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AAXO I — 8 » O DEFENSOR DO POVO 80 de ontfnbro de 18® 8<br />
PELA POLITICA<br />
Eleições republicanas:<br />
— Candidatos apresenta<strong>do</strong>s até boje :<br />
Por Lisboa: Dr. Eduar<strong>do</strong> de Abreu;<br />
dr. José Jacintho Nunes; dr. José Joaquim<br />
Pereira Falcão; e dr. Philomeno da<br />
Camara Mello Cabral.<br />
Pelo Porto: José Joaquim Rodrigues<br />
de Freitas.<br />
Por Villa Nova de Gaya : Dr. Maximiliano<br />
d'Oliveira Lemos.<br />
Por Santo Thyrso: Dr. José Soares<br />
da Cunha e Costa.<br />
Por Yianna <strong>do</strong> Castello: Ricar<strong>do</strong><br />
Jayme da Costa Malheiro.<br />
Por Arcos de Val-de-Vez: Dr. José<br />
Pereira Rarreiros.<br />
Por Yilla Nova de Famalicão: Dr.<br />
Henrique Ferreira Macha<strong>do</strong>.<br />
Por Vizeu: Dr. Francisco Antonio<br />
da Silva Mendes.<br />
Por Torre de Moncorvo: Antonio Maria<br />
Quintão.<br />
Por Abrantes : Ramiro Guedes.<br />
Por Évora : Dr. Julio Martins.<br />
Por Beja: Manoel de Rrito Camacho.<br />
Por Faro: Dr. João José da Silva.<br />
Por Ponta Delgada: Joaquim Theophilo<br />
Rraga, Casimiro Franco e Augusto<br />
Cymbron Borges de Sousa.<br />
Por Olivaes: Antonio Car<strong>do</strong>so de<br />
Oliveira.<br />
Por S. Thiago de Cacem : Francisco<br />
Teixeira de Queiroz.<br />
Por Portalegre: Antonio José Lourinho;<br />
e Francisco Euzebio Lourenço Leão.<br />
Por Braga: João Augusto Taveira<br />
Catalão Pimentel.<br />
Por Barcellos: Dr. Antonio Martins<br />
de Sousa Lima.<br />
Por Cascaes: Eduar<strong>do</strong> Antonio da<br />
Costa.<br />
Por Torres Novas: Joaquim <strong>do</strong>s Santos<br />
Vassallo.<br />
Pela accumulação em to<strong>do</strong> o continente<br />
e ilhas: João Pinheiro Chagas.<br />
*<br />
Em Braga procedeu-se já também á<br />
organisação <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> republicano.<br />
Eis as suas commissões :<br />
a) Consultiva:<br />
— Membros effectivos:<br />
Dr. José Joaquim da Silva Pereira<br />
Caldas, professor <strong>do</strong> lyceu; dr. Eduar<strong>do</strong><br />
Paulino Torres e Almeida, medico; José<br />
Lothario, capitalista; Antonio de Araujo<br />
Costa, proprietário; Eduarde de Mattos,<br />
negociante; João José Ferreira da Costa,<br />
capitalista; José Fernandes Carneiro Braga,<br />
guarda-livros.<br />
— Substitutos:<br />
Secundino de Novaes Bastos, capitalista;<br />
José Joaquim d'OIiveira Guimarães,<br />
negociante; Francisco Boaventura da Luz<br />
Loureiro, industrial; Antonio Brandão<br />
Ama<strong>do</strong>, proprietário; Clemente Dias Pereira,<br />
negociante; Joaquim José Lopes<br />
<strong>do</strong>s Santos, negociante; Antonio Augusto<br />
Ferreira da Silva, capitalista.<br />
b) Executiva:<br />
— Memhros effectivos:<br />
Dr. Antonio Ulysses <strong>do</strong>s Santos Braga,<br />
medico; dr. Manoel Borges Grainha,<br />
professor <strong>do</strong> lyceu; dr Francisco de Magalhães,<br />
advoga<strong>do</strong> e professor.<br />
— Substitutos:<br />
José d'Araujo Motta Júnior, capitalista<br />
; Luiz Augusto Simões d'Almeida,<br />
negociante; Henrique Martins, proprietário.<br />
*<br />
Em Villa Nova de Famalicão foi também<br />
eleita uma commissão, de que é<br />
presidente o sr. dr. Henrique Ferreira<br />
Macha<strong>do</strong>, abasta<strong>do</strong> proprietário.<br />
*<br />
