27.04.2013 Views

por J. C. Ryle “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor ...

por J. C. Ryle “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor ...

por J. C. Ryle “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Amor<br />

<strong>por</strong><br />

J. C. <strong>Ryle</strong><br />

<strong>“Agora</strong>, <strong>pois</strong>, <strong>permanecem</strong> a <strong>fé</strong>, a <strong>esperança</strong> e o <strong>amor</strong>, estes três,<br />

mas o maior destes é o <strong>amor</strong>” (1 Coríntios 13:13).<br />

O <strong>amor</strong> é corretamente chamado de “a Rainha das graças cristãs”. “O<br />

fim do mandamento”, diz Paulo, “é o <strong>amor</strong>” (1 Timóteo 1:5). É uma<br />

graça que todos professam admirar. Ela parece ser uma coisa clara e<br />

prática que todo mundo pode entender. Não é um “daqueles pontos<br />

doutrinários molestos” sobre os quais os cristãos discordam. Milhares,<br />

supeito eu, não se envergonhariam de dizer que não sabem nada<br />

sobre justificação, regeneração, a obra de Cristo ou sobre o Espírito<br />

Santo. Porém, ninguém, creio eu, gostaria de dizer que não sabe<br />

nada sobre o <strong>amor</strong>! Até mesmo os homens que não possuem uma<br />

religião sempre se vangloriam de possuir “<strong>amor</strong>”.<br />

Umas poucas reflexões sobre o <strong>amor</strong> nos serão proveitosas. Há<br />

noções falsas sobre o <strong>amor</strong> que precisam ser dissipadas. Há enganos<br />

sobre ele que requerem retificações. Em minha admiração do <strong>amor</strong>,<br />

não me submeto a ninguém. Porém, atrevo-me a dizer que em<br />

muitas mentes, o tema parece estar completamente malcompreendido.<br />

I. Primeiro, deixe-me mostrar “o lugar que a Bíblia dá ao <strong>amor</strong>”.<br />

II. Segundo, deixe-me mostrar “o que é realmente o <strong>amor</strong> da Bíblia”.<br />

III. Terceiro, deixe-me mostrar, “de onde procede o verdadeiro<br />

<strong>amor</strong>”.<br />

IV. E <strong>por</strong> último, deixe-me mostrar “o <strong>por</strong>que o <strong>amor</strong> é 'a maior' das<br />

graças”.


Eu peço a sincera atenção de meus leitores ao assunto. O desejo do<br />

meu coração e a minha oração a Deus, é que o crescimento do <strong>amor</strong><br />

possa ser promovido neste mundo sobrecarregado de pecado. Em<br />

nenhum outro lugar a condição caída do homem se mostra tão forte<br />

como na escassez do <strong>amor</strong> cristão. Há pouca <strong>fé</strong> na terra, pouca<br />

<strong>esperança</strong>, pouco conhecimento das coisas divinas. Mas nada, de<strong>pois</strong><br />

de tudo, é tão escasso como o <strong>amor</strong> real.<br />

I. Primeiro, deixe-me mostrar “o lugar que a Bíblia dá ao <strong>amor</strong>”.<br />

Começo com este ponto para estabelecer a imensa im<strong>por</strong>tância<br />

prática do meu assunto. Não me esqueço que há muitos cristãos<br />

nestes dias que quase recusam olhar para algo prático no<br />

Cristianismo. Eles não falam sobre nada, senão de duas ou três<br />

doutrinas favoritas. Quero recordar a meus leitores que a Bíblia<br />

contém conteúdo prático tanto quanto doutrinário, e que uma coisa<br />

para a qual ela atribui grande im<strong>por</strong>tância é o “<strong>amor</strong>”.<br />

Voltemos nossa atenção para o Novo Testamento, e observemos o<br />

que nos é dito sobre o <strong>amor</strong>. Em todas as investigações religiosas,<br />

não há nada como deixar que a Escritura fale <strong>por</strong> si mesma. Não há<br />

melhor maneira de encontrar a verdade do que recorrer ao velho<br />

caminho de se voltar para os textos simples da Bíblia. Os textos<br />

foram as armas do nosso Senhor, tanto nas respostas a Satanás,<br />

como nas argumentações com os judeus. Os textos são os guias aos<br />

quais nunca devemos nos envergonhar de nos referir a eles, nos dias<br />

presentes — O que a Escritura diz? O que está escrito? Como você a<br />

lê?<br />

Ouçamos o que Paulo diz aos coríntios: “Ainda que eu falasse as<br />

línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse <strong>amor</strong>, seria como o<br />

metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de<br />

profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda<br />

que tivesse toda a <strong>fé</strong>, de maneira tal que trans<strong>por</strong>tasse os montes, e<br />

não tivesse <strong>amor</strong>, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha<br />

fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu<br />

corpo para ser queimado, e não tivesse <strong>amor</strong>, nada disso me<br />

aproveitaria” (1 Coríntios 13:1-3).<br />

Ouçamos o que Paulo diz aos colossenses: “E, sobre tudo isto,<br />

revesti-vos de <strong>amor</strong>, que é o vínculo da perfeição” (Colossenses<br />

3:14).<br />

Ouçamos o que Paulo diz a Timóteo: “Ora, o fim do mandamento é o<br />

<strong>amor</strong> de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma <strong>fé</strong><br />

não fingida” (1 Timóteo 1:5).


