Pobreza e Bem-Estar em Moçambique - International Food Policy ...
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<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>:<br />
Primeira Avaliação Nacional<br />
(1996-97)<br />
Ministério do Plano e Finanças<br />
Universidade Eduardo Mondlane<br />
Instituto Internacional de Pesquisa <strong>em</strong> Políticas Alimentares<br />
Dez<strong>em</strong>bro 1998
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Este relatório foi elaborado por uma equipa composta pelos<br />
seguintes el<strong>em</strong>entos:<br />
Do Departamento de População e Desenvolvimento Social, Ministério do Plano e Finanças,<br />
Governo de <strong>Moçambique</strong>:<br />
Sérgio Cassamo, Gabriel Dava, Vitória Ginja, Maimuna Ibraimo<br />
Da Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal, Universidade Eduardo Mondlane:<br />
Cristina Matusse, Gilead I. Mlay, João Mutondo, Farizana Omar, Emílio Tostão<br />
Do Instituto Internacional de Pesquisa <strong>em</strong> Políticas Alimentares (<strong>International</strong> <strong>Food</strong> <strong>Policy</strong><br />
Research Institute):<br />
Gaurav Datt, James L. Garrett, Sudhanshu Handa, Dean Jolliffe, Jan Low, Sanjukta<br />
Mukherjee, Marie T. Ruel, and Kenneth Simler
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela de Contenido<br />
Lista das Tabelas ............................................................ viii<br />
Lista de figuras ............................................................... xii<br />
Agradecimentos ............................................................... iv<br />
Preface ..................................................................... vi<br />
Parte I:<strong>Pobreza</strong><br />
Capítulo1: Medição de pobreza: conceitos, dados e metodologia .................. 1<br />
1.1 Introdução ......................................................... 3<br />
1.2 Uso da medição e análise da pobreza para a formulação de políticas .............. 4<br />
1.3 Conceito de medição da pobreza ........................................ 5<br />
1.3.1 Medida de b<strong>em</strong>-estar individual .................................... 5<br />
1.3.2 Linhas de pobreza .............................................. 7<br />
1.4 Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre As<br />
Condições de Vida, 1996-97 ........................................... 7<br />
1.4.1 Visão geral do conteúdo do questionário ............................. 7<br />
1.4.2 Desenho da amostra ............................................. 9<br />
1.4.3 Trabalho de campo ............................................. 10<br />
1.5 Construção do consumo agregado ...................................... 11<br />
1.5.1 Consumo alimentar ............................................. 11<br />
1.5.2 Consumo não-alimentar ......................................... 12<br />
1.5.2.1 O consumo não alimentar mensal e de trimestral ............. 13<br />
1.5.2.2 Habitação e renda imputada ............................ 13<br />
1.5.2.3 Valor de uso dos bens duráveis .......................... 14<br />
1.5.2.4 Outro consumo não-alimentar ........................... 14<br />
1.5.3 Diferenças t<strong>em</strong>porais nos preços de alimentos ........................ 15<br />
1.5.4 Padrão de consumo ............................................ 16<br />
1.6 Construção das linhas de pobreza e índice de preço espaciais .................. 17<br />
1.6.1 Abordag<strong>em</strong> do custo das necessidades básicas ........................ 17<br />
1.6.2 Identificação dos domínios espaciais ................................ 18<br />
1.6.3 Linha de pobreza alimentar ....................................... 18<br />
1.6.3.1 Necessidades calóricas mínimas .......................... 19<br />
1.6.3.2 Conversão da quantidade não-padronizada <strong>em</strong><br />
unidades padrão ..................................... 20<br />
1.6.3.3 Factores de conversão calórica .......................... 21<br />
1.6.3.4 Cabazes alimentares de referência e preço<br />
médio por caloria .................................... 23<br />
1.6.4 Linhas de pobreza não alimentares: linhas baixas e altas ................. 25<br />
1.6.5 Índices espacial do custo de vida .................................. 27<br />
Apêndice A: Estimação da renda imputada .................................... 46<br />
Apêndice B: Estimação do valor de uso dos bens duráveis ......................... 50<br />
Apêndice C: Necessidades calóricas mínimas .................................. 53<br />
Apêndice D: Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza alimentar ...... 54<br />
iii
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Capítulo 2:Estimativas e Perfil da <strong>Pobreza</strong> .................................. 57<br />
2.1 Introdução ........................................................ 59<br />
2.2 Medidas de pobreza ................................................. 59<br />
2.3 <strong>Pobreza</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: Estimativas para 1996-97 ....................... 60<br />
2.4 Comparação com outras estimativas da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> .............. 62<br />
2.5 Perfil da pobreza ................................................... 65<br />
2.5.1 Tamanho do Agregado Familiar ................................... 65<br />
2.5.2 Estrutura e Composição do Agregado Familiar ........................ 69<br />
2.5.3 Educação .................................................... 70<br />
2.5.4 Emprego e Composição da Força de Trabalho ........................ 72<br />
2.5.5 <strong>Pobreza</strong> e Sector de Emprego ..................................... 75<br />
2.5.6 Características da Agricultura e Posse de Terras ....................... 76<br />
2.5.7 Transferências ................................................. 79<br />
2.5.8 Padrão de consumo ............................................. 80<br />
2.5.9 Saúde e Estado Nutricional ....................................... 83<br />
2.5.10 Características de Habitação .................................... 90<br />
2.5.11 Proximidade e Acesso aos Serviços Públicos e Privados ............... 91<br />
2.5.12 Migração Inter-provincial ...................................... 93<br />
2.6 Medidas de <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Não Baseadas no Consumo ......................... 94<br />
2.7 Conclusões e Implicações de Políticas Para o Desenho e Direccionamento de<br />
Iniciativas de Redução da <strong>Pobreza</strong> ...................................... 95<br />
Referências ............................................................ 98<br />
Capítulo 3:Determinantes da <strong>Pobreza</strong> ..................................... 156<br />
3.1 Introdução ....................................................... 157<br />
3.2 Modelação dos determinantes da pobreza ............................... 158<br />
3.3 Um modelo dos níveis de b<strong>em</strong>-estar ao nível de agregado familiar ............. 160<br />
3.3.1 Dados e especificação do modelo ................................. 160<br />
3.3.2 Selecção de variáveis explicativas ................................. 160<br />
3.3.3 Estimação do modelo .......................................... 164<br />
3.4 As estimativas preferidas ............................................ 166<br />
3.4.1 Determinantes do consumo e da pobreza nas zonas rurais ............... 167<br />
3.4.2 Determinantes do consumo e da pobreza nas zonas urbanas ............. 172<br />
3.5 Simulações de pobreza .............................................. 174<br />
3.5.1 Metodologia ................................................. 174<br />
3.5.2 Simulações .................................................. 175<br />
3.6 Crescimento económico e a redução da pobreza ........................... 187<br />
3.7 Precauções ....................................................... 189<br />
3.8 Conclusões e implicações para as políticas ............................... 190<br />
Referências ........................................................... 193<br />
Parte II: Segurança alimentar, nutrição, saúde e educação<br />
iv
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Capítulo 4: Segurança alimentar e nutricão <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>:<br />
Características, determinantes e previsões estratégicas .............. 211<br />
4.1. Introdução ....................................................... 213<br />
4.2 Considerações conceituais ........................................... 214<br />
4.3 Segurança alimentar ................................................ 215<br />
4.3.1 Disponibilidade ............................................... 215<br />
4.3.2 Acesso ..................................................... 216<br />
4.4. Prevalência e localização da insegurança alimentar ......................... 223<br />
4.5. Segurança nutricional ............................................... 227<br />
4.5.1 Utilização .................................................. 227<br />
4.6 Prevalência e localidade de desnutrição ................................. 230<br />
4.7 <strong>Pobreza</strong>, insegurança alimentar e desnutrição .............................. 234<br />
4.8 Determinantes da segurança alimentar e nutriçao nas zonas urbanas e nas zonas rurais<br />
de <strong>Moçambique</strong>: uma análise de regressão. .............................. 236<br />
4.9 Recomendações e conclusão ......................................... 240<br />
Referência ............................................................ 250<br />
Anexo 1: Distribuição da sub-amostra do capítulo e amostra completa ............... 274<br />
Capítulo 5: Capital Humano e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Social <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> .............. 276<br />
Sumário .............................................................. 278<br />
5.1. Introdução ....................................................... 279<br />
5.2. Estrutura do Sist<strong>em</strong>a Nacional de Educação ............................. 279<br />
5.3. Indicadores Básicos de Escolaridade ................................... 280<br />
5.3.1. Adulto ..................................................... 280<br />
5.3.2. Crianças .................................................... 281<br />
5.3.3. Comparação inter-gerações ..................................... 281<br />
5.3.4. Informação a Nível da Comunidade: Acesso a Escola .................. 282<br />
5.4. Educação e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> no AF ....................................... 283<br />
5.4.1. <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Monetário: Consumo Per Capita ......................... 283<br />
5.4.2. <strong>B<strong>em</strong></strong> <strong>Estar</strong> Social: Educação da Criança, Saúde e Acesso aos<br />
Serviços de Saúde ............................................ 285<br />
5.4.3. Baixo Altura para Idade ou Mal-Nutrição Crónica .................... 285<br />
5.4.4. Acesso aos Serviços de Saúde: Vacinações e Cartões de Saúde .......... 287<br />
5.5. Educação do AF e Investimento na Educação Escolar da Criança ............. 288<br />
5.5.1. Quadro Teórico .............................................. 288<br />
5.5.2. Os Indicadores da Escolaridade da Criança ......................... 289<br />
5.5.3. Probabilidade de ter frequentado a escola ........................... 290<br />
5.5.4. Probabilidade de se matrícular ................................... 290<br />
5.5.6. Ultimo grau atingido .......................................... 291<br />
5.5.7. Eficiência escolar ............................................. 291<br />
5.6. Conclusões e Implicações para as Políticas .......................... 292<br />
Bibliografia ........................................................... 295<br />
Parte III: Redes de Segurança Informais e Formais<br />
v
Capítulo 6: Mecanismos de Ajuda Mútua e Redes Informais de Protecção Social:Estudo<br />
de Caso das Províncias de Gaza e Nampula e a Cidade de Maputo ......... 314<br />
6.1. Introdução ...................................................... 316<br />
6.2. Objectivos ....................................................... 317<br />
6.3. Metodologia ..................................................... 317<br />
6.4. Características dos Agregados Familiares do Estudo ....................... 318<br />
6.4.1. Características D<strong>em</strong>ográficas, Fontes de Rendimento, e<br />
Indicadores de <strong>B<strong>em</strong></strong>- <strong>Estar</strong> ................................. 318<br />
6.4.2. Estatuto de Residência e Assistência Formal Durante e<br />
Depois da Guerra ........................................ 320<br />
6.5. Caracterização e Evolução dos Sist<strong>em</strong>as de Entre-Ajuda Existentes<br />
nas Comunidades .................................................. 322<br />
6.6. Ajuda aos Grupos Vulneráveis na Comunidade ........................... 325<br />
6.6.1. Organizações de Ajuda Existentes ............................ 325<br />
6.6.2. Assistência Não-Formal <strong>em</strong> Situação de Crise no Agregado<br />
Familiar ............................................... 326<br />
6.6.3. Percepções das Comunidades das suas Responsabilidades<br />
Perante os Grupos Vulneráveis .............................. 327<br />
6.7. Laços Familiares e Comunitários ...................................... 329<br />
6.7.1. Existência de Laços Fora da Família Imediata ................... 332<br />
6.7.2. Reciprocidade e Tipos de Laços ............................. 333<br />
6.7.3. Características Individuais e do Agregado Familiar<br />
Associadas com Laços Fortes ............................... 335<br />
6.7.4. Características Individuais e do Agregado Familiar<br />
Associadas com Laços Fortes ............................... 336<br />
6.7.5. Estimativas de “Probit” Descrevendo Pessoas que nada Receb<strong>em</strong><br />
de Outras e Pessoas que Nada Dão a Outras .................... 337<br />
6.8. Discussão e Conclusões ............................................. 338<br />
6.9. Recomendações de Políticas .......................................... 343<br />
Referência ............................................................ 346<br />
Capítulo 7: Redes Formais de Segurança Social num Ambiente Urbano<br />
1<br />
Lições Extraídas do Programa de Subsídio de Alimentos <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. ............... 372<br />
7.1. Introdução ...................................................... 374<br />
7.2 Resenha Histórica ................................................ 375<br />
7.3 A evolução do programa .......................................... .376<br />
7.3.1 A evolução dos componentes do programa ............................. 377<br />
7.3.1.1 Objectivos ............................................. 377<br />
7.3.1.2 Estrutura organizativa .................................... 378<br />
7.3.1.3 Grupos alvos (beneficiários) ................................ 382<br />
7.3.1.4 Cobertura .............................................. 384<br />
7.3.1.5 Requisitos de Elegibilidade e Prestação de Serviços .............. 386<br />
7.3.1.6 Subsídio ............................................... 389<br />
7.3.2. Motivações para as mudanças-chave sofridas pelo programa ................ 390<br />
7.4. Impacto do Programa ............................................. 394<br />
7.5. Os pontos fortes e os pontos fracos do programa ........................ 396<br />
vi
7.5.1. Lições aprendidas: Implicações para a criação e administração de programas de<br />
transferência de dinheiro ........................................... 396<br />
7.5.1.1 Lições técnicas: ......................................... 396<br />
7.5.1.2 Lições administrativas: .................................... 398<br />
7.5.1.3 Lições financeiras e políticas: ............................... 399<br />
7.5.2 Os programas de transferência de dinheiro como parte de uma estratégia<br />
de combate à pobreza ............................................. 402<br />
7.6 Conclusão ...................................................... 404<br />
Referências ........................................................... 408<br />
Capítulo 8: <strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: Síntese, Avaliação, e Implicações<br />
para as Políticas ................................................. 427<br />
8.1 A moldura ..................................................... 429<br />
8.2 <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: síntese e avaliação ......................... 430<br />
8.2.1 Parte I: <strong>Pobreza</strong> ......................................... 430<br />
8.2.2 Parte II: Segurança alimentar, nutrição, saúde e educação<br />
8.2.3 Parte III: Redes de Segurança Informais e Formais ............... 434<br />
8.3 Implicações políticas e investigação futura .............................. 435<br />
vii
Lista das Tabelas<br />
Tabela 1.1—Distribuição da amostra por unidade de amostrag<strong>em</strong> e província ................. 31<br />
Tabela 1.2—Estrutura do inquérito aos agregados familiares <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> ................ 32<br />
Tabela 1.3—Número de agregados familiares inquiridos por mês e domínio de linha da pobreza ... 33<br />
Tabela 1.4—Distribuição relativa da população por fonte de informação .................... 34<br />
Tabela 1.5: Índices t<strong>em</strong>porais de preços para Norte, Centro e Sul de <strong>Moçambique</strong> ............. 35<br />
Tabela 1.6—Componentes do consumo agregado e proporções médias ...................... 36<br />
Tabela 1.7—Distribuição da amostra por domínios de linha da pobreza ..................... 37<br />
Tabela 1.8—Média das necessidades calóricas mínimas diárias por pessoa <strong>em</strong> cada domínio<br />
da linha de pobreza ...................................................... 38<br />
Tabela 1.9—Métodos de conversão das quantidades <strong>em</strong> unidades locais para quilogramas ....... 39<br />
Tabela 1.10—Necessidades calóricas por pessoa, preço médio por caloria, e linhas de pobreza<br />
alimentar ............................................................. 41<br />
Tabela 1.11—Proporção do consumo não alimentar e linhas de pobreza não-alimentar,<br />
por domínio de linha da pobreza ............................................ 42<br />
Tabela 1.12—Linhas de pobreza alimentar, não-alimentar, total e índice espacial dos preços ..... 43<br />
Tabela A1—Modelo da renda de habitação .......................................... 47<br />
Tabela B1—Estimativas do valor de compra e t<strong>em</strong>po de uso dos bens duráveis ................ 52<br />
Tabela C1—Estimativas das necessidades calóricas por idade e sexo ....................... 53<br />
Tabela D1—Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza rurais (percentag<strong>em</strong> das<br />
despesas alimentares totais) ................................................ 54<br />
Tabela D2—Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza urbanas (percentag<strong>em</strong> das<br />
despesas alimentares totais) ................................................ 55<br />
Tabela 2.1—Consumo médio e estimativas da pobreza por zona e região ................... 100<br />
Tabela 2.2—Estimativas de indigência (ultra-pobreza) usando as linhas da pobreza alternativas . 101<br />
Tabela 2.3—Consumo médio e estimativas da pobreza por província ...................... 102<br />
Tabela 2.4 —Consumo médio e estimativas de indigência (ultra-pobreza) por província ........ 103<br />
Tabela 2.5—Estimativas comparativas da pobreza para Maputo e Matola, 1991-92 e 1996-97 ... 104<br />
Tabela 2.6— Tamanho de agregados familiares, taxa de dependência, e composição por<br />
grupo etário .......................................................... 105<br />
Tabela 2.7 — Linhas da pobreza sob várias assunções das economias do tamanho de agregado<br />
familiar .............................................................. 106<br />
Tabela 2.8—Sexo e estado civil do chefe de agregado familiar ........................... 107<br />
Tabela 2.9—Estimativa da pobreza e indigência (ultra-pobreza) por sexo do chefe de agregado<br />
familiar .............................................................. 108<br />
Tabela 2.10—Escolaridade dos adultos de 18-65 anos (percentag<strong>em</strong>) ...................... 109<br />
Tabela 2.11—Educação do chefe do agregado familiar (percentag<strong>em</strong>) ..................... 110<br />
Tabela 2.12—Escolaridade dos menores dos 7-17 anos de idade (percentag<strong>em</strong>) .............. 111<br />
Tabela 2.13—Acesso à escola pelos agregados familiares nas zonas rurais (percentag<strong>em</strong>) ....... 112<br />
Tabela 2.14—Situação de <strong>em</strong>prego (percentag<strong>em</strong>) .................................... 113<br />
Tabela 2.15—Participação na força de trabalho e composição da força de trabalho por<br />
grupo etário (percentag<strong>em</strong>) ............................................... 114<br />
Tabela 2.16—Participação na força de trabalho por grupo etário ......................... 115<br />
Tabela 2.17—Sector de Emprego ................................................. 116<br />
Tabela 2.18—Estimativas da pobreza por sector de <strong>em</strong>prego ............................ 117<br />
Tabela 2.19—Situação da pobreza por tipo de <strong>em</strong>pregador (percentag<strong>em</strong>) .................. 118<br />
Tabela 2.20— Frequência do segundo <strong>em</strong>prego ...................................... 119<br />
Tabela 2.21—Percentag<strong>em</strong> de posse, quantidades e áreas médias de machambas dos agregados<br />
familiares ............................................................ 120<br />
Tabela 2.22—Irrigação e uso de insumos de produção por agregados familiares que possu<strong>em</strong><br />
machambas (percentag<strong>em</strong>) ............................................... 121<br />
viii
Tabela 2.23—Cultivo e venda de algumas culturas básicas , cultivo de hortícolas e posse de árvores<br />
de fruta (%) .......................................................... 122<br />
Tabela 2.24—Percentag<strong>em</strong> do cultivo de algodão, posse e quantidade de cajueiros, pelos agregados<br />
familiares ............................................................ 123<br />
Tabela 2.25—Percentag<strong>em</strong> da população que realiza ou recebe transferências ............... 124<br />
Tabela 2.26—Valor médio per capita das transferências efectuadas, <strong>em</strong> contos ............... 125<br />
Tabela 2.27—Valor médio per capita das transferências efectuadas, <strong>em</strong> contos (excluindo os<br />
agregados familiares que não realizaram transferências) ......................... 126<br />
Tabela 2.28—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas ........... 127<br />
Tabela 2.29—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas (método<br />
alternativo de ponderação) ................................................ 129<br />
Tabela 2.30—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos cereais, raízes e tubérculos ...... 131<br />
Tabela 2.31—Consumo alimentar por fonte de aquisição ............................... 132<br />
Tabela 2.32—Percentag<strong>em</strong> da despesa total alocada aos bens e serviços não-alimentares ....... 133<br />
Tabela 2.33—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos bens e serviços não-alimentares<br />
(método alternativo de ponderação) ......................................... 134<br />
Tabela 2.34—Percentag<strong>em</strong> de indivíduos com deficiência física ou mental .................. 135<br />
Tabela 2.35—Percentag<strong>em</strong> de indivíduos doentes e dias de trabalho perdidos devido a doença, por<br />
grupo etário .......................................................... 136<br />
Tabela 2.36—Tipo de consulta feita pelos doentes (percentag<strong>em</strong>) ......................... 137<br />
Tabela 2.37—Utilização de serviços de saúde e baixo peso ao nascer para crianças <strong>em</strong> idade préescolar<br />
(percentag<strong>em</strong>) ................................................... 138<br />
Tabela 2.38—Indicadores antropométricos de crianças 6-60 meses (percentag<strong>em</strong>) ............ 139<br />
Tabela 2.39—Prevalência da desnutrição crónica por grupo etário ........................ 140<br />
Tabela 2.40—Prevalência da desnutrição aguda por grupo etário ......................... 141<br />
Tabela 2.41—Médias de Z- scores (desvio padrão de população de referência) para as crianças de 6-<br />
60 meses de idade ...................................................... 142<br />
Tabela 2.42—Características reprodutivas das mulheres de 12-49 anos que já estiveram grávidas pelo<br />
menos uma vez ....................................................... 143<br />
Tabela 2.43—Números de filhos desejados (todas mulheres 12-49 anos) .................... 145<br />
Tabela 2.44—Características da Habitação (percentag<strong>em</strong>) .............................. 146<br />
Tabela 2.45—Fonte de água (percentag<strong>em</strong>) ......................................... 147<br />
Tabela 2.46—Proporção de população rural que t<strong>em</strong> o serviço especificado na própria aldeia .... 148<br />
Tabela 2.47—Distâncias médias <strong>em</strong> kilómetros aos serviços especificados mais próximos nas áreas<br />
rurais ............................................................... 149<br />
Tabela 2.48—Proporção da população imigrante e <strong>em</strong>igrante por causas (percentag<strong>em</strong>) ........ 150<br />
Tabela 2.49—Percentag<strong>em</strong> da população imigrante e <strong>em</strong>igrante por causas e género ........... 151<br />
Tabela 2.50— Comparação de indicadores de b<strong>em</strong>-estar não baseados <strong>em</strong> consumo (rendimentos) 152<br />
Tabela 3.1: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da pobreza rural ... 195<br />
Tabela 3.2: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da pobreza urbana .. 197<br />
Tabela 3.3: Determinantes da pobreza rural <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> ............................ 199<br />
Tabela 3.4: Determinantes da pobreza urbana <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> .......................... 201<br />
Tabela 3.5: Comparação da medição real de b<strong>em</strong>-estar com a simulação de base .............. 203<br />
Tabela 3.6: Mudanças totais no consumo e os níveis de pobreza (resultados de simulações) ..... 204<br />
Tabela 3.7: Mudanças no consumo total e os níveis de pobreza entre a população afectada<br />
(resultados de simulações) ................................................ 206<br />
Tabela 3.8: Efeitos simulados das mudanças d<strong>em</strong>ográficas assumindo as economias do<br />
tamanho do agregado familiar ............................................. 208<br />
Tabela 3.9: Implicações do crescimento económico durante a última década para a<br />
redução da pobreza ..................................................... 209<br />
Tabela 3.10: Implicações do crescimento económico futuro para a redução da pobreza ......... 210<br />
Tabela 4.1: Disponibilidade de mercado na comunidade ................................ 252<br />
Tabela 4.2: Orig<strong>em</strong> dos alimentos ................................................ 252<br />
ix
Tabela 4.3: Acesso à terra ...................................................... 253<br />
Tabela 4.4: Média de rendimento por província e por colheita ........................... 254<br />
Tabela 4.5: Utilização dos insumo agrícolas e das tecnologias ............................ 255<br />
Tabela 4.6: <strong>Pobreza</strong> e consumo .................................................. 256<br />
Tabela 4.7: Educação .......................................................... 257<br />
Tabela 4.8: Assistência social e transferência pecuniária ................................ 258<br />
Tabela 4.9: Segurança alimentar .................................................<br />
Tabela 4.10: Associação da disponibilidade de calorias e percentag<strong>em</strong> das despesas com a<br />
259<br />
alimentação ........................................................... 260<br />
Tabela 4.11: Segurança alimentar: Grupos vulneráveis? ............................... 260<br />
Tabela 4.12: Disponibilidade de centros de saúde ..................................... 261<br />
Tabela 4.13: Acesso a cuidados materno-infantis: Cuidados pré-natais ..................... 261<br />
Tabela 4.14: Acesso a cuidados materno-infantis: Cuidados pos-natais .................... 262<br />
Tabela 4.15:Habitação e ambiente ................................................ 263<br />
Tabela 4.16: Nº de crianças desnutridas 0-60 meses .................................. 264<br />
Tabela 4.17: Prevalência da desnutrição: <strong>Moçambique</strong> e países vizinhos ................... 265<br />
Tabela 4.18: Estado nutricional: Grupos vulneráveis? ................................. 265<br />
Tabela 4.19: Tabelas cruzadas: <strong>Pobreza</strong>, segurança alimentar, estado nutricional ............ 266<br />
Tabela 4.20:Tabelas cruzadas: Segurança alimentar e estado nutricional ................... 266<br />
Tabela 4.21: Modelo de disponibilidade de calorias ................................... 267<br />
1<br />
Tabela 4. 22: Modelo do estado nutricional, de 0 a 23 meses (rural e urbano) .............. 268<br />
1<br />
Tabela 4. 22: Modelo do estado nutricional, entre 0 e os 23 meses (rural e urbano) .......... 269<br />
1<br />
Tabela 4.23: Modelo do estado nutricional de 24 a 60 meses ............................ 270<br />
1<br />
Tabela 4.23: Modelo do estado nutricional entre de 24 a 60 meses ........................ 271<br />
Tabela 5.1: Taxa de Alfabetismo por Grupo Etário (%) ................................ 296<br />
Tabela 5.2: Taxa de Adultos com 5ª classe (EP1) Completo por Grupo Etário (%) ........... 296<br />
Tabela 5.3: Matrículas Actuais por Grupo Etário de Crianças (%) ....................... 296<br />
Tabela 5.4: Ultima Classe Atingida pelas Crianças por Grupo Etário ..................... 297<br />
Tabela 5.5: Eficiência Escolar da Criança .......................................... 297<br />
Tabela 5.6: Principais Razões da não Frequência a Escola Primária, nas<br />
Aréas Rurais (%) ...................................................... 297<br />
Tabela 5.7: Estimativas da Determinação do Logarítmo do Consumo Per<br />
Capita do AF ......................................................... 298<br />
Tabela 5.8: Nível de Educação do Chefe do Agregado e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar Social da Criança .......... 299<br />
Tabela 5.9:Estimativas da Regressão do ‘z-score’ da Altura da Criança .................... 300<br />
Tabela 5.10: Estimativas das Determinantes da Probabilidade de Crianças entre<br />
12-60 Meses de Idade Tomar<strong>em</strong> Doses Completas de Vacinações .................. 301<br />
Tabela 5.11: Estimativas dos Determinantes da Probabilidade de as Crianças<br />
de 0-60 Meses de Idade Ter<strong>em</strong> Cartão de Saúde ............................... 302<br />
Tabela 5.12:Estimativas da Probabilidade de Crianças de 7 - 11 Anos Ter<strong>em</strong><br />
Frequentado a Escola ................................................... 303<br />
Tabela 5.13: Estimativas da Probabilidade das Crianças de 7 - 11 Anos <strong>Estar</strong><strong>em</strong><br />
Matriculadas .......................................................... 304<br />
Tabela 5.14: Estimativas dos Determinantes da Classe Mais Alta Frequentada pelas Crianças<br />
7 - 17 Anos que Alguma Vez Foram a Escola ................................. 305<br />
Tabela 5.15:Estimativas dos Determinantes da Eficiência Escolar Estimados<br />
para Crianças de 9-17 anos que Ccompletaram a Escolaridade ................... 306<br />
Tabela 6.1: Características de 412 Agregados Familiares da Amostra ..................... 320<br />
Tabela 6.2: Características Chaves dos Sítios Seleccionados para o Estudo do Caso .......... 354<br />
Tabela 6.3: Percentag<strong>em</strong> de Casos da Fonte de Rendimento Mais Importante Por<br />
Local e Por Grupos Alvos ............................................... 355<br />
Tabela 6.4: Percentag<strong>em</strong> de Índices de Habitação e Posse de Bens por Local e<br />
Grupos Alvos ........................................................ 356<br />
Table 6.5: Actividades/Práticas Tradicionais de Ajuda Mútua ........................... 357<br />
Tabela 6.6: Evolução das Práticas Tradicionais ................................... 359<br />
x
Tabela 6.7: Práticas Relativas ao Lobola (Gaza) e Mahari (Nampula) ..................... 360<br />
Tabela 6.8: Participação nas Actividades Tradicionais ................................. 361<br />
Tabela 6.9: Nível de Participação por Género ....................................... 362<br />
Tabela 6.10: Consequências de Morte de Ganha-Pão (Percentagens Por Género do Idoso) ...... 363<br />
Tabela 6.11: Número de Laços Activos (Durante o Ano Passado) de Receber de<br />
Alguém ou a Dar a Alguém Qualquer Coisa: Média e Percentagens Por Grupo Alvo .. 364<br />
Tabela 6.12: Número de Laços Activos (Durante o Ano Passado) de Receber de<br />
Alguém ou a Dar Alimentos: Média e Percentagens Por Grupo Alvo ............... 365<br />
Tabela 6.13. Razão de Reciprocidade e Número das Laços por Tipo ...................... 366<br />
Tabela 6.14: Número de Laços Activos (Durante o Ano Passado) de Receber de<br />
Alguém ou a Dar Mão-de-Obra: Média e Percentagens Por Grupo Alvo ...... 367<br />
Tabela 6.15: Número de Laços com os Parentes Directos, Outros Parentes e Não-Parentes:<br />
Médias e Percentagens S<strong>em</strong> Nenhuma Ligação Por Grupo Alvo <strong>em</strong> Cada Região ..... 368<br />
Tabela 6.16: Número de Laços Activos (Dar ou Receber) com Pessoas que Viv<strong>em</strong> nas<br />
Zonas Rurais e nas Zonas Urbanas ou Fora do Pais ............................ 369<br />
Tabela 6.17: Correlações de Spearman (Rank Correlations) Entre O Número de<br />
Laços e as Características Individuais ou de Agregado Familiar ................... 370<br />
Tabela 6.18. Probabilidade de Não Ter Laços de Receber: Análise Binária de<br />
Probit, Estimativas de Maximum Likelihood ................................. 371<br />
Tabela 6.19. Probabilidade de Não Ter Laços de Dar: Análise Binária de<br />
Probit, Estimativas de Maximum Likelihood ................................. 372<br />
Tabela 7.1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa<br />
de Subsídio de alimentos ................................................ 412<br />
Tabela 7.2. Comparação de Composição de Beneficiários da Subsídio de alimentos<br />
(Subsídio dos Alimentos)Durante a Fase de Expansão do GAPVU e Depois<br />
da Criação do INAS ................................................... 420<br />
Tabela 7.3. Comparação de Valor Total de Consumo (<strong>em</strong> Meticais) e Total de Calorias<br />
Consumidos Por 41 Idosos Participantes no GAPVU e 40 Não-Participantes<br />
nas Últimas 24 Horas (Dez<strong>em</strong>bro 1997), Por Agregado Familiar, Per Capita,<br />
e Por Adulto Equivalente ................................................ 421<br />
xi
Lista de figuras<br />
Figura 1.1—Desenho da amostra do Inquérito aos Agregados Familiares Sobre<br />
as Condições de Vida de <strong>Moçambique</strong> (MIAF) .......................... 44<br />
Figura 1.2—Variação t<strong>em</strong>poral dos preços de produtos alimentares por região ................ 45<br />
Figura 2.1—<strong>Pobreza</strong> e tamanho do agregado familiar, <strong>em</strong> conformidade com diferentes<br />
assunções sobre economias de tamanho do agregado familiar .............. 153<br />
Figura 2.2—Distribuição das altura-por-idade Z-scores, <strong>em</strong> comparação com a<br />
distribuição da população de referencia .............................. 154<br />
Figura 4.1: Determinantes da segurança alimentar e nutrição: quadro conceitual ............ 273<br />
Figura 4.2: Estado Nutricional das crianças, Idades 0-60 meses ......................... 273<br />
Figura 5.1: Alfabetismo dos Adultos de 8-65 da Zona Urbana ........................... 307<br />
Figura 5.2: Alfabetismo dos Adultos de 8-65 da Zona Rurais ............................ 307<br />
Figura 5.3: Matricula das Criancas de 7-11 das Zonas Urbanas .......................... 308<br />
Figura 5.4: Matricula das Criancas de 7-11 das Zonas Rurais ........................... 308<br />
Figura 5.5: Matricula das Criancas de12-17 das Zonas Urbanas ......................... 309<br />
Figura 5.6: Matricula das Criancas de12-17 das Zonas Rurais ........................... 309<br />
Figura 5.7: Alfabetismo dos Adultos de 18-65 por Sexo, Area e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> ................. 310<br />
Figura 5.8: Matricula das Criancas de 7-11 por Sexo, Area, e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> ................... 311<br />
Figura 5.9: Disponibilidade das Escolas nas Zonas Rurais por Provincia ................... 312<br />
Figura 5.10: Ano de Construcao de Escolas Primarias nas Zonas Rurais .................... 312<br />
Figura 6.1. Número de Laços de Qu<strong>em</strong> Recebe ou a Qu<strong>em</strong> Da Qualquer Coisa: Percentagens<br />
Por Grupo Alvo Que Teve Laços Durante o Ano Passado ................ 348<br />
Figura 6.2. Percentagens dos Grupos Alvos Com Tipos de Laços Diferentes: S<strong>em</strong> Laços,<br />
Só Receber de Laços, Laços Reciprocas .............................. 349<br />
Figura 6.3. Número de Laços com os Parentes Directos: Percentagens Com Pelo Menos<br />
Um Laço Por Grupo Alvo ......................................... 350<br />
Figura 6.4. Número de Laços De Troca Com Pessoas Nas Zonas Rurais e Urbanas: Percentagens<br />
Por Localização do Estudo Que Teve Laços Durante O Ano Passado ........ 351<br />
Figura 7.1: Organigrama do Gabinete de Apoio à População Vulnerável<br />
(GAPVU) 1991-1993 .................................................. 422<br />
Figura 7.2: Organigrama do Gabinete de Apoio à População Vulnerável<br />
(GAPVU) 1994-1996 .................................................. 423<br />
Figura 7.3: Organigrama do Instituto Nacional de Acção Social, Set<strong>em</strong>bro 1998 ............ 424<br />
Figura 7.4. Evolução do Valor de Subsídio de Alimentos <strong>em</strong> Relação ao Salário Mínimo<br />
(Meticais Nominais) ................................................... 425<br />
xii
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Agradecimentos<br />
Este relatório foi produzido pelo Instituto Internacional de Pesquisa <strong>em</strong> Políticas Alimentares<br />
(IFPRI) <strong>em</strong> colaboração com o Departamento da População e Desenvolvimento Social (DPDS,<br />
particularmente a Unidade de Alívio a <strong>Pobreza</strong>) da Direcção Nacional do Plano e Finanças do<br />
Ministério do Plano e Finanças, e a Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal da<br />
Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Muitas Instituições e entidades deram o seu enorme<br />
contributo para que este relatório fosse produzido.<br />
Gostariamos de endereçar os nossos agradecimentos ao Instituto Nacional de Estatística<br />
(INE, <strong>em</strong> particular a Direcção Nacional de Estatística) por ter providenciado os dados de 1996 -<br />
1997 do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre as Condições de Vida <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
(MIAF). Também gostariamos de expressar a nossa apreciação por se dispor<strong>em</strong> a clarificar muitas<br />
sugestões surgidas <strong>em</strong> relação a recolha de dados e a limpeza. Em particular, gostaríamos de<br />
agradecer ao Walter Cavero, Manuel Gaspar e Paulo Mabote do INE. Gostaríamos de estender os<br />
nossos agradecimentos ao Eugénio Matavel e ao Elísio Mazive pela auxílio prestado na limpeza de<br />
dados do levantamento MIAF.<br />
Do Ministério do Plano e Finanças (MPF), Governo de <strong>Moçambique</strong>, ficamos muito gratos<br />
pelo apoio e orientação contínuo prestado pela Iolanda Fortes e Vitória Ginga ao projecto. Também<br />
do Ministério do Plano e Finanças (MPF), gostaríamos de agradecer aos m<strong>em</strong>bros do Gabinete de<br />
Estudos pelos comentários e discussões úteis nos vários estágios do projecto.<br />
Da Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal, Universidade Eduardo Mondlane,<br />
gostaríamos de agradecer ao Firmino Mucavele pelo apoio prestado no projecto de investigação. Para<br />
comentários e outras formas de apoio prestado, gostaríamos de agradecer ao Bonifácio José, Patrícia<br />
Mucavele, Virgulino Nhate, Dimas Sinóia e Hélder Zavale.<br />
Haviam outras pessoas que providenciaram comentários úteis e outras formas de apoio ao<br />
trabalho efectuado para este relatório. Dentre eles, gostaríamos de oferecer os nossos<br />
agradecimentos ao Harold Alderman, Jehan Arulpragasam, Tim Buehrer, Jaikishan Desai, Lurdes<br />
Fidalgo, Lawrence Haddad, Haydee L<strong>em</strong>us, Miguel Mausse, Margaret McEwan, Saul Morris, Diego<br />
Rose, Paula Santos, Sumathi Sivasubramanian e Antoinette van Vugt. Os m<strong>em</strong>bros da equipe de<br />
pesquisadores também deram comentários úteis nos diferentes capítulos dos primeiros drafts.<br />
Gostaríamos de agradecer aos participantes dos vários s<strong>em</strong>inários organizados pelo DPDS<br />
e pela UEM pelas sugestões e comentários feitos, e da Conferencia sobre Segurança Alimentar e<br />
Nutrição realizada <strong>em</strong> Maputo <strong>em</strong> 16 e 19 de Outubro de 1998, onde os resultados dos diferentes<br />
estágios de pesquisa foram apresentados.<br />
xiv
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Preface<br />
O relatório <strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: Primeira Avaliação Nacional (1996-97)<br />
resulta de uma colaboração de quase três anos entre o Departamento de População e<br />
Desenvolvimento Social (anteriormente Unidade de Alívio a <strong>Pobreza</strong>) do Ministério do Plano e<br />
Finanças, a Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal da Universidade Eduardo Mondlane,<br />
e o Instituto Internacional de Pesquisas de Políticas Alimentares (<strong>International</strong> <strong>Food</strong> <strong>Policy</strong> Research<br />
Institute, ou IFPRI).<br />
<strong>Moçambique</strong> encontra-se numa posição singular no seu processo de desenvolvimento<br />
económico. A paz alcançada <strong>em</strong> 1992 trouxe tanto oportunidades como desafios de<br />
desenvolvimento. A experiência de crescimento recente é o test<strong>em</strong>unho da oportunidade do<br />
progresso económico futuro, enquanto o desafio mais sério para o país é assegurar que os pobres<br />
particip<strong>em</strong> e benefici<strong>em</strong> pelo menos proporcionalmente, e com esperanças de que seja muito mais<br />
do que proporcionalmente, do processo de crescimento que v<strong>em</strong> <strong>em</strong>ergindo. Este desafio t<strong>em</strong><br />
também uma dimensão política: a larga participação nos benefícios do crescimento económico<br />
também aumentará a perspectiva de estabilidade e paz contínua.<br />
Onde enquadrar a Avaliação neste contexto vasto? Primeiro, enquadra-se numa pr<strong>em</strong>issa de<br />
que informação válida é condição necessária para políticas sólidas. A Avaliação responde a uma<br />
lacuna crítica de informação. O Inquérito aos Agregados Familiares sobre as Condições de Vida <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> (MIAF), <strong>em</strong> que muitas das análises são baseadas, é o primeiro levantamento<br />
representativo a nível nacional <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Antes deste levantamento, não existiam bases de<br />
dados credíveis para a construção de estimativas de pobreza tanto a nível nacional e muito menos<br />
para a construção de um perfil de pobreza e b<strong>em</strong>-estar ou a análises dos seus determinantes. A<br />
Avaliação preenche esta falta de informação apresentando todas estas análises, baseando-se nos<br />
dados do MIAF.<br />
Em segundo lugar, a Avaliação pode ser vista como o primeiro passo para o estabelecimento<br />
de um sist<strong>em</strong>a de monitoreio da pobreza baseando-se <strong>em</strong> recolhas detalhadas e periódicas de<br />
informação sobre padrões de vida. A abordag<strong>em</strong> da Avaliação é baseada na pr<strong>em</strong>issa de que o uso<br />
de dados para pesquisa e análises é a melhor forma de apoiar e enriquecer futuras recolhas de dados.<br />
Para um país como <strong>Moçambique</strong>, o monitoreio de padrões de vida e pobreza deveriam ser vistos<br />
como um compromisso de longo prazo que também requer<strong>em</strong> compromissos para a recolha<br />
sustentada de dados. A recolha de dados ao nível do agregado familiar será uma parte importante<br />
deste esforço dado que tais dados são indispensáveis para a avaliação da distribuição (<strong>em</strong> vez de a<br />
média) de b<strong>em</strong>-estar.<br />
Finalmente, a Avaliação já começou a contribuir naquilo que é ultimamente um objectivo<br />
xvi
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
político: pondo a redução da pobreza no estágio central da agenda política. Esperar-se que as<br />
análises detalhadas apresentadas na Avaliação continuarão a fornecer informação de que o Governo<br />
precisa para perseguir o seu compromisso de redução da pobreza.<br />
Uma Visão Geral da Avaliação<br />
A Parte I da Avaliação trata das estimativas, perfis, e determinantes da pobreza <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>. O capítulo 1 lança os alicerces do trabalho analítico dos capítulos seguintes,<br />
introduzindo dados, construindo uma medida abrangente do consumo ao nível do agregado familiar<br />
para a medição de b<strong>em</strong>-estar, e construindo linhas de pobreza regionais. O segundo capítulo<br />
apresenta as estimativas de pobreza absoluta e o perfil detalhado de pobreza, enquanto o terceiro<br />
capítulo cont<strong>em</strong> uma análise dos determinantes de pobreza. Baseado nesta análise, o capítulo 3<br />
também apresenta algumas simulações que pretend<strong>em</strong> quantificar o impacto potencial de um<br />
conjunto de intervenções para a redução de pobreza no país.<br />
Embora uma medida de b<strong>em</strong>-estar baseado no consumo seja a medida principal do b<strong>em</strong>-estar<br />
na primeira parte da Avaliação, é claro que outras dimensões de b<strong>em</strong>-estar também são importantes.<br />
Algumas destas dimensões são analisadas na segunda parte do relatório, que trata de segurança<br />
alimentar, nutrição e capital humano (educação). O capitulo 4 apresenta um perfil de segurança<br />
alimentar e nutrição, e analisa os determinantes do mesmo, num quadro geral da estratégia de<br />
redução da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Da mesma maneira, o capítulo 5 aborda a questão de educação<br />
como um fim <strong>em</strong> sim e o meio para outros fins. Assim, avalia o papel da educação dos adultos na<br />
determinação de várias dimensões de b<strong>em</strong>-estar (tanto material como social) dos agregados<br />
familiares moçambicanos, desde o seu consumo de bens e serviços até o estado de saúde e nutrição<br />
das suas crianças. O capítulo 5 completa o círculo, analisando a determinação da escolaridade<br />
corrente das crianças.<br />
A Parte III da Avaliação examina questões relacionadas com redes de segurança social no<br />
país. O capítulo 6 apresenta alguns resultados de um estudo de caso de redes informais de segurança<br />
social nas províncias de Gaza e Nampula, e na cidade de Maputo. Analisa-se os vários mecanismos<br />
de ajuda mútua existentes e redes informais de segurança social nas comunidades rurais e urbanas<br />
de <strong>Moçambique</strong>, a evolução dos mesmos no período pós-independência, e como é que estes<br />
contribu<strong>em</strong> para a protecção social dos grupos vulneráveis na sociedade. Por outro lado, o capítulo<br />
7 trata de uma avaliação da experiência do programa do GAPVU, uma transferência de dinheiro nas<br />
zonas urbanas de <strong>Moçambique</strong>. Esta análise documenta as mudanças importantes no programa desde<br />
1990 para entender como é que o desenho e impl<strong>em</strong>entação poderiam ser melhorados para tornar o<br />
programa mais eficiente na protecção dos mais vulneráveis no país.<br />
As contribuições na Avaliação mostram uma certa medida de diversidade nas suas fontes de<br />
xvii
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
dados e metodologias. Por ex<strong>em</strong>plo, enquanto a maioria da análise é baseada nos dados do MIAF,<br />
os capítulos sobre redes de segurança formais e informais aproveita outras fontes de informação.<br />
A análise de redes informais, por ex<strong>em</strong>plo, é baseada nos dados de um inquérito, realizado pelos<br />
autores, de 412 agregados familiares nas províncias de Gaza e Nampula, e na cidade de Maputo<br />
durante o período de Junho até Agosto de 1997. Do mesmo modo, as metodologias usadas variam<br />
das análises muita quantitativas dos determinantes da pobreza e o desenvolvimento do capital<br />
humano (capítulos 3 e 5) às abordagens mais qualitativas utilizadas nos estudos do caso sobre redes<br />
de segurança (capítulos 6 e 7). Entend<strong>em</strong>os esta diversidade como um aspecto muito positivo da<br />
Avaliação.<br />
Este relatório é do espírito de uma avaliação da pobreza da primeiro geração. Enquanto a<br />
Avaliação abrange muitos t<strong>em</strong>as, muitas questões importantes e relevantes não foram tratados.<br />
Contudo, espera-se que o que falta <strong>em</strong> termos da cobertura dos t<strong>em</strong>as seja compensado pela<br />
profundidade da análise, e pelo processo colaborativo do trabalho.<br />
A maneira como a análise foi feita é importante por vários motivos. A colaboração activa<br />
entre o DPDS, UEM, e IFPRI levou a um relatório que é mais do que a soma dos seus capítulos. A<br />
colaboração <strong>em</strong> todas as etapas da análise enriqueceu a Avaliação <strong>em</strong> dimensões tanto visíveis como<br />
invisíveis. Por ex<strong>em</strong>plo, a colaboração ainda no início permitiu-nos intervir durante a recolha de<br />
dados para incluir um levantamento sobre preços nas comunidades rurais no MIAF. Esta informação<br />
tornou-se chave para a construção das linhas de pobreza e o índice espacial de preços. Da mesma<br />
maneira, a Avaliação beneficiou das consultas com colegas do MPF e da UEM, sobretudo para os<br />
julgamentos de valor que faz<strong>em</strong> parte da análise <strong>em</strong>pírica, especialmente num país como<br />
<strong>Moçambique</strong> com a sua fraca disponibilidade de dados. Mais, a natureza da colaboração promoveu<br />
a criação de capacidade através da participação na análise dos dados. Esta colaboração foi possível<br />
por causa do envolvimento ao longo do trabalho dos funcionários do IFPRI baseados <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>, o compromisso de fazer a maior parte da análise dentro do país, e a participação activa<br />
dos colegas Moçambicanos na análise e a apresentação dos resultados.<br />
Entender pobreza e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, como <strong>em</strong> outros países, é um processo<br />
contínuo. Espera-se que este relatório venha a encorajar mais passos neste processo.<br />
xviii
Mapa 1. Localização das Áreas Abrangidas<br />
pelo Inquérito dos Agregados Familiares:<br />
1996/97<br />
Cabo<br />
Niassa<br />
Delgado<br />
Tete<br />
Manica<br />
Chimoio<br />
Gaza<br />
Maputo<br />
Lichinga<br />
Tete<br />
Beira<br />
Xai-Xai<br />
Sofala<br />
Nampula<br />
Inhambane<br />
Maputo Cidade<br />
Zambezia<br />
Quelimane<br />
Inhambane<br />
& Matola<br />
P<strong>em</strong>ba<br />
Nacala<br />
Nampula<br />
200 0 200 400 600 800 Kilometers<br />
Capital Provincial ou Nacala<br />
Aldeias Rurais<br />
Fronteiras Provinciais<br />
+ Nome da Província<br />
As aldeias não foram geo-referenciadas na altura<br />
da recolha dos dados, mas foram localizadas nos<br />
mapas do recenseamento <strong>em</strong> 1998. Estima-se que<br />
os locais sejam 19% das 633 aldeias. Alguns<br />
centros urbanos pequenos do estudo não estão<br />
incluídos neste mapa.
