QUE CORPO É ESTE QUE DANÇA A IMAGEM DO ... - Revista Alegrar
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do verbo ser, pelo qual elegemos e identificamos o melhor em detrimento do diferente em sua<br />
constante diferenciação?<br />
A favor de certo conforto para a elaboração de juízos (através de um conjunto de<br />
princípios) e de uma nobreza moral (que julga e identifica, por meio de sua tabulação, o<br />
essencial, o verdadeiro e, por conseguinte, o melhor), negligenciamos a multiplicidade que<br />
está fora desse conjunto de preceitos. Logo, pensar as intensidades da dança, ao contrário de<br />
erigir suas supostas qualidades ou propriedades, é sempre diluir valores, preceitos, princípios<br />
ou soberanias a favor de seu movimento. Trata-se então de despojar a dança de toda<br />
identificação essencialista ou de todo recurso a uma absolutidade de princípios que se<br />
convertam em lei, para coincidir o pensamento com o uso que a dança exige e faz dele. Ou<br />
seja, a dança é imagem para o pensamento porque exige e faz uso da permanente<br />
transformação e criação, nela não há propriedades ou essência, mas a variabilidade e a<br />
afetação por uma cadeia infinita de conexões.<br />
Nesse sentido, também vem ao encontro o pensamento de Wittgenstein,<br />
principalmente, em sua obra Investigações filosóficas, em que tomado no sentido da dança,<br />
não pressupõe a existência (por meio de princípios ou códigos separados) de uma dança pura,<br />
distinta de sua própria “aplicação” em seus infinitos “lances” ou operações possíveis. A<br />
dança, assim como o termo “jogo de linguagem”, da filosofia wittgensteineana, não se<br />
desvincula de seu uso. Isto é, que seu sentido está nela mesma (ou melhor, ela é o seu próprio<br />
sentido, sendo autônoma), e só pode ser nomeado por meio de sua própria atividade, sendo<br />
este nomear o que se dá carregando ou deslocando tal efetividade-imagem no ou pelo<br />
movimento de cada situação, estando sempre em meio a cada lance de seu devir. Essa seria,<br />
portanto, a imagem do pensamento-dança que não oculta nada por debaixo de seus<br />
heterogêneos “modos de usar”. A “multiplicidade de jogos de linguagem” da dança é, pois,<br />
irredutível a uma determinada forma geral, não havendo um traço único entre as danças<br />
possíveis em seus lances e operações, mas apenas uma “semelhança de família” ou uma<br />
“vizinhança” que mobiliza e efetiva tanto as possibilidades dançantes assim como aos<br />
pensamentos-ações que as acompanham (em recíprocas virtualidades efetivadas). Assim,<br />
explicita Wittgenstein acerca da linguagem (e que se estende para a dança):<br />
- Em vez de indicar algo que é comum a tudo aquilo que chamamos de linguagem, digo que<br />
não há uma coisa comum a esses fenômenos, em virtude da qual empregamos a mesma<br />
palavra, - mas sim que estão aparentados uns com os outros de muitos modos diferentes. E por<br />
causa desse parentesco ou desses parentescos, chamamo-los todos de “linguagens”<br />
(WITTGENSTEIN, 1991, p. 38).<br />
ALEGRAR nº07 - set/2011 - ISSN 18085148<br />
www.alegrar.com.br<br />
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