Ouçamos o que Pedro diz: “Mas, sobretudo, tende ardente <strong>amor</strong> uns<br />

para com os outros; <strong>por</strong>que o <strong>amor</strong> cobrirá a multidão de pecados” (1<br />

Pedro 4:8).<br />

Ouçamos o que nosso Senhor Jesus Cristo diz sobre este <strong>amor</strong>: “Um<br />

novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu<br />

vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto<br />

todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos<br />

outros.”. Sobretudo, ouçamos o relato do nosso Senhor do juízo final,<br />

e observe a falta de <strong>amor</strong> que condenará milhões: “Então dirá<br />

também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim,<br />

malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;<br />

Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me<br />

destes de beber” (Mateus 25:41-42).<br />

Ouçamos o que Paulo diz aos romanos: “A ninguém devais coisa<br />

alguma, a não ser o <strong>amor</strong> com que vos ameis uns aos outros; <strong>por</strong>que<br />

quem ama aos outros cumpriu a lei” (Romanos 13:8).<br />

Ouçamos o que Paulo diz aos e<strong>fé</strong>sios: “E andai em <strong>amor</strong>, como<br />

também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo <strong>por</strong> nós, em<br />

oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (E<strong>fé</strong>sios 5:2).<br />

Ouçamos o que João diz: “Amados, amemo-nos uns aos outros;<br />

<strong>por</strong>que o <strong>amor</strong> é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e<br />

conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; <strong>por</strong>que<br />

Deus é <strong>amor</strong> ” (1 João 5:7-8).<br />

Não farei comentário algum sobre estes textos. Penso que será<br />

melhor deixá-los diante dos meus leitores em sua eloqüente<br />

simplicidade, e deixá-los falar <strong>por</strong> si mesmos. Se alguém está<br />

disposto a pensar que o assunto deste artigo é insignificante, apenas<br />

pedirei a ele que olhe para estes textos, e pense novamente. Aquele<br />

que desce o “<strong>amor</strong>” do santo e alto lugar que ele ocupa na Bíblia, e o<br />

trata como um assunto de im<strong>por</strong>tância secundária, deve acertar as<br />

contas com a Palavra de Deus. Eu certamente não gastarei tempo<br />

argumentando com tal pessoa.<br />

À minha mente, a evidência destes textos parece clara, simples e<br />

incontrovertível. Eles mostram a imensa im<strong>por</strong>tância do <strong>amor</strong> como<br />

uma das “coisas que acompanham a salvação”. Eles provam que é<br />

correto demandar a séria atenção de todos que se chamam cristãos,<br />

e que aqueles que desprezam o assunto estão apenas expondo sua<br />

própria ignorância das Escrituras.<br />

II. Segundo, deixe-me mostrar “o que é realmente o <strong>amor</strong> da Bíblia”.


Penso que é de grande im<strong>por</strong>tância ter visões claras sobre este<br />

ponto. É precisamente aqui que os enganos sobre o <strong>amor</strong> começam.<br />

Milhares de pessoas enganam a si mesmas com a idéia de que elas<br />

têm “<strong>amor</strong>”, e isto, devido a uma clara ignorância das Escrituras. O<br />

<strong>amor</strong> delas não é o <strong>amor</strong> descrito na Bíblia.<br />

(a) O <strong>amor</strong> da Bíblia não consiste em dar aos pobres. É uma ilusão<br />

comum su<strong>por</strong> isto. Todavia, Paulo nos diz claramente que um homem<br />

pode “dar tudo o que ele possui aos pobres” (1 Coríntios 13:3), e não<br />

ter <strong>amor</strong>. Que um homem <strong>amor</strong>oso “lembrará dos pobres”, não pode<br />

haver dúvida (Gálatas 6:10). Que ele fará tudo o que ele pode para<br />

assisti-los, aliviá-los e diminuir as suas aflições, não nego nem <strong>por</strong><br />

um momento. Tudo o que disse é que isto não é, <strong>por</strong> si só, “<strong>amor</strong>”. É<br />

fácil gastar uma fortuna ao distribuir dinheiro, sopa, pão, cobertores<br />

e roupas, e, todavia, estar totalmente destituído do <strong>amor</strong> da Bíblia.<br />

(b) O <strong>amor</strong> da Bíblia não consiste em nunca desaprovar a conduta<br />

dos demais. Aqui, há outra ilusão muito comum! Milhares de pessoas<br />

se orgulham de nunca condenar os outros, ou dizer que eles estão<br />

errados, não im<strong>por</strong>ta o que eles possam fazer. Eles convertem o<br />

preceito de nosso Senhor, “Não julgueis”, numa escusa para não ter<br />

opinião desfavorável de ninguém. Eles pervertem Sua proibição de<br />

julgamentos precipitados e censuradores numa proibição de todo e<br />

qualquer julgamento. Seu próximo pode ser um bêbado, um<br />

mentiroso, um homem violento. Não im<strong>por</strong>ta! “Não é <strong>amor</strong>”, eles lhe<br />

dizem, “dizer que ele está errado”. Você deve crer que ele, no fundo,<br />

tem um bom coração! Esta idéia de <strong>amor</strong> é, infelizmente, muito<br />

comum. É cheia de prejuízo. Lançar um véu sobre o pecado, e<br />

recusar chamar as coisas pelos seus devidos nomes — falar de<br />

“corações bons”, quando as vidas são eloqüentemente más — é<br />

fechar os nossos olhos contra a impiedade, e escusar sua imoralidade<br />

— este não é o <strong>amor</strong> da Escritura.<br />

(c) O <strong>amor</strong> da Bíblia não consiste em nunca desaprovar as opiniões<br />

religiosas de outras pessoas. Aqui há outra ilusão muito séria e<br />

crescente. Há muitos que se orgulham de nunca se pronunciar contra<br />

os outros, não im<strong>por</strong>ta quais visões eles possam sustentar. Seu<br />