Capítulo 1<br />
Medição de pobreza: conceitos, dados e metodologia<br />
Gaurav Datt<br />
Kenneth Simler<br />
Gabriel Dava<br />
Dean Jolliffe<br />
Jan Low<br />
Cristina Matusse<br />
Emílio Tostão
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Índice<br />
Medição de pobreza: conceitos, dados e metodologia ........................... i<br />
1.1 Introdução ........................................................ 3<br />
1.2 Uso da medição e análise da pobreza para a formulação de políticas ............. 4<br />
1.3 Conceito de medição da pobreza ....................................... 5<br />
1.3.1 Medida de b<strong>em</strong>-estar individual .................................. 5<br />
1.3.2 Linhas de pobreza ............................................. 7<br />
1.4 Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre As Condições de Vida, 1996-97<br />
................................................................ 7<br />
1.4.1 Visão geral do conteúdo do questionário ........................... 7<br />
1.4.2 Desenho da amostra ........................................... 9<br />
1.4.3 Trabalho de campo ........................................... 10<br />
1.5 Construção do consumo agregado ..................................... 11<br />
1.5.1 Consumo alimentar ........................................... 11<br />
1.5.2 Consumo não-alimentar ....................................... 12<br />
1.5.2.1 O consumo não alimentar mensal e de trimestral ............... 13<br />
1.5.2.2 Habitação e renda imputada .............................. 13<br />
1.5.2.3 Valor de uso dos bens duráveis ............................ 14<br />
1.5.2.4 Outro consumo não-alimentar ............................. 14<br />
1.5.3 Diferenças t<strong>em</strong>porais nos preços de alimentos ....................... 15<br />
1.5.4 Padrão de consumo .......................................... 16<br />
1.6 Construção das linhas de pobreza e índice de preço espaciais ................. 17<br />
1.6.1 Abordag<strong>em</strong> do custo das necessidades básicas ...................... 17<br />
1.6.2 Identificação dos domínios espaciais .............................. 18<br />
1.6.3 Linha de pobreza alimentar ..................................... 18<br />
1.6.3.1 Necessidades calóricas mínimas ............................ 19<br />
1.6.3.2 Conversão da quantidade não-padronizada <strong>em</strong> unidades padrão<br />
.................................................... 20<br />
1.6.3.3 Factores de conversão calórica ............................ 21<br />
1.6.3.4 Cabazes alimentares de referência e preço médio por caloria<br />
.................................................... 23<br />
1.6.4 Linhas de pobreza não alimentares: linhas baixas e altas ............... 25<br />
1.6.5 Índices espacial do custo de vida ................................ 27<br />
Apêndice A: Estimação da renda imputada .................................... 46<br />
Apêndice B: Estimação do valor de uso dos bens duráveis ......................... 50<br />
Apêndice C: Necessidades calóricas mínimas .................................. 53<br />
Apêndice D: Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza alimentar ...... 54<br />
Lista de tabelas<br />
ii
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.1—Distribuição da amostra por unidade de amostrag<strong>em</strong> e província .......... 31<br />
Tabela 1.2—Estrutura do inquérito aos agregados familiares <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> .......... 32<br />
Tabela 1.3—Número de agregados familiares inquiridos por mês e domínio de linha da<br />
pobreza ......................................................... 33<br />
Tabela 1.4—Distribuição relativa da população por fonte de informação .............. 34<br />
Tabela 1.5: Índices t<strong>em</strong>porais de preços para Norte, Centro e Sul de <strong>Moçambique</strong> ....... 35<br />
Tabela 1.6—Componentes do consumo agregado e proporções médias ............... 36<br />
Tabela 1.7—Distribuição da amostra por domínios de linha da pobreza ............... 37<br />
Tabela 1.8—Média das necessidades calóricas mínimas diárias por pessoa <strong>em</strong> cada domínio<br />
da linha de pobreza ................................................ 38<br />
Tabela 1.9—Métodos de conversão das quantidades <strong>em</strong> unidades locais para quilogramas<br />
............................................................... 39<br />
Tabela 1.10—Necessidades calóricas por pessoa, preço médio por caloria, e linhas de pobreza<br />
alimentar ........................................................ 41<br />
Tabela 1.11—Proporção do consumo não alimentar e linhas de pobreza não-alimentar, por<br />
domínio de linha da pobreza .......................................... 42<br />
Tabela 1.12—Linhas de pobreza alimentar, não-alimentar, total e índice espacial dos preços<br />
............................................................... 43<br />
Tabela A1—Modelo da renda de habitação .................................... 47<br />
Tabela B1—Estimativas do valor de compra e t<strong>em</strong>po de uso dos bens duráveis ......... 52<br />
Tabela C1—Estimativas das necessidades calóricas por idade e sexo ................. 53<br />
Tabela D1—Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza rurais (percentag<strong>em</strong><br />
das despesas alimentares totais) ....................................... 54<br />
Tabela D2—Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza urbanas<br />
(percentag<strong>em</strong> das despesas alimentares totais) ............................ 55<br />
iii
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Lista de figuras<br />
Figura 1.1—Desenho da amostra do Inquérito aos Agregados Familiares Sobre as Condições<br />
de Vida de <strong>Moçambique</strong> (MIAF) ...................................... 44<br />
Figura 1.2—Variação t<strong>em</strong>poral dos preços de produtos alimentares por região ......... 45<br />
iv
1.1 Introdução<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Durante o período colonial <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, o desenvolvimento económico foi<br />
extr<strong>em</strong>amente modesto. Esse período de baixo investimento no crescimento económico foi<br />
seguido de uma guerra devastadora logo após a independência <strong>em</strong> 1975 até ao acordo de paz que<br />
foi assinado <strong>em</strong> 1992. Uma vez a guerra terminada, muitos milhões de pessoas que foram<br />
deslocadas pela guerra iniciaram o processo de retorno às suas casas e retomaram as suas vidas<br />
normais. O resultado desses t<strong>em</strong>pos difíceis foi que <strong>em</strong> 1995 o produto interno bruto de<br />
<strong>Moçambique</strong> (PIB) per capita foi estimado <strong>em</strong> US$80, o mais baixo do mundo (Banco Mundial,<br />
1997). Quando ajustado para a paridade de poder de compra (PPC), <strong>Moçambique</strong> apenas<br />
melhorou pouco, classificando-se como o 13º país mais pobre.<br />
Após a guerra, o governo de <strong>Moçambique</strong> realizou muitas acções para reconstruir a infra-<br />
estrutura que foi destruída ou negligenciada durante a guerra para melhorar as condições de vida.<br />
O governo adoptou políticas de abertura da economia e torná-la mais orientada ao mercado,<br />
enquanto ao mesmo t<strong>em</strong>po tentava manter alguma forma de rede de protecção social e económica<br />
para os mais pobres. O país abriu-se também politicamente, com eleições nacionais d<strong>em</strong>ocráticas<br />
e multipartidárias realizadas <strong>em</strong> 1994 e eleições municipais <strong>em</strong> 1998. T<strong>em</strong> havido sinais<br />
recentes de que o movimento de reconstrução e reforma da economia de <strong>Moçambique</strong> resultou<br />
na melhoria das condições de vida. O crescimento do PIB <strong>em</strong> 1997 é estimado <strong>em</strong> 12,4% e a<br />
inflação é inferior a 10%.<br />
Não obstante, mesmo com muitos sinais de progresso, o probl<strong>em</strong>a severo de pobreza não<br />
desaparecerá simplesmente a curto prazo. Embora o investimento na indústria esteja a crescer<br />
rapidamente, tipicamente leva anos para observar os benefícios de tais investimentos. Da mesma<br />
forma, melhorar a produtividade da agricultura é um processo lento, particularmente para o<br />
importante sub-sector de caju de <strong>Moçambique</strong>. Um outro obstáculo para o crescimento<br />
económico é que a recuperação dos efeitos da guerra ainda não está completa. Dezenas de<br />
milhares de minas ainda estão enterradas <strong>em</strong> todo o país e milhares de moçambicanos ainda estão<br />
ajustando-se à perda de m<strong>em</strong>bros das suas famílias ou deficiências físicas debilitantes causadas<br />
pela guerra. O estado precário das infra-estruturas físicas, os níveis baixos do capital humano e<br />
físico, e os padrões de vida actuais extr<strong>em</strong>amente baixos, suger<strong>em</strong> que o crescimento e a redução<br />
da pobreza será um processo longo.<br />
Acredita-se que uma grande proporção de moçambicanos vive num estado de pobreza<br />
absoluta. Não é surpreendente, portanto, que a redução da pobreza seja o principal objectivo do<br />
governo, assim como de organizações não-governamentais <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Este relatório<br />
apresenta um exame profundo das condições de vida <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, com um enfoque sobre<br />
a pobreza. A análise baseia-se nos dados do primeiro inquérito nacional sobre as condições de<br />
vida dos agregados familiares desde o fim da guerra: Inquérito Nacional aos Agregados<br />
Familiares Sobre as Condições de Vida (MIAF) de <strong>Moçambique</strong>. Este inquérito inclui<br />
3
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
informação sobre os padrões de consumo, rendimentos, saúde, nutrição, educação, agricultura<br />
e inúmeros outros aspectos das condições de vida dos moçambicanos<br />
Este capítulo discute a base metodológica e conceptual para a maioria do trabalho<br />
apresentado posteriormente neste relatório. O capítulo começa com uma breve discussão das<br />
razões para a medição e análise da pobreza (Secção 1.2). Discute depois na Secção 1.3 os<br />
conceitos de medição do b<strong>em</strong>-estar, linhas de pobreza e medidas de pobreza. A secção 1.4<br />
apresenta as características dos dados do inquérito aos agregados familiares do MIAF usados na<br />
avaliação da pobreza. Isto é seguido por uma apresentação da construção do consumo do<br />
agregado familiar por pessoa como medida do b<strong>em</strong>-estar individual (Secção 1.5). Finalmente,<br />
na Secção 1.6, o capítulo descreve a estimativa das linhas de pobreza absoluta específicas por<br />
região.<br />
1.2 Uso da medição e análise da pobreza para a formulação de políticas<br />
A redução e eliminação da pobreza t<strong>em</strong> sido <strong>em</strong> geral considerada o objectivo último de<br />
todo o desenvolvimento económico (Banco Mundial 1990, Lipton e Ravallion 1995). Um<br />
componente comum de toda a análise e medição da pobreza é o estabelecimento de um limite de<br />
pobreza, ou uma linha de pobreza. As pessoas com níveis de b<strong>em</strong>-estar abaixo da linha são<br />
definidas como pobres, e aquelas acima, são consideradas não-pobres. A necessidade de tal<br />
discussão assenta fundamentalmente na preocupação com a distribuição dos resultados de b<strong>em</strong>-<br />
estar pelos m<strong>em</strong>bros de uma população. O crescimento nos padrões de vida médio pode assim<br />
não ser considerado muito valioso se não for amplamente compartilhados pelos relativamente<br />
destituídos. Um juízo de valor necessário e implícito na condução da análise da pobreza é que<br />
peso maior seja dado ao b<strong>em</strong>-estar dos menos favorecidos.<br />
Uma preocupação com a distribuição dos resultados do b<strong>em</strong>-estar, <strong>em</strong>bora necessários,<br />
não é justificativa suficiente para a análise da pobreza. As preocupações distribucionais pod<strong>em</strong><br />
ser respondidas pelas funções do b<strong>em</strong>-estar social que dão peso mais elevados ao b<strong>em</strong>-estar dos<br />
menos favorecidos (e menos peso aos que t<strong>em</strong> melhores condições) s<strong>em</strong> usar uma delimitação<br />
de pobreza. De acordo com esta visão, <strong>em</strong>bora os pesos do b<strong>em</strong>-estar possam declinar com o<br />
nível do b<strong>em</strong>-estar, existe pouca justificação para atribuir peso zero ao b<strong>em</strong>-estar dos não-pobres.<br />
Desta perspectiva, as medidas de pobreza são casos específicos de medidas do b<strong>em</strong>-estar social.<br />
Embora haja mérito para a visão acima, exist<strong>em</strong> vários papéis úteis para a medição e<br />
análise de pobreza baseada na noção de uma delimitação da pobreza. Primeiro, as medidas de<br />
pobreza serv<strong>em</strong> um papel de monitoreio. São uma maneira útil de monitorar a evolução das<br />
condições de vida (níveis e distribuição) e assim são o indicador de des<strong>em</strong>penho útil para uma<br />
região, um grupo sócio-económico ou desenvolvimento de uma economia. Segundo, as medidas<br />
de pobreza pod<strong>em</strong> ser um meio importante de focar a atenção da política e debate público sobre<br />
os grupos desfavorecidos. Servindo como um instrumento para criar consenso sobre os objectivos<br />
do b<strong>em</strong>-estar da política, eles realizam uma função política útil. Terceiro, possu<strong>em</strong> um papel de<br />
4
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
política pública. A análise focalizada sobre a pobreza pode ser um guia útil para a formulação<br />
e selecção de políticas e programas públicos. Finalmente, pod<strong>em</strong> também ter um papel<br />
administrativo e al<strong>em</strong> de mais, como estimativas e indicadores de pobreza, pod<strong>em</strong> ser vectores<br />
importantes para decisões sobre transferências governamentais e questões de finanças públicas. 1<br />
1.3 Conceito de medição da pobreza<br />
É fácil concordar que a redução da pobreza ou promoção do b<strong>em</strong>-estar dos menos<br />
favorecidos deve ser o objectivo de política pública, mas pode haver desacordo sobre o que<br />
significa pobreza. Pode-se começar com a seguinte definição operacional de uma medida de<br />
pobreza: é uma medida da incapacidade de uma população de atingir um nível mínimo de b<strong>em</strong>-<br />
estar. Esta definição destaca 3 el<strong>em</strong>entos principais da medição da pobreza.<br />
(i) <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar, ou um indicador do b<strong>em</strong>-estar individual, que levanta a questão de como se<br />
mede o b<strong>em</strong>-estar de agregado familiar ou de um indivíduo?<br />
(ii) Um nível mínimo, ou um limite da linha de pobreza que levanta a questão do que é um<br />
nível de vida mínimo aceitável?<br />
(iii) Uma medida agregada ou um método de agregação sobre indivíduos, que levanta questão<br />
de como se combine informação sobre os níveis de b<strong>em</strong>-estar de indivíduos numa<br />
população num índice?<br />
Abordagens diferentes de medição da pobreza pod<strong>em</strong> ser distinguidas pelos pressupostos<br />
específicos que faz<strong>em</strong> <strong>em</strong> cada uma destas três questões. Os pormenores e o raciocínio das<br />
suposições particulares implicadas pela abordag<strong>em</strong> estão descritas abaixo.<br />
1.3.1 Medida de b<strong>em</strong>-estar individual<br />
Ao longo deste estudo, usa-se o consumo per capita (ou seja, consumo total do agregado<br />
familiar divido pelo número de m<strong>em</strong>bros de agregado familiar) como a medida básica do b<strong>em</strong>-<br />
estar individual. O consumo ou o rendimento é uma medida defensível do b<strong>em</strong>-estar porque<br />
ambos med<strong>em</strong> a capacidade do indivíduo de obter bens e serviços, e ambas as medidas pod<strong>em</strong><br />
produzir resultados bastante s<strong>em</strong>elhantes para muitas questões. Embora se acredite que consumo<br />
(ou rendimento) é uma medida monetária agregada útil, reconhece-se que ambas as medidas<br />
falham ao não incorporar alguns aspectos importantes do b<strong>em</strong>-estar individual, como o consumo<br />
de bens públicos (por ex<strong>em</strong>plo, escolas, serviços de saúde, infra-estruturas públicas de<br />
saneamento) e qualidade de vida (por ex<strong>em</strong>plo, lazer, duração e saúde da vida).<br />
A decisão de usar uma medida do b<strong>em</strong>-estar individual baseada no consumo <strong>em</strong> vez de<br />
uma baseada no rendimento neste estudo é motivada pelas seguintes considerações. Primeiro, o<br />
rendimento pode ser interpretado como uma medida de oportunidade do b<strong>em</strong>-estar, enquanto o<br />
1 Para descrição com pormenor sobre a instituição de uma linha de pobreza oficial e seus papéis potenciais,<br />
veja Atkinson (1993); veja também Lanjouw (1995) para discussão relacionada.<br />
5
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
consumo é interpretável como uma medida de realização do b<strong>em</strong>-estar (Atkinson 1989). Como<br />
n<strong>em</strong> todo o rendimento é consumido, n<strong>em</strong> todo o consumo é financiado apenas pelo rendimento,<br />
as duas medidas difer<strong>em</strong> tipicamente. O consumo é o indicador mais apropriado se está-se<br />
preocupado com o b<strong>em</strong>-estar realizado e não potencial. Segundo, o consumo flutua tipicamente<br />
menos do que o rendimento. Os indivíduos recorr<strong>em</strong> poupanças, crédito e transferências para<br />
suavizar os efeitos das flutuações no rendimento no seu consumo, e portanto o consumo fornece<br />
uma medida mais exacta e mais estável do b<strong>em</strong>-estar do indivíduo no decorrer do t<strong>em</strong>po. 2<br />
Terceiro, alguns pesquisadores e fazedores de políticas, mantém a crença de que os respondentes<br />
do inquérito estão mais dispostos a revelar seu comportamento de consumo do que estão para<br />
3<br />
revelar o seu rendimento. Quarto, <strong>em</strong> países desenvolvidos uma proporção relativamente grande<br />
da força do trabalho está integrada <strong>em</strong> actividades de auto-<strong>em</strong>prego e medir o rendimento para<br />
4<br />
esses indivíduos é particularmente difícil. (Veja Banco Mundial, 1995, para uma distinção da<br />
composição da força de trabalho <strong>em</strong> países <strong>em</strong> desenvolvimento.) Da mesma forma, muitos<br />
indivíduos estão integrados <strong>em</strong> actividades múltiplas de geração de rendimento num determinado<br />
ano, e o processo de recolha e agregação dos rendimentos de fontes diferentes é também difícil.<br />
(Veja Reardon, 1997, e referências aqui para mais informação sobre a diversificação da<br />
rendimentos do agregado familiar na África Sub-Sahariana.)<br />
Embora consistente com a prática comum, o uso da normalização per capita do consumo<br />
envolve todavia a suposição de nenhuma economia do tamanho do agregado familiar. Mais tarde,<br />
nos capítulos 2 e 3, explorar-se-a a sensibilidade de alguns dos resultados com o relaxamento<br />
desta suposição.<br />
1.3.2 Linhas de pobreza<br />
Este estudo, preocupa-se com a pobreza absoluta, pela qual se pretende dizer que a linha<br />
de pobreza é fixada <strong>em</strong> termos do padrão de vida que representa sobre o domínio de medição da<br />
2<br />
A teoria económica sugere, por ex<strong>em</strong>plo, que os indivíduos respond<strong>em</strong> às flutuações dos rendimentos,<br />
economizando <strong>em</strong> bons períodos e deseconomizando <strong>em</strong> períodos maus. Mesmo que a hipótese de renda<br />
permanente seja <strong>em</strong> geral rejeitada pelos dados disponíveis, existe bastante suavização do consumo realizada pelo<br />
agregado familiar para dar ao consumo uma melhor medida de b<strong>em</strong>-estar de longo prazo. Essa consideração poderá<br />
ser até mesmo mais importante para o inquérito como o Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre as<br />
Condições de Vida de <strong>Moçambique</strong>, que obtém medidas do rendimento e do consumo apenas um determinado<br />
t<strong>em</strong>po.<br />
3 Um resultado que oferece algum suporte a essa conjectura é que os dados do inquérito do agregado<br />
familiar algumas vezes descobr<strong>em</strong> que estimativas directas de economias de agregado familiar são maiores do que<br />
as economias estimadas como renda menos consumo. Mas exist<strong>em</strong> também ex<strong>em</strong>plos onde o inverso é verdadeiro.<br />
Veja Kochar (1997) para uma discussão deste assunto.<br />
4 Por ex<strong>em</strong>plo, uma forma importante de trabalho autónomo é trabalhar na machamba do agregado familiar,<br />
e medir o rendimento total da machamba e <strong>em</strong> seguida alocar o rendimento aos trabalhadores é difícil. Além disso,<br />
é necessário um período de referência anual para uma estimativa adequada dos rendimentos agrícolas, que requer<strong>em</strong><br />
visitas múltiplas aos agregados familiares ou períodos de recordação mais longos com erros potencialmente maiores.<br />
6
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
pobreza. Visto a preocupação ser a medição da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> como um todo, o<br />
domínio de medição é o país inteiro. Contudo, preços, d<strong>em</strong>ografia do agregado familiar e padrões<br />
de consumo difer<strong>em</strong> entre regiões, e por isso uma linha de pobreza única <strong>em</strong> termos nominais<br />
para <strong>Moçambique</strong> como um todo deveria abarcar tipicamente padrões de vida diferentes entre<br />
as regiões. Assim, para medir pobreza absoluta consistent<strong>em</strong>ente é necessário um conjunto de<br />
linhas de pobreza por região (nominal) que aproximam um padrão de vida uniforme. Uma<br />
abordag<strong>em</strong> detalhada da construção das linhas de pobreza é feita na secção 1.6.<br />
1.4 Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre As Condições de Vida, 1996-97<br />
Como foi antes mencionado, esta avaliação da pobreza para <strong>Moçambique</strong> basea-se no<br />
Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre As Condições de Vida (MIAF). O inquérito<br />
foi projectado e impl<strong>em</strong>entado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE,) anteriormente<br />
Direcção Nacional de Estatística(INE) e foi conduzido de Fevereiro de 1996 a Abril de 1997. A<br />
amostra consiste <strong>em</strong> 8.274 agregados familiares e é representativa nacionalmente. O inquérito<br />
cobriu áreas rurais e urbanas e todas as dez províncias de <strong>Moçambique</strong> e a cidade de Maputo<br />
como um estrato separado. Veja a Tabela 1.1 para detalhes sobre distribuição geográfica dos<br />
agregados familiares de amostra.<br />
1.4.1 Visão geral do conteúdo do questionário<br />
Cada agregado familiar participante foi visitado três vezes num período de sete dias com<br />
três agregados familiares entrevistados por dias nas zonas rurais e quatro agregados familiares<br />
entrevistados por dia nas zonas urbanas. Havia três instrumentos usados para entrevistas ao nível<br />
do agregado familiar: um questionário principal do inquérito (secções 1 a 11), um questionário<br />
das despesas diárias do agregado familiar e um questionário de despesas diárias pessoais<br />
administrado a todos os m<strong>em</strong>bros do agregado familiar que receb<strong>em</strong> rendimentos.<br />
O principal instrumento do inquérito colectou informação tanto a nível individual como<br />
ao nível do agregado familiar. A nível individual, obteve informação para cada m<strong>em</strong>bro do<br />
agregado familiar sobre uma ampla gama de tópicos incluindo características d<strong>em</strong>ográficas,<br />
história de migração, saúde, educação e situação de <strong>em</strong>prego. A nível do agregado familiar,<br />
informação adicional foi obtida sobre o tamanho e descrição da posse de terra, produção agrícola<br />
durante o ano anterior, pecuária e posse de árvores, características de habitação, tipos de serviços<br />
básicos usados (por ex<strong>em</strong>plo, fonte de água potável e tipo de iluminação), posse de activos,<br />
principais despesas não-alimentares durante os três meses anteriores, despesas não-alimentares<br />
regulares durante o último mês, transferências para dentro e fora do agregado familiar e fontes<br />
de rendimentos. A colecta de dados sobre as despesas diárias e inquérito principal foi distribuída<br />
durante as três visitas ao agregado familiar, a fim de reduzir o cansaço dos respondentes. Veja<br />
a Tabela 1.2 para mais pormenores sobre a estrutura do inquérito MIAF, incluindo o tipo de<br />
dados colectados (e <strong>em</strong> que visita) e o nível de cobertura de dados (e o nível de cobertura de<br />
7
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
dados nível individual ou de agregado familiar e quais indivíduos no agregado familiar que foram<br />
incluídos nas secções particulares).<br />
O questionário das despesas diárias consiste de dados de recordação sobre principais itens<br />
de alimentos e alguns itens não-alimentares típicos (por ex<strong>em</strong>plo carvão e fósforos) consumidos<br />
durante um período de sete dias. Durante a primeira entrevista foram obtidos dados do consumo<br />
do dia anterior. Na Segunda entrevista, que foi três dias após a primeira, foram colectados dados<br />
de consumo para os dias entre as entrevistas. Na entrevista final, foram obtidos três dias depois,<br />
dados de consumo dos três dias precedentes.<br />
O mesmo princípio de colecta de dados foi seguido no questionário de despesas diárias<br />
pessoais. Contudo, uma diferença foi que na maioria dos casos para os trabalhadores urbanos<br />
recebedores de rendimentos, as despesas diárias pessoais foram deixadas na primeira entrevista<br />
para o m<strong>em</strong>bro de agregado familiar que ganha rendimentos preencher, porque este estava<br />
frequent<strong>em</strong>ente ausente do agregado familiar. Na prática, muitas dificuldades foram encontradas<br />
na colecta destes dados e devido a compleição insuficiente estes dados sofreram de uma taxa de<br />
resposta baixa (e desigual). Assim foi decidido não usar estes dados na construção da linha de<br />
pobreza. 5<br />
Além dos dados colectados ao nível de agregado familiar e individual, havia dois<br />
instrumentos administrados uma vez durante o período de inquérito a níveis mais elevados de<br />
agregação. Primeiro, dentro de cada aldeia, foi feito um inquérito comunitário sobre infra-<br />
estruturas disponíveis, acesso a serviços e características gerais da comunidade. Estes dados não<br />
foram colectados <strong>em</strong> nenhuma área urbana. Segundo, foi recolhida informação detalhada sobre<br />
preços de mercado (incluindo a pesag<strong>em</strong> de todos os itens vendidos <strong>em</strong> recipientes não-padrão)<br />
no mercado principal de cada bairro da amostra (áreas urbanas) ou localidades (áreas rurais).<br />
1.4.2 Desenho da amostra<br />
A estrutura da amostra ou universo do qual a amostra foi seleccionada cobriu a população<br />
de <strong>Moçambique</strong> residindo <strong>em</strong> agregados familiares excluindo aqueles que residia <strong>em</strong> prisões,<br />
quartéis, hotéis, etc. No momento do desenho do inquérito, os dados de censo mais recentes<br />
disponíveis eram de 1980. Dado o crescimento populacional substancial e movimentos que<br />
ocorreram desde 1980, uma estrutura de amostrag<strong>em</strong> não baseada nos dados do censo teve que<br />
ser usada. As áreas rurais e áreas urbanas pequenas (fora das capitais provinciais) a informação<br />
mais recente com a cobertura nacional é a do censo eleitoral conduzido na preparação para as<br />
eleições de 1994. Porém, o censo eleitoral provou não ser adequado para os centros urbanos<br />
maiores onde as pessoas eram <strong>em</strong> geral registradas <strong>em</strong> locais não correspondendo ao seu local<br />
5<br />
Isto significa trabalhar com uma definição de consumo um pouco mais restrita – uma situação menos que<br />
ideal, mas melhor argumentável do que usar uma medida mais inclusiva porém menos consistente (ou comparável)<br />
de consumo.<br />
8
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
de residência. Consequent<strong>em</strong>ente, uma metodologia de selecção alternativa foi examinada para<br />
capitais provinciais e cidade de Maputo. Esta metodologia é descrita mais tarde nesta secção.<br />
A amostra foi seleccionada <strong>em</strong> três etapas e geograficamente estratificada para assegurar<br />
que (a) a amostra inteira fosse representativa nacionalmente, (b) a amostra urbana (rural) fosse<br />
representativa dos agregados familiares urbanos (rural) e, (c) cada amostra provincial fosse<br />
representativa ao nível da província (tratando a cidade capital de Maputo como província). Este<br />
desenho permite a análise dos níveis urbanos/rurais, provinciais e nacionais. A colecta de dados<br />
ocorreu durante o ano dentro da amostra rural de cada província para assegurar cobertura durante<br />
as diferentes estações do ano. Veja a Tabela 1.3 para a distribuição t<strong>em</strong>poral de entrevistas<br />
completadas.<br />
Na primeira etapa no processo de selecção, a amostra consistiu de dez províncias<br />
divididas <strong>em</strong> estratos urbanos e rurais mais um estrato adicional consistindo da cidade de<br />
Maputo. As divisões administrativas para as áreas urbanas (<strong>em</strong> ord<strong>em</strong> decrescente) são: distrito,<br />
bairro e quarteirão. As divisões <strong>em</strong> áreas rurais são: posto administrativo, localidade e aldeia.<br />
Em cada estrato rural, as localidades foram escolhidas como unidade primária de<br />
amostrag<strong>em</strong> (UPA). Devido aos recursos limitados, o inquérito não elaborou as suas próprias<br />
listas de população, mas <strong>em</strong> vez disso dependeu dos dados da população existente a nível local<br />
para a selecção de localidade e aldeias. A selecção foi baseada na probabilidade proporcional à<br />
população total estimada na província. O processo foi complicado pelo facto de que algumas<br />
aldeias tinham disponíveis dados reais da população; <strong>em</strong> outros somente tinham disponível o<br />
número de agregados familiares. Dentro de uma determinada localidade, as aldeias foram<br />
seleccionadas proporcionalmente à população total da localidade se todas as aldeias tivess<strong>em</strong><br />
dados populacionais. Do contrário, os procedimentos de selecção foram baseados no número de<br />
agregados familiares por aldeia. No total, três a quatro aldeias foram seleccionadas dentro de<br />
cada localidade, completando o segundo estágio de amostrag<strong>em</strong>.<br />
Para a etapa final dentro das áreas rurais de cada província, uma lista de todos os<br />
agregados familiares dentro da aldeias seleccionadas foi formada pela equipe de inquérito e<br />
foram utilizados procedimentos de selecção aleatória da amostra para escolher nove agregados<br />
familiares a ser<strong>em</strong> entrevistados por aldeia.<br />
Nas capitais provinciais e cidade de Maputo, as UPAs foram os bairros, que foram<br />
sist<strong>em</strong>aticamente seleccionados com a probabilidade proporcional para ao tamanho. Neste caso,<br />
o tamanho não foi definido <strong>em</strong> termos do número total de pessoas, mas no número de quarteirões<br />
encontrados <strong>em</strong> cada bairro. Subjacentes a este procedimento de selecção foi o conhecimento de<br />
que no período pós-independência (1975-1980), o quarteirão correspondia a 25 agregados<br />
familiares. Portanto, neste procedimento de selecção, é feita uma suposição de que os quarteirões<br />
são aproximadamente de tamanho igual. Na segunda etapa da amostrag<strong>em</strong>, foram seleccionados<br />
os quarteirões. A etapa final da selecção da amostra <strong>em</strong> cada área urbana seguiu um<br />
9
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
procedimento de selecção aleatória simples de doze agregados familiares escolhidos de uma lista<br />
de todos os agregados familiares compilados para cada quarteirão seleccionado<br />
No final do exercício de amostrag<strong>em</strong>, 8289 agregados familiares foram seleccionados,<br />
distribuídos entre as províncias conforme mostra a Tabela 1.1 (Cavero, 1998). Entre os agregados<br />
familiares seleccionados 8276 foram entrevistados e os dados foram entrados para 8274<br />
agregados familiares. No total, 112 de 128 distritos <strong>em</strong> todo o país tiveram os agregados<br />
familiares incluídos no inquérito (INE, no prelo). Mais detalhes sobre o desenho de amostra estão<br />
<strong>em</strong> Cavero (1998) e uma visão geral é apresentada na Figura 1.1.<br />
Em meados de 1997, os resultados preliminares do censo populacional de 1997 tornaram-<br />
se disponíveis, permitindo uma comparação da distribuição da população implicada pela<br />
estrutura de amostrag<strong>em</strong> da MIAF com dados preliminares do censo de nível provincial (Cavero,<br />
comunicação pessoal). Na Tabela 1.4, a classificação das quatros provinciais mais populosas<br />
(Zambézia, Nampula, Sofala e Cabo Delgado) e a província menos populosa (Niassa) é a mesma<br />
<strong>em</strong> ambos as fontes. Contudo, diferenças significativas aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> termos percentuais <strong>em</strong><br />
várias províncias. Por ex<strong>em</strong>plo, a cidade de Maputo está sobre representada na amostra da MIAF<br />
(7,03% da população nacional) quando comparado as estimativas preliminares do censo<br />
(6,14%). 6<br />
1.4.3 Trabalho de campo<br />
O trabalho relacionado com o desenho da amostra começou <strong>em</strong> Junho de 1995. O<br />
treinamento dos inquiridores e supervisores realizou-se durante um período de duas s<strong>em</strong>anas <strong>em</strong><br />
Nov<strong>em</strong>bro de 1995. O teste piloto do questionário foi realizado <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro de 1995 e Janeiro<br />
de 1996. Os manuais de campo abrangentes com instruções para os inquiridores, supervisores<br />
de campo e supervisores de nível provincial foram desenvolvidos juntamente com a<br />
documentação referente aos conceitos e definições usadas no inquérito e livros de código para<br />
todos os instrumentos do inquérito. Estes estão disponíveis <strong>em</strong> Cavero (1998). Cada uma das<br />
onze províncias teve uma equipe que consistia do supervisor provincial (um funcionário<br />
permanente da INE), o suspervisor de campo, três enumeradores de agregados familiares, um<br />
antropometrista (para medir crianças) e um enumerador de mercado (para dados de preço da<br />
comunidade).<br />
A colecta real de dados no campo a nível do agregado familiar no campo começou <strong>em</strong><br />
Fevereiro de 1996 e continuou até Abril de 1997. A colecta de dados de preços <strong>em</strong> cada bairro<br />
ou localidade começou <strong>em</strong> Outubro de 1996 e foi completada <strong>em</strong> Março de 1997. A colecta de<br />
dados de nível da comunidade sobre as infra-estruturas foi completada <strong>em</strong> Outubro de 1997.<br />
Todos os dados foram digitados na sede do INE <strong>em</strong> Maputo. A digitação dos dados começou ao<br />
6<br />
Dado a natureza preliminar dos dados do censo de 1997 e <strong>em</strong> particular, a não disponibilidade dos dados<br />
detalhados populacionais do nível da localidade, nenhuma outra tentativa foi feita para revisar os factores de<br />
expansão associados com a amostra do MIAF.<br />
10
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
mesmo t<strong>em</strong>po que a colecta, com todos os dados digitados usando IMPS (Integrated<br />
Microcomputer Processing Syst<strong>em</strong>, ou Sist<strong>em</strong>a de Processamento Integrado do Micro<br />
Computador). Todos os dados foram digitados uma vez, com os programas de digitação de dados<br />
incorporando verificações da consistência para reduzir erros de digitação de dados. Uma<br />
excepção a este processo foram os dados de preço, que foram digitados duas vezes. Atrasos<br />
significativos ocorreram nos processamentos dos dados, particularmente durante a fase de<br />
limpeza (verificações da consistência), com os dados tornando-se disponíveis para análise <strong>em</strong><br />
Janeiro de 1998.<br />
1.5 Construção do consumo agregado<br />
Esta avaliação da pobreza usa uma medida abrangente do consumo, recorrendo aos vários<br />
módulos do inquérito aos agregado familiar. Inclui despesas e o auto-consumo de itens<br />
alimentares e não-alimentares, assim como valores de uso imputados para residências ocupadas<br />
pelos proprietários e bens duráveis do agregado familiar. A única omissão significativa da<br />
medida do consumo é o consumo de bens públicos. Por ex<strong>em</strong>plo, uma estrada transitável <strong>em</strong><br />
todas as estações, ou um mercado público ou fontenário público, presumivelmente melhora o<br />
b<strong>em</strong>-estar das pessoas que usam essas instalações. Porém, os dados do MIAF não permit<strong>em</strong> a<br />
quantificação desses benefícios e por isso não estão incluídos na medida de consumo. 7<br />
1.5.1 Consumo alimentar<br />
No MIAF, a informação sobre aquisição de alimentos do agregado familiar foi registada<br />
no questionário de despesas diárias do agregado familiar. Conforme notado na secção anterior,<br />
os agregados familiares foram visitadas três vezes durante um período de sete dias e inquirido<br />
sobre que alimentos o agregado familiar tinha adquirido, através de quaisquer meios, incluindo<br />
compras, produção própria e transferências recebidas. Em cada visita, foi perguntado ao agregado<br />
familiar que alimento foi adquirido nesse dia, assim como nos dois dias anteriores (na Segunda<br />
e terceira visita), de forma que a informação sobre aquisição de alimentos foi registada<br />
separadamente para cada um dos sete dias. Os itens de alimentos mais comuns foram codificados<br />
no questionário, mas as perguntas foram abertas, de forma que o agregado familiar podia incluir<br />
quaisquer itens de alimento que foram adquiridos.<br />
Para cada it<strong>em</strong> de alimento registado, o inquirador solicitou informação sobre a unidade<br />
de medida para o it<strong>em</strong> (por ex<strong>em</strong>plo quilogramas, litros, latas, copos, etc.) o número dessas<br />
unidades adquiridas e o valor gasto pelo alimento. Se o it<strong>em</strong> foi recebido de uma transferência<br />
não-monetária ou foi produzido <strong>em</strong> casa, então o respondente fornecia uma estimativa do valor<br />
do alimento. Perguntou-se também ao agregado familiar quantos dias esperava que o alimento<br />
7 Portanto, isto não é único para o inquérito de <strong>Moçambique</strong>. É raramente possível integrar ao consumo<br />
de bens público uma medida agregada de consumo.<br />
11
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
durasse no agregado familiar e de onde adquiriu o alimento (loja, mercado, mercado informal,<br />
produção própria ou outros). Por ex<strong>em</strong>plo um agregado familiar pode responder que no dia<br />
anterior dispendeu 60.000 MT <strong>em</strong> duas latas de milho <strong>em</strong> grão no mercado local e que esperava<br />
que durasse oito dias.<br />
O questionário de despesas diárias do agregado familiar foi concebido para colectar<br />
informação de aquisição de alimentos para um período de sete dias. Porém, o consumo dos<br />
produtos individuais adquiridos e registrados no questionário pod<strong>em</strong> durar mais ou menos uma<br />
s<strong>em</strong>ana. Todo o consumo de alimentos foi normalizado para reflectir o consumo médio por um<br />
período de uma s<strong>em</strong>ana calculado da seguinte maneira. A despesa (ou, mais geralmente, o valor),<br />
a quantidade física consumida e o número de dias que o alimento durou foram somados para cada<br />
produto. Se o número total de dias <strong>em</strong> que o alimento duraria fosse menor ou igual a 7, então foi<br />
assumido que o inquérito captou o valor de uma s<strong>em</strong>ana típica desse it<strong>em</strong> alimentar para este<br />
agregado familiar, e a soma do valor do it<strong>em</strong> e a quantidade física foi dividida por 7 para chegar<br />
a valores de consumo diário estimado para este it<strong>em</strong> alimentar. Se o número estimado de dias <strong>em</strong><br />
que o alimento duraria ultrapassou 7 dias (ex<strong>em</strong>plo, compra a granel de grão de milho ou farinha<br />
de trigo), a quantidade total e a despesa registrada foram divididas pelo número estimado de dias<br />
<strong>em</strong> que o alimento duraria para chegar a uma estimativa do consumo diário médio deste it<strong>em</strong><br />
alimentar. As estimativas do consumo alimentar diário para cada it<strong>em</strong> foram então agregadas<br />
para o nível do agregado familiar para obter a estimativa do valor total do consumo do alimento<br />
do agregado familiar por dia.<br />
1.5.2 Consumo não-alimentar<br />
O consumo não-alimentar é as somas de vários componentes de consumo não alimentar,<br />
incluindo despesas directas e valores de uso imputados. Os detalhes da construção desses<br />
componentes são abaixo descritos.<br />
1.5.2.1 O consumo não alimentar mensal e de trimestral<br />
Duas secções do questionário do MIAF foram devotadas exclusivamente para a colecta<br />
de informação sobre despesas não-alimentares; as duas secções difer<strong>em</strong> somente pelo período<br />
de recordação e lista de itens cobertos. A secção de despesas mensais não-alimentares do<br />
questionário perguntava principalmente sobre itens não-alimentares comuns consumíveis<br />
adquiridos pelo agregado familiar durante o mês anterior, incluindo itens tais como combustível<br />
para cozinhar, medicamentos, sabão e outros itens. O questionário de despesas não alimentares<br />
trimestrais teve um período de recordação de três meses e tinha a intenção de captar compras<br />
menos frequentes, tais como roupa e calçado, bens duráveis do agregado familiar e outros itens<br />
que são geralmente mais caros do que aqueles registrados no questionário de despesas não<br />
alimentares mensais. Cada uma dessas secções do questionário também perguntava sobre a<br />
quantidade do it<strong>em</strong> comprado, o valor do it<strong>em</strong> e o local onde o it<strong>em</strong> foi comprado. Para a maioria<br />
12
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
dos itens, a conversão para os valores de consumo diário do agregado familiar foi simplesmente<br />
uma questão de dividir os valores do questionário mensal por 30.417 (365 dias/12 meses), e<br />
aqueles no questionário de três meses por 91,25 (365 dias/4 trimestres). Porém, para certos bens<br />
duráveis compradas com pouca frequência e caras, uma abordag<strong>em</strong> diferente foi usada. Nesses<br />
casos foi imputado um valor de uso para o it<strong>em</strong> para todos os agregados familiares que possuíam<br />
esse it<strong>em</strong>, conforme registado na secção de bens do agregado familiar do questionário do MIAF,<br />
quer tenha sido comprado durante o período de recoração do inquérito quer não. Isto é descrito<br />
<strong>em</strong> pormenor na secção 1.5.2.3.<br />
1.5.2.2 Habitação e renda imputada<br />
Uma medida abrangente do consumo como medida do b<strong>em</strong>-estar deveria incluir o valor<br />
de uso da habitação. Quando um agregado familiar paga renda pela residência, o valor de uso é<br />
medido pelo valor real pago. Para as casas ocupadas por proprietários, também, os dados sobre<br />
as rendas auto-imputadas estão disponíveis para alguns agregados familiares na forma de<br />
respostas para a pergunta “se você tivesse que alugar a sua casa, quanto cobraria por mês?”. Estes<br />
dados sobre as rendas auto-imputadas ou reais são usados quando disponíveis. Contudo, para<br />
6986 agregados familiares, estes dados não estão disponíveis. Para estes agregados familiares foi<br />
estimada uma renda imputada, ou valor de uso da habitação, como uma função de um número<br />
de características da habitação. Um modelo de renda é estimado usando os 1264 agregados<br />
familiares que reportaram rendas auto-estimadas ou reais. As rendas são então imputadas para<br />
os 6986 agregados familiares restantes, usando as características da sua habitação e os parâmetros<br />
estimados do modelo de renda. Os detalhes do modelo estimado são dados no Apêndice A.<br />
1.5.2.3 Valor de uso dos bens duráveis<br />
O consumo de bens duráveis aumenta o b<strong>em</strong>-estar do agregado familiar e assim deverá<br />
ser incluído como componente do consumo total do agregado familiar. Contudo, o consumo de<br />
bens duráveis é distinto da sua compra ou aquisição devido, tipicamente, ao facto de os bens<br />
duráveis ser<strong>em</strong> comprados ou adquiridos com pouca frequência e consumidos durante longos<br />
períodos de t<strong>em</strong>po. Isto contrasta com os bens não-duráveis ou de utilização única cujo consumo<br />
é <strong>em</strong> geral realizado durante um período de t<strong>em</strong>po relativamente curto. O valor dos bens duráveis<br />
comprados durante um determinado período de t<strong>em</strong>po pod<strong>em</strong> assim ser uma medida frágil do<br />
valor deste consumo durante esse período.<br />
O valor de uso dos bens duráveis possui dois componentes: a depreciação do b<strong>em</strong> durável<br />
durante o período de consumo considerado e o custo de oportunidades dos recursos imobilizados<br />
no b<strong>em</strong> durável durante este período de consumo. Assim, o valor de consumo do b<strong>em</strong> durável<br />
j para o agregado familiar i pode ser estimado como:<br />
Valor de uso = Valor actual * ( r + d ) / ( 1 - d )<br />
ij ij j j<br />
13
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
onde Valor de uso é o valor do b<strong>em</strong> j para o agregad familiar no momento do inquérito, r é a<br />
ij<br />
taxa de juros, e d é a taxa de depreciação do b<strong>em</strong> j. Detalhes operacionais da estimativa do valor<br />
j<br />
de uso dos bens duráveis são fornecidos no Apêndice B.<br />
1.5.2.4 Outro consumo não-alimentar<br />
Outros itens do consumo não-alimentar foram retirados de várias partes do questionário<br />
do MIAF. Embora o registo das despesas diárias tenha sido usado maioritariamente para registar<br />
despesas com alimentos, incluí também compras de combustível (lenha, carvão, petróleo), sabão,<br />
água e transporte local (no autocarro ou chapas). Observações adicionais sobre consumo de<br />
energia e água apareceram na secção de vivenda do questionário. Nos casos onde as despesas de<br />
uma categoria determinada apareceram <strong>em</strong> mais de uma secção do questionário, os dados foram<br />
verificados para evitar dupla contag<strong>em</strong> de quaisquer itens de consumo. As despesas com pastas<br />
escolares e livros foram retiradas da secção de educação do questionário. Finalmente, havia<br />
alguns tipos de transferências ou transações financeiras realizadas pelo agregado familiar <strong>em</strong> que<br />
foram incluídos na medida do consumo do agregado, nomeadamente, pagamentos realizados para<br />
o seguro de vida e saúde e pagamentos feitos a clubes ou associações.<br />
1.5.3 Diferenças t<strong>em</strong>porais nos preços de alimentos<br />
Uma questão potencialmente importante para a construção das linhas de pobreza<br />
específicas por região é a variação sazonal (ou mais <strong>em</strong> geral, t<strong>em</strong>poral) dos preços,<br />
especialmente preços de alimentos. É comumente acreditado que os preços de alimentos <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> flutuam substancialmente ao longo das épocas. A variação sazonal do preço não<br />
precisa de afectar o perfil de pobreza regional se as entrevistas aos agregados familiares <strong>em</strong> cada<br />
domínio da linha de pobreza foram uniform<strong>em</strong>ente distribuídos ao longo do inquérito. Porém,<br />
a Tabela 1.3, que lista a distribuição dos agregados familiares da amostra por mês de entrevista<br />
e região, mostra que este não foi o caso, particularmente para as áreas urbanas.<br />
Mesmo se a distribuição t<strong>em</strong>poral das entrevistas <strong>em</strong> cada domínio regional fosse<br />
uniforme, os aspectos não regionais do perfil de pobreza pod<strong>em</strong> ser viciadas pela variação<br />
sazonal nos preços. Para os dados do MIAF, a variação sazonal do preço t<strong>em</strong> um peso adicional<br />
no cálculo das linhas de pobreza porque as quantidades, e por conseguinte as calorias,<br />
consumidas pelos agregados familiares <strong>em</strong> geral precisam ser determinadas usando-se dados<br />
sobre preços de alimentos.<br />
Examinou-se a natureza da variação sazonal nos preços de alimentos usando os dados de<br />
preços do Sist<strong>em</strong>a de Informação do Mercado Agrícola ou SIMA do Ministério de Agricultura<br />
e Pescas. Construiu-se um índice de preço de alimentos t<strong>em</strong>poral para os relativamente pobres<br />
(para este fim, definido como agregado familiar com consumo per capita nominal abaixo da<br />
mediana). Os índices de preços foram construídos separadamente para as três regiões do país,<br />
designados como norte, centro e sul. As informações de mercados das províncias de Niassa, Cabo<br />
14
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Delgado, Nampula foram incluídos na região norte; as das províncias de Sofala, Tete, Manica<br />
e Zambézia foram incluídas na região centro; e a região sul incluiu as províncias de Gaza,<br />
Inhambane e Maputo e a cidade de Maputo. O índice do preço de alimentos foi baseado <strong>em</strong> nove<br />
produtos alimentares: grão de milho, farinha de milho, farinha de mandioca, arroz, açúcar, feijão<br />
nh<strong>em</strong>ba, feijão manteiga, amendoim pequeno e amendoim grande. Estes nove produtos<br />
totalizaram metade do consumo de alimentos nominal total dos relativamente pobres: 48% para<br />
o norte, 54 por cento para o centro e 46% para o sul. Os preços médios dos produtos <strong>em</strong> cada<br />
região foram agregados num índice usando como pesos a parcela regional específica de despesas<br />
de cada produto na despesa total de alimentos dos relativamente pobres.<br />
O padrão do índice de preço de alimentos está ilustrado na Figura 1.2. Os preços de<br />
alimentos são mais altos no início do inquérito <strong>em</strong> Fevereiro de 1996, baixaram<br />
significativamente nos meados do ano, e <strong>em</strong> seguida sob<strong>em</strong> um pouco durante os últimos meses<br />
de 1996 e primeiros meses de 1997. É notável que este padrão corresponde ligeiramente ao ciclo<br />
das colheitas. Os preços de alimentos são mais altos no começo do calendário anual, quando os<br />
estoques das colheitas precedentes estão esgotados para a maioria dos agregados familiares. As<br />
primeiras colheitas de milho verde e outras culturas reduz a pressão sobre os preços de alimentos,<br />
até que alcanc<strong>em</strong> o seu ponto mais baixo após a colheita, que ocorre tipicamente durante Maio,<br />
Junho e Julho. Então os preços aumentam novamente <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro e <strong>em</strong> Janeiro, <strong>em</strong>bora neste<br />
caso os preços no início de 1997 sejam <strong>em</strong> geral muito mais baixos do que os do período<br />
correspondente <strong>em</strong> 1996. Embora os dados mensais na figura 1.2 ilustr<strong>em</strong> b<strong>em</strong> os ciclos de<br />
preços, optou-se agregar os dados de preços, usando médias de 4 meses. Os índices foram<br />
construídos para quatro sub-períodos cobrindo a duração do MIAF: sub-período 1 de Fevereiro<br />
de 1996 a Abril de 1996, sub-período 2 de Maio de 1996 a Agosto de 1996, sub-período 3 de<br />
Set<strong>em</strong>bro de 1996 a Dez<strong>em</strong>bro de 1996, e sub-período 4 de Janeiro de 1997 a Abril de 1997. Os<br />
índices estimados são mostrados na Tabela 1.5.<br />
Em geral, os resultados indicam variação t<strong>em</strong>poral significativa nos preços de alimentos<br />
<strong>em</strong> todas as regiões, com preços mais elevados durante Fevereiro a Abril de 1996 (os meses de<br />
fome antes da colheita anual), seguido de um declínio e nivelamento nos próximos 2 sub-<br />
períodos, e o aumento novamente durante Janeiro a Abril de 1997. Em vista desta evidência, foi<br />
decidido deflacionar o consumo nominal de alimentos pelo índice de preço t<strong>em</strong>poral de<br />
alimentos. Assim, os agregados do consumo de alimentos são exprimidos a preços de Janeiro a<br />
Abril de 1997.<br />
Assume-se que não há nenhuma variação t<strong>em</strong>poral nos preços de bens e serviços não-<br />
alimentares. Isto pode ser uma super simplificação, mas considerando os dados disponíveis, não<br />
foi possível substituir isto com melhor pressuposto. Além disso, considerando o nível baixo de<br />
inflação <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> durante o período do inquérito, e a falta de qualquer razão convincente<br />
para esperar flutuações sazonais (ou quaisquer outros intra-anuais sist<strong>em</strong>áticos) nos preços, é<br />
provável que qualquer ajuste t<strong>em</strong>poral para preços de bens não-alimentares seria pequeno mesmo<br />
15
