Livro “Princípios em Ortopedia e Traumatologia” 1ª edição. - Prodot
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Capítulo<br />
1<br />
pRlNcípros DE oRÌopEDrA t rneu,vororocte | 25<br />
Conceitos Básicos <strong>em</strong> Traumato-ortopedia<br />
Bo,u,,ïí#Í:,':#:i'i#::,<br />
Samuelson Hugo Félíx Maia<br />
A traumatologia é a especialidade médica que estuda as lesões<br />
provocadas por traumatismos do sist<strong>em</strong>a músculo-esquerético. Devido<br />
à diversidade de modos que uma lesão pode upr"r".rtur, são exigidos<br />
do traumatologista conhecimentos prévios de anatomia, fisiopatologia,<br />
biomecânica e técnicas de tratamento, tomand.o essa especiariciade uma das<br />
mais dinâmicas.<br />
Sist<strong>em</strong>a Esquelético: Noções de Anatomia<br />
o esqueleto é dividido didaticamente <strong>em</strong> d.uas partes principais: (1)<br />
Esqueleto axial, que compreende os ossos d.a cabeça, pescoço'e tronco e (2)<br />
esqueleto apendicular, que envolve todos os ossos dos m<strong>em</strong>bro-s superiores<br />
e inferiores com seus respectivos cíngulos. Todo esqueleto é formado por<br />
ossos que/ dependendo da sua localização e da sua função, iontêm d.iferentes<br />
quantidades relativas de substância sórida e espaços trabeculares, de modo<br />
que pod<strong>em</strong>os distinguir dois tipos de ossos: o compacto e o esponjoso. os<br />
ossos/ <strong>em</strong> geral, são formados por<br />
urna camada superficial de osso<br />
compacto que envÒlve diferentes<br />
quantidades de osso esponjoso. Em<br />
algumas regiões anatômicas, essa<br />
s<br />
massa central é substituída pelo canal<br />
medular, como na diáfise dos ossos<br />
longos.<br />
Figura 1 - Relação entre as quantidades<br />
de ossos compacto " "rporrjoro <strong>em</strong> um<br />
osso longo
26 | corcrrros BÁsrcos ÊM<br />
Os ossos encontrados nas diversas partes do corpo pod<strong>em</strong> ser<br />
classificados <strong>em</strong>: (1) longos, (2) curtos, (3) planos e (4) irregulares. os ossos<br />
longos, que são aqueles <strong>em</strong> que o comprimento supera todas as ouhas<br />
dimensões, são os principais sítios de fraturas,luxações e outras lesões ósteo-<br />
articulares. Por ser<strong>em</strong> importante foco de estudo da traumatologia, serão<br />
descritos aqui com detalhes.<br />
Um osso longo, como fêmur, tíbia, rirnero e ulna é constituído basicamente<br />
de três regiões: epífise, metáfise e diáfise. saber distinguir cada uma das regiões<br />
ósseas é fundamental para se caracterizar corretamente uma lesão.<br />
A diáfise é o corpo do osso e é Íormada pela cavidade medular contendo<br />
a medula óssea amarela e uma camada de osso compacto, a cortical óssea.<br />
Nas extr<strong>em</strong>idades, t<strong>em</strong>-se as epífises mais largas. Durante o crescimento,<br />
estas são formadas predominant<strong>em</strong>ente por cartilag<strong>em</strong>/ a qual involui<br />
gradativamente durante o processo de ossificação, restando apenas a linha<br />
epifisária no adulto, a qual divide essa região da metáÍise, que, por suavez, é<br />
uma transição entre a epífise e a diáfise.<br />
EPÍFIsr<br />
uErÁrrse<br />
otÁFtsE<br />
MËtÁFrsË<br />
ËPÍFIsE<br />
Cartilag<strong>em</strong> articular<br />
._..-.<br />
Osso esponjoso<br />
._.-..-.'<br />
I<br />
-' Lrnna eprltsana<br />
'"" "-"t*" Osso<br />
compacto (corticol)<br />
' Periósteo<br />
Canalmedular (medula<br />
óssea amarela)<br />
Figura 2 - Regiões de um osso longo<br />
outro aspecto fundamental da anatomia para o estudo da traumatologia<br />
são os termos de movimento, indispensáveis para a compreensão dos<br />
meca-rrismos de trauma.
pRrNcÍptos DE oRropEDrA Ê TRAUMoÍot"octA | 27<br />
Flexão é o movimento capaz de diminuir o ângulo entre duas<br />
articulações, ao passo que extensão significa aumentar esse ângulo.<br />
(,,<br />
EXTENSAO<br />
Figura 3 - Flexão e extensão do cotovelo<br />
Abdução significa afastamento da linha média, enquanto que adução é<br />
a aproximação do m<strong>em</strong>bro da linha média.<br />
Rotação é quando se gira<br />
uma parte do corpo <strong>em</strong> tomo<br />
do seu eixo. Pode ser ext<strong>em</strong>a ou<br />
interna.<br />
Figura4-Movimentosde<br />
abdução/adução e rotação<br />
externa"/interna<br />
u\<br />
aeouÇAo v<br />
ADUçÂO<br />
ROTAçAO<br />
LAïÊRAL<br />
R0ïAçAô<br />
MEDIAT<br />
,M<br />
v/<br />
RoïA*0<br />
MEDIAT
28 | concrnos BÁsrcos tM ÌRAUMATmRToIEDTA<br />
Eversão é o movimento lateral rcalizado pela região plantar dos pés, ao<br />
passo que inversão é o movimento medial.<br />
EVERSÃO INVERSÃO<br />
Figura 5 - Eversão e inversão do pé<br />
Pronação e supinação são movimentos realizados pela articulação<br />
rádio-ulnar. Na pronação/'a palma da mão está para baixo e na supinação,<br />
para cima.<br />
ffi#<br />
) enonecno<br />
Figura 6 - Pronação e supinação do antebraço<br />
Lesões Fundamentais da Traumatologia<br />
Contusão<br />
É resultado de um trauma direto que não causa perda da integridade da<br />
pele, havendo, entretanto, lesão dos tecidos subjacentes. O paciente queixa-se<br />
de dor localizada e à inspeção observa-se ed<strong>em</strong>a, equimose ou h<strong>em</strong>atoma.<br />
Deve-se rcalizar criteriosos exames clínico e radiológico para excluir lesões<br />
mais graves/ como fraturas ou lesões vasculonervosas. O tratamento consiste<br />
<strong>em</strong> crioterapia, AINES, analgésico e repouso.
Entorse<br />
Figura 7 - Contusão do tornozelo<br />
pRrNcípros DE oRropEDlA E TRAUMoÍoroctA | 29<br />
Mais comum <strong>em</strong> tornozelo e quirodáctilos, é causada por traunna<br />
indireto na região articular, o qual provoca um movimento que ultrapassa a<br />
amplitude normal da articulação, resultando <strong>em</strong> lesão parcial dos ligamentc=<br />
e da cápsula articular. Nesse caso, aplicação local de gelo e repou-çc saLl<br />
suficientes, podendo-se ainda imobílizar a articulação para CirrirLu.r a ,1ar<br />
e o ed<strong>em</strong>a. Quando o trauma é de grande energia, pode resu-lta-r en -cção<br />
de um ligamento (ruptura ligamentar) ou <strong>em</strong> avr.rlúo óssea e o tralamento<br />
poderá ser conservador ou ciúrgico, a depender principaimente do Ìigamenio<br />
lesado, da idade e da profissão do paciente.<br />
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\*S",.<br />
Figura 8 - Entorse de tornozelo
30 | corcinos Bistcos EM ÌRAUMAT@RÍoPIDIA<br />
Lesões Musculares<br />
Pod<strong>em</strong>sercausadas por trauma direto, porex<strong>em</strong>plo: el<strong>em</strong>entos contusos<br />
ou atropelamentos, ou indireto, por ex<strong>em</strong>plo: contrações involuntárias<br />
súbitas de proteção <strong>em</strong> quedas ou acidentes. Resulta <strong>em</strong> rotura muscular,<br />
que pode ser completa ou incompleta (distensão) devido à tração exercida<br />
<strong>em</strong> seu sentido longitudinal. O tratamento depende da extensão da lesão, do<br />
músculo acometido e da atividade do paciente'<br />
Luxação<br />
, Figura 9 - Tração longitudinal na lesão muscular<br />
É a perda total de contato entre as superfícies articulares devido a<br />
causas traumáticas, congênitas ou patológicas. A perda de contato apenas<br />
parcial é denominada subluxação. Em ambos os casos, o paciente apresentase<br />
com dor de forte intensidade e deformidade local, além de impotência<br />
funcional associada a posição antálgica. É indispensável a comprovação<br />
radiográfica da luxação <strong>em</strong> duas incidências, tanto para documentação como<br />
para excluir a presença de fraturas associadas. o tratamento consiste <strong>em</strong><br />
manobras de redução imediatas, realizadas delicadamente e sob anestesia<br />
e imobilização para cícatrização da cápsula articular e ligamentos' Quando<br />
há fratura associada, deve-se primeiro reduzir a luxação para depois tratar<br />
a fratura.<br />
t s
Sinal<br />
daà<br />
Dragona<br />
Figura 11 - Radiografia mostrando<br />
uma luxação de ombro<br />
pRrNcípros DE oRÍoptDlA t rnluraororocrl | 31<br />
Figura 10 - Luxação de ombro:<br />
Sinal da Dragona<br />
Figura 12 -<br />
método de<br />
para redução<br />
Luxação de ombro:<br />
tração-contratração
32 | coxcrnos BÁsrcos EM<br />
Fraturas<br />
É a perda da capacidade óssea de transmitir normalmente a carga<br />
durante o movimento por perda de sua continuidade e integridade estrutural.<br />
Pod<strong>em</strong> ser classificadas quanto à causa (patológica, por estresse ou trauma),<br />
quanto ao número de fragmentos (simples, segmentar ou cominutiva),<br />
quanto à exposição óssea (fechada ou exposta), quanto ao deslocamento (com<br />
ou s<strong>em</strong> desvio), quanto ao traço da fratura (transverso, oblíquo, helicoidal<br />
ou cominutivo), quanto à localização no osso (diafisárias, metahsârias,<br />
epifisárias, articulares), dentre outros critérios.<br />
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Figura L3 - Fratura simples (A), cominutiva (B) e segmentar (C)<br />
Figura 14 - Fratura com desvio x s<strong>em</strong> desvio
pRrNcÍpros DE oRropEDrA E TRAUMoToroctA | 33<br />
O diagnóstico das fraturas é baseado na ananÌnese, exame físico e<br />
radiografias <strong>em</strong> pelo menos duas incidências, incluindo uma articulação<br />
acima e outra abaixo do local da lesão. O tratamento t<strong>em</strong> como objetivo a<br />
manutenção da função nos níveis existentes antes do acidente no menor<br />
espaço de t<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong> prejuízo de consolidação, com articulações vizinhas<br />
estáveis, s<strong>em</strong> dor e permanent<strong>em</strong>ente podendo-se utilizar de, métodos<br />
incruentos (repouso, crioterapia, imobilização com ou s<strong>em</strong> redução prévia)<br />
ou cirúrgicos (fixação interna, com placas e parafusos ou haste intramedular<br />
ou externa, usando-se fixadores transfixantes ou não transfixantes). A<br />
consolidação óssea ocorre graças a uma reação inflamatória localizada<br />
e acelerada que produz a cura de uma fratura não por tecido cicatricial,<br />
mas pela produção de tecido ósseo igual ao original, sendo reconstifuída a<br />
circulação cortical e endosteal, devolvendo ao osso sua capacidade mecânica<br />
de conduzir carga. Duas condições indispensáveis: vascularização e<br />
estabilidade. Quando isso não ocorre/ pode ocorrer retardo de consolidação<br />
(não consolidação de uma fratura no t<strong>em</strong>po habitual), pseudo-artrose<br />
(não consolidação óssea após oito meses do traumatismo) ou consolidação<br />
viciosa (cura de uma Íratura com deÍormidade anatômica, inCompatíveis<br />
com a manutenção de uma função normal).<br />
Bibliografia<br />
HERBERT, S.; XAVIE& R. <strong>Ortopedia</strong> e traumatologia: prrncípios e prática. 3. ed.<br />
Porto Alegre: Artmed; 2003.<br />
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Clinically oriented anatomy.5ü ed. New York:<br />
Lippincott Williams & Wilkins; 2005.