Alguns jornaes republicanos julgarnrn-se<br />
constituí<strong>do</strong>s na obrigação de declararem<br />
o sr. Magalhães Lima incapaz<br />
de trahir qualquer pessoa, e, muito menos,<br />
um correli gionario. Nós imaginavamos<br />
que se prestaria um mais alto serviço<br />
ao illustre republicano se não se<br />
admittisse nem discutisse sequer uma<br />
tal supposição.<br />
O caracter de s. ex. a está, com effeito,<br />
muito acima de quaesquer insinuações<br />
tão improváveis e tão impossíveis.<br />
Conhecemos o illustre jornalista. Não<br />
fazemos mais que expressar aquillo que<br />
sentimos dizen<strong>do</strong> d'elle estas breves palavras.<br />
*<br />
De novo a imprensa pede explicações<br />
•cerca da amoedação da prata. O Com-<br />
mercio <strong>do</strong> Porto publicou, ha dias, um<br />
notável artigo sobre o assumpto. O Correio<br />
da Noite fez também os seus reparos.<br />
E o Século, entre outros jornaes,<br />
appropriou as considerações <strong>do</strong>s collegas,<br />
extranhan<strong>do</strong> e censuran<strong>do</strong> o criminoso<br />
silencio <strong>do</strong> governo a tal respeito.<br />
Na verdade, o assumpto é grave e<br />
merece da imprensa uma larga campanha.<br />
Imagine-so que ha não menos de IS<br />
mezes se está cunhan<strong>do</strong> prata sem que<br />
pessoa alguma saiba qual é o limite ou<br />
quaes são as condições d'essa cunhagem.<br />
Sabe-se apenas, de tempos a tempos,<br />
que <strong>do</strong> estrangeiro chegam uns tantos<br />
milhares de rodellas de prata, para<br />
amoedar, e que da casa da moeda sahem<br />
para o Banco de Portugal, feitas moeda,<br />
uns outros tantos milhares. Mas nem o<br />
banco discrimina, nos seus balancetes<br />
semanaes, a quantidade de prata existente<br />
nas suas reservas, nem a circulação<br />
fiduciaria deixa de crescer pavorosamente,<br />
num movimento tal, que ha de produzir<br />
consequências terríveis quan<strong>do</strong> se<br />
chegar ao limite máximo da emissão, o<br />
que está para breve.<br />
Além d'estes perigos, succede que o<br />
governo concedeu secretamente o privilegio<br />
da cunhagem da prata a meia dúzia<br />
de indivíduos que, pelo visto, teem<br />
esse triste governo apertadinho na mão.<br />
E' o que faz justissimamente dizer<br />
ao Commereio <strong>do</strong> Porto:<br />
«Ora, tu<strong>do</strong> isto é muito grave para<br />
se poder tolerar sem indignação e sem<br />
protesto, e parece-nos que á imprensa<br />
cabe a obrigação de não levantar mão<br />
d'esta questão mysteriosa, que parece<br />
e se diz envolver uma grandíssima immoralidade,<br />
como a de deixar que nas<br />
circumstaucias afflictivas actuaes, que<br />
tantos sacrifícios impõem ao paiz, se entornem<br />
nas fauces iusaciaveis de alguns<br />
indivíduos esses lucros da amoedação<br />
da prata, que por nocivos ao bem geral<br />
nem reputamos opportuno que os explore<br />
o Esta<strong>do</strong>.»<br />
Muito nos agrada vêr que assim falia<br />
um jornal tão insuspeito e, no assumpto,<br />
tão auctorisa<strong>do</strong>.<br />
E desejaremos agora ouvir os louvarinheiros<br />
<strong>do</strong> governo acerca da vida nova<br />
que, no seu dizer, elle iniciou...<br />
*<br />
Num comício que se realisou em Setúbal<br />
resolveu-se ir to<strong>do</strong> o cidadão republicano<br />
á urna,.não só porque esse é o<br />
seu dever, mas porque, longe de se participar<br />
