GONÇALVES, Tatiana Mol. Devoção à Virgem em Mariana

[...]” 51 A utilização de imagens, por sua vez, estava associada à prática de procissões,
que poderiam ser internas ao espaço da igreja - “[...] exorto aos seus aplicados da dita
Capela e ao mesmo Reverendo Capelão levem em procissão ao redor da imagem da
mesma Senhora em um andor decentemente preparado com algumas opas e luzes [...]”,
52 - ou percorrer as ruas das cidades: “[...] que possa sair em procissão de dia pelas Ruas
do Arraial ou aonde o não houver em cerco da Igreja, à exceção só de algum dia em que
a circunstância do tempo obrigue a não sair da Igreja, aonde se satisfará ao mesmo
Terço Cantado [...] ”. 53
Por fim, pode-se ainda mencionar a importância assumida pelas festas marianas
na sociedade de Minas Colonial, as quais eram enfaticamente recomendadas pelos
bispos em suas Visitas, os quais não hesitavam em recriminar os capelães e os fiéis
quando consideravam haver descaso no tocante a tal assunto:
Enfim me parece digno de dar brevissimamente providência ao estado em que
achei esta freguesia e Matriz na falta do culto a Nossa Senhora de Nazareth, sua
Padroeira, quando aliás estão todos os seus Paroquianos adstritos por direito com
rigorosa obrigação de justiça a festejá-la com a pompa e solenidade possível todos
os anos, o que já há muitos o não fizeram, pelo que se tem feito credores da
indignação Divina e da mesma Senhora Mãe de Deus, donde talvez terá resultado o
deplorável estado em que se acha esta freguesia por falta de conveniências o que
confio na misericórdia do Altíssimo e de sua Santíssima Mãe se remediará se os
ditos Paroquianos derem, como devem, pronta execução ao que determino neste
provimento, pelo que mando ao Rdo. Pároco e neste particular lhe encarrego
gravissimamente a consciência para que todos os anos, enquanto a Irmandade da
mesma Senhora não poder festejá-a por causa de seu empenho, junto com alguns
seus fregueses mais zelosos, pios e tementes a Deus, faça eleição de doze ou quinze
pessoas de sorte que vá com este numero circuindo [sic] toda a sua freguesia para
que nenhum dos seus paroquianos, exceto sendo muito pobres, fique sem ser eleito e
se saberá cada ano por cabeça de cada uma das pessoas a despesa que for necessária
para que se festeje a mesma Senhora, ao menos com uma pompa, em atenção de
estar muito decadente esta freguesia, ao que deixo ao arbítrio do Rdo. Pároco e das
pessoas para a sobredita eleição adjuntas; e se alguma das pessoas eleitas, esquecida
do temor de Deus, duvidar pagar o que recolher pro rata, o Rdo. Pároco, depois de
admoestar para que satisfaça em termo certo, a evitará dos ofícios Divinos, e [só] a
tornará a admitir, satisfazendo completamente. 54
Observe-se, todavia, que a festa religiosa colonial, bastante enfocada pela
historiografia brasileira com base no relato dos viajantes, que também destacaram seu
aspecto de exuberância e exterioridade do culto, implicava no ápice de um processo
51 Capítulo de Visita do Dr. José dos Santos à Capela de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira do
Brumado, 17 jan. 1758. Apud: Ibid. V. 2. p.63.
52 Capítulo de Visita do Dr. José dos Santos e D. Frei Manoel da Cruz à Capela de Nossa Senhora da
Conceição da Cachoeira do Brumado, 10 maio 1761. Apud: Ibid. V. 1.
53 Capítulo de Visita de D. Frei Domingos da Encarnação Pontével à Igreja de Nossa Senhora da Piedade
da Borda do Campo, 7 out. 1781. Apud: Ibid. V. 2. p. 158
54 Capítulo de Visita do Dr. José dos Santos à Paróquia de Nossa Senhora de Nazareth de Cachoeira do
Campo, 17 jan. 1758. Apud: Ibid. V. 2. p. 98. Ver também Capítulo de Visita do D.r João de Almeyda e
Silva à Igreja Matriz de Santo Antonio da Casa Branca das Minas Gerais, 14 jan. 1748. Apud. Ibid. V.2.
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