34 | coxsorronçÃo Dr TRATURÀs<br />
Capítulo<br />
2<br />
lntrodução<br />
Consolidação de Fraturas<br />
Henrique Mota Neto<br />
Pedro GuíIme Teixeira de Sousa Fílho<br />
Lucas da Ponte Melo<br />
A consolidação das fraturas não é um evento exclusivo e pontual,<br />
sendo dependente de muitas variáveis como: tipo de fuatura, características<br />
do indivíduo e o tratamento estabelecido. A associação de todos esses fatores<br />
é que será responsável por um melhor ou pior prognóstico.<br />
O início da consolidação dá-se assim que o osso se quebra, levando à<br />
formação do calo de fratura, que seria a primeira indicação radiográfica de<br />
que uma fratura está consolidando. Forma-se um h<strong>em</strong>atoma com proliferação<br />
de células endosteais e periosteais.<br />
Considerações Gerais<br />
A co/ïsolidação das fraturas é uma resposta especializada-do organismo<br />
eú que a regeneração do osso leva à restauração da integridade do esqueleto.<br />
É interessante ressaltar o fato de que na cura do tecido ósseo não há formação<br />
de cicatriz fibrosa, mas sim a formação de urn tecido igual ao original,<br />
diferent<strong>em</strong>ente do que ocorïe nos outros tecidos.<br />
O trauma da fratura promove a lesão de estruturas vizinhas, formando<br />
um conjunto de alterações, como h<strong>em</strong>orragias variáveis. Forma-se então um<br />
h<strong>em</strong>atoma corn polimorfonucleares e células pluripotentes, que substitu<strong>em</strong> o<br />
tecido fibrovascular do coágulo por fibras de colágeno.<br />
O processo de corsolidação de uma fratura envolve três mecanismos<br />
que interag<strong>em</strong> para a cicatrização óssea, conhecidos como ossificação<br />
endocondral, ossificação intram<strong>em</strong>branosa e Íormação óssea por aposição.<br />
Nas imediações do foco de fratura, as respostas celulares levam à produção<br />
de tecido cartilaginoso, que posteriormente se calcifica, processo chamado<br />
de ossificação endocondral, levando à formação do calo mole. Em locais<br />
mais aÍastados, ocorre a ossificação intram<strong>em</strong>branosa diretamente, isto é,<br />
a foçmação cie osso s<strong>em</strong> necessitar de um rnolde cartilaginoso preexistente,
pRrNcípros D[ oRropEDrA E TR^uMoÌoroctA I 35<br />
gerando o calo duro, apoiado <strong>em</strong> uma rede de colágeno. Finalmente, a área<br />
de ossificação por aposição direta de osso reforça o calo por inteiro<br />
Uma boa vascularização e estabilidade são os principais fatores<br />
envolvidos no sucesso de uma consolidação; a falta de algum desses pode<br />
provocar resultados desastrosos na prática clínica. Outros fatores como<br />
a intensidade do trauma, tipo de fratura (aberta ou fechada), doenças<br />
metabólicas, doenças carenciais e o uso de medicamentos, também estão<br />
envolvidos.<br />
Apesar dos avanços atuais da Medicina, não existe ainda nenhum<br />
método eficaz e seguro para estimular ou acelerar a consolidação de uma<br />
fratura. Algumas drogas como bifosfonados, glicosamina, condroitina e<br />
risedronato sódico estão sendo estudadas, mas nenhuma obteve um resultado<br />
que garantisse total slrcesso na práüca clínica.<br />
Fases da Consolidação de Fraturas<br />
Addams e Hamblen consideraram o processo de consolidação <strong>em</strong><br />
cinco estágios. O primeiro estágio é a fase de h<strong>em</strong>atoma/ que ocïf,rre devido<br />
à ruptura da maior parte dos capilares que se dispõ<strong>em</strong> longitudinalmente<br />
no osso compacto; o segundo estágio é denominado de fase de proliferação<br />
subperiostal e endosteal, na qual ocorre proliferação de células do periósteo,<br />
próxima à frafura, b<strong>em</strong> corno do canal medular, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />
o h<strong>em</strong>atoma é reabsorvido; no terceiro estágio ocorre a formação do calo<br />
primário, no qual há a proliferação de condroblastos, mas. principalmente<br />
de osteoblastos que se depositam na matriz intercelular, que logo se torna<br />
impregnada por sais de cálcio para formar o osso não amadurecido do calo<br />
da Íratura; o quarto estágio, é a fase de consolidação, <strong>em</strong> que o osso primário<br />
amadurece, apresentando estrutura lamelar líprca; e o quinto estágio é o de<br />
r<strong>em</strong>odelação, <strong>em</strong> que o calo ósseo excessivo é r<strong>em</strong>ovido.<br />
Já Cruess e Dumont propõ<strong>em</strong> uma classúcação diÍerente, <strong>em</strong> que os<br />
três principais estágios seriam:<br />
. Fase inÍlarrntória: aumento da vascularização, formação de h<strong>em</strong>atoma,<br />
ed<strong>em</strong>a local e migra@o de células inflamatórias (por estimulação de cé-<br />
lulas mortas e plaquetas), quando ocorre a r<strong>em</strong>oção do tecido necrótico;<br />
. Fase reparativa: inicial formação de um calo mole, com mineralização<br />
posterior e endurecimento do mesmo, a linha de fratura começa a<br />
desaparecer;
36 | co"sorrorc.Ão DE FRÁruRAs<br />
Fase de r<strong>em</strong>odelamento: atividades osteoblásticas e osteoclásticas,<br />
com desaparecimento da linha de fratura e reformação do canal<br />
medular. Nessa fase, o osso fraturado transforma-se numa estrutura<br />
compacta e funcionalmente eficiente.<br />
Tipos de Consolidação<br />
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Figura 1- Classificação de Cruess e Dumont<br />
Nota: A) Fratura; B) Alinhamento e redução da<br />
Íratura; C) Fase Inflamatória; D) Fase Reparativa; E)<br />
Fase de R<strong>em</strong>odelamento.<br />
Pod<strong>em</strong>os considerar a existência de dois tipos básicos de corsolidação:<br />
. Primária: Surgiupor meio dos métodos de fixação interna com estabi-<br />
hzaçáo rígida e absoluta. Nesses casos, as etapas que foram d<strong>em</strong>ons-<br />
tradas anteriormente são puladas, obtendo-se a cura da fratura s<strong>em</strong> a<br />
{ormação do calo ósseo. A fixação estabelecida somada com a invasão<br />
vascular no foco da fratura leva à formação óssea direta, s<strong>em</strong> prolifera-<br />
ção fibrosa ou cartilaginosa intermediária. Muitas vezes/não se encontra<br />
a presença de calo ao ex€une radiológico durante esse processo.<br />
. Secundária:É aque ocorïe naturalmente, com formação de um calo<br />
ósseo de ponte entre os fragmentos da fratura durante tratamento<br />
corÌservador ou tratamento s<strong>em</strong> estabilidade absoluta. Ao exame<br />
radiológico, normalmente, encontramos a presença de calos, que<br />
pod<strong>em</strong> ser b<strong>em</strong> exuberantes.<br />
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Complicações na Consolidação das Fraturas<br />
pRrNcípros DE oRToPEDIA E TRAUMoÌotoclA I 37<br />
Diversas são as complicações que pod<strong>em</strong> acontecer após uma fratura,<br />
como choque, lesões neurovasculares, contratura de Volkman, TVP, TEP'<br />
osteomielite, artrite séptica e os distúrbios de consolidação. Elas pod<strong>em</strong><br />
ser classificadas como locais ou sistêmicas, ou ainda como imediatas ou<br />
tardias.<br />
Os disúrbios de consolidação representam a verdadeira falha na<br />
terapia das fraturas. A consolidação viciosa, o retardo de consolidação e a<br />
pseudoartrose são os três tipos de probl<strong>em</strong>as de consolidação'<br />
a) Consolidação viciosa<br />
Ocorre quando uma fratura consolida <strong>em</strong> posição não anatômica, seja<br />
ela resultante de uma não redução da fratura ou após a redução da fratura,<br />
seja ela cruenta ou incruenta, de forma não adequada'<br />
Esse disúrbio pode comprometer a função do m<strong>em</strong>bro, a depender de<br />
quão diferente está da anatomia original daquele osso e de suas características'<br />
um determinado grau de desvio <strong>em</strong> um osso pode ser,ccínsiderado<br />
corsolidação viciosa para um, mas <strong>em</strong> outro pode não ser' E o caso' por<br />
ex<strong>em</strong>plo, de uma fratura articular do joelho, que um simples desvio pode ser<br />
considerado consolidação viciosa, por ser suficiente para desencadear uma<br />
artrose precoce naquela articulação.<br />
outro ex<strong>em</strong>plo é um menor cavalgamento permitido nos ossos dos<br />
m<strong>em</strong>bros inÍeriores, quando comparado aos ossos dos m<strong>em</strong>bros superiores,<br />
por sua função de sustentar o peso do corpo' Assim, um desvio que é aceitável<br />
puru o úmero, pode ser considerado muito grande paraatíbia, podendo levar<br />
a uma discrepância do tamanho dos m<strong>em</strong>bros, fazendo ser necessária por<br />
ex<strong>em</strong>plo, uma osteotomia e conseqüente alongamento ósseo com fixador<br />
externo circular de Illizarov.<br />
o tratamento consiste <strong>em</strong> osteotomia, seguida de correção da anatomia<br />
do osso e fixação cirúrgica'<br />
b) Retardo de consolidação<br />
Corsideramos retardo de consolidação aquelas situações <strong>em</strong> que a<br />
fratura d<strong>em</strong>ora mais de 6 a 8 s<strong>em</strong>anas para corsolidação clínica ou mais de 4<br />
a 8 meses para consolidação radiológica. A variação do t<strong>em</strong>po é influenciada<br />
pelo t<strong>em</strong>po de consolidação diferente para cada osso e pelos fatores que
38 | corsotrorçÃo DE FRÂì'.-RÁS<br />
influenciam na velocidade de consolidação, como grau de Yasgularizaçáo,<br />
presença de inÍecção, qualidade óssea, enffe outros fatores'<br />
É importante l<strong>em</strong>brar que, apesar do retardo, o acompanhamento<br />
radiológico mostra que a consolidação está evoluindo, <strong>em</strong>bora mais<br />
lentamente.<br />
c) Pseudoartrose<br />
É definlda como ausência de consolidação de uma fratura. Cada osso<br />
possui seu t<strong>em</strong>po de corsolidação próprio, o que pode gerar uma dúvida no<br />
d.iagnóstico de pseudoatrose. A OMS padronizou que pod<strong>em</strong>os considerar<br />
pseudoartrose quando, após nove meses/ não ocorre coruolidação de uma<br />
fratara, independente do osso.<br />
Sab<strong>em</strong>os qtie, pata ocorrer consolidação óssea, três fatores são<br />
indispensáveis para o bom andamento do processol vasculaÍização,<br />
estabilidade do foco de fiatura e contato entre os fragmentos ósseos' A<br />
não ocorrência de um desses fatores vai levar, <strong>em</strong> longo ptazol a uma<br />
pseudoartrose. Logo, pod<strong>em</strong>os afirmar que alguns fatores estão relacionados<br />
à ocorrência de pseudo-artrose, como gravidade da lesão local, tipo. de osso,<br />
mobilidade excessiva, e outros fatores indiretos, como idade, tabagismo,<br />
estado nutficional, an<strong>em</strong>ia e uso de AINE's.<br />
o quadro clínico do paciente é característico, pois existe uma mobilidade<br />
entre os fragmentos ósseos daquela antigafratura, dando a ideia de uma falsa<br />
articulação.<br />
Diante disso, pod<strong>em</strong>os classificar as pseudoartroses radiograficamente<br />
por meio da classificação de weber (Figura 2), descrita <strong>em</strong> 1967. Ela divide<br />
as pseudoartroses <strong>em</strong> vasculares e avasculares. As vasculares subdivid<strong>em</strong>-<br />
se <strong>em</strong> hipertrófica (ou <strong>em</strong> pata de elefante), normotrófica (ou <strong>em</strong> pata de<br />
cavalo) e hipotrófica. Jâ as avasculares divid<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> cunha de torção,<br />
multifragmentada, falha óssea e atróíica.<br />
Na pseudoartrose hipertrófica, a ftatuta não consolidou por um<br />
disúrbio mecânico, tendo <strong>em</strong> vista a formação de um calo ósseo exuberante.<br />
Em outras palavras, pod<strong>em</strong>os dizer que houve uma vasculatização, mas não<br />
houve uma estabilidade do foco de fratura adequada. Nessa situação, o mais<br />
corïeto seria abordar cirurgicamente e fixar a ftatsta com uln material de<br />
osteossíntese que promova uma maior estabilidade.<br />
Na pseudoartrose attóhca, como não ocorreu formação de calo ósseo,<br />
pod<strong>em</strong>os considerar que a fratura não se consolidou por um disturbio
pRrNcípros D[ oRToprDrA E ÍRAUMoÍorocrA | 39<br />
biológico. Assim, pod<strong>em</strong>os dizer que não houve consolidação pela<br />
ausência de vascularízação do foco de fratura. O tratamento deste tipo de<br />
pseudoartrose consiste <strong>em</strong> abordag<strong>em</strong> cirúrgica para colocação de erxerto<br />
ósseo de preferência autólogo para promover a consolidação.<br />
Vasculares<br />
^"****,"N ,H ,lffi"x<br />
Figura 2 - Classificação de Weber para pseudoartroses<br />
Nota: A) Hipertrófica (pata de elefante); B) Normotrófica<br />
(pata de cavalo); C) Hipotrófica; D) Cunha de torção; E)<br />
Mutrtifragmentada; F) Falha óssea; G),Atrófica.<br />
Figura 3 - Paciente com pseudoartrose após 10 meses<br />
de tratamento de fratura da dirífise dos ossos da perna<br />
com fixador externo
l0 | corsor-orçi,o D( FR{Ìu-R.\s<br />
Bibliografia<br />
BARROS FILHO, T. E. et al. EfÍect of eletromagnetic fields on osteogenesis:<br />
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2006.p.298-313.<br />
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Orthop.,1992.<br />
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SIMMONS, D. F. Fracture healing perspectives. CIin Orthop.;1985.<br />
WEBER, B. C.; CECH,O. Pseudoarthrosis. Bern: Hans Huber;1.976.
Capítulo<br />
3<br />
lntrodução<br />
I nfecções Osteoarticu lares<br />
pRtNciptos DE oRToprDtA E ÌRAUMorotoct{ | 4l<br />
Manuel Bomfim Braga lúnior<br />
Bárbara Bianca Linhares de Medeiros<br />
As infecções osteoarticulares estão entre os probl<strong>em</strong>as mais comuns<br />
da prática clinica e dev<strong>em</strong> ser encaradas como <strong>em</strong>ergência, pois a rapidez<br />
e precisão no diagnóstico e tratamento são fundamentais para evitar a<br />
propagação da doença e suas graves consequências.<br />
Bactérias piogênicas são as principais causadoras de infecções ósseas<br />
e articulares, desencadeando, respectivamente, osteomielite e artrite séptica,<br />
mas muitos outros micro-organismos além delas pod<strong>em</strong> iníectar o osso,<br />
causando tuberculose osteoarticular, sífilis óssea ou mesmo micose óssea.<br />
Osteomielite<br />
osteomielite é um processo inflamatório supurativo do canal medurar<br />
<strong>em</strong>que endósteo e periósteoparticipamativamente, aopasso que as trabécuras<br />
ósseas e o sist<strong>em</strong>a de Havers participam passivamente por.rr"io a" necrose e<br />
osteólise' Em outras palavras, é a infecção no osso por organismos piogênicos,<br />
com envolvimento do canal med.ular e dos ossos esponjoso e cortical.<br />
o osso normalmente é um tecido resistente à colonização bacteriana<br />
e, na verdadet para que uma inÍecção óssea seja desencadeada, é necessário<br />
que outros fatores negativos estejam envolvidos, como trauma, presença de<br />
corpo estranho, próteses ou surgimento de um foco séptico.<br />
Com a finalidade de orientar o diagnóstico preciso e, assim, nortear o<br />
tratamento da doença, foram eraborados vários sist<strong>em</strong>as d.e crassificação para<br />
osteomielite, levando <strong>em</strong> consideração os aspectos mais diversos.<br />
Apesar de antiga (1970), a crassifìcação de waidvoger continua atuar<br />
e é baseada na gênese da osteomierite, subdir-idindo essa-patorogia <strong>em</strong> (1)<br />
h<strong>em</strong>atogênica, (2) por contiguidade (com ou s<strong>em</strong> insuficiência vascular) e<br />
(3) crônica' Cierny e Mader propuseÍaÌÌr uma ciassificação mais recente que<br />
Ieva <strong>em</strong> conta quatro ripos anatômicos da lesão e três classes fisiológicas do
42 | nr:rroc rrForrncLl{rÊs<br />
hospedeiro, definindo 12 estágios clínicos da doença. É b<strong>em</strong> mais dinâmica<br />
e L,a-c€ia-se no status da doença, variando conforme as condições clinicas<br />
,1o paciente; entretanto, por ser mais didática, uttlizar<strong>em</strong>os neste livro a<br />
claç5ifi63çf,s de Waldvogel et aI.<br />
Osteomielite H<strong>em</strong>atogênica Aguda<br />
É uma doença pred.ominante <strong>em</strong> crianças (85% dos casos), sendo<br />
o sexo masculino quatro vezes mais atingido. As regiões anatômicas mais<br />
acometidas são os m<strong>em</strong>bros inÍeriores, corn27"/" dos casos envolvendo fêmur<br />
e 22o/", tíbia.<br />
Nessa forma de osteomielite, a via de contarninação é h<strong>em</strong>ática,<br />
devido à existência de um foco séptico à distância, que pode ser subclínico<br />
ou clinicamente estabelecido, p. ex. piodermites, amigdalites, otites médias e<br />
ferimentos contaminados. Em mais da metade dos pacientes, entretanto, não<br />
é possível identificar a porta de entrada do processo inÍeccioso, considerandose<br />
que este tenha sido originado por micro-organismos da nasofaringe via<br />
inoculação direta. Numa forma atípica,<strong>em</strong> adultos, a infecção atinge a coluna<br />
vertebral através do plexo venoso espinal ou de Batsorç podendo atingir duas<br />
vértebras próximas e um disco intervertebral.<br />
Na infância, a infecção normalmente começa na metáfise de um osso<br />
longo, devido às características peculiares dessa região: (1) rica trama de<br />
capilares sinusóides e calibrosos, quando<br />
existe lentificação e estase do fluxo<br />
sanguíneo, facilitando a obstrução por<br />
êmbolos sépticos, (2) baixa pressão de<br />
Or, e consequente redução do número<br />
e atividade das células fagocíticas,<br />
propiciando a instalação de agentes<br />
infecciosos.<br />
Figura 1 - Fisiopatologia da osteomielite
pR,Ncípros DE oRTopEDrA E TRAUMoÍotoctA | 43<br />
As bactérias presentes ind"uz<strong>em</strong> uma resposta inflamatória aguda<br />
no hospedeiro, ocorrendo um processo supurativo com predomínio<br />
de leucócitos e obstrução dos capilares sinusóides. Isso determina o<br />
aumento da pressão intraóssea, fazendo diminuir o aporte sanguíneo e<br />
ocasionando uma isqu<strong>em</strong>ia local, formando o abscesso intra-ósseo. Essa<br />
fase dura cerca de 48h, e como ainda não há necrose óssea, a instalação de<br />
antibioticoterapia nesse período é fundamental para o controle precoce do<br />
processo infeccioso.<br />
Ocorrendo a proliferação da infecção e da isqu<strong>em</strong>ia, forma-se um<br />
abscesso ósseo encapsulado por tecido necrosado.<br />
Figura 2 - Abscesso ósseo encapsculado<br />
O pus expande-se e acaba por destruir e romper a cortical, drenando<br />
para a superfície do osso e formando um abscesso subperiosteal, que mais<br />
tarde pode romper-se nos tecidos moles e formar uma fístula de drenag<strong>em</strong><br />
através da qual o pus é elirninado. Esse descolamento do periósteo gera mais<br />
isqu<strong>em</strong>ia, e poderá se formar o "sequestro ósseo", que é um fragmento de<br />
osso cortical desvitalizado. Havendo a formação do sequestro, consideramos<br />
que a osteomielite cronificou, e isso ocorïe a partir de 10 dias após o inicio do<br />
processo inÍeccioso.