da corrupção monarchica, se lavra<br />
assim contra ella um protesto de<br />
valia.<br />
Não haverá candidato especial. Os<br />
republicanos votam em João Pinheiro<br />
Chagas, candidato para a acumulação.<br />
*<br />
O Provinciano, <strong>do</strong> Cartaxo, deu publicidade<br />
a um manifesto subscripto por<br />
162 nomes de proprietários, induslriaes,<br />
ecclesiasticos, commerciantes, ele, uo<br />
qual são condemna<strong>do</strong>s os velhos processos<br />
políticos e é pedi<strong>do</strong> que se não appoie<br />
qualquer candidato que os represente,<br />
*<br />
Está na procura<strong>do</strong>ria regia, para sobre<br />
elle ser da<strong>do</strong> parecer, o requerimento<br />
<strong>do</strong> sr. Peito de Carvalho pedin<strong>do</strong> a<br />
reintegração no logar de director das<br />
alfandegas.<br />
Este sr. Peito de Carvalho é, entre<br />
outras coisas, uma verdadeira carraça...<br />
— Mas tem motivos fortes para isso.<br />
O logar rende e rende muito.<br />
*<br />
A'cerca <strong>do</strong>s boatos a que El Imparcial,<br />
de Madrid, deu curso, respeitantes<br />
esses boatos a uma provável approximação<br />
entre a Hespanha e a Allemanha,<br />
escreve Le Sicle, e auctorisa<strong>do</strong> diário parisiense<br />
:<br />
«A linguagem <strong>do</strong> jornal hespanhol<br />
é demasiadamente conforme com os interesses<br />
e a situação da Hespanha para<br />
que possamos a priori suspeitar da<br />
sua sinceridade; mas é preciso reconhecer<br />
que tu<strong>do</strong> quanto se pareça a<br />
umaa pproximação hispano-allemã causa-nos<br />
inquietação, inquietação injusti-<br />
. ficada, é certo, mas de que não podemos<br />
preservar-nos.»<br />
Vae-se perceben<strong>do</strong> o fim da viagem<br />
de D. Carlos a Madrid: a Allemanha<br />
pela prôa.<br />
Mas, cuida<strong>do</strong>! Foi uma asneira como<br />
a d'esta viagem que provocou o ultimatum<br />
de 11 de janeiro de 1890.<br />
E, d'essa vez, a monarchia...<br />
Sim, enlendemo'-nos.<br />
Strymon.<br />
COIMBRA POR DENTRO<br />
Candidato governamental<br />
É o sr. Ayres de Campos. Ninguém,<br />
que conhecesse s. ex. a , queria acreditar<br />
em tal.<br />
Mas a evidencia impõe-se. E o que<br />
apparece com to<strong>do</strong> o feitio de verdade<br />
não pôde tomar se á conta de invenção.<br />
O sr. Ayres de Campos vae, pois,<br />
ser eleito como deputa<strong>do</strong> ás ordens <strong>do</strong><br />
sr. José Dias Ferreira.<br />
Vae collocar-se ao la<strong>do</strong>, ou antes,<br />
em ohediencia a um homem que, ten<strong>do</strong><br />
conceito para fazer muito ao paiz e fama<br />
de liberal irreduclivel, se exhibiu á crua<br />
luz <strong>do</strong>s seus actos como um reaccionário<br />
tão máo ou peior, na consciência, que<br />
os seus predecessores.<br />
O sr. Ayres de Campo*, que tem<br />
uma bella fortuna e um bello nome, vae<br />
tornar-se dependente d'um qualquer crea<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> paço, vae cobrir-se com o panno<br />
negro da chancella governamental.<br />
Foi a ambição que o arrastou? Creio<br />
que sim. E lamento apenas que no parti<strong>do</strong><br />
republicano houvesse homens que<br />
por momentos acreditassem na lealdade<br />
partidaria <strong>do</strong> sr. Campos, quan<strong>do</strong> elle se<br />
revelou sempre como um ambicioso impaciente<br />
e cheio d'orgulho.<br />