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
se estivess<strong>em</strong> disponíveis dados suficientes. O consumo total do agregado familiar ajustado<br />
t<strong>em</strong>poralmente aos preços (descrito mais tarde) é assim a soma do consumo alimentar ajustado<br />
t<strong>em</strong>poralmente aos preços e mais o consumo não-alimentar nominal.<br />
1.5.4 Padrão de consumo<br />
Uma análise típica dos padrões de despesa do agregado familiar, baseada na composição<br />
das despesas para os grupamentos funcionais dos bens alimentares e não-alimentares, é<br />
apresentada no perfil de pobreza no Capítulo 2. Porém, de um ponto de vista metodológico é útil<br />
neste ponto examinar a magnitude relativa dos diferentes componentes da medida de consumo<br />
usada neste estudo. Revendo os componentes do consumo total do agregado familiar, nota-se<br />
que, <strong>em</strong> média, o consumo de alimentos é de longe o maior componente do consumo total,<br />
totalizando 62 por cento do consumo total (Tabela 1.6). Uma componente orçamental alta de<br />
alimentos tal como esta, é típica para países de baixo rendimento como <strong>Moçambique</strong>. O segundo<br />
maior componente é o valor de uso estimado de bens duráveis, que totaliza 12 por cento do<br />
consumo total. Isto é seguido de itens não-alimentares do questionário de despesas diárias, que<br />
são predominant<strong>em</strong>ente itens de energia como lenha e carvão, que formam 9 por cento do<br />
consumo total. Habitação, tanto na forma de renda paga ou valor imputado para serviços de<br />
habitação, é o próximo na lista, totalizando 6 por cento do consumo total. Os itens que aparec<strong>em</strong><br />
nos questionários de despesas não-alimentares mensais e trimestrais são os próximos maiores<br />
componentes, com 6 e 4 por cento, respectivamente. As restantes componentes da despesa total,<br />
totalizam menos de 1 por cento do consumo total individualmente e somente 1,5 por cento<br />
colectivamente.<br />
Finalmente, vale a pena observar que a estimativa do consumo médio dos dados do MIAF<br />
é 5285.92 MT por pessoa por dia. Isto é consideravelmente maior que a estimativa<br />
correspondente do consumo privado das contas nacionais, que é 2068.70 MT por pessoa por dia<br />
(INE 1996). Somente uma pequena parte desta discrepância pode possivelmente ser explicada<br />
pela inclusão de itens de consumo que pod<strong>em</strong> não aparecer nas contas nacionais, como a<br />
valoração dos serviços habitacionais e valor de uso de bens duráveis do agregado familiar. Este<br />
grande diferencial sugere que os dados das contas nacionais pod<strong>em</strong> estar subestimando o<br />
consumo pessoal.<br />
8<br />
8<br />
Isto antecipa a estimativa de pobreza para <strong>Moçambique</strong> mais tarde no Capítulo 2, onde apresentamos um<br />
índice total estimado de 69% usando uma linha de pobreza vinculada a uma norma calórica de Organizações<br />
Mundial de Saúde (OMS) padrão. Com a estimativa das contas nacionais 1 do consumo médio, virtualmente a<br />
população inteira estaria abaixo do limiar de pobreza, que sugere que é mais provavelmente que as contas nacionais<br />
subestimam o consumo do que a alternativa dos MIAFs sobrestimando o consumo.<br />
16
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
1.6 Construção das linhas de pobreza e índice de preço espaciais<br />
1.6.1 Abordag<strong>em</strong> do custo das necessidades básicas<br />
Pode haver um número de diferentes abordagens para a determinação de linhas de<br />
pobreza. Neste estudo, seguiu-se a metodologia do custo da necessidades básicas para construir<br />
linhas de pobreza específicas por região (Ravallion 1994, 1998). Por esta abordag<strong>em</strong>, a linha de<br />
pobreza é construída como a soma de uma linha de pobreza alimentar e de outra não-alimentar.<br />
As linhas de pobreza alimentares e não-alimentares englobam juízos de valor sobre necessidades<br />
básicas de alimentos e não-alimentos. As linhas de pobreza são estabelecidas <strong>em</strong> termos de um<br />
nível de despesa de consumo per capita que é considerado consistente com a satisfação dessas<br />
necessidades básicas. A discussão seguinte sobre a derivação das linhas de pobreza é organizada<br />
<strong>em</strong> quatro partes principais lidando respectivamente com a identificação dos domínios espaciais,<br />
as etapas na construção das linhas de pobreza, alimentares e não-alimentares, e as linhas de<br />
pobreza totais específicas por região e os índices de preço espaciais implicados.<br />
1.6.2 Identificação dos domínios espaciais<br />
É útil rel<strong>em</strong>brar aqui que o principal interesse é examinar a pobreza absoluta e assim<br />
desejável assegurar que a linha de pobreza atinja um padrão de vida fixo sobre o domínio<br />
completo da medição da pobreza. Porém, uma linha de pobreza única <strong>em</strong> termos nominais para<br />
todo o país representará quase que certamente diferentes padrões de vida ao longo das regiões,<br />
principalmente devido aos preços que variam ao longo de regiões, especialmente para um país<br />
como <strong>Moçambique</strong> onde os mercados são <strong>em</strong> geral não espacialmente integrados e os<br />
diferenciais de preço regional pod<strong>em</strong> ser grandes.<br />
De uma perspectiva mais assistencialista (welfarista) é argumentável que as diferenças<br />
regionais na composição dos agregados familiares e padrões de consumo deveriam também ser<br />
permitidos na determinação das linhas de pobreza. Começando de um conjunto uniforme de<br />
necessidades calóricas específicas por idade e sexo, as diferenças na composição do agregado<br />
familiar traduz<strong>em</strong>-se directamente nas diferenças das necessidades calóricas. Da mesma forma,<br />
é argumentável que as diferenças nos padrões de consumo importam como o preço espacial ou<br />
diferenciais do custo de vida são avaliados. Assim, uma primeira etapa importante é definir um<br />
nível apropriado de desagregação espacial para a construção de linhas de pobreza.<br />
Ao definir os domínios espaciais para a construção de linhas de pobreza separadas, foram<br />
consideradas importantes as seguintes três considerações. Primeiro, pretendia-se manter uma<br />
distinção rural-urbana entre os domínios espaciais devido à evidência existente de que os preços<br />
e os padrões de consumo variaram sist<strong>em</strong>aticamente entre áreas urbanas e rurais. Segundo, para<br />
evitar probl<strong>em</strong>as com tamanhos de sub-amostras pequenos, pretendia-se assegurar um mínimo<br />
de cerca de 150 agregados familiares para cada domínio. Terceiro, pretendia-se agrupar aquelas<br />
províncias que se acredita ser<strong>em</strong> relativamente homogéneas <strong>em</strong> termos de preços, composição<br />
de agregado familiar e padrões de consumo. A segunda consideração sugeriu que desagregar por<br />
17
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
províncias e zona rural/urbana não era uma opção viável porque implicou que as amostras para<br />
os sectores urbanos das províncias de Cabo Delgado, Zambézia, Tete, Inhambane e Gaza foss<strong>em</strong><br />
cada uma menor de 150 agregados familiares. Assim, agregaram-se províncias para formar 13<br />
domínios regionais como mostrado na Tabela 1.7. O tamanho da amostra mínimo para um<br />
domínio é 179 para Gaza e Inhambane urbana; o tamanho de amostra máximo é 1301 para Sofala<br />
e Zambézia.<br />
1.6.3 Linha de pobreza alimentar<br />
Conforme acima mencionado, as linhas de pobreza sob a abordag<strong>em</strong> do custo das<br />
necessidades básicas estão associadas com a noção de necessidades de alimentos que, por sua<br />
9<br />
vez, estão vinculados tipicamente às necessidades mínimas de energia. Para cada domínio<br />
espacial, a linha de pobreza alimentar é construída determinando-se as necessidades de ingestão<br />
de energia de alimentos (calórica) para a população de referência (a pobre), o conteúdo calórico<br />
da dieta típica do pobre, e o custo médio (a preços locais) de uma caloria quando se consome esta<br />
dieta. A linha de pobreza alimentar — expressa <strong>em</strong> custo monetário por pessoa por dia — é então<br />
calculada como o produto das necessidades calóricas médias diárias per capita e o preço médio<br />
por caloria. Colocada de forma diferente, a linha de pobreza alimentar é o custo específico por<br />
domínio para satisfazer as necessidades calóricas mínimas ao consumir um cabaz de alimentos<br />
10<br />
típicos para o pobre no domínio espacial. É fácil mostrar que as duas noções da linha de<br />
pobreza alimentar são equivalentes, contanto que o preço médio por caloria é determinado com<br />
referência ao mesmo cabaz alimentar de referência.<br />
Uma estimativa do preço médio por caloria por qualquer região pode ser derivado do<br />
custo total do cabaz alimentar tipicamente consumido pelos pobres nesta região e as calorias<br />
totais contidas neste cabaz. Enquanto o custo total do cabaz alimentar é prontamente construído<br />
dos dados de despesas alimentares, para determinar o conteúdo de caloria desse cabaz precisar-se<br />
ainda saber as quantidades de alimento consumidas <strong>em</strong> unidades padrão e os factores de<br />
conversão de caloria para os itens de alimento individuais consumidos. Como lidar com estas<br />
questões está escrito nas subsecções seguintes.<br />
9 É b<strong>em</strong> entendido que a energia de alimentos é somente uma faceta da nutrição humana e que o consumo<br />
de outros nutrientes adequados é também essencial para uma vida ativa e saudável. Contudo, como a maioria dos<br />
inquéritos do agregado familiar com objectivos múltiplos, informação sobre consumo de alimentos nos conjunto<br />
de dados do MIAF não é suficient<strong>em</strong>ente detalhado para permitir a estimativa de ingestão de outros nutrientes.<br />
10 O cabaz de alimentos típicos pode com certeza conter mais ou menos calorias do que o requisito para<br />
este domínio. Esse conjunto é escalonado proporcionalmente para cima ou para baixo até que produza exactamente<br />
as necessidades calóricas preestabelecidas e o custo deste cabaz reescalonado a preços específicos por domínio,<br />
determina a linha de pobreza alimentar para este domínio.<br />
18
1.6.3.1 Necessidades calóricas mínimas<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
As necessidades calóricas estimadas per capita <strong>em</strong> cada domínio da linha de pobreza<br />
depende das características médias do agregado familiar da amostra neste domínio. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
uma região com uma maior proporção de crianças na população exigirá menos calorias per capita<br />
do que uma região com uma proporção maior de adultos de idade média, porque as crianças<br />
tipicamente possu<strong>em</strong> menos necessidades calóricas.<br />
Em princípio, para calcular necessidades calóricas é preciso tomar <strong>em</strong> consideração a<br />
idade, sexo, tamanho corporal e composição do indivíduo, nível de actividade física e, para<br />
mulheres, se estão grávidas ou nos primeiros seis meses de amamentação. Como o MIAF não<br />
inclui dados adequados sobre níveis de actividades físicas ou composição e tamanho corporal do<br />
11 adulto , estimaram-se as necessidades calóricas usando as variáveis disponíveis: idade, sexo,<br />
12 13<br />
estado de gravidez e de amamentação.<br />
Começou-se com as necessidades calóricas específicas por idade e sexo reportadas pela<br />
Organização Mundial de Saúde (OMS, 1985) apresentada no Apêndice B. As necessidades<br />
variam de 820kcl por dia para crianças com menos de 1 ano de idade a 3000 KAL por dia para<br />
homens com idade de 18 a 30 anos.<br />
Usou-se a informação d<strong>em</strong>ográfica do MIAF para calcular a composição média do<br />
agregado familiar dentro de cada domínio. Então mapeou-se o número médio de pessoas <strong>em</strong> cada<br />
categoria de necessidades (mostradas no Apêndice B) para o número de quilocalorias necessárias,<br />
e chegou-se a uma necessidade calórica média por agregado familiar per capita <strong>em</strong> cada domínio.<br />
A necessidade calórica média per capita <strong>em</strong> cada um dos domínios é aproximadamente 2150<br />
11 Para todos os adultos assumiram-se níveis de actividade física moderada, que na verdade pode<br />
representar uma infinidade de combinações de nível de actividade física e massa corporal. Por ex<strong>em</strong>plo, 3000<br />
calorias para adultos de sexo masculino de 18 a 30 poderia representar os requisitos de um hom<strong>em</strong> de 90<br />
quilogramas com um nível de actividade física de 1,45, um hom<strong>em</strong> de 50 quilogramas com um nível de actividade<br />
física de 2,08, ou qualquer número de combinações da massa corporal e um nível de actividade física.<br />
12<br />
Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica a necessidade adicional de 285 calorias por dia<br />
no último trimestre de gravidez, nós não t<strong>em</strong>os dados sobre o estágio de uma gravidez de mulher. Como a gravidez<br />
<strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> não é <strong>em</strong> geral reportada até pelo menos o primeiro trimestre ser completado, assume-se que<br />
metade das mulheres que relataram a gravidez foram no último trimestre.<br />
13<br />
Não exist<strong>em</strong> dados indicando há quanto t<strong>em</strong>po uma dada mulher se encontrava a amamentar a sua<br />
criança. Todavia, exist<strong>em</strong> dados sobre a idade das crianças e se a criança estava ou não a ser amamentada. Assim,<br />
assume-se que para cada criança no agregado familiar que estava senso amamentada, havia uma mulher<br />
amamentando essa criança; se esta criança tinha seis meses ou menos, assumia-se que a mãe (e agregado familiar)<br />
exigia 500 calorias adicionais diárias indicadas pela OMS. Este método sobre estima os requisitos de calorias até<br />
o ponto <strong>em</strong> que o nascimento múltiplos (gêmeos) corr<strong>em</strong> e recém nascidos múltiplos sobreviv<strong>em</strong> nos primeiros seis<br />
meses.<br />
19
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
quilocalorias por dia, com um intervalo estreito de 2115 a 2217 quilocalorias per capita,<br />
conforme mostrada na Tabela 1.8. 14<br />
1.6.3.2 Conversão da quantidade não-padronizada <strong>em</strong> unidades padrão<br />
Para estimar o consumo calórico, as estimativas de consumo de alimentos dev<strong>em</strong> estar<br />
<strong>em</strong> gramas, dado que a medida comum para o conteúdo calórico é de calorias por 100g de porção<br />
comestível. Porém, no registo de despesas diárias do MIAF, somente 11 por cento de<br />
observações do consumo de alimentos foram registados <strong>em</strong> unidades padrão. Os restantes foram<br />
registados <strong>em</strong> unidades não-padronizadas tais como latas, tampas, montinhos, garrafas e outras<br />
unidades. Os dados de MIAF possu<strong>em</strong> duas fontes de informação que pod<strong>em</strong> ser usadas para<br />
converter quantidades <strong>em</strong> unidades locais para unidades padrão: os 11 por cento de observações<br />
registados <strong>em</strong> quilogramas no próprio registo de despesas diárias e o questionário comunitário<br />
de preços. No último caso, os inquiradores visitaram mercados locais e após acertar o preço de<br />
itens seleccionados pesaram os itens usando balanças de mola, assim fornecendo uma estimativa<br />
de preço <strong>em</strong> gramas para essa combinação particular de produtos e unidade local de medidas.<br />
Devido às limitações de dados, foi necessário desenvolver vários métodos de estimativa<br />
de peso <strong>em</strong> gramas. Esses métodos utilizaram informações das duas fontes acima <strong>em</strong> níveis<br />
diferentes de agregação. Esses métodos foram ordenados daqueles que se acreditou ser<strong>em</strong> mais<br />
exactos para aqueles que se acha-se que foss<strong>em</strong> menos exactos. (Veja a Tabela 1.9 para detalhes<br />
dos métodos de conversão.) Em geral, forom preferidos métodos “internos” baseados nos registos<br />
das próprias despesas diárias comparados com aqueles baseados na informação do questionário<br />
de preço da comunidade. Também foram preferidos métodos que permitiam factores de<br />
conversão mais desagregados espacialmente que aqueles mais agregados.<br />
Avançou-se para estimar a quantidade consumida <strong>em</strong> unidade padrão usando uma<br />
abordag<strong>em</strong> hierárquica. Para cada observação de consumo alimentar <strong>em</strong> unidades locais,<br />
primeiro tentou-se converter as unidades padrão usando o método mais preferido; se os dados<br />
foram insuficientes, tentou-se o segundo método mais preferido, e continuou-se até que todas as<br />
observações tenham sido convertidas <strong>em</strong> gramas. Note-se que o método final (numero 11) só<br />
pode ser realizado depois que o preço médio para todas as calorias tenham sido calculados.<br />
Devido à alta proporção de observações registadas <strong>em</strong> unidades não-padronizadas, e aos métodos<br />
imprecisos disponíveis para converter quantidades não-padrão, <strong>em</strong> unidade padrão, toda a<br />
informação de quantidade de alimentos no MIAF, incluindo consumo de calorias, deve ser<br />
interpretado com cuidado.<br />
14 As necessidades calóricas da OMS pod<strong>em</strong> também ser usados para construir as escalas de equivalência<br />
adulta (<strong>em</strong> referência as necessidades calóricas). Por ex<strong>em</strong>plo, se toma necessidades máximas (3000 quilocalorias<br />
por dia para homens de 18 a 30 anos) como base, representando 1,00 unidades de equivalência adulta (UEA) uma<br />
mulher com a mesma categoria de idade teria uma UEA de 0,70, ou 0,795 se ela estivesse no último trimestre de<br />
gravidez ou 0,867 se ela estivesse nos primeiros seis meses de amamentação. Da mesma forma, a UEA média per<br />
capita <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> é cerca de 0,717.<br />
20
1.6.3.3 Factores de conversão calórica<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Após calcular as quantidade físicas de alimentos consumidos <strong>em</strong> gramas, é necessária <strong>em</strong><br />
seguida converter esses valores <strong>em</strong> calorias. Tipicamente, uma tabela de conteúdo de nutrientes<br />
dos alimentos é usada para essa conversão. Como n<strong>em</strong> todos os itens de alimentos nos dados do<br />
MIAF estavam disponíveis numa tabela única de conversão de caloria, foram necessárias tabelas<br />
de alimentos de várias fontes diferentes para estimar o conteúdo de calorias de todos os alimentos<br />
que aparec<strong>em</strong> nos dados do MIAF. Como todas as fontes contêm a informação <strong>em</strong> alguns dos<br />
mesmos itens de alimentos básicos, como grãos de alimentos básicos, e algumas dessas fontes<br />
têm valores ligeiramente divergentes para o conteúdo calórico de itens específicos (devido à<br />
diferença no próprio it<strong>em</strong> de alimento, as diferenças de medição ou outras razões), era necessário<br />
estabelecer uma ord<strong>em</strong> decrescente de preferência para as diferentes fontes. As fontes usadas<br />
foram, <strong>em</strong> ord<strong>em</strong> decrescentes de preferência: o Ministério de Saúde de <strong>Moçambique</strong>, 1991; uma<br />
tabela de alimentos para a Tanzânia compilada pela Universidade de Wageningen (West at al.,<br />
1988); uma tabela de alimentos da África Oriental, Central e Austral (West 1987); o<br />
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 1998); o Departamento de Saúde,<br />
Educação e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> dos Estados Unidos (USHEW, 1968) ; e uma tabela da Universidade da<br />
Califórnia.<br />
O factor principal na ordenação das preferências das fontes das tabelas de alimentos foi<br />
o uso da fonte de <strong>Moçambique</strong> tanto quando possível, visto que seria mais provável representar<br />
os alimentos consumidos <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Se o it<strong>em</strong> alimentar não consta na fonte de<br />
<strong>Moçambique</strong>, <strong>em</strong> seguida usou-se a fonte de países vizinhos. O número de alimentos cobertos<br />
foi um segundo critério para a ordenação das preferências porque uma cobertura mais completa<br />
numa fonte minimizaria o número de fontes diferentes, e ajudaria a as segurar maior consistência<br />
possível. Uma outra consideração foi introduzida na escolha entre as duas fontes do governo dos<br />
Estados Unidos. A tabela do USHEW foi preparada especificamente para alimentos consumidos<br />
<strong>em</strong> África, enquanto a tabela do USDA é baseada <strong>em</strong> alimentos consumidos nos Estados Unidos.<br />
Porém, a fonte HEW é 30 anos mais velha, comparada com a fonte de USDA que é actual.<br />
Escolheu-se a fonte actual do USDA s<strong>em</strong>pre que disponível. Mas muitas vezes buscou-se a tabela<br />
do USHEW para itens alimentares não cobertos <strong>em</strong> nenhuma das tabelas (por ex<strong>em</strong>plo,<br />
gafanhotos).<br />
Apesar das fontes múltiplas de tabelas de alimentos, permaneceram alguns itens<br />
alimentares nos dados do MIAF que não apareceram <strong>em</strong> nenhuma das tabelas. Esses eram <strong>em</strong><br />
geral alimentos preparados como chamussas e rissois. Para estes alimentos foram estimadas as<br />
proporções dos ingredientes constituintes e foi usado o conteúdo calórico desta “receita”. Havia<br />
numerosos casos onde códigos de categorias de alimentos gerais como cereais ou carne foram<br />
usados nas respostas do questionário <strong>em</strong> vez dos códigos dos produtos específicos correctos.<br />
Nesses casos o conteúdo calórico é o it<strong>em</strong> específico mais comum na categoria que foi usado.<br />
Todas as tabelas dos alimentos reportaram o conteúdo calórico <strong>em</strong> quilocalorias por 100g<br />
21
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
de porção comestível. Porém, a maioria das quantidades de alimentos registadas nos dados do<br />
MIAF não estão no estado de parte comestível mas <strong>em</strong> vez disso na condição “conforme colhido”<br />
ou “conforme adquirido”, incluindo pele, cascas e outras partes não comestíveis do alimento.<br />
Assim, para cada it<strong>em</strong> de alimento foi necessário determinar a proporção comestível (por peso)<br />
e ajustar a informação do conteúdo da caloria <strong>em</strong> conformidade. Estimativas para porções não<br />
comestíveis foram disponíveis <strong>em</strong> muitas das tabelas de alimentos, <strong>em</strong>bora n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre era<br />
possível usar a mesma fonte para o conteúdo calórico e a estimativa da porção comestível.<br />
1.6.3.4 Cabazes alimentares de referência e preço médio por caloria<br />
Para calcular o preço médio por caloria para uma região é necessário utilizar um cabaz<br />
alimentar de referência. Este cabaz alimentar de referência pode ser fixo ou variável pelas<br />
regiões. Deve ser óbvio que somente a diferença substantiva entre as abordagens de cabaz fixo<br />
(CF) e de cabaz múltiplo (CM) é o diagrama de peso usado no cálculo de um preço médio por<br />
caloria. (Outras questões tais como a forma como os preços ou valores unitários regionais são<br />
calculados, <strong>em</strong>bora importantes, são fundamentalmente independentes, entretanto se alguém<br />
optar por lidar com eles, o mesmo procedimento deve ser aplicado dentro de ambas as<br />
abordagens CF e CM.) O CF usa um conjunto nacional fixo de pesos aproximando o padrão de<br />
consumo dos agregados familiares pobres na nação como um todo, enquanto CM usa pesos<br />
aproximando o padrão de consumo dos agregados familiares pobres na região. Qual é o melhor?<br />
Primeiro, pode-se encontrar ex<strong>em</strong>plos de ambos os métodos <strong>em</strong> trabalhos <strong>em</strong>píricos sobre<br />
a medição da pobreza. Um ex<strong>em</strong>plo de CF é Ravallion e Bidani (1994), um ex<strong>em</strong>plo do último<br />
é Lanjouw (1994). Em termos teóricos, a opção entre os dois métodos depende de quão<br />
assistencialista (welfarista) ou não-assistencialista (não-welfarista) o analista deseja ser na<br />
avaliação dos padrões de vida e da pobreza. De uma perspectiva assistencialista, existe pouca<br />
justificação para o uso de uma abordag<strong>em</strong> de CF, porque ignora tanto as diferenças genuínas nos<br />
gostos, assim como os efeitos de substituição na resposta as diferenças nos preços relativos. Na<br />
verdade, se alguma destas diferenças foi significativa, a imposição de um cabaz fixo pode<br />
distorcer as comparações regionais do b<strong>em</strong>-estar. Idealmente, pode se derivar os verdadeiros<br />
índices do custo de vida correspondentes a um nível de utilidade de referencia de um sist<strong>em</strong>a de<br />
d<strong>em</strong>anda estimado, <strong>em</strong>bora, mesmo se todas as outras questões probl<strong>em</strong>áticas pertencendo à<br />
estimativa dos modelos de d<strong>em</strong>andas possam ser resolvidas, não é claro como as diferenças nos<br />
gostos pod<strong>em</strong> ser incorporadas com credibilidade <strong>em</strong> tais modelos. Dadas estas dificuldades, uma<br />
abordag<strong>em</strong> prática para incorporar tanto as diferenças nos gostos como os efeitos de substituição<br />
na estimativa das linhas de pobreza alimentares é precisamente usar uma abordag<strong>em</strong> de CM<br />
15<br />
conforme sugerido acima. Esta é a abordag<strong>em</strong> que se segue abaixo ao deixar os cabazes<br />
15<br />
O uso do método CF também encontra a dificuldade prática de dados omissos sobre preços ou valores<br />
unitários se algum it<strong>em</strong> que aparec<strong>em</strong> no cabaz nacional não é consumido pelos pobres <strong>em</strong> uma região determinada<br />
e por isso, nenhum preço ou valor unitário é disponível para este it<strong>em</strong> nessa região.<br />
22
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
alimentares de referência variar<strong>em</strong> pelos 13 domínios espaciais para reflectir os actuais padrões<br />
de consumo alimentar dos pobres nessa região.<br />
Ainda se torna necessário que sejam tomadas medidas para evitar diferenças enganadores<br />
nos preços relativos ou gostos com diferenças nos padrões de vida (Veja Ravallion, 1994, 118-<br />
119). Isto é devido aos agregados familiares de maior renda ter<strong>em</strong> a tendência de consumir itens<br />
alimentares mais caros e assim, ter um custo mais elevado por caloria do que o pobre. As<br />
medidas tomadas para evitar este probl<strong>em</strong>a estão descritas abaixo.<br />
A medida principal tomada para aliviar este probl<strong>em</strong>a dos agregados familiares de<br />
rendimento mais elevado, e assim as regiões de rendimentos mais elevados, consumindo calorias<br />
mais caras foi que o cálculo do preço médio por caloria foi limitado aos agregados familiares<br />
relativamente pobres <strong>em</strong> cada região. Logicamente, não se sabe qu<strong>em</strong> são os pobres antes de<br />
construir as linhas de pobreza. Na literatura, diversas abordagens têm sido usadas para resolver<br />
estas circularidade. Uma abordag<strong>em</strong> comum, por ex<strong>em</strong>plo, é estimar primeiro os pobres como<br />
sendo aqueles cujo consumo per capita nominal está abaixo de algum nível preestabelecido (por<br />
ex<strong>em</strong>plo, seleccionar o 40 por cento dos agregados familiares mais baixo da distribuição do<br />
consumo total nominal per capita).<br />
Experimentaram-se várias definições alternativas a priori dos “relativamente pobres”.<br />
Entre os métodos tentados e rejeitados incluíam-se: (1) selecção de 50 por cento mais baixo de<br />
distribuição do consumo total nominal per capita, (2) uso de um processo iterativo que envolveu<br />
as estimativas dos índices de preço espacial preliminar do método (1), e <strong>em</strong> seguida ajuste do<br />
consumo total per capita nominal para essas diferenças de preços espacial e reseleccionando o<br />
50 por cento mais baixo da distribuição, e (3) selecção destes agregados familiares cujo consumo<br />
de caloria per capita estimado estava abaixo das necessidades indicadas pela composição real<br />
do seu agregado familiar. A razão principal para a rejeição tinha a ver com uma grande dispersão<br />
16<br />
não plausível do preço médio por caloria ao longo de 13 domínios. Escolheu-se finalmente<br />
definir os relativamente pobres como aqueles agregados familiares cujo consumo calórico per<br />
capita era menor que a necessidade calórica per capita para seu domínio espacial. Usando este<br />
conjunto de agregados familiares relativamente pobres calculou-se o preço médio ponderado por<br />
caloria dentro de cada domínio espacial da seguinte maneira.<br />
Esta média ponderada foi calculada após impor um corte de 5 por cento <strong>em</strong> cada extr<strong>em</strong>o<br />
na amostra total. Esse corte foi necessário devido a diversos valores extr<strong>em</strong>os no preço médio<br />
17<br />
por caloria ao nível do agregado familiar, pelo que reduziu-se 5 por cento da amostra das<br />
16 Por ex<strong>em</strong>plo, sob o método (2), o preço médio por caloria nos treze domínios espaciais variaram de 1,08<br />
a 3,49 MT por caloria, para a razão alta: baixa de 3.23:1. Em contraste com isso, a estimativa preferida (discutida<br />
baixo) variou de 1,26 a 2,79 para um razão de apenas 2.20:1.<br />
17<br />
Os valores extr<strong>em</strong>os são amplamente atribuíveis a erros no registo da quantidade física do alimento (se<br />
<strong>em</strong> unidade padrão ou locais) ou os métodos imperfeitos usados para converter de unidades não-padronizadas para<br />
padrão unidades padronizadas.<br />
23
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
extr<strong>em</strong>idades (tanto inferiores como superiores) da distribuição do preço médio de agregado<br />
familiar por caloria. (Este redução da amostra só foi aplicado para fins de construção do preço<br />
médio por caloria.)<br />
Deste modo, desta amostra refinada, seleccionaram-se os agregados familiares<br />
relativamente pobres definidos acima como deficientes no consumo de energia. Em seguida, para<br />
cada domínio construiu-se uma média ponderada do preço médio por caloria desses agregados<br />
familiares, com pesos iguais a seu consumo calórico total, multiplicado pelo factor de expansão<br />
dos agregados familiares, como a estimativa do preço médio específico do domínio por caloria<br />
para os agregados familiares relativamente pobres. Os cabazes alimentares subjacente a esses<br />
preços médios por caloria para os pobres <strong>em</strong> cada um dos treze domínios espaciais estão<br />
apresentados no Apêndice C. 18<br />
Como é mostrado na Tabela 1.10, as diferenças no preço por caloria ao longo dos<br />
domínios são realmente grandes com o mais elevado, duas vezes mais que o nível do mais baixo.<br />
Dentro desse intervalo amplo exist<strong>em</strong> dois padrões claros e esperados que aparec<strong>em</strong>. Primeiro,<br />
dentro de um dado grupamento provincial, o preço por caloria é s<strong>em</strong>pre mais elevado nas áreas<br />
urbanas. Isto não é surpresa. Segundo, o custo de uma caloria <strong>em</strong> geral diminui à medida que se<br />
move do sul do <strong>Moçambique</strong> para o norte do país.<br />
As 13 linhas de pobreza alimentares foram calculadas multiplicando-se o preço médio<br />
por caloria <strong>em</strong> cada domínio espacial pelas necessidades calóricas médias per capita nesse<br />
domínio (Tabela 1.10). Como as necessidades calóricas per capita são bastantes s<strong>em</strong>elhantes nos<br />
diferentes domínios espaciais, a variação nas linhas de pobreza alimentares resultam<br />
principalmente de variações no custo mínimo de uma caloria <strong>em</strong> cada domínio. As linhas de<br />
pobreza alimentares, portanto mostram o mesmo padrão que o preço médio por caloria: dentro<br />
de um grupamento provincial, as linhas de pobreza alimentares urbanos são maiores que as<br />
rurais, e as linhas de pobreza alimentares tend<strong>em</strong> a diminuir à medida que se passa do sul para<br />
o norte.<br />
1.6.4 Linhas de pobreza não alimentares: linhas baixas e altas<br />
Enquanto as linhas de pobreza alimentares estão vinculadas as necessidades fisiológicas,<br />
nenhuma base s<strong>em</strong>elhante está prontamente disponível para definir as necessidades não<br />
alimentares. Assim, mesmo os agregados familiares bastante pobres <strong>em</strong> quase todos os ambientes<br />
alocam uma proporção não trivial de seu consumo total para itens não alimentares, assim, uma<br />
18<br />
O preço médio por caloria calculado pela província de Maputo urbana aparentava ser muito baixio<br />
(2,06MT/caloria) especialmente quando comparado à vizinha cidade de Maputo (2,79MT/ caloria). Isto pareceu<br />
ser causado principalmente pelo erros r<strong>em</strong>anescentes no registo de quantidade físicas do consumo alimentar. Após<br />
exploração considerável de médias alternativas de calcular um preço médio por caloria para a província de Maputo<br />
escolheu-se designar a província de Maputo urbana o mesmo preço estimado por caloria que a cidade de Maputo.<br />
Parte da justificação para isto é que no MIAF, todos agregado familiar na província de Maputo urbana reside <strong>em</strong><br />
Matola, que é imediatamente adjacente à –e essencialmente uma extensão de – a cidade de Maputo.<br />
24
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
maneira óbvia de avaliar as necessidades não-alimentares é verificar o quanto os agregados<br />
familiares que estavam limiarmente numa posição de satisfação das suas necessidades<br />
alimentares tipicamente gastaram <strong>em</strong> seus não-alimentares. Esta é a abordag<strong>em</strong> que se usa a<br />
seguir.<br />
Inicialmente, dois conjuntos de linhas de pobreza não-alimentares foram estimadas para<br />
cada domínio, aplicando variações da mesma metodologia. Cada método tenta identificar uma<br />
quantia mínima de consumo não-alimentar que é consistente com as necessidades não<br />
alimentares básicas. O primeiro método aloca uma porção relativamente pequena para gastos não<br />
alimentares entre os pobres. Deriva-se examinando o consumo não-alimentar entre aqueles<br />
agregados familiares cujo consumo total é igual à linha de pobreza alimentar. O raciocínio é que<br />
se o consumo total de um agregado familiar é apenas suficiente para comprar a quantia mínima<br />
de calorias usando um cabaz alimentar típico para os pobres, quaisquer despesas <strong>em</strong> bens não<br />
alimentares está a retirar parte das despesas alimentares, ou forçando o agregado familiar a<br />
comprar um cabaz alimentar que é inferior ao que normalmente é consumido pelos pobres, ou<br />
ambos. Em ambos os casos, o consumo não alimentar de tal agregado familiar retira o consumo<br />
alimentar “essencial”. Assim, o próprio consumo não-alimentar pode ser considerado “essencial”<br />
ou “básico”.<br />
As linhas do segundo método faz<strong>em</strong> uma alocação mais generosa ao consumo não<br />
alimentar, por considerar o consumo não-alimentar entre aqueles agregados familiares cuja<br />
despesa de alimentos é igual à linha de pobreza alimentar. Isto é mais generoso do que o primeiro<br />
caso porque o b<strong>em</strong> não-alimentar é um b<strong>em</strong> normal e os agregados familiares cuja despesa<br />
alimentar é equivalente à linha de pobreza alimentar t<strong>em</strong> a probabilidade de gastar mais <strong>em</strong> bens<br />
não alimentares do que os agregados familiares cuja despesa total equivale à linha de pobreza<br />
alimentar.<br />
Naturalmente, é altamente improvável que qualquer agregado familiar particular na<br />
amostra tenha o nível de consumo total per capita equivalente exactamente à linha de pobreza<br />
alimentar. Mesmo se tal agregado familiar exista, não seria razoável basear a linha de pobreza<br />
não alimentar unicamente num padrão de consumo de um agregado familiar único. Portanto,<br />
examinaram-se os agregados familiares cujo consumo total per capita (método 1) ou consumo<br />
alimentar (método 2) está na vizinhança da linha de pobreza alimentar, com a vizinhança definida<br />
como 80 a 120 por cento da linha de pobreza alimentar. Usando esses agregados familiares, o<br />
N<br />
custo do cabaz não alimentar mínimo z , é então estimado não-parametricamente como a despesa<br />
não-alimentar média ponderada. Ao construir a média, observações mais próximas da linha de<br />
F<br />
pobreza alimentar z receb<strong>em</strong> um peso mais elevado, usando um kernel com pesos triangulares<br />
(veja Hardle 1990). Por ex<strong>em</strong>plo, os agregados familiares cujo consumo está entre de 18 a 20 por<br />
cento da linha de pobreza alimentar total são dados um peso de um, os agregados familiares entre<br />
16 a 18 por cento da linha de pobreza alimentar receb<strong>em</strong> um peso de dois, e assim por diante,<br />
com os agregados familiares dentro de 2 por cento da linha de pobreza alimentar recebendo um<br />
25
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
peso de dez. Seguiu-se o cálculo do consumo não-alimentar médio ponderado per capita <strong>em</strong> cada<br />
um dos 13 domínios espaciais, ponderando as observações do nível do agregado familiar pelo<br />
produto dos pesos triangulares do kernel, um factor de expansão do agregado familiar, e o<br />
tamanho do agregado familiar.<br />
Os dois grupos de linhas de pobreza não-alimentar e as proporções de despesas não<br />
alimentares associadas são apresentadas na Tabela 1.11. Esta tabela também mostra que sob o<br />
primeiro método de estimativa das linhas de pobreza não-alimentares, 18 a 31 por cento do valor<br />
do consumo do agregado familiar é não-alimentar, mesmo entre aqueles agregados familiares<br />
cujo consumo total está na vizinhança da linha de pobreza alimentar. Conforme esperado, as<br />
proporções do consumo não-alimentar são consideravelmente mais elevadas nas áreas urbanas<br />
que nas áreas rurais.<br />
As linhas de pobreza não-alimentares geradas pelo segundo método foram <strong>em</strong> geral<br />
consideradas não satisfatórias por três razões. Primeiro, devido ao pequeno tamanho da amostra<br />
nas áreas urbanas, as estimativas da linha de pobreza não-alimentar foram indevidamente<br />
influenciadas por alguns agregados familiares com consumo não-alimentar alto, levando a linhas<br />
de pobreza não-alimentares que foram muitas vezes duas a três vezes mais elevadas que as linhas<br />
de pobreza não-alimentares geradas pelo primeiro método. Nas áreas rurais, as linhas de pobreza<br />
não-alimentares geradas pelo segundo método foram <strong>em</strong> geral cerca de 50 por cento mais<br />
elevadas do que aquelas calculadas pelo primeiro método. Segundo, conforme mostra a Tabela<br />
1.11, <strong>em</strong> três casos a proporção média do consumo não-alimentar implícita no segundo método<br />
é mais de 50 por cento, o que é difícil de reconciliar com a noção de pobreza absoluta no<br />
contexto moçambicano. Terceiro, conforme mostrado mais tarde no Capítulo 2, mesmo a<br />
estimativa mais baixa das linhas de pobreza não-alimentar (método 1) resulta num índice de<br />
incidência da pobreza de quase 70 por cento. O uso de linhas de pobreza mais elevadas estimadas<br />
pelo método 2 considerará virtualmente todos pobres, e assim a utilidade de distinguir entre o<br />
pobre não-pobre seria praticamente perdida e assim, na análise subsequente, usa-se somente as<br />
linhas de pobreza estimadas usando o método 1. A Tabela 1.12 apresenta as linhas de pobreza<br />
alimentares e não-alimentares preferidas, assim como a linha de pobreza total, que é obtida como<br />
a sua soma.<br />
1.6.5 Índices espacial do custo de vida<br />
Uma meta fundamental da construção de linhas de pobreza foi assegurar que elas<br />
representass<strong>em</strong> um padrão de vida mínimo e fixo para todos os residentes de <strong>Moçambique</strong>. Com<br />
as linhas de pobreza estimadas, por ex<strong>em</strong>plo, isto significa que um indivíduo que mora <strong>em</strong><br />
Nampula com consumo diário total igual a 3359,16 MT (a linha de pobreza para Nampula rural)<br />
leva um nível de vida comparável a um indivíduo que mora na cidade de Maputo com consumo<br />
diário total de 8541,48 MT (a linha de pobreza da cidade de Maputo). Analogamente, pode se<br />
pensar nas treze linhas de pobreza como reflectindo diferenças de preços regionais no custo de<br />
26
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
obtenção do mesmo padrão de vida mínimo. E as rácios da linhas de pobreza pod<strong>em</strong> por isso ser<br />
consideradas um preço espacial, ou índice do custo de vida para <strong>Moçambique</strong>. Além de listar as<br />
linhas de pobreza total, alimentar e não-alimentar, a Tabela 1.2 também lista o índice de preço<br />
19<br />
espacial (normalizado) implicado pelas 13 linhas de pobreza totais. Como as linhas de pobreza,<br />
o índice de preços espacial reflect<strong>em</strong> diferenças nos preços e também a composição dos padrões<br />
de consumo e composição do agregado familiar entre o relativamente pobres.<br />
Ao comparar áreas urbanas e rurais, note-se que as diferenças nas linhas de pobreza totais<br />
são maiores que as diferenças nas linhas de pobreza alimentares. Isto é porque <strong>em</strong> todas as áreas<br />
urbanas ambas as linhas de pobreza alimentares e não-alimentares ser<strong>em</strong> mais elevadas que na<br />
região rural correspondente. Em geral, o padrão estabelecido no cálculo do preço médio por<br />
caloria é mantido. Os el<strong>em</strong>entos chave deste padrão são: (1) exist<strong>em</strong> vastas diferenças espaciais<br />
no custo de necessidades básicas <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, com as linhas de pobreza totais mais elevadas<br />
e mais baixas diferenciando-se por um factor de 2,6; (ii) as áreas rurais têm as linhas de pobreza<br />
mais reduzidas que as áreas urbanas, porque ambos os alimentos e bens não-alimentares básicos<br />
são menos caros que nas áreas rurais; e (iii) as linhas de pobreza tend<strong>em</strong> a ser mais elevadas no<br />
sul do país que no norte, <strong>em</strong> grande parte devido ao custo mais elevado dos cabazes alimentares<br />
dos pobres no sul, mas também <strong>em</strong> alguma parte devido aos custos mais elevados dos itens não-<br />
alimentares básicos.<br />
19<br />
Preços médios nacionais são usados como a base para a normalização. Esta normalização assegura que<br />
o consumo total nominal médio nacional é igual ao consumo total médio nacional ajustado pelo índice de preço<br />
espacial.<br />
27
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
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29
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.1—Distribuição da amostra por unidade de amostrag<strong>em</strong> e província<br />
Urbano Rural Total<br />
Resto das Pequenas<br />
Capitais provinciais províncias cidades<br />
Nº de Nº de Nº de<br />
Nº de Nº de Agregados Nº de Nº de Agregados Agregados<br />
Província Bairros Quarteirões familiares Localidades Aldeias familiares familiares<br />
Niassa 2 6 72 21 63 585 657<br />
Cabo Delgado 2 6 72 25 75 675 747<br />
Nampula 3 12 144 22 88 816 960<br />
Zambézia 2 8 96 22 88 792 888<br />
Tete 2 6 72 20 60 546 618<br />
Manica 4 12 144 19 57 522 666<br />
Sofala 7 21 252 19 57 513 765<br />
Inhambane 2 6 72 24 72 657 729<br />
Gaza 2 6 72 21 63 567 639<br />
Prov. Maputo 8 24 288 16 48 432 720<br />
Cidad. Maputo 37 75 900 900<br />
Total Nacional 71 182 2184 209 671 6105 8289<br />
30
Tabela 1.2—Estrutura do inquérito aos agregados familiares <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Visita<br />
Secção do<br />
inquérito Tópicos Cobertura<br />
1 1A Características d<strong>em</strong>ográficas Todos indivíduos<br />
1 1B Migração Todos indivíduos<br />
1 2A Saúde Todos m<strong>em</strong>bros de agregado familiar<br />
1 2B Saúde (Fertilidade) Mulheres de 12 a 49 anos de idade<br />
1 2C<br />
Saúde, incluindo<br />
antropometria Crianças abaixo de 5 anos de idade<br />
1 1 DDA<br />
Despesas diárias do agregado<br />
familiar Todos agregados familiares<br />
2<br />
1 DDP Despesas diárias pessoais M<strong>em</strong>bros do agregado familiar com rendimento<br />
2 3 Educação Indivíduos maiores que 6 anos de idade<br />
2 4 Situação de <strong>em</strong>prego Indivíduos maiores que 6 anos de idade<br />
2 5 Despesas mensais Todos agregados familiares<br />
2 6 Despesas trimestrais Todos agregados familiares<br />
2 7A Actividades agro-pecuária Todos agregados familiares<br />
2 7B Produção agrícola Todos agregados familiares<br />
2 7C Árvores de fruta e de amédoas Todos agregados familiares<br />
2 7D Produção animal Todos agregados familiares<br />
2 1 DDA<br />
Despesas diárias do agregado<br />
familiar Todos agregados familiares<br />
2<br />
2 DDP Despesas diárias pessoais M<strong>em</strong>bros do agregado familiar com rendimento<br />
3 8<br />
Transferências pagas (fora do<br />
agregado familiar) Todos agregados familiares<br />
3 9 Transações financeiras Todos agregados familiares<br />
3 10 Rendimentos Todos agregados familiares<br />
3 11<br />
Características da habitação e<br />
do agregado Todos agregados familiares<br />
3 1 DDA<br />
Despesas diárias do agregado<br />
familiar Todos agregados familiares<br />
2<br />
3 DDP Despesas diárias pessoais M<strong>em</strong>bros do agregado familiar com rendimento<br />
1<br />
Notas: Despesas Diárias do Agregado<br />
2<br />
Despesas Diárias Pessoais<br />
31
Tabela 1.3—Número de agregados familiares inquiridos por mês e domínio de linha da pobreza<br />
Niassa & Sofala & Gaza & Maputo Maputo Nº de % da<br />
Cabo Delgado Nampula Zambézia Manica & Tete Inhambane Província Cidade AF amostra<br />
Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano<br />
Fev-96 27 36 47 26 48 27 25 12 45 12 305 3,7<br />
Mar-96 36 47 66 48 27 47 33 99 72 96 571 8,6<br />
Abr-96 108 47 47 97 36 98 24 108 72 72 709 9,3<br />
Mai-96 80 72 97 98 36 64 83 99 72 71 772 8,8<br />
Jun-96 99 71 36 72 91 100 118 72 73 732 8,6<br />
Jul-96 118 71 24 144 88 135 53 82 715 9,3<br />
Ago-96 55 75 107 18 98 353 4,3<br />
Set-96 134 72 123 108 135 37 72 681 8,2<br />
Out-96 80 72 116 81 108 54 72 583 7,0<br />
Nov-96 81 71 155 108 81 27 74 597 7,2<br />
Dez-96 109 73 98 54 34 54 54 70 546 6,6<br />
Jan-97 111 72 72 110 45 36 135 54 108 743 9,0<br />
Fev-97 104 72 48 70 54 51 36 81 516 6,2<br />
Mar-97 55 36 60 81 36 12 48 328 9,0<br />
Abr-97 27 36 54 6 123 4,0<br />
Total 1188 215 719 237 1305 348 989 285 1188 180 432 288 900 8274 100,0<br />
Percent. 14,4 2,6 8,7 2,9 15,8 4,2 12,0 3,4 14,4 2,2 5,2 3,5 10,9 100,0
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.4—Distribuição relativa da população por fonte de informação<br />
MIAF (1996-97) Censo (1997)<br />
População Ord<strong>em</strong> População Ord<strong>em</strong><br />
Província (<strong>em</strong> 1000s) (1=Mais populoso) (<strong>em</strong> 1000s) (1=Mais populoso)<br />
Niassa 500 11 485 11<br />
Cabo Delgado 763 4 816 4<br />
Nampula 1866 2 1947 2<br />
Zambézia 1984 1 2034 1<br />
Tete 686 7 730 5<br />
Manica 532 10 619 8<br />
Sofala 980 3 877 3<br />
Inhambane 758 5 706 6<br />
Gaza 625 8 657 7<br />
Maputo Província 601 9 514 10<br />
Maputo Cidade 703 6 614 9<br />
33
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.5: Índices t<strong>em</strong>porais de preços para Norte, Centro e Sul de <strong>Moçambique</strong><br />
Sub-período Norte Centro Sul<br />
Fev 96 - Abr 96 135,3 131,8 129,4<br />
Mai 96 - Ago 96 107,6 82,6 97,7<br />
Set 96 - Dez 96 96,8 83,8 93,8<br />
Jan 97 - Abr 97 100,0 100,0 100,0<br />
Nota: Baseado nos dados sobre os preços de Sist<strong>em</strong>a de Informação do Mercado Agrícola (SIMA), do<br />
Ministério de Agricultura e Pescas. Os índices de preços foram construídos para agregados<br />
familiares relativamente pobres (usando as despesas específicas da região, ponderadas para nove<br />
produtos alimentares). A região Norte inclui os mercados das províncias de Niassa, Cabo Delgado e<br />
Nampula; Central inclui mercados das províncias de Sofala, Tete, Manica e Zambézia; e Sul inclui<br />
mercados de Gaza, Inhambane, Província de Maputo e Cidade de Maputo.<br />
34
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.6—Componentes do consumo agregado e proporções médias<br />
Percentag<strong>em</strong><br />
Secção no do consumo<br />
Componente questionário 1 total<br />
Alimentos 2 DDA 61,91<br />
Valor de uso de bens duráveis<br />
Despesas diárias não-alimentares do questionário das despesas<br />
11 12,34<br />
diárias (predominant<strong>em</strong>ente combustíveis) 2 DDA 9,10<br />
Habitação, incluindo valores imputados 11 6,04<br />
Despesas trimestrais não-alimentares 6 5,51<br />
Despesas mensais não-alimentares 5 3,55<br />
Água e energia (incluindo todos tipos de combustíveis) 11 0,87<br />
Material escolar 3 0,35<br />
Propinas escolares 3 0,22<br />
Transferências pagas 9 0,08<br />
Água no questionário das despesas diárias<br />
2<br />
DDA 0,04<br />
Total<br />
1<br />
Percentagens são proporções médias.<br />
2<br />
Despesas diárias do agregado.<br />
100,00<br />
35
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.7—Distribuição da amostra por domínios de linha da pobreza<br />
Número de agregados Percentag<strong>em</strong> da<br />
Domínio espacial familiares amostra total<br />
Niassa & Cabo Delgado — Rural 1186 14,4<br />
Niassa & Cabo Delgado — Urbano 214 2,6<br />
Nampula — Rural 719 8,7<br />
Nampula — Urbano 236 2,9<br />
Sofala & Zambézia — Rural 1301 15,8<br />
Sofala & Zambézia — Urbano 345 4,2<br />
Manica & Tete — Rural 987 12,0<br />
Manica & Tete — Urbano 285 3,5<br />
Gaza & Inhambane — Rural 1187 14,4<br />
Gaza & Inhambane — Urbano 179 2,2<br />
Maputo Província — Rural 431 5,2<br />
Maputo Província— Urbano 287 3,5<br />
Cidade de Maputo 893 10,8<br />
Total 8250 100,0<br />
Nota: Os domínios de linha da pobreza são as regiões usadas para se construir as diferentes<br />
linhas de pobreza, tendo-se controlado desse modo as diferenças espaciais nos preços,<br />
preferências e composição dos agregados familiares.<br />
36
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.8—Média das necessidades calóricas mínimas diárias por pessoa <strong>em</strong> cada<br />
domínio da linha de pobreza<br />
Média das necessidades calóricas<br />
Domínios de linha da pobreza diária por pessoa<br />
Niassa & Cabo Delgado — Rural 2.158,70<br />
Niassa & Cabo Delgado — Urbano 2.121,89<br />
Nampula — Rural 2.162,53<br />
Nampula — Urbano 2.140,38<br />
Sofala & Zambézia — Rural 2.173,63<br />
Sofala & Zambézia — Urbano 2.173,73<br />
Manica & Tete — Rural 2.114,97<br />
Manica & Tete — Urbano 2.166,51<br />
Gaza & Inhambane — Rural 2.142,28<br />
Gaza & Inhambane — Urbano 2.167,12<br />
Maputo Província — Rural 2.122,04<br />
Maputo Província — Urbano 2.165,39<br />
Maputo Cidade 2.217,34<br />
Nacional 2.158,10<br />
37
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.9—Métodos de conversão das quantidades <strong>em</strong> unidades locais para<br />
quilogramas<br />
Percentag<strong>em</strong> das Percentag<strong>em</strong><br />
observações de das despesas<br />
despesas alimentares<br />
Ord<strong>em</strong> Equação de conversão alimentares totais<br />
ˆq S S<br />
ih ' qih 1 11,4 18,45<br />
ˆq S N N S<br />
ih ' qhij C u ijd / u id<br />
2 45,5 41,05<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / u S<br />
id<br />
3 7,2 10,95<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / p S<br />
id<br />
4 28,1 22,33<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / p S<br />
ir<br />
5 4,2 3,30<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / p S<br />
i<br />
6 1,0 1,09<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / p S<br />
i ) 7 d<br />
0,9 1,72<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / p S<br />
i ) 8 r<br />
0,0 0,01<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / p S<br />
i )<br />
9 0,0 0,01<br />
ˆq S N<br />
ih ' qhij C m ijd<br />
10 0,0 0,00<br />
ˆq S N<br />
ih ' vhi / p C<br />
11 d<br />
S<br />
/ ci 1,6 1,11<br />
Notas:<br />
S<br />
q^ indica a quantidade estimada <strong>em</strong> unidades padronizadas (gramas ou quilogramas),<br />
S q indica a quantidade recolhida <strong>em</strong> unidades padronizadas (gramas ou quilogramas),<br />
N<br />
q indica a quantidade recolhida <strong>em</strong> unidades não-padronizadas, ou locais (latas, montinhos,<br />
tampas, etc.),<br />
S<br />
u indica o valor por unidade (despesas / quantidade) das observações recolhidas <strong>em</strong> unidades<br />
padronizadas,<br />
N<br />
u indica o valor por unidade (despesas / quantidade) das observações recolhidas <strong>em</strong> unidades<br />
não-padronizadas,<br />
N<br />
v indica as despesas das observações recolhidas <strong>em</strong> unidades não-padronizadas,<br />
S p indica o preço de um alimento <strong>em</strong> unidades padronizadas, calculado a partir dos preços do<br />
questionário comunitário,<br />
C p indica o preço de uma caloria, ponderado usando o cabaz alimentar médio dos pobres<br />
nesse domínio de linha da pobreza,<br />
m indica os gramas por unidade local de medição, calculados a partir dos preços dos dados<br />
comunitários,<br />
S c indica a quantidade de calorias <strong>em</strong> uma grama do produto.<br />
38<br />
(continua...)