4'Í | r"*cçors ÕsÍEo{RrIcLL{Rts<br />
Figura 3 - Sequestro ósseo devido à osteomielite da tíbia<br />
A cartilag<strong>em</strong> epifisária e a cápsula articular imped<strong>em</strong> nahrralmente<br />
a disserninação da irúecção para a articulação subjacente. Entretanto, se<br />
a metáfise afetada encontra-se total ou parcialrnente dentro da cavidade<br />
articular, como as metáfises superiores do úmero e metáfises superiores e<br />
inferiores do cotovelo e fêmur, a probabilidade de a articulação tomar-se<br />
inÍectada é grande, evoluindo para artrite séptica.<br />
Independente da faixa etária, 90"/o dos casos de osteomielite<br />
h<strong>em</strong>atogênica aguda são causados pelo Staphylococcus nureust mas dev<strong>em</strong>os<br />
considerar outros micro-organismos, cuja maior ou menor incidência<br />
varia de acordo com a Íaixa eláría, como estÍeptococos do grupo B e gram<br />
negativos <strong>em</strong> neonatos e estreptococos do grupo A e h<strong>em</strong>ófilos <strong>em</strong> lactentes.<br />
Em pacientes com an<strong>em</strong>ia falciforme, dev<strong>em</strong>os considerar infecção por<br />
SaImonella.<br />
O quadro clínico depende da faixa etária acometida. Em neonatos/<br />
os sinais e sintomas são pouco exuberantes, e manifestações sistêmicas<br />
como febre , dor, irritabilidade e letargia estão raramente presentes. A<br />
criança maior apresenta-se febril, anoréxica, prostrada, queixando-se de<br />
dor incapacitante na extr<strong>em</strong>idade de um osso longo; ao exame/ notam-se<br />
sinais flogísticos locais e grande sensibilidade à palpação do osso afetado e<br />
à mobilização da articulação adjacente devido ao derrame articular muitas<br />
\-ezes presente.
pRrNcÍpros DE oRÍopEDtA E ÌRAUMoÍoroctA | 45<br />
O diagnóstico é essencialmente clínico. No entanto, pod<strong>em</strong>os solicitar<br />
alguns exames compl<strong>em</strong>entares que são fundamentais para a elucidação o<br />
mais rápido possível do caso:<br />
. H<strong>em</strong>ograma: geralmente mostra leucocitose com desvio para a esquerda,<br />
. PCR e VHS: s<strong>em</strong>pre aumentados, sendo considerados os testes mais<br />
sensíveis e valiosos no diagnóstico das infecções osteoarticulares e<br />
para o controle da cura durante o tratamento.<br />
. H<strong>em</strong>ocultura: positiva <strong>em</strong> cerca de 50% dos casos. Não é utilizada<br />
como rotina.<br />
. Cultura e antibiograma: Pode-se isolar a bactéria <strong>em</strong> mais de 70%<br />
dos pacientes através de punção local guiada por UltrassonogÍafia<br />
(USG) ou Tomografia Computadorizada (TC). Se não houver<br />
secreção suficiente, como nas fases iniciais, pode-se Ìar.ar o local<br />
com 5mL de soro fisiológico e aspirar <strong>em</strong> segrrida. Além do<br />
diagnóstico, a punção é fundamental para ar-aliar a necessidade<br />
de drenag<strong>em</strong> cirúrgica. Esse procedimento der.e ser realizado <strong>em</strong><br />
centro cirúrgico, sob anestesia e utiLizando técnicas assépticas<br />
-adequadas, e a drenag<strong>em</strong> deve ser realizada imediatamente no<br />
caso de punção positiva.<br />
Figura4-Punçãoóssea
45 | nrrcçors osrEo{Rna-LÂREs<br />
. Rx simpies: Não apresenta alterações significativas na fase<br />
inicial da doença, apenas sinais inespecíficos nos tecidos moles<br />
adjacentes. As alterações radiológicas causadas pela periostite<br />
e pela destruição óssea surg<strong>em</strong> após duas s<strong>em</strong>anas<br />
de evolução, mas não dev<strong>em</strong>os esperar tais alterações para<br />
iniciar o tratamento.<br />
. Cintilografia óssea com tecnécio 99rn: mostra alterações de captação<br />
óssea já corn24-48hde evolução, tendo sensibilidade e especificida-<br />
de <strong>em</strong> torno de 9A"/o nas fases iniciais.<br />
. TC e RNM: detectam precoc<strong>em</strong>ente alterações da medula óssea,<br />
sendo importantes para realizat o diagnóstico diferencial com<br />
leuc<strong>em</strong>ias.<br />
O diagnóstico diferencial deve ser feito com abscessos, celulites,<br />
d.ermatites, neoplasias h<strong>em</strong>atológicas, artrite séptica, poliomielite.<br />
O tratamento com antibioticoterapia endovenosa deve ser iniciada de<br />
forma <strong>em</strong>pírica logo após a coleta de material para cultura, com oxacilina 100-<br />
2}}rng/kgldia associada a gentamictura 3-5mg/kg/ díapor 4 a 6 s<strong>em</strong>anas' A<br />
terapêutica pode ser modificada de acordo com o resultado da cultura. Como<br />
jâ foí dl](.: anecessidade de drenag<strong>em</strong> cirúrgica deve ser avaliada de acordo<br />
com o resultado da punção locai.<br />
o Índice de mortalidade girava <strong>em</strong> torno de 30-50% antes do advento<br />
da antibioticoterapia. Atualmente, encontra-se <strong>em</strong> menos de 1%'<br />
Osteomielite por Contiguidade<br />
S<strong>em</strong> in sufici ênci a vasc u I ar<br />
Este subgrupo abrange basicamente as osteomielites pós-traumáticas,<br />
ou seja, decorrentes de uma ferida contaminada que funciona como porta<br />
de entrada para o micro-organismo atingir o tecido ósseo por via direta,<br />
desencadeando a infecção. As osteomielites secundárias às fraturas expostas<br />
ou às cirurgias traumato-ortopédicas eletivas ou de urgência que utilizam<br />
materiais de síntese estão aqui enquadradas.
exposta são:<br />
pRrNcípros Dr oRTopEDrA r rRAuMororocrA I 47<br />
Figura 5 - Causas de osteomielite por contiguidade<br />
s<strong>em</strong> insuÍiciência vascular<br />
Os principais fatores predisponentes à infecção de uma fratura<br />
. Grau da lesão (fraturas do tipo IIIb e IIIc de Gustilo);<br />
. Fraturas de MMII;<br />
. Volume de sangue transfundido no atendimento inicial desses pa-<br />
cientes;<br />
. Ferida mantida aberta após o desbridamento;<br />
. Fixação interna imediata;<br />
. Idade;<br />
. T<strong>em</strong>po decorrido entre o trauma e o lratamento antibiótico e,/ou<br />
cirúrgtco.
48 | r:**cçoes osrEoARncutA.REs<br />
Diferente das OHA, qualquer paÍte do osso pode ser afetada/<br />
dependendo do local da lesão. A patogênese do processo inÍeccioso, por sua<br />
vezl é s<strong>em</strong>elhante, ocorrendo/ da mesma fottna, supuração e necrose/ mas o<br />
exsudato purulento costuma se exteriorizar através da ferida primária.<br />
O Staphylococcus aureus ainda é o micro-organismo mais comumente<br />
envolvido, apesar de bactérias gram negativas e anaeróbias ser<strong>em</strong> cadavez<br />
mais identificadas nesse tipo de infecção. A associação de agentes infecciosos<br />
<strong>em</strong> uln mesmo paciente não é rara de ser enconttada, e deve-Se levar <strong>em</strong> conta<br />
a microbiota hospitalar local, já que muitas vezes a contaminação ocorre por<br />
agentes intra-hospitalares resultantes da manipulação peri ou pós operatória<br />
de fraturas.<br />
O paciente apresenta quadro de febre, dor e hiper<strong>em</strong>ia local, perda<br />
da estabilidade do m<strong>em</strong>bro acometido, além de drenag<strong>em</strong> de secreção<br />
purulenta através da ferida cirúrgica ou do ferimento ainda exposto. Nas<br />
osteomielites pós-operatórias, o quadro clinico é ainda mais agudo/ precoce<br />
e toxêmico.<br />
Deve-se suspeitar desse diagnóstico <strong>em</strong> todo paciente que apresente<br />
tais sintomas até L mês após uma fratura exposta ou um tratamento ciúrgico<br />
de fraturas, e os mesmos exames compl<strong>em</strong>entares citados na OHd pod<strong>em</strong><br />
ser solicitados aqui para auxiliar na confirmação do diagnóstico, l<strong>em</strong>brando<br />
que o isolainento dos agentes etiológicos é fundamental para arealizaçáo da<br />
antibioticoterapia adequada.<br />
O tratamento <strong>em</strong>pírico pode ser feito com teicoplanina (6rng/kg/ dia)<br />
ou vancomicina (40-60mg/kg/dia), associado a ulna cefalosporina de 3u ou<br />
4o geraçâo, EV, por 4 a 6 s<strong>em</strong>anas, adequando-se a anúbioticoterapia ao<br />
resultado da cultura e ao antibiograma. Tão importante quanto o tratamento<br />
antibiótico é o desbridamento ciúrgico de todo o tecido desvitalizado, b<strong>em</strong><br />
como a avaliação da retirada dos materiais de síntese e a rápida cobertura<br />
cutânea dos ferimentos por meio de retalhos.<br />
Com insuficiência vascular<br />
A maioria dos pacientes incluídos nessa subclassificação são<br />
diabéticos. A infecção é possível devido às alterações de motricidade e<br />
de sensibilidade que ating<strong>em</strong> principalmente os pés desses pacientes,<br />
gerando, com frequência, úlceras e feridas nessa região que favorec<strong>em</strong> a<br />
entrada de bactérias, as quais se diss<strong>em</strong>inam facilmente graças à perfusão<br />
vascular inadequada.
pRrNcípros DE oRÍopEDrA E rRAuMororocrA | 49<br />
Uma grande variedade de bactérias são isoladas nessa situação,<br />
sendo as mais frequent<strong>em</strong>ente envolvidas os Staphylococcus, Streptococcus,<br />
Enterococcusl gram negativos e anaeróbios.<br />
O paciente queixa-se de febre, e ao exame observam-se: diminuição<br />
dos pulsos periféricos <strong>em</strong> MMII, alteração da sensibilidade pela neuropatia<br />
periférica e geralmente encontramos úlceras perfurantes nos pés.<br />
Como é frequente a recorrência da inÍecção, mesmo realizando-se o<br />
tratamento adequado, muitas vezes é necessária a ressecção da área envolvida,<br />
devendo-se, s<strong>em</strong>pre que possível, preservar a integridade e a funcionalidade<br />
do m<strong>em</strong>bro atingido.<br />
Osteomielite Crônica<br />
Quase s<strong>em</strong>pre é sequela de uma forma aguda de osteomielite que foi<br />
tardiamente diagnosticada e tratada, ou que foi tratada de maneira incorreta.<br />
Ocorre <strong>em</strong> 5-50% das fraturas expostas, 5'/. das doenças h<strong>em</strong>atogênicas<br />
agudas e menos de 1% das fraturas fechadas.<br />
Desnutrição crônica, diabetes descompensado e outras comorbidades,<br />
assim corno fatores locais, também favorec<strong>em</strong> a cronificação da inÍecção.<br />
Deve-se suspeitar de osteomielite crônica <strong>em</strong> paciente com história de<br />
inÍecção prévia e com queixas de secreção purulenta contínua ou intermitente<br />
exteriorizando-se através de uma fisfula.<br />
Solicita-se, então, uma radiografia simples do m<strong>em</strong>bro afetado, que<br />
geralmente evidenciará o espessamento do osso, além do sequestro ósseo,<br />
que é um fragmento livre e denso com bordas limitadas e irregulares dentro<br />
da cavidade óssea. Paralocalizar precisamente o seqüesko e delimitar a ârea<br />
de cronificação, muitas vezes é necessário um estudo mais detalhado com<br />
tomografia axial computadoúzada. Outro exame que pode ser solicitado é<br />
a futulografia, que mostra o trajeto da fístula de drenag<strong>em</strong>, delimitando o<br />
sequestro ósseo pelo contraste.<br />
O tratamento proposto atualmente para a osteomielite crônica é o<br />
desbridamento cirúrgico amplo do osso infectado (incluindo a realização da<br />
cha:rnda sequestrectomia) e dos tecidos vizinhos desvitalizados, associados<br />
à tixação externa rígida do osso, além do preenchimento dos espaços<br />
mortos resultantes com enxerto ou retalho miocutâneo vascularizado,<br />
alongamento ósseo ou transplante ósseo vascularizado reconstrutivo,<br />
quando necessário.
