GONÇALVES, Tatiana Mol. Devoção à Virgem em Mariana
GONÇALVES, Tatiana Mol. Devoção à Virgem em Mariana
GONÇALVES, Tatiana Mol. Devoção à Virgem em Mariana
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
produções da historiografia e de m<strong>em</strong>orialistas, na tentativa de interpretar as<br />
repercussões sociopolíticas dessa piedade.<br />
Em sua orig<strong>em</strong>, <strong>Mariana</strong> esteve ligada <strong>à</strong> devoção carmelitana: quando a bandeira<br />
de Salvador Fernandes Furtado de Mendonça fundou um arraial, no dia 16 de junho de<br />
1696, deu-lhe o nome de Ribeirão do Carmo, <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> a Nossa Senhora do<br />
Carmo, cuja festa é celebrada neste dia. Em pequena elevação, junto ao riacho <strong>em</strong> cujas<br />
margens fora fundado arraial, foi então erigida uma pequena capela da <strong>Virg<strong>em</strong></strong> do<br />
Carmo (atualmente consagrada a Santo Antônio). Além da coincidência de datas, um<br />
outro fator pode ter contribuído para a escolha da padroeira: na metrópole portuguesa, a<br />
devoção a Nossa Senhora do Carmo foi particularmente difundida desde o final do<br />
século XVI, pois <strong>em</strong> agradecimento pela vitória na batalha de Aljubarrota, que levou ao<br />
poder a dinastia de Avis, o chefe das tropas portuguesas, Nuno Álvares Pereira, tornou-<br />
se frade carmelita e deu início <strong>à</strong> construção do Convento do Carmo de Lisboa. 57<br />
Mas alguns anos após a fundação do arraial, a titulação da padroeira foi,<br />
paulatinamente, associada a Nossa Senhora da Conceição, a qu<strong>em</strong> também foi dedicada<br />
uma capelinha, <strong>em</strong> 1703: “Por ficar no arraial de baixo, na esplanada, <strong>em</strong> lugar mais<br />
cômodo ao culto, conquistou desde logo <strong>à</strong> capela bandeirante de cima, de Nossa<br />
Senhora do Carmo, os foros de matriz”. 58 Pouco t<strong>em</strong>po depois, esta capela não mais<br />
comportava o contingente populacional, sendo então construída uma igreja de grandes<br />
proporções, que continha, na ‘targeta central’, uma bela tela da Conceição: “Colocado o<br />
observador no meio da Igreja, a uma altura do tapavento, é que a pintura sobressai<br />
perfeitíssima, tomando a figura da <strong>Virg<strong>em</strong></strong> e a dos anjos as proporções justas, o<br />
movimento adequado [...]”. 59 A importância assumida pelo culto <strong>à</strong> Conceição nesta<br />
área urbana pode também ser percebida pela variedade de representações imagéticas<br />
então produzidas, destacando-se as localizadas no S<strong>em</strong>inário da Boa Morte e na capela-<br />
mor da Igreja de São Francisco de Assis. 60<br />
A devoção a Nossa Senhora da Conceição foi de fundamental importância na<br />
constituição da nacionalidade portuguesa. Os registros mais precisos datam do início do<br />
século XIV, quando sua festa foi instituída <strong>em</strong> algumas dioceses, como Coimbra,<br />
57<br />
DIAS, José de Oliveira. Notre Dame dans la piété populaire portugaise. In: MANOIR, D. Hubert du<br />
(Dir.). Marie: études sur la Sainte Vierge. T. 4. Paris: Beaucheste et ses Fils, 1956. p. 615-616. Ver<br />
também PIMENTEL, Alberto. História do culto a Nossa Senhora <strong>em</strong> Portugal. Lisboa: Guimarães,<br />
Libânio & Cia. , 1899. p. 97; 105.<br />
58<br />
VASCONCELOS, Salomão de. Breviário histórico e turístico da cidade de <strong>Mariana</strong>. Belo Horizonte:<br />
Biblioteca Mineira de Cultura, 1947. p. 47.<br />
59<br />
Ibid. p. 12.<br />
60<br />
ORESTES, João. <strong>Mariana</strong>: primeira capital de Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. do autor, 2005.<br />
13