próximo, <strong>por</strong> exemplo, pode ser um Católico Romano, ou um<br />

Mórmon. Mas o “<strong>amor</strong>” diz que você não tem o direito de pensar que<br />

ele está errado! Se ele é sincero, seria “falta de <strong>amor</strong>” pensar<br />

desfavoravelmente de sua condição espiritual. Que Deus me livre<br />

sempre de tal <strong>amor</strong>! Nesta avaliação, o Apóstolo estaria errado ao ir<br />

pregar aos gentios! Nesta avaliação, não há utilidade em missões!<br />

Nesta avaliação, seria melhor fecharmos nossas Bíblias e trancarmos<br />

nossas igrejas! Todo mundo está certo, e ninguém está errado! Todo<br />

mundo está indo para o céu, e ninguém está indo para o inferno!


Tal <strong>amor</strong> é uma caricatura monstruosa. Dizer que todos estão<br />

igualmente certos em suas opiniões, embora suas opiniões<br />

contradigam diretamente umas às outras — dizer que todos estão<br />

igualmente a caminho do céu, embora seus sentimentos doutrinários<br />

sejam tão opostos como o é o preto e o branco — este não é o <strong>amor</strong><br />

da Escritura. Amor como este derrama desprezo sobre a Bíblia, e fala<br />

como se Deus não nos tivesse dado uma norma escrita da verdade.<br />

Amor como este confunde nossas noções de céu e enche-as com<br />

discordância e desarmonia. O <strong>amor</strong> verdadeiro não pensa que tudo<br />

mundo está certo em suas doutrinas. O <strong>amor</strong> verdadeiro clama —<br />

“Não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus,<br />

<strong>por</strong>que já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João<br />

4:1). “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o<br />

recebais em casa, nem tampouco o saudeis” (2 João 1:10).<br />

Eu deixo o lado negativo da questão aqui. Eu o tratei com uma certa<br />

extensão, <strong>por</strong> causa dos dias nos quais vivemos e devido às noções<br />

estranhas que abundam. Voltemos agora para o lado positivo. Tendo<br />

mostrado o que o <strong>amor</strong> não é, deixe-me mostrar o que ele é.<br />

Amor é aquele “<strong>amor</strong>” que Paulo coloca como primeiro entre aqueles<br />

frutos produzidos no coração de um crente. “O fruto do Espírito é<br />

<strong>amor</strong>” (Gálatas 5:22). Amar a Deus, tal como Adão amava antes da<br />

queda, é a sua primeira característica. Aquele que tem <strong>amor</strong>, deseja<br />

amar a Deus de coração, alma, mente e força. O <strong>amor</strong> pelos homens<br />

é a segunda característica. Aquele que tem <strong>amor</strong>, deseja amar seu<br />

próximo como a si mesmo. Esta é realmente aquela visão na qual a<br />

palavra “<strong>amor</strong>” na Escritura é mais especialmente considerada.<br />

Quando falo de um crente tendo “<strong>amor</strong>” em seu coração, quero dizer<br />

que ele tem <strong>amor</strong> tanto <strong>por</strong> Deus como pelos homens. Quando falo<br />

de um crente tendo “<strong>amor</strong>”, quero dizer mais particularmente que ele<br />

tem <strong>amor</strong> pelos homens.<br />

O <strong>amor</strong> da Bíblia se evidenciará nas ações de um crente. Ele o faz<br />

pronto para fazer atos benévolos para com todos os que estão ao seu<br />

alcance — tanto a seus corpos como a suas almas. Ele não o deixará<br />

contente com palavras ternas e desejos bons. Ele o fará diligente em<br />

fazer tudo o que está ao seu poder para diminuir a aflição e aumentar<br />

a felicidade dos outros. Como seu Mestre, ele buscará mais o servir<br />

do que ser servido, e não esperará nada em retorno. Como o grande<br />

Apóstolo do mestre, “se gastará e será gasto” pelos outros, mesmo<br />

que eles lhe paguem com ódio, e não com <strong>amor</strong>. O verdadeiro <strong>amor</strong><br />

não quer recompensas. Sua obra é sua recompensa.<br />

O <strong>amor</strong> da Bíblia se evidenciará na prontidão de um crente para<br />

su<strong>por</strong>tar o mal bem como para fazer o bem. Ele o faz paciente diante<br />

da provocação, perdoador quando injuriado, manso quando<br />

injustamente atacado e quieto quando caluniado. Ele o fará su<strong>por</strong>tar,


tolerar e perdoar muito mais; fará com que ele freqüentemente se<br />

humilhe e negue a si mesmo, tudo <strong>por</strong> causa da paz. Ele o fará<br />

controlar o seu temperamento e refrear sua língua. O verdadeiro<br />

<strong>amor</strong> não está sempre perguntando: “Quais sãos os meus direitos?<br />