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.9—Métodos de conversão das quantidades <strong>em</strong> unidades locais para<br />
quilogramas<br />
e os subescritos<br />
h indica agregados familiares,<br />
i indica produtos alimentares,<br />
i’ indica grupos dos produtos alimentares similares,<br />
j indica unidades de medição,<br />
d indica domínios espaciais, e<br />
r indica regiões (norte, centro, e sul).<br />
Métodos particulares de conversão foram somente usados se a(s) média(s) na fórmula relevante tivesse sido<br />
calculada a partir de cinco ou mais observações. Se este tamanho mínimo da amostra não for atingido, a<br />
conversão foi tentada usando a equação de conversão listada a seguir.<br />
39
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.10—Necessidades calóricas por pessoa, preço médio por caloria, e linhas de<br />
pobreza alimentar<br />
Necessidades<br />
calóricas diárias Preço médio Linha da pobreza<br />
médias por por caloria alimentar (MT /<br />
Domínios de linhas da pobreza pessoa (MT/caloria) Pessoa / Dia)<br />
Niassa & Cabo Delgado — Rural 2158,70 1,3950 3011,47<br />
Niassa & Cabo Delgado — Urbano 2121,89 1,7375 3686,83<br />
Nampula — Rural 2162,53 1,2680 2742,00<br />
Nampula — Urbano 2140,38 1,7017 3642,28<br />
Sofala & Zambézia — Rural 2173,63 1,7109 3718,80<br />
Sofala & Zambézia — Urbano 2173,73 2,4703 5369,80<br />
Manica & Tete — Rural 2113,97 1,8190 3845,31<br />
Manica & Tete — Urbano 2166,51 2,5610 5548,39<br />
Gaza & Inhambane — Rural 2142,28 2,3205 4971,20<br />
Gaza & Inhambane — Urbano 2167,12 2,6367 5713,96<br />
Maputo Província — Rural 2122,04 2,5532 5418,00<br />
Maputo Província — Urbano 2165,39 2,7926 6047,09<br />
Maputo Cidade 2217,34 2,7926 6192,15<br />
40
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.11—Proporção do consumo não alimentar e linhas de pobreza nãoalimentar,<br />
por domínio de linha da pobreza<br />
Linha mais baixa Linha mais alta<br />
Proporção do Linha da Proporção Linha da<br />
consumo pobreza do consumo pobreza<br />
não- não- não- não-<br />
Domínio espacial alimentar alimentar alimentar alimentar<br />
Niassa & C. Delgado — Rural 0,25 1011,2 0,33 1482,3<br />
Niassa & C. Delgado—Urbano 0,32 1747,5 0,56 4785,0<br />
Nampula — Rural 0,18 617,2 0,22 790,5<br />
Nampula — Urbano 0,26 1306,6 0,37 2158,3<br />
Sofala & Zambézia — Rural 0,23 1134,8 0,34 1873,5<br />
Sofala & Zambézia — Urbano 0,29 2230,3 0,43 3974,0<br />
Manica & Tete — Rural 0,18 868,1 0,24 1188,4<br />
Manica & Tete — Urbano 0,25 1866,0 0,31 2442,7<br />
Gaza & Inhambane — Rural 0,23 1461,7 0,32 2356,2<br />
Gaza & Inhambane — Urbano 0,27 2112,8 0,52 6254,8<br />
Maputo Província — Rural 0,26 1898,2 0,40 3636,1<br />
Maputo Província — Urbano 0,31 2666,8 0,58 8218,2<br />
Maputo Cidade 0,28 2349,3 0,47 5495,9<br />
41
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1.12—Linhas de pobreza alimentar, não-alimentar, total e índice espacial dos<br />
preços<br />
Linha de<br />
Linha de<br />
pobreza Linha de Índice<br />
pobreza não- pobreza espacial<br />
Domínio espacial alimentar alimentar total de preços<br />
Niassa & Cabo Delgado — Rural 3011,47 1011,24 4022,71 0,74<br />
Niassa & Cabo Delgado — Urbano 3686,83 1747,53 5434,36 1,00<br />
Nampula — Rural 2742,00 617,17 3359,16 0,62<br />
Nampula — Urbano 3642,28 1306,57 4948,86 0,91<br />
Sofala & Zambézia — Rural 3718,80 1134,75 4853,55 0,89<br />
Sofala & Zambézia — Urbano 5369,80 2230,26 7600,06 1,40<br />
Manica & Tete — Rural 3845,31 868,07 4713,38 0,87<br />
Manica & Tete — Urbano 5548,39 1865,99 7414,38 1,36<br />
Gaza & Inhambane — Rural 4971,20 1461,70 6432,90 1,18<br />
Gaza & Inhambane — Urbano 5713,96 2112,79 7826,75 1,44<br />
Maputo Província — Rural 5418,00 1898,18 7316,17 1,35<br />
Maputo Província — Urbano 6047,09 2666,80 8713,89 1,60<br />
Maputo Cidade 6192,15 2349,33 8541,48 1,57<br />
42
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Figura 1.1—Desenho da amostra do Inquérito aos Agregados Familiares Sobre as<br />
Condições de Vida de <strong>Moçambique</strong> (MIAF)<br />
43
Índice T<strong>em</strong>poral de Preços de Alimentos (Abril 1997=100)<br />
150<br />
140<br />
130<br />
120<br />
110<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
Fev<br />
1996<br />
Figura 1.2—Variação t<strong>em</strong>poral dos preços de produtos alimentares por região<br />
Abr<br />
1996<br />
Jun<br />
1996<br />
Ago<br />
1996<br />
Mês e Ano<br />
Out<br />
1996<br />
Dez<br />
1996<br />
Jan<br />
1997<br />
Norte<br />
Centro<br />
Sul<br />
Mar<br />
1997
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Apêndice A: Estimação da renda imputada<br />
Os dados sobre habitação e renda encontram-se no ficheiro 14 (secção sobre Vivenda)<br />
do MIAF. Há duas questões relacionadas com as rendas. A primeira questão é dirigida aos<br />
locatários que são questionados sobre os reais pagamentos de renda mensais. A segunda<br />
questão é dirigida aos proprietários a qu<strong>em</strong> se pergunta: “Se tivesse que arrendar a sua<br />
residência, quanto cobraria por mês?”. Assim, t<strong>em</strong>-se uma medida da renda real para os<br />
locatários e outra do valor da renda auto-estimada dos proprietários. Contudo, estas duas<br />
medidas de renda estão disponíveis apenas para 1264 agregados familiares de uma amostra<br />
total de 8274. Felizmente, existe informação completa sobre as características da habitação,<br />
mesmo quando a informação sobre a renda não está disponível. Assim, para as restantes<br />
agregados familiares, usa-se esta informação para estimar rendas imputadas derivadas de um<br />
modelo das rendas da habitação como função das suas características. Este modelo é abaixo<br />
descrito.<br />
Usam-se ambos os dados das rendas reais e das rendas auto-imputadas no modelo de<br />
determinação da renda. Foi estimado o seguinte modelo.<br />
lnR = " + $N (Província * Urbana) + ( (Locatário) + *NX + g<br />
i i i i i<br />
onde ln R = logaritmo natural de renda mensal (real e auto-imputada)<br />
i<br />
Província * Urbana = conjunto de variáveis binárias (“dummy”) para as interacções<br />
i<br />
província-zona<br />
Locatário = uma variável binária (“dummy”) com valor 1 se a renda foi<br />
i<br />
reportada pelo locatário, ou 0 se a renda foi auto-imputada pelo<br />
proprietário-residente<br />
X = um vector das características da habitação, incluindo o<br />
i<br />
número de quartos, variáveis categóricas de identificação do<br />
tipo de habitação (vivenda, apartamento ou palhota), tipo de<br />
paredes, tecto, chão, retrete, fonte de água, idade da habitação,<br />
t<strong>em</strong>po de ocupação, modo de aquisição da habitação, tipo de<br />
iluminação e tipo de combustível usado na cozinha.<br />
A variável binária (“dummy”) para os Locatários tornou-se colinear com as outras<br />
variáveis do modelo e por isso foi retirada. Tentaram-se também várias especificações<br />
alternativas, incluindo: interagir a variável binária (“dummy”) para locatário com as<br />
características da habitação; termos de interacção para o tipo de habitação e o conjunto de<br />
variáveis binárias (“dummy”) da província/área; correr regressões separadas por tipo de<br />
habitação (uma para vivendas e flats e outra para palhotas e outras habitações). Mas estas<br />
especificações não melhoraram significativamente o modelo.<br />
As estimativas preferidas dos parâmetros do modelo encontram-se na Tabela A1. Os<br />
parâmetros estimados foram usados para predizer a renda para os casos <strong>em</strong> que não existisse<br />
informação sobre renda real ou auto-imputada.<br />
45
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela A1—Modelo da renda de habitação<br />
Variável dependente : Logaritmo da renda mensal<br />
Variável Parâmetro estimado Estatística de t<br />
Variáveis binárias para província e zona<br />
Niassa rural 0,2177 0,219<br />
Cabo Delgado urbano -0,8069 -0,961<br />
Cabo Delgado rural -0,6334 -0,744<br />
Nampula urbano -0,6364 -0,777<br />
Nampula rural -1,6189 -1,744<br />
Zambézia urbano -0,6126 -0,738<br />
Zambézia rural 0,2602 0,255<br />
Tete urbano -0,6668 -0,809<br />
Tete rural -0,9496 -1,039<br />
Manica urbano -0,3465 -0,425<br />
Manica rural -0,5468 -0,644<br />
Sofala urbano -0,0734 -0,090<br />
Sofala rural -0,0592 -0,066<br />
Inhambane urbano -0,0330 -0,040<br />
Inhambane rural -0,3272 -0,403<br />
Gaza urbano 0,0315 0,034<br />
Gaza rural -0,6533 -0,790<br />
Maputo Província urbano -0,2042 -0,252<br />
Maputo Província rural -0,3884 -0,475<br />
Maputo Cidade urbano 0,0058 0,007<br />
Número de divisões<br />
Número de divisões da habitação 0,1405 5,502<br />
Dados omissos (binária) 1,7456 1,381<br />
Tipo de habitação (variáveis binárias)<br />
Flat ou apartamento -0,1355 -0,937<br />
Palhota ou cabana -0,0415 -0,140<br />
Outro -0,4036 -2,113<br />
Tipo de paredes (variáveis binárias)<br />
Madeira ou zinco -0,4419 -2,297<br />
Adobe -0,4227 -1,337<br />
Caniço ou paus -0,3173 -1,141<br />
Caniço ou pau maticado -0,5155 -1,738<br />
Outro -0,3803 -0,914<br />
Tipo de tecto (variáveis binárias)<br />
Telha -0,0744 -0,352<br />
Lusalite -0,2778 -1,730<br />
Zinco -0,1266 -0,954<br />
Capim -0,3766 -1,542<br />
Outro -0,0964 -0,437<br />
46
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela A1—Modelo da renda de habitação<br />
Variável dependente : Logaritmo da renda mensal<br />
Variável<br />
Tipo de chão (variáveis binárias)<br />
Parâmetro estimado Estatística de t<br />
Mármore -0,2061 -0,773<br />
Granulite -0,1976 -0,322<br />
Cimento ou concreto 0,1043 0,699<br />
Tijolo 0,5395 1,118<br />
Adobe -0,2763 -1,138<br />
S<strong>em</strong> nada (terra) -0,0740 -0,323<br />
Outro<br />
Se t<strong>em</strong> qualquer divisão exclusivamente<br />
para trabalho (variáveis binárias)<br />
0,7626 2,324<br />
Não 0,0906 0,605<br />
Dados omissos<br />
Idade da habitação (variáveis binárias)<br />
-0,0717 -0,198<br />
1 - 3 anos 0,2541 0,888<br />
4 - 5 anos 0,0929 0,324<br />
5 - 10 anos 0,2908 1,052<br />
Mais que 10 anos 0,2660 1,005<br />
Dados omissos<br />
T<strong>em</strong>po de permanência (variáveis binárias)<br />
0,3093 0,483<br />
1 a 3 anos -0,3417<br />
-1,528<br />
4 - 5 anos -0,1328 -0,578<br />
5 - 10 anos -0,4622 -2,116<br />
Mais que 10 anos -0,2913 -1,436<br />
Dados omissos<br />
Modo de aquisição (variáveis binárias)<br />
-0,8119 -0,714<br />
Arrendamento (não de APIE/Coop) 2,1516 12,352<br />
Própria casa, totalmente paga 3,0307 25,326<br />
Própria casa, continua pagando 2,4742 12,509<br />
Ocupado de facto 2,6088 10,706<br />
Cedida pelo estado ou outros 1,2370 4,609<br />
Outro<br />
Fonte de água (variáveis binárias)<br />
0,6142 0,863<br />
Canalizada fora da casa (no quintal) -0,1991 -1,645<br />
Fontenário -0,3903 -2,595<br />
Poço particular -0,3534 -1,964<br />
Poço público -0,3623 -2,194<br />
Rios ou lagos -0,3010 -1,232<br />
Outro -0,3587 -2,285<br />
Se a habitação t<strong>em</strong> sanita (variáveis binárias)<br />
Não 0,0614 0,086<br />
Dados omissos 0,0532 0,069<br />
47
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela A1—Modelo da renda de habitação<br />
Variável dependente : Logaritmo da renda mensal<br />
Variável Parâmetro estimado Estatística de t<br />
Se a habitação t<strong>em</strong> latrina (variáveis binárias)<br />
Não 0,1435 1,333<br />
Dados omissos<br />
Tipo de iluminação (variáveis binárias)<br />
0,3132 0,442<br />
Candeeiro -0,3010 -3,083<br />
Velas -0,3320 -1,467<br />
Lenha -0,6080 -2,943<br />
Outro -0,5968 -2,200<br />
S<strong>em</strong> iluminação<br />
Tipo de combustível de cozinha (variáveis binárias)<br />
-0,0705 -0,131<br />
Gas -0,1769 -1,128<br />
Carvão -0,1510 -1,211<br />
Lenha -0,3248 -2,178<br />
Outros -0,0972 -0,293<br />
Não cozinha -0,5376 -0,478<br />
Constante 9,3043 10,833<br />
2<br />
R 0,5947<br />
2 Ajustado R 0,5673<br />
Erro padrão da regressão 1,1006<br />
F(80,1183) 21,6987 Signif F = ,0000<br />
Nota: A regressão usa observações com renda actual ou estimada reportada pelos 1264 agregados<br />
familiares.<br />
48
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Apêndice B: Estimação do valor de uso dos bens duráveis<br />
A metodologia para a estimação do valor de uso dos bens duráveis está descrita na<br />
secção 1.5.2.3. Neste Apêndice, detalha-se como esta metodologia é operacionalizada com os<br />
dados disponíveis do MIAF e outras fontes.<br />
Os agregados familiares foram questionados sobre a sua posse de 16 bens duráveis que<br />
estão listados na secção 11 do questionário do MIAF. Ex<strong>em</strong>plos de bens duráveis inclu<strong>em</strong><br />
mobiliário, viaturas, bicicletas e outros artigos domésticos, tais como ferros de engomar,<br />
ventoinhas, rádios e televisores. O inquérito perguntou sobre a quantidade e a condição (se<br />
estava <strong>em</strong> “boa” condição ou não) de cada b<strong>em</strong>, mas não sobre o seu valor. Foi, portanto,<br />
necessário estimar o valor destes bens duráveis no período do inquérito (Fevereiro de 1996 a<br />
Abril de 1997). De modo a obter este valor, foi feito um inquérito modesto de mercado na<br />
cidade de Maputo, o qual recolheu informação sobre preços de mercado destes bens <strong>em</strong><br />
Set<strong>em</strong>bro de 1996 (período intermédio do inquérito).<br />
A primeira fonte de dados de preços foi o mercado informal da cidade de Maputo para<br />
os bens usados. Para os casos <strong>em</strong> que não foi possível obter preços de bens usados, foi<br />
utilizado o valor de bens novos no mercado formal. Para os casos onde o valor dos bens <strong>em</strong><br />
Set<strong>em</strong>bro de 1996 foi difícil de obter, foi utilizado o valor corrente do período do inquérito de<br />
mercado, isto é , Outubro de 1997. Os preços de bens novos foram convertidos a bens usados<br />
equivalentes, assumindo que o valor de um b<strong>em</strong> usado era dois terços do valor do b<strong>em</strong> novo<br />
equivalente.<br />
Os preços correntes no período do inquérito de mercado (Outubro de 1997), foi<br />
deflaccionado para o período intermédio do inquérito (Set<strong>em</strong>bro de 1996), usando o<br />
componente de bens duráveis do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) compilado pelo<br />
Instituto Nacional de Estatística (INE). Foi aplicado um deflactor de 0,89 para converter preços<br />
de Outubro de 1997 para preços de Set<strong>em</strong>bro de 1996. Os valores obtidos estão na Tabela B1.<br />
Recorde-se que o questionário identificou a quantidade total de um b<strong>em</strong> durável<br />
particular que o agregado familiar possuía e a quantidade dos bens <strong>em</strong> boas condições,<br />
presumindo-se que os restantes estavam <strong>em</strong> más condições. No cálculo do valor corrente dos<br />
bens duráveis, foi considerado que o valor dos bens <strong>em</strong> más condições era metade do valor dos<br />
bens <strong>em</strong> boas condições.<br />
O passo seguinte foi a estimação das taxas de depreciação para os bens duráveis com<br />
base no seu t<strong>em</strong>po de vida útil, tendo <strong>em</strong> conta que os agregados que reportam posse de bens<br />
duráveis v<strong>em</strong> usando estes bens há já um t<strong>em</strong>po considerável. A estimação do t<strong>em</strong>po de vida<br />
foi feita na base de uma consulta informal com diversos m<strong>em</strong>bros da equipa do Departamento<br />
de População e Desenvolvimento Social, e as estimativas estão ilustradas na última coluna da<br />
49
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
20<br />
Tabela B1. Foi utilizado um método de depreciação linear para determinar a depreciação<br />
21<br />
mensal de cada b<strong>em</strong>.<br />
Finalmente, para estimar o componente do custo de oportunidade, utilizou-se a taxa de<br />
juro do banco sobre os depósitos. Para o efeito, utilizou-se a taxa de juro média ao longo do<br />
período de duração do inquérito aos agregados familiares, tal como reportado no Boletim<br />
Estatístico do Banco de <strong>Moçambique</strong>.<br />
A estimativa do valor de uso dos bens duráveis envolve diversos pressupostos fortes,<br />
necessários devido à falta de dados apropriados. Contudo, há a convicção de que uma<br />
estimativa aproximada, é melhor do que a completa omissão deste componente na medição do<br />
consumo do agregado familiar.<br />
20 Em princípio, poderia ser usada a taxa de depreciação constante da lei fiscal e usada na área <strong>em</strong>presarial.<br />
Contudo, não foi assim considerado, uma vez que não pareceu crível que estas taxas pudess<strong>em</strong> representar o uso<br />
de bens duráveis ao nível do agregado familiar.<br />
21<br />
A taxa de depreciação mensal é o inverso do t<strong>em</strong>po de vida útil do b<strong>em</strong> durável <strong>em</strong> meses.<br />
50
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela B1—Estimativas do valor de compra e t<strong>em</strong>po de uso dos bens duráveis<br />
Estimativas do valor de<br />
compra dos bens T<strong>em</strong>po de uso<br />
duráveis no momento do r<strong>em</strong>anescente<br />
Bens duráveis MIAF (1000 MT) assumido (<strong>em</strong> anos)<br />
Mesa com quatro cadeiras 2.352 15<br />
Cama média 358 15<br />
Geleira 6.638 10<br />
Ventoinha 149 5<br />
Máquina de costura 3.876 25<br />
Ferro eléctrico 224 5<br />
Ferro a carvão 30 5<br />
Rádio 251 5<br />
Televisor preto-branco 1.700 5<br />
Televisor colorido 3.506 5<br />
Ar condicionado 5.665 10<br />
Relógio de parede 72 5<br />
Telefone 519 10<br />
Veículo (carro ou camião) 125.029 15<br />
Motorizada 13.892 10<br />
Bicicleta 795 10<br />
Nota: Os supostos valores de compra são de bens duráveis usados <strong>em</strong> “boas” condições. Veja o<br />
texto para mais discussão da fonte de dados e as assunções usadas nos cálculos.<br />
51
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Apêndice C: Necessidades calóricas mínimas<br />
Tabela C1—Estimativas das necessidades calóricas por idade e sexo<br />
Grupo etário F<strong>em</strong>ininos Masculinos<br />
Até 1 ano de idade 820 820<br />
1 - 2 anos 1150 1150<br />
2 - 3 anos 1350 1350<br />
3 - 5 anos 1550 1550<br />
5 - 7 anos 1750 1850<br />
7 - 10 anos 1800 2100<br />
10 - 12 anos 1950 2200<br />
12 - 14 anos 2100 2400<br />
14 - 16 anos 2150 2650<br />
16 - 18 anos 2150 2850<br />
18 - 30 anos 2100 3000<br />
30 - 60 anos 2150 2900<br />
60 anos e mais 1950 2450<br />
Fonte: Organização Mundial de Saúde, 1985.<br />
Notas: 285 calorias adicionais por dia são necessárias para mulheres que estão no último trimestre de<br />
gravidez.<br />
500 calorias adicionais por dia são necessárias para mulheres que estão nos primeiros seis meses de<br />
amamentação.<br />
Necessidades calóricas para um adulto assume-se um nível moderado da actividade física.<br />
52
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Apêndice D: Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza alimentar<br />
Tabela D1—Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza rurais<br />
(percentag<strong>em</strong> das despesas alimentares totais)<br />
Domínios da linha de pobreza rural<br />
Niassa &<br />
Cabo Zambézia Manica & Gaza & Maputo<br />
Grupo alimentar Delgado Nampula & Sofala Tete Inhambane Província<br />
Milho e derivados 24,1 10,4 18,8 23,2 22,4 16,4<br />
Arroz 7,2 6,8 7,8 1,1 5,7 6,2<br />
Trigo e derivados 0,9 1,8 0,5 0,9 3,4 6,1<br />
Mapira e mexoeira 1,8 1,6 3,1 6,0 0,9 0,0<br />
Mandioca 12,4 22,1 13,9 0,8 14,5 7,2<br />
Batata doce 0,4 0,5 3,0 2,6 0,8 8,2<br />
Batata reno 0,6 0,1 0,1 0,5 0,1 0,1<br />
Outras raízes e tubérculos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3<br />
Feijões 11,6 11,2 5,6 9,2 8,4 3,6<br />
Folhas verdes 9,4 4,8 4,6 11,5 12,7 16,4<br />
Outros vegetais 7,2 2,1 7,2 14,8 3,1 7,6<br />
Amendoim 2,1 1,2 0,5 2,6 6,2 7,3<br />
Óleo de cozinha 0,3 0,9 1,0 2,6 0,8 1,2<br />
Peixes 11,6 20,1 12,1 7,9 2,7 7,7<br />
Mariscos (crustáceos e moluscos) 0,1 1,9 1,5 0,1 0,5 1,2<br />
Carne: vaca, porco, carneiro, cabrito 1,7 1,3 2,7 4,5 0,7 0,2<br />
Carne de aves domésticas 2,0 4,5 6,6 3,9 2,8 2,9<br />
Carne de caça e gafanhotos 0,9 0,1 0,5 0,3 0,3 0,3<br />
Ovos 0,2 0,4 0,8 0,3 0,0 0,0<br />
Leite<br />
Manteiga, queijo, outros derivados<br />
0,0 0,0 0,0 0,2 0,1 1,0<br />
de leite 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Frutas 2,1 2,7 5,1 1,5 9,6 2,8<br />
Açucar e derivados 1,1 2,9 1,1 2,3 2,8 2,6<br />
Outros alimentos 2,1 1,6 3,2 3,1 1,2 0,7<br />
Bebidas não-alcoólicas 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Bebidas alcoólicas 0,1 0,9 0,2 0,0 0,2 0,1<br />
Número de observações 370 267 806 520 748 262<br />
Notas: Esta tabela é um sumário do padrão das despesas nas diferentes regiões da linha de pobreza. Para o<br />
cálculo real das linhas de pobreza alimentar usou-se uma desagregação dos bens alimentares de 150<br />
grupos (igual ao nível de desagregação dos dados originais). Para cada região, somente os agregados<br />
familiares relativamente pobres — definidos como aqueles que a ingestão calórica per capita foi<br />
abaixo das necessidades médias nessa região —foram usados para construir os cabazes alimentares de<br />
referência.<br />
53
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela D2—Cabazes alimentares de referência para as linhas de pobreza urbanas<br />
(percentag<strong>em</strong> das despesas alimentares totais)<br />
Domínios da linha de pobreza urbana<br />
Niassa & Gaza &<br />
Cabo Zambézia Manica Inham- Maputo Maputo<br />
Grupo alimentar Delgado Nampula & Sofala & Tete bane Província Cidade<br />
Milho e derivados 26,7 21,6 19,4 24,6 10,1 1,1 5,2<br />
Arroz 3,6 5,5 8,9 6,1 16,2 15,0 18,1<br />
Trigo e derivados 4,9 5,5 8,5 5,9 16,3 21,7 15,0<br />
Mapira e mexoeira 0,1 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Mandioca 1,3 13,7 1,1 0,5 2,9 5,0 1,3<br />
Batata doce 0,4 0,2 2,3 1,8 0,8 0,1 0,4<br />
Batata reno 1,7 0,4 0,5 1,3 0,6 1,8 1,9<br />
Outras raízes e tubérculos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Feijões 11,2 3,8 4,2 7,8 3,2 2,2 3,8<br />
Folhas verdes 3,5 4,2 1,5 4,1 5,0 3,7 2,4<br />
Outros vegetais 6,8 9,8 6,6 11,6 3,0 13,4 10,1<br />
Amendoim 1,8 2,3 1,4 1,2 6,7 8,8 6,0<br />
Óleo de cozinha 4,9 2,0 5,8 5,0 1,8 3,0 4,7<br />
Peixes 14,0 17,7 17,0 11,4 9,7 6,9 7,8<br />
Mariscos (Crustáceos e moluscos) 0,1 1,7 4,3 1,4 3,9 1,1 0,7<br />
Carne: vaca, porco, carneiro, cabrito 3,6 2,2 2,9 5,2 1,7 2,7 1,9<br />
Carne de aves domésticas 1,7 1,2 1,9 2,5 1,3 3,8 4,4<br />
Carne de caça e gafanhotos 0,1 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0<br />
Ovos 0,3 0,3 0,5 0,4 0,6 0,5 0,7<br />
Leite<br />
Manteiga, queijo, outros derivados de<br />
1,4 0,2 0,6 0,7 0,5 0,5 0,9<br />
leite 0,2 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,6<br />
Frutas 1,9 1,8 4,2 1,2 5,7 2,2 2,7<br />
Açucar e derivados 7,4 3,5 4,7 4,2 5,1 3,9 7,3<br />
Outros produtos 2,3 1,6 2,1 1,8 2,8 1,6 2,1<br />
Bebidas não-alcoólicas 0,0 0,4 0,6 0,5 0,8 1,2 1,1<br />
Bebidas alcoólicas 0,0 0,1 0,7 0,6 1,3 0,1 0,8<br />
Número de observações 103 164 205 139 114 75 445<br />
Notas: Esta tabela é um sumário do padrão das despesas nas diferentes regiões da linha de pobreza. Para o<br />
cálculo real das linhas de pobreza alimentar usou-se uma desagregação dos bens alimentares de 150<br />
grupos (igual ao nível de desagregação dos dados originais). Para cada região, somente os agregados<br />
familiares relativamente pobres — definidos como aqueles que a ingestão calórica per capita foi<br />
abaixo das necessidades médias nessa região—foram usados para construir os cabazes alimentares de<br />
referência.<br />
54
Capítulo 2<br />
Estimativas e Perfil da <strong>Pobreza</strong><br />
Kenneth Simler<br />
Gaurav Datt<br />
Sudhanshu Handa<br />
Gabriel Dava<br />
Jan Low<br />
Dean Jolliffe<br />
Gilead Mlay<br />
Emílio Tostão<br />
Cristina Matusse<br />
João Mutondo<br />
Farizana Omar<br />
Sanjukta Mukherjee
Índice<br />
Lista das Tabelas 3<br />
Lista dos Gráficos 4<br />
2.1 Introdução 3<br />
2.2 Medidas de pobreza 3<br />
2.3 <strong>Pobreza</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: Estimativas para 1996-97 4<br />
2.4 Comparação com outras estimativas da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> 6<br />
2.5 Perfil da pobreza 9<br />
2.5.1 Tamanho do Agregado Familiar 9<br />
2.5.2 Estrutura e Composição do Agregado Familiar 13<br />
2.5.3 Educação 14<br />
2.5.4 Emprego e Composição da Força de Trabalho 16<br />
2.5.5 <strong>Pobreza</strong> e Sector de Emprego 19<br />
2.5.6 Características da Agricultura e Posse de Terras 20<br />
2.5.7 Transferências 23<br />
2.5.8 Padrão de consumo 24<br />
2.5.9 Saúde e Estado Nutricional 27<br />
2.5.10 Características de Habitação 34<br />
2.5.11 Proximidade e Acesso aos Serviços Públicos e Privados 35<br />
2.5.12 Migração Inter-provincial 37<br />
2.6 Medidas de <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Não Baseadas no Consumo 38<br />
2.7 Conclusões e Implicações de Políticas Para o Desenho e Direccionamento de<br />
Iniciativas de Redução da <strong>Pobreza</strong> 39<br />
Referências 42
Lista das Tabelas
Lista dos Gráficos
2.1 Introdução<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Este capítulo apresenta as estimativas, e um perfil, da pobreza absoluta <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
<strong>em</strong> 1996 e 1997. Começa por apresentar as estimativas dos níveis de pobreza usando as três<br />
medidas de pobreza mais comuns na literatura actual: o índice de incidência da pobreza, o índice<br />
de pobreza diferencial e o índice quadrado de pobreza diferencial. Estas estimativas de pobreza<br />
são posteriormente desagregadas por áreas geográficas, incluindo a classificação rural/urbana,<br />
regional e provincial. As estimativas da pobreza são seguidas por uma breve comparação dos<br />
resultados com as estimativas sub-nacionais da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> disponíveis de estudos<br />
anteriores, <strong>em</strong>bora limitados.<br />
A maior parte do capítulo é devotada a um perfil detalhado da pobreza na Secção 2.5. O<br />
perfil da pobreza fornece uma imag<strong>em</strong> da pobreza no país. Descreve qu<strong>em</strong> são os pobres, como<br />
as características dos pobres e dos não pobres difer<strong>em</strong> uma das outras, ou alternativamente como<br />
as condições de vida difer<strong>em</strong> entre grupos sócio-económicos. O perfil t<strong>em</strong> importância especial<br />
porque é o primeiro deste tipo <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, tornado possível pelo Inquérito Nacional aos<br />
Agregados Familiares Sobre as Condições de Vida de 1996-97 (MIAF).<br />
O perfil de pobreza apresentado neste capítulo utiliza a abrangência do inquérito do<br />
MIAF para examinar o relacionamento entre os níveis da pobreza e um conjunto de outras<br />
características das comunidades, agregados familiares e indivíduos. O perfil é seguido por uma<br />
breve investigação das dimensões de pobreza que não são b<strong>em</strong> captadas pelas medidas baseadas<br />
no consumo. O capítulo conclui com uma discussão dos resultados, com enfoque nas implicações<br />
para o desenho de programas para redução da pobreza. Este capítulo t<strong>em</strong> a intenção de identificar<br />
as associações fundamentais que exist<strong>em</strong> entre a pobreza e outras características sócio-<br />
económicas, e serve como uma base para os capítulos analíticos mais detalhados que se segu<strong>em</strong>.<br />
2.2 Medidas de pobreza<br />
As três medidas usadas neste estudo são descritas abaixo.<br />
i) O índice de incidência é a proporção da população que se encontra <strong>em</strong> agregados<br />
familiares cujo nível de consumo per capita é inferior à linha de pobreza. Este índice mede a<br />
incidência de pobreza.<br />
ii) O índice de pobreza diferencial é definido como a distância média abaixo da linha de<br />
pobreza e é expressa como uma proporção desta linha. (A média é formada com a população<br />
inteira, contando os não pobres como tendo déficits de pobreza iguais a zero.) Esta medida<br />
reflecte a profundidade da pobreza, e não apenas a sua incidência. 1<br />
1 O índice de pobreza diferencial pode ser escrito como HI, <strong>em</strong> que H é o índice de incidência e I é a<br />
z z<br />
“razão de renda-diferencial” (income-gap ratio), ou I = 1 - (µ / z), onde µ é o consumo médio dos pobres e z é a<br />
linha de pobreza.<br />
59
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
iii) O índice do quadrado de pobreza diferencial é a média dos quadrados proporcionais<br />
dos déficits de pobreza. Em contraste com o índice de pobreza diferencial, esta medida reflecte<br />
a severidade da pobreza <strong>em</strong> que será sensível à desigualdade entre os pobres. 2<br />
Todas as três medidas de pobreza são m<strong>em</strong>bros da classe Foster-Greer-Thorbecke (FGT),<br />
e introduzidos por Foster et al. (1984) , que pod<strong>em</strong> ser descritas da seguinte maneira. A medida<br />
do FGT da pobreza individual é:<br />
p ",i ' [max((1&x i / z), 0)] "<br />
<strong>em</strong> que x é a despesa de consumo da pessoa i numa população de tamanho n, e onde z denota a<br />
i<br />
linha de pobreza, e " é um parâmetro não negativo. A pobreza agregada é simplesmente a média<br />
dessa medida <strong>em</strong> todas as pessoas, dando<br />
n<br />
P " ' j p ",i / n<br />
i'1<br />
O índice de incidência é obtido quando "=0, o índice de pobreza diferencial é obtido quando "=1<br />
e o índice de quadrado da pobreza diferencial t<strong>em</strong> "=2.<br />
2<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, uma transferência de renda de uma pessoa pobre para uma pessoa mais pobre pode ser vista<br />
como redução de pobreza, e aumentará o índice de quadrado de pobreza diferencial, mas não alterará o índice de<br />
incidência ou o índice de pobreza diferencial (assumindo que o recipiente da transferência permanece abaixo da<br />
linha de pobreza). Além disso, o índice de quadrado de pobreza diferencial, satisfaz a propriedade de “consistência<br />
de subgrupos”, nomeadamente, que se a pobreza aumenta <strong>em</strong> qualquer subgrupo (digamos o sector rural) e não<br />
diminui <strong>em</strong> outra área, a pobreza agregada deve também aumentar (Foster and Shorrocks 1991). Outras medidas<br />
de pobreza sensíveis à distribuição b<strong>em</strong> conhecidas, como Sen (1976) e Kakwani (1980) não satisfaz<strong>em</strong> essa<br />
propriedades.<br />
3<br />
A estimativa dos dados do MIAF é consideravelmente maior que outras estimativas de b<strong>em</strong>-estar<br />
individual médio <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, como os US$80 GDP per capita reportados pelo Banco Mundial (1997).<br />
60<br />
"$0<br />
2.3 <strong>Pobreza</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: Estimativas para 1996-97<br />
Os dados do MIAF de 1996-97 indicam que o consumo mensal médio real <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> é 160,780 MT por pessoa. Isto equivale a aproximadamente US$170 por pessoa<br />
3<br />
por ano à taxa de câmbio médio prevalecente durante o período do Inquérito. Usando as linhas<br />
de pobreza derivadas no capítulo 1, a taxa de pobreza nacional (incidência) é 69,4 por cento,<br />
indicando que <strong>em</strong> 1996-97 mais de dois terços da população de <strong>Moçambique</strong>, ou 10,9 milhões<br />
de pessoas, encontravam-se <strong>em</strong> estado de pobreza absoluta. O índice de pobreza diferencial<br />
nacional e o índice de quadrado de pobreza diferencial são também bastante altos, 29,3 e 15,6<br />
por cento, respectivamente (veja-se a Tabela 2.1 para mais detalhes.)<br />
A incidência da pobreza é maior nas zonas rurais do que nas zonas urbanas (Tabela 2.1),<br />
com a incidência rural chegando a 71,2 por cento, comparada com 62,0 por cento nas zonas<br />
(2.1)<br />
(2.2)
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
urbanas. A profundidade e severidade da pobreza é também maior nas zonas rurais do que nas<br />
zonas urbanas, <strong>em</strong>bora somente a diferença na incidência seja estatisticamente significativa ao<br />
nível de 95 por cento. Com a vasta maioria da população nas zonas rurais, a pobreza <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> é predominant<strong>em</strong>ente um fenómeno rural. Cerca de 82 por cento dos pobres viv<strong>em</strong><br />
nas zonas rurais; isto é um pouco maior do que a proporção da população rural na população<br />
total. Considerando a desagregação regional, vê-se que a incidência da pobreza é mais alta na<br />
região central, com os valores mais altos para todas as três medidas de pobreza, enquanto o norte<br />
e o sul são quase iguais <strong>em</strong> termos das três medidas de pobreza. Para todas as três medidas<br />
usadas, as taxas de pobreza mais altas na região central são estatisticamente significativas<br />
enquanto não há diferença significativa entre o norte e o sul para qualquer das três. Porém, se a<br />
cidade de Maputo, que t<strong>em</strong> taxas de pobreza baixa relativas ao resto do país, é excluída da região<br />
sul, o restante da região apresenta taxas de pobreza mais elevadas do que a região norte e não<br />
significativamente diferentes da região central.<br />
Dado que mais de dois de entre cada três moçambicanos encontram-se abaixo da linha<br />
de pobreza de referência, existe uma razão para considerar uma noção de ultra-pobreza, que pode<br />
ajudar a focalizar a atenção nos mais pobres entre os pobres. Pode haver muitas maneiras de<br />
definir a ultra-pobreza que, <strong>em</strong>bora todas impliqu<strong>em</strong> limites abaixo da linha de pobreza de<br />
referência, são admissivelmente ad-hoc por natureza. Para a análise apresentada neste capítulo<br />
fixou-se uma linha de ultra-pobreza a 60% da linha de pobreza de referência. Contudo,<br />
experimentou-se também uma linha de pobreza alternativa “baixa” fixada como a própria linha<br />
de pobreza alimentar; os resultados desta experiência são apresentados apenas neste capítulo.<br />
Esta linha de ultra-pobreza é mais alta que a linha de ultra-pobreza de 60 por cento; a média<br />
ponderada das linhas de pobreza alimentares é cerca de 76 por cento da linha de pobreza de<br />
referência. Os resultados da incidência e profundidade da pobreza usando a linha de ultra-pobreza<br />
de 60 por cento e a linha de pobreza alimentar são apresentadas na Tabela 2.2.<br />
Usando a linha de 60 por cento, estima-se que 37,8 por cento da população moçambicana<br />
seja ultra-pobre (Tabela 2.2). Focalizando neste subconjunto dos pobres, entretanto, não produz<br />
particularmente nenhuma nova percepção a este nível de agregação. Como a pobreza, a<br />
4<br />
incidência, profundidade e severidade da ultra-pobreza é maior nas zonas rurais e na região<br />
central. Na verdade, os padrões regionais são bastante s<strong>em</strong>elhantes com relação à classificação<br />
das regiões e à significância estatística das diferenças mostradas. Nota-se, contudo, que nenhuma<br />
das diferenças urbanas/rurais na ultra-pobreza são estatisticamente significativas, enquanto que<br />
a incidência rural é significativamente maior quando se usa a linha de pobreza de referência<br />
completa.<br />
Considerando a linha de pobreza de 60 por cento como uma medida de ultra-pobreza,<br />
uma maior proporção da população rural cai abaixo da linha do que a população urbana, mas <strong>em</strong><br />
4 Os resultados sobre severidade não estão apresentados na Tabela 2.2, mas estão disponíveis de autores.<br />
61
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
média, os ultra-pobres urbanos têm um deficit um pouco maior entre os seus níveis de consumo<br />
e a linha de ultra-pobreza, e maior desigualdade entre os ultra-pobres.<br />
Alternativamente, usando a linha de pobreza alimentar, estima-se que 53,4 por cento da<br />
população nacional tenha níveis de consumo per capita abaixo dessa linha (Tabela 2.2). O perfil<br />
rural/urbano e o regional deste subconjunto dos pobres é bastante s<strong>em</strong>elhante ao dos pobres e dos<br />
ultra-pobres identificados usando a linha de 60 por cento. Dada esta similaridade, e na esperança<br />
de distinguir mais acentuadamente os extr<strong>em</strong>amente pobres dos pobres, para o restante deste<br />
capítulo, a linha de ultra-pobreza é definida como 60 por cento da linha de pobreza de referência.<br />
Voltando à Tabela 2.3 observam-se disparidades significativas no consumo médio e nas<br />
medidas de pobreza quando os dados são desagregados para o nível provincial. A incidência da<br />
pobreza vai da taxa mais baixa de 47,8 por cento na Cidade de Maputo para uma taxa mais alta<br />
de 87,9 por cento na província de Sofala. Outras províncias com incidência de pobreza<br />
particularmente alta são as de Inhambane (82,6 por cento) e Tete (82,3 por cento), todas bastante<br />
acima da província seguinte mais pobre (Niassa, 70,6). A variação dentro das regiões é<br />
particularmente acentuada (por ex<strong>em</strong>plo, contrastar Cabo Delgado e Niassa no norte, Manica e<br />
Sofala no centro e Maputo e Inhambane no sul). A classificação ordinal das províncias muda<br />
muito pouco entre as três medidas de pobreza e dada a magnitude dos erros padrão, a maioria das<br />
mudanças não é estatisticamente significativa. A constatação mais interessante destas linhas é<br />
a comparação entre as províncias vizinhas de Maputo e Gaza. As duas províncias têm índices de<br />
incidência s<strong>em</strong>elhantes, mas as medidas de pobreza diferencial e o quadrado de pobreza<br />
diferencial da província de Maputo são consideravelmente maiores do que as de Gaza, indicando<br />
mais desigualdades e, <strong>em</strong> média, rendimentos mais baixos entre os pobres na província de<br />
Maputo. Considerando a ultra-pobreza (definida como 60 por cento da linha de pobreza de<br />
referência), a Tabela 2.4 mostra que a distribuição de ultra-pobreza por província é s<strong>em</strong>elhante<br />
à distribuição da pobreza por província conforme mostrado na Tabela 2.3. De interesse particular<br />
é a incidência de ultra-pobreza extr<strong>em</strong>amente alta na província de Sofala (65.2).<br />
2.4 Comparação com outras estimativas da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Comparando as estimativas de pobreza de 1996-97 do MIAF com as estimativas<br />
anteriores, esta secção tenta responder se a pobreza t<strong>em</strong> aumentado ou diminuído ao longo dos<br />
anos recentes. Este tipo de comparação é particularmente difícil no caso de <strong>Moçambique</strong> pela<br />
simples razão de que exist<strong>em</strong> muito poucos dados adequados anteriores ao MIAF 1996-97. Nos<br />
poucos casos onde exist<strong>em</strong> dados, as comparações são complicadas pelas diferenças de<br />
metodologia. É <strong>em</strong> geral impossível fazer ajustes para algumas dessas diferenças, como a<br />
diferença no desenho da amostra, conteúdo do questionário e protocolos do inquérito. Porém, é<br />
possível fazer ajustes para algumas diferenças na metodologia de estimativa, como as definições<br />
das linhas de pobreza e do consumo.<br />
62
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Uma estimativa anterior da pobreza é o de um estudo conduzido nas cidades de Maputo<br />
e Matola referente a 1991-92. Esta estimativa é baseada num inquérito aos agregados familiares<br />
conduzido pelo Departamento de Segurança Alimentar (DAS) do Ministério do Comércio e do<br />
Programa de Políticas Alimentares e Nutrição da Universidade de Cornell (CFNPP), daqui <strong>em</strong><br />
diante referido como estudo do DSA-CFNPP. Este estudo estimou a incidência de pobreza para<br />
a cidade de Maputo e Matola <strong>em</strong> 39,8 por cento (Veja Sahn e del Ninno. 1994). Porém, o estudo<br />
de DSA-CFNPP <strong>em</strong>pregou o método de energia de alimentos (FE) para estimar as linhas de<br />
pobreza, que difere substancialmente da metodologia do Custo das Necessidades Básicas (CBN)<br />
usado para estimar as linhas de pobreza no presente estudo (Veja Ravallion, 1994 para uma<br />
descrição das definições e méritos relativos dos diferentes métodos). Além disso, as necessidades<br />
calóricas usadas no estudo DSA-CFNPP foram consideravelmente menores do que as utilizadas<br />
no estudo actual. A metodologia CBN <strong>em</strong>pregue neste estudo é <strong>em</strong> geral considerada superior<br />
à abordag<strong>em</strong> FE usada pelo DSA-CFNPP porque a abordag<strong>em</strong> FE pode <strong>em</strong> geral levar a perfis<br />
de pobreza inconsistentes e comparações inter-t<strong>em</strong>porais, que pod<strong>em</strong> ser evitadas pela<br />
metodologia CBN (Veja Ravallion, 1994). Idealmente, deve-se reanalisar os dados de 1991-92<br />
usando a metodologia CBN. Porém, a não disponibilidade destes dados exclui à primeira esta<br />
abordag<strong>em</strong>, de forma que a melhor alternativa mais próxima foi escolhida: replicar a<br />
metodologia DSA-CFNPP usando os dados do MIAF.<br />
As necessidades calóricos per capita descritas no Capítulo 1 foram convertidas <strong>em</strong><br />
calorias por unidade de adulto equivalente (AEU), usando a mesma escala <strong>em</strong>pregue no estudo<br />
DSA-CFNPP. Às calorias consumidas por AEU foi então feita uma regressão sobre o consumo<br />
5<br />
per capita, usando a mesma forma de log-log quadrático como no estudo anterior. Solucionando<br />
a equação de regressão estimada para as necessidades calóricas diárias mínimas do estudo DSA-<br />
CFNPP de 2500 klc por AEU produz uma linha de pobreza de 6660 MT por pessoa por dia. 6<br />
Com os dados do MIAF, essa linha de pobreza se traduz para uma medida de incidência de<br />
pobreza de 34,5 e medida de pobreza diferencial de 10,4 <strong>em</strong> 1996-97 (Veja a Tabela 2.5). As<br />
medidas de ultra-pobreza correspondentes são 7,5 e 2,1. Esses resultados suger<strong>em</strong> que t<strong>em</strong><br />
havido um declínio na pobreza na cidade de Maputo e Matola entre 1991-92 e 1996-97.<br />
Contudo, deve-se ter cuidado na interpretação deste resultado. Além da fraqueza potencial<br />
do método FE para as comparações inter-t<strong>em</strong>porais, e dos erros padrão grandes das estimativas,<br />
a população de Maputo e Matola não permaneceu estática durante este período e muitas outras<br />
mudanças ocorreram e que necessitam de ser consideradas. Por ex<strong>em</strong>plo, uma quantia<br />
significativa do consumo registado no inquérito de 1991-92 foi de ajuda alimentar, enquanto tal<br />
5 Note que com o estudo actual, a medida de consumo usada pelo FSD-CFNPP inclui quantias para o valor<br />
imputado da habitação ocupada pelo proprietário, assim como valores de uso para bens duráveis do agregado<br />
familiar.<br />
6<br />
É interessante notar que se simplesmente se actualizar a linha de pobreza DAS-CFNPP usando o Índice<br />
de Preços do Consumidor de Maputo, chega-se a um valor idêntico de 6666 MT por pessoa por dia.<br />
63
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
7<br />
auxílio tinha diminuído consideravelmente <strong>em</strong> 1996-97. Alcançar os mesmos ou maiores níveis<br />
de consumo com auxílio alimentar reduzido <strong>em</strong> 1996-97 é um ganho <strong>em</strong> termos de incr<strong>em</strong>ento<br />
de auto-suficiência que não é reflectida na estimativa de pobreza por sí só. Da mesma forma, é<br />
possível que durante o período entre os inquéritos, aqueles que imigraram para Maputo e Matola<br />
eram desproporcionalmente pobres. Se isto for verdade, então a redução da pobreza real durante<br />
este período foi maior do que aquela indicada nas estimativas de pobreza. Infelizmente, os dados<br />
do MIAF não pod<strong>em</strong> fornecer estimativas fiáveis dos dados de pobreza daqueles que imigraram<br />
para Maputo e Matola entre 1991-92 e 1996-97.<br />
8<br />
O inquérito às capitais provinciais realizado pela DNE <strong>em</strong> 1992-93 fornece uma outra<br />
fonte de comparações históricas da pobreza urbana <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Os dados da DNE foram<br />
subsequent<strong>em</strong>ente usados para calcular estimativas da pobreza urbana <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> (Desai<br />
1997). Esta análise é baseada na mesma metodologia CBN <strong>em</strong>pregue nesta avaliação de pobreza,<br />
e um limite de necessidades calóricas s<strong>em</strong>elhante. Contudo, exist<strong>em</strong> também algumas diferenças<br />
substanciais na metodologia, particularmente os métodos usados para construir os índices de<br />
preços espaciais. Assim, as comparações dos resultados usando-se dados do MIAF com a análise<br />
dos dados do inquérito às capitais provinciais deverão também ser tratados com certa precaução.<br />
Para as capitais provinciais como um grupo, a incidência da pobreza foi estimada <strong>em</strong> 72,6<br />
e a medida da pobreza diferencial <strong>em</strong> 34,3 usando os dados de DNE de 1992-93. Nos dados do<br />
MIAF para 1996-97, as medidas de pobreza correspondentes para as capitais provinciais são 65,2<br />
e 30,6 respectivamente. Isto sugere uma redução da pobreza nas capitais provinciais durante os<br />
quatro anos, <strong>em</strong>bora conforme notado acima, deve-se ter cuidado ao comparar estas estimativas.<br />
Assim, da evidência limitada disponível, parecer que provavelmente houve uma redução<br />
modesta na pobreza urbana <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> entre 1991-92 e 1996-97. 9<br />
2.5 Perfil da pobreza<br />
Um perfil de pobreza caracteriza a natureza da pobreza num país ou região. Avalia a<br />
magnitude da pobreza e sua distribuição pelos grupos sócio-económicos, fornece uma informação<br />
sobre as características dos pobres, ilustra a heterogeneidade entre os pobres, e ajuda a identificar<br />
os correlatos <strong>em</strong>píricos da pobreza.<br />
7 Por ex<strong>em</strong>plo, no estudo de 1991-92, 44 por cento do consumo calórico entre a despesa mais baixa é das<br />
fontes de milho amarelo (auxílio alimentar). Esta proporção declina para 28 por cento no segundo quintil e 23 por<br />
cento no terceiro quintil, mostrando o relacionamento claro entre a pobreza e a proporção de calorias das fontes de<br />
auxílio de alimentos.<br />
8 DNE refere-se à Direcção Nacional de Estatística, mais tarde designado como Instituto Nacional de<br />
Estatística (INE).<br />
9 Os leitores pod<strong>em</strong> notar que nenhuma referência foi feita ao estudo de pobreza por Green (1991) que é<br />
<strong>em</strong> geral citado <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Isto é devido a que este estudo é baseado <strong>em</strong> um conjunto de suposições altamente<br />
subjectivas e extrapolações de uma base extr<strong>em</strong>amente limitada de dados <strong>em</strong>píricos (inquéritos aos agregados<br />
