A Roda de Conversa na Educação Infantil - PUC-SP
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estabilizar relações argumentativas e fazerem uso <strong>de</strong> operadores e conectores a<strong>de</strong>quados<br />
ao contexto enunciativo.<br />
Por outro lado, em direção contrária às suas constatações, e <strong>de</strong> outros autores<br />
como citados anteriormente, Banks-Leite (1998) ressalta que em alguns trabalhos<br />
realizados <strong>na</strong> psicologia, apoiados <strong>na</strong> perspectiva genética ou <strong>de</strong>senvolvimental, há um<br />
entendimento <strong>de</strong> que a presença da organização argumentativa acontece tardiamente.<br />
Segundo a autora, essa constatação se justifica <strong>de</strong>vido à concepção <strong>de</strong> argumentação<br />
baseada no princípio da lógica, do pensamento lógico-matemático, como apresentado<br />
por Piaget.<br />
Relembrando postulados da perspectiva citada, <strong>de</strong> acordo com os estudos <strong>de</strong><br />
Piaget (1964), crianças que se encontram no chamado período pré-operatório (2 a 7<br />
anos) não são capazes <strong>de</strong> discutir diferentes pontos <strong>de</strong> vista para chegar a uma<br />
conclusão comum. Somente por volta dos 11 anos em diante, elas começam a<br />
estabelecer relações e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r pontos <strong>de</strong> vista diferentes (próprios e <strong>de</strong> outrem),<br />
integrando-os <strong>de</strong> modo lógico e coerente. Nesse ponto <strong>de</strong> vista, a organização discursiva<br />
<strong>de</strong> cunho argumentativo, em seu sentido clássico, é esperada para o período da<br />
adolescência.<br />
Refletindo sobre o impacto que a teoria piagetia<strong>na</strong> teve no contexto escolar<br />
brasileiro, talvez seja essa uma das causas que explique o porquê das investigações<br />
sobre a argumentação <strong>na</strong> educação infantil acontecerem tão tardiamente, mais<br />
especificamente, <strong>na</strong> última década.<br />
Relacio<strong>na</strong>ndo a discussão apresentada com o objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa, ressalto<br />
que o interesse pela argumentação justifica-se por ser uma organização <strong>de</strong> linguagem<br />
que envolve a voz do outro para avaliar criticamente posições apresentadas pelos<br />
participantes do diálogo, por meio <strong>de</strong> questio<strong>na</strong>mentos <strong>de</strong> interesses comuns e<br />
divergentes <strong>na</strong> direção da produção <strong>de</strong> novos significados compartilhados (Magalhães,<br />
prelo).<br />
Para auxiliar <strong>na</strong> compreensão <strong>de</strong>ssa relação, trago à luz o sentido <strong>de</strong><br />
colaboração que está sendo utilizado neste trabalho. Apoiado nos estudos <strong>de</strong> Magalhães<br />
(2004, p. 63), colaborar “significa agir no sentido <strong>de</strong> possibilitar que os agentes<br />
participantes tornem seus processos mentais claros, expliquem, <strong>de</strong>monstrem, com<br />
objetivo <strong>de</strong> criar, para os outros participantes, possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> questio<strong>na</strong>r, expandir,<br />
recolocar o que foi posto em negociação”. Implica, assim, “conflitos e questio<strong>na</strong>mentos<br />
que propiciem oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estranhamento e <strong>de</strong> compreensão crítica”. Para a<br />
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