50 | nrtcçors osrÉo.{Rïct-rt.{tEs<br />
Em alguns casos, a amputação do m<strong>em</strong>bro deve ser considerada.<br />
A antibioticoterapia s<strong>em</strong> cirurgia prévia, nesse caso, náo é capaz de curar<br />
o paciente, já que o sequestro é um tecido ósseo necrosado e, portanto,<br />
isquêmico, não havendo como o antibiótico alcançar o foco inÍeccioso. Após<br />
a cirurgia, é rotina o uso do antibiótico baseado no resultado da cultura e do<br />
antibiograma por urn período maior do que 3 s<strong>em</strong>anas.<br />
Um tipo especial de osteomielite crônica é o abscesso de Brodie,<br />
uma forma localizada e encapsulada resultante de um quadro agudo que<br />
cronificou, porém não evoluiu invasivamente: há um abscesso intra-ósseo,<br />
o qual perÍnanece inativo por longos períodos. O paciente queixa-se de dor<br />
profunda e de localização b<strong>em</strong> definida, e a radiografia simples confirma<br />
o diagnóstico, mostrando urna cavidade oval circundada de uma zona de<br />
esclerose.<br />
O tratamento é baseado na dïenag<strong>em</strong> ciúrgica e na limpeza da<br />
cavidade óssea, deixando-se um dreno por 24-48h, e o uso de anübióticos<br />
segue os mesmos princípios acima citados.<br />
Figura 6 - Abscesso de Brodie
pRrNcipros DE oRToPEDIÁ t rRAuMorotoclÀ | 51<br />
Tabela l" - Resumo: Antibioticoterapia Empírica Inicial P;rÍa as Osteomielites<br />
Tipo<br />
H<strong>em</strong>atogênica<br />
Aguda<br />
Aguda<br />
Pós-Trauma<br />
Crônicas<br />
ANTIBIOTICOTERAPIA EMPÍRICA INICIAL PARA AS OSTEOMIELITES<br />
Esqu<strong>em</strong>a<br />
Endovenoso<br />
Oxacìlina<br />
(L00-200mg/kg/<br />
dia)<br />
+ Gentamicina<br />
(3-5 mg/kg/ dia)<br />
Teicoplanina<br />
(6 mglkgldia) ou<br />
Vancomicina<br />
@0-60mg/kg/dia)<br />
+ Cefalosporinas de<br />
3e ou 4t geração<br />
Clindamicina<br />
(40 mg/kg/dia)<br />
+ Ciprofloxacina<br />
(800m9/dia)<br />
T<strong>em</strong>po<br />
4-6 s<strong>em</strong>anas<br />
4-6 s<strong>em</strong>anas<br />
6 meses<br />
Fonte: Citado por Lima, ALLM eZumiottí AY,2007<br />
Artrite Séptica<br />
Observações<br />
- Reavaliar com culturas;<br />
- Considerar terapêutica oral após 2<br />
s<strong>em</strong>anas.<br />
- Reavaliar com culfuras;<br />
- Considerar o perfil da microbiota<br />
locaì.<br />
- Reavaliar com culturas;<br />
- Considerar terapêutica oral após 2<br />
s<strong>em</strong>anas.<br />
Assim como a osteomielite, a artÍite séptica ou arhite piogênica é<br />
uma inÍecção causada por bactérias patogênicas que/ se não diagnosticada e<br />
tratada <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po hábil, pode trazer sérios riscos à vida do paciente.<br />
Nesse caso, a infecção é articular, acometendo preferencialÍnente<br />
joelho, quadril, cotovelo e tornozelo/ mas potencialmente pode envolver<br />
qualquer articulação. A bactéria alcança o espaço articulal principalmente<br />
por via h<strong>em</strong>atogênica ou pol contiguidade através de uma osteomielite<br />
metafisária, podendo também ter causa iatrogênica, como <strong>em</strong> decorrência de<br />
contaminação por punção articular ou de artéria f<strong>em</strong>oral. Elas induz<strong>em</strong> ulna<br />
resposta irúlamatória aguda na articulação e produz<strong>em</strong> enzimas Proteolíticas<br />
que degradam a cartilag<strong>em</strong> hialina, produzindo erosões na superfície articular<br />
e a introdução de pequenos fragmentos cartilaginosos denho da articulação'<br />
Isso aumenta o volume de líquido no espaço articular, e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />
a pressão/ distendendo a cápsula e diminuindo a irrigação sanguínea Pata a<br />
cartilag<strong>em</strong> hialina, podendo resultar, se não tratada, na destruição do osso e<br />
da cartilag<strong>em</strong>. O dano articular pode progredir mesmo depois da erradicação
52 | rrrrcçors osrtoARÍrcutAREs<br />
dos micro-organismos, pois a persistência dos antígenos bacterianos e<br />
metaloproteinases dentro da articulação continuarão a promover uma<br />
resposta inflamatória<br />
O Staphylococcus nureus é a bactéria mais frequent<strong>em</strong>ente isolada,<br />
seguida dos estreptococos e dos pneumococos; ocasionalmente, gonocococos<br />
ou outras bactérias pod<strong>em</strong> causar artrite séptica.<br />
O diagnóstico é baseado na anamnese e quadro clínico do paciente,<br />
caracterizado por dor intersa, limitação do movimento articular, posições<br />
de defesa e aumento do volume da articulação, além de sinais flogísticos<br />
locais. Para auxílio diagnóstico, pode-se solicitar h<strong>em</strong>ograma e VHS, que<br />
normalmente encontram-se alterados graças à infecção, e radiografia simples,<br />
que inicialmente mostra espessamento da cápsula sinovial, ed<strong>em</strong>a periarticular<br />
e aurnento do espaço articular; após 4Bh de evolução, é possível ver o<br />
afastamento entre as superfícies articulares ou até subluxação da articulação.<br />
A USG é um dos principais exames a ser<strong>em</strong> solicitados, pois evidencia<br />
precoc<strong>em</strong>ente a presença de líquido intra-articular. Não há necessidade de<br />
cintilografia óssea quando sinais evidentes são visualizados nos exames mais<br />
simples. Para fechar o diagnóstico de artrite séptica, é importante puncionar<br />
a articulação e realizar cultura e antibiograma, os quais são fundamentais<br />
paÍa a esçolha precisa da antibioticoterapia a ser utilizada.<br />
O tratamento consiste <strong>em</strong> drenag<strong>em</strong> cirúrgica e condições adequadas<br />
de assepsia, mantendo-se um tubo de irrigação e um dreno de sucção pot 24-<br />
4Sh. É importante a imobilização da articulação com tala gessada por 10-30<br />
dias. A uttlização de antibióticos sistêmicos segue os mesmos princípios já<br />
descritos na seção de osteomielite. Antibióticos locais não são utilizados.<br />
ïu h erc u I ose Osteo arti c u I ar<br />
Causada peloMycobacterium tuberculosis, a tuberculose é uma infecção<br />
granulomatosa que pode acometer qualquer tecido orgânico, incluindo ossos<br />
e articulações.<br />
Normalmente, a bactéria alcança o sist<strong>em</strong>a osteoarticular por via<br />
h<strong>em</strong>atogênica, a partLr de uma infecção primária pelo bacilo de Koch <strong>em</strong><br />
pulmão ou gânglios mesentéricos. É comum a existência concomitante da<br />
infecção <strong>em</strong> osso e articulação , jâque esta evolui muito lentamente, causando<br />
destruição extensa de tecido ósseo e cartilaginoso s<strong>em</strong> respeitar a barreira<br />
epifisária. O BK, atingindo o osso, promove uma reação inflamatória típica,
pRrNcÍpros DE oRroPEDlA € TRAUMoÍotoclA | 53<br />
<strong>em</strong> que parte do osso é destruída e substituída por tecido de granulação.<br />
Um abscesso tuberculoso de partes moles pode se formar, como acontece na<br />
tuberculose vertebral.<br />
As articulações mais acometidas são coxof<strong>em</strong>oral, joelho e tornozelo,<br />
e a forma óssea ocorre principalmente <strong>em</strong> vértebras, sendo também<br />
conhecida como mal de Pott, por ter sido descrita pela primeira vez <strong>em</strong><br />
1779 por Percivall Pott.<br />
Deve-se desconfiar desse diagnóstico <strong>em</strong> pacientes com história prévia<br />
de tuberculose pulmonar ou de contactantes com essa doença, queixosos de<br />
dor que v<strong>em</strong> evoluindo lenta, irsidiosa e progressivamente. Quando atinge<br />
articulação, limitação funcional também está presente, e no mal de Pott, o<br />
paciente costuma manter uma posição antálgica de escoliose não estruturada,<br />
surgindo, com o evoluir da doença, uma cifose característica devido à<br />
destruição progressiva e na porção anterior de um ou mais corpos vertebrais,<br />
resultando <strong>em</strong> vértebras <strong>em</strong> forma de cunha, com consequente cifose'<br />
Além disso, o paciente apresenta Íraqueza, astenia, anorexia e perda<br />
ponderal.<br />
Figura 7 -Malde Pott vértebras <strong>em</strong> cunha<br />
A radiografia simples não mostra alterações iniciais importantes,<br />
mas a destruição osteoarticular e a invasão de partes moles pelo abscesso vão<br />
surgindo no decorreÍ da doença. Como as alterações são lentas, as variações<br />
radiográficas d<strong>em</strong>oram s<strong>em</strong>anas para surgir. Raios X sirnples de tórax e de<br />
abdome também dev<strong>em</strong> ser solicitados para investigar a existência de sítio<br />
tuberculoso primário, e a cintilograÍia óssea muitas vezes pode localizar esse
54 | rNrrcçors osrEoARTrcutAREs<br />
sítio inÍeccioso com mais rapidez.A TC evidencia a tuberculose osteoarticular<br />
com mais precisão; portanto, deve ser um exar.te de rotina na suspeita da<br />
doença. Quanto aos exames laboratoriais, HC e VHS mostram-se alterados<br />
como <strong>em</strong> qualquer infecção, e o bacteriológico ou a biópsia de m<strong>em</strong>brana<br />
sinovial pod<strong>em</strong> eventualmente firmar o diagnóstico.<br />
O tratamento consiste <strong>em</strong> imobilização do m<strong>em</strong>bro acometido<br />
com talas, ou órtese toracolombal no caso de mal de Pott, fisioterapia para<br />
evitar anquilose. O tratamento clínico deve ser feito com esqu<strong>em</strong>a tríplice<br />
de riÍampicina, isoniazida e estreptomicina. Além disso, é preconizada a<br />
curetag<strong>em</strong> do foco inÍeccioso no osso, com o cuidado de não lesar a epíÍise.<br />
Na presença de abscesso, este deve ser drenado cirurgicamente, e quando há<br />
destruição articular importante, deve-se tealrzat artrodese.<br />
Sífilis Ossea<br />
o trepon<strong>em</strong>apattidumé o agente causador. É uma entidade cada ve zmais<br />
raÍa, graçasàs campanhas de prevenção de DSTs, ao advento dos antibióticos<br />
e aos cuidados pré-natais. Pode ser congênita ou adquirida. A sorologia é<br />
s<strong>em</strong>pre positiva, e o tratamento deve ser feito com penicilina benzatina por<br />
4 s<strong>em</strong>anap.<br />
Bibliografia<br />
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136 | tourlrcrr<br />
Capítulo<br />
11<br />
lntrodução<br />
Lombalgia<br />
Henrique Mota Neto<br />
Cristiano Aparecido Caoalcante Inácio<br />
Kátia Mireille Austregésilo de Andrade Alencar<br />
F lázt io E smer aI d o Rolim<br />
A lombalgia pura ou dor nas costas é hoje a segunda maior causa de<br />
faltas ao trabalho, b<strong>em</strong> como de queixas <strong>em</strong> consultório, perdendo apenas<br />
para a cefaleia, acometendo s<strong>em</strong> distinção de sexo, a população na fase mais<br />
ativa de suas vidas.<br />
Admite-se que 65'/' da população, na faixa de 25 a 40 anos, já teve pelo<br />
menos um episódio de dor nas costas. Também é fato que B0% das algias da<br />
coluna vertebral ficam rotuladas de lombalgias idiopáticas, possivelmente<br />
posturais ou estiramentos, de etiologia de difícil esclarecimento.<br />
A lombalgia é conceituada como um sintoma que afeta a área entre<br />
a parte mais baixa do dorso e a prega ghilea, podendo irradiar-se para os<br />
m<strong>em</strong>bros inÍeriores; pode apresentar-se de três formas: dor na coluna lombar,<br />
dor no quadrit e dor combinada.<br />
Patologia e Etiologia<br />
A dor lombar t<strong>em</strong> como causas algumas condições como: congênitas,<br />
degenerativas, inflamatórias, infecciosas, tumorais e mecânico-posturais. A<br />
lombalgia mecânico-postural, também denominacla lombalgia inespecífica,<br />
representa, no entanto, grande parte das algias de coluna referidas pela<br />
população. Nela, geralmente ocorre um desequilíbrio entre acarga funcional,<br />
que seria o esforço requerido para atividades do trabalho e da vida difuia, e a<br />
capacidade funcional, que é o potencial de execução para essas atividades.<br />
A fisiopatologia está relaciornda ao esfuamento dos ligamentos, estenose do<br />
canal medul€üi comprometimento muscular, degeneração do disco intervertebral,<br />
degeneração articular interapofisária e fratura do corpo vertebral.<br />
As lombalgias são classificadas <strong>em</strong> agudas e crônicas.<br />
A lombalgia aguda (< 3 meses) pode ser causada por evento traumático,<br />
como acidente de carro ou atraumático por uma flexão brusca, torsão<br />
lerantamento de peso etc. Ela aparece subitamente e a pessoa geralmente
RrNcÍpros DE oRÍopEDtA FTRAUMoÌotoctA I 137<br />
é capaz de identificar o que aconteceu. Nos casos de lombalgia aguda as<br />
estruturas danificadas geralmente são os tecidos moles como múscu1os,<br />
ligamentos e tendões. No caso de acidente grave, fraturas veltebrais na<br />
coluna lombar pod<strong>em</strong> ocorrer.<br />
Lombalgia crônica (> 3 meses) ocorre por um longo período de t<strong>em</strong>po e t<strong>em</strong><br />
como causas mais comurìs: osteoartrite, artrite reumatoide, turnores (incluindo<br />
câncer), degeneração dos discos entre a vértebra ou hérnia no disco lombar'<br />
São resolvidos, ceïca de907o doscasos de lombalgias<strong>em</strong>intervenção médica<br />
<strong>em</strong>6 a L2 meses. Umpequeno número de pacientes pode persistir comincapacidade<br />
funcional crônica e recoÍïente. Pacientes com dor crônica Íus costas apresentam<br />
probl<strong>em</strong>as complexos e frequentes com causa específica não aparente.<br />
Exist<strong>em</strong> alguns fatores associados à dor lombar, como: Idade, sexo,<br />
peso corporal, atividades profissionais, gravidez, ansiedade e depressão.<br />
As dores lombares pod<strong>em</strong> ainda ser exarcebadas por grandes preocu-<br />
pações ou grandes dissabores, enfim, por probl<strong>em</strong>as psíquicossociais.<br />
Quadro Clínico<br />
A lombalgi a é a dor que ocorre nas regiões lombares inferiores,<br />
lombossacrais ou sacroilíacas da coluna lombar. Ela pode ser acompanhada<br />
de dor que se irradia para uma ou ambas as nádegas ou para as pernas na<br />
distribuição do nervo ciático (dor ciática) (Figura L)'<br />
os discos da coluna lombar sofï<strong>em</strong> grandes pressões no dia a dia. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo: Uma flexão de vinte graus da coluna lombar, paraafrente, a coluna<br />
exerce uma pressão sobre os discos lombares de aproximadamente 5 a 6<br />
vezes metade do peso do corpo, e essa pressão aumenta/ <strong>em</strong> uma proporção<br />
geométrica, na medida <strong>em</strong> que eleva o grau de flexão do corpo' Portanto'<br />
um simples ato de escovar os dentes, lavar pratos ou lavar roupas pod<strong>em</strong><br />
causar grandes dores lombares, levando o indivíduo a uma incapacidade<br />
t<strong>em</strong>porária para o trabalho'<br />
A lombalgia também pode ser causada por esforços repetitivos, ex-<br />
cesso de peso/ pequenos traumas, condicionamento físico inadequado/ erro<br />
postural, posição não ergonômica no trabalho (essa é a causâ mais frequente<br />
para atorção e a distenção dos músculos e dos ligamentos que causam a lombalgia),<br />
osteoartrose da coluna, osteofitose (bico de papagaio) e osteoporose<br />
avançada (que são causas também relacionadas à idade), pois, com o passar<br />
do t<strong>em</strong>po, as articulações da coluna vão se desgastando, podendo leïar à<br />
degeneração dos discos intervertebrais e, ou, hérnia de disco)'
138 | ro,r,rrucrr<br />
Diagnóstico<br />
Cervical (7 vértebras)<br />
Coluna Torácica (12 vértebras)<br />
Coluna Lombar (5 vértebras)<br />
Coluna Sacral (5 vértebras)<br />
Figura 1- Estrutura da coluna vertebral (vista lateral)<br />
Ná ausência de sinais de alarme, perante um quadro de lombalgia<br />
aguda presumivelmente inespecífica, o pedido de exames compl<strong>em</strong>entares<br />
de diagnóstico, particularmente os imaginológicos, dev<strong>em</strong> ser requisitados,<br />
podendo auxiliar no diagnóstico precoce de outras doenças. A normalidade<br />
destas imagens elimina possíveis diagnósticos que só seriam dados por<br />
imagens.<br />
Um pedido de radiografia lombossacra <strong>em</strong> postero-anterior e perhI,<br />
b<strong>em</strong> como um h<strong>em</strong>ograma e velocidade de sedimentação poderão justificar-<br />
se como primeiro passo, pensando na exclusão de neoplasias ou osteomielite.<br />
No entanto não existe habitualmente grande correlação entre a evidência<br />
de sinais radiológicos e o quadro clínico, nas situações inespecíficas, <strong>em</strong>bora<br />
possa ser positiva <strong>em</strong> doentes com neoplasia ou outras situações específicas.<br />
Por outro lado a presença de an<strong>em</strong>ia ou um VHS superior a 20mm<br />
na L'hora, poderão ajudar a excluir uma situação de neoplasia. A presença<br />
de alterações do leucograma e do VHS poderá apontar para osteomielite.<br />
O recurso a outros meios de diagnósticos mais sofisticados (EMG, TC, RMN)<br />
apenas deve ser considerado quando sustentado por sinais dqpe alarme ou<br />
outros sinais clÍnicos sugestivos de lombalgia específica.
