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Inteligência Espiritual Ampliada e Prática Docente Bem ... - Unirevista

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UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006) ISSN 1809-4651<br />

<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong><br />

<strong>Bem</strong> Sucedida: uma tessitura que revela outros<br />

rumos para a Educação<br />

Leda Lísia Franciosi Portal<br />

Doutora em Educação<br />

llfp@pucrs.br<br />

Programa de Pós-Graduação em Educação FACED/PUCRS, RS<br />

Elisabeth Garcia Costa e Mônica Riet Goulart<br />

Doutoranda em Educação<br />

Maria da Graça Bermudez<br />

Mestre em Educação<br />

Cristiane Vieira Chagas, Cristiane Ramos Vieira, Cristina Thomas de Ross,<br />

Dulci Alma Hohgraefe e Luciana Peixoto Cordeiro<br />

Mestrandas em Educação<br />

Jaqueline Ottonelli Sachett, Roseli de Fátima dos Santos e Tatiana Gallois<br />

Resumo Abstract<br />

A pesquisa objetivou relacionar <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong><br />

Sucedida com <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong>.<br />

Desenvolveu-se numa abordagem qualitativa/<br />

dialógica, de cunho compreensivo-interpretativo.<br />

Utilizou como instrumentos Inventário <strong>Docente</strong><br />

(Grillo, 1992), Avaliação de <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong><br />

(Wolman, 2001) e Entrevista, envolvendo<br />

professores e alunos, habilitação magistério, Inst.<br />

Educ. Gen. Flores da Cunha/POA e para análise,<br />

Moraes (2000).Resultados desvelaram professores<br />

com conceito de si definido, apreciadores de seus<br />

diferentes “eus”: individual, relacional e profissional.<br />

Identificam-se com a docência, aliada à<br />

solidariedade, paixão, emoção, conexão, ousadia. A<br />

Dimensão <strong>Espiritual</strong> presente na identificação de<br />

padrões de posicionamento e expressão de suas<br />

vivências, desvelaram uma das maneiras de<br />

experimentá-la.Comparadas falas das experiências<br />

docentes com indicadores de <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong>,<br />

conclui-se existir relação inequívoca. Sua docência é<br />

Bolsistas PIBIC/CNPq/FAPERGS/PUCRS<br />

The present investigation aimed at relating successful<br />

teaching practice to a broadened spiritual intelligence.<br />

The approach developed in the research was<br />

qualitative/dialogic, in a comprehensive-interpretative<br />

character. The research made use of the following<br />

instruments: Teaching Inventory (Grillo, 1992),<br />

Spiritual Intelligence Evaluation (Wolman, 2001) and<br />

interviews with teachers and students of the Teachers'<br />

Course at Instituto de Educação General Flores da<br />

Cunha in Porto Alegre – RS. For the data<br />

interpretation, Moraes (2000) was used. The results<br />

revealed teachers with a definite self-concept,<br />

appreciative of their different selves – individual,<br />

relational and professional. They identify with a<br />

teaching practice linked with solidarity, passion,<br />

emotion, connection and venture. The spiritual<br />

dimension present in the identification of their patterns<br />

of placing and expressing experiences constituted one<br />

of the ways of experimenting. As the teachers'<br />

speeches were compared to indicators of spiritual<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

um Estado de Ser, alicerçado em Vivências<br />

Espirituais, evidenciando coerência, harmonia e<br />

equilíbrio em seu pensar, sentir, significar e agir o<br />

que possibilita inferir que professores deste estudo e<br />

os que a eles se assemelham denotam <strong>Inteligência</strong><br />

<strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong>, exercitada em suas <strong>Prática</strong>s<br />

<strong>Docente</strong>s, dando sentido ao seu processo de<br />

harmonização e hominização,numa tessitura que faz<br />

a diferença.<br />

A pesquisa sugere investimento nos Cursos de<br />

Formação de Educadores, no desenvolvimento da<br />

Dimensão <strong>Espiritual</strong>: elo propulsor de novas posturas,<br />

integrando prática docente na esfera da vida.<br />

Palavras-chave: Autoconhecimento // educação //<br />

inteligência espiritual // prática docente // tessitura<br />

O Vislumbrar de uma Possibilidade<br />

UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)<br />

intelligence, it is possible to identify an unequivocal<br />

relationship between them. For those teachers,<br />

teaching is a state of being, founded in their spiritual<br />

experiences, and it shows coherence, harmony and<br />

balance within their thinking, felling, meaning and<br />

acting, which makes it possible to infer that the<br />

teachers who participated in this study and the ones<br />

who are similar to them denote broaden spiritual<br />

intelligence, exercised in their teaching practices, which<br />

gives meaning to their processes of harmonization and<br />

humanization, in a texture that makes a difference.<br />

The research suggests an investment, in teachers'<br />

courses, in the development of the spiritual dimension,<br />

which can promote new postures and integrate<br />

teaching practice in the sphere of life.<br />

Key words: education // self-knowledge // spiritual<br />

intelligence // teaching practice// texture<br />

Incentivados pela temática e resultados obtidos por Shaeffer (2003), o estudo, aprovado 2004/2005 pelo<br />

