Andy Warhol - Fonoteca Municipal de Lisboa - Câmara Municipal de ...
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Discos<br />
28 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009<br />
Pop<br />
Para<br />
compreen<strong>de</strong>r<br />
o<br />
presente<br />
Nova editora, seis novos EPs.<br />
DJ Ri<strong>de</strong>, Tiguana Bibles ou<br />
Bombazines, grátis na net,<br />
disponível em loja.<br />
Mário Lopes<br />
Tiago Gomes &<br />
Tó Trips<br />
Vi-os Desaparecer<br />
Na Noite<br />
mmmnn<br />
Tiguana Bibles<br />
Child Of The<br />
Moon<br />
mmm n<br />
The Bombazines<br />
The Bombazines<br />
mmm n<br />
Todos Optimus Discos; distri.<br />
Compact Records<br />
Só pela estratégia fundadora, a<br />
Optimus Discos já seria merecedora<br />
<strong>de</strong> elogios. Procurando integrar-se<br />
nos hábitos <strong>de</strong> consumo actuais, em<br />
vez <strong>de</strong> lutar por um passado que não<br />
voltará, a nova plataforma editorial,<br />
com direcção artística do radialista<br />
Henrique Amaro, disponibiliza<br />
através do seu site o download<br />
gratuito das suas edições, sendo que<br />
estas, paralelamente, conhecem<br />
edição física disponível em loja.<br />
Posto isto, o impacto torna-se<br />
sobremaneira agradável quando a<br />
primeira colheita <strong>de</strong> EPs se mostra<br />
certeira.<br />
Tiago Gomes & Tó Trips<br />
concretizam em estúdio as releituras<br />
<strong>de</strong> “Pela Estrada Fora”, <strong>de</strong> Jack<br />
Kerouac, que levaram a palco<br />
durante o último ano. Ambientes <strong>de</strong><br />
filme <strong>de</strong> Lynch, pela guitarra<br />
fantasmagórica <strong>de</strong> Trips, jazz <strong>de</strong><br />
madrugadas em bar fumarento, pelo<br />
contrabaixo e pelo sopro da<br />
trompete, e Kerouac, as mulheres <strong>de</strong><br />
Kerouac e Dean Moriarty, sempre<br />
Dean Moriarty, representados na voz<br />
<strong>de</strong> Tiago Gomes. Quando todo o<br />
tema dança com as palavras, como<br />
na tensão urbana <strong>de</strong> “Banana king”,<br />
a aventura sobrevive incólume à<br />
passagem para o estúdio - contudo,<br />
sobressai a sensação que, neste<br />
momento, o palco será ainda o<br />
espaço i<strong>de</strong>al para dar vida às<br />
<strong>de</strong>ambulações do mais famoso dos<br />
beatnick.<br />
The Bombazines, por sua vez, são<br />
uma surpresa que se confirma. Neste<br />
primeiro EP, a banda portuense<br />
mostra-se exímia na apropriação da<br />
soul e do funk mais ácidos. Os<br />
teclados reverberam por todo o<br />
lado, o baixo real e as baterias<br />
produzidas unem-se no mesmo<br />
groove para nosso prazer e Marta<br />
Ren mostra-se “soul woman” <strong>de</strong><br />
corpo inteiro. Pelo bom gosto e pelo<br />
grão sonoro vintage, lembramo-nos<br />
do trabalho <strong>de</strong> Will Holland sobre o<br />
funk da década <strong>de</strong> 1960 e 1970, mas<br />
os Bombazines querem mais. Há por<br />
aqui êxtase da chamada “club<br />
culture” - quando o vocalista Gon é o<br />
protagonista -, psica<strong>de</strong>lismo<br />
Madchester e sugestões hip hop.<br />
“The will”, no seu movimento<br />
dopado (cenário que nos recorda<br />
esse monstro chamado trip hop), é<br />
um tiro ao lado, extremamente<br />
datado. Quando mais<br />
clássicos,<br />
porém,<br />
Internet<br />
Estamos online. Entre em<br />
www.ipsilon.pt. É o mesmo<br />
suplemento, é outro <strong>de</strong>safi o.<br />
Venha construir este site<br />
connosco.<br />
os Bombazines são imparáveis. Em<br />
caricatura, exultamos: “Funka<strong>de</strong>lic<br />
da Invicta!”, “Blaxploitation na<br />
Ribeira!” - e salivamos por experimentar<br />
“This song is for tomorrow”<br />
ou “Now’s the question” ao vivo.<br />
Nos Tiguana Bibles, que têm um<br />
universo plenamente <strong>de</strong>finido, não<br />
há tiros ao lado. A nova banda <strong>de</strong><br />
Victor Torpedo (Parkinsons, Blood<br />
Safari) e Kaló (Bunnyranch) tem a<br />
magnífica voz <strong>de</strong> Tracy Vandal, toda<br />
ela classe e mistério, familiar <strong>de</strong> Holy<br />
