />

seu valor está entre 115o e 135o.<br />

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seu valor está entre 115o e 135o.<br />

A posição do tálus em relação ao tornozelo é motivo <strong>de</strong> controvérsia: é <strong>de</strong>scrita como neutra(12), como<br />

rodada medial-mente(13) ou lateralmente(14). Cahuzac et al, utilizando a RNM tridimensional, concluíram<br />

que o enlage cartilaginoso do tálus está em rotação medial tanto no pé normal como no PTC; entretanto, no<br />

pé torto o ângulo é menor (28o versus 38 o)(15).<br />

O navicular e o calcâneo estão <strong>de</strong>slocados medial e plantarmente em relação ao tálus; o cubói<strong>de</strong> está<br />

<strong>de</strong>slocado medialmente em relação ao calcâneo; e o tornozelo encontra-se em eqüino(16-17).<br />

QUADRO CLÍNICO<br />

Toda criança portadora <strong>de</strong> <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> congênita <strong>de</strong>ve ser examinada como um todo, tanto para excluir<br />

alterações associadas como para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> fatores etiológicos, o que é possível nos casos não<br />

idiopáticos. Nos pés tortos congênitos é importante certificar-se <strong>de</strong> que não se trata <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> quadros<br />

sindrômicos ou neurogênicos, assim como é necessário o acurado exame dos quadris pela possibilida<strong>de</strong> da<br />

associação com displasia do <strong>de</strong>senvolvimento(2,16-17).<br />

O PTC é caracterizado pelo eqüino do retropé, varo (ou inversão) da articulação subtalar, cavo (flexão<br />

plantar do antepé em relação ao retropé) e aduto (do antepé em relação ao mediopé). Essas <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s<br />

não se corrigem passivamente (figura 1).<br />

Observam-se uma ou duas pregas cutâneas posteriores e uma prega longitudinal no mediopé; o calcâneo<br />

não é palpável no seu coxim plantar. O tálus tem sua cabeça palpável na região dorsolateral e anteriormente<br />

à articulação do tornozelo. Numa criança com PTC unilateral, o pé é menor, a perna é levemente mais curta<br />

e tem menor diâmetro que a contralateral. O encurtamento ocorre na tíbia em 89% dos casos e no fêmur<br />

em 43%(1,3,17).<br />

A avaliação da torção tibial é muito difícil nos recém-nas-cidos, mas torna-se mais evi<strong>de</strong>nte a torção interna<br />

à medida que a criança cresce, estando sempre associada, em maior ou menor intensida<strong>de</strong>(1,3,17).<br />

Sodré et al, em um estudo arteriográfico, observaram associação do PTC com hipoplasia ou terminação<br />

precoce da artéria tibial anterior, sendo sempre recomendado um bom exame neurovascular nas avaliações<br />

prévias e durante o tratamento (figura 2)(18).<br />

ALTERAÇÕES RADIOGRÁFICAS<br />

O diagnóstico do PTC no recém-nascido é essencialmente clínico(16-17).<br />

Existe gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> em avaliar e reproduzir as medições radiográficas. Os núcleos <strong>de</strong> ossificação são<br />

arredondados e excêntricos em seus mol<strong>de</strong>s cartilaginosos, impossibilitando, por vezes, o correto traçado <strong>de</strong><br />

seus eixos. Além disso, raramente conseguem-se radiografias com a<strong>de</strong>quado posicionamento dos pés.<br />

O pé <strong>de</strong>ve ser segurado na posição <strong>de</strong> melhor correção e, preferencialmente, com carga ou, ao menos, apoio.<br />

A incidência em ântero-posterior (AP) é feita com dorsiflexão e rotação externa; o perfil (P), com dorsiflexão<br />

e eversão máximas. A ampola é direcionada para o retropé na incidência <strong>de</strong> frente e transmaleolar no perfil<br />

(figura 3).<br />

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No AP avaliamos os ângulos talocalcâneo (normal <strong>de</strong> 20o a 50o), talo-primeiro meta (normal <strong>de</strong> 0o a 20o) e<br />

talo-quinto meta (normal é 0o).<br />

No perfil avaliamos o ângulo talocalcâneo (normal 25o a 50o), o tibiotalar (70o-100o) e o tibiocalcâneo com<br />

dorsiflexão máxima (25o-60o).<br />

As radiografias são úteis em crianças maiores para confirmar a correção, ajudar na i<strong>de</strong>ntificação dos sítios <strong>de</strong><br />

eventual <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> residual, principalmente após o tratamento conservador e, ainda, para direcionar o<br />

tratamento cirúrgico, quando indicado(2-3,19).<br />

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO<br />

A graduação quanto à gravida<strong>de</strong> do PTC é fundamental para a comparação dos métodos <strong>de</strong> tratamento e <strong>de</strong><br />

seus resultados.<br />

Dimeglio et al <strong>de</strong>senvolveram um método no qual o examinador aplica uma força corretiva “gentil” e observa<br />

quatro parâmetros principais: o eqüino no plano sagital, o varo no plano frontal, a <strong>de</strong>rrotação do bloco<br />

calcâneo-antepé (supinação) e a adução do antepé, ambas no plano horizontal; cada um <strong>de</strong>sses parâmetros<br />