CNPq, FAPERGS e PUCRS, foi desenvolvido no Instituto de Educação General Flores da Cunha/POA, com<br />

professores do Ensino Médio / Habilitação Magistério, apontados pelos alunos, segundo Grillo (1991) como<br />

possuidores de uma docência de excelência.<br />

O desafio foi vislumbrar caminhos que permitissem entender e compreender a complexa situação do<br />

trabalho docente, enquanto espaço de construção e reconstrução de identidades, que possibilitem práticas<br />

que norteiem uma Educação embasada na <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong>.<br />

Qual a possível relação entre <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> bem sucedida e<br />

<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong>?<br />

Nóvoa (1992) esclarece que a identidade não é um dado adquirido ou um produto, mas um lugar de lutas<br />

e de conflitos é um espaço de construção de maneiras de ser e estar na profissão. Assim sendo, faz<br />

sentido crer que a maneira como cada um de nós ensina está diretamente dependente daquilo que somos<br />

como indivíduos quando exercemos o ensino.<br />

<strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> um Estado de Ser<br />

Ao serem indagadas sobre a motivação da escolha pela profissão de professor, as entrevistadas referiam o<br />

fato de tal idéia já fazer-se presente na infância, ora por características pessoais (apreço por comando,<br />

gosto por ensinar), ora por influências do contexto familiar (presença de docentes nesse núcleo, escolha<br />

quase “automática” no caso das mulheres, beleza da profissão, apesar da restrição econômica).<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

Ruben Alves (2003) diz que educar é uma vocação que nasce de um grande amor e de uma grande<br />

esperança.<br />

Brandão (2002) complementa, quando diz que temos pensado ainda muito pouco a respeito de nós<br />

próprios, da nossa própria vocação como pessoas humanas que escolheram ou foram levadas a uma opção<br />

de profissão e, até mesmo, de um modo de vida, através de nosso trabalho de educar.<br />

Partindo desse pressuposto de que é necessário e urgente que nos ocupemos destas questões, pensando<br />

em quem de fato somos, quais são o sentido e o valor de nosso trabalho e o que, desde ele, estamos<br />

fazendo com o mundo que parece nos fazer “sermos assim”,faz-se necessário gerar possibilidade para si e<br />

para os outros; refletir nosso fazer, deixar de sentir-se alheio aos desafios educacionais contemporâneos,<br />

assumir tal competência técnica, necessidade de formação continuada e compromisso social com a tarefa<br />

de sermos educadores, pesquisadores e cidadãos.<br />

O fato de não ter tido experiências positivas com docentes foi mencionado como outro motivador na<br />

escolha por esta profissão, justificado por querer ter oportunidade de “fazer a diferença”.<br />

Como aponta Nóvoa (1992, p.32): “Não é possível construir um pedagógico para além dos professores,<br />

isto é, que ignore as dimensões pessoais e profissionais do trabalho docente”.<br />

A necessidade de aprender, o apreço por estudar e relacionar-se com outras pessoas, também foram<br />

motivos trazidos como fatores que influenciaram na escolha da profissão investigada.<br />

No referente à permanência na atividade, foram bastante evidenciadas as noções de paixão e satisfação<br />

nas falas das entrevistadas, incentivadas pelo amor, trabalho com um ideal, entusiasmo, necessidade de<br />

promover a construção e a socialização de conhecimentos, contínuo aprendizado como elemento que gera<br />

maior satisfação, lidar com o ser humano, estar em relação e ter uma relação direta com alunos. Disseram<br />

permanecer na atividade pelo espaço de recolhimento, de reflexão sobre a vida, de constituir equipes,<br />

trabalhar sempre com coisas novas, pessoas, pensamentos e escolas diferentes. Ser propiciador do<br />

convívio que alimenta não só profissionalmente, no sentido de atualização, de estudos, de experiências, de<br />

trocas, mas, também, em nível pessoal.<br />

O retorno não apenas em termos de conteúdo, mas afetivo e da confiança dos alunos foram aspectos que<br />

emergiram e perpassaram nas falas, dando um fio condutor, reforçando que a satisfação profissional e<br />

pessoal está intimamente relacionada com o estar em sala de aula, a troca como qualificação do trabalho,<br />

o desejo de aperfeiçoamento.<br />

Rios (2001, p.17) expressa esta questão quando diz:<br />

“Uma das coisas que realizo com maior alegria é ensinar, fazer aulas. Gosto das aulas tanto<br />

quanto gosto daquilo que ensino (...) é no próprio espaço do trabalho que “esperanço” de novo, que<br />

retorno com vigor a luta, que encontro possibilidades e alternativas. Auxiliam-me nesse movimento a<br />

prática e a reflexão sobre ela, o fazer e o pensar crítico sobre ele, num exercício que mescla razão e<br />

paixão”.<br />

Foi trazida pelas entrevistadas, a noção de grande identificação com a docência, dizendo não saberem<br />

fazer outra coisa e não conseguirem se ver em outra profissão. Paralelamente a esse elevado grau de<br />

realização, evidenciado pelos depoimentos, há uma consciência das dificuldades peculiares à atividade.<br />

