Relação entre esporte, saúde, doping e qualidade de vida.

EIXO TEMÁTICO: ESPORTE
Tema: O corpo no esporte
Tópico 4 B: Relação entre esporte, saúde, doping e qualidade de vida.
Habilidades: Conhecer os efeitos do doping no organismo e seus malefícios para a saúde.
O uso de drogas ilícitas e prejudiciais à saúde para potencializar os efeitos do treinamento esportivo é denominado
doping. Mais do que a exceção ou um problema externo ao esporte, o doping é hoje parte não só da engrenagem
esportiva de alto rendimento, mas também de programas de desenvolvimento da estética corporal em muitas
academias de ginástica.
O termo anabolizante significa substância que faz anabolismo, isto é, crescimento. A testosterona (hormônio
masculino), o hormônio de crescimento e a insulina são os anabolizantes considerados mais potentes.
A maioria dos atletas profissionais e amadores que utilizam drogas ilícitas ou não tem conhecimento dos efeitos
colaterais que essas substâncias provocam no organismo ou colocam as conquistas estéticas, as vitórias, as
medalhas e os prêmios em dinheiro acima de qualquer outro valor como a saúde e a ética. Preferem se arriscar e
adoecer a correr o risco de não vencer uma competição esportiva ou um desafio. Não há como negar o estreito
vínculo entre o doping, o sistema econômico esportivo e o conceito de corpo ideal.
Além da questão ética, os principais riscos do doping, são os efeitos colaterais, entre os quais podemos citar
problemas na produção de hormônios, lesões no fígado, hipertensão arterial, virilização nas mulheres, doenças na
pele e outros que podem inclusive levar à morte, como em alguns casos recentes no Brasil.
Segundo Kunz (1984), praticar de forma ética o esporte de alto rendimento, sem comprometer seriamente os
resultados, os rendimentos já alcançados, é impossível, e esse comprometimento não interessa ao mercado
esportivo, pois desvalorizaria a mercadoria, significando sensíveis perdas ao sistema econômico que o fomenta.
Simson e Jennings (1992), em seu livro “Os senhores dos anéis: poder, dinheiro e drogas nas olimpíadas modernas”,
já denunciavam:
“A glória e os dólares são atraentes demais para os dirigentes bem como para os atletas. Quando um esporte
amador começa a render muito dinheiro, graças à televisão e aos patrocinadores, os atletas não são os únicos
beneficiados. As federações ganham prestígio e recursos. Mas tudo pode se perder, caso o público descubra que
seus heróis vivem a poder de drogas ilícitas. Este temor cria uma cultura da cegueira. Os dirigentes esportivos que
deveriam erradicar o doping olham para o outro lado. Pior ainda, começam a proteger suas estrelas, impedir que
sejam desmascaradas”.
Carmen Lúcia Soares (2001) refletindo sobre o corpo e a busca desenfreada por um padrão de beleza “imposto”
pelos meios de comunicação afirma que:
“há corpos que se exibem demonstrando proezas nas múltiplas telas que encenam a guerra moderna - os atletas -
cujos corpos traduzem, pela sua performance, o último método de treinamento, o último composto alimentar, a última
droga (aquela que é invisível aos testes). Corpos que quanto mais se aproximam do humano [e quanto menos
ingerem drogas ilícitas], menos glória oferecem às logomarcas substitutas hoje das nações."
O que ensinar sobre o doping, nas aulas de Educação Física? É preciso que as discussões não se restrinjam à
dimensão fisiológica do doping. É importante que o aluno reflita sobre como, na sociedade capitalista, o lucro, a
beleza padronizada e a competitividade influenciam e fazem com que o doping seja hoje elemento essencial na
engrenagem esportiva. Entender o processo de “legitimação” do doping e de sua divulgação social não só no esporte
de alto rendimento, mas também no esporte de lazer, é importante para a conscientização do jovem sobre essa
questão.
Na perspectiva da promoção da saúde e da qualidade de vida, é também relevante o conhecimento básico sobre os
efeitos colaterais dos diferentes tipos de doping sobre o corpo. Nesse sentido, é importante problematizar o chavão
“o esporte afasta o jovem das drogas”, uma vez que há vários casos no esporte de alto nível e no esporte de lazer
que mostram que o próprio esporte, quando supervaloriza o resultado ou o padrão estético, pode levar o jovem às
drogas.
Abordar a questão do consumo de anabolizantes dentro e fora das academias voltado para a aceleração da
hipertrofia muscular é de extrema importância no ensino médio. Discutir casos recentes de morte pelo consumo de

anabolizantes pode ajudar a comprovar os riscos de seu consumo. Refletir sobre o sentido do consumo de
anabolizantes, sobre os seus efeitos colaterais e sobre os motivos que levam o jovem a consumi-lo pode contribuir
não só para uma conscientização maior dos malefícios que essas drogas causam ao organismo, como também para
compreender o porquê da submissão do jovem a um modelo de corpo imposto pelos meios de comunicação e pela
moda. No site da Associação de estudos e Combate ao Doping (http://www.antidoping.com.br/livro/conceito.shtml)
são listados mais de 50 efeitos colaterais provocados pelo consumo de esteróides anabolizantes.
Mas, como ensinar esse tópico? A prática do atletismo, por exemplo, e a comparação dos resultados obtidos pelos
alunos nas provas (saltos, arremesso, lançamentos, corridas) com os recordes mundiais podem ser o ponto de
partida para a reflexão sobre a quase impossibilidade de se atingirem recordes atualmente por meios lícitos.
Há diversos artigos jornalísticos de fácil compreensão para o aluno do ensino médio. A leitura de artigos de jornal que
relatam casos recentes, suas origens e suas conseqüências, pode ajudar na contextualização do problema.
Reportagens sobre as últimas olimpíadas de Atenas trazem inúmeras denúncias de doping. A adaptação de artigos
ou trechos de livros científicos sobre o assunto deve complementar o estudo, ancorando os pontos de vista em
conhecimentos científicos já consolidados sobre o doping. Há ainda a possibilidade de pesquisar vídeos ou sites da
internet que abordem o problema.
Entrevistas com especialistas no assunto, sejam professores de Educação Física ou médicos, também podem ser
interessantes por colocarem o aluno em contato direto com aqueles que convivem com atletas ou pessoas comuns
que os procuram para se dopar ou para se recuperar do uso do doping.
A avaliação do conhecimento sobre o doping esportivo poderá ser desenvolvida por meio de análise de relatórios de
entrevistas, trabalhos de campo realizados sobre o assunto, provas escritas, bem como resumos de artigos de livros
ou jornais lidos durante as aulas.
Para saber mais:
KUNZ, Elenor (org). Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.
SIMSON, Vyv; JENNINGS, Andrew. Os senhores dos anéis: poder dinheiro e drogas nas olimpíadas modernas. São
Paulo: Best Seller, 1992.
SOARES, Carmem Lúcia. O corpo nosso de cada dia: para onde ele caminha. Motrivivência, ano XII, n. 16, março,
2001 p. 96-99.
Site:
http://www.antidoping.com.br/livro/conceito.shtml
Orientação Pedagógica: Relação entre esporte, saúde, doping e qualidade...
Currículo Básico Comum - Educação Física Ensino Médio
Autor(a): Guilherme Carvalho Franco da Silveira
Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG/2005