Diagnóstico D iferencial<br />
Hérnia de Disco<br />
pRrNcíplos DE oRropEDrA t ÌRAUMoror-ocrA I 139<br />
A extrusão de massa discal, herniação do núcleo pulposo que se projeta<br />
para o canal medular através de uma ruptura da parede do anel fibroso,<br />
chamamos de Hérnia de disco. Os discos intervertebrais desgastam-se com o<br />
t<strong>em</strong>po e o uso repetitivo, o que facilita sua herniação. Essas rupturas irradiam-<br />
se patoanatomicamente para a parte póstero-lateral do anel, devido a falta de<br />
ligamentos que sustent<strong>em</strong> o disco nessa região indo <strong>em</strong> direção a áreas nas<br />
quais as terminações nervosas descobertas estão localizadas, causando crise<br />
de dor lombar (Figura 2).<br />
Figura 2 - Surgimento da hérnia de disco
140 | Lovurcr,r<br />
Osteoartrose<br />
É uma doença articular degenerativa, também denominada<br />
osteoartrite, artrite_degenerativa ou hipertrófica, ou simplesmente artrose.<br />
A doença atinge a cartilag<strong>em</strong> articular, que é um tecido conjuntivo elástico<br />
que se encontra nas extr<strong>em</strong>idades dos ossos, onde os condrócitos vão<br />
morrendo e produz<strong>em</strong> menor quantidade de proteoglicanos e de colágeno.<br />
Em consequência disso a cartilag<strong>em</strong> articular ulcera e o osso que está por<br />
debaixo da cartilag<strong>em</strong>, chamado osso subcondral , Íeage, espessando-se e<br />
dando orig<strong>em</strong> a excrescências ósseas chamadas osteófitos (Figura 3). Os<br />
osteófitos são conhecidos entre o grande público pelo nome de "bicos de<br />
papagaio".<br />
Figura 3 - Raio X da coluna lombar evidenciando osteófilos<br />
Espondilite anquilosante<br />
É uma doença inflamatória sistêmica crônica dos tecidos conectivos, de<br />
etiologia desconhecida,caracterizando-se pelo acometimento preferencial do<br />
esqueleto axial, evoluindo para limitação funcional progressiva e anquilose<br />
da coluna vertebral (Fig. ). A causa específica desta doença é desconhecida,<br />
mas fatores genéticos parec<strong>em</strong> interferir. Com a progressão da doença, a<br />
deterioração do osso e da cartilag<strong>em</strong> pode levar à fusão na coluna ou nas<br />
articulações periféricas, afetando assim a mobilidade.
pRrNcípros DE oRroptDtA E ÍRAUMoíotoclA I 141<br />
Figura 4 - Raio X da coluna lombosacra evidenciando anquilose<br />
Lesões musculares<br />
A lesão é caraclerizada por uma alteração ou deformidade tecidual<br />
diferente do estado noÍïnal do tecido, pode atingir vários níveis de tecidos,<br />
ou os mâis variados tipos de células. As lesões ocolr<strong>em</strong> <strong>em</strong> função de um<br />
desequilíbrio fisiológico ou mecânico, por trauma direto ou indireto, por<br />
uso excessivo de um determinado gesto motor, ou até por gestual motor<br />
realízado de forma incorreta. As lesões musculares pod<strong>em</strong> ser classificadas<br />
<strong>em</strong> traumáticas e atraumáticas. Entre as traumáticas, estão o estiramento, a<br />
contusão e a laceração (ou ruptura, sendo esta parcial ou total) (Figura 5)'<br />
Entre as atraumáticas, estão a cãibra e a dor muscular tardia'<br />
Figura 5 - A esquerda lesão<br />
lesão traumática do músculo<br />
ligamentar e a direita
142 | ror'rertcre<br />
Fraturas Lombares<br />
Cada corpo vertebral é separado da vértebra vizinha por um disco<br />
intervertebral. A fratura-compressão do corpo vertebral é um tipo de fratura<br />
bastante comum/ gïave, que ocorre quando uma força externa é aplicada contra<br />
a coluna vertebral, podendo exceder a capacidade estrutural de sustentação<br />
do osso, Ievando ao seu "amassamento'f, Pode acometer a coluna vertebral<br />
lombar, produzindo sintomatologia de grau moderado a grave. Esta situação<br />
é conhecida como fratura-compressão do corpo vertebral (Figura 6).<br />
ïrgo.u 6 - Fratura-compressão do corpo vertebral<br />
Tumores Lombares<br />
As neoplasias primárias da coluna dorsal e lombar são raras, porém<br />
das lesões metastáticas (que se diss<strong>em</strong>inam) são as de localização mais<br />
frequente no esqueleto. Os tumores pod<strong>em</strong> ser benignos ou malignosi sendo<br />
os tumores benignos mais frequentes do que os malignos, afetando a parte<br />
posterior das vértebras. Entre os tumores benignos mais comuns situam-<br />
se o osteoma osteoide, o osteoblastoma e o quisto ósseo aneurismático; as<br />
neoplasias malignas mais comuns (<strong>em</strong>bora raras) são o osteossarcoma e o<br />
sarcoma de Ewing (Figura 7).
Tratamento<br />
pRrNcípros DE oRropEDrA E ÌRAUMoTor-ocl{ | 'l 43<br />
Figura 7- Ressonância magnética apresentando neoplasia<br />
da coluna vertebral com compressão medular<br />
O tratamento da lombalgia crônica é direcionado ao alívio das causas<br />
e pode incluir perda de peso, exercícios para melhorar o tono e a resistência<br />
musculares e melhora da postura. Os analgésicos pod<strong>em</strong> ser utilizados para<br />
aliviar a dor, porém o uso crônico de narcóticos opioides deve ser evitado.<br />
A injeção nos tecidos moles com corticosteroides e anestésicos locais pode<br />
propiciar alívio da lombalgia crônica associada à síndrome miofacial ou à<br />
fibromialgia. Em alguns casos, a cirurgia pode ser necessária para aliviar a<br />
dor intratável ou a dor consequente a anormalidades estruturais.<br />
Os analgésicos, os AINEs convencionais, os relaxantes musculares e<br />
os antidepressivos têm sido utilizados no tratamento da lombalgia aguda e<br />
crônica. Os AINEs convencionais são conhecidos por sua eficácia e pod<strong>em</strong> ser<br />
administrados durante 2 a 4 s<strong>em</strong>anas como um estudo terapêutico, t<strong>em</strong>po que<br />
pode ser seguido por períodos mais longos de tratamento, se for necessário<br />
para uso de AINEs convencionais e b<strong>em</strong> tolerados.<br />
O tratamento com AINEs convencionais deve geralmente ser<br />
continuado, <strong>em</strong>bora o paciente aumente a atividade física e recupere a<br />
confiança, e é descontinuado quando o paciente volta ao trabalho e retoma a-ç<br />
atividades normais. Alguns pacientes com lombalgia crônica pod<strong>em</strong> requerer<br />
tratamento com AINEs convencionais durante períodos prolongados de<br />
t<strong>em</strong>po. Esses medicamentos são usados mais frequent<strong>em</strong>ente como suporte
144 | rousrLcr,r<br />
aos esforços do paciente para ser fisicamente ativo do que para o alívio da dor.<br />
Embora os pacientes com lombalgia crônica possam não obter o completo<br />
desaparecimento da dor, eles dev<strong>em</strong> ser encorajados a ser tão fisicamente<br />
ativos quanto possível. Poderá ser associado um tratamento fisioterápico<br />
concomitante ou se necessário acompanhado de repouso relativo ou muitas<br />
vezes absoluto no leito.<br />
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Capítulo<br />
19<br />
lntrodução<br />
pRrNcÍpros DE oRÍopEDrA r neuuororocn | 255<br />
Atendimento lnicial ao Paciente<br />
Politraumatizado<br />
Marcelo losé Cortez Bezerra<br />
Guilherme de Medeiros Holanda<br />
Luana Pontes Vasconcelos Lima<br />
O politrauma é uma ação imprevista de forças ext<strong>em</strong>as de alta energ'ia<br />
que alteram simultaneamente as funções de múltiplos órgãos ou sist<strong>em</strong>as,<br />
com potencialidade fatal. É a segunda causa de morte até os 40 anos e o tratamento<br />
desses pacientes gera anualmente custos elevados ao sist<strong>em</strong>a único<br />
de saúde.<br />
O atendimento ao paciente politraumatizado deve ser urn atendimento<br />
rápido, objetivo e baseado <strong>em</strong> prioridades. Lesões que possam levar a uma rápida<br />
piora do quadro clínico do paciente e pôr <strong>em</strong> risco a vida dev<strong>em</strong> ser prontamente<br />
diagnosticadas e as medidas terapêuticas imediatamente iniciadas.<br />
O exame deve ser sist<strong>em</strong>atizado por ord<strong>em</strong> de gravidade e obedecer eta-<br />
pas para que nenhuma lesão deixe de ser diagnosticada. Essas etapas são:<br />
Avaliação Primária (ABCDE) + Reanimação<br />
. (Airway) Manutenção das vias aéreas e proteção da coluna cervical<br />
. (Breathing) Avaliação da respiração e ventilação<br />
. (Circulatiorz) Circulação e controle da h<strong>em</strong>orragia<br />
. (Disability: neurologic status) Avaliação neurológica rápida<br />
. (Erposure) Exposição (despir completamente o paciente evitando<br />
hipotermia)<br />
Avaliação Secundária<br />
. História (AMPLA)<br />
. Exame fGico minucioso<br />
Recursos Auxiliares à avaliação secundária<br />
Reavaliação<br />
Nunca se deve passar para a etapa seguinte s<strong>em</strong> antes fazer a avaliação<br />
e reanimação correta da etapa anterior, pois a hipóxia e uma baixa
256 | rrrNorurNÌo rNrcrAL Ao IAcTENTE pouÍRAUMATIzADo<br />
perfusão cerebral pod<strong>em</strong> alterar o exame nelrrológico do paciente levando,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, a faÌsos diagnósticos. Assim, o exame físico completo<br />
do trauma não pode ser iniciado s<strong>em</strong> antes se Íazer a avaliação de lesões<br />
de vias aéreas e ventilação, pois estas possu<strong>em</strong> maior gravidade e maior<br />
risco de óbito.<br />
Essas etapas visam criar um atendimento seqüencial; porém, na práti-<br />
ca, quando realizadas por um médico b<strong>em</strong> treinado e com experiência, elas<br />
são realizadas <strong>em</strong> paralelo ou simultaneamente.<br />
Etapa Pré-hospitalar X Etapa Hospitalar<br />
Pré-hospitalar<br />
O atendimento pré-hospitalar é aquele realizado no local onde<br />
ocorreu o acidente, devendo o mesmo ser realizado por uma equipe treinada<br />
e formada por um médico, um enfermeiro e um socorrista. Para<br />
proteção da equipe, são necessárias luvas, máscaras, óculos de proteção,<br />
aventais impermeáveis, a fim de se evitar<strong>em</strong> doenças transmissíveis (hepatite,<br />
AIDS etc.).<br />
O atendimento pré-hospitalar visa a estabilização do paciente por meio<br />
do ABCDE e do tratamento das lesões imediatas que põ<strong>em</strong> <strong>em</strong> risco a vida<br />
do doente a fim de que se possa transferi-lo para um centro de trauma mais<br />
próximo para o tratamento definitivo. O paciente, ao ser transferido, deve<br />
estar na prancha longa com o uso de colar cervical e outros equipamentos de<br />
imobilização como o ked, se necessário.<br />
No atendimento pré-hospitalar, são prioritários o isolamento e medidas<br />
gerais de segurançapara a proteção da equipe de resgate e do próprio<br />
acidentado. o atendimento não deve exceder 10 minutos, pois quanto mais<br />
t<strong>em</strong>po o acidentado é mantido no local, maiores são os riscos de complica-<br />
ções. O atendimento pré-hospitaÌar pode ser dividido <strong>em</strong>:<br />
L) Reconhecimento da situação e resgate.<br />
2) Tratamento da insuficiência respiratória.<br />
3) Tratamento da insuficiência circulatória e Choque.<br />
4) Tratamento inicial das lesões específicas.<br />
5) Posicionamento e transporte.