Gollightly, a conduzir canções que<br />
são magnífico teatro rock’n’roll com<br />
textura <strong>de</strong> “standards” - uma <strong>de</strong>las, a<br />
“Lonesome town” <strong>de</strong> Ricky Nelson,<br />
é-o realmente. Sem centro <strong>de</strong>finido,<br />
com o órgão a induzir um ambiente<br />
onírico, o EP dos Tiguana Bibles<br />
vagueia entre a tensão <strong>de</strong> amores<br />
excessivos e a libertação dançante,<br />
toda ela sedução, do jogo entre<br />
inocência e carnalida<strong>de</strong> que o<br />
rock’n’roll dos 50s representava <strong>de</strong><br />
forma tão pungente. Perante isto, um<br />
álbum inteiro não po<strong>de</strong> (não po<strong>de</strong>,<br />
acentuemos) <strong>de</strong>morar muito a<br />
chegar.<br />
DJ Ri<strong>de</strong><br />
Beat Journey<br />
mmmmn<br />
The Pragmatic<br />
Circles<br />
mmmnn<br />
Madame Godard<br />
Aurora<br />
mmmnn<br />
Todos Optimus Discus<br />
Há dois anos, DJ Ri<strong>de</strong> propôs uma<br />
“Turntable Food”, em forma <strong>de</strong><br />
álbum, partindo <strong>de</strong> alicerces hiphop<br />
e abraçando o jazz, a soul ou o<br />
Nos Tiguana Blues não há tiros ao lado<br />
Quem não ouve DJ Ri<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2007 será surpreendido<br />
funk. Agora propõe uma “Beat<br />
Jouney”, tendo o hip-hop como<br />
matriz fundadora, mas alargando<br />
ainda mais os seus horizontes e, por<br />
consequência, da música feita em<br />
Portugal.<br />
Quem não toma contacto com a<br />
sua música <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2007 será<br />
surpreendido, tal a maturida<strong>de</strong><br />
evi<strong>de</strong>nciada ao longo <strong>de</strong> oito temas.<br />
A forma como opera tem ainda a ver<br />
com a cultura hip-hop, mas o<br />
resultado final está muito distante<br />
<strong>de</strong>ssa lógica. Cada um dos temas<br />
mostra <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> receber motivos do<br />
dubstep, drum & bass ou da<br />
electrónica mais abstracta sem que o<br />
resultado final evi<strong>de</strong>ncie quaisquer<br />
sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>spistagem.<br />
Pelo contrário, apesar da<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulos e <strong>de</strong><br />
caminhos cruzados, cada um dos<br />
temas é um corpo sonoro uno, na<br />
linha <strong>de</strong> alguns dos projectos<br />
internacionais mais progressistas,<br />
dos Flying Lotus aos Sa-Ra.<br />
Sediados em Saint Louis, EUA,<br />
mas com dois portugueses na sua<br />
formação, o quarteto The Pragmatic<br />
é outra boa surpresa. No seu caso, a<br />
acção <strong>de</strong>senrola-se em volta <strong>de</strong><br />
vozes, sintetizadores analógicos e<br />
programações, que manuseiam com<br />
gran<strong>de</strong> à vonta<strong>de</strong> nas canções pop<br />
electrónicas. Os seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
mais remotos serão grupos dos anos<br />
80 como os New Or<strong>de</strong>r, mas na<br />
actualida<strong>de</strong> não estão sós, situandose<br />
algures entre a pop electrónica<br />
sonhadora dos americanos Postal<br />
Service ou a pop electrónica<br />
dançável dos australianos Cut Copy.<br />
Como os Pragmatic, também os<br />
Madame Godard apostam, embora<br />
com um envolvimento muito<br />
diferente, num som soalheiro, lúdico<br />
e jovial. São o tipo <strong>de</strong> grupo que não<br />
tem nenhuma revolução sónica para<br />
oferecer, concentrando-se antes na<br />
feitura <strong>de</strong> um paraíso próprio. E o<br />
resultado é positivo. Os seus<br />
movimentos remetem para a<br />
enorme tradição pop oci<strong>de</strong>ntal, dos<br />
anos 60 a hoje, mas adicionam-lhe<br />
calor latino, sugestões <strong>de</strong> samba,<br />
um toque <strong>de</strong> “canção ligeira<br />
francesa”, vestígios <strong>de</strong> arranjos<br />
soul e remissões para filmes<br />
italianos e franceses <strong>de</strong> antigamente.<br />
O grupo é <strong>de</strong> Viana do Castelo, do<br />
norte frio <strong>de</strong> Portugal, o que neste