Variedades de mandioca recomendadas para o Estado da ... - Seagri

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Bahia Agríc., v.7, n.3, nov. 2006
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Socioeconomia
Socioeconomia
Variedades de mandioca
recomendadas para o
Estado da Bahia
O
Estado da Bahia destaca-se
como o segundo maior produtor
de mandioca do Brasil,
contribuindo com 16,3% da produção
nacional (IBGE, 2005). Grande
parte dessa produção é destinada
à fabricação de farinha e fécula.
Ultimamente, o seu emprego na
alimentação de animais domésticos
vem crescendo, por se tratar de uma
excelente fonte de carboidratos nas
raízes e de proteína nas folhas. O
mercado de mandioca para mesa
também é uma boa alternativa para a
diversificação da cultura, o que já
vem ocorrendo nas regiões Centro-
Sul e Sul do Brasil, apresentando
potencial de expansão na região
Nordeste (FUKUDA et al, 2002).
A cultura da mandioca apresenta
ampla adaptação a diferentes
condições edafoclimáticas, sendo
cultivada em todos os ecossistemas
do país (FUKUDA; IGLESIAS, 2003).
Uma de suas vantagens é a capacidade
de sobreviver a prolongados
períodos de seca. Para os
agricultores do Nordeste do Brasil,
esta é uma das características mais
importantes do cultivo da mandioca.
Apesar disso, nem todas as variedades
de mandioca resistem à seca.
Uma estratégia capaz de reduzir os
efeitos do déficit hídrico sobre a
produtividade da mandioca no
Nordeste é a seleção e o uso de
variedades mais tolerantes. Cerca de
40% do Estado da Bahia estão
Wania Maria Gonçalves Fukuda*
Chigeru Fukuda*
Osório Vasconcelos**
Josué Ladeira Folgaça**
Haroldo Peso Neves**
Geovane Tadeu Carneiro**
localizados no semi-árido. A disponibilização
de variedades de
mandioca adaptadas ao semi-árido
da Bahia é uma das formas de
reduzir os prejuízos causados pela
seca sobre este cultivo.
Por outro lado, o desenvolvimento
da indústria de farinha e fécula no
Brasil tem demandado novas variedades
com teores de amido mais elevados
nas raízes e qualidades que agreguem
valor ao produto.
Um dos objetivos do programa de
melhoramento genético da Embrapa
Mandioca e Fruticultura Tropical é
elevar o teor de amido nas raízes de
mandioca para a indústria de farinha
e fécula e identificar variedades mais
resistentes à seca no Nordeste.
*Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical – CNPMF, Cruz das Almas – BA; e-mail: wfukuda@cnpmf.embrapa.br,
cfukuda@cnpmf.embrapa.br.
**Técnicos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Gerência Regional de Caitité-BA.
Foto: Acervo Biblioteca SEAGRI-BA
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Socioeconomia
Variedades de
mandioca para
a indústria de
farinha e fécula
A cultura da mandioca apresenta,
em média, 30% de matéria seca nas
raízes, embora haja registros de até
45%. Os teores de matéria seca nas
raízes são altamente correlacionados
com os teores de amido ou fécula e
depende da variedade, do local onde
se cultiva, da idade e época de colheita.
Vários estudos sobre o potencial
de produção de amido foram desenvolvidos
com a cultura da mandioca
no Brasil, observando-se uma ampla
diversidade genética da espécie para
este fator, variando de 5% a 43%.
No ano de 2004 foi recomendada
pela Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical a variedade BRS Formosa, para
o semi-árido da Bahia, resistente à
bacteriose, na região Sudoeste do Estado,
e com teores de matéria seca na
raiz em torno de 40%, aos 18 meses
de idade. Esta variedade foi desenvolvida
a partir de cruzamentos realizados
por esse centro de pesquisas, em 1986,
em campos de policruzamento, em
Cruz das Almas, tendo como parental
feminino a variedade BGM 361, recebendo
o código inicial CNPMF 8670-74.