familiares <strong>em</strong> Maputo e Tete). A metodologia usada neste estudo é tão especulativa que nenhuma comparação útil<br />
é possível.<br />
64
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Tipicamente, os perfis de pobreza são bivariados por natureza; eles focam sobre como<br />
os níveis de pobreza estão associados com um conjunto de características, consideradas uma de<br />
cada vez. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, eles são também incondicionais, pelo facto de que as associações<br />
descritas sob o perfil não controlam as outras características. Os perfis de pobreza são uma<br />
ferramenta descritiva útil s<strong>em</strong>pre que exista um interesse <strong>em</strong> conhecer como os níveis de pobreza<br />
estão incondicionalmente relacionadas com um determinado conjunto de características sócio-<br />
económicas. O interesse de política nesta questão, surge naturalmente quando esse conjunto de<br />
características t<strong>em</strong> a finalidade de ser usado como um indicador para o direccionamento<br />
(targeting). Por ex<strong>em</strong>plo, os fazedores de políticas que pretend<strong>em</strong> direccionar as acções aos<br />
agregados familiares chefiados por mulheres pod<strong>em</strong> querer conhecer se tais agregados<br />
significativamente mais pobres do que os agregados chefiados por homens. Para o caso de<br />
transferências aditivas, os perfis de pobreza fornec<strong>em</strong> um guia directo para onde o dólar marginal<br />
deveria ser direccionado para ter o impacto máximo numa medida de pobreza agregada. Com<br />
efeito, para ter o impacto marginal máximo no índice de profundidade de pobreza agregado, as<br />
transferências dev<strong>em</strong> ser alocadas às regiões ou grupos pela ord<strong>em</strong> dos seus índices de<br />
incidência.<br />
Os perfis de pobreza são também importantes porque são a primeira aproximação dos<br />
potenciais factores causais da pobreza. A esse respeito, o perfil aqui apresentado determina o<br />
alicerce para análise dos determinantes da pobreza apresentados no capítulo seguinte. Os<br />
aspectos salientes do perfil de pobreza para <strong>Moçambique</strong> são discutidos nas subsecções<br />
seguintes.<br />
2.5.1 Tamanho do Agregado Familiar<br />
Os agregado familiares pobres de <strong>Moçambique</strong> tend<strong>em</strong> a ser maiores que os agregados<br />
familiares não pobres, conforme mostra a Tabela 2.6. A nível nacional, o tamanho médio do<br />
agregado familiar é de 4,8 pessoas, mas entre os pobres o tamanho do agregado familiar médio<br />
é de 5,6 pessoas, comparados a somente 3,6 pessoas por agregado familiar não pobre. Isso é<br />
consistente com as constatações na maioria dos países africanos (por ex<strong>em</strong>plo, Lipton e<br />
Ravallion, 1994). A diferença é mais pronunciada nas áreas rurais (5,5 para os pobres, 3,3 para<br />
10<br />
os não pobres) do que <strong>em</strong> áreas urbanas (6,0 para os pobres, 4,0 para os não pobres). A<br />
diferença no tamanho do agregado familiar entre os pobres e não pobres é amplamente notada<br />
pelas diferenças do número de crianças que viv<strong>em</strong> num agregado familiar (Tabela 2.6).<br />
Comparado com os agregados familiares não pobres, os agregados familiares pobres possu<strong>em</strong><br />
uma media de 0,5 mais crianças com menos de 5 anos e cerca de mais uma criança entre as<br />
idades de 5 e 15, mas somente 0,5 mais pessoas entre as idades de 16 anos e 59 anos.<br />
10<br />
Uma característica d<strong>em</strong>ográfica interessante de <strong>Moçambique</strong> é que os agregados familiares urbanos são<br />
maiores do que os agregados familiares rurais, que é contra o padrão que existe na maioria da África do Sub-<br />
Sahariana. Uma explicação possível é que durante a guerra, as pessoas que viviam nas zonas rurais e que migraram<br />
para as cidades relativamente seguras, <strong>em</strong> geral juntaram-se a agregados familiares de parentes.<br />
65
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
A taxa de dependência é a razão dos m<strong>em</strong>bros do agregado familiar dependentes ou “não<br />
produtivos” no tamanho do agregado familiar total. Mais precisamente, define-se isto como a<br />
soma dos m<strong>em</strong>bros do agregado familiar com menos de 16 anos de idade ou mais de 59 anos,<br />
e mais aqueles com incapacidade física, dividido pelo número total de pessoas no agregado<br />
familiar. Assim, as taxas de dependência dos agregados familiares pobres são consideravelmente<br />
maiores do que aquelas de agregados familiares não pobres; claramente uma razão para o seu<br />
nível de pobreza é o número relativamente alto de dependentes para suportar por m<strong>em</strong>bro do<br />
11<br />
agregado familiar <strong>em</strong> idade de trabalhar. Isto t<strong>em</strong> implicações não somente para o nível de<br />
consumo per capita, mas também para a prevalência de mão-de-obra infantil, conforme discutido<br />
na Secção 2.5.4. Finalmente, nota-se que os agregados familiares pobres tend<strong>em</strong> a ter chefes de<br />
agregados familiares mais velhos que os agregados familiares não pobres, e que este padrão<br />
ocorre <strong>em</strong> ambas as áreas urbanas e rurais. (Tabela 2.6).<br />
Assim dito, deve-se interpretar o relacionamento aparente entre a pobreza e o tamanho<br />
do agregado familiar com certo cuidado. A medida de b<strong>em</strong>-estar usada na maior parte deste<br />
relatório de avaliação de pobreza é o consumo per capita. Conforme notado no Capítulo 1, esta<br />
é uma medida mais comumente usada nos estudos de pobreza, e há muitas razões para<br />
recomenda-la. Contudo, o aspecto per capita da medida inclui algumas suposições implícitas que<br />
t<strong>em</strong> uma influência no relacionamento estimado entre a pobreza e o tamanho do agregado<br />
familiar, e na verdade, através do qual os agregados familiares são classificados como pobres e<br />
não pobres.<br />
Uma suposição importante implícita no uso do consumo per capita como uma medida de<br />
b<strong>em</strong>-estar, é que as necessidades totais de consumo do agregado familiar aumentam<br />
proporcionadamente com o tamanho do agregado familiar, ou seja, se um agregado familiar com<br />
cinco pessoas cresce para seis pessoas, requer um nível vinte por cento maior de consumo do<br />
agregado familiar para manter o mesmo padrão de vida. Colocado de forma diferente, implica<br />
que não exist<strong>em</strong> economias do tamanho do agregado familiar. Essa é uma suposição forte. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, os custos de habitação provavelmente não mudam proporcionalmente com o número<br />
de pessoas no agregado familiar. Por outro lado, os custos de alimentos provavelmente<br />
aumentarão ou diminuirão mais ou menos <strong>em</strong> proporção com as mudanças no número de<br />
m<strong>em</strong>bros do agregado familiar. Lanjouw e Ravallion (1995) caracterizam isso como uma<br />
diferença entre os bens privados e bens públicos dentro do agregado familiar. Uma medida de<br />
b<strong>em</strong>-estar que usa o consumo per capita assume que todos os bens dentro do agregado familiar<br />
são bens privados. Uma grande parte do consumo dos pobres é constituída de bens privados, a<br />
maioria notavelmente alimentos, e ainda há também certamente alguns bens públicos, no cabaz<br />
11 Note que a nossa definição da taxa de dependência inclui aqueles com incapacidades físicas (cegos,<br />
surdos, surdos-mudos, paralisados, amputados) ou capacidades mentais reduzidas como dependentes,<br />
independent<strong>em</strong>ente da idade. Também usam -se o tamanho total do agregado familiar, <strong>em</strong> vez do número de<br />
m<strong>em</strong>bros de agregado familiar como de “idade reprodutiva” o denomidador devido a mais de 200 agregados<br />
familiares que não têm m<strong>em</strong>bro entre as idades de 16 a 59 anos, inclusive.<br />
66
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
de consumo. No outro extr<strong>em</strong>o, pode-se assumir que exist<strong>em</strong> economias perfeitas do tamanho<br />
do agregado familiar, ou que todo o consumo do agregado familiar consiste de itens que são bens<br />
públicos dentro do agregado familiar. Isso é o mesmo que o antigo provérbio “dois pod<strong>em</strong> viver<br />
tão barato quanto um,” o que é também uma suposição forte, e também incorrecta na maioria dos<br />
casos.<br />
Essas suposições subjacentes explicam <strong>em</strong> parte porque a maioria dos estudos de<br />
agregados familiares acham que o consumo per capita está negativamente relacionado com o<br />
tamanho do agregado familiar (Lipton e Ravallion, 1994). Alternativamente, se o indivíduo usa<br />
o consumo do agregado familiar como medida de pobreza, os agregados familiares grandes <strong>em</strong><br />
geral pareceriam menos pobres do que os agregados familiares menores. Lanjouw e Ravallion<br />
(1995) desenvolveram a noção de uma elasticidade do tamanho do agregado familiar que mede<br />
o quanto as medidas de pobreza mudam sob várias suposições sobre economias<br />
x j<br />
n 2<br />
j<br />
0 # 2 # 1<br />
onde x é o consumo total do agregado familiar j, n é o número de pessoas no agregado familiar<br />
j j<br />
j, e 2 é a elasticidade do tamanho do agregado familiar. Quando 2 = 1 não há economias do<br />
tamanho do agregado familiar (o consumo é medido de acordo com um per capita) e quando 2<br />
= 0 há economias perfeitas do tamanho do agregado familiar (consumo é medido de acordo com<br />
o agregado familiar). Entre esses extr<strong>em</strong>os, a correlação entre o tamanho do agregado familiar<br />
e o consumo é mais fraco, e para algum valor de 2 eles não serão correlacionados.<br />
Para ilustrar a faixa de possibilidades, a Tabela 2.7 apresenta as linhas de pobreza que se<br />
aplicariam sob diferentes suposições sobre o valor de 2. Cada célula da Tabela mostra a linha de<br />
pobreza por agregado familiar que se aplicaria para um agregado familiar de um determinado<br />
tamanho para uma determinada suposição sobre economias do tamanho do agregado familiar,<br />
conforme mostrado no valor de 2. A linha de pobreza de um agregado familiar de uma pessoa<br />
é s<strong>em</strong>pre a mesma, independent<strong>em</strong>ente do valor de 2 escolhido. Da mesma forma, para 2 = 0,0,<br />
a linha de pobreza é a mesma para agregados familiares de qualquer tamanho. Os casos mais<br />
interessantes são aqueles para o agregado familiar de duas ou mais pessoas e 2 > 0. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
se não há economias do tamanho do agregado familiar (2 = 1,0), um agregado familiar de três<br />
pessoas requer 16,299 MT por dia para satisfazer as necessidades básicas. Contudo, se exist<strong>em</strong><br />
economias do tamanho do agregado familiar correspondente a 2 = 0,6, este agregado familiar<br />
de três pessoas pode atender as suas necessidades básicas a um nível de consumo de apenas dois<br />
terços desta quantia, ou 10,503 MT por dia. Alternativamente, com 2 = 0,6, essa quantia de<br />
dinheiro (16,299 MT por dia) pode suportar um agregado familiar de seis pessoas.<br />
Exploram-se os efeitos das economias do tamanho do agregado familiar calculando o<br />
consumo de cada agregado familiar seguindo a equação (2.3), usando os valores de 0, 0,2, 0,4,<br />
0,6, 0,8 e 1,0 para 2. A incidência da pobreza foi então calculada para cada categoria de tamanho<br />
67<br />
(2.3)
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
12<br />
do agregado familiar, onde a linha de pobreza foi normalizada de forma a que pertença a um<br />
agregado familiar de tamanho médio, ou seja, um agregado familiar do tamanho médio t<strong>em</strong> a<br />
mesma incidência da pobreza para todos os valores de 2. Os resultados são apresentados na<br />
Figura 2.1. A linha correspondente a 2= 1,0 mostra o padrão esperado: à medida que o tamanho<br />
do agregado familiar aumenta, a incidência da pobreza também aumenta. Para o outro caso<br />
extr<strong>em</strong>o, 2 = 0, a incidência da pobreza declina conforme o tamanho do agregado familiar<br />
aumenta. A correlação entre o tamanho do agregado familiar e a contag<strong>em</strong> da pobreza quase<br />
desaparece quando 2 = 0,4, conforme indicado pela linha relativamente plana para este valor.<br />
Esta elasticidade do tamanho do agregado familiar na qual não há correlação entre o<br />
tamanho do agregado familiar e o nível de consumo pode ser interpretada como o valor crítico<br />
a usar quando se avaliar o relacionamento entre o tamanho do agregado familiar e o consumo.<br />
Se alguém acredita que a magnitude verdadeira da elasticidade é maior que o valor crítico (ou<br />
seja, acredita-se que as economias do tamanho do agregado familiar são maiores que aquelas<br />
implicadas pelo valor crítico da elasticidade), então deve-se concluir que existe um<br />
relacionamento positivo entre o agregado familiar e a pobreza, <strong>em</strong>bora não tão forte quanto o<br />
relacionamento sugerido pelo consumo per capita com ajuste para o tamanho do agregado<br />
familiar. Da mesma forma, se o valor crítico da elasticidade do tamanho é maior do que se<br />
acredita que seja a elasticidade verdadeira, então pode-se concluir que existe um relacionamento<br />
negativo entre o tamanho do agregado familiar e a pobreza, e que as estimativas da pobreza<br />
baseadas no consumo per capita são um quadro totalmente erróneo.<br />
Neste caso, o valor crítico de 2 é suficient<strong>em</strong>ente baixo para implicar que a maioria do<br />
consumo do agregado familiar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> é de bens públicos, dentro do agregado familiar.<br />
Isto não é consistente com os padrões do consumo observados <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, conforme<br />
descrito mais tarde neste capítulo. Aproximadamente dois terços do consumo do agregado<br />
familiar é itens de alimentos que são claramente bens privados dentro do agregado familiar: o<br />
consumo de um b<strong>em</strong> por uma pessoa exclui a partida o consumo desse b<strong>em</strong> por outra pessoa.<br />
Uma grande porção da despesa não alimentar é também alocada para bens privados, como<br />
roupas e itens de higiene pessoal (ex<strong>em</strong>plo, sabão). Disto pode-se concluir que os agregados<br />
familiares grandes <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> na verdade tend<strong>em</strong> a ser mais pobres que os agregados<br />
familiares menores.<br />
2.5.2 Estrutura e Composição do Agregado Familiar<br />
Os agregados familiares dirigidos por mulheres, particularmente aqueles encabeçados por<br />
viúvas ou divorciadas, são <strong>em</strong> geral identificados como um grupo desproporcionadamente pobre.<br />
Os dados do MIAF mostram que <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, este não é o caso nas áreas rurais ou entre a<br />
população como um todo (Tabela 2.8). A nível nacional, 18,9 por cento dos não pobres viv<strong>em</strong><br />
12<br />
Visto que poucos agregados familiares (somente 343) possu<strong>em</strong> mais de 10 m<strong>em</strong>bros, nos cálculos a<br />
categoria de mais de 10 pessoas (‘10+’) inclui todos os agregados familiares com 10 ou mais m<strong>em</strong>bros.<br />
68
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
<strong>em</strong> agregados familiares dirigidos por mulheres, mas somente 16,8 por cento das pessoas pobres<br />
estão <strong>em</strong> agregados familiares dirigidos por mulheres. Esta diferença é estatisticamente<br />
significativa no nível de 10 por cento, e é determinada pelos dados nas zonas rurais, onde 19,5<br />
por cento dos não pobres estão <strong>em</strong> agregados familiares dirigidos por mulheres, comparados a<br />
somente 16,0 por cento dos pobres rurais (uma diferença significativa a nível de 5 por cento).<br />
Em contraste, nas zonas urbanas, os que resid<strong>em</strong> <strong>em</strong> agregados familiares dirigidos por mulheres<br />
são desproporcionadamente pobres (20,6 por cento dos pobres urbanos comparado com 17,0 por<br />
cento dos não pobres urbanos).<br />
Contudo, os agregados familiares dirigidos por mulheres não formam um grupo<br />
homogéneo, e seria incorrecto tratá-los como tal. Isso é especialmente verdadeiro no sul da<br />
África, onde existe uma história contínua e longa da migração da mão-de-obra masculina. O<br />
esposo pode estar fora a maior parte do t<strong>em</strong>po, fazendo com o que um agregado familiar seja<br />
classificado como dirigido por uma mulher, e mesmo assim as r<strong>em</strong>essas do <strong>em</strong>prego do esposo,<br />
relativamente b<strong>em</strong> pago, pod<strong>em</strong> tornar o agregado familiar um agregado familiar com melhores<br />
condições na comunidade. Por outro lado, dado a fragilidade da posse de terra e direitos de<br />
propriedade que as mulheres têm na região, as mulheres que estão separadas, divorciadas ou são<br />
viúvas, <strong>em</strong> geral não têm recursos e são especialmente vulneráveis. Assim, é importante, e prática<br />
comum, desagregar o agregado familiar dirigido por mulheres por características mais<br />
específicas.<br />
A Tabela 2.8 desagrega ambos os agregados familiares dirigidos por hom<strong>em</strong> e mulheres<br />
por estado civil do chefe do agregado familiar. Observa-se que, na maioria das vezes, a<br />
desagregação por estado civil não muda os resultados notados acima. Nas zonas rurais e <strong>em</strong> todo<br />
o país, a proporção de pessoas <strong>em</strong> agregados familiares dirigidos por mulheres entre os pobres<br />
é menor que a proporção de pessoas <strong>em</strong> agregados familiares dirigidos por mulheres entre os não<br />
pobres, independent<strong>em</strong>ente do estado civil do chefe do agregado familiar. Nas zonas urbanas,<br />
o padrão de agregados familiares dirigidos por mulheres sendo desproporcionalmente pobres<br />
permanece para todos excepto um dos subgrupos; a excepção é das chefes casadas, as que mais<br />
provavelmente receb<strong>em</strong> transferências de um marido migrante. Todas as diferenças são<br />
pequenas, e a maioria são estatisticamente insignificantes. Um resultado significativo (a nível de<br />
10 por cento) é a pobreza desproporcional entre as viúvas urbanas: 7,0 por cento da população<br />
pobre urbana vive <strong>em</strong> agregados familiares dirigidos por uma viúva, mesmo assim somente 4,7<br />
por cento dos não pobres urbanos moram <strong>em</strong> tais agregados familiares.<br />
A Tabela 2.9 apresenta o relacionamento entre o sexo do chefe do agregado familiar e a<br />
pobreza de uma maneira diferente, exibindo as três medidas de pobreza (incidência, pobreza<br />
diferencial, e quadrado da pobreza diferencial) para os agregados familiares chefiados por<br />
homens e mulheres. Em grande escala, as medidas de pobreza, especialmente a incidência,<br />
repercut<strong>em</strong>-se nas proporções da pobreza apresentadas na Tabela 2.8. Porém, a pobreza<br />
diferencial e o quadrado da pobreza diferencial fornec<strong>em</strong> algumas percepções sobre a<br />
69
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
distribuição comparativa do consumo abaixo da linha de pobreza. Por ex<strong>em</strong>plo, a nível nacional,<br />
quando se passa para níveis maiores de P", as diferenças entre os agregados familiares chefiados<br />
por mulheres e por homens, desaparec<strong>em</strong> (somente a diferença para a incidência é<br />
estatisticamente significativa, e isso a nível de 10 por cento). Isto é, <strong>em</strong>bora a proporção de<br />
pessoas nos agregados familiares chefiados por homens abaixo da linha de pobreza seja maior<br />
do que a proporção dos agregados familiares chefiados por mulheres, o consumo per capita<br />
médio dos agregados chefiados por mulheres pobres é um pouco inferior ao dos agregados<br />
familiares chefiados por homens pobres (ou seja, <strong>em</strong> média, o pobre é mais pobre nos agregados<br />
13<br />
familiares chefiados por mulheres). Além disso, o quadrado da pobreza diferencial é<br />
essencialmente igual para os dois grupos indicando que além de ter uma média mais baixa, o<br />
consumo per capita é mais distorcido entre os agregados familiares chefiados por mulheres<br />
pobres, indicando uma concentração maior destes agregados familiares nos níveis de consumo<br />
absolutamente menores.<br />
Como nos dados nacionais, nas zonas rurais as diferenças entre os agregados familiares<br />
chefiados por mulheres e por homens são reduzidas a níveis mais elevados de P". Porém, nas<br />
zonas urbanas as diferenças são mantidas, ou até cresc<strong>em</strong> <strong>em</strong> termos de proporções, a níveis<br />
maiores de P". A Tabela 2.9 também apresenta estimativas de pobreza para agregados familiares<br />
chefiados por mulheres e por homens usando a linha de ultra-pobreza. Os padrões ass<strong>em</strong>elham-se<br />
aos descritos pela linha de pobreza base, com a excepção de que a classificação para agregados<br />
familiares dirigidos por mulheres e por homens inverte-se para a pobreza diferencial nacional e<br />
o quadrado da pobreza diferencial, <strong>em</strong>bora as diferenças não sejam estatisticamente<br />
significativas.<br />
2.5.3 Educação<br />
A análise dos resultados de educação por nível de pobreza é feita separadamente para<br />
adultos e crianças <strong>em</strong> idade escolar. As crianças <strong>em</strong> idade escolar são definidas como aquelas de<br />
7 a 17 anos de idade, e aquelas de 7 a 11 anos de idade que são consideradas <strong>em</strong> idade de escola<br />
primária. Para adultos, analisa-se a alfabetização (uma característica auto-prescrita) e nível de<br />
educação completado para pessoas entre as idades de 18 e 65, pois isso pode ser considerado a<br />
faixa etária principal ou activa. 14<br />
Conforme mostra a primeira linha da Tabela 2.10, 32 por cento da população rural adulta<br />
e 71 por cento da população urbana adulta <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> são alfabetizados. Embora a taxa de<br />
alfabetização varie com o nível de pobreza, as diferenças entre as regiões e entre os sexos são<br />
13<br />
Rel<strong>em</strong>bre-se que o índice de pobreza diferencial pode também ser escrita como HI, onde H é o índice<br />
z z<br />
de incidência e I é a “Razão de Déficit de Renda,” ou I = 1 - (µ / z), onde µ , é o consumo médio do pobre e z é<br />
a linha de pobreza. Deste relacionamento pode-se calcular que a razão da déficit de renda para <strong>em</strong> agregados<br />
familiares dirigido por mulheres é 0,43, comparado com 0,43 para <strong>em</strong> agregados familiares dirigido por homens.<br />
14<br />
Em <strong>Moçambique</strong>, pessoas com mais de 66 anos representam somente 2 por cento da população, e os<br />
meios (e variância) destes indicadores são muito baixos para essa faixa etária.<br />
70
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
ainda maiores que as diferenças entre os ultra-pobres, pobres e não pobres. Por ex<strong>em</strong>plo, as taxas<br />
de alfabetização para adultos <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> são de 45,9 por cento para não-pobres e 36,6 por<br />
cento para pobres, uma diferença de 9 por cento, enquanto as taxas de alfabetização para homens<br />
e mulheres são de 59,3 e 23,6, uma diferença de 39 pontos percentuais.<br />
As diferenças nas taxas de alfabetização entre os pobres e os não pobres são maiores nas<br />
zonas urbanas, e isto é verdadeiro para ambos os sexos. O grupo com a taxa de alfabetização<br />
mais baixa é o das mulheres rurais, com apenas 15,7 por cento. Para as mulheres rurais, as<br />
diferenças nas taxas de alfabetização <strong>em</strong> ambas as classes de pobreza são muito pequenas,<br />
<strong>em</strong>bora estatisticamente significativas. Dada a dependência da população de <strong>Moçambique</strong> da<br />
produção agrícola, e o papel importante des<strong>em</strong>penhado pelas mulheres na actividade agrícola,<br />
a taxa de alfabetização extr<strong>em</strong>amente baixa de mulheres rurais t<strong>em</strong> implicações graves para a<br />
produtividade agrícola no país.<br />
A percentag<strong>em</strong> da população adulta <strong>em</strong> idade activa que completou pelo menos a escola<br />
primária é um indicador de nível de realização educacional dentro desta faixa etária. O painel<br />
inferior da Tabela 2.10 indica que somente 17,4 por cento de adultos <strong>em</strong> idade activa concluíram<br />
pelo menos a escola primária. O padrão de conclusão do ensino primário é o mesmo para a<br />
alfabetização: as taxas mais altas são encontradas entre o grupo de homens urbanos não pobres,<br />
enquanto que as mulheres nas áreas rurais possu<strong>em</strong> taxas mais baixas de conclusão do ensino<br />
primário, independent<strong>em</strong>ente do seu estatuto económico. Somente 6,5% das mulheres rurais não<br />
pobres completaram pelo menos o ensino primário, enquanto 14,6 por cento dos homens rurais<br />
ultra-pobres concluíram pelo menos o ensino primário. As diferenças que exist<strong>em</strong> por níveis de<br />
pobreza são maiores nas zonas urbanas.<br />
A Tabela 2.11 dá informação sobre o nível educacional alcançado pelos chefes de<br />
agregados familiares e os resultados indicam uma associação positiva entre a educação do chefe<br />
e b<strong>em</strong>-estar do agregado familiar para todos os grupos, incluindo mulheres chefes de agregados<br />
familiares nas zonas rurais. No país como um todo, a taxa de conclusão do ensino primário é de<br />
25,3 por cento para chefes de agregados familiares não pobres, e somente 14,1 por cento dos<br />
agregados familiares pobres. Para os chefes de agregados familiares f<strong>em</strong>ininos nas zonas rurais,<br />
a taxa de conclusão do ensino primário é de 5,7 por cento para chefes de agregados familiares<br />
não pobres e 1,5 por cento para chefes de agregados familiares pobres.<br />
As taxas de matrícula para crianças <strong>em</strong> idade escolar primária (7-11) e crianças <strong>em</strong> idade<br />
de escola secundária (12-17) são apresentadas na Tabela 2.12. Na altura do inquérito (Fevereiro<br />
de 1996 - Abril de 1997), 49,2 por cento das crianças entre 7 e 8 anos de idade e 48 por cento de<br />
crianças entre 12 e 17 anos de idade estavam matriculadas na escola. A associação entre pobreza<br />
e escolaridade é mais forte nas zonas urbanas, para ambos os sexos. Por ex<strong>em</strong>plo, entre crianças<br />
<strong>em</strong> idade escolar do nível primário nas zonas urbanas, 86,2 por cento das que se encontram <strong>em</strong><br />
agregados familiares não pobres estão matriculadas na escola contra 63,3 por cento dos<br />
provenientes de agregados familiares pobres, uma diferença de 23 pontos percentuais. Nas zonas<br />
71
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
rurais a mesma diferença é apenas de 10 pontos percentuais (51,9 versus 41,7). As taxas de<br />
matrícula mais baixas são encontradas entre meninas nas zonas rurais, mas as diferenças de<br />
género entre as crianças não são tão grandes quanto as diferenças de género entre adultos nas<br />
zonas rurais. Por ex<strong>em</strong>plo, para a faixa etária de 7-11, as diferenças nas taxas de matrícula entre<br />
meninos e meninas nas zonas rurais é de 10 pontos percentuais, enquanto que para adultos<br />
(Tabela 2.10), a diferença nas taxas de alfabetização entre homens e mulheres é de 37 pontos<br />
percentuais nas zonas rurais.<br />
A Tabela 2.13 fornece informação sobre a percentag<strong>em</strong> das populações rurais com uma<br />
escola primária nas suas aldeias. Sessenta e oito por cento da população rural t<strong>em</strong> uma escola<br />
primária na aldeia, mas somente 17,4 por cento possu<strong>em</strong> escola primária completa que vai até<br />
o EP2. Note-se que existe pouca variação no acesso à escola primária por níveis de pobreza. Isto<br />
indica que a variação nas taxas de matrícula entre crianças pobres e não pobres não pode ser<br />
explicada pelo acesso diferencial à escola nas zonas rurais.<br />
2.5.4 Emprego e Composição da Força de Trabalho<br />
A Tabela 2.14 apresenta informações sobre respostas à pergunta “Qual foi a sua situação<br />
na última s<strong>em</strong>ana?” Essa pergunta foi feita a todos os indivíduos com 7 anos ou mais. Ao<br />
interpretar estes dados é importante ter <strong>em</strong> mente que a pergunta não foi respondida com<br />
frequência. Primeiro é a observação de que virtualmente ninguém respondeu que estava<br />
des<strong>em</strong>pregado (0,8 por cento <strong>em</strong> todo o país, incluindo trabalhadores “desestimulados” que não<br />
15<br />
estavam à busca do <strong>em</strong>prego). Da mesma forma, somente 1 por cento dos respondentes<br />
reportaram que estavam aposentados, incapacitados ou <strong>em</strong> serviço militar obrigatório. Também<br />
entre as respostas menos escolhidas está 0,9 por cento dos respondentes que responderam que<br />
estavam <strong>em</strong>pregados mas que não estavam trabalhando nos 7 dias precedentes, normalmente<br />
devido a férias ou doenças. A resposta “Outros,” que totaliza 8,3 por cento das respostas a nível<br />
nacional, foi tipicamente usada tanto para pessoas jovens como para as idosas que não<br />
trabalharam na s<strong>em</strong>ana precedente e não eram estudantes.<br />
Entre as respostas mais comuns, vê-se que a nível nacional, 44,3 por cento dos<br />
respondentes trabalharam <strong>em</strong> troca de alguma forma de pagamento na s<strong>em</strong>ana precedente,<br />
enquanto 20,0 por cento eram estudantes, 16,9 por cento trabalharam para a família s<strong>em</strong><br />
pagamento, e 7,8 por cento realizavam trabalho doméstico s<strong>em</strong> pagamento. A nível nacional<br />
verifica-se, tanto nos pobres como nos não pobres, uma pluralidade daqueles com 7 anos e mais<br />
velhos que estavam a trabalhar por pagamento, <strong>em</strong>bora a proporção seja significativamente mais<br />
15 Uma explicação é que muitas pessoas que pod<strong>em</strong> ser consideradas não <strong>em</strong>pregadas sob as definições<br />
usadas nos outros inquéritos responderam que “ajudavam uma família s<strong>em</strong> pagamento” ou “faziam trabalho<br />
caseiro.” A discussão aparente entre essas duas respostas é que a anterior foi usada principalmente para aqueles<br />
engajados <strong>em</strong> mão-de-obra agrícola na(s) machamba(s) do agregado familiar, e que o último era usado para trabalho<br />
caseiro. Devido ao des<strong>em</strong>prego ter sido reportado foram escolhido não analisar o des<strong>em</strong>pregado separadamente,<br />
<strong>em</strong> termos de duração de des<strong>em</strong>prego, razões para des<strong>em</strong>prego e outras variáveis que não foram colectadas para<br />
aqueles poucos indivíduos que reportaram que estavam des<strong>em</strong>pregados.<br />
72
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
baixa para os pobres, e mais baixa ainda para os ultra-pobres. A maioria dessa diferença, é<br />
constituída na categoria “Ajudo a família s<strong>em</strong> receber pagamento”, que t<strong>em</strong> uma proporção maior<br />
entre os pobres; e <strong>em</strong> menor grau, a categoria “Trabalho doméstico” também constitui uma<br />
pequena diferença. De forma interessante, a nível nacional, a proporção de respondentes que<br />
estavam frequentando a escola é igual para todos os grupos. Porém, deve-se recordar que os<br />
agregados familiares pobres têm muitos filhos, e por isso, a proporção de respondentes <strong>em</strong> idade<br />
16<br />
escolar que estão frequentando escolas deve ser inferior entre os pobres. As crianças <strong>em</strong> idade<br />
escolar tipicamente aparec<strong>em</strong> numa das categorias de trabalho s<strong>em</strong> pagamento, ou “Outros” os<br />
quais todos possu<strong>em</strong> maiores proporções entre os ultra-pobres e pobres.<br />
A desagregação dos dados por zona rural/urbana revela que por detrás das tendências<br />
nacionais encontram-se algumas grandes diferenças entre as zonas rurais e urbanas. Exist<strong>em</strong> 3<br />
contrastes rurais/urbanos salientes. Primeiro, existe um padrão urbano/rural claro com relação<br />
a duas categorias principais de <strong>em</strong>prego não pago, com indivíduos <strong>em</strong> residências rurais com<br />
muito mais probabilidade de responder “Ajudo a famílias s<strong>em</strong> receber pagamento”, e indivíduos<br />
urbanos com mais probabilidade de responder que faz<strong>em</strong> trabalho doméstico s<strong>em</strong> pagamento.<br />
Independent<strong>em</strong>ente da zona, os ultra-pobres e os pobres t<strong>em</strong> maior probabilidade do que os não<br />
pobres de reportar a sua situação laboral numa dessas categorias. Segundo, a relação entre<br />
trabalhar por pagamento e o estado de pobreza que é observado a nível nacional também ocorre<br />
nas zonas rurais, mas nas zonas urbanas não há relacionamento estatisticamente significativo<br />
entre os dois. Isto implica que não é tanto o <strong>em</strong>prego pago <strong>em</strong> si que diferencia os pobres dos não<br />
pobres nas zonas urbanas, mas sim o nível de renda desse <strong>em</strong>prego, o número de dependentes,<br />
e outros factores. Terceiro, enquanto a nível nacional a proporção de respondente que não estava<br />
frequentando a escola é cerca de 20 por cento, independent<strong>em</strong>ente do estado de pobreza, nas<br />
zonas urbanas a proporção é muito maior entre os não pobres do que os pobres (mesmo apesar<br />
da proporção menor de crianças <strong>em</strong> idade escolar entre os não pobres). Da mesma forma, nas<br />
zonas rurais são os pobres que têm a maior proporção de respondentes que frequentam a escola.<br />
Usando a definição padrão da força de trabalho (labor force) (os <strong>em</strong>pregados e aqueles<br />
que buscam activamente <strong>em</strong>prego), pode-se definir força de trabalho como aqueles que se<br />
17<br />
encontram nas primeiras cinco categorias mostradas na Tabela 2.14. Com esta definição v<strong>em</strong>os<br />
que nas zonas rurais, os não pobres têm muito mais probabilidade de estar na força de trabalho<br />
16<br />
Este aspecto é mostrado na Tabela 2.16, discutido mais tarde nessa secção. É também discutido <strong>em</strong><br />
pormenor no Capítulo sobre capital humano neste relatório de avaliação da pobreza.<br />
17<br />
Há alguma inconsistência <strong>em</strong> contar os “Ajuda a família s<strong>em</strong> receber pagamento” como parte da força<br />
de trabalho mas não inclui aqueles que faz<strong>em</strong> “Trabalho doméstico.” Isso não pretende ser um juizo de valor sobre<br />
os méritos relativos de cada tipo de trabalho. Em vez disso, permite definições comumente usadas <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>,<br />
que delineia os dois, pelo menos <strong>em</strong> parte, quanto à ideia de que a produção do anterior t<strong>em</strong> mais probabilidade de<br />
terminar no mercado do que a produção do último. Uma outra razão para manter esta divisão é o próprio desenho<br />
do questionário: foi feito àqueles que responderam “Ajudo a família s<strong>em</strong> receber pagamento” um grupo completo<br />
de perguntas sobre o estado do <strong>em</strong>prego, enquanto que aqueles que responderam “Trabalho doméstico” não se fez<br />
perguntas sobre o estado do <strong>em</strong>prego, como dias trabalhado, local de <strong>em</strong>prego, etc.<br />
73
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
do que os pobres e os ultra-pobres, enquanto que nas áreas urbanas não existe diferença na<br />
participação da força de trabalho entre os pobres e os não pobres (Tabela 2.15). A nível nacional,<br />
a tendência é a mesma que nas zonas rurais. A Tabela 2.15 também mostra a distribuição etária<br />
da força de trabalho. Nas zonas urbanas está claro que entre os pobres, a força de trabalho é mais<br />
jov<strong>em</strong> do que entre os não pobres. Em particular, a proporção da força de trabalho constituída<br />
por crianças entre 7 a 15 anos – e <strong>em</strong> menor escala, aqueles na faixa etária de 16 a 20 anos – é<br />
substancialmente mais alta entre os ultra-pobres e os pobres. As proporções na faixa etária de 21<br />
a 29 anos são quase as mesmas para os pobres e os não pobres, com os não pobres tendo uma<br />
proporção muito maior de sua força de trabalho na faixa etária de ganho máximo de 30 a 59 anos<br />
de idade. Nas áreas rurais o padrão não está tão claro. Certamente, a proporção da força de<br />
trabalho entre a idade de 16 anos é maior entre os ultra-pobres e os pobres (16,7 e 14,4 por cento,<br />
respectivamente, comparado com 8,6 para os não pobres rurais). Porém, a força de trabalho não<br />
pobre t<strong>em</strong> uma maior proporção de adultos jovens (21 a 29 anos) mas uma melhor proporção na<br />
faixa etária de 30 a 59 anos. Finalmente, e para surpresa, o idoso constitui uma maior proporção<br />
da força de trabalho entre os não pobres do que constitui entre os pobres e os ultra-pobres.<br />
Uma outra forma de verificar a participação da força de trabalho é examinar a<br />
percentag<strong>em</strong> de cada faixa etária que está participando na força de trabalho. Esta abordag<strong>em</strong> evita<br />
os efeitos da confusão gerada pelas diferentes distribuições de idade entre os agregados familiares<br />
pobres e não pobres. A Tabela 2.16 mostra que nas áreas urbanas, os agregados familiares pobres<br />
possu<strong>em</strong> uma percentag<strong>em</strong> maior de m<strong>em</strong>bros na força de trabalho para as quatro faixas etárias<br />
de 7 a 29 anos, com as percentagens mais ou menos iguais nas duas faixa mais velhas. Nas áreas<br />
rurais, contudo, não se observa nenhuma diferença entre os grupos de pobreza para a<br />
porcentag<strong>em</strong> de 7 a 11 anos que estão trabalhando. Um pobre de 12 a 15 anos t<strong>em</strong> maior<br />
probabilidade de estar na força de trabalho rural do que um companheiro-de-idade (age-mate)<br />
não pobre, mas a diferença é apenas estatisticamente significativa para a comparação entre os não<br />
pobres e o ultra-pobres. Por outro lado, um não pobre de 16 a 20 anos t<strong>em</strong> mais probabilidade<br />
de estar na força de trabalho do que seu contraparte <strong>em</strong> um agregado familiar pobre. Finalmente,<br />
não há diferenças significativas nas taxas de participação nas duas faixas etárias mais velhas.<br />
2.5.5 <strong>Pobreza</strong> e Sector de Emprego<br />
A Tabela 2.17 apresenta as proporções da força de trabalho de cada grupo de pobreza que<br />
trabalha <strong>em</strong> cada um dos seis sectores económicos. Noventa e cinco por cento da força de<br />
trabalho rural está <strong>em</strong>pregada na agricultura, com os pobres rurais com uma probabilidade um<br />
pouco maior (e estatisticamente significante) de estar<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados na agricultura do que os não<br />
pobres. As diferenças, e os níveis absolutos, de participação <strong>em</strong> outros sectores são<br />
correspondent<strong>em</strong>ente pequenas, <strong>em</strong>bora os não pobres tenham mais probabilidades significativa<br />
do que os pobres de estar<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados nos sectores “Comércio e serviços” ou “Serviços<br />
públicos”. Nas áreas urbanas o quadro é muito mais heterogéneo. Existe uma correlação clara<br />
74
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
entre a pobreza e o <strong>em</strong>prego agrícola nas zonas urbanas, com dois terços de ultra-pobres urbanos,<br />
e mais que metade dos pobres urbanos, <strong>em</strong>pregados no sector agrícola, comparado com menos<br />
de um terço dos não pobres urbanos. Em quase todos os outros sectores o padrão é inverso, com<br />
os não pobres com mais probabilidade (e estatisticamente significativa) de estar<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados<br />
nos sectores “Comércio e serviço,” “Serviços públicos,” “Indústria e mineração,” e “Transporte<br />
e comunicação.” Nas áreas urbanas o único sector económico que não t<strong>em</strong> uma correlação clara<br />
com a pobreza é o sector de construção, onde a participação é aproximadamente 4 por cento,<br />
independent<strong>em</strong>ente da situação de pobreza.<br />
Uma melhor observação das relações entre a pobreza e o sector de <strong>em</strong>prego pode ser<br />
obtida examinando-se as medidas de pobreza <strong>em</strong> cada sector, como é apresentado na Tabela 2.18.<br />
Não é surpreendente que a nível nacional, todas as três medidas de pobreza sejam mais altas no<br />
sector agrícola e de pescas. As medidas de pobreza mais próximas alta são encontradas entre<br />
aqueles que trabalham nos sectores de “Indústria e mineração,” e “Construção”; as taxas de<br />
pobreza nos sectores “Comércio e serviço,” “Transporte e comunicação” e “Serviços públicos”<br />
são as mais baixas. O que é um pouco inesperado, porém, é que as medidas de pobreza mais altas<br />
encontra-se entre os agricultores urbanos, que possu<strong>em</strong> um índice de incidência de 74,8. 18<br />
Embora as áreas peri-urbanas de <strong>Moçambique</strong> possuam terras consideravelmente cultiváveis, e<br />
a definição de urbana no MIAF inclui muitas vilas comerciais de mercados que não são<br />
realmente cidades, também parece que muitas pessoas des<strong>em</strong>pregadas e sub-<strong>em</strong>pregadas estão<br />
incluídas entre o residentes urbanos que reportaram a agricultura como sua actividade de trabalho<br />
principal. Nas zonas rurais, a incidência, profundidade e severidade da pobreza são também<br />
maiores entre aqueles <strong>em</strong>pregados na agricultura e pescas, <strong>em</strong>bora a diferença não seja tão<br />
dramática nas zonas urbanas. Em grande parte, devido ao número reduzido de pessoas que<br />
trabalham <strong>em</strong> outros sectores e aos grandes erros padrão correspondentes a essas estimativas de<br />
pobreza, não há diferença significativa na incidência da pobreza entre os que trabalham na<br />
agricultura e a maioria de outros sectores económicos. Os sectores “Comércio e serviços” e<br />
“Serviços públicos” possu<strong>em</strong> as taxas mais baixas de pobreza nas zonas rurais.<br />
A Tabela 2.19 apresenta os resultados sobre a situação de pobreza por tipo de<br />
<strong>em</strong>pregador. De longe, as duas categorias dominantes são o auto-<strong>em</strong>prego e trabalho não pago<br />
para a família, sendo ambas principalmente <strong>em</strong>prego agrícola, <strong>em</strong>bora não exclusivamente. Nas<br />
zonas rurais, a <strong>em</strong> nível nacional, os que são auto-<strong>em</strong>pregados são desproporcionalmente não<br />
pobres; isto é, a proporção de pessoas auto-<strong>em</strong>pregadas entre os não pobres é maior do que a<br />
proporção das pessoas auto-<strong>em</strong>pregadas nas respectivas áreas. O relacionamento oposto ocorre<br />
para a mão-de-obra familiar não paga. Nas zonas rurais, não há relacionamento entre a situação<br />
de pobreza e o tipo de <strong>em</strong>pregador para todas as outras categorias excepto duas (Administração<br />
18<br />
Note que como esta análise só inclui aqueles que constitu<strong>em</strong> a força de trabalho, as taxas de pobreza<br />
estimada total difer<strong>em</strong> daquelas reportadas para a população inteira na Secção 2.3. As medidas de pobreza e ultrapobreza<br />
para a sub-amostra de indivíduos que constitu<strong>em</strong> a forca de trabalho estão um pouco mais baixas do que<br />
aqueles para a população inteira, e são mostradas nas fileiras “Total”da Tabela 2.18.<br />
75
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
pública e Empregador), as quais estão associadas com ser não-pobre. Nas zonas urbanas vimos<br />
que os pobres estão relativamente concentrados entre os auto-<strong>em</strong>pregados (novamente,<br />
principalmente agricultores) e trabalhadores familiares não pagos, com os não pobres<br />
relativamente concentrados nos sectores de administração pública, <strong>em</strong>presas estatais e <strong>em</strong>prego<br />
do sector privado.<br />
O inquérito também perguntou a todos os que estão trabalhando actualmente se tiveram<br />
uma segunda actividade ocupacional durante os 7 dias anteriores. Como muitas ocupações<br />
secundárias são contigenciais por natureza (ex<strong>em</strong>plo, pequenos negócios quando bens<br />
particulares tornam-se disponíveis), o período de rechamada de sete dias é talvez muito curto<br />
para captar muitas ocupações secundárias. Como ilustrado na Tabela 2.20, somente 5 por cento<br />
da força de trabalho foi reportada como tendo realizado uma segunda actividade durante os 7 dias<br />
precedentes. Trabalhos secundários são mais comuns nas zonas rurais do que nas zonas urbanas,<br />
e mais comuns entre os não pobres do que entre os pobres e ultra-pobres. Existe uma grande<br />
heterogeneidade das actividades secundárias registadas, particularmente nas zonas urbanas, mas<br />
as mais comuns são a agricultura, artesanato (trabalho <strong>em</strong> madeira, cestos, trabalho <strong>em</strong> couro<br />
etc.), comércio e pesca. A maioria destas actividades são realizadas <strong>em</strong> casa ou nas machambas<br />
do agregado familiar. Dos dados disponíveis não é possível dizer se ser não pobre assegura<br />
recursos adicionais para se ter <strong>em</strong>prego secundário ou se é uma fonte adicional de renda que tira<br />
a pessoa da pobreza.<br />
2.5.6 Características da Agricultura e Posse de Terras<br />
Praticamente todos os agregados familiares rurais têm pelo menos uma parcela de terra<br />
para fins agrícolas (machamba), comparado a um pouco mais da metade dos agregados familiares<br />
urbanos (Tabela 2.21). Embora não haja nenhuma diferença a esse respeito entre as classes<br />
pobres nas zonas rurais, nas zonas urbanas os pobres têm muito mais probabilidade de ter uma<br />
machamba do que os não pobre. A definição de áreas urbanas usada no MIAF inclui as áreas<br />
peri-urbanas e pequenas vilas comerciais que compartilham muitas das características das zonas<br />
rurais. O resultado é que existe uma quantidade considerável de actividade agrícola nas áreas que<br />
são classificadas como urbanas no MIAF. É especialmente provável que muitos dos pobres<br />
urbanos e ultra-pobres, vivam na periferia das cidades, onde há terra disponível para o cultivo,<br />
<strong>em</strong>bora possam não desfrutar de muitos dos benefícios da vida urbana como o acesso a serviços<br />