Não lamento, porem, a perda <strong>do</strong> sr.<br />
Ayres de Campos. O parti<strong>do</strong> republicano<br />
não ficaria mais rico nem mais pobre<br />
por adquirir a sua adhesão, visto como<br />
s. ex. a continuaria sem duvida a guardar<br />
para si e para os pobres as suas riquezas.<br />
Também não ficaria mais forte, porque<br />
o candidato governamental, se não<br />
tem exhibi<strong>do</strong>, até hoje, imnioralídade<br />
alguma, tem-se todavia mostra<strong>do</strong> a toda<br />
a gente como um tibio politico. Tíbio<br />
mesmo nesta reviravolta tão rapida nas<br />
suas ideias politicas. Tibio ainda na fraqueza<br />
com que as ordens <strong>do</strong> sr. José<br />
Dias hão de vencer d'um só assalto os<br />
clamores honestos da sua consciência de<br />
proprietário habitua<strong>do</strong> a querer só o que<br />
é seu, e a repartil-o ainda pelos pobres.<br />
Façamos, pois, o nosso acto de contricçâo.<br />
O <strong>Defensor</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong>, imprudentemente<br />
talvez, ou fazen<strong>do</strong>, quem sabe?,<br />
um hábil jogo politico, tem feito sobresahir<br />
a individualidade <strong>do</strong> sr. Ayres da<br />
Campos como um homem digno, a to<strong>do</strong>s<br />
os respeitos, e como um republicano dedica<strong>do</strong>,<br />
em lo<strong>do</strong>s os campos.<br />
Hoje quan<strong>do</strong> se approxima tanto o<br />
acto eleitoral, julga-se constituí<strong>do</strong> no dever<br />
de fazer as seguintes restricções:<br />
Honesto, sim, esmoler, dedica<strong>do</strong>, generoso,<br />
bom—é o sr. Ayres de Campos.<br />
S. ex. a eslava talha<strong>do</strong> para a vida particular<br />
e nella se exhibiu como um exemplar<br />
perfeito, como um modelo digno de<br />
ser imita<strong>do</strong>. No remanso da família, nas<br />
suas relações coin os amigos, no contacto<br />
social com os seus conterrâneos, s. ex. a<br />
é lambem, sem duvida, um caracter sem<br />
macula, apreciavel e aprecia<strong>do</strong>.<br />
Mas na vida politica, para que s. ex. a ,<br />
ven<strong>do</strong>-se corroí<strong>do</strong> pela serpente da ambição,<br />
nunca devera ter entra<strong>do</strong>, na vida<br />
politica, digo, o sr. Ayres de Campos<br />
tem da<strong>do</strong> as mais tristes provas <strong>do</strong> que<br />
é e <strong>do</strong> que vale. Nenhum parti<strong>do</strong> se<br />
pode orgulhar de o possuir porque é<br />
uma ave de arribação que só poisa onde<br />
o desejo de subir depressa lhe ostenta<br />
um degrau. Nenhum homem, que faça,<br />
como qualquer digno republicano, a politica<br />
patriótica, pode envaidecer-se por<br />
o chamar correligionário, visto que s ex. a ,<br />
independente pelo dinheiro, considera<strong>do</strong><br />
pelas suas acções e fortaleci<strong>do</strong> por uma<br />
larga fama benevolente, não duvi<strong>do</strong>u<br />
beijar a mãer ao sr. Dias Ferreira, como<br />
um vassalo faz a seu amo, nem duvi<strong>do</strong>u<br />
apertar a dextra ao Reis Torgal ou ao<br />
Mariano Pina, ao Eniygdio Navarro ou<br />
ao Sergio de Caslro, chaman<strong>do</strong> a qualquer<br />
d'elles... estima<strong>do</strong> correligionário.<br />
*<br />
Do que resulta, deve já concluir-se<br />
que nós, como republicanos e como homens<br />
honestos mesmo na politica, guerreamos<br />
com o maior calor a eleição <strong>do</strong><br />
