30.04.2013 Views

Kléos, Revista de Filosofia Antiga - Programa de Estudos em ...

Kléos, Revista de Filosofia Antiga - Programa de Estudos em ...

Kléos, Revista de Filosofia Antiga - Programa de Estudos em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PRAZER, SENSAÇÃO E ERRÂNCIA EM PLATÃO<br />

verda<strong>de</strong>iro somente as coisas que têm “forma corporal” (swmatoei<strong>de</strong>/j).<br />

Esse processo t<strong>em</strong> como resultado a inversão do <strong>de</strong>creto natural,<br />

ou seja, a geração <strong>de</strong> uma composição <strong>em</strong> que o corpo faz da alma sua s<strong>em</strong>elhante,<br />

tornando-a “co-natural” (su/mfuton), “por meio <strong>de</strong> intensa prática” (dia\<br />

th\n pollh\n mele/thn) até que, ela se torna completamente “perpassada pelo<br />

el<strong>em</strong>ento corporal” (dieilhmme/nhn ... u(po\ tou= swmatoeidou=j).<br />

A perspectiva da prisão ou, o que dá no mesmo, o ponto <strong>de</strong> vista do<br />

corpo, constitui, enquanto “visão das coisas”, uma máthesis, um saber, ainda<br />

que subversivo, e o amigo do corpo, o philosómatos, torna-se, por conseqüência,<br />

o maior inimigo das Formas.<br />

Entretanto, o ponto mais importante da exposição <strong>de</strong> Sócrates, nessa<br />

passag<strong>em</strong>, v<strong>em</strong> na seqüência: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter fundado ontologicamente a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um perspectivismo hedonista – que traz à luz para combater –<br />

Sócrates revela o caráter mais surpreen<strong>de</strong>nte e “terrível” (th\n <strong>de</strong>ino/thta) <strong>de</strong>ssa<br />

prisão, que “só a filosofia po<strong>de</strong> discernir”: “essa prisão é obra dos apetites<br />

(di )e)piqumi/aj) e é construída <strong>de</strong> tal forma que ‘o enca<strong>de</strong>ado’ (o( <strong>de</strong><strong>de</strong>me/noj)<br />

colabora, o máximo que po<strong>de</strong>, ‘com o seu próprio enca<strong>de</strong>amento’ (tw=|<br />

<strong>de</strong><strong>de</strong>/sqai)”. Há que se chamar a atenção, aqui, para o fato <strong>de</strong> o enca<strong>de</strong>ado <strong>em</strong><br />

questão ser a alma e <strong>de</strong> que esse papel da alma <strong>de</strong> colaboradora do corpo<br />

indica a transformação <strong>de</strong> sua natureza <strong>em</strong> uma segunda natureza perpassada<br />

pelo el<strong>em</strong>ento corporal. A alma submetida, somatizada, é equivalente ao resultado<br />

previsto, no Górgias, com a eliminação das fronteiras e seu <strong>em</strong>baralhamento.<br />

Uma submissão que é sentida como dominação, domínio que se manifesta<br />

numa forma <strong>de</strong> saber 12 .<br />

6. O acompanhamento do t<strong>em</strong>a do prazer e da sensação <strong>de</strong>ntro do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos Diálogos tornou possível, como julgamos mostrar este<br />

estudo, essa recuperação do solo comum <strong>de</strong> on<strong>de</strong> esses dois conceitos se enraízam.<br />

Des<strong>de</strong> a questão inaugural do Protágoras sobre a potência da aparência<br />

aos <strong>de</strong>sdobramentos que o t<strong>em</strong>a obteve na filosofia platônica, é evi<strong>de</strong>nte o<br />

12 Sobre o caráter cognition <strong>de</strong>ssa submissão diz Charles Kahn (Plato’s theory of <strong>de</strong>sire. Review of Metaphysics,<br />

Washington DC, v. 41, n. 1, p. 77-103, Sept. 1987): “When one feels intense pleasure or pain concerning a<br />

given object, one is forced to regard this thing as clearly real and true, although it is not... Each pleasure and<br />

pain is like a nail which clasps and rivets the soul to the body and makes it corporeal, so that it takes for real<br />

what the body <strong>de</strong>clares to be so. Unless it is enlightened by philosophy, reason is obliged to live in the darkness<br />

of the cognitive cave, constructed by sensual appetites, or by thymos, by ambition and competition for honor:<br />

one´s ontology is affected by one´s favorite pursuits” (p. 99). Grifo nosso.<br />

K LÉOS N.5/6: 23-34, 2001/2<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!