e infra-estruturas melhoradas.<br />
Nas zonas rurais, os agregados familiares ultra-pobres e pobres têm maior porção de terra<br />
estatisticamente significativa <strong>em</strong> relação às zonas urbanas. Quando calculada como per capita,<br />
a relação encontrada entre o tamanho da terra e a pobreza é a seguinte: tanto nas zonas rurais<br />
como nas urbanas, os agregados familiares não pobres possu<strong>em</strong> maior tamanho de terra per<br />
capita do que os agregados familiares pobres e ultra-pobres (Tabela 2.21). A diferença é<br />
especialmente acentuada nas zonas rurais, onde os não pobres têm, <strong>em</strong> média, 50 por cento mais<br />
76
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
de terra per capita do que os pobres (0,6 e 0,4 hectares per capita, respectivamente). A<br />
distribuição distorcida do tamanho da terra é também revelada quando a distribuição é dividida<br />
<strong>em</strong> quartis. Por ex<strong>em</strong>plo, a Tabela 2.21 mostra que a nível nacional, 29 por cento dos pobres<br />
encontram-se no quartil inferior do tamanho da terra per capita, e 21 por cento encontra-se no<br />
quartil superior. Isto compara-se com 21 por cento e 29 por cento dos não pobres,<br />
respectivamente.<br />
Em geral, o uso de insumos agrícolas (além do trabalho) é baixo para os agregados<br />
familiares pobres e não pobres. Os não pobres têm mais probabilidade de usar mais fertilizantes<br />
19<br />
ou equipamentos agrícolas do que os pobres, conforme mostra a Tabela 2.22; a diferença é<br />
pequena nas zonas rurais, mas é pronunciada nas zonas urbanas. Somente 3 por cento dos<br />
agregados familiares da amostra possu<strong>em</strong> terra irrigada, com as machambas urbanas com maior<br />
probabilidade de ter irrigação do que as machambas rurais. Embora o acesso à terra irrigada seja<br />
distribuído com bastante uniformidade entre as diferentes classes de pobreza, ou mesmo<br />
favoravelmente para os ultra-pobres e pobres urbanos, <strong>em</strong> média os não pobres possu<strong>em</strong> áreas<br />
maiores de terra irrigada do que os pobres.<br />
A nível nacional, somente 13 por cento dos agregados familiares com terra para<br />
agricultura contrata mão-de-obra <strong>em</strong> qualquer momento durante a época agrícola na qual a<br />
entrevista foi conduzida. A mão-de-obra contratada é muito mais comum nas zonas urbanas do<br />
que nas zonas rurais, com 25 por cento dos proprietários urbanos de machamba contratando mão-<br />
de-obra, comparados a 12 por cento dos proprietários rurais. Tanto nas rurais como nas urbanas,<br />
os não pobres têm cerca de duas vezes mais probabilidade de usar mão-de-obra contratada <strong>em</strong><br />
suas machambas do que os não pobres. Em termos de insumos agrícolas, a Tabela 2.22 mostra<br />
que a mão-de-obra contratada é um indicador forte da probabilidade de um agregado familiar ser<br />
pobre ou não pobre.<br />
O milho é a cultura mais comumente praticada tanto entre os pobres como os não pobres,<br />
cultivado aproximadamente por 75 por cento dos agregados familiares que produz<strong>em</strong> culturas<br />
(Tabela 2.23). Nas zonas rurais são os não pobres que têm mais probabilidade de vender pelo<br />
menos algumas das suas colheitas de milho; doze por cento dos não pobres rurais que cultivam<br />
milho comercializam parte de sua colheita, comparados com 8 por cento dos ultra-pobres e 10<br />
por cento dos pobres. Porém, nas zonas urbanas a tendência é inversa, com 6, 5 e 3 por cento dos<br />
ultra-pobres, pobres e não pobres, respectivamente, vendendo parte da produção de milho.<br />
A mandioca é cultivada por 60 por cento dos agregados familiares que possu<strong>em</strong> terra para<br />
agricultura , uma percentag<strong>em</strong> maior nas zonas rurais (63 por cento) e nas zonas urbanas (38 por<br />
cento). Nas zonas rurais e urbanas os não pobres têm mais probabilidade de cultivar mandioca<br />
do que os pobres ou ultra-pobres, enquanto a situação é inversa nas zonas urbanas. Virtualmente<br />
nenhuma mandioca produzida nas zonas urbanas é comercializada, enquanto aproximadamente<br />
19<br />
Isto refere-se ao equipamento além da enxada manual comum, como tracção animal ou mecânica,<br />
bombas de água ou equipamentos de irrigação.<br />
77
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
4 por cento dos agregados familiares rurais que produz<strong>em</strong> mandioca vend<strong>em</strong> pelo menos parte<br />
de sua produção.<br />
Um pouco mais da metade dos agregados familiares que possu<strong>em</strong> terra cultiva o feijão,<br />
com a taxa um pouco mais alta nas zonas rurais do que nas zonas urbanas. Tanto nas zonas rurais<br />
nas urbanas os pobres têm um pouco mais de probabilidade de produzir feijão do que os não<br />
pobres, mas não há diferença significativa nas proporções dos produtores que comercializam<br />
feijão.<br />
Embora os padrões de irrigação e o uso de insumos descritos acima sugiram que os não<br />
pobres urbanos possam concentrar- se na produção intensiva de culturas de rendimento, como<br />
vegetais para mercado, um exame dos padrões de culturas d<strong>em</strong>onstra que este não é o caso. Cerca<br />
de 25 a 30 por cento de agregados familiares <strong>em</strong> todos os grupos cultivam horticulturas, s<strong>em</strong><br />
nenhuma diferença significativa entre os pobres e os não pobres, ou entre as zonas urbana e rural.<br />
Conforme esperado, os agregados familiares rurais t<strong>em</strong> mais probabilidade de ter<strong>em</strong><br />
árvores de fruta do que os agregados familiares urbanos, <strong>em</strong>bora a diferença seja pequena. As<br />
diferenças entre os pobres rurais e os não pobres rurais a este respeito, são também menores, mas<br />
nas zonas urbanas os não pobres têm significativamente maior probabilidade do que os pobres<br />
de ter<strong>em</strong> árvores de fruta.<br />
De acordo com os dados do MIAF, os agregados familiares moçambicanos que têm terra<br />
cultivável, aproximadamente um quarto têm cajueiros (Tabela 2.24). Os agregados familiares<br />
rurais têm maior probabilidade de ter<strong>em</strong> cajueiros do que os agregados familiares urbanos, e <strong>em</strong><br />
ambas as áreas não há relacionamento aparente entre o estado de pobreza e ter cajueiros. Como<br />
a existência de um único cajueiro pode não significar muito para a vida do agregado familiar, os<br />
dados foram também analisados combinando-se as proporções de agregados familiares com pelo<br />
menos 10 cajueiros. Nas zonas rurais os não pobres têm maior probabilidade de ter mais de 10<br />
cajueiros do que os ultra-pobres e os pobres; nas zonas urbanas não há diferença significativa nas<br />
diferenças por níveis de pobreza. Em ambas as zonas, os pobres e os não pobres têm igual<br />
probabilidade de vender caju.<br />
Virtualmente, não se cultiva algodão nas áreas urbanas. Nas áreas rurais uma estimativa<br />
de 4 por cento dos agregados familiares com machambas cultivam algodão, onde os agregados<br />
familiares não pobres têm maior probabilidade de ser<strong>em</strong> produtores de algodão do que os<br />
agregados familiares pobres.<br />
2.5.7 Transferências<br />
Esta secção examina as transferências que os agregados familiares faz<strong>em</strong> a, ou receb<strong>em</strong><br />
de, outros agregados familiares ou organizações sociais. Receber tais transferências aumenta<br />
potencialmente o b<strong>em</strong>-estar de um agregado familiar. Em particular, é relevante investigar o grau<br />
<strong>em</strong> que os agregados familiares pobres se beneficiam de tais transferências. Na presente análise,<br />
são consideradas tanto as transferências monetárias como as transferências <strong>em</strong> espécies.<br />
78
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Em geral, os agregados familiares moçambicanos não têm a probabilidade de depender<br />
de transferências monetárias. Dos 8250 agregados familiares, por ex<strong>em</strong>plo, 26 por cento faz<strong>em</strong><br />
transferências a agregados familiares ou a organizações, e 24 por cento receb<strong>em</strong> tais<br />
transferências (Tabela 2.25). Os agregados familiares urbanos têm menor probabilidade do que<br />
os agregados familiares rurais de realizar ou beneficiar de transferências. Nas zonas rurais as<br />
transferências são um pouco mais comuns entre os não pobres do que entre os ultra-pobres ou<br />
pobres. A situação é inversa nas zonas urbanas, onde as transferências são mais comuns entre os<br />
ultra-pobres e pobres<br />
A nível nacional, as transferências líquidas recebidas são positivas, o que é consistente<br />
com a posição de <strong>Moçambique</strong> como recebedora de r<strong>em</strong>essas de moçambicanos que trabalham<br />
fora do país, especialmente na República da África do Sul. Esta tendência mantém-se quando o<br />
cálculo é feito usando-se todos os agregados familiares (ou seja, incluindo a grande maioria de<br />
agregados familiares que possui transferências zero, conforme a Tabela 2.26) ou usando-se<br />
somente o subconjunto de agregados familiares que realizam ou beneficiam de transferências<br />
(Tabela 2.27).<br />
Quando se inclu<strong>em</strong> todos os agregados familiares na análise, o valor líquido das<br />
transferências é mais elevado nas zonas urbanas do que nas zonas rurais, <strong>em</strong>bora uma proporção<br />
menor de agregados familiares urbanos realize transferências (Tabela 2.26). Portanto, esta<br />
diferença é maior quando apenas se examina os agregados familiares envolvidos nas<br />
transferências é examinado (Tabela 2.27). Tanto nas zonas rurais como nas zonas urbanas, o<br />
valor líquido médio das transferências é duas a três vezes maior para agregados familiares não<br />
pobres do que para agregados familiares pobres ou ultra-pobres. Embora esta diferença seja<br />
grande, é menor do que a diferença proporcional no consumo médio per capita dos pobres e dos<br />
não pobres, indicando que mesmo que uma minoria de agregados familiares esteja envolvida nas<br />
transferências, o recebimento de tais transferências é relativamente mais importante para os<br />
agregados familiares pobres do que para os não pobres.<br />
2.5.8 Padrão de consumo<br />
A Tabela 2.28 mostra a proporção do consumo total que é alocado ao consumo de<br />
alimentos, ou à componente orçamental dos alimentos. A Tabela então desagrega depois o<br />
consumo total de alimentos <strong>em</strong> vários tipos de alimentos, e apresenta a componente do<br />
orçamento para cada um desses tipos de alimento. O resultado principal é que a componente do<br />
orçamento para alimentos é extr<strong>em</strong>amente alta, com uma média de 68 por cento a nível<br />
20<br />
nacional. Isto não é surpreendente quando se considera que <strong>Moçambique</strong> está entre os países<br />
20 A composição do orçamento mostrada na Tabela 2.28 é calculada computando os componentes de<br />
orçamento para cada agregado familiar e <strong>em</strong> seguida calculando-se as médias ponderadas dessas partilhas,<br />
ponderando pelos pesos de amostra do inquérito (factores de expansão) e tamanho do agregado familiar. Este<br />
calculo dá peso igual aos padrões de despesa de cada indivíduo. Alternativamente, pode-se dar peso igual a cada<br />
metical gasto que, <strong>em</strong> efeito, dá maior peso aos agregados familiares mais ricos; as participações de orçamento<br />
79
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
mais pobres do mundo; na verdade, esse número se aproxima às componentes do orçamento para<br />
21<br />
alimentos de outros países muito pobres <strong>em</strong> África. . Segundo, <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, a componente<br />
média do orçamento para alimentos declina à medida que o consumo total cresce, conforme<br />
ilustrado pelas componentes do orçamento para alimentos mais baixas entre os não pobres. A<br />
diferença nas componentes médias do orçamento para alimentos dos pobres rurais e dos não<br />
pobres rurais é pequena e somente marginalmente estatisticamente significativa, mas o padrão<br />
das componentes do orçamento para alimentos <strong>em</strong> declínio é clara nas zonas urbanas, com<br />
agregados familiares não pobres alocando uma média de somente 53 por cento dos seus<br />
orçamentos aos bens alimentares, comparado a 62 por cento para os pobres e 63 por cento para<br />
o ultra-pobre. Para todas as classes de pobreza, a componente média do orçamento para<br />
alimentos é menor para agregados familiares urbanos do que para os agregados familiares rurais.<br />
Em média, os grãos, raízes e tubérculos totalizam quase metade da despesa <strong>em</strong> alimentos,<br />
ou um terço da despesa total. A proporção da despesa total alocada aos cereais vai da mais baixa<br />
de 19 por cento entre os não pobres urbanos para a mais alta de 25 por cento para os pobres<br />
urbanos (veja a Tabela 2.28). Enquanto as componentes média do orçamento para alimentos<br />
cerealíferos são quase idênticas entre as áreas rurais e áreas urbanas, o consumo de raízes e<br />
tubérculos difer<strong>em</strong> consideravelmente entre os dois ambientes. Para cada grupo de pobreza<br />
(ultra-pobres, pobres, não pobres), as componentes do orçamento para raízes e tubérculos são <strong>em</strong><br />
geral pelo menos duas vezes maior nas zonas rurais do que nas zonas urbanas.<br />
Para o grupo de cereais e o grupo de raízes e tubérculos, as componentes do orçamento<br />
nas zonas rurais não variam absolutamente pelo nível de pobreza. Em contraste, as áreas urbanas<br />
mostram o padrão esperado para “bens inferiores,” como uma proporção do orçamento gasto <strong>em</strong><br />
grãos, raízes e tubérculos <strong>em</strong> declínio à medida que a despesa total per capita aumenta.<br />
Entre os grãos, raízes e tubérculos, o milho t<strong>em</strong> a maior componente para todos os<br />
grupos, totalizando 15 por cento da despesa total <strong>em</strong> média, com as componentes do orçamento<br />
do milho mais altas entre os pobres rurais e mais baixas entre os não pobres urbanos (Tabela<br />
2.30). Os derivados de trigo (principalmente o pão) e arroz representam uma maior proporção<br />
do orçamento nas zonas urbanas do que nas zonas rurais, com os não pobres urbanos sendo os<br />
maiores consumidores destes bens. Na verdade, para os não pobres urbanos, os derivados do trigo<br />
e do arroz têm cada uma componente do orçamento maior do que a do milho (ou seja, as<br />
despesas de trigo e do arroz combinados são mais do que duas vezes a despesa do milho); <strong>em</strong><br />
contraste, os pobres urbanos gastam mais <strong>em</strong> milho do que <strong>em</strong> arroz e derivados de trigo<br />
calculadas por este metido são mostradas na Tabela 2.29. Uma vantag<strong>em</strong> deste método alternativo, particularmente<br />
para a macro análise, é que tais componentes de orçamento calculadas reflect<strong>em</strong> a alocação da despesa de consumo<br />
na economia ou sub-região, enquanto aqueles cálculos por este metido não reflect<strong>em</strong>..<br />
21<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, as estimativas do Banco Mundial (Tabela 15-11, 1996) para as componentes do orçamento<br />
de alimentos de 1996 para Tanzânia é de 70 por cento, Zâmbia de 75 por cento e Uganda de 63 por cento. Glewwe<br />
e Twum-Baah (1991) estimam que a componente do orçamento de alimentos para Ghana <strong>em</strong> 1988 era de 71 por<br />
cento. Simler (1995) estima a componente do orçamento de alimentos para Malawi <strong>em</strong> 1991 <strong>em</strong> 67 por cento.<br />
80
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
combinados. De um modo geral, a mandioca é claramente a cultura mais importante no grupo<br />
de raízes e tubérculos, com uma componente média do orçamento de 8 por cento a nível nacional<br />
e quase 10 por cento nas zonas rurais. Nas zonas rurais, a componente do orçamento de mandioca<br />
é quase igual entre os três grupos de pobreza.<br />
A nível nacional, a componente média do orçamento para feijão (principalmente feijão<br />
nh<strong>em</strong>ba e feijão manteiga) é cerca de 5 por cento, enquanto que as castanhas totalizam<br />
aproximadamente 2 por cento da despesa total (veja a Tabela 2.28). Estas componentes do<br />
orçamento são um pouco mais altos para os pobres do que os não pobres <strong>em</strong> ambas as zonas rural<br />
e urbana, com as componentes do orçamento maiores nas zonas rurais do que nas zonas urbanas.<br />
Em média, os peixes e mariscos (incluindo camarão, caranguejo, lulas, etc.) totalizam 7<br />
por cento da despesa total, que é maior do que a componente do orçamento para carne, que é de<br />
4,4 por cento. Nas zonas rurais não há diferença significativa entre os ultra-pobres, pobres e não<br />
pobres nas componentes do orçamento para peixe e mariscos; mais uma vez parece que o local<br />
de residência é um determinante mais importante da componente do orçamento deste b<strong>em</strong> do que<br />
é consumo total, pelo menos nas zonas rurais. Nas zonas urbanas, a componente do orçamento<br />
alocada para peixes e mariscos é um pouco mais alta para os pobres do que para os não pobres.<br />
Em contraste, as componentes do orçamento para carnes e seus derivados mostram o<br />
padrão esperado para o que é, no contexto moçambicano, um b<strong>em</strong> de luxo para a maioria das<br />
pessoas: as componentes do orçamento de carne para os não pobres são significativamente<br />
maiores do que para os pobres e ultra-pobres, particularmente nas zonas urbanas. Mais<br />
interessante, a carne t<strong>em</strong> uma componente do orçamento maior nas zonas rurais.<br />
O consumo de leite e seus derivados (iorgute, queijo, etc.) e ovos é muito baixo,<br />
excedendo 1 por cento da despesa total somente entre os não pobres urbanos. Contudo, mesmo<br />
com estes níveis baixos, exist<strong>em</strong> diferenças estatisticamente significativas entre o consumo de<br />
leite e derivados e ovos, dos pobres e não pobres, com os pobres tendendo a alocar uma<br />
componente média do orçamento maior para esses alimentos. O óleo de cozinha é um outro b<strong>em</strong><br />
com uma componente do orçamento baixa para todos os grupos, mas uma componente de<br />
despesa maior para os não pobres, que é o que se poderia esperar.<br />
Em média, os vegetais totalizam aproximadamente um décimo do consumo total. As<br />
componentes do orçamento para vegetais são maiores nas zonas rurais do que nas urbanas, e um<br />
pouco maior entre os pobres do que os não pobres. Nas zonas rurais, as despesas <strong>em</strong> vegetais são<br />
divididas quase igualmente entre as folhas verdes e outros tipos de vegetais; nas zonas urbanas<br />
a despesa <strong>em</strong> folhas verdes é menor que a despesa <strong>em</strong> outros vegetais, independent<strong>em</strong>ente da<br />
situações da pobreza.<br />
A nível nacional, a fruta é responsável por cerca de 22,5 por cento do consumo total, com<br />
as componentes do orçamento significativamente mais altas do que nas zonas rurais. Embora<br />
exista uma diferença clara entre os agregados familiares rurais e urbanos na proporção do<br />
81
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
orçamento gasto <strong>em</strong> frutas, dentro de cada zona as diferenças entre os pobres e os não pobres são<br />
insignificantes.<br />
Os pobres e os não pobres tend<strong>em</strong> a depender de diferentes fontes para seu fornecimento<br />
<strong>em</strong> alimentos. Como mostra a Tabela 2.31, <strong>em</strong> ambas as zonas urbana e rural, os agregados<br />
familiares das áreas rurais, ultra-pobres e pobres tend<strong>em</strong> a depender mais da produção própria<br />
do que os agregados familiares não pobres. Em média, para os agregados familiares ultra-pobres<br />
e pobres rurais, o valor estimado de alimentos consumidos da própria produção excede o valor<br />
estimado dos alimentos comprados no mercado, <strong>em</strong>bora não por muito. Porém, entre os<br />
agregados familiares não pobres rurais a proporção do consumo de alimentos comprados no<br />
22<br />
mercado é consideravelmente mais alta do que a proporção da própria produção. Para todos os<br />
grupos nas zonas urbanas, o auto-consumo é uma proporção muito menor do consumo de<br />
alimentos do que nas zonas rurais. Não obstante, a proporção da produção própria de alimentos<br />
entre os ultra-pobres urbanos é 4 vezes mais que a dos não pobres urbanos; a proporção de auto-<br />
consumo entre os agregados familiares pobres urbanos excede a dos agregados familiares não<br />
pobres urbanos por um factor de três.<br />
Como contraparte das componente do orçamento para alimentos apresentados acima, a<br />
Tabela 2.32 mostra as proporções médias dos orçamentos de agregado familiar alocado para os<br />
23<br />
bens não alimentares. A nível nacional, os bens não alimentares totalizam apenas um pouco<br />
menos de um terço do consumo total médio do agregado familiar, com maiores componentes de<br />
consumo não alimentar entre os não pobres e nas áreas urbanas (ou seja, o inverso exacto das<br />
componentes alimentares apresentadas na Tabela 2.32). Para a maioria dos agregados familiares<br />
(todos, excepto os não pobres urbanos), a maior componente do consumo não alimentar é a<br />
energia, que inclui electricidade, lenha, carvão, petróleo e pilhas. Para todos os grupos<br />
apresentados na tabela, a energia é responsável por aproximadamente 11 por cento do orçamento<br />
do agregado familiar total, com as componentes do orçamento maiores entre os pobres e os ultra<br />
pobres urbanos.<br />
O segundo e terceiro maiores componentes do consumo não alimentar são a habitação<br />
e bens do agregado familiar. A maioria do consumo apresentada pela categoria “Itens de<br />
agregado familiar” é o valor de uso de bens duráveis do agregado familiar (veja o Capítulo 1 para<br />
detalhes sobre a estimativa destes valores de uso). Conforme esperado, os agregados familiares<br />
com melhor condição tend<strong>em</strong> a ter maiores componentes do orçamento nesta categoria,<br />
22<br />
A grande proporção que resulta de “Outras fontes ” na Tabela 2.31 é difícil de explicar. Do exame dos<br />
dados parece que pelo menos um pouco do auto-consumo foi classificado como “Outros” porque provén dos<br />
estoques de agregados familiares, do que directamente das machambas do agregado familiar. Ou seja, que o<br />
alimento é também das machambas do agregado familiar, mas com um intervalo de t<strong>em</strong>po maior do que aquele<br />
registrado como originário dos campos.<br />
23 Como no caso da despesa <strong>em</strong> alimentos, as componentes do orçamento não alimentar foram calculadas<br />
usando dois esqu<strong>em</strong>as de pesos diferentes. A Tabela 2.32 baseia-se <strong>em</strong> dar peso igual a cada indivíduo, e a Tabela<br />
2.33 é calculada dando peso igual a cada unidade de moeda gasta. A descrição nesta secção foca na Tabela 2.32.<br />
82
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
sugerindo que o consumo de bens duráveis é um luxo relativo. A categoria de habitação reflecte<br />
o pagamento de renda por aqueles que alugam as suas casas, ou um valor de uso imputado de<br />
serviços de habitação para casas ocupadas pelos próprios proprietários (veja o Capítulo 1 para<br />
detalhes). No caso da habitação, a componente do orçamento é inferior para os agregados<br />
familiares não pobres do que para agregados familiares pobres, indicando que os custos de<br />
habitação sob<strong>em</strong> mais lentamente do que o consumo total e que a habitação é um b<strong>em</strong> necessário.<br />
Em média, os agregados familiares gastam quase 4 por cento de seus orçamentos totais<br />
<strong>em</strong> roupa e calçado, com componentes do orçamento maiores nas áreas rurais do que nas áreas<br />
urbanas, e maiores entre os não pobres do que entre os pobres. As componentes restantes do<br />
consumo não alimentar são todas bastante pequenas, com as componentes médias do orçamento<br />
de menos de 1 por cento a nível nacional. Porém, nas zonas rurais, as componentes do orçamento<br />
para educação e livros e itens pessoais cada um está acima de 1 por cento do consumo total para<br />
todos os grupos. De forma interessante, a componente do orçamento para educação e livros é um<br />
pouco maior para os ultra-pobres e pobres do que para os não pobres.<br />
2.5.9 Saúde e Estado Nutricional<br />
Os dados na Tabela 2.34 mostram os indivíduos que têm uma incapacidade mental ou<br />
física, como uma proporção da população total (linhas 1 e 2) e entre adultos (linhas 3 e 4). Os<br />
adultos são examinados separadamente por que espera-se que exista um relacionamento positivo<br />
entre a incapacidade física e a pobreza, e o deficiente t<strong>em</strong> a capacidade de trabalho reduzida. Esta<br />
incapacidade é definida de duas formas na Tabela 2.34. Nas linhas 1 e 3, os incapacitados<br />
inclu<strong>em</strong> os cegos, surdos e mudos, paralíticos, amputados, os com capacidade mental diminuída,<br />
ou categorizados como “Outros” no inquérito. Mais de um terço da amostra reportou “Outros”<br />
como sua única incapacidade, e as suas respostas mais detalhadas não foram codificadas. Como<br />
é difícil avaliar um grau de enfraquecimento se a natureza da incapacidade é desconhecida, as<br />
segunda e quarta linhas da tabela mostram a prevalência das incapacidades entre a população<br />
total e a população adulta, excluindo aqueles que respond<strong>em</strong> “Outros” como uma única<br />
incapacidade.<br />
De acordo com a Tabela, vê-se que a nível nacional, 2 por cento da população têm<br />
incapacidades quando é usada a definição ampla, comparada com 1,2 por cento quando é usada<br />
uma definição mais restrita. Os números correspondentes para a população adulta são maiores,<br />
a 3,2 e 1,8 por cento, respectivamente. A nível nacional e nas zonas rurais parece haver pouco<br />
ou nenhum relacionamento entre a incapacidade física e a pobreza, porque as proporções da<br />
população com incapacidade são quase idênticas entre os ultra-pobres, pobres e não pobres.<br />
Porém, quando se examina apenas os agregados familiares urbanos, parece haver um fraco<br />
relacionamento com a incidência da pobreza que é um pouco maior entre os incapacitados.<br />
A Tabela 2.35 fornece informação sobre morbidade nos agregados familiares da amostra,<br />
mostrando a proporção de indivíduos, por faixa etária, que estavam doentes <strong>em</strong> certa ocasião<br />
83
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
durante o mês anterior à entrevista. Os dados indicam que nas zonas urbanas existe pouca<br />
diferença entre os pobres e os não pobres nesta medida bruta de morbidade, e que nas zonas<br />
rurais os não pobres estavam doentes durante o mês precedente <strong>em</strong> proporções maiores do que<br />
os pobres e ultra-pobres. Este resultado contra-intuitivo é quase certamente um resultado da<br />
metodologia do inquérito: todas as doenças foram auto-reportadas pelos respondentes, e outros<br />
estudos com métodos s<strong>em</strong>elhantes de colecta de dados para morbidade têm mostrado resultados<br />
s<strong>em</strong>elhantes (veja, por ex<strong>em</strong>plo, Grosh and Glewwe, 1998). A explicação <strong>em</strong> geral dada é que<br />
os agregados familiares de melhores condições tend<strong>em</strong> a ter um limiar mais baixo para sua<br />
definição de “doenças” do que os agregados familiares mais pobres. Ou seja, para o mesmo nível<br />
ou gravidade de uma determinada doença (ou o mesmo conjunto de sintomas) indivíduos mais<br />
ricos têm mais probabilidade de dizer que estão doentes do que indivíduos mais pobres.<br />
Pode-se derivar um quadro melhor da gravidade da doença entre adultos considerando<br />
o número de dias <strong>em</strong> que o indivíduo estava muito doente para realizar tarefas regulares, quer<br />
seja <strong>em</strong>prego formal, tarefas do agregado familiar ou outras actividades de trabalho. A Tabela<br />
2.35 mostra que no grupo de 18 a 65 anos, indivíduos de agregados familiares ultra-pobres e<br />
pobres, têm a tendência de faltar mais dias de actividade de trabalho do que os não pobres. Os<br />
resultados aplicam-se tanto nas zonas rurais como nas urbanas com tendência um pouco mais<br />
pronunciada nas zonas urbanas. Uma característica impressionante desses dados é a observação<br />
de que para todos os grupos, excepto os não pobres urbanos, entre o subconjunto da amostra que<br />
relatou uma doença no mês anterior, mais de metade perdeu mais de uma s<strong>em</strong>ana de actividade<br />
de trabalho devido a doença nesse período.<br />
A Tabela 2.36 mostra as percentagens dos doentes que procuraram tratamento para as<br />
suas doenças, e que o tipo de provedor de saúde foi consultado (se foi medicina “formal” ou<br />
tradicional). Entre todas as doenças reportadas, somente 60 por cento procurou o tratamento, com<br />
taxas mais altas nas zonas urbanas do que nas zonas rurais, e mais altas entre os não pobres do<br />
que entre os pobres e ultra-pobres. Este resultado é consistente com as expectativas: os não<br />
pobres têm maior capacidade do que os pobres de buscar tratamento (ou seja de absorver os<br />
custos directos do tratamento e os custos de oportunidade de dedicar t<strong>em</strong>po para busca de<br />
tratamento) e os serviços de saúde são <strong>em</strong> geral mais acessíveis nas zonas urbanas. As crianças<br />
doentes com menos de 5 anos têm maior probabilidade de ser<strong>em</strong> levadas para uma consulta<br />
médica do que pessoas doentes mais velhas.<br />
Entre aqueles que procuram tratamento, um padrão largamente s<strong>em</strong>elhante surge nas<br />
proporções dos indivíduos doentes que procuram tratamento no sist<strong>em</strong>a de saúde formal. Nas<br />
zonas urbanas, a maioria dos que procuram cuidados médicos foi para o sist<strong>em</strong>a médico formal,<br />
<strong>em</strong>bora possam ter ido também ao curandeiro tradicional. Nas zonas urbanas existe pouca<br />
diferença entre os pobres e os não pobres neste aspecto, assim como pouca diferença entre as<br />
crianças com menos de cinco anos e o restante da população. Porém, nas áreas rurais os não<br />
pobres têm maior probabilidade de buscar tratamento formal do que os pobres rurais, e as<br />
84
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
crianças com menos de cinco anos têm maior probabilidade de obter assistência médica formal<br />
do que aquelas com a idade de cinco anos.<br />
O uso de serviços de saúde, conforme medido pela proporção de crianças que receberam<br />
vacinações completas ou que têm um cartão de saúde, é maior nas zonas urbanas do que nas<br />
zonas rurais, e dentro de cada zona, os não pobres têm taxas de cobertura maiores do que os<br />
pobres (veja a Tabela 2.37). Por ex<strong>em</strong>plo, nas zonas urbanas a percentag<strong>em</strong> de crianças com<br />
cartões é de 89 por cento comparado a 56 por cento nas zonas rurais. Em ambas as zonas, quanto<br />
mais pobre for a criança, menos possibilidades ela terá de ter um cartão, mas essas diferenças não<br />
são tão grandes como as diferenças regionais. Deste modo, mesmo os ultra-pobres nas áreas<br />
urbanas têm uma taxa de posse de cartões de saúde mais elevada do que os não pobres nas zonas<br />
rurais.<br />
Para vacinações completas a situação é a mesma: as diferenças regionais são muito<br />
maiores do que as diferenças entre níveis de pobreza dentro das regiões. A Tabela 2.37 dá a<br />
proporção de crianças com a idade de 1 a 4 anos que receberam pelo menos uma vacina, mas não<br />
um conjunto completo de vacinas. Nas zonas urbanas, somente 9 por cento das crianças que<br />
começaram as suas vacinações deixaram de completá-las. Nas zonas rurais 17 por cento das<br />
crianças começaram mas não terminaram as suas vacinações, indicando que uma vez que uma<br />
criança começa o conjunto de vacinas, ela t<strong>em</strong> probabilidade de completá-las.<br />
A Tabela 2.37 também indica a proporção de crianças com 2 a 6 meses que não tiveram<br />
n<strong>em</strong> sequer uma vacina. Essas crianças estão <strong>em</strong> risco de doença extr<strong>em</strong>amente alto. Nas zonas<br />
urbanas somente 3 por cento das crianças nesta faixa etária não tiveram sequer uma vacinação,<br />
mas nas zonas rurais a taxa é extr<strong>em</strong>amente alta. Trinta e cinco por cento das crianças nesta faixa<br />
etária não tiveram sequer uma vacinação, com a taxa reduzindo um pouco para crianças de<br />
agregados familiares pobre.<br />
Como mostra a Tabela 2.37, uma <strong>em</strong> cada 6 crianças nascidas <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> t<strong>em</strong> baixo<br />
peso ao nascer, definido como inferior a 2,5 Kg. O baixo peso ao nascer reflecte tipicamente um<br />
estado de saúde precário ou o estado nutricional da mãe durante a gravidez, ou ainda aumento<br />
de peso insuficiente durante a gravidez, ou ambos. Os bebés de baixo peso ao nascer estão <strong>em</strong><br />
risco elevado de contrair probl<strong>em</strong>as de saúde no futuro, especialmente no período imediatamente<br />
após o nascimento. A taxa de baixo peso ao nascer é maior entre os pobres do que entre os não<br />
pobres, e maior nas zonas rurais do que nas urbanas.<br />
A Recolha de dados do MIAF inclui as medidas de comprimento (ou altura) e o peso de<br />
todas as crianças com menos de 5 anos. Esses dados foram então usados para estimar a<br />
prevalência da desnutrição crónica (raquitismo ou baixa altura-para-idade), desnutrição aguda<br />
(ou baixo peso-para-altura), e com peso baixo (baixo peso-para-idade), usando as alturas e os<br />
pesos de referência recomendados pela OMS (1995).<br />
Os resultados para estas medidas estão apresentados na Tabela 2.38. Antes de apresentar<br />
as estimativas prevalecentes, é importante notar que uma proporção extr<strong>em</strong>amente grande –<br />
85
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
aproximadamente um terço, dos dados antropométricos recolhidos foram inúteis para a análise.<br />
Isto foi devido à informação omissa ou não confiável sobre a idade (as medidas de peso para<br />
altura e peso para idade refer<strong>em</strong>-se a idade da criança <strong>em</strong> meses, não <strong>em</strong> anos), ou devido aos<br />
erros de medidas extr<strong>em</strong>as. Assim, <strong>em</strong>bora o MIAF esteja projectado para ser representativo de<br />
todo o país, os dados antropométricos não pod<strong>em</strong> ser considerados como tal devido à grande<br />
proporção de crianças que tiveram de ser excluídas da análise.<br />
Porém, examinando as primeiras duas linhas da Tabela 2.38, pode-se obter alguma<br />
sensibilidade se a sub-amostra incluída nas medidas antropométricas é uma sub-amostra viciada,<br />
e se for o caso, para que direcção a prevalência das estimativas tende a ser viciada. Dessas linhas<br />
da tabela é possível ver que as medidas da criança rural tiveram muito mais probabilidade de<br />
ser<strong>em</strong> excluídas da análise do que as medidas de crianças urbanas. Além disso, <strong>em</strong> ambas as<br />
zonas rural e urbana, as medidas das crianças dos agregados familiares mais pobres tiveram<br />
maior probabilidade de ser<strong>em</strong> excluídas do que as medidas de crianças de agregados familiares<br />
com melhores condições de vida. Este resultado é consistente com as observações anteriores<br />
sobre o contacto com o sist<strong>em</strong>a de saúde formal (Tabela 2.37), porque os cartões de saúde são<br />
as fontes mais confiáveis e comuns de informação sobre a idade de uma criança; as crianças nos<br />
agregados familiares rurais e agregados familiares mais pobres têm menor probabilidade de ter<br />
cartões de saúde.<br />
Se aceita-se a hipótese razoável e convencional de que o estado nutricional (conforme<br />
medido pela antropometria) é positivamente correlacionada com o consumo e b<strong>em</strong>-estar<br />
económico, o padrão de observações omitidos na análise dos dados antropométricos do MIAF<br />
indicam que as estimativas da prevalência da malnutrição são viciados de forma descendente. Por<br />
isso as estimativas mostradas na Tabela 2.38 deverão ser interpretadas como estimativas dos<br />
limites mais inferiores das taxas reais de malnutrição <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> <strong>em</strong> 1996 a 1997.<br />
Tendo <strong>em</strong> mente esta precaução sobre as parcialidades da medida, consideram-se<br />
primeiro as estimativas da desnutrição crónica ou raquitismo, conforme medido pela altura-para-<br />
idade (HAZ). A nível nacional, estima-se que pelo menos 43 por cento das crianças com menos<br />
de 5 anos sofr<strong>em</strong> de desnutrição crónica, <strong>em</strong> que as suas medidas de HAZ são menos de 2,2.<br />
Vinte e dois por cento das crianças com menos de 5 anos sofr<strong>em</strong> de raquitismo severo, definido<br />
24<br />
como um HAZ de menos de -3,0. Not<strong>em</strong>-se os erros padrão elevados destas estimativas, que<br />
indicam que a nível nacional não há diferença estatisticamente significativa entre os ultra-pobres,<br />
24<br />
Dado a falta de dados antropométricos abrangentes <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> no passado recente, é útil comparar<br />
esses resultados com o Inquérito D<strong>em</strong>ográfico e de Saúde (IDS) (D<strong>em</strong>ographic and Health Survey, ou DHS) que<br />
foi conduzido <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> <strong>em</strong> 1997. O Relatório do Sumário deste inquérito só relata resultados<br />
antropométricos para crianças com menos de 36 meses, <strong>em</strong> vez do mais comum com menos de 60 meses. O DHS<br />
Summary Report estima a prevalência de raquitismo (menos de –2 Z-scores) a 35,9 por cento, e raquitismo severo<br />
(menos de –3 Z-scores) a 16 por cento (DHS 1998). A prevalência estimada mais baixa é esperada, dado que o DHS<br />
está usando uma amostra mais jov<strong>em</strong>, com uma proporção relativamente alta de bebés que não têm a probabilidade<br />
de exibir raquitismo mensurável a nível de população. O Relatório do Sumário do DHS não discute questões de<br />
crianças para qu<strong>em</strong> as medidas antropométricas não pod<strong>em</strong> ser calculadas, n<strong>em</strong> este relatório lista os erros padrão<br />
das estimativas do ponto.<br />
86
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
pobres ou não pobres para o raquitismo ou raquitismo severo. A prevalência do raquitismo ou<br />
raquitismo severo é consideravelmente maior nas zonas rurais do que nas zonas urbanas. Nas<br />
zonas rurais, as diferenças entre os ultra-pobres, pobres ou não pobres não são estatisticamente<br />
significativas. Nas áreas urbanas essas diferenças são significativas, com as crianças raquíticas<br />
encontrando-se desproporcionadamente <strong>em</strong> agregados familiares mais pobres. Deve-se notar que<br />
<strong>em</strong>bora esses dados subestimam a prevalência do raquitismo <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, as taxa de<br />
raquitismo nas zonas rurais e a nível nacional são classificadas pelo OMS (1995) como “muito<br />
alta”.<br />
A OMS recomenda a desagregação dos dados do estado nutricional por faixas etária. Isto<br />
é particularmente importante no caso de HAZ baixo, porque o raquitismo é o processo<br />
cumulativo e as probabilidades de variar significativamente por idade, com a prevalência<br />
tipicamente elevada <strong>em</strong> faixas etárias mais altas.<br />
Devido ao tamanho da amostra limitado, não é viável desagregar os dados de raquitismo<br />
por sexo (além de desagregar por rural/urbano, classe de pobreza e idade da criança); por isso a<br />
Tabela 2.39 combina os resultados para meninos e meninas. A Tabela 2.39 confirma que<br />
raquitismo é mais baixo entre bebés do que entre os outros grupos, e também mostra que o<br />
raquitismo é um pouco mais pronunciado entre a faixa etária de 12 a 23.<br />
Um outro método de apresentação dos dados antropométricos recomendado pela OMS<br />
é uma comparação gráfica da distribuição de Z-scores na população da amostra com o da<br />
população de referência. Isto é mostrado na Figura 2.2; os Z-scores de altura-para-idade nos<br />
dados do MIAF estão representados pelas barras verticais (histograma), e a população de<br />
referência é representada pela curva normal padrão. O gráfico apresenta uma mensag<strong>em</strong><br />
importante sobre raquitismo <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Note-se que a distribuição inteira dos Z-scores é<br />
alterada para a esquerda. Desta evidência pode se argumentar que a desnutrição crónica não é<br />
limitada para um subconjunto relativamente pequeno da população, ou mesmo limitada a<br />
crianças <strong>em</strong> agregados familiares que ca<strong>em</strong> abaixo da linha de pobreza. Por outras palavras, estas<br />
crianças com Z-scores de altura-para-idade acima de -2.0, ou mesmo acima de 0, quase<br />
certamente não estão alcançando o seu pleno potencial de crescimento, mesmo que elas não<br />
sejam consideradas “raquíticas” usando o critério para avaliação de populações.<br />
A prevalência de desnutrição aguda, ou baixo peso-para-altura (WHZ) foi estimado a 6,4<br />
por cento nacionalmente, com uma estimativa de 1,8 por cento de crianças com menos de cinco<br />
anos sofrendo de desnutrição aguda severa (Tabela 2.38). O baixo peso-para-altura é um<br />
indicador de subnutrição aguda, e reflecte as deficiências actuais na ingestão de alimentos e<br />
utilização. A prevalência de baixo WHZ é um pouco maior nas zonas urbanas do que nas zonas<br />
rurais, e é particularmente alta entre os ultra-pobres urbanos. Embora os dados mostr<strong>em</strong> uma<br />
relação entre a desnutrição aguda e o estado de pobreza nas zonas urbanas, esta relação é fraca.<br />
Mais uma vez, não há relação entre o estado da pobreza e este indicador de estado nutricional nas<br />
zonas rurais.<br />
87
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Embora a prevalência de raquitismo entre crianças com menos de 5 anos seja<br />
razoavelmente baixa (seria classificada como “Pobre” usando o critério da OMS para<br />
percentagens de crianças abaixo de –2 Z-cores, ou aceitável, usando o critério da OMS para Z-<br />
scores médios), o quadro desagregado apresentado na Tabela 2.40 mostra uma variação<br />
considerável da prevalência de desnutrição aguda por faixa etária. Em particular, as taxas de<br />
desnutrição aguda na faixa etária de 12 a 23 meses são altas, atingindo 11 por cento entre as<br />
crianças rurais e 13 por cento entre as urbanas. Mais destacável, as taxas de prevalência de<br />
desnutrição aguda para as acrianças com idade de 12 a 22 entre os pobres urbanos e ultra-pobres<br />
são 17 e 25 por cento, respectivamente. Estes dados destacam o estado nutricional precário desta<br />
faixa etária vulnerável.<br />
Baixo peso-para-idade, é uma medida ambígua do estado nutricional. Se uma criança<br />
sofreu falha de crescimento no início da infância devido a uma combinação de nutrição<br />
inadequada e doença repetida, ela será raquítica e terá a probabilidade de ter peso baixo, mesmo<br />
que o peso possa ser apropriado para a altura obtida da criança. Neste caso, o baixo WAZ da<br />
criança reflecte os déficits anteriores <strong>em</strong> crescimento. Alternativamente, uma criança pode ter<br />
crescido a taxas normais no passado, mas ter peso baixo devido à subnutrição ou doença actual,<br />
ou seja, pelas mesmas razões que uma criança t<strong>em</strong> desnutrição aguda. A nível nacional, 24 por<br />
cento de crianças com medidas válidas eram de peso baixo, com os ultra-pobres e pobres com<br />
mais probabilidade de ter baixo WAZ do que os não pobres. Tal como ocorre com os outros<br />
indicadores antropométricos não há diferenças significativas de peso baixo nas três categorias<br />
nas zonas rurais. Nas zonas urbanas as crianças de agreagados familiares não pobres têm<br />
significativamente menor probabilidade de ser<strong>em</strong> de baixo peso do que crianças dos agregados<br />
familiares ultra-pobres e pobres.<br />
Os Z-scores médios para as três medidas antropométricas usadas neste estudo são<br />
apresentados, por zonas e situação de pobreza, na Tabela 2.41. Isto reforça as constatações da<br />
Tabela 2.38, nomeadamente que entre a sub-amostra viciada de crianças para qu<strong>em</strong> as medidas<br />
estão disponíveis, não há nenhuma relação detectável entre as medidas antropométicas do estado<br />
nutricional e pobreza nas zonas rurais, mas tal relação existe nas zonas urbanas. Além disso, o<br />
estado nutricional de crianças com menos de cinco anos é melhor, <strong>em</strong> média, do que o estado<br />
nutricional das crianças rurais.<br />
O primeiro painel da Tabela 2.42 mostra o relacionamento entre a pobreza e a idade na<br />
qual uma mulher teve o primeiro filho, usando informação recolhida de mulheres do grupo etário<br />
entre os 12 e 49 anos, inclusive, na hora da entrevista. Entre todas as mulheres rurais e entre os<br />
pobres urbanos e ultra-pobres, a idade média de dar à luz a um primeiro filho é 18 anos. A idade<br />
média para mulheres <strong>em</strong> agregados familiares urbanos não pobres é 19 anos. Porém, estas médias<br />
ocultaram diferenças importantes, conforme ilustram os dados desagregados na mesma Tabela.<br />
Em ambas as zonas urbana e rural, estes dados mostram uma forte associação entre ser pobre e<br />
ter um primeiro filho antes da idade de 16; a associação é particularmente forte nas zonas<br />
88
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
urbanas. Nas zonas urbanas a relação mantém-se até a idade de 18 anos, enquanto nas zonas<br />
urbanas a relação inverte-se para a faixa etária de 16 a 18 anos.<br />
O segundo e terceiro painéis da Tabela 2.42 apresentam informação sobre a historia<br />
reprodutiva para este mesmo grupo de mulheres de 12 a 49 anos. Esta Tabela mostra as taxas de<br />
alta fertilidade <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, com 36 por cento de mulheres na faixa etária tendo quatro ou<br />
mais crianças vivas na ocasião do inquérito. Ao considerar este número, deve-se ter <strong>em</strong> mente<br />
que a grande maioria das mulheres neste subconjunto da amostra estão ainda nos anos de<br />
procriação, e terão mais filhos. A informação nesta tabela segue o mesmo padrão dos resultados<br />
apresentados na secção de composição do agregado familiar do perfil de pobreza: agregados<br />
familiares mais pobres são maiores, e <strong>em</strong> particular eles têm mais filhos do que os agregados<br />