Durante vários anos essa variedade
foi submetida a fortes pressões
de bacteriose (Xanthomonas
campestris pv. Manihotis ), comum na
região dos cerrados, onde foi selecionada
inicialmente por sua resistência
a esta doença.
No período compreendido entre
os anos de 1997 a 2001, a variedade
BRS Formosa (Quadro 1) foi avaliada
em provas participativas em 14
comunidades de agricultores localizadas
nos municípios de Igaporã,
Caetité, Lagoa Real, Paramirim,
Macaúbas, Riacho de Santana e
Aracatu (FUKUDA et al., 2003),
situados na região semi-árida do
Sudoeste da Bahia. Onde a temperatura
e altitude variam entre os locais,
com ocorrências de temperaturas
mínimas entre 17ºC e 20ºC e
máximas entre 28ºC a 32ºC, com
amplitude que ultrapassa mais de
10ºC. Estas condições favorecem o
desenvolvimento da bacteriose. Os
solos apresentam baixa fertilidade,
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são pobres em fósforo e potássio e
apresentam uma textura arenosa ou
ligeiramente argilosa. As provas participativas
com variedades foram
desenvolvidas utilizando-se o sistema
tradicional de cultivo do agricultor,
sem o uso de insumos.
Os rendimentos de raízes foram
muito variáveis de acordo com os
municípios, o ano e as comunidades,
apresentando uma média geral de
22,60 t/ha, tendo alcançado o seu
potencial máximo de produção em
torno de 54 t/ha, na comunidade de
Várzea da Madeira, no município de
Paramirim. Os teores de matéria
seca nas raízes variaram de 30,6% na
comunidade de Peixe, no município
de Lagoa Real, a 40,5% na comunidade
de Tanquinho II, no município
de Caetité. De acordo com os resultados
de pesquisa, essa cultivar se
adapta bem às condições semi-áridas
do Sudoeste da Bahia tendo apresentado
sua melhor performance nos
municípios de Paramirim, Macaúbas,
Riacho de Santana, Igaporã, na
comunidade de Poções e em Caetité,
na comunidade de Ingazeiro/Imbu.
Suas principais vantagens em
relação às testemunhas locais consistem
de sua alta resistência a bacteriose,
tolerância à seca, fundamental
para essas condições,
produtividade
de raízes, parte aérea e
maior teor de matéria
seca nas raízes. Por todas
essas características, essa
cultivar foi preferida pelos
agricultores, em detrimento
da variedade
local, na maioria das comunidades
onde foi
avaliada. A cultivar BRS
Formosa (Figura 1) está
sendo multiplicada e
utilizada por agricultores
da região.
Em 2005, a Embrapa
Mandioca e Fruticultura
Tropical selecionou para
recomendação as variedades
BRS Mulatinha,
BRS Guaíra e BRS Prata,
para indústria de farinha
e de amido, adaptadas
ao semi-árido baiano.
A variedade BRS
Mulatinha (Figura 2) foi
denominada originalmente
pelo código 9121/05
Bahia Agríc., v.7, n.3, nov. 2006
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e desenvolvida a partir de cruzamentos
realizados pela Embrapa
Mandioca e Fruticultura Tropical no
ano de 1991, em campos de policruzamento,
tendo como parental feminino
a variedade BGM 491 (Quadro 2).
No período compreendido entre
os anos de 1999 a 2001, essa variedade
foi introduzida e avaliada em
provas participativas em propriedades
de agricultores de vários ecossistemas
da região semi-árida do Nordeste,
utilizando-se o sistema tradicional
de cultivo do agricultor, sem
o uso de insumos. Na região de
Itaberaba e no município de Marcionílio
Souza, mais especificamente no
Assentamento do Caxá, essa variedade
apresentou rendimentos de raízes
aos 18 meses de idade, variando
entre 20,2t/ha a 24,6t/ha, contra 1,2t/
ha a 7,6t/ha de raízes da testemunha
local, a variedade Platina. Os teores
de matéria seca e de amido desta
variedade ficaram em torno de 36,5%
e 31,9%, respectivamente, contra
32,7% e 28,1% da testemunha local.