Eu sou tratado como mereço?” mas, “Como posso promover melhor a<br />

paz? Como posso fazer aquilo que é mais edificante para os outros?”.<br />

O <strong>amor</strong> da Bíblia se evidenciará no “espírito e com<strong>por</strong>tamento geral”<br />

de um crente. Ele o fará mais terno, altruísta, de bom caráter, de<br />

bom temperamento e respeitoso para com os outros. Ele o fará<br />

gentil, amigável e cortês, em todas as relações diárias da vida<br />

privada, interessado no conforto dos outros, terno nos sentimentos<br />

para com os outros e mais ansioso em dar prazer do que receber. O<br />

<strong>amor</strong> verdadeiro nunca inveja os outros quando eles prosperam, nem<br />

se regozija nas calamidades dos outros quando eles estão em<br />

problemas. Em todo instante crerá, esperará e tentará ver boa<br />

intenção nas ações dos outros. E nas circunstâncias mais difíceis, o<br />

<strong>amor</strong> será cheio de piedade, misericórdia e compaixão.<br />

Você gostaria de saber onde o verdadeiro padrão de <strong>amor</strong>, como<br />

este, pode ser achado? Temos que somente olhar para a vida de<br />

nosso Senhor Jesus Cristo, como descrita nos evangelhos, e o<br />

veremos perfeitamente exemplificado. O <strong>amor</strong> é irradiado em tudo o<br />

que Ele fez. Sua vida foi um incessante cuidar de fazer o bem. O<br />

amar é irradiado em toda Sua maneira de agir. Ele foi continuamente<br />

odiado, perseguido, caluniado e distorcido. Mas Ele su<strong>por</strong>tou tudo<br />

pacientemente. Nenhuma palavra irada jamais saiu dos Seus lábios.<br />

Nenhum temperamento hostil jamais apareceu em Seu<br />

com<strong>por</strong>tamento. “O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e<br />

quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga<br />

justamente”. O <strong>amor</strong> é irradiado em todo Seu espírito e<br />

com<strong>por</strong>tamento. A lei da bondade sempre esteve em Seus lábios.<br />

Entre discípulos fracos e ignorantes, entre suplicantes enfermos e<br />

atribulados, entre recolhedores de impostos e pecadores, entre<br />

fariseus e saduceus, Ele sempre foi o mesmo — terno e paciente para<br />

com todos.<br />

E, todavia, lembre-se, nosso bendito Mestre jamais bajulou os<br />

pecadores, nem foi conivente com o pecado. Ele nunca recuou de<br />

ex<strong>por</strong> a iniqüidade em suas verdadeiras cores, ou de censurar<br />

aqueles que nela viviam. Ele nunca hesitou de denunciar a falsa<br />

doutrina, quem quer que a sustentasse, ou de exibir as práticas<br />

falsas em suas verdadeiras cores e o fim certo para o qual estas<br />

coisas tendem. Ele chamou as coisas pelos seus nomes certos. Ele<br />

falou tão livremente do inferno e do fogo que não se apaga, como do<br />

céu e do reino de glória. Ele deixou registrado uma prova eterna de<br />

que o <strong>amor</strong> perfeito não requer que aprovemos a vida ou opiniões de


todos, e que é completamente possível condenar falsa doutrina e<br />

prática ímpia, e, todavia, estar cheio de <strong>amor</strong> ao mesmo tempo.<br />

Meus queridos leitores, acabei de colocar diante de vocês a<br />

verdadeira natureza do <strong>amor</strong> da Escritura. Dei um relato pequeno e<br />

breve do que ele não é, e do que ele é. Eu não posso continuar sem<br />

sugerir dois pensamentos práticos que pesam na minha mente com<br />

grande força, e espero que possa pesar sobre outros.<br />

Você tem ouvido de <strong>amor</strong>. Pense, <strong>por</strong> um momento, quão<br />

deploravelmente pouco <strong>amor</strong> há na terra! Quão clara é a ausência do<br />

verdadeiro <strong>amor</strong> entre os cristãos! Eu não falo dos gentios, falo agora<br />

dos cristãos. Que temperamentos irados, que paixões, que egoísmo,<br />

que línguas amargas são encontradas em famílias privadas! Quantas<br />

brigas, querelas, perversidade, malícia, vingança e inveja entre<br />

membros de uma igreja! Quanto zelo e contenções entre aqueles de<br />

variadas doutrinas! “Onde está o <strong>amor</strong>?”, podemos bem perguntar.<br />

“Onde está o <strong>amor</strong>? Onde está a mente de Cristo?” quando olhamos<br />

para o espírito que reina no mundo. Não nos surpreende que a causa<br />

de Cristo não prospere e o pecado abunde, quando os corações dos<br />

homens conhecem tão pouco o que é o <strong>amor</strong>! Certamente, podemos<br />

perguntar: “Quando o Filho do homem vier, achará <strong>amor</strong> na terra?”.<br />

Pense mais uma coisa: que mundo feliz seria este se houvesse mais<br />

<strong>amor</strong>. É a falta de <strong>amor</strong> que causa a metade da miséria que há sobre<br />

a terra. Enfermidade, morte e pobreza não constituem mais do que a<br />

metade dos nossos sofrimentos. O resto vem dos temperados<br />

descontrolados, naturezas iracundas, conflitos, querelas, malícia,<br />

inveja, vingança, fraudes, violência, guerras e coisas semelhantes.<br />

Seria um grande passo para a multiplicação da felicidade da<br />

humanidade e diminuição dos seus sofrimentos, se todos os homens<br />

e mulheres fossem cheios do <strong>amor</strong> da Escritura.<br />

III. Terceiro, deixe-me mostrar, “de onde procede o verdadeiro<br />

<strong>amor</strong>”.<br />

O <strong>amor</strong>, como o descrevi, certamente não é natural ao homem. Por<br />

natureza, somos todos mais ou menos egoístas, invejosos, irados,<br />

maldosos e cruéis. Temos que apenas observar as crianças, quando<br />

deixadas <strong>por</strong> si mesmas, para ver a prova disto. Deixe meninos e<br />

meninas crescerem sem treinamento e educação apropriada, e você<br />

não verá algum deles possuindo o <strong>amor</strong> cristão. Observe como alguns<br />

deles pensam primeiro em si mesmos, e em seu conforto e<br />

vantagem! Observe como outros são cheios de orgulho, paixão e<br />

temperamentos maldosos! Como podemos explicar isto? Há somente<br />

uma resposta. O coração natural não conhece nada do verdadeiro<br />

<strong>amor</strong>.