familiares não pobres. Em ambas as zonas rural e urbana, são as mulheres não pobres nesta faixa<br />
etária qu<strong>em</strong> têm mais probabilidade de não ter nenhum filho ou somente um filho. Enquanto os<br />
pobres têm muito mais probabilidade de ter<strong>em</strong> quatro ou mais filhos.<br />
O painel inferior da Tabela 2.24 mostra o relacionamento entre a pobreza e a mortalidade<br />
infantil. O Interessante é que nas zonas rurais a proporção de mulheres cujos filhos não morreram<br />
é essencialmente a mesma, 51 a 52 por cento, independent<strong>em</strong>ente da situação da pobreza. Nas<br />
zonas urbanas, os não pobres têm menos probabilidade de perder um filho do que os pobres ou<br />
ultra-pobres, e mesmo a percentag<strong>em</strong> de mulheres que têm evitado perder um filho é mais alta<br />
do que quaisquer dos grupos rurais. A relação entre a mortalidade infantil e a pobreza parece ser<br />
mais forte na linha final da tabela, que mostra que as mulheres <strong>em</strong> agregados familiares ultra-<br />
pobres e pobres têm significativamente mais probabilidade de perder três ou mais filhos do que<br />
mulheres <strong>em</strong> agregados familiares não pobres. Mais uma vez, as proporções para as mulheres<br />
urbanas são mais favoráveis do que as proporções para todas as mulheres rurais. Isto é, a<br />
proporção de mulheres rurais não pobres com três ou mais filhos que morreram é mais alta do<br />
que a proporção para mulheres urbanas ultra-pobres, sugerindo que o acesso ao cuidado de saúde<br />
e outras diferenças entre as condições de vida urbanas e rurais são determinantes mais<br />
importantes da mortalidade infantil do que o estado da pobreza. (Veja a Secção 2.5.11 para<br />
informações sobe o acesso a serviços de saúde e outros serviços.)<br />
A Tabela 2.43 apresenta informações sobre o número de filhos que as mulheres na faixa<br />
etária de 12 a 49 anos gostariam de ter na vida. Significativamente, três quartos de mulheres<br />
25<br />
rurais e metade de mulheres urbanas responderam “Como Deus quiser.” Entre a minoria de<br />
mulheres que expressaram um desejo de ter um número mais específico de filhos, v<strong>em</strong>os que as<br />
mulheres rurais quer<strong>em</strong> famílias maiores do que as mulheres urbanas. Na verdade, daquelas que<br />
expressaram uma preferência para o número de filhos, uma pluralidade de mulheres rurais<br />
25<br />
Esta constatação é consistente com o IDS (1998) que, entre as mulheres que estão “<strong>em</strong> união” somente<br />
5,6 por cento estão usando actualmente qualquer método de planeamento familiar (tradicional ou moderno), e<br />
somente 12,2 por cento já usaram algum método de planeamento familiar. Os dados correspondentes para homens<br />
“<strong>em</strong> união” são reportados ser 9,9 e 20,4 por cento, respectivamente.<br />
89
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
responderam que gostariam de ter sete ou mais filhos. Nas áreas urbanas, a pluralidade<br />
correspondente era de três a quatro filhos.<br />
2.5.10 Características de Habitação<br />
A Tabela 2.44 apresenta informação sobre as características de habitação dos ultra-<br />
pobres, pobres e não pobres por áreas de residência. As características analisadas são o tipo de<br />
habitação e de propriedade, se a casa t<strong>em</strong> latrina, fontes principais de água e combustível para<br />
cozinha, e se o agregado familiar t<strong>em</strong> uma rádio que funciona. A Linha 2 da Tabela 2.44 indica<br />
que 92 por cento das famílias moçambicanas viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> palhota (70 por cento nas zonas urbanas<br />
e 97 por cento nas zonas rurais). Note-se que nas áreas rurais a proporção que vive <strong>em</strong> palhota<br />
não varia por nível de pobreza. Em termos de posse de casa, uma média de 70 por cento das<br />
famílias são proprietários das casas <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>, e esta taxa é a mesma nas zonas urbanas e<br />
rurais, mas dentro das regiões a posse de casas é maior para os agregados familiares pobres do<br />
que para agregados familiares não pobres.<br />
A proporção de agregados familiares com latrinas nas zonas rurais é de 28 por cento,<br />
comparado com 61 por cento nas zonas urbanas. Enquanto os pobres e os não pobres das zonas<br />
rurais têm a mesma probabilidade de ter uma latrina, há uma diferença por níveis de pobreza nas<br />
zonas urbanas. Por ex<strong>em</strong>plo, 72 por cento dos não pobres urbanos têm uma latrina comparado<br />
com apenas 55 por cento dos pobres urbanos e 45 por cento dos ultra-pobres urbanos.<br />
A lenha é o tipo de combustível para cozinhar mais frequent<strong>em</strong>ente usado <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> com 90 por cento dos agregados familiares reportando-a como sua fonte principal.<br />
Nas zonas urbanas, a lenha é usada por 50 por cento dos agregados familiares, e nas zonas rurais<br />
esta taxa é de 99 por cento. Note-se também que nas zonas rurais virtualmente todos os<br />
agregados familiares <strong>em</strong> todas os níveis de pobreza usam lenha para cozinhar. Porém, nas zonas<br />
urbanas, os não pobres têm maior probabilidade de usar carvão (43 por cento) do que lenha (36<br />
por cento) para cozinhar. Uma proporção significativa dos não pobres nas zonas urbanas também<br />
usam electricidade ou gás como sua principal fonte de combustível para cozinhar (22 por cento).<br />
Os rádios são <strong>em</strong> geral usados pelos governos para diss<strong>em</strong>inar informação sobre questões<br />
de saúde pública, preços agrícolas, programas educacionais, e acesso a serviços públicos. Em<br />
<strong>Moçambique</strong>, a proporção de famílias que têm um rádio <strong>em</strong> bom estado é de 51 por cento nas<br />
zonas urbanas e 22 por cento nas zonas rurais. As diferenças na probabilidade de ter um rádio<br />
<strong>em</strong> funcionamento por níveis de pobreza são estatisticamente significativas <strong>em</strong> ambas as zonas<br />
rural e urbana, <strong>em</strong>bora a diferença seja muito maior nas urbanas. Nas zonas rurais, 24 por cento<br />
dos não pobres possu<strong>em</strong> um radio <strong>em</strong> funcionamento, e apenas 20 por cento dos pobres possu<strong>em</strong><br />
um. Nas zonas urbanas, a taxa da posse de um rádio é de 67 por cento para os não pobres e<br />
apenas 39 por cento para os pobres.<br />
90
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Nas zonas rurais de <strong>Moçambique</strong>, o acesso a fornecimento de água segura é quase igual<br />
entre os pobres e os não pobres, conforme ilustrado na Tabela 2.45. A maioria das casas rurais<br />
obtém a água de poços públicos (43,4 por cento) ou de rios e lagos (38,4 por cento).<br />
Nas zonas urbanas exist<strong>em</strong> diferenças entre os pobres e os não pobres no que toca ao<br />
acesso a água potável, com os pobres tendo a tendência de usar poços públicos (24 por cento) e<br />
fontenários (27,9 por cento), enquanto os não pobres têm maior probabilidade de obter<strong>em</strong> água<br />
canalizada dentro de casa (20,7 por cento) ou fora de casa (21,3 por cento). Em geral, parece que<br />
a zona de residência – urbana ou rural – t<strong>em</strong> uma maior influência no acesso à água potável do<br />
que o agregado familiar ser pobre ou não pobre. Note-se que <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> como um todo,<br />
somente 5 por cento da população t<strong>em</strong> água canalizada, e nas zonas rurais, esta população é<br />
menos que um por cento.<br />
2.5.11 Proximidade e Acesso aos Serviços Públicos e Privados<br />
Apenas nas zonas rurais, o MIAF incluiu um questionário administrado a nível de<br />
comunidade (aldeia). Neste questionário, perguntou-se aos informantes chaves sobre vários<br />
aspectos da vida na aldeia, incluindo a existência ou não de certo tipo de infra-estrutura, a<br />
disponibilidade de vários serviços, distância aos serviços que não estavam disponíveis na aldeia,<br />
percepções sobre os probl<strong>em</strong>as mais sérios que a comunidade enfrenta, e opiniões sobre se a<br />
qualidade da vida t<strong>em</strong> melhorado ou piorado desde 1991. Esta secção discute os resultados do<br />
questionário da comunidade sobre a disponibilidade da infra-estrutura e dos serviços nas áreas<br />
rurais.<br />
A Tabela 2.46 apresenta, para 16 tipos diferentes de serviços, a proporção das aldeias da<br />
amostra do MIAF <strong>em</strong> que exist<strong>em</strong> estes serviços dentro das mesmas. A constatação mais notável<br />
é a baixa cobertura destes serviços: com somente duas excepções (curandeiros tradicionais e<br />
escolas primárias), a existência de cada um destes serviços é <strong>em</strong> menos de um quarto das aldeias<br />
do inquérito. Conforme notado <strong>em</strong> 2.5.3, aproximadamente dois terços dos agregados familiares<br />
viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> aldeias com uma escola primária, e esta proporção não varia significativamente pelo<br />
nível de pobreza. Em contraste, com a disponibilidade relativamente alta de escolas primarias,<br />
somente dois por cento dos agregados familiares rurais viv<strong>em</strong> numa aldeia com uma escola<br />
secundária. Ter um curandeiro tradicional na aldeia é quase universal, novamente com pequena<br />
diferença por níveis de pobreza.<br />
A disponibilidade dos serviços médicos formais é muito mais limitada, com pouco menos<br />
de 20 por cento dos agregados familiares rurais vivendo <strong>em</strong> aldeias com uma enfermeira,<br />
parteira, posto de saúde, ou centro de saúde, e somente dois por cento vivendo numa aldeia com<br />
um médico. Na maioria das vezes, os agregados familiares ultra-pobres, pobres e não pobres têm<br />
o mesmo nível de acesso, <strong>em</strong> termos de disponibilidade física destes serviços.<br />
O acesso aos serviços básicos de comunicação, como correio ou telefone público, é<br />
extr<strong>em</strong>amente limitado, com somente três por cento de agregados familiares rurais nas aldeias<br />
91
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
com tais serviços. Nesta categoria, os agregados familiares não pobres têm um pouco mais de<br />
probabilidade que os agregados familiares ultra-pobres ou pobres de viver <strong>em</strong> aldeias com um<br />
telefone público ou uma estação dos correios. Os agregados familiares não pobres têm também<br />
mais probabilidade de viver <strong>em</strong> aldeias com alguma forma de serviços bancários. Depois de<br />
curandeiros e escolas primárias, os serviços mais comumente disponíveis são os serviços de<br />
mercados e transportes, cada um servindo um pouco menos de 25 por cento dos agregados<br />
familiares rurais do inquérito.<br />
A Tabela 2.47 mostra a distância média <strong>em</strong> quilómetros para cada um desses mesmos 16<br />
serviços com uma distância de 0,5 quilómetros assumido para agregados familiares que t<strong>em</strong> os<br />
serviços nas suas aldeias. As distâncias médias até um banco é a mais longa, seguido pelas<br />
distâncias para serviços de comunicações (correios e telefone público). As distâncias para<br />
serviços médicos, além de curandeiros, são longas, com uma média de 20 a 30 quilómetros para<br />
os serviços, e atingindo uma distância média de 45 quilómetros para um médico. Em geral, as<br />
distâncias médias são substanciais, excedendo dez quilómetros para todos excepto os curandeiros<br />
e escolas primarias. Logicamente, mesmo a distância relativamente curta para uma escola<br />
primaria é também bastante longa, considerando que é uma distância que as crianças teriam de<br />
caminhar, de ida e volta, e todos os dias.<br />
Dados os erros padrão elevados nestes dados, as diferenças observadas entre os agregados<br />
familiares ultra-pobres, pobres e não pobres na Tabela 2.46 e Tabela 2.47 não são grandes. Na<br />
verdade, as constatações principais desta secção do MIAF é que os agregados familiares rurais<br />
têm acesso físico precário para a maioria dos serviços, e têm pouca importância, ou nenhuma,<br />
se o agregado familiar é pobre ou não pobre. Isto pode indicar que as aldeias são heterogéneas<br />
economicamente, com uma aldeia típica composta de ambos os agregados familiares pobres e<br />
não pobres. Alternativamente, as vilas pod<strong>em</strong> ser homogéneas, com algumas aldeias que<br />
poderiam ser caracterizadas como “aldeias pobres” e outras que poderão ser caracterizadas como<br />
“aldeias não pobres”. Para que esta segunda possibilidade seja verdadeira, então os dados nestas<br />
tabelas suger<strong>em</strong> que um tipo de vila não t<strong>em</strong> acesso mais favorável a esses serviços do que a<br />
outra.<br />
2.5.12 Migração Inter-provincial<br />
O inquérito aos agregados familiares de <strong>Moçambique</strong> t<strong>em</strong> somente informação limitada<br />
sobre a migração. Uma limitação notável é que somente foi registada a migração inter-provincial,<br />
e não a migração dentro das províncias. Portanto, o inquérito não registou a migração de alguém<br />
que mudou-se de Sofala rural para Beira, como muitos fizeram durante a guerra. Uma outra<br />
limitação é que o inquérito não inclui os m<strong>em</strong>bros de agregados familiares que estão fora a maior<br />
parte do ano, como m<strong>em</strong>bros de agregado familiar que estão trabalhando fora das suas zonas de<br />
residência. Para a presente análise, somente indivíduos com 12 anos ou mais no momento do<br />
inquérito foram incluídos nos cálculos. Para fins do inquérito, uma pessoa é considerada migrante<br />
92
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
se na hora do inquérito ela ou ele estava vivendo fora da província na qual ela ou ele nasceu, ou<br />
se ela ou ele viveu antes fora da província durante pelo menos um ano.<br />
26<br />
migração.<br />
De 26.640 pessoas de 12 anos de idade ou mais no inquérito, 85,5 por cento nunca<br />
26<br />
migrou na vida (Tabela 2.49). Os indivíduos rurais têm menos probabilidade de ter<strong>em</strong> migrado<br />
(88 por cento nunca migraram) do que os indivíduos urbanos (74 por cento nunca migraram). Nas<br />
zonas urbanas, as pessoas de agregados familiares não pobres têm maior probabilidade de ter<strong>em</strong><br />
migrado do que as pessoas de agregados familiares pobres e ultra-pobres. As causas principais<br />
para a migração são a guerra (refugiados e pessoas deslocadas) e <strong>em</strong>prego. Outras causas<br />
principais de migração inclu<strong>em</strong> o casamento (a causa principal para mulheres), juntar-se a<br />
parentes ou a estudos.<br />
Nas zonas rurais, a guerra é a razão principal para a migração (cinco por cento), e aqueles<br />
que migraram devido à guerra têm mais probabilidade de estar<strong>em</strong> <strong>em</strong> agregados familiares rurais<br />
ultra-pobres e pobres do que <strong>em</strong> agregados familiares não pobres. Numa análise inter-cultural<br />
como esta, não se pode determinar se a migração é a causa ou um sintoma de pobreza. Não<br />
obstante, a migração anterior devido à guerra parece estar associada com níveis mais altos de<br />
pobreza nas zonas rurais. Como ilustrado na Tabela 2.49, não parece haver uma dimensão de<br />
género significativa para esta associação.<br />
Nas zonas urbanas, a razão principal para a migração são “Outros” (14 por cento) e a<br />
segunda razão mais comum é o <strong>em</strong>prego. Os não pobres têm maior probabilidade de ser<strong>em</strong><br />
migrantes de <strong>em</strong>prego do que os pobres e não pobres.<br />
Entre aqueles que migram por razões relacionadas com o <strong>em</strong>prego, exist<strong>em</strong> diferenças<br />
substanciais de género. Os homens têm significativamente maior probabilidade de migrar<strong>em</strong> por<br />
razões de <strong>em</strong>prego <strong>em</strong> ambas as zonas rural e urbana. Nas zonas urbanas, sete por cento das<br />
observações são migrantes de <strong>em</strong>prego masculinos e somente um por cento são mulheres. Nas<br />
zonas rurais a composição é dois por cento e 0,1 por cento.<br />
2.6 Medidas de <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Não Baseadas no Consumo<br />
A privação t<strong>em</strong> muitas dimensões diferentes. As estimativas de pobreza apresentadas na<br />
Secção 2.3 estão baseadas no consumo, que como uma medida composta de b<strong>em</strong>-estar é<br />
defensível como uma das mais abrangentes. Como parte do perfil da pobreza na Secção 2.5,<br />
examina-se como alguns aspectos do b<strong>em</strong>-estar (como a educação e indicadores antropométricos)<br />
diferiam nos grupos pobres e não pobres definidos na base do consumo. A magnitude da<br />
justaposição entre os indicadores de b<strong>em</strong>-estar não baseados no consumo é um guia importante<br />
para a política pública. A falta de justaposição <strong>em</strong> particular é sugestiva da necessidade para um<br />
ataque directo aos aspectos não baseados no consumo da privação.<br />
Além dos dados na Tabela 2.49, a Tabela 2.48 desagrega os dados de migração pela imigração ou<br />
93
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
A Tabela 2.50 ilustra vários pontos sobre a natureza multi-dimensional das comparações<br />
do b<strong>em</strong>-estar e da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Cinco indicadores não baseados no consumo são<br />
apresentados: (i) a taxa de alfabetização para homens adultos, (ii) a taxa de alfabetização para<br />
mulheres adultas (iii) a taxa de desnutrição crónica entre crianças de 6 a 60 meses, (iv) a<br />
percentag<strong>em</strong> da população s<strong>em</strong> acesso a água potável segura, e (v) a taxa de mortalidade infantil<br />
(TMI). Apresenta também a incidência da pobreza absoluta a nível provincial.<br />
Primeiro, como é de se esperar, os indicadores de b<strong>em</strong>-estar diferentes não se mov<strong>em</strong><br />
necessariamente na mesma direcção. Assim, somente algumas das dimensões do b<strong>em</strong> estar não<br />
baseados no consumo estão intimamente correlacionados com a incidência da pobreza baseada<br />
no consumo. Com excepção da cidade de Maputo, que parece estar <strong>em</strong> melhores condições <strong>em</strong><br />
termos de todos os indicadores, existe um reordenamento considerável de províncias dependendo<br />
do indicador de b<strong>em</strong>-estar usado. Por ex<strong>em</strong>plo, Inhambane t<strong>em</strong> a segunda maior incidência de<br />
pobreza, mas t<strong>em</strong> a quinta taxa de alfabetização de homens adultos mais baixa, a quarta taxa de<br />
alfabetização de mulheres adultas mais baixa, a segunda taxa mais baixa de desnutrição crónica<br />
entre crianças de 6 a 60 meses, a quarta maior taxa de mortalidade infantil, e a terceira proporção<br />
mais alta da população com falta de acesso à água potável segura.<br />
Tal reordenamento é uma advertência útil contra as generalizações baseadas num único<br />
indicador de b<strong>em</strong>-estar. Se tais generalizações são plausíveis ou não é uma questão <strong>em</strong>pírica. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, a nível provincial, a análise mostra que a correlação de classificação de indicadores<br />
como as taxas de alfabetização de homens e mulheres adultos, e a desnutrição crónica de crianças<br />
com a incidência da pobreza baseada no consumo é bastante baixa, estimando-se <strong>em</strong> 0,2 a 0,3.<br />
Por outro lado, a falta de acesso à água potável segura está melhor correlacionada com a pobreza<br />
baseada no consumo. A taxa de mortalidade infantil t<strong>em</strong> um correlação particularmente alta (de<br />
0,8) com a incidência da pobreza. Mesmo assim, deve-se ter cuidado ao se tirar conclusões sobre<br />
diferentes aspectos do b<strong>em</strong>-estar baseadas simplesmente nas estimativas de pobreza.<br />
Os indicadores de b<strong>em</strong>-estar não baseados no consumo são importantes por sí sós. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, o facto de que três <strong>em</strong> cada quatro mulheres moçambicanas ser<strong>em</strong> alfabetas significa<br />
um nível extr<strong>em</strong>amente alto de privação educacional que t<strong>em</strong> importância, independent<strong>em</strong>ente<br />
da sua correlação com a pobreza baseada no consumo. O mesmo ponto também se aplica à não<br />
disponibilidade da água potável para a grande maioria da população e os níveis extr<strong>em</strong>amente<br />
altos de mortalidade infantil. A taxa de mortalidade infantil para <strong>Moçambique</strong> é cerca de uma<br />
27<br />
vez e meia a média para a África do Sub-Sahariana. A situação nas províncias também requer<br />
atenção especial. Uma TMI de 216 <strong>em</strong> Nampula ou uma taxa de desnutrição de mais de 60 por<br />
cento na Zambézia, por ex<strong>em</strong>plo, é alarmante, não importam as taxas de pobreza baseadas no<br />
consumo.<br />
27<br />
A taxa de mortalidade infantil para a África do Sub-Saharan <strong>em</strong> 1995 é reportado como sendo de 92<br />
(Banco Mundial 1997).<br />
94
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Para educação, os resultados também indicam uma grande disparidade de género. Uma<br />
mulher adulta <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> t<strong>em</strong> menos da metade da probabilidade de ser alfabetizada que<br />
um hom<strong>em</strong> adulto. A disparidade de género é consideravelmente mais alta para várias províncias<br />
incluindo Niassa, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Manica e Sofala. A taxa de alfabetização<br />
de mulheres adultas é abismalmente baixa <strong>em</strong> Cabo Delgado, a 7 por cento. Em geral, a<br />
disparidade de género tende a ser mais alta que o nível geral mais baixo de alfabetização.<br />
Os resultados na Tabela 2.50 são também indicativos de um grande desnível urbano-rural<br />
no b<strong>em</strong>-estar. Isto é um resultado geral. Todos os indicadores do b<strong>em</strong>-estar são<br />
significativamente inferiores para as áreas rurais relativas às áreas urbanas.<br />
2.7 Conclusões e Implicações de Políticas Para o Desenho e Direccionamento de<br />
Iniciativas de Redução da <strong>Pobreza</strong><br />
Este capítulo do relatório da avaliação da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> mostrou que a<br />
pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> é elevada, com mais de dois terços da população encontrando-se abaixo<br />
da linha de pobreza. Da mesma forma que a população de <strong>Moçambique</strong> é predominant<strong>em</strong>ente<br />
rural, também a pobreza é. A distribuição da pobreza dentro do país não é uniforme. Os níveis<br />
de pobreza são mais altos nas províncias de Sofala, Tete, e Inhambane, onde mais de 80 por cento<br />
da população vive abaixo da linha de pobreza, e mais baixo na cidade de Maputo (<strong>em</strong>bora, com<br />
uma incidência de 48 por cento, a pobreza é ainda alta na cidade capital). As estimativas de<br />
pobreza suger<strong>em</strong> que apesar de <strong>Moçambique</strong> estar se recuperando da situação de <strong>em</strong>ergência e<br />
de guerra, e tornando-se mais auto-suficiente para as necessidades básicas, permanece ainda um<br />
alto grau de pobreza estrutural no país. As áreas que sobressa<strong>em</strong> <strong>em</strong> particular são: baixos níveis<br />
de desenvolvimento do capital humano, incluindo baixos níveis educacionais e saúde precária<br />
para a maioria da população; baixa produtividade no sector agrícola, onde a maioria dos<br />
moçambicanos estão <strong>em</strong>pregados; uma infra-estrutura física fraca e acesso precário aos serviços<br />
básicos, incluindo água potável, infra-estruturas de saúde, transporte, comunicações e mercados;<br />
e altas taxas de fertilidade e correspondentes taxas altas de dependência.<br />
Num sentido, a natureza bivariada do perfil de pobreza é limitada, no sentido de que<br />
relacionamentos aparentes entre variáveis pod<strong>em</strong> ser confundidos com outras variáveis, as quais<br />
não são controladas. A análise de regressão nos capítulos seguintes, incluindo a análise dos<br />
determinantes da pobreza no capítulo três, trata desta fraqueza. Porém, noutro sentido, esta<br />
“limitação” dos perfis de pobreza pode ser considerada como uma vantag<strong>em</strong>, particularmente<br />
para fins de concentração <strong>em</strong> programas para reduzir a pobreza ou fornecer redes de segurança<br />
para grupos vulneráveis. Como um simples ex<strong>em</strong>plo, considere que, <strong>em</strong> média, as pessoas que<br />
viv<strong>em</strong> fora da cidade de Maputo são pobres e menos educadas do que suas contrapartes que<br />
resid<strong>em</strong> <strong>em</strong> Maputo. A incidência mais elevada da pobreza fora da cidade capital é atribuível a<br />
diferenças geográficas, a baixo nível de educação, ambos, ou outros factores de diferenciação?<br />
Para fins de concentração nas intervenções anti-pobreza, <strong>em</strong> muitos aspectos não importa.<br />
95
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Qualquer que seja a razão, a pobreza fora de Maputo é mais geral e mais severa do que a pobreza<br />
na cidade, e isto sugere que na primeira passag<strong>em</strong> no direccionamento de recursos para a redução<br />
da pobreza na cidade, os legisladores procur<strong>em</strong> primeiro melhorar as condições do pobre fora de<br />
Maputo. Exist<strong>em</strong> inúmeros outros ex<strong>em</strong>plos que se segu<strong>em</strong> do perfil de pobreza.<br />
O objectivo principal do perfil de pobreza é destacar as diferenças entre os pobres e os<br />
não pobres para uma grande variedade de variáveis. Contudo, uma constatação importante da<br />
análise do perfil é que, <strong>em</strong> geral, as diferenças entre os pobres e os não pobres são pequenas<br />
comparadas com as diferenças mais básicas. Os ex<strong>em</strong>plos principais são as diferenças rurais e<br />
urbanas e de género observadas na educação e muitas variáveis de saúde. As crianças urbanas<br />
dos agregados familiares ultra-pobres têm mais probabilidade de frequentar escola do que as<br />
crianças rurais não pobres. Em quaisquer dos ambientes, as meninas têm muito menos<br />
probabilidade de frequentar escolas do que os meninos. Com a saúde, as crianças ultra-pobres<br />
urbanas têm mais probabilidade de receber vacinações do que as crianças rurais não pobres. Da<br />
mesma forma, as crianças rurais, dependent<strong>em</strong>ente do estado de pobreza, têm mais probabilidade<br />
de ser<strong>em</strong> desnutridas do que mesmo as crianças urbanas ultra-pobres.<br />
Uma implicação para o direccionamento das políticas deve estar clara: <strong>em</strong> muitos casos<br />
não é necessário, ou mesmo aconselhável, tentar concentrar-se <strong>em</strong> intervenções com base no<br />
estado da pobreza. Desenvolver e impl<strong>em</strong>entar este tipo de mecanismo de direccionamento é<br />
muito caro administrativamente, e é significativamente mais fácil distinguir habitações rurais de<br />
habitações urbanas (e infinitamente mais fácil distinguir meninas de meninos), do que é<br />
distinguir os pobres dos não pobres. Isto é especialmente verdadeiro <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, onde as<br />
condições de vida daqueles acima da linha de pobreza são <strong>em</strong> geral apenas incr<strong>em</strong>entalmente<br />
melhor do que aqueles nos dois terços da população abaixo da linha de pobreza.<br />
O que não é de surpreender, as intervenções baseadas na agricultura têm o potencial de<br />
alcançar a maioria dos pobres. Mais de 80 por cento dos pobres resid<strong>em</strong> <strong>em</strong> áreas rurais, e b<strong>em</strong><br />
mais de 90 por cento dos adultos rurais trabalham no sector agrícola. Além disso, nas áreas<br />
urbanas (definidas amplamente, conforme o desenho do inquérito do MIAF) os pobres<br />
encontram-se <strong>em</strong> números desproporcionais no sector agrícola. Dado o uso extr<strong>em</strong>amente baixo<br />
dos insumos agrícolas modernos, esta é uma área com bastante potencial para melhorar a mão-<br />
de-obra e a produtividade da terra e aumentar o b<strong>em</strong>-estar dos pobres.<br />
Um resultado que parece na maioria do perfil de pobreza é a ausência aparente de<br />
diferenças entre os pobres e os não pobres nas áreas rurais. Em muitas das tabelas de perfil os<br />
valores para os ultra-pobres, pobres, e não pobres são quase iguais. Nesses ex<strong>em</strong>plos, a<br />
classificação de ultra-pobres, pobres e não pobres não está diferenciando correctamente os<br />
agregados familiares rurais.<br />
Poderá ser que os agregados familiares rurais são um grupo homogéneo e que as<br />
diferenças médias no consumo per capita são relativamente insignificantes. Alternativamente,<br />
pode ser que os agregados familiares rurais são extr<strong>em</strong>amente heterogéneos, e que suas<br />
96
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
diferenças não pod<strong>em</strong> ser captadas pela simples desagregação <strong>em</strong> três categorias. No capítulo<br />
subsequente que examina os determinantes da pobreza, tornar-se-á a usar a variável do consumo<br />
per capita na sua continuidade, <strong>em</strong> vez da sua forma categórica; isto deve permitir maior<br />
diferenciação de agregados familiares rurais.<br />
Este capítulo tentou identificar e descrever os pobres. No capítulo seguinte, explora-se-ão<br />
os determinantes dos níveis do consumo per capita, ou, <strong>em</strong> outras palavras, as razões subjacentes<br />
pelas quais os agregados familiares são pobres, e quais os mecanismos potenciais para reduzir<br />
a pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
97
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
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98
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Sen, Amartya. 1976. “Poverty: an Ordinal Approach to Measur<strong>em</strong>ent.” Econometrica 46:<br />
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in Rural Malawi.” Working Paper No. 5. Malawi Agricultural Sector M<strong>em</strong>orandum:<br />
Strategy Options in the 1990s. Banco Mundial, Washington, D.C.<br />
99
Lista de Tabelas<br />
Tabela 2.1—Consumo médio e estimativas da pobreza por zona e região ............. 100<br />
Tabela 2.2—Estimativas de indigência (ultra-pobreza) usando as linhas da pobreza<br />
alternativas ..................................................... 101<br />
Tabela 2.3—Consumo médio e estimativas da pobreza por província ............... 102<br />
Tabela 2.4 —Consumo médio e estimativas de indigência (ultra-pobreza) por província<br />
.............................................................. 103<br />
Tabela 2.5—Estimativas comparativas da pobreza para Maputo e Matola, 1991-92 e 1996-97<br />
.............................................................. 104<br />
Tabela 2.6— Tamanho de agregados familiares, taxa de dependência, e composição por<br />
grupo etário .................................................... 105<br />
Tabela 2.7 — Linhas da pobreza sob várias assunções das economias do tamanho de<br />
agregado familiar ................................................. 106<br />
Tabela 2.8—Sexo e estado civil do chefe de agregado familiar ..................... 107<br />
Tabela 2.9—Estimativa da pobreza e indigência (ultra-pobreza) por sexo do chefe de<br />
agregado familiar ................................................. 108<br />
Tabela 2.10—Escolaridade dos adultos de 18-65 anos (percentag<strong>em</strong>) ............... 109<br />
Tabela 2.11—Educação do chefe do agregado familiar (percentag<strong>em</strong>) ............... 110<br />
Tabela 2.12—Escolaridade dos menores dos 7-17 anos de idade (percentag<strong>em</strong>) ........ 111<br />
Tabela 2.13—Acesso à escola pelos agregados familiares nas zonas rurais (percentag<strong>em</strong>)<br />
.............................................................. 112<br />
Tabela 2.14—Situação de <strong>em</strong>prego (percentag<strong>em</strong>) ............................. 113<br />
Tabela 2.15—Participação na força de trabalho e composição da força de trabalho por grupo<br />
etário (percentag<strong>em</strong>) .............................................. 114<br />
Tabela 2.16—Participação na força de trabalho por grupo etário .................. 115<br />
Tabela 2.17—Sector de Emprego .......................................... 116<br />
Tabela 2.18—Estimativas da pobreza por sector de <strong>em</strong>prego ...................... 117<br />
Tabela 2.19—Situação da pobreza por tipo de <strong>em</strong>pregador (percentag<strong>em</strong>) ........... 118<br />
Tabela 2.20— Frequência do segundo <strong>em</strong>prego ................................ 119<br />
Tabela 2.21—Percentag<strong>em</strong> de posse, quantidades e áreas médias de machambas dos<br />
agregados familiares ............................................... 120<br />
Tabela 2.22—Irrigação e uso de insumos de produção por agregados familiares que possu<strong>em</strong><br />
machambas (percentag<strong>em</strong>) .......................................... 121<br />
Tabela 2.23—Cultivo e venda de algumas culturas básicas , cultivo de hortícolas e posse de<br />
árvores de fruta (%) ............................................... 122<br />
Tabela 2.24—Percentag<strong>em</strong> do cultivo de algodão, posse e quantidade de cajueiros, pelos<br />
agregados familiares ............................................... 123<br />
Tabela 2.25—Percentag<strong>em</strong> da população que realiza ou recebe transferências ......... 124<br />
Tabela 2.26—Valor médio per capita das transferências efectuadas, <strong>em</strong> contos ........ 125<br />
Tabela 2.27—Valor médio per capita das transferências efectuadas, <strong>em</strong> contos (excluindo os<br />
agregados familiares que não realizaram transferências) .................... 126<br />
Tabela 2.28—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas ..... 127<br />
Tabela 2.29—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas (método<br />
alternativo de ponderação) .......................................... 129<br />
Tabela 2.30—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos cereais, raízes e tubérculos<br />
.............................................................. 131<br />
Tabela 2.31—Consumo alimentar por fonte de aquisição ......................... 132<br />
Tabela 2.32—Percentag<strong>em</strong> da despesa total alocada aos bens e serviços não-alimentares
.............................................................. 133<br />
Tabela 2.33—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos bens e serviços nãoalimentares<br />
(método alternativo de ponderação) .......................... 134<br />
Tabela 2.34—Percentag<strong>em</strong> de indivíduos com deficiência física ou mental ........... 135<br />
Tabela 2.35—Percentag<strong>em</strong> de indivíduos doentes e dias de trabalho perdidos devido a<br />
doença, por grupo etário ........................................... 136<br />
Tabela 2.36—Tipo de consulta feita pelos doentes (percentag<strong>em</strong>) .................. 137<br />
Tabela 2.37—Utilização de serviços de saúde e baixo peso ao nascer para crianças <strong>em</strong> idade<br />
pré-escolar (percentag<strong>em</strong>) .......................................... 138<br />
Tabela 2.38—Indicadores antropométricos de crianças 6-60 meses (percentag<strong>em</strong>) ...... 139<br />
Tabela 2.39—Prevalência da desnutrição crónica por grupo etário .................. 140<br />
Tabela 2.40—Prevalência da desnutrição aguda por grupo etário ................... 141<br />
Tabela 2.41—Médias de Z- scores (desvio padrão de população de referência) para as<br />
crianças de 6-60 meses de idade ...................................... 142<br />
Tabela 2.42—Características reprodutivas das mulheres de 12-49 anos que já estiveram<br />
grávidas pelo menos uma vez ....................................... 143<br />
Tabela 2.43—Números de filhos desejados (todas mulheres 12-49 anos) ............. 145<br />
Tabela 2.44—Características da Habitação (percentag<strong>em</strong>) ........................ 146<br />
Tabela 2.45—Fonte de água (percentag<strong>em</strong>) ................................... 147<br />
Tabela 2.46—Proporção de população rural que t<strong>em</strong> o serviço especificado na própria aldeia<br />
.............................................................. 148<br />
Tabela 2.47—Distâncias médias <strong>em</strong> kilómetros aos serviços especificados mais próximos nas<br />
áreas rurais ...................................................... 149<br />
Tabela 2.48—Proporção da população imigrante e <strong>em</strong>igrante por causas (percentag<strong>em</strong>) . 150<br />
Tabela 2.49—Percentag<strong>em</strong> da população imigrante e <strong>em</strong>igrante por causas e género .... 151<br />
Tabela 2.50— Comparação de indicadores de b<strong>em</strong>-estar não baseados <strong>em</strong> consumo<br />
(rendimentos) .................................................... 152
Tabela 2.1—Consumo médio e estimativas da pobreza por zona e região<br />
Índice de Índice do<br />
pobreza quadrado de<br />
Parte da diferencial pobreza<br />
População Consumo médio Índice da (profundi- diferencial<br />
(percentag<strong>em</strong>)<br />
a<br />
(MT/pessoa/mês) incidência dade) (severidade)<br />
Rural 79,7 150.074 71,25 29,92 15,89<br />
(3313,2) (1,25) (0,85) (0,60)<br />
b Urbano 20,3 202.685 62,01 26,67 14,60<br />
(10628,7) (2,67) (1,81) (1,39)<br />
c Norte 32,5 167.834 66,28 26,62 13,85<br />
(6275,2) (2,28) (1,49) (1,07)<br />
c<br />
Centro 42,6 141.990 73,81 32,71 18,01<br />
(4470,5) (1,60) (1,18) (0,89)<br />
c<br />
Sul (incluindo 24,9 183.718 65,80 26,80 13,88<br />
Maputo Cidade) (7291,9) (1,96) (1,24) (0,87)<br />
c<br />
Sul (excluindo 18,8 161.036 71,67 30,17 15,89<br />
Maputo Cidade) (8381,6) (2,38) (1,61) (1,14)<br />
Nacional 100 160.780 69,37 29,26 15,63<br />
(3460,8) (1,14) (0,77) (0,55)<br />
Fonte: Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre as Condições de Vida de <strong>Moçambique</strong>, 1996-97<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
a<br />
Consumo médio total, ajustado t<strong>em</strong>poralmente e espacialmente, usando os preços médios nacional<br />
como base . (Veja capítulo 1 para mais detalhes.)<br />
b<br />
Áreas urbanas inclu<strong>em</strong> a Cidade de Maputo, capitais provinciais e pequenos centros urbanos.<br />
c Norte: Províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa<br />
Centro: Províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia<br />
Sul: Províncias de Gaza, Inhambane e Maputo, mais a Cidade de Maputo<br />
100
Tabela 2.2—Estimativas de indigência (ultra-pobreza) usando as linhas da pobreza<br />
alternativas<br />
Usando a linha da pobreza alimentar Usando 60% da linha da pobreza total<br />
Índice de Distribuição Índice de Distribuição<br />
pobreza dos pobreza dos<br />
diferencial indigentes diferencial indigentes<br />
Índice da (profundi- (ultra- Índice da (profundi- (ultraincidência<br />
dade) pobres) incidência dade) pobres)<br />
Rural 55,70 20,26 83,1 38,78 12,05 81,8<br />
(1,53) (0,77) (1,72) (1,49) (0,62) (2,03)<br />
a Urbano 44,50 15,99 16,9 33,77 11,31 18,2<br />
(2,89) (1,69) (1,72) (2,98) (1,54) (2,03)<br />
b<br />
Norte 49,98 17,40 30,4 34,09 10,31 29,3<br />
(2,62) (1,31) (2,06) (2,38) (1,13) (2,30)<br />
b<br />
Centro 59,43 22,59 47,4 42,92 14,06 48,4<br />
(2,06) (1,12) (2,27) (2,15) (0,97) (2,54)<br />
b<br />
Sul (incl. 47,72 16,52 22,2 33,73 10,27 22,3<br />
Maputo Cid.) (2,02) (1,10) (1,40) (2,08) (0,87) (1,56)<br />
b<br />
Sul (excl. 54,14 19,31 19,02 39,19 12,04 19,48<br />
Maputo Cid.) (2,58) (1,47) (1,25) (2,74) (1,17) (1,43)<br />
Nacional 53,44 19,39 100,0 37,76 11,90 100,0<br />
(1,36) (0,70) (1,34) (0,58)<br />
Fonte: Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre as Condições de Vida de <strong>Moçambique</strong>, 1996/97 (IAF)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
a<br />
Áreas urbanas inclu<strong>em</strong> a Cidade de Maputo, capitais provinciais e pequenos centros urbanos.<br />
b Norte: Províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa<br />
Centro: Províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia<br />
Sul: Províncias de Gaza, Inhambane e Maputo e a Cidade de Maputo<br />
101
Tabela 2.3—Consumo médio e estimativas da pobreza por província<br />
Índice de Índice do<br />
pobreza quadrado de<br />
Parte da diferencial pobreza<br />
população Consumo médio Índice da (profundi- diferencial<br />
Província (percentag<strong>em</strong>) a<br />
(MT/pessoa/mês) incidência dade) (severidade)<br />
Niassa 4,85 147.841 70,64 30,06 16,10<br />
(10.787,9) (3,78) (3,10) (2,21)<br />
Cabo Delgado 8,16 194.448 57,40 19,82 9,11<br />
(12.653,3) (4,19) (2,32) (1,35)<br />
Nampula 19,47 161.668 68,92 28,62 15,28<br />
(8.743,9) (3,29) (2,17) (1,61)<br />
Zambézia 20,34 154.832 68,10 25,96 12,28<br />
(6.321,1) (2,60) (1,80) (1,19)<br />
Tete 7,30 117.049 82,27 38,97 22,48<br />
(8.109,6) (3,22) (2,88) (2,14)<br />
Manica 6,19 191.608 62,60 24,16 11,68<br />
(22.527,9) (5,95) (3,12) (1,71)<br />
Sofala 8,77 97.906 87,92 49,21 32,05<br />
(5.807,8) (1,46) (2,70) (2,73)<br />
Inhambane 7,06 128.219 82,60 38,61 21,41<br />
(10.909,1) (2,45) (2,15) (1,74)<br />
Gaza 6,57 183.233 64,66 22,99 10,91<br />
(10.828,2) (3,26) (2,50) (1,86)<br />
Província de Maputo 5,14 177.774 65,60 27,75 14,66<br />
(18.642,3) (5,41) (3,20) (2,01)<br />
Cidade de Maputo 6,14 253.102 47,84 16,48 7,72<br />
(21.335,7) (4,06) (2,00) (1,19)<br />
Fonte: Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre as Condições de Vida de <strong>Moçambique</strong>, 1996/97<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
a Consumo médio total, ajustado t<strong>em</strong>poralmente e espacialmente, usando os preços médios nacional<br />
como base<br />
102
Tabela 2.4 —Consumo médio e estimativas de indigência (ultra-pobreza) por província<br />
Índice do<br />
Índice de quadrado de<br />
Parte da pobreza pobreza<br />
população Consumo médio Índice da diferencial diferencial<br />
Província (percentag<strong>em</strong>)<br />
a<br />
(MT/pessoa/mês) indidência (profundidade) (severidade)<br />
Niassa 4,85 147.841 40,48 12,37 5,31<br />
(10.787,9) (5,29) (2,17) (1,23)<br />
Cabo Delgado 8,16 194.448 23,10 5,96 2,12<br />
(12.653,3) (3,82) (1,19) (0,41)<br />
Nampula 19,47 161.668 37,11 11,62 5,25<br />
(8.743,9) (3,42) (1,75) (1,07)<br />
Zambézia 20,34 154.832 34,35 7,84 2,59<br />
(6.321,1) (3,92) (1,17) (0,53)<br />
Tete 7,30 117.049 53,60 18,69 8,82<br />
(6.740,0) (4,00) (1,98) (1,13)<br />
Manica 6,19 191.608 26,96 7,52 2,99<br />
(22.527,9) (3,78) (1,56) (0,84)<br />
Sofala 8,77 97.906 65,19 29,27 16,50<br />
(5.807,8) (3,87) (3,14) (2,35)<br />
Inhambane 7,06 128.219 53,73 17,17 7,25<br />
(10.909,1) (3,77) (1,96) (1,13)<br />
Gaza 6,57 183.233 26,54 7,29 3,00<br />
(10.828,2) (4,16) (1,86) (1,11)<br />
Província de Maputo 5,14 177.774 35,37 11,07 4,74<br />
(18.642,3) (5,49) (1,93) (0,80)<br />
Cidade de Maputo 6,14 253.102 17,03 4,85 2,14<br />
(21.335,7) (2,20) (0,96) (0,70)<br />
Fonte: Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre as Condições de Vida de <strong>Moçambique</strong>, 1996/97<br />
Notas: A linha de indigência (ultra-pobreza) é fixada <strong>em</strong> 60 por cento da linha de pobreza de referência.<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
a<br />
Consumo médio total, ajustado t<strong>em</strong>poralmente e espacialmente, usando os preços médios nacional<br />
como base.<br />
103
Tabela 2.5—Estimativas comparativas da pobreza para Maputo e Matola, 1991-92 e<br />
1996-97<br />
a a<br />
<strong>Pobreza</strong> Indigência (ultra-pobreza)<br />
Ano Incidência Profundidade Incidência Profundidade<br />
b 1996-97 34,5 10,4 7,5 2,1<br />
d<br />
(3.50) (1,39) (1,45) (0,62)<br />
c 1991-92 39,8 11,5 12,7 3,0<br />
(1,15) (0,43) (0,78) (0,23)<br />
a Notas: Estimativas da pobreza foram derivadas usando o método de “<strong>Food</strong>-Energy” como utilizado no<br />
estudo por FSD-CFNPP. Este método, e o nível de necessidades calóricas mínimas por eles<br />
assumido, produz uma linha de pobreza ao nível de 70 por cento da linha de pobreza calculada<br />
pelo DPDS-IFPRI, usando a metodologia do custo de necessidades básicas (CBN, ou “Cost of<br />
Basic Needs”).<br />
b<br />
1996-97 dados de IAF.<br />
c 1991-92 dados de FSD-CFNPP.<br />
d<br />
Erros padrão entre parênteses. Erros padrão de 1996-97 foram calculados tomando <strong>em</strong> conta o<br />
desenho da amostra. Erros padrão de 1991-92 foram derivados usando o método de Kakwani (ver<br />
Ravallion, 1994) e não tomam <strong>em</strong> consideração o efeito do desenho da amostra; portanto, os<br />
correctos erros padrão são provavelmente maiores do que os apresentados nesta tabela.<br />
104
Variável / Grupo etário<br />
Tabela 2.6— Tamanho de agregados familiares, taxa de dependência, e composição por grupo etário<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Tamanho médio de agregado 6,1 5,5 3,3 4,6 6,2 6,0 4,7 5,4 6,1 5,6 3,6 4,8<br />
familiar (0,08) (0,06) (0,06) (0,06) (0,19) (0,18) (0,12) (0,11) (0,07) (0,06) (0,06) (0,05)<br />
a<br />
Taxa média de dependência 60,5 58,8 47,4 55,5 61,4 57,6 47,9 53,9 60,7 58,6 47,5 55,2<br />
(0,46) (0,34) (0,90) (0,38) (1,00) (0,71) (0,75) (0,57) (0,42) (0,31) (0,70) (0,32)<br />
Número médio de indivíduos nos agregados familiares, por grupo etário<br />
Menores de 5 anos 1,07 0,94 0,44 0,74 1,22 1,07 0,62 0,87 1,10 0,96 0,47 0,76<br />
(0,03) (0,02) (0,02) (0,02) (0,05) (0,03) (0,03) (0,02) (0,03) (0,02) (0,02) (0,02)<br />
5 a 15 anos 2,28 1,96 0,86 1,52 2,27 2,09 1,39 1,78 2,28 1,99 0,96 1,57<br />
(0,04) (0,03) (0,04) (0,03) (0,11) (0,09) (0,07) (0,06) (0,04) (0,03) (0,04) (0,03)<br />
16 a 29 anos 1,12 1,08 0,95 1,02 1,32 1,43 1,34 1,39 1,16 1,14 1,02 1,09<br />
(0,04) (0,02) (0,04) (0,02) (0,08) (0,08) (0,04) (0,05) (0,03) (0,02) (0,03) (0,02)<br />
30 a 59 anos 1,40 1,29 0,89 1,13 1,20 1,20 1,17 1,19 1,36 1,28 0,94 1,14<br />
(0,03) (0,02) (0,03) (0,02) (0,06) (0,04) (0,04) (0,04) (0,03) (0,02) (0,03) (0,01)<br />
60 anos e maior 0,24 0,22 0,21 0,22 0,21 0,20 0,17 0,19 0,23 0,21 0,20 0,21<br />
(0,02) (0,01) (0,02) (0,01) (0,04) (0,03) (0,02) (0,02) (0,02) (0,01) (0,01) (0,01)<br />
Notas: 8250 observações. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
a A taxa de dependência é a soma de m<strong>em</strong>bros de agregado familiar menores do que 16 anos de idade ou maiores do que 59 anos, mais aqueles com<br />
deficiências físicas ou mentais, dividido pelo número total de indivíduos no agregado familiar.