é avaliado quanto à redutibilida<strong>de</strong> apli-cando-se uma escala <strong>de</strong> quatro pontos, a partir do grau <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formida<strong>de</strong> residual. Adiciona-se mais um ponto na presença <strong>de</strong> cada uma das quatro outras alterações<br />

observadas (qua-dro 1)(20). Já o método <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> Pirani et al baseia-se em seis sinais clínicos <strong>de</strong><br />

contratura (quadro 2)(21).<br />

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2) Avaliam-se, então, outros quatro parâmetros e adicio-na-se mais um ponto para a presença <strong>de</strong> cada um<br />

<strong>de</strong>les: Prega posterior 1 ponto Prega medial 1 ponto Cavo 1 ponto Condição muscular ruim 1 ponto<br />

Dessa forma, a nota máxima é 20 e a graduação é feita da seguinte forma: Grau 1 – < 5 Benigno Grau 2 – 5<br />

< 10 Mo<strong>de</strong>rado Grau 3 – 10 < 15 Grave Grau 4 – 15 < 20 Muito grave<br />

Obs.: Enten<strong>de</strong>-se como condição muscular ruim: contratura do tríceps, do tibial posterior e fibulares e<br />

ausência <strong>de</strong> dorsiflexão voluntária em eversão e pronação. Fonte: Baseado em: Dimeglio A, Bensahel H,<br />

Souchet P, Mazeau P, Bonnet F. Classification of clubfoot. J Pediatr Orthop. 1995;4:129-36.<br />

Um estudo comparativo entre as duas classificações, que investigou a correlação entre a avaliação e a<br />

gravida<strong>de</strong> do PTC, <strong>de</strong>monstrou que o método preconizado por Pirani et al apresenta alto coeficiente <strong>de</strong><br />

correlação e tem melhor reprodutibi-lida<strong>de</strong>(22).<br />

Simons enfatiza a importância da avaliação radiográfica prévia nas incidências AP e P com correção máxima<br />

para avaliar melhor a extensão da <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> residual após o tratamento conservador(19).<br />

TRATAMENTO<br />

O objetivo do tratamento é tornar o PTC um pé plantígrado, funcional e indolor(3,23).<br />

Com a técnica não cirúrgica acredita-se na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir <strong>de</strong>formação plástica e alongamento das<br />

estruturas contraturadas, <strong>de</strong> forma progressiva, mediante as proprieda<strong>de</strong>s viscoelásticas inerentes ao tecido<br />

conjuntivo. A manipulação seguida <strong>de</strong> gesso <strong>de</strong>ve ser feita <strong>de</strong> forma seriada e é sempre o tratamento inicial,<br />

existindo tendência <strong>de</strong> reservar o tratamento cirúrgico às <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s residuais.<br />

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TRATAMENTO CONSERVADOR<br />

Entre as diferentes modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tratamento conservador, incluem-se a massoterapia fisioterápica seguida<br />

pelo uso <strong>de</strong> órtese(2,24), manipulações contínuas por uma máquina <strong>de</strong> mobilização passiva(2,25) e<br />

manipulações corretivas seguidas pelo uso <strong>de</strong> gesso(1-3), que é o método mais utilizado, por ser baseado na<br />

experiência individual do profissional, pela praticida<strong>de</strong> e pelo baixo custo.<br />

Em relação às técnicas <strong>de</strong> manipulação seguidas por gesso, as mais utilizadas são a <strong>de</strong> Kite(26-27) e <strong>de</strong><br />

Ponseti(28).<br />

A técnica <strong>de</strong> Kite(2,27) preconiza a correção das <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma seqüencial e inicia-se pela abdução<br />

do antepé, seguida da correção do varo do calcâneo e, por fim, do eqüino. O gesso é confeccionado e durante<br />

sua secagem é moldado abduzindo-se o antepé e, com a outra mão, submete-se o calcâneo a uma força em<br />

valgo na sua borda medial, enquanto se realiza uma contrapressão próximo à articulação calcâ-neo-cubói<strong>de</strong>.<br />

O tempo médio <strong>de</strong> uso do gesso é <strong>de</strong> 22 meses e uma órtese noturna é utilizada até os 10 anos. Kite relatou<br />

sucesso em até 95% dos casos; entretanto, consi<strong>de</strong>ra-se que os índices <strong>de</strong> sucesso com esse método são<br />

muito variáveis, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito da experiência pessoal(2).<br />