'RrNcípros Dr oRTopEDtA r rRÀuMoTorocrA I 257<br />
As mesmas etapas ditas anteriormente (ABCDE) na avaliação do politraumatizado<br />
dev<strong>em</strong> ser realizadas tanto no atendimento pré-hospitalar,<br />
quanto no atendimento hospitalar. No exame primário deste tipo de doente,<br />
a prioridade é a identificação e o atendìmento rápidos de condições com risco<br />
de vida. Mais de 90% dos doentes traumatizados têm somente ferirnentos<br />
simples que envolv<strong>em</strong> apenas um sist<strong>em</strong>a (por ex<strong>em</strong>plo, uma fratura isolada<br />
de m<strong>em</strong>bro).<br />
Nos acidentes com múltiplas vítimas <strong>em</strong> que o número de pacientes<br />
excede a capacidade de atendimento da equipe pré-hospitalar, <strong>em</strong> vez de<br />
dar prioridade aos pacientes mais graves, deve-se prioruar os pacientes com<br />
maior chance de sobrevida.<br />
As informações entre as equipes pré-hospitalar e hospitalar dev<strong>em</strong> ser<br />
sincrônicas païa o melhor recebimento do acidentado no centro hospitalar;<br />
tornam-se muito importantes as informações de como ocorreu o mecanismo<br />
de trauma para que se possa avaliar quais são as possíveis lesões que o aci-<br />
dentado pode apresentar.<br />
Figura 1- Trauma direto com o joelho <strong>em</strong><br />
do veículo, podendo levar a uma fratura<br />
acetabular<br />
flexão contra o painel<br />
do Íêmur ou luxação
258 | lrtNorrr,rrNlo rNtcrAt Ao pActENTE PottrRAUMATlzADo<br />
Figura 2 - Trauma por hiperextensão devido ao Posicionamento<br />
incorreto do encosto da cabeça<br />
Figura 3 - Fratura de costela por trauma torácico
Hospitalar<br />
Avaliação Primária<br />
a) Vias aéreas + controle cervical<br />
pRrNcípros DE oRToPEDtA E TRAUMoÍol.oclA I 259<br />
A primeira parte da avaliação t<strong>em</strong> como objetivo obter e manter as<br />
vias aéreas pérvias ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se protege a coluna cervical.<br />
A medida que pode ajudar a realízar um atendimento mais ágtl é<br />
perguntar ao paciente: "O que aconteceu com aocê?". Se o doente der uma<br />
explicação coerente fazendo uso de frases completas, já será possível concluir<br />
que as vias aéreas estão pérvias, apresentam funções pulmonares suficientes<br />
que permit<strong>em</strong> a fala, boa perfusão cerebral e funcionamento neurológico<br />
razoâvel.<br />
Pode-se avaliar uma via aérea através da observação da cavidade oral<br />
do paciente, caso haja presença de sangue e secreção gástrica, estes dev<strong>em</strong> ser<br />
aspiradas e caso haja próteses dentárias e corpos estranhos, estes dev<strong>em</strong> ser<br />
retirados. Deve-se verificar se há fratura da mandíbula do maxilar superior<br />
da face e traqueolaríngeas que pod<strong>em</strong> resultar <strong>em</strong> obstrução da via aérea.<br />
uma causa frequente de obstrução <strong>em</strong> pacientes inconscientes ou com<br />
rebaixamento do sensório é a queda da base da língua. Manobras como elevação<br />
do queixo (chin lift) e tração da mandíbula (aw thrust) pod<strong>em</strong> ser<br />
usadas para reverter essa queda, e pod<strong>em</strong> também ser usadas <strong>em</strong> todos os<br />
pacientes para estabelecer a permeabilidade das vias aéreas. A hiperextensão,<br />
a hiperflexão ou a rotação cervical são contraindicadas <strong>em</strong> pacientes po-<br />
litraumatizados, pois todos esses pacientes, até que se pÍove o contrário, são<br />
lesados cervicais.<br />
A lesão da coluna cervical está presente ern2"/" dos casos e essa inci-<br />
dência aumenta no trauma fechado acima das clavículas ou quando há alte-<br />
ração do nível de consciência, sendo indicado o uso do colar cervical até que<br />
o exame físico e radiológico coúirme ou não o diagnóstico. Cerca de 5% dos<br />
pacientes com TCE também apresentam lesões da coluna e dessas 55% ocor-<br />
r<strong>em</strong> na região cervical.<br />
São indicações de entubação endotraqueal:<br />
. obstrução aguda;<br />
' apneia;<br />
. hipóxia;<br />
+l
260 | rnxorurNTo rNrctÀt Ao pActtNTÉ PotlrRAUMATlzADo<br />
trauma cervical com h<strong>em</strong>atoma;<br />
trauma crânioencefálico;<br />
choque;<br />
. trauma torácico;<br />
. trauma maxilofacial;<br />
. h<strong>em</strong>atomaretrofaríngeo;<br />
. lesão laríngea;<br />
. incapacidade de manter uma boa oxigenação apesar de receber oxi-<br />
gênio por máscara com reservatório;<br />
o escala de coma de Glasgow menor ou igual 8.<br />
Em trauma extenso de face, ed<strong>em</strong>a de glote, trauma de traqueia e ou-<br />
tras condições impeditivas de entubação endotraqueal, a cricotireoidostomia<br />
pode ser realuadacomo medida salvadora e transitória'<br />
b) Ventilação<br />
Para se avaliar a ventilação, deve-se expor o tórax do doente e realizar<br />
o exame físico torácico voltado para o trauma com inspeção, palpação,<br />
percussão e ausculta. Na irspeção, observa-se a frequência e a profundidade<br />
respiratórias, a expansibilidade torácica e presença de feridas que pod<strong>em</strong> estar<br />
associadas a um pneumotórax aberto. Na palpação do tórax, avalia-se<br />
a existência de fraturas de costela que pod<strong>em</strong> estar associadas a run pneumotórax<br />
hipertensivo, h<strong>em</strong>otórax ou tórax instável. Na percussão, deve ser<br />
investigada qualquer área do tórax que não possua o som claro pulmonar e<br />
na ausculta deve-se identificar murmúrio vesicular'<br />
Uma medida rápida e que avalia a saturação de oxigênio é a oximetria<br />
de pulso que deve estar idealmente acima de95%.<br />
No pescoço, a turgência de veias jugulares pode ser sinal de um tampo-<br />
namento cardíaco ou pneumotórax hipertensivo.<br />
Caso o paciente esteja com uma frequência ventilatória de 12 a 30 res-<br />
pirações p/min., mesmo que o paciente aparente estabilidade, o oxigênio supl<strong>em</strong>entar<br />
deve ser administrado. (FiO2 > B5%)'<br />
Caso o paciente não esteja respirando (apneia) ou com uma frequência<br />
respiratória menor do que 12 por minuto ou maior que 30, inicie imediata-<br />
mente ventilação assistida com máscara facial associada a um balão dotado<br />
de válvula unidirecional com oxigênio supl<strong>em</strong>entar (Fio2 > 85%) antes de<br />
continuar a avaliação.
RrNcípros Dt oRToPEDIA E rRAUMoro[octA I 261<br />
Quando o paciente apresenta frequência respiratória anormal, deve- se<br />
procurar a causa. Exist<strong>em</strong> quatro grandes corsequências do trauma que po-<br />
d<strong>em</strong> levar a essa alteração: pneumotórax aberto, pneumotórax hipertensivo,<br />
h<strong>em</strong>otórax maciço e tórax instável. Todas elas dev<strong>em</strong> ser diagnosticadas e<br />
tratadas imediatamente, pois pod<strong>em</strong> evoluir para o óbito'<br />
o h<strong>em</strong>otórax maciço é caracteruado pelo acúmulo de mais de 1.500 m]<br />
de sangue na cavidade pleural e deve ser drenado imediatamente junto com<br />
uma reposição volêmica.<br />
o pneumotórax hipertensivo t<strong>em</strong> como diagnóstico clínico dispneia,<br />
turgência jugular, desvio da traqueia contralateral e hipotensão e deve ser<br />
tratado de imediato por uma irserção de um gelco 14 ou L6 no segundo espa-<br />
ço intercostal na linha h<strong>em</strong>iclavicular do h<strong>em</strong>itórax acometido, convertendoo<br />
<strong>em</strong> um pneumotórax simples que é tratado definitivamente por meio de<br />
uma drenag<strong>em</strong> pleural fechada anteriormente à linha axilar média no quinto<br />
espaço intercostal'<br />
O pneumotórax aberto está presente quando há ferimentos na parede<br />
torácica e deve ser tratado com uln curativo que oclua toda a ferida e que<br />
possua apenas três pontas deixando uma ponta livre. o curativo deve ser<br />
seguido de drenag<strong>em</strong> pleural e sutura da ferida. se a ferida for de grande ex-<br />
tensão, deve-se rcahzar entubação associada à ventilação mecânica segUida<br />
de correção ciúrgica<br />
o tórax instáv elé caracteruado por duas ou mais fraturas <strong>em</strong> dois ou mais<br />
lugares. Estes doentes apresentam uma movimentação paradoxal do retalho cos-<br />
tal móvel na respiração e pode haver repercussão da ventilação com hipóxia de'<br />
vido a dor; por isso, essa aÍecção deve ser tratada com analgesia e oxigênio <strong>em</strong><br />
casos leves, e analgesia e entubação endotraqueal <strong>em</strong> casos graves'<br />
c) Circulação + controle da h<strong>em</strong>orragia<br />
A avaliação da circulação pode ser realizada de forma rápida segundo<br />
quatro parâmetros: nível de consciência, pulso, enchimento capilar e cor da<br />
pele. AqUeles pacientes inconscientes ou com alteração do úvel de consciência<br />
pod<strong>em</strong> apresentar-se h<strong>em</strong>odinamicamente instáveis para manter uma<br />
perfusão cerebral adequada, mas mesmo o paciente estando consciente, ele<br />
pode ter perdido uma grande quantidade de sangue'<br />
o pulso deve ser avaliado quanto à frequência, qualidade e regulari-<br />
dade e pode ser palpado <strong>em</strong> vários locais: artéria radial, f<strong>em</strong>oral e carótida'<br />
A presença de pulso Periférico palpável denota que o paciente ainda está na
262 I rrrNorutNÌo rNtcrAr- Ao pAcrENÌ[ potrrRAUMArrzADo<br />
fase compensada do choque. Se o pulso estiver rápido (>100bpm) e filiforme<br />
indica a presença de uma considerável perda volêmica.<br />
Se o enchimento capilar estiver maior que 2 segundos, indica que os<br />
leitos capilares não estão recebendo perfusão adequada; porérn, há diversos<br />
outros fatores que pod<strong>em</strong> levar a uma alteração do resultado, como o uso<br />
de vasodilatadores ou vasoconstrictores farmacológicos, presença de choque<br />
neurogênico, baixas t<strong>em</strong>peraturas e doença vascular periférica.<br />
Pele esbranquiçada, face acinzentada e extr<strong>em</strong>idades frias e pálidas<br />
indicam que o paciente está hipovolêmico, pois a coloração da pele normalmente<br />
é rosada. Pacientes com pele pigmentada pod<strong>em</strong> tornar este exame<br />
difícil, mas a verificação das mucosas e da cor do leito ungueal pode ajudar<br />
nessa avaliação.<br />
lJma vez avaliada a circulação do paciente e diagnosticado que o mesmo<br />
se encontra <strong>em</strong> choque, provavelmente h<strong>em</strong>orrágico, deve-se procurar a<br />
fonte de sangramento, controlar a h<strong>em</strong>orragia e iniciar reposição volêmica<br />
agressiva com solução isotônica aquecida <strong>em</strong> dois acessos venosos periféri-<br />
cos calibrosos (gelco 14 ou 16) nos m<strong>em</strong>bros superiores.<br />
Uma sonda vesical pode ser introduzida no paciente a fim de avaliar o<br />
débito urinário que reflete a perfusão rernl, vol<strong>em</strong>ia e resposta à reposição vo-<br />
lêmica. A presença de sangramento pelo meato uretral, próstata elevada ao to-<br />
que retal, equimose perineal e h<strong>em</strong>atoma do escroto são sinais cle lesão uretral<br />
e contraindicam a sonda vesical. A pressão arterial deve ser medida s<strong>em</strong>pre.<br />
Caso o paciente apresente h<strong>em</strong>orragia ext<strong>em</strong>a, esta deve ser controlada<br />
por meio de pressão direta com curativo ou com o torniquete <strong>em</strong> extr<strong>em</strong>idades.<br />
Quando não encontrada uma fonte de sangramento ext<strong>em</strong>a, o paciente<br />
apresenta h<strong>em</strong>orragia abdominal interna, por fratura de tóraç fratura de bacia<br />
ou fratura de ossos longos como o fêmur. Fraturas de bacia pod<strong>em</strong> ser trata-<br />
das com estabtluação do anel pélvico e o uso de um dispositivo pneumático<br />
antichoque. As fraturas são sítios de sangramento ativo e dev<strong>em</strong> ser reduzidas<br />
para dimìnuir a perda volêmica. Se for suspeitada uma h<strong>em</strong>orragia abdominal,<br />
deve-se expor o abdome do paciente para realizar inspeção e palpação à procu-<br />
ra de sinais da lesão; se houver peritonite, é indicada a laparotomia.<br />
Radiografias de bacia e tórax ântero-posterior, b<strong>em</strong> como o lavado peritoneal<br />
diagnóstico e a ultrassonografia abdominal feitas na sala de reanima-<br />
ção pod<strong>em</strong> ser úteis no diagnóstico de lesões e ajudar no tratamento. Outros<br />
exarnes compl<strong>em</strong>entares mais específicos geralmente são realizados durante<br />
a avaliação secundária.