O <strong>amor</strong> da Bíblia nunca será encontrado, exceto num coração<br />

preparado pelo Espírito Santo. Ele é uma planta terna, e nunca<br />

crescerá, excerto num único tipo de solo. Você pode esperar<br />

encontrar uvas nos espinhos, ou figos nos abrolhos, tanto quanto<br />

esperar encontrar o <strong>amor</strong> num coração que não nasceu de novo.<br />

O coração no qual o <strong>amor</strong> cresce é um coração mudado, renovado e<br />

transformado pelo Espírito Santo. A imagem e semelhança de Deus,<br />

que Adão perdeu na queda, foi restaurada a ele, não im<strong>por</strong>ta quão<br />

fraca e imperfeita a restauração possa ser. É “participar da natura<br />

divina” pela união com Cristo e pela filiação de Deus; e uma das<br />

primeiras características desta natureza é o <strong>amor</strong>.<br />

Tal coração está profundamente convencido do pecado, odeia o<br />

mesmo, foge dele e luta contra ele dia-a-dia. E um dos principais<br />

elementos do pecado com o qual ele diariamente luta para<br />

sobrepujar, é o egoísmo e a falta de <strong>amor</strong>.<br />

Tal coração está profundamente consciente de seu grande débito ao<br />

nosso Senhor Jesus Cristo. Ele sente continuamente que seu presente<br />

conforto, <strong>esperança</strong> e paz é devido Àquele que morreu <strong>por</strong> nós na<br />

cruz. Como ele pode expressar sua gratidão? O que ele pode oferecer<br />

ao seu Redentor? Se não puder fazer nada mais, ele aspirará ser<br />

como Ele, seguir os Seus passos, e, como Ele, ser cheio de <strong>amor</strong>. O<br />

fato que “Deus derramou Seu <strong>amor</strong> em nossos corações, pelo Espírito<br />

Santo” é a fonte óbvia do <strong>amor</strong> cristão. Amor produz <strong>amor</strong>.<br />

Peço aos meus leitores atenção especial para este ponto. É de grande<br />

im<strong>por</strong>tância nos dias de hoje. Há muitos que professam admirar o<br />

<strong>amor</strong>, embora eles não tenham nenhum interesse pelo Cristianismo<br />

vital. Eles gostam de alguns dos frutos e resultados do evangelho,<br />

mas não da única raiz da qual estes frutos podem crescer, ou das<br />

doutrinas com as quais eles estão inseparavelmente relacionados.<br />

Centenas que louvam o <strong>amor</strong>, odeiam ouvir da corrupção do homem,<br />

do sangue de Cristo e da obra interior do Espírito Santo. Muitos pais<br />

que desejariam que seus filhos crescessem sem egoísmo e com um<br />

bom temperamento, não ficariam muito satisfeitos se alguém<br />

apresentasse para os seus filhos a necessidade de conversão,<br />

arrependimento e <strong>fé</strong>.<br />

Agora eu desejo protestar contra esta noção de que você pode ter os<br />

frutos do Cristianismo sem as raízes — que você pode produzir<br />

disposições cristãs sem ensinamento de doutrinas cristãs — que você<br />

pode ter <strong>amor</strong> que se gasta e sofre, sem ter graça no coração.<br />

Eu admito, muito livremente, que de vez aparece alguém que parece<br />

ser muito <strong>amor</strong>oso e amável, sem ter qualquer religião doutrinária


distintiva. Mas tais casos são raros e extraordinários, os quais, como<br />

exceção, somente provam a verdade da regra geral. E<br />

freqüentemente, muito freqüentemente, pode se temer em tais casos<br />

que o <strong>amor</strong> aparente é somente externo, que falha completamente<br />

na vida privada. Eu creio firmemente, como regra geral, que você não<br />

encontrará o <strong>amor</strong> como a Bíblia o descreve, exceto no solo de um<br />

coração totalmente saturado com a religião da Bíblia. A prática santa<br />

não florescerá sem a sã doutrina. O que Deus uniu, é inútil esperar<br />

que funcione separadamente.<br />

A ilusão que estou tentando combater é grandemente espalhada pela<br />

vasta maioria de novelas, romances e contos de ficção. Quem não<br />

sabe que os heróis e heroínas destas obras são constantemente<br />

descritos como padrões de perfeição? Eles estão sempre fazendo a<br />

coisa certa, dizendo a coisa certa e demonstrando a disposição certa!<br />

Eles são sempre bondosos, amáveis, altruístas e perdoadores! E,<br />

todavia, você nunca ouve uma palavra sobre sua religião! Em<br />

resumo, julgando pela generalidade das obras de ficção, é possível<br />

ter uma excelente religião prática sem doutrina, os frutos do Espírito<br />

sem a graça do Espírito e a mente de Cristo sem a união com Cristo!<br />

Aqui, em resumo, está o grande perigo das novelas, romances e<br />

obras de ficção mais lidas. O maior deles é dar uma falsa ou incorreta<br />

visão da natureza humana. Eles pintam os modelos de homens e<br />

mulheres como eles deveriam ser, e não como eles são na realidade.<br />

Os leitores de tais escritos têm suas mentes cheias de concepções<br />

erradas do que o mundo é. Suas noções de humanidade tornam-se<br />

visionárias e irreais. Eles estão constantemente procurando <strong>por</strong><br />