O bloqueio da articulação calcâneo-cubói<strong>de</strong> arqueando-se o pé como se tentássemos endireitar um fio curvo<br />

foi consi<strong>de</strong>rado por Ponseti o “erro <strong>de</strong> Kite”, já que isso, na sua opinião, impe<strong>de</strong> a a<strong>de</strong>quada eversão do<br />

calcâneo(28-29). Ponseti(28) também utiliza as manipulações seguidas por aparelho gessado<br />

inguinopodálico, com trocas a cada cinco a sete dias (figura 4). A manobra visa corrigir simultaneamente o<br />

cavo, o varo e a adução; porém, <strong>de</strong> forma inovadora e, a princípio, aparentemente contraditória, inicia-se<br />

com a correção do cavismo, produzindo ou exagerando a supinação, “elevando” ainda mais o primeiro<br />

metatarso com o polegar. A seguir, corrige-se a adução fazendo-se a abdução e supinação dos <strong>de</strong>dos com<br />

contrapressão na porção lateral da cabeça do tálus (redução da articulação talonavicular). Dessa forma, a<br />

articulação calcâneo-cubói<strong>de</strong> permanece livre, permitindo, <strong>de</strong>pois, o a<strong>de</strong>quado posicionamento do calcâneo.<br />

O gesso longo, cruropodálico, mantém o pé em rotação lateral. Após a resolução da adução e do varo,<br />

inicia-se a correção do eqüino; nesse momento, o pé <strong>de</strong>ve estar abduzido até pelo menos 60º. Em 70% dos<br />

casos é necessária a tenotomia percutânea do tendão calcâneo. São necessárias, em média, oito a 10 trocas<br />

<strong>de</strong> gesso para que seja obtida a correção completa do pé e, então, o tratamento continua mediante o uso da<br />

órtese <strong>de</strong> Denis-Browne, continua-mente, pelos próximos três meses e no período noturno até os três anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criança (figura 5)(2,16).<br />

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Herzemberg et al obtiveram correção em 95% dos pés utilizando esse método(30). Cooper e Dietz, em uma<br />

avaliação a longo prazo, encontraram 78% <strong>de</strong> excelentes e bons resultados em 71 pés <strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong> 34<br />

anos, em média, tratados pelo método <strong>de</strong> Ponseti. Os critérios avaliados foram a dor e a limitação<br />

funcional(31).<br />

TRATAMENTO CIRÚRGICO<br />

Somente quando não se obtém a correção satisfatória mediante o tratamento com os métodos<br />

conservadores, indica-se o tratamento cirúrgico, que visa a completa e imediata resolução do quadro em um<br />

único procedimento.<br />

Como as <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s residuais são variáveis, cada pé tem que ser cuidadosamente estudado através do<br />

exame físico e radiográfico. O diagnóstico correto permite a realização <strong>de</strong> cirurgias a la carte, ou seja,<br />

abordando-se apenas o necessário, evitando-se as liberações excessivas.<br />

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COMPLICAÇÕES<br />

As complicações do tratamento conservador são <strong>de</strong>correntes do excesso <strong>de</strong> força (hiperpressão) e <strong>de</strong> técnica<br />

ina<strong>de</strong>quada durante a manipulação. Quando a correção do eqüino é tentada antes da correção da adução e<br />

do varo, po<strong>de</strong> instalarse a <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> em “mata-borrão”. O excesso <strong>de</strong> pressão na superfície articular po<strong>de</strong><br />

ocasionar rigi<strong>de</strong>z e <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>.<br />

As complicações inerentes ao tratamento cirúrgico são a lesão do feixe vasculonervoso, a necrose <strong>de</strong> pele e a<br />

infecção no trajeto dos pinos. Além <strong>de</strong>ssas, po<strong>de</strong>mos encontrar <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s residuais, recidivas em até<br />

25% dos casos, fraqueza muscular, hipercorreção e joanete dorsal(1-3,17).<br />

A história natural do PTC não tratado é um pé com <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> rígida, área <strong>de</strong> apoio dorsolateral, on<strong>de</strong> se<br />

forma uma calosida<strong>de</strong> e os pacientes <strong>de</strong>ambulam com capacida<strong>de</strong> funcional semelhante à dos com<br />

amputação do tipo Syme sem prótese. A impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar sapatos convencionais po<strong>de</strong> representar um<br />

fator <strong>de</strong> exclusão social.<br />

Advertência: o ortopedista <strong>de</strong>ve ter em mente, e sempre orientar os pais, que mesmo um pé corretamente<br />

tratado nun-ca será um pé absolutamente normal, permanecendo <strong>de</strong> tamanho menor e quase sempre<br />

associado à atrofia da panturrilha.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao Dr. Fernando Ferreira Fonseca Filho e ao Dr. Gastão Guilherme Frizzo, pelas figuras 4, 6 e 7.<br />

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