sr. Ayres de Campos, e recommendamos<br />
aos homens dignos da cidade que, continuan<strong>do</strong><br />
a respeitar o nome de s. ex. a<br />
como particular, o lancem ao desprezo<br />
mereci<strong>do</strong> como politico, votan<strong>do</strong> unicamente<br />
no candidato republicano para a<br />
accumulação.<br />
Zyu<br />
Pelos venci<strong>do</strong>s<br />
O cumprimento d'um dever é a maior<br />
satisfação da consciência individual.<br />
Ora ninguém dirá que soccorrer os<br />
nossos concidadãos emigra<strong>do</strong>s não é o<br />
cumprimento d'um dever, porque na ordem<br />
<strong>do</strong>s deveres politicos este occupa o<br />
primeiro logar, na actual conjunctura.<br />
Urge que to<strong>do</strong> o republicano sem<br />
differenciação de nuances abra o seu coração<br />
e a sua bolsa para auxiliar aquelles<br />
malventurosos amigos que longe da<br />
patria e da família se vêm desprotegi<strong>do</strong>s.<br />
Vamos a isto, meus amigos ! Cumpramos<br />
este sacratíssimo dever. Deixemo-nos<br />
de lyrismos extenua<strong>do</strong>s e de vi-<<br />
sualidades piegas. Sigamos a rudez crua<br />
<strong>do</strong>s acontecimentos e depuremos na analyse<br />
fria <strong>do</strong> nosso critério a sua significação<br />
positiva.<br />
O Diário Illustra<strong>do</strong> constatava lia<br />
dias que os emigra<strong>do</strong>s republicanos portuguezes<br />
em Bordéus se alimentavam<br />
com bolota pesquisada nos barris <strong>do</strong> lixo!<br />
Isto é infame, vergonhosamente infame!<br />
Tolerar isto, sem corar de vergonha,<br />
está abaixo de toda a noção de<br />
humanidade, inferiorisa o nosso pudôr<br />
de republicanos, dia a dia affirman<strong>do</strong><br />
pela imprensa a nossa solidariedade com<br />
aquella gente.<br />
É a solidariedade uma das virtudes<br />
mais democráticas; mas não é a solidariedade<br />
exclusivamente platónica declarada<br />
apenas pelos bicos da penna : é a<br />
solidariedade effecliva, pratica, traduzida<br />
no mais franco auxilio moral e material.<br />
Amigos! Soccorramos os emigra<strong>do</strong>s!<br />
Subscripção de «OO réis mensaes<br />
destinada a soccorrer<br />
com egual quantia os nossos<br />
correligionários emigra<strong>do</strong>s<br />
Transporte. 60300<br />
Evaristo Cutileiro (mez de setembro)<br />
200<br />
Victor José de Deus (mez d'outubro)<br />
200<br />
F. A. Madeira Júnior (idem) .. 200<br />
Somma, réis 60900<br />
Não poden<strong>do</strong> a administração <strong>do</strong> nosso<br />
jornal encarregar-se de receber irs<br />
quotas e de as enviar, fica constituída<br />
uma commissão destinada a esse tira,<br />
composta <strong>do</strong>s srs. Affonso Costa, presidente;<br />
Fernan<strong>do</strong> de Sousa, secretario;<br />
e Teixeira de Brito, thesoureiro,—a qual<br />
se desempenhará o melhor que poder<br />
d'este imperioso dever.<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
de fóra de Coimbra que queiram contribuir<br />
para esta humanitaria acção, poderão<br />
remeller os seus nomes e as suas<br />
quotas a qualquer <strong>do</strong>s membros da commissão<br />
acima referida.<br />
Isto não deve ser obra d'uraa cidade<br />
ou d'uma província: deve ser obra <strong>do</strong><br />
paiz inteiro.<br />
LBTTRAS<br />
Uma morte heróica<br />
Francioulle era um adrairavel farcisla<br />