homens e mulheres que eles nunca encontram, e esperando o que<br />

eles nunca acham.<br />

Deixe-me suplicar aos meus leitores, uma vez mais, para extrair suas<br />

idéias sobre a natureza humana da Bíblia, e não de novelas. Tenho<br />

esclarecido em sua mente que não pode haver <strong>amor</strong> verdadeiro sem<br />

um coração renovado pela graça. Um certo grau de bondade,<br />

cortesia, amabilidade e boa natureza pode, indubitavelmente, ser<br />

visto em muitos que não possuem uma religião vital. Mas a planta<br />

gloriosa do <strong>amor</strong> bíblico, em toda sua plenitude e perfeição, nunca<br />

será encontrada sem a união com Cristo e a obra do Espírito Santo.<br />

Ensine isto às suas crianças, se você tiver. Enfatize isso nas escolas,<br />

se você estiver relacionado com alguma. Ressalte o <strong>amor</strong>. Não<br />

desista de exaltar a graça da bondade, do <strong>amor</strong>, da boa natureza, da<br />

generosidade e do bom temperamento. Mas nunca, nunca esqueça<br />

que há apenas uma escola na qual estas coisas podem ser totalmente<br />

aprendidas, e esta é a escola de Cristo. O verdadeiro <strong>amor</strong> vem de<br />

cima. O verdadeiro <strong>amor</strong> é fruto do Espírito. Aquele que deseja tê-lo,<br />

deve sentar-se aos pés de Cristo e aprender dEle.


IV. E <strong>por</strong> último, deixe-me mostrar “o <strong>por</strong>que o <strong>amor</strong> é 'a maior' das<br />

graças”.<br />

As palavras de Paulo, sobre este assunto, são distintas e claras. Ele<br />

conclui seu maravilhoso capítulo da seguinte maneira: <strong>“Agora</strong>, <strong>pois</strong>,<br />

<strong>permanecem</strong> a <strong>fé</strong>, a <strong>esperança</strong> e o <strong>amor</strong>, estes três, mas o maior<br />

destes é o <strong>amor</strong>” (1 Coríntios 13:13).<br />

Esta expressão é muito notável. De todos os escritores do Novo<br />

Testamento, nenhum, certamente, exalta tanto a “<strong>fé</strong>” como Paulo. As<br />

epístolas aos romanos e aos gálatas abundam em sentenças<br />

mostrando sua vasta im<strong>por</strong>tância. Pela <strong>fé</strong> o pecadoe se apropria de<br />

Cristo e é salvo. Através da <strong>fé</strong> somos justificados, e temos paz com<br />

Deus. Todavia, aqui, o mesmo Paulo fala de algo que é maior do que<br />

a <strong>fé</strong>. Ele coloca diante de nós as três graças cristãs principais, e<br />

pronuncia o seguinte julgamento sobre elas: “o maior destes é o<br />

<strong>amor</strong>”. Tal sentença de tal escritor, demanda atenção especial. O que<br />

entendemos quando ouvimos que o <strong>amor</strong> é maior do que a <strong>fé</strong> e a<br />

<strong>esperança</strong>?<br />

Não devemos su<strong>por</strong>, nem <strong>por</strong> um momento, que o <strong>amor</strong> pode expiar<br />

nossos pecados, ou estabelecer a paz com Deus. Nada pode fazer isto<br />

<strong>por</strong> nós, senão o sangue de Cristo; e nada pode nos dar um interesse<br />

no sangue de Cristo, senão a <strong>fé</strong>. É ignorância bíblica não saber isto. O<br />

ofício de justificar e unir a alma a Cristo pertence somente à <strong>fé</strong>.<br />

Nosso <strong>amor</strong>, e todas as nossas outras graças, são mais ou menos<br />

imperfeitas, e não poderiam su<strong>por</strong>tar a severidade do julgamento de<br />

Deus. Quando tivermos feito tudo, seremos “servos inúteis” (Lucas<br />

17:10).<br />

Não devemos su<strong>por</strong> que o <strong>amor</strong> pode existir independentemente da<br />

<strong>fé</strong>. Paulo não pretendeu colocar uma graça em rivalidade com outra.<br />

Ele não quis dizer que um homem pode ter <strong>fé</strong>, outro <strong>esperança</strong> e<br />

outro <strong>amor</strong>, e que o melhor deste é o homem que tem <strong>amor</strong>. As três<br />

graças estão inseparavelmente unidas. Onde há <strong>fé</strong>, sempre haverá<br />

<strong>amor</strong>; e onde há <strong>amor</strong>, sempre haverá <strong>fé</strong>. Sol e luz, fogo e calor, gelo<br />

e frio, não estão mais intimamente unidos do que <strong>fé</strong> e <strong>amor</strong>.<br />

As razões pelas quais o <strong>amor</strong> é a maior das três graças, parece-me<br />

claras e simples. Deixe-me mostrar quais são elas.<br />

(a) O <strong>amor</strong> é chamado de a maior das graças <strong>por</strong>que nele há “certa<br />

semelhança entre o crente e o seu Deus”. Deus não precisa de <strong>fé</strong>. Ele<br />

não é dependente de ninguém. Não há ninguém superior a Ele em<br />

quem Ele deva confiar. Deus não precisa de <strong>esperança</strong>. Para Ele<br />

todas as coisas são certas, seja passado, presente ou <strong>por</strong>vir. Mas,


“Deus é <strong>amor</strong>”; e quanto mais o Seu povo ama, mais parecidos com<br />

o seu Pai no céu eles serão.<br />

(b) Amor é também chamado de a maior das graças, <strong>pois</strong> “ele é mais<br />

