QUE CORPO É ESTE QUE DANÇA A IMAGEM DO ... - Revista Alegrar
QUE CORPO É ESTE QUE DANÇA A IMAGEM DO ... - Revista Alegrar
QUE CORPO É ESTE QUE DANÇA A IMAGEM DO ... - Revista Alegrar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
conseguintemente, suas relações intrínsecas de corpo e de subjetividade, por uma ontologia<br />
em detrimento de narrativas genealógicas? À vista disso, como não fazer referência a um<br />
sujeito não essencializado e não estabilizado em seu centro, pela reivindicação de uma<br />
primazia do ser? A dança desse sujeito pode ceder a sua imagem ao pensamento, tal como o<br />
compreendia Nietzsche?<br />
O PERCURSO DE BADIOU A RESPEITO DA <strong>DANÇA</strong> E SEUS ASPECTOS<br />
IRRECONCILIÁVEIS<br />
Badiou traça um percurso que reúne uma totalidade de aspectos que caracterizariam a<br />
essência da dança, justificando-a, assim, como imagem para o pensamento, segundo a<br />
compreensão nietzscheana. “Na realidade, o que fundamenta que a dança metaforize o<br />
pensamento é a convicção de Nietzsche de que o pensamento é uma intensificação”<br />
(BADIOU, 2002 p. 81). Porém, uma ontologia da dança ou um privilégio de quaisquer<br />
propriedades que se queiram designativas e doadoras de um ser são irreconciliáveis com o<br />
horizonte por meio do qual Nietzsche afirma o pensamento. Pois, adversamente a isso,<br />
Nietzsche inaugura:<br />
(...) uma perspectiva antiepistemológica ou pós-epistemológica; um anti-essencialismo; um<br />
anti-realismo em termos de significado e de referência; um antifundacionalismo; uma suspeita<br />
relativamente a argumentos e pontos de vista transcendentais; a rejeição de uma descrição do<br />
conhecimento como uma representação exata da “realidade”; a rejeição de uma concepção de<br />
verdade que a julga pelo critério de uma suposta correspondência com a “realidade”; a rejeição<br />
de descrições canônicas e de vocabulários finais; e, finalmente, uma suspeita relativamente às<br />
metanarrativas (PETERS, 2000, p. 51).<br />
Nesse sentido, toda petição ou todo apelo à universalidade e à totalidade não pode ser<br />
assumido sem que se cometa alguma violência, “[...] a qual, ao afirmar certas “verdades”, a<br />
partir da perspectiva de um determinado discurso, o faz apenas por meio do silenciamento ou<br />
da exclusão das proposições de um outro discurso” (LYOTARD, 1984 apud PETERS, 2000,<br />
p. 53). Com isso, um entrelaçamento entre a dança e o pensamento, de acordo com o que<br />
afirma Badiou, apenas se sustentaria não através de preceitos anteriores ou independentes do<br />
próprio acontecer dançante (já que eleger um dizer específico estaria mais próximo da<br />
imposição de um critério estético – a priori -, do que, de fato, de um evento “inestético” como<br />
o que “[...] não se efetua em outra parte além daquela onde se dá [...]” (BADIOU, 2002, p.<br />
81)), mas sempre conforme o uso que a própria dança instaura e exige.<br />
A esse respeito é possível fazer uma comparação da dança com a fala de Deleuze<br />
acerca da literatura, quando ele esclarece que a escrita (pois assim também é a dança) é<br />
ALEGRAR nº07 - set/2011 - ISSN 18085148<br />
www.alegrar.com.br<br />
2