RrNcípros Dt oRropEDtA E rRAuMoroLoclA | 263<br />
A monitorização eletrocardiográfica pode ser útil <strong>em</strong> pacientes poli-<br />
traumatizados, pois pod<strong>em</strong> indicar um trauma cardíaco contuso pelo aparecimento<br />
de arritmias, fibrilação atrial extrassístoles, alterações do segmento<br />
ST, dentre outras.<br />
d) Avaliação neurológica ráPida<br />
A avaliação neurológica rápida pode ser realizada por meio da mn<strong>em</strong>ônica<br />
AVDI: A- acordado, V- responde ao estímulo verbal, D- responde ao<br />
estímulo doloroso, I- inconsciente, não responde a nenhum estímulo' Entre-<br />
tanto, essa avaliação não fornece números para urna comparação de forma<br />
precisa <strong>em</strong> relação às avaliações anteriores para saber se o paciente está melhorando<br />
ou estável.<br />
Deve-se então avaliar de uma forma mais completa por meio da Escala<br />
de Coma de Glasgow, pois esta pode ser usada pala comparação e avaliação<br />
de melhora do paciente (Tabela 1). A resposta (fotorreação) e o tamanho das<br />
pupilas comparando-as, sinais de lateralização e o nível de lesão da medula<br />
espinhal também dev<strong>em</strong> ser avaliados.<br />
A Escala de Coma de Glasgow de 13 a 15 indica trauma leve; de9 a12<br />
indica trauma moderado; e menor ou igual a 8 indica trauma grave (Tabela<br />
2). Um rebaixamento do nível de consciência pode denotar uma hipóxia ce-<br />
rebral, hipoperfusão cerebral ou uln trauma cerebral direto. Algumas outras<br />
condições pod<strong>em</strong> levar a uma alteração do nível de consciência, como intoxi-<br />
cação por álcool ou drogas, e distúrbios metabólicos.<br />
Abertura ocular (O)<br />
Resposta verbal (V)<br />
Resposta motora (M)<br />
Tabela 1- Escala de coma de Glasgow (ECG)<br />
Espontânea<br />
A estímulo verbal<br />
A estímulo doloroso<br />
S<strong>em</strong> resposta<br />
Orientado<br />
Confuso<br />
Palavras inapropriadas<br />
Sons incompreensíveis<br />
S<strong>em</strong> resoosta<br />
Obedece a comandos<br />
Localiza dor<br />
Retirada<br />
T)ecorticacão<br />
Descerebração<br />
S<strong>em</strong> resoosta<br />
4<br />
2<br />
1<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
6<br />
5<br />
4<br />
J<br />
2<br />
1
264 | ,rrtNorurNÍo rNrcrAr Ao eACIENTE pourRAUMAÌrzADo<br />
Escore da Escala de Coma<br />
de Glsgow (ECG)<br />
e) Exposição<br />
Tabela 2 - Graduação do TCE através do ECG<br />
Classificação do TCE conforme<br />
a gravidade<br />
13-15 Leve<br />
9-72 Moderado<br />
uNcípros Dt oRÍopEDrA E ÍRAUMorotoctA | 265<br />
A história clínica deve ser breve e direcionada, baseada na mn<strong>em</strong>ônica<br />
AMPLA, <strong>em</strong> que se questionam a respeito de alergias, medicamentos de uso<br />
habitual, passado médico (comorbidades) e gravidez,líquidos, alimentos ingeridos<br />
antes do acidente, ambiente e eventos relacionados ao trauma.<br />
No exame físico da avaliação secundária, dá-se preferência ao exame<br />
crânio-caudal, <strong>em</strong> virtude da maior facilidade de sist<strong>em</strong>atizar o atendimento'<br />
Cabeça<br />
Inicia-se o exame pela palpação de todo o couro cabeludo <strong>em</strong> busca<br />
d.e sinais de sangramento, lesões <strong>em</strong> desluvamento, ferimentos, fraturas,<br />
h<strong>em</strong>atomas, ed<strong>em</strong>a, depressões, descontinuidade da calota craniana, extravasamento<br />
de tecido cerebral ou líquido cefalorraquidiano (LCR). Deve-se<br />
suspeitar de fratura de base do crânio, caso haja drenag<strong>em</strong> de LCR pelo narü<br />
ou ouvido, equimose periorbitária ("olhos de guaxinim") ou equimose retroauricular<br />
(sinal de Battle). Disfunção do sétimo e oitavo pares cranianos<br />
também são sinais de fratura de base do crânio, e pod<strong>em</strong> ocorrer até algurs<br />
dias após a lesão.<br />
A face do paciente deve ser delicadamente palpada à procura de assi-<br />
mehias, crepitações, ed<strong>em</strong>as, h<strong>em</strong>atomas, ferimentos, fraturas mandibulares,<br />
nasais e de porção média da face. É necessário examinar a cavidade oral do<br />
paciente, a fim de avaliar o estado dos dentes, o uso de próteses e se há qualquer<br />
tipo de objeto que possa vir a obstruir a via aérea do paciente. L<strong>em</strong>brar<br />
que o exame da cavidade oral deve ser realizado com luvas'<br />
Os olhos dos pacientes dev<strong>em</strong> ser examinados à procura de h<strong>em</strong>ato-<br />
maS, leSões penetrantes/ encarceramento oCular, h<strong>em</strong>orragias cOnjuntivais.<br />
A acuidade visual e o exame de fundo de olho também dev<strong>em</strong> ser avaliados'<br />
Caso o paciente esteja usando lentes de contato, necessitam ser prontamente<br />
retiradas antes que o ed<strong>em</strong>a se estabeleça'<br />
Quanto aos ouvidos, a otoscopia necessita ser realizada a fim de avaliar<br />
a ocorrência de rotura de m<strong>em</strong>brana timpânica e otorragia'<br />
Sist<strong>em</strong>a Nervoso<br />
o exame neurológico completo deve ser realizado, a fim de avaliar a<br />
função motora e sensorial do paciente. Também de extr<strong>em</strong>a importância é<br />
a reavaliação da escala de coma de Glasgow e das pupilas. o paciente com<br />
dano neurológico devido ao trauma necessita ser monitorado e reavaliado<br />
com frequência, uma vez que pode cursar com deterioração do nível de cons-
266 | lnrorurNTo rNrcrAt Ao pAcrENTf pourRAUMATrzADo<br />
ciência ou alterações no exame neurológico, que suger<strong>em</strong> progressão do danr<br />
neurológico. Caso o estado neurológico do paciente venha a deteriorar-se. =<br />
oxigenação, a perfusão cerebral e a ventilação dev<strong>em</strong> ser reavaliadas.<br />
Pescoço<br />
O exame do pescoço caracteríza-se pela inspeção, ausculta e palpação<br />
da região. Deve ser realizado com o local imobilizado, seja manual ou pelc<br />
uso de colar cervical durante toda a avaliação. Procura-se por presença de<br />
feridas penetrantes, fratura de laringe, desvio da traqueia, dor <strong>em</strong> coluna cervical,<br />
dor à palpação da região posterior do pescoço, deÍormidades aparentes<br />
da coluna cervical, contratura da musculatura do lrapézio, paresia ou pares-<br />
tesia <strong>em</strong> m<strong>em</strong>bros. As artérias carótidas precisam ser auscultadas e palpadas,<br />
buscando por sopros e frêmitos. Não se pode esquecer de avaliar se há turgência<br />
jugular, o que pode sugerir tamponamento cardíaco ou pneumotóra-\<br />
hipertensivo.<br />
Tórax<br />
O exame físico do tórax segue a técnica aprendida na s<strong>em</strong>iologia: irs-<br />
peção, palpaçáo, ausculta e percussão são realizadas. Na inspeção, à face anterior<br />
e a posterior do tórax são examinadas, procurando-se por lesões que<br />
possam cursar com urn pneumotórax aberto ou ainda avaliar se há tórax ins-<br />
tável, decorrente de fraturas costais múltiplas. Avalia-se também o padrão<br />
respiratório do paciente, assim como a frequência, se há sinais sugestivos de<br />
hipóxia, dispneia e taquipneia.<br />
O exame do tórax inclui a palpação de todo o gradil costal, clavículas,<br />
esterno/ <strong>em</strong> que se pesquisam sinais como dor, h<strong>em</strong>atomas, fraluras,<br />
crepitações e contusões. Na ausculta cardíaca, abafamento de bulhas pode<br />
sugerir tamponamento cardíaco, principalmente se associada à turgência<br />
jugular e hipotensão (Tríade de Beck). Na ausculta pulmonar, pod<strong>em</strong> ser<br />
verificados murmúrios vesiculares abolidos, o que, na presença de um<br />
trauma torácico, sugere pneumotórax, seja ele hipertensivo ou aberto. No<br />
pneumotórax hipertensivo, há redução dos MVU e timpanismo, <strong>em</strong> algurrs<br />
casos, pode haver turgência jugular, caso o paciente tenha sinais de hipovol<strong>em</strong>ia.<br />
Diante de um pneumotórax hipertensivo, realiza-se a drenag<strong>em</strong> do<br />
tórax de imediato. É importante l<strong>em</strong>brar que o diagnóstico de pneumotórax<br />
hipertensivo é clínico.
Abdome<br />
rNcípros Dt oRToPËDtA E rRAuMorotoclA I 267<br />
Oexamefísicodoabdomeeapesquisadesinaisesintomastêmcomo<br />
principal objetivo atuar de maneira a identificar rapidamente uma lesão que<br />
porru.olo.ur <strong>em</strong> risco a vida do paciente e necessite de intervenção ciúrgica<br />
imediata. Durante um trauma abdominal, os sinais de irritação peritoneal não<br />
ocorr<strong>em</strong>deimediato;logo,ulnexamefísiconormaldoabdomenãoexcluia<br />
possibilidade de lesões graves. Mesmo assim, o exame físico deve ser realizaào<br />
detalhadamente e baseia-se na irspeção, ausculta (de pouco relevância no<br />
trauma), palpação e percussão, devendo ser constant<strong>em</strong>ente reavaliado'<br />
Nairspeção/procuram-seporlesõesperfurocortantes,abrasões,distersão<br />
abdominal, h<strong>em</strong>atomas, equimoses sinal de Grey-Tumer (equimoses<br />
nosflancos)eCullen(equimoseperiumbilical),queindicamlesãoretroperitoneal.Deextr<strong>em</strong>aimportância,éosinaldocintodesegurança,relativamente<br />
frequente <strong>em</strong> pacientes vítimas de traumas automobilísticos, podendo ter<br />
associação com traumas abdominais fechados. Na palpação, pesquisam-se<br />
sinais de dor e irritação Peritoneal, como defesa abdominal involuntária, dor<br />
à descompressão súbita. outros sinais de peritonite são dor à percussão e<br />
redução dos ruídos hidroaéreos<br />
No-traumaabdominal,apalpaçãodabaciadeveserrealizada'afim<br />
de se pesquisar irstabilidade e dor à mobiltzaçâo.Nos casos <strong>em</strong> que a radiograni<br />
aapelve não foi realizada durante a avaliação primária, ela deve ser<br />
solicitada no exame secundário. As lesões pélvicas pod<strong>em</strong> estar associadas a<br />
lesões de vísceras abdominais, mas, <strong>em</strong> geraf causam grandes h<strong>em</strong>atomas<br />
retroperitoniais.<br />
Atomografiadoabdomepodeserfeitanospacientesh<strong>em</strong>odinamicamente<br />
estáveis, conÍorme a necessidade'<br />
Dorso<br />
Deveserexaminadocuidadosamenteevitandomovimentaraútima,<br />
pois, caso haja trauma raquimedular, a movimentação pode agravar ainda mais<br />
a lesão do paciente. Palpa-se a coluna vertebral à procrua de áreas dolorosas,<br />
h<strong>em</strong>atomas, equimoses, fraturas, crepitações, deformidades ósseas e ed<strong>em</strong>a'<br />
Períneo, Reto e Órgãos Genitais<br />
Na avaliação perineaf procura-se por sinais de contusão' h<strong>em</strong>atomas'<br />
lacerações e h<strong>em</strong>orragia uretral. Deve-se l<strong>em</strong>brar que fraturas do anel pélvico
268 | lrrNor,vrNro rNrcrAr Ao pAcrENrE pourRAUMAnzADo<br />
costumam cursar com h<strong>em</strong>oïragias retais ou vaginais/ uma vez que têm forte<br />
associação com lacerações da bexiga, da uretra e das paredes vaginas e retais.<br />
Portanto, os exuìrnes do toque retal e do vaginal necessitam ser realizad.os nos<br />
pacientes politraumatizados com fratura do anel pélvico para que fraturas ex-<br />
postas ocultas não pass<strong>em</strong> despercebidas. pesquisam-se também outros sinais<br />
de h<strong>em</strong>orragia, alterações do tônus do esfíncter anal, presença de fragmentos<br />
ósseos, posição da próstata e priapismo (pode sugerir lesão medular).<br />
Nas pacientes do sexo f<strong>em</strong>inino, verificar s<strong>em</strong>pre se há presença de<br />
sangramento vaginal não condizendo com a menstruação, fragmentos ósse-<br />
os, lacerações vaginais e útero gravídico. o exame de toque vaginal deve<br />
ser realizado pesquisando-se sinais de sangramento. Em todas as vítimas <strong>em</strong><br />
idade fértil, o teste de gravidez (p-HCG) é realizado.<br />
sist<strong>em</strong>a Musculoesquelético e Abordag<strong>em</strong> oÉopédica ao politrauma<br />
o atendirnento secundário ao paciente vítima de trauma musculoesquelético<br />
requer a palpação minuciosa das extr<strong>em</strong>idades assim como a avaliação<br />
da pele, da função neuromuscurar, da circulação, da integridade de<br />
ossos e ligamentos, presença de h<strong>em</strong>atoma, equimoses, abrasões, pabdez,<br />
cianose de extr<strong>em</strong>idades e deformidades. A palpação de todos os pulsos,<br />
avaliação do enchimento capilar e perfusão periférica antes e após o uso de<br />
imobilização, t<strong>em</strong>peratura dos m<strong>em</strong>bros e integridade dos movimentos e<br />
sensibilidade compl<strong>em</strong>entam o exame físico.<br />
Em torno de 85% dos pacientes politraumatizados apresentam lesão do<br />
sist<strong>em</strong>a musculoesquelético; grande parte dessas lesões não acarretam perigo<br />
ao m<strong>em</strong>bro ou à vida, porém algumas lesões específicas cursam com deterio.<br />
ração do estado cÌínico da vítima.<br />
Logo, cabe à avaliação primária identificar e corrigir lesões que ponham<br />
<strong>em</strong> risco imediato a vida do paciente, como h<strong>em</strong>orragia arterial grave,<br />
síndrome do esmagamento (risco de rabdomiólise, que pode levar a IRA e<br />
CIVD) e fraturas do anel pélvico, que pod<strong>em</strong> variar desde fraturas relativamente<br />
simples até fraturas complexas que provocam h<strong>em</strong>orragia maciça,<br />
<strong>em</strong> que o paciente pode rapidamente evoluir para choque e óbito. A fratura<br />
de bacia cosfuma vir associada a outras lesões como TCE (sL%), fraturas de<br />
ossos longos (a8%) lesões de tórax (20%), trauma esplênico (10%), trauma<br />
hepático (7%) e trauma renal (7%).<br />
A h<strong>em</strong>orragia do anel pélvico é considerada uma das mais graves, pois<br />
evolui rapìdamente para choque e necessita ser identificada logo no início,
Ncípros DE oRÌoPEDlÀ i rRAUMoroLoclA I 269<br />
Palaqueareanimaçãosejaefetiva'Quantoàinstabilidadedacinlurapéivica,<br />
testa.Seatravésdamovimentaçãosuavedascristasilíacasnosentidodecomprimiretracionarapelve.Deve-sesuspeitardelesãodoanelpélvicoquando<br />
hádiferençanocomprimentoentreosm<strong>em</strong>brosinferioresourotaçãoexterna<br />
de um dos m<strong>em</strong>bros. vale ressaltar que tal manobra pode agravar ainda mais<br />
a lesão do paciente e só deve ser realizada uma única vez' de preferência pelo<br />
ortopedista que irá estabilizar a peive'<br />
Z/ -r--*.\f<br />
.r' \\<br />
'f íL<br />
/ ,(<br />
\tl \ !z<br />
---"**-,<br />
ía<br />
oì<br />
Figura 4 - Frafura PoÍ compÍessão lateral<br />
{6--}<br />
Figura 5 - Fratura por comPÍessão antetoposterior<br />
("livro aberto")
270 | lrrr.rorurNTo rNrclAt Ao IAcTENTE pourRAUMAÌlzADo<br />
Figura 6 - Frafura por cisalhamento<br />
vertical<br />
A imobilização do m<strong>em</strong>bro fraturado deve ser realizada de rmedia:c<br />
no sentido de evitar a mobilização do m<strong>em</strong>bro. As fraturas pod<strong>em</strong> pro\-ocÊ:<br />
lesões da pele, tecido muscular, nervos e vasos sanguíneos. Em decorrênsdessas<br />
possíveis lesões, dev<strong>em</strong>-se s<strong>em</strong>pre investigar sinais de paresia, pilÈtesia,<br />
h<strong>em</strong>orragias int<strong>em</strong>as, externas e áreas que pod<strong>em</strong> servir de porta dt<br />
entrada para inÍecções (risco de osteomielite <strong>em</strong> fraturas expostas).<br />
Deve-se ter <strong>em</strong><br />
mente, ainda, a diferença<br />
entre uma fratura fechada<br />
e exposta. Na fratura<br />
fechada, não há perda da<br />
integridade da pele, e os<br />
principais sinais de lesão<br />
são dor, deformidade<br />
do m<strong>em</strong>bro, h<strong>em</strong>atoma<br />
e crepitações. Na fratura<br />
exposta ou aberta, há<br />
Figura 7 - Fratura exposta<br />
e fechada do fêmur<br />
-.**_"*\<br />
# qì
üNcípros Dt oRroPEDla r rRAUMorotocA I 271<br />
perdadaintegridadedapelenolocaloupróXimoaolocaldafratura.Qualquerfraturafechadadeveserimobilizadacommuitocuidadodevidoaorisco<br />
potencial de se transforrnar <strong>em</strong> uma fratura exposta'<br />
Asfraturasmaiscomumenteassociadasàh<strong>em</strong>orragiagravesãoasde<br />
fêmur, pelve ou multiplas fraturas, devendo sofrer moniloruaçáo e reposição<br />
volêmica imediata. Atabela abaixo relaciona fraturas ósseas às perdas san-<br />
guíneas internas estimadas'<br />
Tabela 3 - Classificação da perda sanguínea por Íraturas ósseas<br />
Fraturas ósseas<br />
Costela<br />
Rádio ou ulna<br />
Umero<br />
Tíbia ou fíbula<br />
Fêmur<br />
Pelve<br />
Perda sanguínea<br />
125mL<br />
250-500mL<br />
500-750mL<br />
500-1000mL<br />
1000-2000mL<br />
>1000mL<br />
Devido à gravidade dessas lesões, é que se utiliza o preceito ciúrgico<br />
atual de bontrole de danos' Essa estratégica ciúrgica v<strong>em</strong> sendo cada vez<br />
mais utilizada <strong>em</strong> pacientes vítimas de traumas graves que se encontram na<br />
chamada ,,Tríade da Morte", caracteruada por hipotermia, coagulopatia e<br />
acidos<strong>em</strong>etabóIica,resuÌtadodochoquehipovolêmico'Emgeral'baseia-se<br />
<strong>em</strong> três etapas. Inicialmente, o paciente é submetido a cirurgia para controle<br />
da h<strong>em</strong>orragia e redução do 'i"o de inÍecção' sendo então encaminhado à<br />
UTI para prevenção da hipotermia, correção da coagulopatia; e reanimação<br />
volêmica<strong>em</strong>elhoradoestadoh<strong>em</strong>odinâmico.Apósocontroleh<strong>em</strong>odinâmico<br />
do paciente, ele é novamente submetido ao processo ciúrgico para ttalamento<br />
definitivo das lesões'<br />
Naortopedia,oconceitodecontrolededanosvisaconter"gslnlilizar<br />
as lesões ortopédicas r pãrã que as condições gerais do paciente possan melhorar'Afixaçãot<strong>em</strong>poráriadelesõesgravesatuacomomedidasalvadora,<br />
sendoincluída,,u,"u,'i-uçãoinicialdopacientecomoformadecontrolede<br />
h<strong>em</strong>orragia.Como,<strong>em</strong>geral,ospacientessãopolitraumatizados'ospro{e'<br />
dimentosparacontroledefinitivodaslesõessãoadiadosatéquePoSSacontarcomaestabilizaçãodosparâmetrosclínicosdospacientes.Emrelação<br />
às fraturas de anel pélvico e fêmur, a utilização de fixadores externos çern.