e quasi um <strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Príncipe.<br />
Mas para as pessoas cómicas as coisas<br />
serias teem fataes attrações e ainda<br />
que pareça exquisito apoderarem-se despoticamente<br />
<strong>do</strong> cerebro d'um histrião<br />
as ideias de patria e de liberdade, um<br />
dia Fraucioulle entrou numa conspiração<br />
tramada por alguns gentis-homens descontentes.<br />
Existem por toda a parte homens de<br />
bem para denunciar ao poder estes indivíduos<br />
d'humor irrequieto que querem<br />
depor os príncipes e operar, sem os consultar,<br />
o desmembramento d'uma sociedade.<br />
Os senhores em questão, sem exceptuar<br />
Francioulle, foram feitos prisioneiros<br />
e condemna<strong>do</strong>s a uma morte irremediável.<br />
Eu acreditaria facilmente que o Príncipe<br />
se agastou ao encontrar entre os<br />
rebeldes o seu comediante favorito. O<br />
Príncipe não era nem melhor nem peior<br />
que outro qualquer, mas uma excessiva<br />
sensibilidade tornava-o em muitos casos<br />
mais cruel e mais déspota que to<strong>do</strong>s os<br />
príncipes. Amorosamente apaixona<strong>do</strong> das<br />
bellas artes, excellente conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong>utras<br />
coisas, era verdadeiramente insaciável<br />
de voluptuosidades. Assaz indifferente<br />
aos homens e á moral, verdadeiro<br />
artista, não conhecia inimigo perigoso<br />
senão o Aborrecimento e os esforços exquisitos<br />
que elle fazia para fugir a este<br />
tyranno <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ou para o vencer,<br />
ter-lhe-hiam certamente attrahi<strong>do</strong> da parle<br />
d'um historia<strong>do</strong>r severo o epitheto de<br />
«monstro», se tivesse permitti<strong>do</strong> nos'seus<br />
<strong>do</strong>mínios que alguém escrevesse sobre<br />
assumpto que não tendesse unicamente<br />
ao prazer ou ao espanto, que é unia das<br />
formas mais delicadas <strong>do</strong> prazer. A grande<br />
desgraça d'este príncipe foi não ter<br />
um theatro suficientemente vasto para<br />
o seu génio. Ua jovens Neros que definham<br />
em limites muito estreitos e de<br />
que os séculos a vir ignoram sempre o<br />
nome e a boa vontade. A imprevidente<br />
providencia tinha da<strong>do</strong> a este faculdades<br />
maiores que os seus Esta<strong>do</strong>s.<br />
De repente correu que o soberano<br />
queria per<strong>do</strong>ar a to<strong>do</strong>s os conjura<strong>do</strong>s;<br />
e a origem d'este boato foi o aiuiuncio<br />
d'um grande espectáculo onde Francioulle<br />
devia desempenhar um <strong>do</strong>s seus melhores<br />
papeis e ao qual assistiriam mesmo,<br />
dizia-se, os gentis homens condemna<strong>do</strong>s;<br />
signal evidente, ajuntavam os espíritos<br />
superficiaes, das lendencias generosas<br />
<strong>do</strong> Príncipe offendi<strong>do</strong>.<br />
Da parte d um homem tão naturalmente<br />
e voluntariamente excêntrico tu<strong>do</strong><br />
era possível, mesmo a virtude, mesmo a<br />
clemencia, sobretu<strong>do</strong> se elle tivesse podi<strong>do</strong><br />
esperar e encontrar nella prazeres<br />
inéditos.<br />
Mas para aquelles que como eu tenham<br />
podi<strong>do</strong> penetrar mais nas profundidades<br />
d'esia alma curiosa e <strong>do</strong>ente,<br />
era infinitamente mais provável que o<br />
Príncipe quizesse avaliar <strong>do</strong>s talentos<br />
