QUE CORPO É ESTE QUE DANÇA A IMAGEM DO ... - Revista Alegrar
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Para Jean-Luc Nancy, no pensamento deleuzeano, isso se faz possível através da<br />
nomeação, que não é uma doação de sentido (como o que se vincula à interpretação ou à<br />
explicação que atribui significação a algo). Diversamente disso, a nomeação é uma outra<br />
forma de indexação de “um universo da efetividade-imagem” (2000, p. 114) em um gesto<br />
material, ou seja, a nomeação é o gesto ou o movimento que promove o deslocamento de um<br />
peso, de uma carga ou de um traçado à linguagem. Todavia, não para fazer do deslocado<br />
linguagem (por meio de uma tradução que convertesse, assim, a coisa traduzida de uma outra<br />
natureza em linguagem), mas, como fala Nancy, apenas para descrevê-la como a um quadro.<br />
Nesse sentido, nomear “[...] significa fazer com que a linguagem carregue o peso do que não é<br />
ela” (NANCY, 2000, p. 115). Portanto, efetivar essa lógica, segundo o fluxo e o movimento<br />
das intensidades, é fazer com que o pensamento não se dê em uma instância própria ou<br />
isolada que posteriormente entra em relação – o que pressupõe o seu acabamento -, mas porte<br />
e, ao mesmo tempo, torne-se um fluxo-vida, um fluxo-dança pelo entrelaçamento que desposa<br />
os seus circulantes/circulados. Desse modo, o pensamento se dá em um plano de consistência,<br />
como um gesto material ou mesmo uma “operação física”. E isso:<br />
<strong>É</strong> uma filosofia da nomeação, não do discurso. Trata-se de nomear as forças, os momentos, as<br />
configurações, não de desenrolar ou de enrolar sentido. A própria nomeação não é uma<br />
operação semântica: não se trata de significar as coisas; trata-se, antes, de indexar com nomes<br />
próprios os elementos do universo virtual (NANCY, 2000, p. 115).<br />
Esse é, pois, um outro modo de mostrar e de efetuar as coisas, sem nunca ter a<br />
pretensão de dar-lhes um sentido - já que elas são o seu próprio sentido, diversamente de ter<br />
ou receber algum. Ater-se aos nomes (que difere do desenrolar de um movimento frasal) é<br />
não se separar do devir que está no meio das coisas, e não em sua origem ou em seu fim<br />
(NANCY, 2000, p. 112). Para assim, “Desposar o movimento, prolongá-lo ao extremo,<br />
descrever sua trajetória, adivinhar o que supõe, experimentar devires (- mulher, - animal, -<br />
mineral) [...] eis o novo movimento de pensamento” (GIL, 2000, p. 79).<br />
Logo, ao nomearmos o acontecimento dançante somos levados por ele, pertencemos a<br />
ele e nele produzimos ao mesmo tempo em que também somos produzidos imanentemente.<br />
Pois, quando nomeamos efetivamos o “devir-conceito” (ao seu modo de criação-ação relativa<br />
à lógica das intensidades) como o que não é mais separável à maneira do regime discursivo.<br />
Isso é o pensamento comparecendo às categorias da vida ou da dança, o pensamento se<br />
tornando ação e criação, não por uma convocação dos fins que impõe às coisas que<br />
compareçam a ele, mas pela convocação consistente das intensidades. Desse modo, o<br />
pensamento não é apartado da dança que pensa, sendo, portanto, um fluxo que nela circula ao<br />
ALEGRAR nº07 - set/2011 - ISSN 18085148<br />
www.alegrar.com.br<br />
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