útil aos outros”. Fé e <strong>esperança</strong>, fora de qualquer dúvida, embora<br />

preciosas, têm referência especial com o benefício individual do<br />

próprio crente. A <strong>fé</strong> une a alma a Cristo, traz paz com Deus e abre o<br />

caminho para o céu. A <strong>esperança</strong> enche a alma com felizes<br />

expectações das coisas do <strong>por</strong>vir, e, no meio dos muitos desalentos<br />

das coisas que vemos, conforta com visões das coisas invisíveis. Mas<br />

o <strong>amor</strong> é preeminentemente a graça que torna um homem útil. É<br />

dele que brota as boas obras e a bondade. É a raiz de missões,<br />

escolas e hospitais. O <strong>amor</strong> fez com que os apóstolos gastassem e<br />

fossem gastos pelas almas. O <strong>amor</strong> levanta obreiros para Cristo e faz<br />

com que eles continuem trabalhando. O <strong>amor</strong> aquieta as querelas e<br />

põe fim aos conflitos, e neste sentido, “cobre uma multidão de<br />

pecados” (1 Pedro 4:8). O <strong>amor</strong> adorna o Cristianismo e recomendao<br />

ao mundo. Um homem pode ter <strong>fé</strong> real, e senti-la, e, todavia, sua<br />

<strong>fé</strong> pode ser invisível aos outros. Mas o <strong>amor</strong> de um homem não pode<br />

ser escondido.<br />

(c) O <strong>amor</strong>, em último lugar, é a maior das graças <strong>por</strong>que ele é o<br />

único que “perdurará”. De fato, ele nunca morrerá. A <strong>fé</strong> um dia será<br />

engolida pela visão, e a <strong>esperança</strong> pela certeza. O ofício delas será<br />

inútil na manhã da ressurreição, e como antigos almanaques, serão<br />

postas de lado. Mas o <strong>amor</strong> perdurará <strong>por</strong> todas as eras sem fim da<br />

eternidade. O céu será a morada do <strong>amor</strong>; os habitantes do céu<br />

estarão cheios de <strong>amor</strong>. Um sentimento comum estará no coração de<br />

todos, e este, será o <strong>amor</strong>.<br />

Eu deixo esta parte do meu assunto aqui e passo à conclusão. Em<br />

cada um dos três pontos de comparação, eu apenas nomeei as<br />

diferenças entre o <strong>amor</strong> e as outras graças; isto poderia ter sido<br />

facilmente alargado. Mas o tempo e o espaço me impedem de fazêlo.<br />

Se eu tiver dito o suficiente para guardar os homens dos enganos<br />

sobre o correto significado da “grandeza” do <strong>amor</strong>, estou contente. O<br />

<strong>amor</strong>, que isto seja sempre lembrado, não pode justificar e apagar os<br />

nossos pecados. Nem mesmo a <strong>fé</strong> pode fazer isto; somente Cristo.<br />

Mas o <strong>amor</strong> nos faz um pouco semelhantes a Deus. O <strong>amor</strong> é de uma<br />

utilidade poderosa para o mundo. O <strong>amor</strong> continuará existindo e<br />

florescendo quando a obra da <strong>fé</strong> estiver terminada. Certamente,<br />

nestes pontos de vista, o <strong>amor</strong> bem que merece a coroa.<br />

(1) E agora, deixe-me fazer, a cada um em cujas mãos este artigo<br />

possa estar, uma simples pergunta. Deixe-me pressionar em suas<br />

consciências todo o assunto deste artigo. Você conhece algo da graça<br />

sobre a qual estive falando? Você tem <strong>amor</strong>?


A linguagem forte do Apóstolo Paulo deve certamente lhe convencer<br />

que a pergunta que te faço, não é uma que deve ser levemente posta<br />

de lado. A graça sem a qual este santo homem poderia dizer, “não<br />

sou nada”; a graça que o Senhor Jesus disse expressamente ser a<br />

grande marca de Seus discípulos; esta graça, digo, exige a mais séria<br />

consideração <strong>por</strong> parte de todos aqueles que se preocupam com a<br />

salvação de suas almas. Ela deveria lhe deixar pensando: “Como isso<br />

me afeta? Eu tenho <strong>amor</strong>?”.<br />

Você talvez tenha algum conhecimento religioso. Você conhece a<br />

diferença entre a doutrina verdadeira e a falsa. Você pode, talvez, até<br />

citar textos e defender as opiniões que você sustenta. Mas, lembre-se<br />

que o conhecimento que é desprovido de resultados práticos na vida<br />

e no temperamento, é uma possessão inútil. As palavras do Apóstolo<br />

são bem claras: “Se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e<br />

não tivesse <strong>amor</strong>, nada seria” (1 Coríntios 13:2).<br />

Você talvez pense que tem <strong>fé</strong>. Você pode confiar que é um dos eleitos<br />

de Deus e descansar nisso. Mas, certamente você se lembrará que há<br />

uma <strong>fé</strong> de demônio, que é absolutamente inútil, e que a <strong>fé</strong> dos eleitos<br />

de Deus é uma “<strong>fé</strong> que opera pelo <strong>amor</strong>” (Gálatas 5:6). Foi quando<br />

Paulo lembrou do <strong>amor</strong> dos tessalonicenses, bem como de sua <strong>fé</strong> e<br />

<strong>esperança</strong>, que ele disse “Sabemos, amados irmãos, que a vossa<br />

eleição é de Deus” (1 Tessalonicenses 1:4 — “Sabemos que Ele vos<br />

escolheu”, na versão do autor).<br />

Olhe para a sua vida diária, tanto em casa como fora, e considere<br />

que lugar o <strong>amor</strong> da Escritura tem nela. Qual é o seu temperamento?<br />