Apesar de limitações de ordem financeira e dos problemas inerentes, as dificuldades transformam-se em<br />

desafios tendo em vista o objetivo maior desses docentes: a qualificação de seus alunos.<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

As entrevistadas, ao se reportarem a uma palavra que descrevesse sua prática docente, referiram com<br />

maior ênfase significar uma troca, vista como movimento, cumplicidade e diálogo entre professor e aluno.<br />

<strong>Prática</strong> docente foi descrita como algo que precisa ter disciplina, relacionada a um cuidado, mesmo que um<br />

pouco autoritário, no sentido de assumir responsabilidades que, possivelmente, serão vivenciadas no<br />

cotidiano da escola.<br />

Savater (1998, p.107) afirma que “[...] o ensino implica uma certa forma de coação, de luta entre<br />

vontades”.<br />

<strong>Prática</strong> docente, para as entrevistadas, abarca estudos, aprendizagens, experiências e conhecimento o que<br />

segundo Morin (2003) é reconstrução/ tradução permanente, realizado em uma cultura e época<br />

determinadas. As entrevistadas explicitam sua prática docente relacionada com amor, satisfação,<br />

dedicação, entusiasmo, paixão, respeito e prazer o que nos remete a pensar que a docência vai muito<br />

além do conteúdo, da metodologia, da técnica, integrando processos sentimentais, aliados aos cognitivos.<br />

Algumas professoras mencionaram as palavras convívio, equipe, interação e integração como concepção<br />

desta prática e com menor ênfase desempenho e vocação.<br />

Em relação aos seus pares, as entrevistadas relataram algumas dificuldades de relacionamento e de<br />

interação, que buscam, gradativamente, reverter o que mostra suas preocupações com a conciliação entre<br />

as áreas organizacionais da escola.<br />

Quando questionadas quanto ao referencial de valores que acreditavam estar permeando sua prática<br />

docente, enfatizaram mais especificamente o respeito, o comprometimento e a responsabilidade.<br />

O respeito foi citado como importante tanto no momento de identificar o limite do aluno, o tempo deste<br />

para aprender e/ou executar, quanto no convívio e no cuidado nas relações interpessoais.<br />

Neste sentido Maturana (2003, p. 36) nos diz: “... somente se minhas relações com o outro se derem na<br />

aceitação do outro como um legítimo outro na convivência e, portanto, na confiança e no respeito, minhas<br />

conversações com esse outro se darão no espaço de interações sociais”.<br />

Quando ao comprometimento e à responsabilidade, percebeu-se uma preocupação em propiciar a vivência<br />

destes valores no espaço e nas práticas educativas ao lado de outros valores como a formação espiritual, o<br />

valor ético e moral, o diálogo, o aprender para ensinar, a vivência do amor e da paz e a integração.<br />

A formação espiritual apareceu como essência e motivação para a prática pela crença demonstrada em<br />

Deus e a busca dessa conexão com sua vida profissional e pessoal; o aprender para ensinar como a idéia<br />

de vivenciar o sentimento e de apropriar-se da informação para compreender as ações e reações de seus<br />

educandos, compreendendo melhor o processo relacional; a vivência do amor e da Paz, significando, para<br />

as professoras, uma atitude de compaixão ao próximo, permeando a relação educativa e a interação<br />

pedagógica.<br />

Percebeu-se, no discurso destas professoras, uma preocupação com as necessidades, possibilidades e<br />

capacidades dos alunos o que denota forte interação entre os aspectos pessoais, técnicos e espirituais,<br />

tornando a prática educativa mais significativa.<br />

A expectativa comum encontrada em relação a seus alunos é de que estes possam se tornar, num breve<br />

futuro, excelentes educadores, não só no aspecto de domínio de conhecimentos, mas de um diferencial ao<br />

acreditarem na formação de um ser mais justo, solidário e sabedor que o mudar é possível. Percebeu-se<br />

nas falas das entrevistadas que enfatizam o desencadeamento de um processo solidário, trabalhando com<br />

UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

as pessoas e não mais para as elas. Esse processo é entendido a partir da crença de que todas as pessoas<br />

possuem potencial para serem protagonistas de sua própria história, de que estão motivadas para<br />

organizarem-se e de que possuem expectativas sobre as possibilidades de mudança.<br />

Brandão (2002) enfatiza que viver numa cultura nos coloca com e dentro de um mundo em que somos e<br />

criamos, ao mesmo tempo, fios, panos, cores e possibilidades. Isso significa estabelecer em mim e com os<br />

outros a possibilidade do presente, que consiste em valores, crenças e negociações cotidianas através das<br />

quais cada um de nós torna a vida social possível.<br />

Outro fator apontado na pesquisa é a importância destes futuros educadores em apresentarem uma<br />

flexibilidade nas atividades pedagógicas, que permitam aos alunos uma constante adequação. Imbernón<br />

