GONÇALVES, Tatiana Mol. Devoção à Virgem em Mariana
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concluída <strong>em</strong> cinco anos. 18 O recurso aos Capítulos de Visita por parte dos prelados<br />
mostrou-se de grande importância para presentificação da Igreja na área mineradora:<br />
eles não apenas divulgavam as determinações pontifícias, como também transmitiam as<br />
interpretações da liderança eclesiástica local, uma vez que os bispos, lidando com<br />
conjunturas socioculturais bastante distintas daquelas existentes na Metrópole, eram<br />
instados a fazer adaptações e concessões. Neste processo, a devoção mariana tornava-se<br />
um recurso simbólico de conferência de autoridade: o prelado, imbuído da atribuição do<br />
magistério, normatizava, instigava ou corrigia práticas de piedade marial, por sua vez<br />
diretamente relacionadas a comportamentos sociais e políticos.<br />
2.1- Sentidos<br />
Nos Capítulos de Visita da capitania de Minas Gerais, a devoção mariana<br />
assumiu destacado enfoque salvífico, estando vinculada a uma teologia da graça e da<br />
predestinação: “[...] por ser o dito exercício mui grato aos Divinos olhos e utilíssimo <strong>à</strong>s<br />
Almas de todos os fiéis aos quais será a cordial devoção de Nossa Senhora sinal muito<br />
provável da predestinação para a b<strong>em</strong>-aventurança eterna [...].” 19 Segundo a tradição da<br />
Igreja, constituída desde a patrística (com Santo Agostinho), 20 e enriquecida durante o<br />
medievo (destacadamente com São Boaventura e São Bernardo) e os t<strong>em</strong>pos modernos<br />
(a ex<strong>em</strong>plo de Grignion de Montfort), Maria antecede e explicita a redenção concedida<br />
ao gênero humano, postulado que adquiriu estatuto dogmático nos séculos XIX<br />
(Imaculada Conceição) e XX (Assunção).<br />
A esperança vivida pelos fiéis de que, a despeito de suas muitas fraquezas<br />
humanas, chegariam <strong>à</strong> salvação, mostrava-se então intimamente associada <strong>à</strong> função<br />
mediadora atribuída <strong>à</strong> <strong>Virg<strong>em</strong></strong>, que também fora qualificada como advogada dos<br />
pecadores e das almas do Purgatório. Tal papel intercessório, aliás extensivo a uma<br />
gama de santos no cotidiano religioso da América Portuguesa, era suplicado pelos<br />
devotos através das mais diversas práticas (terços, novenas, procissões...), que por sua<br />
18 OLIVEIRA, A. C. A difusão da doutrina católica <strong>em</strong> Minas Gerais no século XVIII: análise das<br />
pastorais dos bispos. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 36, 189-217, 2002.<br />
19 Capítulo de Visita do Doutor José dos Santos e de D. Fr. Manoel da Cruz <strong>à</strong> Capela de Nossa Senhora<br />
da Conceição da Cachoeira do Brumado, 10 maio 1761. Apud: Ibid. p. 61. Ver também Capítulos de<br />
Visita do Dr. José dos Santos <strong>à</strong> Igreja Paroquial do Sr. Bom Jesus do Monte do Furquim, 10 jul. 1761.<br />
Apud: Ibid.<br />
20 SANTO AGOSTINHO. A <strong>Virg<strong>em</strong></strong> Maria: c<strong>em</strong> textos agostinianos com comentários. São Paulo:<br />
Paulus, 1996. p. 13: “No texto do Enchiridion X, 34, trata-se não somente de analogias [...], mas de um<br />
relacionamento vital, que toca no centro mesmo do mistério da Encarnação e da Redenção, visto que no<br />
seio de Maria é que v<strong>em</strong> a nascer, com Cristo, a sua Igreja”.<br />
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