De acordo com os resultados de pesquisa,
essa variedade se adapta bem
às condições semi-áridas do Estado
da Bahia, com especificidade a região
do sopé da Chapada Diamantina, que

Foto: Maurício Mascarenhas
se caracteriza por apresentar uma precipitação
média anual em torno de
600 mm, concentrada nos meses de
novembro a janeiro. A temperatura
média anual é em torno de 30 graus
centígrados e os solos são de textura
arenosa, com níveis de fósforo variando
de 0,7 a 2 ppm; potássio de 37 a 92
ppm; e Ca + Mg de 1,1 a 2,1 meq/100
cm 3 .
Suas principais vantagens em relação
à testemunha local consistem na
alta taxa de germinação, fundamental
para essas condições, produção de
material de plantio de boa qualidade,
maior produtividade e maior teor de
amido e matéria seca nas raízes. Por
todas essas características, essa variedade
apresentou alta probabilidade
de estar entre as três cultivares preferidas
pelos agricultores que as avaliaram,
superando a variedade local.
Essa nova cultivar está sendo mul-
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Bahia Agríc., v.7, n.3, nov. 2006
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Socioeconomia
Figura 1 - cultivar BRS Formosa
tiplicada pela EBDA, pela Embrapa
Mandioca e Fruticultura Tropical e
por agricultores do Assentamento do
Caxá, no município de Marcionílio
Souza, para plantios em maior escala
e com grande probabilidade de adoção
e difusão na região.
A variedade BRS Guaíra (Quadro
3) foi denominada originalmente pelo
nome comum de Cambadinha, sendo Figura 2 - cultivar BRS Mulatinha
originária do município de São José do
Belmonte, em Pernambuco (Figura 3).
Foi coletada e introduzida no Banco
Ativo de Germoplasma de Mandioca
da Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical, no ano de 1991, onde recebeu
o código BGM 1318.
Posteriormente, foi introduzida na
região Sudoeste da Bahia para avaliação
e seleção pelos agricultores para
uso na indústria de farinha e fécula.
No período de 1999 a 2001 foram
estabelecidas quinze provas participativas
com 10 variedades de mandioca,
em quinze comunidades de
agricultores de doze municípios situados
no Sudoeste da Bahia: Passagem
de Areia, Formosa I, Formosa II, Morros
(Caetité); Rio do Tanque (Igaporã);
Alecrim (Caculé); Boa Sorte (Jacaraci);
Tamburiu (Livramento); Noruega
(Paramirim); Poções (Boquira);
Peixe (Macaúbas); Lagoa Vereda (Licínio
de Almeida); Vereda
(Botuporã); Várzea
da madeira (Tanque Novo)
e Boa Vista (Piripá).
Os rendimentos de
raízes foram muito variáveis,
de acordo com
as variedades, os municípios,
os anos e as
comunidades, tendo a
variedade BRS Guaíra
(BGM 1318) se destacado
das demais, com
uma produção de raízes
de 31,40 t/ha e 36%
de amido nas raízes,
aos doze meses de idade,
superando a variedade
local.
A variedade BRS
Guaíra foi eleita pelos
agricultores, em primeiro
lugar, em nove
das quinze provas participativas
realizadas no
semi-árido do sudoeste
da Bahia, com 60% de
probabilidade de ser
adotada pelos agricul-
tores, contra 13,33% de aceitação assumida
pela variedade local, usada
como testemunha.
Suas vantagens em relação à variedade
local são a cor branca da
película e da polpa das raízes, facilidade
de descascamento, teor e
qualidade de amido, rendimento de
raízes e alta probabilidade de adoção
pelos agricultores.
De acordo com os resultados de
pesquisa, essa cultivar se adapta bem
às condições semi-áridas do Sudoeste
da Bahia, tendo apresentado melhor
performance nos municípios de Caetité,
Igaporã, Caculé, Jacaraci, Livramento,
Paramirim, Macaúbas, Boquira,
Licínio de Almeida e Botuporã.