(2000), afirma que pensar o processo educativo no atual contexto exige uma reflexão sobre as<br />

preocupações em relação à Educação e à Escola para o século XXI:<br />

- preocupação ética: refletir sobre o tipo de homem que se quer formar e a sociedade em que se quer<br />

viver, bem como tipo de vida que se pretende ter:<br />

- preocupação política: relacionar a educação com a questão da construção, apropriação, legitimação e<br />

distribuição de poder na sociedade:<br />

- preocupação epistemológica: elaborar um pensamento de ruptura e superação das coisas prontas,<br />

coerente com a busca ética de gerar pensamento crítico, a compreensão da realidade a fim de poder<br />

transformá-la, buscando a criação de espaços dialéticos de construção e destruição de pensamento,<br />

reconhecendo a mutabilidade do conhecimento.<br />

As entrevistadas enfatizaram, que é necessário os alunos estudarem bastante, construírem um<br />

conhecimento muito além do básico, pois é neste ir além que se faz a diferença. São professores que<br />

pensam para além. Não estão preocupados apenas com o hoje, com o espaço de sala de aula, mas com o<br />

ambiente social em que seus alunos irão se inserir. Criam espaços de escuta e reflexão, propiciam<br />

flexibilidade nas atividades pedagógicas, levam em conta os interesses e a realidade do conhecimento dos<br />

educandos.<br />

Observou-se que as entrevistadas se expressam como educadores comprometidos com o ser humano e<br />

com a prática docente diferenciada. Há uma referência quanto à sua construção como profissionais,<br />

mesmo que a escolha tenha sido feita por motivos diversos.<br />

Segundo Nóvoa (1992, p.10), “ser professor obriga a opções constantes, que cruzam a nossa maneira de<br />

ser com a nossa maneira de ensinar, e que desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de<br />

ser”.<br />

Segundo o mesmo autor, para formar docentes é necessário um grande investimento no desenvolvimento<br />

da pessoa do professor, pois o profissional é primeiro, pessoa e, à medida que se apropria de seus<br />

processos pessoais de formação, se constitui como professor.<br />

Corroboram essa idéia Assmann e Jung Mo Sung ( 2000, p.245), quando afirmam que “Hoje educar<br />

significa realmente salvar vidas. Mas vale a pena salvar vidas para que se mantenham nos níveis mínimos<br />

da sobrevivência? A educação certamente pretende mais do que isso”.<br />

As entrevistas apontaram dificuldades em quatro dimensões: com relação aos alunos, aos colegas, às<br />

questões institucionais e às relacionadas ao próprio exercício profissional das professoras.<br />

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Com relação às dificuldades com os alunos, foram mencionados a falta de recursos e o pouco<br />

comprometimento com as atividades escolares; com os colegas, enfatizaram a necessidade de maior<br />

aproximação, de aceitação do novo, de atividades organizadas com objetivo de abolir a estagnação, a<br />

acomodação numa clara demonstração de rejeição dos desafios que esta proposta apresenta.<br />

Em relação às dificuldades institucionais apresentaram excesso de carga horária e falta de uma proposta<br />

coletiva, falta de recursos para atualização e compra de livros, espaços mal equipados na escola; quanto<br />

às dificuldades pessoais, demonstraram preocupação no que tange ao pouco acesso a bibliografias<br />

especializadas e a uma formação permanente.<br />

Ao mesmo tempo em que as dificuldades são postas, percebeu-se uma inquietação, por parte das<br />

professoras, em transformar esta realidade, buscando ações concretas de resistência às mudanças<br />

necessárias para uma melhor realidade educativa. Diálogo e conversa despontaram como recurso<br />

preponderante na relação com os alunos e na resolução das dificuldades encontradas. Como alternativas<br />

para minimizá-las, emergiram a importância de se enfocar o humano na sua Inteireza: dimensão física,<br />

psíquica, cognitiva e espiritual, justificada pela compreensão do Ser como um todo e, também, parte de<br />

um todo.<br />

Abordar o Ser em sua Inteireza desafiou o grupo de entrevistadas a refletir sobre “Quem eu sou?” A auto-<br />

imagem ou conceito de si emergente nas respostas às questões de como elas se definem como pessoa,<br />

envolvendo os aspectos do “eu” individual, profissional e relacional evidenciaram que estes revelam a<br />

forma segundo a qual a pessoa se vê ou a imagem que tem de si mesma.<br />

Filion (1991, p.31) corrobora, destacando que “as pessoas só realizam algo quando se julgam capazes de<br />

fazê-lo. A auto-imagem irá influenciar fortemente o desempenho do indivíduo. No conceito de si estão<br />

contidos os valores de cada um, sua forma de ver o mundo, a sua motivação”.<br />