272 | ererorurNTo rNrcrAL Ao pAcrENÍt porrÌRAUMAÌÍzADo<br />
d<strong>em</strong>onstrando ser uma medida eficaz no manejo inicial desses pacientes. In-<br />
dependent<strong>em</strong>ente da gravidade das lesões ortopédicas, o objetivo da 1" fase<br />
do katamento é atuar promovendo o equilíbrio h<strong>em</strong>odinâmico e impedir da-<br />
nos adicionais ao doente. A correção definitiva com hastes intramedulares ou<br />
placas é realizada após alguns dias, com maior segurança.<br />
Por último, ressalta-se a importância de o médico <strong>em</strong> atendimento<br />
relatar todos os procedimentos realizados no prontuário do paciente, tanto<br />
para proteção pessoal <strong>em</strong> caso de ação judicial contra o próprio médico,<br />
quanto para acompanhamento clínico do paciente.<br />
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Capítulo<br />
22<br />
lntrodução<br />
Fraturas Expostas<br />
pRrNcípros DE oRropEDtA E rRAuMorotoclA | 291<br />
José Alberto Dias Leite<br />
Fláztius Vinícíus Cabral Soares<br />
Fraturas expostas continuam sendo um desafio aos cirurgiões ortope-<br />
distas que lidam com o trauma. A complexidade das apresentações das lesões<br />
envolvendo oSSoS e partes moles provocadas pelo trauma, frequent<strong>em</strong>ente as-<br />
sociadas a politraumatuados, requer que decisões irnportantes sejam tomadas<br />
rápida e eficazmente, levando <strong>em</strong> conta que o tratamento inicial influencia<br />
de maneira bastante importante na evolução desses casos.<br />
Definição<br />
Uma fratura é considerada exposta quando a lesão da pele e das partes<br />
moÌes resultam <strong>em</strong> uma comunicação entre a fratura e o ambiente externo.<br />
seu diagnóstico pode ser fácil quando se pode visualizar fragmentos<br />
ósseos através da ferida, mas fraturas expostas pod<strong>em</strong> ter apresentações mais<br />
rìiscretas com feridas pequenas e/ou distantes do foco da fratura - onde não<br />
se visualiza o osso exposto.<br />
Quando uma fratura ocorre no mesmo Segmento do m<strong>em</strong>bro com uma<br />
ferida, esta deverá ser tratada como se fosse exposta até que se evidencie o<br />
contrário.<br />
Classificação<br />
A classificação mais utilizada atualmente é o sist<strong>em</strong>a desenvolvido<br />
cor Gustilo e Anderson que foi posteriormente modificada por Gusülo et al'<br />
De acordo com esse sist<strong>em</strong>a, frafuras expostas do tipo I são caracterizadas<br />
)or apresentar<strong>em</strong> ferimento < 1cm com mínima contaminação, cominuição<br />
e lesão de partes moles. Fraturas expostas do tipo II apresentam ferimento<br />
> 1cm com lesão moderada de partes moles, mas a cobertura é adequada e a<br />
iesão do periósteo não é extensa. Fraturas expostas do tipo III são divididas<br />
<strong>em</strong> três subtipos. Tipo IIIA é caracïerizada por um trauma de alta energia,
292 | rmrunrs rxrosrls<br />
lesão de partes moles bastante intensa e contaminação substancial, entretanto<br />
a cobertura primária da ferida ainda pode ser feita adequadamente mesmo<br />
após o devido desbridamento ciúrgico. Tipo IIIB é s<strong>em</strong>elhante ao tipo IIIA,<br />
exceto pelo fato de que a cobertura primária da ferida não é possível, sendo<br />
assim necessários procedimentos adicionais de cobertura da ferida como, por<br />
ex<strong>em</strong>plo/ a aplicação de enxertos de pele. Tipo IIIG é uma fratura exposta<br />
grave associada a uma lesão arterial importante que requer reparo.<br />
Tabela 1- Classificação de Gustilo e Anderson para fraturas expostas<br />
Tipo Ferida<br />
Grau de<br />
Contaminação<br />
A Classificação de Gustilo e Anderson correlaciona adequadamente o<br />
Lipo de fratura com o risco de infecção. Veja a tabela abaixo:<br />
Tabela 2 - Risco de infecção para cada subtipo de fratura exposta<br />
Características do paciente e suas comorbidades também interfer<strong>em</strong><br />
diretamente no risco de irúecção, tais como: idade >S0anos, carga tabágica<br />
alta, diabetes, insuficiência pulmonar e imunodeficiência sistêmica.<br />
Tratamento Pré-hospitalar<br />
Lesão de Partes Moles<br />
I 1Ocm Alto Grave + Perda de Cobertura Cutânea<br />
MC >1Ocm Alto Lesão Vascular + Lesão de Partes Moles Graves<br />
já no local do trauma deve ser iniciado o tratamento ao paciente com<br />
fratura exposta. Faz<strong>em</strong> parte dos cuidados iniciais a coberfura da ferida, que
RrNcípros DE oRTopEDrA E rRAUMororocA | 293<br />
deve ser isolada do meio externo com curativo estéril ou, quando este não<br />
estiver disponível, material "lïrnpo" e a imobilização provisória, podendo<br />
ser utilizadas talas, órteses ou outros materiais que promovam a estabilidade<br />
da fratura. Tais cuidados visam prevenir a continuidade da lesão de partes<br />
moles pelos fragmentos ósseos durante a mobilização do paciente e proteger<br />
a fratura do meio externo.<br />
Tratamento Hospitalar lnicial<br />
Um número razoável de pacientes portadores de fraturas expostas são<br />
politraumatizados ou polifraturados, podendo encontrar-se com quadro clÍni-<br />
co irstável. Por isso a atenção inicial é fèita paÍa a ressuscitação e esftrbilização<br />
clínica do paciente quando necessárias. Juntamente com essa fase inicial do tra-<br />
tamento, dev<strong>em</strong>os realjzar a coberlura da ferida g 3 ssfsfilizzção da fratura caso<br />
essas etapas não tenham sido realizadas anteriormente. Em seguida é realizada<br />
a an:ünnese do paciente, procurando extrair o máximo de inÍormações sobre o<br />
acidente, como o mecanismo de trauma, o agente causador e o t<strong>em</strong>po decorrido,<br />
assim como inÍormações sobre o estado de saúde prévio do paciente. Seguimos<br />
com o exame completo do paciente, chamando atenção para a Presença de pul-<br />
sos periÍéricos, exuüne neurológico e também ex;ìme e manipulação da ferida, os<br />
quais dev<strong>em</strong> ser realizados <strong>em</strong> ambiente adequado como sala cìrurgica ou livre<br />
de grandes contamirnções. A avaliação ndiográhca pode então ser teaJtzada. A<br />
antibiótico-profilaxia e a tétano-profilaxia são adminjstradas nessa fase inicial do<br />
atendimento ao paciente com fratwas expostas.<br />
Uso de Antibióticos<br />
O uso de antibióticos no tratamento das fraluras expostas é essencial.<br />
A eficácia da antibioticoprofilaxia é b<strong>em</strong> documentada na literatura,<br />
d<strong>em</strong>onstrando uma diminuição considerável nos níveis de inÍecção quando<br />
aplicados os antibióticos de maneira adequada.<br />
Há evidências de que a maioria das inÍecções que se desenvolv<strong>em</strong><br />
nas fraturas expostas tratadas não revela os microorganismos presentes no<br />
início da doença, mas sim de bactérias nosocomiais (staphylococcos grampositivos<br />
e gram-negativos). Ainda hoje há grande discussão sobre o tipo<br />
de antibioticoterapia mais adequada ao tratamento de fraturas expostas,<br />
havendo duas grandes "tendências":
294 | rrrn r"s msrs<br />
1.<br />
2.<br />
Tratar todas as fraturas expostas com: cefalosporina de Lu geração +<br />
aminoglicosídeo.<br />
Tratar as fraturas do tipo I e II com monoterapia de cefalosporina de<br />
1^ geração com adição de um aminoglicosídeo só no caso de fraturas<br />
do tipo III.<br />
Nota: É sugerida a adição de penicilina ou ampicilina quando<br />
há risco alto de infecção por anaeróbios, como, por ex<strong>em</strong>pÌo, <strong>em</strong><br />
traumas no ambiente rural.<br />
A administração intravenosa de antibióticos deve ser iniciada o mais<br />
precoc<strong>em</strong>ente possível, sendo feita por até 48 e 72hs, na maioria dos casos,<br />
salvo naqueles <strong>em</strong> que há a apresentação de uma inÍecção precoce, onde a<br />
antibioticoterapia deve ser mantida até que se tenha resposta clínica positiva<br />
ou se tenha o resultado de uma cultura de bactérias previamente solicitada.<br />
Tratamento Cirúrgico<br />
Inicialmente é realizada a tricotomia e assepsia do paciente, seguida<br />
pelos d<strong>em</strong>ais passos.<br />
a) Limpeza mecânico-ciúrgica (desbridamento ciúrgico)<br />
Um desbridamento adequado na apresentação inicial da fratura<br />
é uma das metas no tratamento das fraturas expostas, já que diversos<br />
estudos mostram que esse ato médico é o mais eficaz com influência<br />
positiva na evolução das fraturas expostas. Os objetivos do desbridamento<br />
cirúrgico são:<br />
. R<strong>em</strong>over tecidos desvitalizados.<br />
. Reduzir a contaminação bacteriana.<br />
o R<strong>em</strong>over corpos estranhos.<br />
. Criar uma ferida vascularizada.<br />
É importante l<strong>em</strong>brar que o desbridamento deve ser feito com urna<br />
análise criteriosa da viabilidade dos tecidos, já que a avaliação é difícil de ser<br />
realizada na fase aguda e a perÍnanência de tecidos desvitalizados consiste<br />
<strong>em</strong> um meio de cultura rico para bactérias, principalmente as anaeróbias.<br />
Então, <strong>em</strong> casos de viabilidade duvidosa, o tecido deve ser reavaliado
RrNcípros Dt oRTopÊDrA E rRAuMororocrA I 295<br />
dentro de 48-72hs. Se o grau de energia absorvida pelo osso no momento do<br />
acidente for elevado, pode haver cominuição óssea. Fragmentos ósseos que<br />
não apresent<strong>em</strong> suas inserções musculares são considerados desvitalizados e<br />
dev<strong>em</strong> ser retirados mesmo gerando gaps ósseos.<br />
b) Lavag<strong>em</strong> com soÍo fisiológico<br />
A lavag<strong>em</strong> com soro fisiológico é um componente chave no esforço de<br />
se prevenir uma infecção de uma fratura exposta, já que este procedirnento<br />
decresce a carga bacteriana que possa haver no ferimento e r<strong>em</strong>ove corpos<br />
estranhos. Não está claramente estabelecida a quantidade de solução salina<br />
estéril que é suficiente para a irrigação da ferida, mas aponta-se para a<br />
utilização de 3L para feridas do tipo I,6Lpara feridas do tipo II e 9L para<br />
feridas do tipo III.<br />
c) Fixação<br />
A fixação das fraturas expostas mostra um grande número de efeitos<br />
positivos que inclu<strong>em</strong> a proteção de partes moles de danos adicionais que<br />
pod<strong>em</strong> ser causados pelos fragmentos da fratura, maior facilidade <strong>em</strong> se cuidar<br />
dos ferimentos proporcionando uma cicatrização adequada, promoção de<br />
uma mobilização precoce e reabilitação do paciente e até possivelmente uma<br />
redução dos índices de infecção. Em pacientes politraumatizados, a fixação<br />
da fratura também reduz o risco de síndrome respiratória aguda e falência<br />
múltipla de órgãos, provavelmente por diminuir a resposta irúlamatória<br />
sistêmica.<br />
Um grande número de métodos de fixação pode ser utilizado na<br />
estabilização de fraturas expostas incluindo as Íixações internas e externas.<br />
A fixação a ser utilizada depende de uma série de variantes que inclu<strong>em</strong><br />
a localização da fratura e do ferimento, osso acometido e as condições<br />
fuiológicas do paciente.<br />
d) Cobertura e fechamento da Íerida<br />
Levando <strong>em</strong> conta que geralmente os organismos encontrados nos<br />
pacientes que apresentam infecção após o tratamento são nosocomiais, t<strong>em</strong><br />
sido uma tendência o fechamento precoce das feridas das fraturas expostas.<br />
AÌguns estudos apontam um melhor prognóstico nos pacientes que são<br />
zubmetidos ao fechamento precoce de até 7 dias enquanto outros indicam<br />
urn feclnmento de até 3 dias.
296 | rnlrunes txrosr,ts<br />
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