A cultivar BRS Guaíra está sendo
multiplicada pela EBDA e por agricultores
da região de Caetité para
plantios em maior escala e com grande
probabilidade de adoção e difusão
na região.
A variedade BRS Prata (Quadro 4)
foi denominada originalmente pelo
código 9166/01 e desenvolvida a
partir de cruzamentos realizados pela
Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical no ano de 1991, em campos
de policruzamento, tendo como parental
feminino a variedade BGM
1044 (Figura 4).
Em Itaberaba, esta variedade foi
selecionada por sua resistência à
seca, sobrevivendo a um período de
10 meses de estiagem com um rendimento
de raízes de 8 t/ha, aos 10
meses, contra 1,3 t/ha da testemunha
local “Platina”.
No período compreendido entre
os anos de 1998 a 2001, esta variedade
foi avaliada em provas participativas
em propriedades de agricultores
de vários ecossistemas da região
semi-árida do Nordeste, utilizando-se
o sistema tradicional de cultivo do
agricultor, sem o uso de insumos.
Na comunidade Vitório, em Itaberaba,
esta variedade apresentou rendimentos
de raízes de 22,0t/ha e
38,6% de matéria seca nas raízes aos
Foto: Maurício Mascarenhas
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Foto: Maurício Mascarenhas
Socioeconomia
Figura 3 - cultivar BRS Guaíra
18 meses de idade, contra 8,6t/ha
e 31,6% de matéria seca apresentado
pela testemunha local, a variedade
Platina. Na comunidade de Lagoa
de Jenipapo, no município de Boa
Vista do Tupim, esta variedade apresentou
rendimentos de raízes, variando
entre 18,8 t/ha a 26,0 t/ha de raízes
e teores de amido em torno de 33%,
18 meses após o plantio, contra 12 t/ha
e 36% de matéria seca da variedade
testemunha, Olho Roxo.
Suas principais vantagens em
relação à testemunha local consistem
de sua alta taxa de germinação,
produção de material de plantio de
boa qualidade, maior produtividade
de raízes e maior teor de amido e
matéria seca nas raízes em relação a
testemunha local Platina, além de
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raízes com película e polpa branca,
uma característica desejável pelos
agricultores da região, similar a
cultivar local Platina.
Por todas essas características, a
variedade BRS Prata apresentou
50% de probabilidade de estar entre
as três variedades preferidas pelos
agricultores que a avaliaram, superando
em preferência as variedades
locais. A Platina é a variedade mais
plantada na região, e apesar de suas
boas características de resistência à
seca, vem perdendo seu potencial
de produtividade e capacidade de
germinação das sementes ao longo
dos anos, com um forte risco de erosão.
De acordo com os resultados de
pesquisa, essa variedade se adapta
bem às condições semi-áridas da
Bahia, principalmente da região
do sopé da Chapada Diamantina,
especialmente dos municípios de
Itaberaba, Boa Vista do Tupim e
Marcionílio Souza. Esses municípios
se caracterizam por apresentar uma
precipitação média anual entre
500mm e 750mm, concentrada nos
meses de novembro a janeiro e solos
do tipo Latossolos Amarelos e
Podzólicos, com baixa fertilidade.
Bahia Agríc., v.7, n.3, nov. 2006
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Figura 4 - cultivar BRS Prata
REFERÊNCIAS
IBGE. Sidra. Agricultura. Disponível: . Acesso em: 21 nov.
2005.
FUKUDA, W. M. G. et al. Cultivares
de mandioca recomendadas para o Brasil –
2002. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca
e Fruticultura, 2002. 8p. (Circular de
Pesquisa, 49).
FUKUDA, W. M. G. et al. Cultivares de
mandioca resistentes a bacteriose selecionadas
com a participação de agricultores do Sudoeste
da Bahia. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca
e Fruticultura, 2003. 8p (Circular de
Pesquisa, 56).
FUKUDA, W. M.; IGLESIAS, C. Melhoramento
de mandioca. Cruz das Almas: Embrapa
Mandioca e Fruticultura, 2003. 53p.
(Documentos, 104).
Foto: Maurício Mascarenhas