Este olhar, para tanto, necessita buscar um equilíbrio entre os demais aspectos evolutivos, pois considerar<br />

apenas o aspecto físico no que se refere à constituição da auto-imagem da pessoa, provavelmente<br />

fragmentaria a Inteireza do próprio Ser.<br />

Referente ao seu aspecto físico, as professoras demonstraram estar muito satisfeitas e muito bem com seu<br />

EU físico. Sabem conviver com o espelho, aceitam-se, mas demonstram preocupação e buscam melhorar<br />

sua aparência, o que sugere existir uma provável harmonia entre mente e espírito. Características comuns<br />

entre elas foram o “sentir-se bem”, o “relacionar-se muito bem com seu amadurecimento”, o “bem-estar<br />

no cuidado mente-corpo”, continuando “ativas e dispostas”.<br />

Gardner (1994) define o corpo mais do que simplesmente uma outra máquina, indistinguível dos objetos<br />

artificiais do mundo, mas o recipiente do senso do indivíduo, seus sentimentos e aspirações mais pessoais.<br />

Observou-se várias palavras relacionadas ao aspecto físico associado ao cuidado com a mente tais como:<br />

vaidade, gostar, cuidar, fazer, reconhecimento, bonita, saúde, pique, qualidade, estilo, que estão<br />

relacionadas ao sentimento de preocupação com o seu eu e com a espiritualidade, acompanhando o<br />

desenvolvimento de seu físico.<br />

Apropriado estaria afirmar, tomando como base teórica os estudos de Lowen (1995, p.83), “que o nosso<br />

físico, o exterior de nosso ser, é o reflexo do que somos interiormente”.<br />

O dito popular “sua alma sua palma”, encontra respaldo, quando verificamos que há uma relação<br />

inequívoca entre “perceber-se” bonita e estar bem emocionalmente.<br />

UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

Maturana & Rezepka (2001, p.42) consubstanciam essa idéia quando ressaltam que: “é preciso<br />

acrescentar que, na unidade corpo e alma, a negação do corpo é negação da alma e que o contato com a<br />

alma é contato com o corpo, embora este contato pareça ser completamente abstrato”.<br />

Quando indagadas sobre seu aspecto intelectual, salientaram aspectos como interesse e curiosidade.<br />

Com o avanço dos estudos sobre diversas formas de inteligência, já se verifica o reconhecimento de que o<br />

desenvolvimento do intelecto depende, também, do desenvolvimento do emocional e a busca desse<br />

equilíbrio é a própria <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong>. <strong>Inteligência</strong> que pressupõe um bom conceito de si,<br />

significando um ideal real equilíbrio entre todos os “eus” existentes em nós. (Zohar e Marshall, 2000,<br />

p.19).<br />

Houve nas falas associação, entre o aspecto intelectual e as emoções bem como estreita relação entre<br />

teoria e prática.<br />

Atualmente, para que possamos compreender os avanços que nos desafiam, nos mais diversos aspectos<br />

de nossa vida, temos que considerar que o processo de formação ocorre paralelamente ao<br />

desenvolvimento das práticas docentes. Por isso, é importante que o educador abra esse espaço em seu<br />

cotidiano. A teoria ganha sentido a partir do momento que o educador estabelece relações com tudo o que<br />

desenvolve e desta forma, a dimensão intelectual potencializa a tessitura com os demais aspectos<br />

necessários a sua prática docente.<br />

Quando convidadas a falar sobre o eu individual, mais especificamente sobre a dimensão emocional, foram<br />

associadas expressões como carinho, afetividade, sensibilidade e auto-exigência.<br />

Além de reconhecerem suas emoções e sentimentos, as entrevistadas têm consciência de que influenciam<br />

suas ações e relações. Corrobora Gardner (1994) ao examinar e concluir, a partir das inteligências<br />

pessoais, que as emoções e suas manifestações fazem parte do desenvolvimento das inteligências<br />

intrapessoais e interpessoais, respectivamente: aspectos relacionais internos e externos da pessoa.<br />

Ulich (1985, p.13) refere que, ao experimentarmos sentimentos, vivenciamos a nós mesmos como seres<br />

que vivem em determinada relação com algo. Os sentimentos são “vivências afetivas” pessoais.<br />

Observou-se nas falas das entrevistadas, uma significativa importância no âmbito das relações,<br />

destacadas as de nível familiar, profissional (colegas e alunos) e mesmo de amigos.<br />

As relações se estabelecem a partir da construção pessoal, entretanto, essa vinculação com o outro é<br />

fundamental para que a pessoa possa avançar em seu processo evolutivo. Compreendermos como esse<br />

processo ocorre é fundamental para o autoconhecimento e o desvelar de nossa própria natureza.<br />

Nesta perspectiva, Gurméndez (1994) afirma que é pelo contato com os outros que nos abrimos para o<br />

mundo, criando-se complexos estados de consciência. Os encontros são apreensões reflexas, que nos<br />

despertam para o “sentir”. Amigos, assim como a família, são referenciais de sentimentos.<br />

