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GONÇALVES, Tatiana Mol. Devoção à Virgem em Mariana

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Em paralelo, foi promovida uma redescoberta da devoção mariana como objeto de<br />

pesquisa por parte da historiografia ocidental, com destaque aos trabalhos de P. Boutry 7<br />

e de J. Lafaye. 8 Quanto <strong>à</strong> historiografia brasileira, a t<strong>em</strong>ática é abarcada somente de<br />

forma pontual, quer seja por obras eclesiásticas de cunho m<strong>em</strong>orialista 9 , quer por<br />

produções desenvolvidas pela Comissão de Estudos de História da Igreja na América<br />

Latina (CEHILA), as quais objetivam interpretar a realidade socioreligiosa a partir do<br />

protagonismo dos grupos populares 10 , quer ainda por publicações de viés acadêmico,<br />

geralmente decorrente de pesquisas de pós-graduação. 11 Essa tríplice abordag<strong>em</strong>, a<br />

despeito de seus distintos <strong>em</strong>basamentos teóricos e procedimentos metodológicos,<br />

partilha uma assertiva comum, afirmando a importância das crenças na constituição de<br />

uma identidade social. Neste sentido, r<strong>em</strong>et<strong>em</strong>os <strong>à</strong> concepção de crença formulada por<br />

Michel de Certeau como fundamento da presente reflexão sobre a devoção mariana:<br />

“[...] entendo por crença não o objeto do crer (um dogma, um programa etc.), mas o<br />

investimento das pessoas <strong>em</strong> uma proposição, o ato de enunciá-la considerando-a<br />

verdadeira – noutros termos, uma ‘modalidade’ da afirmação e não o seu conteúdo”. 12<br />

2- A devoção mariana <strong>em</strong> Minas Colonial<br />

O relativo silêncio historiográfico acerca da devoção mariana, ainda vigente, é<br />

ainda mais expressivo quando contraposto <strong>à</strong> amplitude e <strong>à</strong> profundidade alcançadas pela<br />

piedade marial no Brasil. Afinal, as referências imaginárias da sociedade brasileira<br />

foram, por mais de trezentos anos, sustentadas pelo arcabouço teológico, filosófico e<br />

moral da religião católica. Ora, nessa religiosidade de orig<strong>em</strong> ibérica, a devoção<br />

mariana é componente essencial: “com efeito”, nos diz Clodovis Boff, “o catolicismo<br />

português era profundamente mariano. A figura de Maria contribui historicamente para<br />

a construção daquela nação na sua coesão interna e inspirou as suas maiores <strong>em</strong>presas<br />

7<br />

BOUFLET, Joachim e BOUTRY, Philippe. Un signe dans le ciel: les apparitions de la Vierge. Paris:<br />

Grasset, 1997.<br />

8<br />

LAFAYE, J. Quetzalcóatl y Guadalupe. México: Fondo de Cultura Econômica, 1977.<br />

9<br />

A ex<strong>em</strong>plo de TRINDADE, Raimundo, cônego. A Arquidiocese de <strong>Mariana</strong>: subsídios para sua<br />

história. 2ª. ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1953.<br />

10<br />

A ex<strong>em</strong>plo de HOORNAERT, Eduardo et alii. História da Igreja no Brasil. Primeira Época. 4ª. ed.<br />

Petrópolis: Vozes, 1992.<br />

11<br />

A ex<strong>em</strong>plo de VAINFAS, Ronaldo e SOUZA, Juliana B. A. Nossa Senhora, o fumo e a dança. In:<br />

NOVAES, Adauto. A outra marg<strong>em</strong> do Ocidente. São Paulo: Cia. das Letras, 1999.<br />

12<br />

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 278. Grifo do<br />

autor.<br />

3

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