scenicos d'um homem condemna<strong>do</strong> á<br />
morte. Queria aproveitar a occasião para<br />
fazer uma experiencia physiologica de<br />
interesse capital e verificar uté que ponto<br />
as faculdades habiluaes d um artista podiam<br />
ser alteradas ou modificadas pela<br />
situação extraordinaria era que se encontrasse;<br />
existiria além d'isso na sua<br />
alma uma intenção mais ou menos occulta<br />
de clemencia? E' um ponto que nunca<br />
pude esclarecer.<br />
Eralim, chega<strong>do</strong> o grande dia, esta<br />
pequena côrte des<strong>do</strong>brou todas as suas<br />
pompas e seria difficil conceber, a não<br />
ser que se tivesse visto, tu<strong>do</strong> o que a<br />
classe previlegiada d'um pequeno esta<strong>do</strong><br />
pode mostrar de esplen<strong>do</strong>res para uma<br />
verdadeira solemnidade. Isto era duplamente<br />
verdadeiro;. primeiro pela magia<br />
<strong>do</strong> luxo exhibi<strong>do</strong>,.segun<strong>do</strong> pelo interesse<br />
moral e myslerioso que lhe andava liga<strong>do</strong>.<br />
O senhor Francioulle primava sobretu<strong>do</strong><br />
nos papeis mu<strong>do</strong>s ou pouco carrega<strong>do</strong>s<br />
de palavras que são muitas vezes<br />
os principaes nestes dramas feericos,<br />
cujo objecto é representar symbolicamente<br />
o mvslerio da vida. Entrou em<br />
scena negligentemente e com um <strong>do</strong>naire<br />
perfeito, o que contribuiu a fortificar<br />
no nobre publico a ideia de <strong>do</strong>çura<br />
e de perdão.<br />
Quan<strong>do</strong> se diz d'um comediante:<br />
«eis um bom comediante» serve se a<br />
gente d'uma formula implican<strong>do</strong> que sob<br />
o personagem se deixa ainda divisar o<br />
comediante, quer dizer a arte, o esforço,<br />
a vontade. Ora, se um comediante chegasse<br />
a ser relativamente o personagem<br />
que elle é encarrega<strong>do</strong> de exprimir,<br />
as melhores estatuas da antiguidade<br />
miraculosamente animadas, vivas, andan<strong>do</strong>,<br />
voan<strong>do</strong>, seriara relativamente á<br />
ideia geral e confusa da belleza um caso<br />
singular e na verdade imprevisto. Francioulle<br />
foi naquella noite uma tão perfeita<br />
idealisaçâo que era impossível haver alguém<br />
que a não suppozesse viva, real e<br />
possível.<br />
Este comico ia, vinha, ria, chorava,<br />
convulsionava-se, com uma indestructivel<br />
aureola em volta da cabeça, aureola invisível<br />
para lo<strong>do</strong>s, mas visivel para mim<br />
e onde se misturavam, numa extranha<br />
amalgama, os raios da arte e a gloria <strong>do</strong><br />
martyr. Francioulle introduzia não sei<br />
porque graça especial o divino e o sobrenatural,<br />
inclusivé nas mais extravagantes<br />
e cómicas scenas.<br />
A rainha penna estremece e lagrimas<br />
d'uma emoção sempre presente sobem-me<br />
aos olhos emquanto procuro descrever<br />
esta noite inolvidável. Francioulle provava-rae<br />
d'uma maneira irrefutável e peremptória<br />
que a embriaguez da arte é<br />
mais apta que qualquer outra para esquecer<br />
e desfazer os terrores d'uma morte<br />
violenta; que o génio pode desempenhar<br />
a comedia á borda <strong>do</strong> tumulo com uma<br />
alegria que o impede de ver esse tumulo,<br />
perdi<strong>do</strong> como está num paraizo que exclue<br />
toda a ideia de destruição e de tumula.