Ao analisar o aspecto profissional, percebeu-se que algumas professoras compreendem seu papel,<br />

reconhecendo que, ao atuar profissionalmente em seu cotidiano, envolvem escolhas e, em certos<br />

momentos, essas trariam realizações ou questionamentos.<br />

Segundo Hawley (1995, p. 33) “todos nós temos fome de objetivos, significados e identidade, fome de<br />

um contato mais rico com a vida. Qual o nosso objetivo com a profissão que escolhemos? De que maneira<br />

nos relacionamos em nosso local de trabalho”?<br />

UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

Encontrar respostas aos questionamentos propostos pelo autor envolve um mergulho interior e um sair de<br />

si, pois os objetivos que escolhemos dependem deste encontro e também da forma como nos envolvemos<br />

com as pessoas no ambiente profissional. Entretanto, é importante abrirmos espaços para esse encontro<br />

conosco. Nas reflexões das professoras, percebeu-se que algumas conseguem abrir esse espaço, outras<br />

ainda necessitam conquistá-lo para autoconhecerem-se e assim relacionarem-se melhor consigo e com os<br />

outros.<br />

Para Maturana e Rezepka (2001, p. 280), “quando alguém respeita a si mesmo, recupera a integridade de<br />

um viver emocional e intelectual autônomo como um ser social que não busca a sua identidade fora de si,<br />

porque não está em contradição com o espaço social a que pertence”.<br />

Somos construtores de novos significados. Compreender e desvelar o eu em conexão com o outro é uma<br />

tarefa que exige um olhar mais reflexivo para ali redimensionar o que ainda impede uma ampliação da<br />

consciência.<br />

Quem somos? Por que optamos por esse caminho e não outro? São questionamentos que devem nos<br />

acompanhar constantemente, pois através deles poderemos ir além do que normalmente estaria<br />

estabelecido e, essa noção de sentido, permeia a atuação profissional das entrevistadas.<br />

Cumpre ressaltar que, além da busca de sentido, as entrevistadas denotaram uma elevada auto-exigência<br />

o que pode ser compreendido tanto em nível profissional como emocional.<br />

<strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida e <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong>: uma estreita<br />

relação<br />

Segundo Wolman (2001, p.155), para investigar a espiritualidade é preciso “superar conceitos criados pelo<br />

pensamento e pela linguagem psicodinâmica”, é necessário “ir além das formas convencionais”.<br />

Desta forma, criou um inventário de questões, baseado nas experiências pessoais, que pudesse avaliá-la<br />

por meio de pontos comuns.<br />

Para este autor qualquer método que estude a espiritualidade deve reconhecer também, o mundo<br />

psicológico e emocional das pessoas que se está investigando. “A espiritualidade pode ser considerada<br />

como abrangendo a religião ou a religiosidade (...), tem a ver com a atitude e a postura de uma pessoa<br />

diante do mundo exterior, o mundo da organização social, e com a visão que ela possui de passado,<br />

presente e futuro” (Wolman, 2001, p. 163).<br />

O espiritual tem por significado “o centro existencial do relacionamento de uma pessoa com o mundo”<br />

(p.170).<br />

A partir de um estudo-piloto, o autor encontrou sete fatores emergentes, os quais denominou: Divindade,<br />

Diligência, Intelectualidade, Comunidade, Trauma, Percepção Extra-Sensorial e <strong>Espiritual</strong>idade na Infância,<br />

que não devem ser considerados isoladamente e que demonstram em seus resultados, a ênfase colocada<br />

em cada um deles em particular.<br />

Um resultado alto ou baixo nesses diferentes fatores é apenas uma das muitas maneiras de experimentar<br />

a espiritualidade ou de deixar essas dimensões influenciarem a forma de espiritualidade de uma pessoa.<br />

O fator Divindade aponta para áreas de vida comumente associadas à espiritualidade. Inclui um conceito<br />

de algum tipo de Fonte de Energia Divina, <strong>Inteligência</strong> Transcendental, Força Superior ou Deus,<br />

englobando práticas e crenças tradicionais.<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

De acordo com a pesquisa realizada, percebeu-se no fator Divindade a prevalência do índice alto que se<br />

evidencia quando a prece e a sensação de deslumbramento provavelmente nos acompanham ao longo da<br />

vida. As entrevistadas percebem uma presença divina ao verem um deslumbrante pôr-do-sol ou alvorecer,<br />

ao viverem um belo dia ou observarem a estrutura de uma flor um céu estrelado. O significado da<br />

existência é visto por elas como uma conexão a um fenômeno transcendental mais amplo, em vez de<br />

estar estritamente fundamentado nas preocupações pragmáticas da vida diária. Lembram a si mesmas<br />

que os seres humanos estão na terra por um propósito, sentindo a presença de uma força maior que elas<br />

mesmas. Também indica terem a visão de trabalho como um dever Sagrado, em que o significado e o<br />

propósito são revelados num esforço diário. Entendem os eventos da vida como parte de um plano Divino.<br />

