Kléos, Revista de Filosofia Antiga - Programa de Estudos em ...
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PRAZER, SENSAÇÃO E ERRÂNCIA EM PLATÃO<br />
7. Todos esses el<strong>em</strong>entos articulados possibilitam novas consi<strong>de</strong>rações<br />
sobre o papel do prazer e da sensação no contexto dos Diálogos. Será<br />
preciso fazer, ainda, para além dos limites <strong>de</strong>ste artigo, a análise dos <strong>de</strong>sdobramentos<br />
<strong>de</strong>ssas conclusões no Filebo. Como se sabe, presume-se,<br />
justificadamente, que seja no Filebo – um dos últimos diálogos <strong>de</strong> Platão – que<br />
se <strong>de</strong>va encontrar a palavra final <strong>de</strong> Platão sobre os prazeres.<br />
Não apenas uma palavra final diante <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a resolvido,<br />
mas a palavra que reitera a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra que ecoa <strong>em</strong> todas as cenas<br />
dos Diálogos. Talvez seja mais justo dizer que não se trata <strong>de</strong> uma luta apenas<br />
contra o prazer, tomado isoladamente – isso nós já sab<strong>em</strong>os não ser o caso -<br />
mas uma luta contra a potência da aparência. Seria preciso enten<strong>de</strong>r que o<br />
probl<strong>em</strong>a maior que o prazer apresenta para Platão é – o que ele não se cansou<br />
<strong>de</strong> afirmar – o fato <strong>de</strong> ele estar ligado à produtivida<strong>de</strong> do falso. Nesse sentido,<br />
o prazer ocupa um lugar na série <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos da falsida<strong>de</strong>, não um lugar<br />
entre outros, mas um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, talvez até o primeiro lugar, capaz <strong>de</strong><br />
fornecer munição a sofistas, poetas, cozinheiros, pintores, tiranos, etc. Um<br />
lugar mais insidioso até que o do próprio não-ser, visto que, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>,<br />
no Sofista, o parricídio filosófico ser cometido e a existência dos discursos<br />
falsos ser afirmada, seja ainda ele, o prazer, que se ergue <strong>em</strong> <strong>de</strong>safio diante do<br />
velho filósofo. Diz<strong>em</strong> alguns: “Dóxa falsa po<strong>de</strong> produzir prazeres verda<strong>de</strong>iros!”<br />
E eis que a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> novo está <strong>de</strong> pé, por mais <strong>de</strong>salentador que<br />
isso possa parecer aos Acadêmicos. “Mas a dóxa falsa não contamina o prazer<br />
com a sua falsida<strong>de</strong>!”– Insist<strong>em</strong>. Teria o direito <strong>de</strong> existência, dado ao não-ser,<br />
<strong>de</strong>ixado inafetada a falsida<strong>de</strong> dos prazeres? Tais dificulda<strong>de</strong>s foram suficientes<br />
para motivar Platão a projetar o combate final que o Filebo representa. A última<br />
batalha ontológica platônica, ao que parece, não foi contra o não-ser, como<br />
pensam alguns, mas contra um inimigo muito mais antigo que o não-ser, e<br />
muito mais resistente que o não-ser: o prazer.<br />
K LÉOS N.5/6: 23-34, 2001/2<br />
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