Qual é a sua conduta com respeito aos membros da sua própria<br />

família? Qual é a sua maneira de falar, especialmente nas ocasiões de<br />

irritação e provocação? Onde está sua boa natureza, sua cortesia, sua<br />

paciência, sua mansidão, sua gentileza e sua tolerância? O que você<br />

sabe da mente dAquele que “andou fazendo o bem” — que amou a<br />

todos, embora especialmente os Seus discípulos — que retornou o<br />

mal com bem, e ódio com bondade, e que teve um coração grande o<br />

suficiente para simpatizar com todos?<br />

O que você faria no céu, se chegasse lá sem <strong>amor</strong>? Que conforto<br />

você teria num lar onde o <strong>amor</strong> fosse uma lei, e o egoísmo e a<br />

natureza má fossem completamente impedidos? Sim! Eu receio que o<br />

céu não será um lugar para um homem sem <strong>amor</strong> e de mau-gênio!<br />

Observou o que um garoto disse um dia desses? “Se vovô for para o<br />

céu, espero que eu e o meu irmão não estejamos lá”. “Por que você<br />

diz isso?”, alguém perguntou. O garoto replicou: “Se ele nos ver lá,<br />

tenho certeza que ele dirá, como o faz agora, 'O que estes garotos<br />

estão fazendo aqui? Tirem-nos do caminho'. Ele não gosta de nos ver<br />

na terra, e suponho que não gostará de nos ver no céu”.


Não dê descanso a você mesmo, até que conheças <strong>por</strong> experiência o<br />

verdadeiro <strong>amor</strong> cristão. Vá e aprenda dEle que é manso e humilde<br />

de coração, e peça que te ensine a amar. Peça ao Senhor Jesus para<br />

colocar Seu Espírito dentro de você, para tirar o velho coração, para<br />

lhe dar uma nova natureza, e fazê-lo conhecer algo de Sua mente.<br />

Clame a Ele, noite e dia, <strong>por</strong> graça, e não Lhe dê descanso até que<br />

você sinta algo daquilo que descrevi neste artigo. Serás<br />

verdadeiramente feliz quando puderes entender o que significa<br />

“andar em <strong>amor</strong>”.<br />

(2) Mas, eu não esqueci que estou escrevendo a alguns que não são<br />

ignorantes do <strong>amor</strong> da Escritura, e que desejam sentir mais dele<br />

todos os anos. Aos tais darei duas simples palavras de exortação.<br />

Elas são estas: “Praticai e ensinai a graça do <strong>amor</strong>”.<br />

Pratique o <strong>amor</strong> diligentemente. De todas aquelas graças acima, esta<br />

é uma das que mais crescem pelo exercício constante. Tente<br />

trans<strong>por</strong>tá-la, mais e mais, para cada pequeno detalhe da vida diária.<br />

Vigie vossa língua e o vosso temperamento, a cada momento e hora<br />

do dia — e especialmente no tratamento com as crianças e familiares<br />

próximos. Lembre-se do caráter da mulher excelente: “Abre a sua<br />

boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua língua”<br />

(Provérbio s 31:26). Lembre das palavras de Paulo: “Todas as vossas<br />

coisas sejam feitas com <strong>amor</strong>” (1 Coríntios 16:14). O <strong>amor</strong> deve ser<br />

visto tanto nas coisas pequenas como nas grandes. Não se<br />

esqueçam, tampouco, das palavras de Pedro: “Tende ardente <strong>amor</strong><br />

uns para com os outros”; não um <strong>amor</strong> que dificilmente é uma<br />

chama, mas um <strong>amor</strong> que queime e arda como o fogo, o qual todos<br />

ao nosso redor possam ver (1 Pedro 4:8). Pode custar dores e<br />

problemas guardar estas coisas em mente. Pode haver pouco<br />

encorajamento pelo exemplo dos outros. Mas, persevere. Amor como<br />

este traz a sua própria recompensa.<br />

Finalmente, ensine os outros a amar. Sobretudo, ensine às crianças,<br />

se você tiver. Lembre-os constantemente que a bondade, bom<br />

caráter e boa disposição estão entre as primeiras características que<br />

Cristo requer das crianças. Se elas não podem entender muitas<br />

doutrinas, podem compreender o <strong>amor</strong>. A religião de uma criança é<br />

de pouca valia, se ela consiste somente em repetir textos e hinos.<br />

Apesar de seres úteis, eles são freqüentemente aprendidos sem<br />

pensamento, relembrados sem sentimento, recitados sem<br />

consideração do seu significado e esquecidos quando a infância se<br />

vai. Certamente, deixe que às crianças sejam ensinados textos e<br />

hinos; mas, não deixe que tal ensinamento seja tudo na religião<br />

deles. Ensine-os a controlar seus temperamentos, a serem bondosos<br />

para com os outros, a serem altruístas, de bom caráter, prestativos,<br />

pacientes, gentis e perdoadores. Diga-lhes para nunca esquecer do<br />

dia de sua morte, ainda que eles vivam tanto quanto Matusalém;


diga-lhes que sem <strong>amor</strong> o Espírito Santo diz que “não somos nada”.<br />

Diga-lhes que, “sobre tudo isto, revesti-vos do <strong>amor</strong>, que é o vínculo<br />

da perfeição” (Colossenses 3:14).<br />

Traduzido <strong>por</strong>: Felipe Sabino de Araújo Neto<br />

Cuiabá-MT, 29 de Janeiro de 2005.<br />

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/<strong>amor</strong>/<strong>amor</strong>_ryle.htm

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!