Um resultado alto nesse fator tem implicações na maneira de se relacionarem com os membros da família<br />

como uma fonte de conexão abençoada e como a aprecia como parte do dom da vida, baseada no amor e<br />

no sentimento de conexão a uma força vital transcendente.<br />

O Fator Diligência denota atenção, por meio de uma vida consciente, de atividades e atitudes que<br />

aumentem a qualidade de vida mediada pela melhoria da saúde física e psicológica. Uma das marcas de<br />

autenticidade de Diligência é o uso de terapias integradoras e alternativas. Este fator implica atenção<br />

cuidadosa ao estado do corpo como uma extensão da mente.<br />

Neste fator, o índice mais presente referiu-se ao moderado, seguido do índice alto e baixo.<br />

O resultado moderado indica que as entrevistadas reservam um tempo para a auto-reflexão e a<br />

contemplação. Prestam atenção especial aos alimentos que comem e seus relacionamentos pessoais são<br />

fontes de prazer e de apreciação da meditação como parte significativa de suas vidas. Este resultado está<br />

relacionado a prazeres associados com técnicas de respiração, relaxamento, exercícios e auto-expressão<br />

por elas praticados por meio da música, poesia ou dança o que fazem com que se sintam conectadas com<br />

o seu corpo.<br />

O Fator Intelectualidade está relacionado a uma energia associada a pensamento, compreensão e diálogo<br />

em relação a questões e preocupações fundamentais.<br />

Este fator revela o grau em que a pessoa pensa, reflete, estuda e conversa com os demais sobre questões<br />

espirituais e sagradas, bem como compreender e analisar a dimensão da investigação na vida de cada um<br />

e como é possível utilizar essa aptidão em áreas específicas da atividade espiritual.<br />

O fator Intelectualidade evidencia a energia dedicada a questionar a natureza da existência, o significado<br />

da vida e as razões teóricas possíveis para a existência do mal no mundo.<br />

Além disso, pode promover uma ampliação de consciência, possibilitando um entendimento equilibrado,<br />

objetivo e racional a questões polêmicas e dolorosas.<br />

Observando os resultados obtidos, junto às professoras da pesquisa, predomina o índice moderado, que<br />

denota serem apreciadoras de eventos associados ao contínuo aperfeiçoamento, seja em nível profissional<br />

ou abrangendo campos como as artes, política, ciência e espiritualidade. Despendem muito tempo e<br />

energia lendo, discutindo e estudando dimensões da espiritualidade. São pessoas intelectualmente<br />

curiosas e sentem prazer na atividade mental e cognitiva associada à experiência espiritual. Refletem<br />

sobre a justificativa da existência de Deus ou de um poder superior, o significado e o propósito da vida, a<br />

finalidade da morte e a possibilidade da imortalidade da alma, assumindo sua existência. Discutem<br />

espiritualidade ativamente e os ensinamentos da religião tradicional.<br />

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<strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> e <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida<br />

Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

O Fator Trauma está relacionado a crises e experiências difíceis e dolorosas da vida, constituindo-se<br />

freqüentemente como um estímulo à espiritualidade a partir dessas. Eventos traumáticos, sobretudo na<br />

infância, podem gerar efeitos profundos. Dentre esses acontecimentos, podemos citar comprometimento<br />

do nível emocional (escassez ou mesmo ausência de afeto, respeito, carinho, agressões, maus tratos<br />

físicos ou psicológicos), testemunho ou experiência de doença física ou emocional em si mesmo ou em<br />

outros e perda de entes queridos. Aliado a esses fatores, ainda, pode estar presente um sistema de<br />

valores que não promove alternativa espiritual a pessoas que buscam conforto.<br />

Nos estudos de Wolman (2001), sujeitos com experiências traumáticas significativas descreveram a<br />

sensação de estarem mais próximos de Deus, evidenciando a busca de fontes de energia na tentativa de<br />

obter esperança e acolhida. Em outras palavras, inúmeros indivíduos, em situações de expressivo<br />

sofrimento, sentem que este tem um significado, vivenciam uma profunda conexão com contextos<br />

espirituais mais amplos e com o divino. Denota-se, dessa forma, o inter-relacionamento ativo entre os<br />

fatores, nesse caso, particularmente, com o fator Divindade.<br />

Partindo dos resultados da pesquisa, observou-se que as entrevistadas revelam encontrar-se, neste fator,<br />

no nível moderado. Denotam que há uma maior ligação entre os membros da família, demonstrando um<br />

sentimento de superproteção com as pessoas que vivenciaram tal situação. Há, nessas pessoas, uma forte<br />

noção do valor da conexão pessoal ou da natureza transitória da existência que fortalece sua própria<br />

espiritualidade. Algumas reagem ao trauma com clareza de visão. O distanciamento psíquico serve para<br />

entorpecer a dor das entrevistadas e permite que falem de perdão, demonstrem compaixão e transcendam<br />

o drama vivido. A fé em Deus, afirmam ser o que as ajudou atravessar os momentos de dor.<br />

O fator Percepção Extra-sensorial representa “(...) modos alternativos de conhecer o próprio eu e sua<br />

relação com o mundo” (p. 225).<br />

Neste fator estão incluídos os eventos psíquicos considerados paranormais, o chamado “sexto sentido”, os<br />

sentimentos de conexão como uma força superior e a tomada de decisões baseada na intuição.<br />

O autor reforça que “(...) a mente não é possível sem o apoio da fisiologia do cérebro, mas as duas não<br />

são sinônimos (...) A mente em geral é usada como sinônimo de alma, essa força vital misteriosa e elusiva<br />

que constitui a essência de sermos humanos” (p. 231).<br />

Da mesma forma como no fator Divindade, houve, também, uma ocorrência de resultados que variaram<br />

do alto ao baixo.<br />

Na Percepção Extra-Sensorial, o percentual alto atingiu maior incidência entre as entrevistadas o que<br />

significa possuírem um elevado sentimento de conexão com o mundo, além de apresentarem fortes<br />

tendências a tomar decisões baseadas na intuição e de acreditarem em guias espirituais que lhes auxiliam<br />

nos momentos de crise. Pressentem quando alguma coisa vai acontecer e recebem telefonemas ou<br />

encontram pessoas quando pensam nelas ou logo depois. Sentem a presença de pessoas queridas<br />

falecidas, podendo com elas de alguma forma se comunicar e pensam em suas almas vivendo além de<br />

seus corpos.<br />

O fator Comunidade é definido pela preocupação com os outros. Baseia-se na compaixão que “implica ter<br />

consciência das necessidades e preocupações dos outros, e atender a essas necessidades torna-se um ato<br />

moral” (p. 244).<br />

As professoras entrevistadas apresentaram um resultado alto neste fator, evidenciando que participam de<br />

atividades solidárias e beneficentes, trabalham para uma comunidade ou grupo de forma voluntária, sendo<br />

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Leda Lísia Franciosi Portal et al<br />

encorajadas por suas famílias, pois têm consciência das necessidades dos outros. São pessoas que<br />

dedicam tempo para uma comunidade espiritual e freqüentam cerimônias religiosas.<br />

O fator <strong>Espiritual</strong>idade na Infância baseia-se na experiência com as noções espirituais vivenciadas na<br />

infância, seja por meio da família, filmes ou peças teatrais sobre assuntos religiosos. Essas experiências<br />

podem ser tanto negativas quanto positivas, além de sugerirem a presença ou ausência do ritual na vida<br />

das pessoas.<br />

As entrevistadas obtiveram resultado alto nesse fator, mostrando que participaram de atividades<br />

espirituais muito significativas e freqüentaram celebrações religiosas quando crianças; rezavam à noite<br />

antes de dormir e escutavam seus pais lhes falarem de Deus; atualmente, suas vidas religiosas estão<br />

embasadas na noção de Deus construída na Infância.<br />

Os resultados altos obtidos pelas entrevistadas, sugerem a presença de ritual em suas vidas “(...) um<br />

comportamento sagrado repetido, conecta o passado ao presente e fornece um sistema para a memória”<br />

(p. 285).<br />

São pessoas que dão ênfase aos aspectos espirituais da aprendizagem, demonstrando que viveram em um<br />

ambiente repleto de “experiência espiritual explícita e em suas salas buscam continuar sua própria história<br />

ou criar uma nova para seus alunos e em conjunto com eles” (p. 286).<br />

Para Wolman (2001), a combinação de resultado alto ou moderado em <strong>Espiritual</strong>idade na Infância e em<br />

Comunidade realça as experiências positivas na infância, o que pode ser observado nas professoras que<br />

obtiveram resultados altos nestes dois fatores.<br />

Por uma Conclusão Provisória<br />

Analisadas as falas das entrevistas que relatam experiências docentes bem sucedidas dos professores da<br />

investigação e comparadas como os indicadores de <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> evidenciados no Inventário,<br />

conclui-se existir uma relação inequívoca entre <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida e <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong><br />

<strong>Ampliada</strong>. Tal constatação possibilita afirmar que os professores que fizeram parte deste estudo e os que a<br />

eles se assemelham denotam uma <strong>Inteligência</strong> <strong>Espiritual</strong> <strong>Ampliada</strong> exercitada em suas <strong>Prática</strong>s<br />

Pedagógicas e em suas Vidas, dando sentido ao seu processo de harmonização e hominização, percebendo<br />

que fazem à diferença.<br />

Diante dos resultados, sugere-se a necessidade de maior sensibilização dos Cursos de Formação de<br />

Educadores para que invistam em seus programas no desenvolvimento da Dimensão <strong>Espiritual</strong>, resultando<br />

numa <strong>Prática</strong> <strong>Docente</strong> <strong>Bem</strong> Sucedida, como elo propulsor de uma tessitura que revela novos rumos para a<br />

Educação: o Despertar da Inteireza.<br />

Referências<br />

ASSMANN, H. 2000. Metáforas novas para reencantar a educação: epistemologia e didática. 3ª ed.,<br />

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UNIrevista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)<br />

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