Tabela 2.7 — Linhas da pobreza sob várias assunções das economias do<br />
tamanho de agregado familiar<br />
Tamanho de<br />
agregado<br />
Linha da pobreza (metacais reais por agregado familiar por dia)<br />
familiar 2 = 0,0 2 = 0,02 2 = 0,4 2 = 0,6 2 = 0,8 2 = 1,0<br />
1 5.433 5.433 5.433 5.433 5.433 5.433<br />
2 5.433 6.241 7.169 8.235 9.459 10.866<br />
3 5.433 6.768 8.431 10.503 13.084 16.299<br />
4 5.433 7.169 9.459 12.482 16.469 21.732<br />
5 5.433 7.496 10.342 14.270 19.688 27.165<br />
6 5.433 7.774 11.125 15.919 22.780 32.597<br />
7 5.433 8.018 11.832 17.462 25.770 38.030<br />
8 5.433 8.235 12.482 18.918 28.675 43.463<br />
9 5.433 8.431 13.084 20.304 31.508 48.896<br />
10 5.433 8.611 13.647 21.629 34.279 54.329<br />
11 5.433 8.776 14.177 22.902 36.995 59.762<br />
12 5.433 8.930 14.679 24.129 39.662 65.195<br />
13 5.433 9.074 15.157 25.316 42.285 70.628<br />
14 5.433 9.210 15.613 26.467 44.868 76.061<br />
15 5.433 9.338 16.050 27.586 47.414 81.494<br />
16 5.433 9.459 16.469 28.675 49.926 86.926<br />
17 5.433 9.575 16.874 29.737 52.407 92.359<br />
18 5.433 9.685 17.264 30.775 54.859 97.792<br />
19 5.433 9.790 17.641 31.790 57.284 103.225<br />
20 5.433 9.891 18.007 32.783 59.684 108.658<br />
21 5.433 9.988 18.362 33.757 62.059 114.091<br />
22 5.433 10.081 18.707 34.712 64.412 119.524<br />
23 5.433 10.171 19.042 35.651 66.744 124.957<br />
24 5.433 10.258 19.369 36.573 69.056 130.390<br />
25 5.433 10.342 19.688 37.480 71.348 135.823<br />
106
Tabela 2.8—Sexo e estado civil do chefe de agregado familiar<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Sexo e estado civil do chefe de Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãoagregado<br />
familiar gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Chefes masculinos 84,0 84,0 80,5 83,0 78,2 79,4 83,0 80,8 82,9 83,2 81,1 82,6<br />
(1,15) (0,98) (1,34) (0,89) (1,62) (1,26) (1,49) (0,99) (1,00) (0,84) (1,07) (0,74)<br />
Solteiro 0,5 1,0 1,9 1,3 0,5 1,0 4,0 2,2 0,6 1,0 2,4 1,5<br />
(0,16) (0,18) (0,40) (0,15) (0,17) (0,29) (0,61) (0,33) (0,13) (0,15) (0,34) (0,14)<br />
Casado 67,2 67,6 67,0 67,4 71,6 71,3 72,6 71,8 68,0 68,3 68,4 68,3<br />
(1,72) (1,33) (1,74) (1,21) (1,72) (1,50) (1,64) (1,17) (1,44) (1,12) (1,36) (0,99)<br />
Casado polígamo 15,0 14,0 9,5 12,7 3,6 4,5 3,3 4,1 12,9 12,2 8,0 10,9<br />
(1,41) (1,08) (1,10) (0,86) (1,41) (0,74) (0,81) (0,63) (1,23) (0,92) (0,84) (0,71)<br />
Divorciado ou separado 0,4 0,6 0,9 0,7 1,5 1,4 2,2 1,7 0,6 0,8 1,2 0,9<br />
(0,17) (0,14) (0,18) (0,11) (0,73) (0,46) (0,58) (0,32) (0,20) (0,14) (0,19) (0,11)<br />
Viúvo 0,8 0,8 1,1 0,9 1,1 1,1 1,0 1,1 0,8 0,9 1,1 1,0<br />
(0,22) (0,17) (0,19) (0,14) (0,43) (0,34) (0,29) (0,27) (0,20) (0,15) (0,16) (0,12)<br />
Chefe de agregado-mulher 16,0 16,0 19,5 17,0 21,8 20,6 17,0 19,2 17,1 16,8 18,9 17,4<br />
(1,15) (0,98) (1,34) (0,89) (1,62) (1,26) (1,49) (0,99) (1,00) (0,84) (1,07) (0,74)<br />
Solteira 0,9 1,1 1,4 1,2 2,8 2,2 1,6 2,0 1,3 1,3 1,5 1,4<br />
(0,23) (0,19) (0,30) (0,17) (0,60) (0,40) (0,42) (0,35) (0,23) (0,17) (0,25) (0,16)<br />
Casada 4,6 4,2 5,2 4,5 4,8 4,6 5,2 4,8 4,7 4,3 5,2 4,6<br />
(0,64) (0,50) (0,84) (0,43) (1,70) (1,14) (1,12) (0,89) (0,61) (0,46) (0,69) (0,39)<br />
Casada polígama 1,5 1,6 1,6 1,6 0,6 0,5 0,2 0,4 1,4 1,4 1,2 1,3<br />
(0,42) (0,34) (0,41) (0,29) (0,37) (0,23) (0,07) (0,15) (0,36) (0,28) (0,31) (0,23)<br />
Divorciada ou separada 3,7 3,6 4,5 3,8 6,7 6,3 5,4 6,0 4,3 4,0 4,7 4,3<br />
(0,58) (0,38) (0,62) (0,34) (1,10) (0,73) (1,00) (0,61) (0,53) (0,34) (0,53) (0,30)<br />
Viúva 5,2 5,5 6,9 5,9 6,8 7,0 4,7 6,1 5,5 5,8 6,3 6,0<br />
(0,62) (0,55) (0,81) (0,51) (1,24) (0,94) (1,03) (0,75) (0,56) (0,48) (0,66) (0,44)<br />
Notas: 8250 observações. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.9—Estimativa da pobreza e indigência (ultra-pobreza) por sexo do chefe de agregado familiar<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Índice do Índice do Índice do<br />
Índice de quadrado de Índice de quadrado de Índice de quadrado de<br />
pobreza pobreza pobreza pobreza pobreza pobreza<br />
diferencial diferencial diferencial diferencial diferencial diferencial<br />
Incidência (profundidade) (severidade) Incidência (profundidade) (severidade) Incidência (profundidade) (severidade)<br />
Chefe-hom<strong>em</strong> 72,13 30,26 16,06 60,95 25,79 13,94 69,90 29,37 15,64<br />
(1,34) (0,90) (0,63) (2,75) (1,79) (1,39) (1,22) (0,80) (0,57)<br />
Chefe-mulher 66,94 28,3 15,08 66,46 30,39 17,33 66,83 28,77 15,58<br />
(1,95) (1,31) (0,98) (3,47) (2,34) (1,75) (1,70) (1,15) (0,86)<br />
Indigência (ultra-pobreza)<br />
Chefe-hom<strong>em</strong> 39,23 12,18 5,35 32,71 10,59 5,11 37,93 11,86 5,31<br />
(1,59) (0,66) (0,38) (2,96) (1,56) (0,99) (1,40) (0,61) (0,36)<br />
Chefe-mulher 36,62 11,41 5,1 38,21 14,34 6,89 36,98 12,07 5,50<br />
(2,22) (1,03) (0,62) (3,79) (1,82) (1,09) (1,92) (0,90) (0,55)<br />
Notas: 8250 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.10—Escolaridade dos adultos de 18-65 anos (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos<br />
Alfabetização 29,2 31,2 34,2 32,0 53,7 61,8 83,3 71,0 33,5 36,6 45,9 40,0<br />
Total<br />
(1,41) (1,16) (1,57) (1,15) (3,20) (3,58) (1,82) (2,98) (1,50) (1,29) (1,97) (1,37)<br />
48,6 50,9 54,9 52,3 74,1 78,9 92,7 85,1 53,3 56,2 64,7 59,3<br />
Masculino (2,07) (1,65) (1,93) (1,48) (2,50) (3,21) (1,78) (2,65) (1,94) (1,60) (2,03) (1,54)<br />
F<strong>em</strong>inino<br />
Fala português<br />
13,4<br />
(1,25)<br />
15,1<br />
(1,10)<br />
16,9<br />
(1,62)<br />
15,7<br />
(1,12)<br />
36,6<br />
(4,09)<br />
46,4<br />
(3,86)<br />
73,5<br />
(2,54)<br />
57,6<br />
(3,35)<br />
17,5<br />
(1,45)<br />
20,4<br />
(1,24)<br />
29,3<br />
(2,03)<br />
23,6<br />
(1,34)<br />
Total 35,8 39,4 44,9 41,3 72,9 77,5 90,9 83,3 42,4 46,2 55,8 49,7<br />
(1,47) (1,35) (1,89) (1,34) (3,58) (3,56) (1,33) (2,63) (1,87) (1,54) (1,94) (1,51)<br />
Masculino<br />
56,0 60,3 67,9 62,9 88,8 90,6 96,1 93,1 72,8 65,9 75,2 69,3<br />
(2,30) (1,66) (2,40) (1,66) (3,09) (2,79) (1,15) (2,03) (1,62) (1,59) (1,96) (1,51)<br />
F<strong>em</strong>inino<br />
19,2 22,2 25,1 23,2 59,5 65,5 85,6 73,8 26,2 29,6 38,4 32,7<br />
Frequentou a escola<br />
(1,46) (1,45) (1,81) (1,39) (4,27) (4,21) (1,81) (3,23) (2,08) (1,72) (2,18) (1,69)<br />
Total 39,9 44,7 50,6 46,8 64,6 70,4 87,1 77,6 44,3 49,3 59,3 52,9<br />
(1,63) (1,33) (1,82) (1,26) (3,33) (3,39) (1,34) (2,46) (1,69) (1,33) (1,90) (1,33)<br />
Masculino<br />
58,6 62,6 69,4 64,9 79,6 83,2 93,9 88,0 62,4 66,4 75,6 69,9<br />
(2,03) (1,58) (1,90) (1,35) (2,56) (3,04) (1,32) (2,24) (1,87) (1,45) (1,75) (1,30)<br />
F<strong>em</strong>inino<br />
24,8 30,1 34,9 31,8 51,9 58,9 79,9 67,6 29,6 35,1 44,8 38,5<br />
(1,64) (1,36) (2,13) (1,38) (4,12) (3,68) (1,80) (2,69) (1,82) (1,39) (2,19) (1,46)<br />
Completou o ensino primário e mais<br />
Total 8,7 9,7 13,6 11,0 27,8 33,2 55,4 42,8 12,1 13,9 23,6 17,4<br />
(0,78) (0,63) (0,97) (0,62) (3,14) (2,64) (2,39) (2,37) (1,14) (0,87) (1,54) (0,96)<br />
Masculino 14,6 16,0 21,9 18,1 36,5 43,1 64,9 53,0 18,5 21,04 33,1 25,5<br />
(1,32) (1,08) (1,53) (0,99) (3,40) (2,95) (2,04) (2,48) (1,51) (1,22) (1,88) (1,27)<br />
F<strong>em</strong>inino 3,8 4,4 6,5 5,1 20,5 24,1 45,2 32,8 6,7 7,82 15,0 10,4<br />
(0,49) (0,51) (0,83) (0,48) (3,41) (2,60) (3,07) (2,38) (1,00) (0,74) (1,34) (0,77)<br />
Notas: 19,180 observações. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.11—Educação do chefe do agregado familiar (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos<br />
Completou o ensino<br />
primário ou mais<br />
Total 9,8 11,1 17,0 13,4 25,4 28,7 58,4 41,9 12,6 14,1 25,3 18,6<br />
(0,99) (0,83) (1,31) (0,79) (3,21) (2,67) (0,33) (28,60) (1,24) (0,92) (1,68) (1,02)<br />
Masculino 11,7 13,5 20,7 16,2 31,0 34,2 62,6 47,3 14,9 16,8 29,6 21,8<br />
(1,22) (1,02) (1,59) (0,94) (3,44) (3,03) (3,16) (3,05) (1,48) (1,09) (1,88) (1,17)<br />
F<strong>em</strong>inino 2,0 1,5 5,7 3,4 10,0 11,8 40,8 22,9 3,8 3,6 11,4 7,0<br />
(0,93) (0,54) (1,32) (0,65) (2,95) (2,39) (5,78) (3,19) (1,06) (0,73) (1,79) (0,91)<br />
Fala portiguês<br />
Total 50,4 54,0 57,1 55,2 74,7 79,5 91,8 84,9 54,8 58,3 64,1 60,6<br />
(2,28) (1,77) (2,27) (1,74) (4,67) (4,01) (1,71) (3,04) (2,16) (1,65) (2,04) (1,59)<br />
Masculino 58,0 61,8 68,6 64,4 88,7 89,3 95,6 92,2 63,1 66,2 74,4 69,4<br />
(2,64) (1,94) (2,71) (1,96) (3,64) (3,76) (1,62) (2,79) (2,48) (1,80) (2,27) (1,74)<br />
F<strong>em</strong>inino 19,8 21,8 22,2 21,9 36,5 49,5 75,6 59,4 23,7 27,4 30,8 28,9<br />
(2,93) (2,27) (2,90) (2,08) (6,36) (5,43) (4,58) (4,88) (2,66) (2,17) (2,88) (2,04)<br />
Notas: 8,250 observações. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.12—Escolaridade dos menores dos 7-17 anos de idade (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos<br />
Matriculados (12-17)<br />
Total 39,7 42,3 46,2 43,3 50,1 54,9 76,3 63,5 41,5 44,8 56,2 48,0<br />
(2,28) (1,80) (2,21) (1,51) (2,97) (2,01) (2,80) (1,89) (1,99) (1,54) (1,88) (1,32)<br />
Masculino<br />
48,2 50,1 55,9 51,5 52,7 57,9 77,6 65,6 49,1 63,0 75,2 54,5<br />
(2,90) (2,29) (3,23) (1,85) (3,27) (2,68) (3,61) (2,45) (2,51) (1,82) (2,00) (1,55)<br />
F<strong>em</strong>inino<br />
29,1 32,9 34,4 33,2 47,2 51,8 75,1 61,4 32,3 50,5 66,3 40,3<br />
Matriculados (7-11)<br />
(2,39) (2,09) (2,90) (1,86) (3,66) (2,92) (3,39) (2,49) (2,14) (1,83) (2,31) (1,75)<br />
Total 38,6 41,7 51,9 43,9 55,4 63,3 86,2 70,7 41,8 45,5 61,2 49,2<br />
(2,11) (1,97) (2,83) (1,86) (4,27) (3,70) (1,56) (3,10) (1,10) (1,82) (2,47) (1,75)<br />
Masculino<br />
43,8 47,2 55,7 49,1 58,1 66,8 87,6 73,5 46,6 50,7 64,4 53,9<br />
(2,44) (2,22) (3,62) (2,08) (4,10) (3,24) (1,80) (2,51) (2,17) (2,00) (2,89) (1,86)<br />
F<strong>em</strong>inino<br />
33,4 36,5 48,3 39,0 52,5 59,9 84,8 68,0 36,9 40,6 58,2 44,7<br />
Frequentou a escola<br />
(2,85) (2,37) (3,50) (2,21) (5,73) (4,90) (2,77) (4,12) (2,67) (2,18) (3,12) (2,07)<br />
Total 49,1 52,4 61,9 54,6 69,0 76,5 91.1 81,8 52,7 56,9 70,8 60,5<br />
(1,84) (1,75) (2,00) (1,62) (3,41) (2,66) (1,05) (2,06) (1,78) (1,63) (1,80) (1,53)<br />
Masculino<br />
56,3 59,6 67,9 61,5 71,5 78,4 92,7 83,5 62,4 66,5 75,8 66,1<br />
(1,98) (2,07) (2,46) (1,86) (3,16) (2,04) (1,19) (1,54) (1,87) (1,45) (1,75) (1,62)<br />
F<strong>em</strong>inino<br />
41,2 44,9 55,6 47,3 66,1 74,6 85,5 80,1 49,2 52,6 62,1 54,6<br />
(2,21) (1,86) (2,58) (1,79) (4,59) (3,98) (1,64) (2,94) (1,83) (1,39) (2,20) (0,01)<br />
Notas: 13,160 observações no grupo etário dos 7-17 anos de idade. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
111
Tabela 2.13—Acesso à escola pelos agregados familiares nas zonas rurais<br />
(percentag<strong>em</strong>)<br />
Indigentes Pobres Não-pobres Todos<br />
Escola primária na Aldeia 68,4 69,0 65,9 67,8<br />
(3,04) (2,85) (4,35) (3,18)<br />
Escola primária completa na Aldeia 15,0 16,9 18,2 17,4<br />
(2,65) (2,49) (2,55) (2,16)<br />
1<br />
Escola primária
Tabela 2.14—Situação de <strong>em</strong>prego (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Situação de <strong>em</strong>prego na última Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãos<strong>em</strong>ana<br />
gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Trabalhou 39,8 42,4 55,3 46,3 35,6 36,0 37,2 36,5 39,1 41,2 50,7 44,3<br />
(1,34) (1,17) (1,44) (1,13) (2,86) (2,28) (1,23) (1,62) (1,21) (1,04) (1,24) (0,96)<br />
Tinha <strong>em</strong>prego, mas não trab. 0,8 1,0 1,2 1,0 0,3 0,4 0,6 0,4 0,7 0,9 1,0 0,9<br />
(0,18) (0,19) (0,25) (0,18) (0,10) (0,12) (0,16) (0,12) (0,15) (0,16) (0,19) (0,15)<br />
Ajudou a um fam. s/ pagamento 22,5 21,4 17,6 20,3 5,1 4,5 2,0 4,0 19,4 18,4 13,6 16,9<br />
(1,75) (1,49) (1,54) (1,42) (1,31) (0,83) (0,52) (0,54) (1,55) (1,28) (1,23) (1,19)<br />
Procurou <strong>em</strong>prego 0,0 0,0 0,1 0,0 0,4 0,3 0,6 0,4 0,1 0,1 0,2 0,1<br />
(perdeu anterior) (0,02) (0,01) (0,03) (0,01) (0,19) (0,10) (0,26) (0,16) (0,04) (0,02) (0,08) (0,04)<br />
a<br />
Procurou <strong>em</strong>prego, 1 vez 0,1 0,1 0,1 0,1 0,7 0,8 0,8 0,8 0,2 0,2 0,3 0,2<br />
(0,00) (0,00) (0,05) (0,00) (0,20) (0,20) (0,13) (0,14) (0,05) (0,05) (0,05) (0,00)<br />
Esteve só a estudar 18,0 18,3 14,7 17,2 25,7 28,2 35,6 31,2 19,4 20,1 20,0 20,0<br />
(0,99) (0,83) (0,93) (0,75) (1,86) (1,41) (1,09) (1,14) (0,91) (0,75) (0,94) (0,70)<br />
Foi doméstico (s<strong>em</strong> pagamento) 6,8 5,6 4,2 5,2 20,3 19,0 17,0 18,2 9,2 8,0 7,5 7,8<br />
(0,80) (0,59) (0,59) (0,53) (2,09) (1,60) (0,97) (1,16) (0,83) (0,62) (0,59) (0,50)<br />
Des<strong>em</strong>pregado, não proc. Emp. 0,2 0,3 0,3 0,3 1,2 1,2 1,4 1,3 0,4 0,4 0,6 0,5<br />
(0,06) (0,05) (0,08) (0,04) (0,33) (0,23) (0,38) (0,20) (0,07) (0,06) (0,12) (0,05)<br />
Foi inválido 0,8 0,7 0,6 0,7 1,3 1,2 0,8 1,0 0,9 0,83 0,63 0,8<br />
(0,19) (0,11) (0,12) (0,09) (0,31) (0,21) (0,30) (0,21) (0,16) (0,10) (0,12) (0,10)<br />
Reformado 0,06 0,1 0,1 0,1 0,7 0,7 0,7 0,7 0,2 0,2 0,2 0,2<br />
(0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,21) (0,13) (0,14) (0,11) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00)<br />
Esteve no serviço militar -- -- -- -- 0,2 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
(0,09) (0,05) (0,04) (0,04) (0,02) (0,01) (0,01) (0,01)<br />
Outra situação 11,0 10,2 5,9 8,9 8,7 7,5 3,6 5,9 10,6 9,7 5,3 8,3<br />
(0,62) (0,55) (0,45) (0,43) (0,70) (0,50) (0,43) (0,35) (0,53) (0,46) (0,35) (0,40)<br />
Notas: 32,857 observações, de pessoas de 7 anos ou mais anos. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
-- =Nenhumas observações, 0.0 = menor do que 0.05 por cento
Tabela 2.15—Participação na força de trabalho e composição da força de trabalho por grupo etário (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Participação (%) 63,1 64,8 74,2 66,9 42,0 42,0 41,1 41,6 59,4 60,8 65,8 62,4<br />
(32.857 obs) (1,10) (0,95) (1,19) (0,92) (3,33) (2,39) (1,28) (1,68) (1,22) (0,97) (1,34) (0,94)<br />
Distribuição de participantes por grupo etário<br />
(18.744 obs)<br />
7 - 11,9 anos 6,4 6,5 3,7 5,6 5,1 3,3 0,2 2,09 6,2 6,1 3,1 5,1<br />
(0,58) (0,49) (0,56) (0,40) (1,53) (0,91) (0,14) (0,57) (0,54) (0,45) (0,48) (0,36)<br />
12 - 15,9 anos 10,3 8,9 4,9 7,6 5,6 4,8 1,4 3,4 9,7 8,4 4,3 7,0<br />
(0,64) (0,43) (0,45) (0,29) (1,08) (0,78) (0,41) (0,52) (0,59) (0,40) (0,38) (0,27)<br />
16 - 20,9 anos 13,4 12,6 13,3 12,8 10,4 11,9 9,7 11,0 13,01 12,5 12,8 12,6<br />
(0,63) (0,46) (0,75) (0,40) (1,09) (1,09) (1,05) (0,73) (0,57) (0,42) (0,66) (0,37)<br />
21 - 29,9 anos 17,9 20,2 27,3 22,5 24,7 25,7 25,4 25,6 18,7 20,9 27,0 23,0<br />
(0,68) (0,59) (1,66) (0,60) (1,99) (1,49) (1,34) (1,03) (0,67) (0,57) (1,42) (0,54)<br />
30 - 59,9 anos 45,2 45,0 41,6 43,9 47,8 48,3 57,8 52,04 45,6 45,4 44,1 45,0<br />
(0,94) (0,80) (1,47) (0,74) (2,41) (1,65) (1,81) (1,63) (0,87) (0,73) (1,34) (0,69)<br />
60 anos e maior 6,8 6,8 9,2 7,57 6,4 6,0 5,6 5,85 6,8 6,7 8,6 7,3<br />
(0,53) (0,40) (0,70) (0,41) (1,41) (1,23) (0,99) (1,06) (0,50) (0,38) (0,61) (0,38)<br />
Nota: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
114
Tabela 2.16—Participação na força de trabalho por grupo etário<br />
Percentag<strong>em</strong> de pessoas <strong>em</strong> cada grupo etário que participam na força de trabalho<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Não- Não- Não-<br />
Grupo etário Indigentes Pobres pobres Todos Indigentes Pobres pobres Todos Indigentes Pobres pobres Todos<br />
7 a 11 anos 16,03 17,50 17,70 17,55 8,16 5,99 0,57 4,24 14,59 15,51 13,11 14,94<br />
(6708 obs) (1,54) (1,38) (2,63) (1,34) (2,96) (1,87) (0,35) (1,29) (1,39) (1,22) (2,05) (1,15)<br />
12 a 15 anos 43,38 41,33 37,79 40,52 16,89 14,09 3,96 10,03 38,97 36,36 26,48 33,73<br />
(4525 obs) (3,05) (2,40) (2,78) (2,05) (4,31) (2,77) (1,24) (1,73) (2,77) (2,09) (2,17) (1,73)<br />
16 a 20 anos 71,96 71,72 76,47 73,29 35,34 35,50 25,30 31,11 65,19 64,03 61,49 63,13<br />
(4349 obs) (2,18) (1,89) (2,66) (1,80) (5,06) (2,70) (2,65) (2,07) (2,39) (1,84) (2,59) (1,76)<br />
21 a 29 anos 89,47 91,25 93,02 91,95 63,46 62,23 56,19 59,70 83,82 85,19 84,75 85,02<br />
(5354 obs) (1,83) (1,15) (1,06) (0,86) (4,85) (3,84) (2,33) (2,65) (2,01) (1,30) (1,54) (1,08)<br />
30 a 59 anos 94,17 94,40 94,91 94,56 76,05 76,12 78,00 76,94 91,32 91,51 90,84 91,29<br />
(9937 obs) (0,89) (0,72) (0,74) (0,60) (2,91) (2,22) (1,72) (1,50) (0,95) (0,75) (0,82) (0,64)<br />
60 anos e mais 82,72 84,44 87,80 85,75 57,14 56,57 52,01 54,76 78,56 80,03 82,02 80,81<br />
(1959 obs) (3,25) (2,08) (1,76) (1,44) (8,33) (7,39) (5,14) (5,78) (2,96) (1,98) (1,83) (1,42)<br />
Nota: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.17—Sector de Emprego<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Sector gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Agricultura e pesca 96,1 95,8 93,8 95,1 66,9 55,6 28,8 45,0 92,6 91,0 83,9 88,6<br />
(0,45) (0,38) (0,75) (0,44) (3,29) (3,93) (3,46) (4,00) (0,65) (0,69) (1,48) (0,87)<br />
Comércio e serviços 0,9 1,1 1,9 1,4 10,4 16,3 27,3 20,6 2,0 2,9 5,8 3,9<br />
(0,17) (0,14) (0,36) (0,18) (1,35) (1,88) (2,63) (2,10) (0,24) (0,26) (0,71) (0,38)<br />
Serviços públicos 0,8 1,0 1,8 1,2 8,5 10,8 19,0 14,0 1,8 2,1 4,4 2,9<br />
(0,17) (0,15) (0,27) (0,14) (1,58) (1,44) (2,85) (1,63) (0,25) (0,24) (0,59) (0,28)<br />
Indústria e minas 1,6 1,6 1,8 1,6 8,2 9,6 13,2 11,0 2,4 2,5 3,5 2,9<br />
(0,27) (0,22) (0,28) (0,20) (1,83) (1,23) (1,45) (1,15) (0,33) (0,25) (0,40) (0,26)<br />
Construção 0,3 0,4 0,5 0,5 3,4 4,2 4,6 4,3 0,7 0,9 1,2 1,0<br />
(0,08) (0,08) (0,16) (0,09) (1,14) (0,90) (0,79) (0,77) (0,17) (0,15) (0,20) (0,15)<br />
Transporte e comunicações 0,2 0,2 0,2 0,2 2,6 3,5 7,2 5,0 0,5 0,6 1,3 0,8<br />
(0,06) (0,04) (0,06) (0,04) (0,59) (0,57) (0,87) (0,54) (0,09) (0,08) (0,16) (0,08)<br />
Notas: 18.444 observações de pessoas de 7 anos ou maior.<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra
Tabela 2.18—Estimativas da pobreza por sector de <strong>em</strong>prego<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Índice de Índice do Índice de Índice do Índice de Índice do<br />
pobreza quadrado de pobreza quadrado de pobreza quadrado de<br />
diferencial pobreza diferencial pobreza diferencial pobreza<br />
Número de (profundi- diferencial Número de (profundi- diferencial Número de (profundi- diferencial<br />
Sector observações Incidência dade) (severidade) observações Incidência dade) (severidade) observações Incidência dade) (severidade)<br />
Agricultura e pesca 13.499 67,40 27,81 14,60 1.510 74,78 35,80 20,84 15.009 67,89 28,34 15,01<br />
(1,32) (0,86) (0,61) (2,55) (2,13) (2,33) (1,26) (0,83) (0,60)<br />
Indústria e minas 299 64,07 26,42 13,81 525 52,68 20,94 10,61 824 58,33 23,66 12,20<br />
(4,29) (2,31) (1,60) (3,64) (2,22) (1,50) (2,92) (1,63) (1,11)<br />
Contrução 87 63,22 23,01 11,38 172 58,53 21,58 9,65 259 60,46 22,17 10,37<br />
(6,96) (2,93) (2,05) (4,92) (2,90) (1,63) (3,96) (2,05) (1,24)<br />
Comércio e serviços 245 53,14 19,46 9,58 969 47,89 15,54 7,08 1.214 49,50 16,74 7,84<br />
(5,02) (2,21) (1,44) (2,91) (1,37) (0,82) (2,56) (1,20) (0,74)<br />
Transporte e comunicações 48 61,68 25,74 13,84 246 42,88 15,49 7,18 294 46,97 17,72 8,63<br />
(6,79) (4,21) (2,79) (5,10) (2,23) (1,25) (4,30) (1,97) (1,15)<br />
Serviços públicos 219 52,01 18,83 9,54 625 46,50 16,69 8,36 844 48,54 17,49 8,80<br />
(4,81) (2,20) (1,30) (5,26) (2,39) (1,40) (3,81) (1,73) (1,01)<br />
Total 14.397 66,93 27,54 14,44 4.047 60,54 25,68 13,96 18.444 66,10 27,30 14,38<br />
(1,32) (0,84) (0,59) (2,82) (1,69) (1,37) (1,19) (0,76) (0,54)<br />
Nota: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.19—Situação da pobreza por tipo de <strong>em</strong>pregador (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Tipo de <strong>em</strong>pregador gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Administração pública 0,74 0,73 1,20 0,89 6,15 6,64 16,29 10,46 1,39 1,44 3,50 2,14<br />
(0,26) (0,15) (0,23) (0,15) (1,69) (1,31) (2,97) (1,71) (0,32) (0,21) (0,59) (0,27)<br />
Estado ou <strong>em</strong>prezas públicas 1,67 1,59 1,67 1,62 10,02 12,52 17,59 14,53 2,68 2,90 4,10 3,31<br />
(0,27) (0,22) (0,27) (0,20) (1,73) (1,31) (1,56) (1,16) (0,32) (0,26) (0,39) (0,25)<br />
Sector privado 1,94 1,99 1,88 1,95 8,06 11,65 15,96 13,36 2,68 3,14 4,03 3,45<br />
(0,30) (0,27) (0,36) (0,26) (1,39) (1,27) (1,13) (1,06) (0,31) (0,29) (0,43) (0,30)<br />
Sector cooperativo 0,03 0,05 0,05 0,05 0,26 0,31 0,57 0,41 0,06 0,08 0,13 0,10<br />
(0,02) (0,02) (0,04) (0,02) (0,16) (0,13) (0,20) (0,12) (0,03) (0,03) (0,04) (0,02)<br />
Conta própria 43,82 45,19 53,10 47,81 46,48 45,54 37,04 42,17 44,14 45,23 50,64 47,07<br />
(1,39) (1,01) (1,04) (0,82) (5,50) (3,63) (2,59) (2,92) (1,40) (0,99) (0,97) (0,79)<br />
Familiar s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração 51,66 50,23 41,67 47,40 26,93 21,44 9,75 16,81 48,66 46,78 36,80 43,39<br />
(1,57) (1,18) (1,29) (1,05) (4,40) (2,88) (1,55) (2,01) (1,56) (1,20) (1,32) (1,08)<br />
Empregador 0,05 0,11 0,23 0,15 0,83 0,90 1,06 0,96 0,15 0,20 0,35 0,25<br />
(0,03) (0,03) (0,09) (0,04) (0,76) (0,47) (0,35) (0,36) (0,10) (0,06) (0,10) (0,06)<br />
Empregado doméstico 0,09 0,11 0,19 0,14 1,27 1,01 1,74 1,30 0,23 0,22 0,43 0,29<br />
(0,04) (0,05) (0,09) (0,06) (0,51) (0,36) (0,58) (0,41) (0,07) (0,06) (0,12) (0,07)<br />
Notas: 18.495 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.20— Frequência do segundo <strong>em</strong>prego<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
T<strong>em</strong> outro <strong>em</strong>prego (%) 3,75 4,33 8,14 5,59 2,45 3,08 4,13 3,50 3,59 4,18 7,52 5,32<br />
(0,55) (0,43) (0,71) (0,46) (0,76) (0,67) (0,70) (0,49) (0,50) (0,39) (0,61) (0,41)<br />
Notas: 18.511 observações.<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.21—Percentag<strong>em</strong> de posse, quantidades e áreas médias de machambas dos agregados familiares (AF)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
T<strong>em</strong> machamba (%) 98,7 98,9 97,6 98,5 72,8 62,5 41,3 54,4 94,0 92,2 83,4 89,5<br />
(8249 obs) (0,41) (0,29) (0,69) (0,34) (3,84) (3,55) (3,08) (3,20) (0,79) (0,77) (1,76) (0,97)<br />
S<strong>em</strong> machamba (%) 1,4 1,2 2,4 1,5 27,3 37,6 58,7 45,6 6,1 7,8 16,6 10,5<br />
(0,41) (0,29) (0,69) (0,34) (3,84) (3,55) (3,08) (3,20) (0,79) (0,77) (1,76) (0,97)<br />
Com 1 machamba (%) 26,5 25,9 26,1 26,0 40,7 35,1 23,5 30,7 29,0 27,6 25,5 26,9<br />
(1,73) (1,35) (1,72) (1,28) (3,76) (3,58) (3,60) (2,73) (1,72) (1,34) (1,65) (1,24)<br />
Mais de 1 machamba (%) 72,2 72,9 71,4 72,5 32,0 27,3 17,9 23,7 64,9 64,6 57,9 62,6<br />
(1,73) (1,35) (1,72) (1,28) (3,76) (3,58) (3,60) (2,73) (1,72) (1,34) (1,65) (1,24)<br />
Área média total por AF (Ha) 2,7 2,5 2,1 2,4 1,8 1,8 2,1 1,9 2,6 2,5 2,1 2,4<br />
(6565 obs) (0,12) (0,08) (0,09) (0,07) (0,22) (0,16) (0,21) (0,13) (0,11) (0,07) (0,08) (0,06)<br />
Área média per capita (Ha) 0,4 0,4 0,6 0,5 0,3 0,3 0,4 0,3 0,4 0,4 0,5 0,4<br />
(0,02) (0,01) (0,02) (0,01) (0,04) (0,03) (0,03) (0,02) (0,01) (0,01) (0,02) (0,01)<br />
o 1<br />
1 Quartil da área per capita 27,1 25,18 17,17 22,91 54,95 53,06 45,79 50,96 30,82 28,59 20,74 26,4<br />
(Média= 0,14 Ha ) (2,06) (1,39) (1,62) (1,20) (3,25) (3,20) (3,07) (2,52) (1,90) (1,33) (1,53) (1,16)<br />
o 2 Quartil da área per capita 29,3 29,61 25,75 28,52 22,82 22,42 22,64 22,49 28,42 28,73 25,37 27,78<br />
(Média= 0,28 Ha ) (1,58) (1,19) (1,48) (1,00) (2,88) (2,64) (2,74) (1,91) (1,42) (1,10) (1,34) (0,91)<br />
o<br />
3 Quartil da área per capita 21,9 23,10 25,87 23,89 13,20 13,36 14,37 13,65 20,68 21,91 24,44 22,6<br />
(Média= 0,45 Ha ) (1,40) (1,10) (1,59) (0,97) (1,72) (1,86) (1,51) (1,49) (1,25) (0,97) (1,44) (0,90)<br />
o 4 Quartil da área per capita 21,7 22,10 31,20 24,69 10,03 11,16 17,20 12,90 20,08 20,77 29,46 23,2<br />
(Média= 1,11 Ha ) (1,60) (1,34) (1,96) (1,23) (2,10) (1,99) (2,81) (1,60) (1,41) (1,20) (1,73) (1,10)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
1Os<br />
quartis não representam exactamente 25% da população devido à aproximação dos dados da área da machamba pelos respondentes a números inteiros,<br />
criando deste modo grande concentração <strong>em</strong> alguns valores (ex<strong>em</strong>plo, 1,2,3, etc.).
Tabela 2.22—Irrigação e uso de insumos de produção por agregados familiares que possu<strong>em</strong> machambas (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Não t<strong>em</strong> área de regadio 96,7 96,7 96,2 96,5 89,5 90,6 91,8 90,9 95,7 95,9 95,6 95,8<br />
(6797 obs) (0,74) (0,58) (0,81) (0,57) (2,06) (1,40) (2,09) (1,20) (0,70) (0,54) (0,76) (0,53)<br />
Alguma área de regadio 2,9 2,8 2,8 2,8 6,2 5,5 1,4 4,4 3,4 3,1 2,6 3,0<br />
(0,66) (0,52) (0,58) (0,47) (1,79) (1,18) (0,60) (0,85) (0,63) (0,48) (0,51) (0,43)<br />
Toda área de regadio 0,4 0,5 1,0 0,7 4,4 3,9 6,8 4,7 1,0 0,9 1,7 1,2<br />
(0,18) (0,18) (0,40) (0,23) (1,48) (0,97) (1,92) (1,02) (0,25) (0,20) (0,44) (0,24)<br />
1<br />
Utiliza algum equipamento 7,9 8,4 9,6 8,7 7,2 8,3 16,7 10,7 7,8 8,4 10,5 9,0<br />
(6798 obs) (1,24) (1,08) (1,25) (0,98) (1,80) (1,68) (3,37) (1,83) (1,09) (0,97) (1,19) (0,89)<br />
Utiliza tracção animal 4,8 5,1 6,0 5,4 0,6 1,4 1,9 1,6 4,2 4,6 5,5 4,9<br />
(0,80) (0,74) (1,06) (0,70) (0,42) (0,57) (0,77) (0,58) (0,69) (0,65) (0,93) (0,62)<br />
Utiliza tractor 1,0 1,4 2,3 1,7 3,0 3,9 9,5 5,5 1,3 1,7 3,2 2,1<br />
(0,25) (0,24) (0,61) (0,27) (1,18) (1,29) (3,06) (1,47) (0,27) (0,27) (0,69) (0,31)<br />
Utiliza pestecidas ou fertilizantes 1,1 1,4 1,5 1,4 1,7 3,1 6,0 4,0 1,2 1,6 2,1 1,8<br />
(0,61) (0,84) (0,40) (0,66) (0,80) (0,92) (1,80) (1,04) (0,53) (0,74) (0,42) (0,59)<br />
Contrata pessoas 7,1 9,3 17,3 11,6 16,9 17,6 43,5 25,2 8,5 10,3 20,5 13,2<br />
(6736 obs) (0,91) (0,91) (2,14) (0,87) (2,48) (2,43) (3,03) (2,60) (0,91) (0,86) (1,93) (0,82)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra<br />
1<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, motobomba, fumigadora, e outros equipamentos pesados.
Tabela 2.23—Cultivo e venda de algumas culturas básicas , cultivo de hortícolas e posse de árvores de fruta (%)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Cultiva milho 80,8 79,5 72,7 77,6 56,7 58,3 62,4 59,4 77,4 76,9 71,4 75,3<br />
(6793 obs) (2,77) (2,47) (3,50) (2,55) (3,22) (3,13) (3,94) (2,78) (2,51) (2,27) (3,09) (2,30)<br />
Vende milho 6,4 8,1 8,4 8,2 3,3 2,9 1,8 2,6 6,0 7,5 7,6 7,5<br />
(0,98) (1,19) (1,46) (1,19) (3,14) (2,14) (0,76) (1,62) (0,94) (1,07) (1,27) (1,06)<br />
Não vende milho 74,6 71,6 64,4 69,5 53,4 55,3 60,4 56,8 71,6 69,6 63,9 67,9<br />
(2,73) (2,41) (3,35) (2,44) (5,21) (4,49) (4,09) (3,71) (2,55) (2,25) (2,98) (2,22)<br />
Cultiva mandioca 55,5 61,3 68,4 63,3 43,7 41,7 27,3 37,6 53,9 58,9 63,3 60,1<br />
(6793 obs) (2,47) (2,04) (2,61) (1,98) (5,58) (5,96) (3,68) (5,12) (2,27) (1,92) (2,46) (1,85)<br />
Vende mandioca 2,3 3,4 4,4 3,7 0,0 0,3 0,3 0,3 1,9 3,0 3,9 3,3<br />
(0,69) (0,89) (1,57) (0,98) (0,01) (0,27) (0,17) (0,20) (0,59) (0,78) (1,38) (0,86)<br />
Não vende mandioca 53,3 58,0 64,0 59,7 43,7 41,4 27,0 37,2 52,0 55,9 59,4 56,9<br />
(2,50) (2,10) (2,55) (1,99) (5,57) (5,98) (3,70) (5,13) (2,30) (1,98) (2,38) (1,86)<br />
Cultiva feijão 53,0 55,8 51,8 54,6 45,4 45,3 42,7 44,6 51,9 54,5 50,7 53,4<br />
(6793 obs) (2,98) (2,53) (2,59) (2,17) (4,25) (3,73) (5,28) (3,50) (2,62) (2,27) (2,34) (1,96)<br />
Vende feijão 3,0 3,7 3,5 3,7 1,6 2,1 0,3 1,6 2,8 3,5 3,1 3,4<br />
(0,73) (0,79) (0,81) (0,68) (1,33) (1,48) (0,20) (1,11) (0,65) (0,71) (0,71) (0,61)<br />
Não vende feijão 50,3 52,7 49,3 51,7 43,8 43,2 42,2 42,9 49,3 51,5 48,4 50,6<br />
(3,01) (2,47) (2,38) (2,08) (4,54) (4,25) (5,26) (3,79) (2,66) (2,24) (2,17) (1,89)<br />
Cultiva hortícolas 30,1 29,7 27,1 29,0 26,4 27,8 28,1 27,9 29,6 29,5 27,2 28,9<br />
(6366 obs) (3,11) (2,72) (2,73) (2,49) (2,99) (2,71) (3,64) (2,37) (2,74) (2,43) (2,44) (2,22)<br />
1<br />
T<strong>em</strong> árvores de fruta 51,3 54,3 56,0 54,8 47,1 47,3 59,6 51,1 50,7 53,5 56,5 54,4<br />
(6255 obs) (2,44) (1,98) (2,33) (1,77) (5,09) (4,71) (7,07) (4,83) (2,23) (1,84) (2,24) (1,66)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
1<br />
Reportados apenas nos agregados familares que possu<strong>em</strong> machambas.
Tabela 2.24—Percentag<strong>em</strong> do cultivo de algodão, posse e quantidade de cajueiros, pelos agregados familiares<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Cultiva algodão 3,2 3,4 6,1 4,2 0,5 0,5 0,1 0,4 2,8 3,0 5,3 3,7<br />
(6793 obs) (1,09) (1,27) (1,93) (1,36) (0,30) (0,31) (0,10) (0,24) (0,94) (1,12) (1,69) (1,19)<br />
T<strong>em</strong> cajueiros 25,5 25,9 26,0 25,9 10,3 9,4 11,1 9,9 23,5 23,9 24,1 24,0<br />
(6256 obs) (2,09) (1,79) (2,35) (1,75) (2,68) (2,11) (4,13) (1,90) (1,90) (1,62) (2,10) (1,57)<br />
Vende caju 4,5 6,0 6,9 6,2 3,6 2,4 0,6 1,8 4,4 5,5 6,1 5,7<br />
(0,81) (0,99) (1,24) (0,98) (1,82) (1,13) (0,64) (0,82) (0,74) (0,88) (1,10) (0,87)<br />
Não vende caju 21,0 19,9 19,2 19,7 6,7 7,1 10,4 8,1 19,1 18,4 18,0 18,3<br />
(2,00) (1,50) (2,03) (1,42) (2,21) (2,01) (4,11) (1,80) (1,82) (1,36) (1,83) (1,28)<br />
Menos que 10 cajueiros 10,9 10,5 7,9 9,8 6,2 5,6 8,0 6,3 10,2 9,9 7,9 9,3<br />
(6256 obs) (1,90) (1,27) (1,01) (0,98) (2,40) (1,68) (3,30) (1,55) (1,70) (1,15) (0,97) (0,89)<br />
Mais que 10 cajueiros 14,7 15,4 18,1 16,2 4,1 3,8 3,1 3,6 13,2 14,0 16,2 14,6<br />
(6256 obs) (1,64) (1,62) (2,03) (1,61) (1,64) (1,17) (1,12) (0,89) (1,43) (1,43) (1,80) (1,42)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.25—Percentag<strong>em</strong> da população que realiza ou recebe transferências<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Transferências - entradas 24,5 25,3 29,0 26,4 16,6 16,6 18,3 17,2 23,1 23,7 26,3 24,5<br />
(3,25) (2,62) (3,44) (2,73) (7,78) (5,24) (3,41) (4,20) (3,02) (2,35) (2,83) (2,36)<br />
Transferências - saídas 24,8 26,0 32,4 27,9 28,8 23,8 13,9 20,1 25,5 25,6 27,7 26,3<br />
(3,01) (2,28) (2,19) (2,03) (2,92) (2,05) (1,60) (1,58) (2,56) (1,92) (1,73) (1,68)<br />
Notas: 8250 observações.<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
As transferências refer<strong>em</strong>-se aos recebimentos e pagamentos (incluindo ofertas) do agregado familiar ou uma organização, quer <strong>em</strong> dinheiro, quer <strong>em</strong> bens,<br />
s<strong>em</strong> a obrigação de reposição.
Tabela 2.26—Valor médio per capita das transferências efectuadas, <strong>em</strong> contos (incluindo agregados familiares que não realizaram<br />
transferências)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Transferências - entradas 26,4 30,0 56,4 37,6 32,6 51,1 89,9 65,9 27,5 33,9 64,9 43,4<br />
(5,29) (4,29) (6,28) (3,91) (7,21) (8,21) (20,61) (10,37) (4,50) (3,79) (7,09) (3,77)<br />
Transferências - saídas 13,1 20,6 25,4 22,0 3,7 3,9 7,5 5,3 11,4 17,5 20,9 18,6<br />
(2,29) (4,02) (5,41) (3,58) (1,38) (1,03) (1,96) (0,98) (1,92) (3,32) (4,17) (2,90)<br />
Transferências líquidas 13,3 9,4 31,0 15,6 29,0 47,2 82,4 60,6 16,1 16,3 43,9 24,8<br />
(5,25) (5,78) (7,37) (4,83) (7,43) (8,30) (21,02) (10,57) (4,46) (4,96) (7,92) (4,49)<br />
Notas: 8250 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.27—Valor médio per capita das transferências efectuadas, <strong>em</strong> contos (excluindo os agregados familiares que não realizaram<br />
transferências)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Transferências - entradas 132,5 139,5 205,6 162,0 256,4 379,9 601,2 469,5 147,9 168,9 267,1 203,1<br />
(1460 obs) (23,89) (19,68) (19,01) (15,47) (49,11) (50,51) (88,74) (46,10) (22,31) (19,49) (26,16) (17,32)<br />
Transferências - saidas 52,5 78,8 78,4 78,7 12,8 16,4 53,8 26,3 44,4 68,3 75,3 70,5<br />
(1726 obs) (7,19) (14,42) (12,09) (10,56) (5,40) (5,15) (13,00) (6,41) (6,40) (12,23) (10,88) (9,25)<br />
Transferências líquidas 36,3 23,9 64,0 37,2 75,1 133,9 292,0 185,9 43,7 42,2 101,4 61,8<br />
(2821 obs) (14,19) (14,70) (15,69) (11,77) (25,75) (30,79) (75,16) (38,32) (12,15) (13,03) (19,35) (11,71)<br />
Notas: Erros padão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.28—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo alimentar gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Alimentos 69,96 70,71 68,79 70,15 62,71 61,78 53,46 58,62 68,64 69,08 64,92 67,81<br />
(0,64) (0,51) (1,02) (0,51) (1,36) (1,14) (0,97) (0,95) (0,60) (0,48) (0,87) (0,48)<br />
Cereais 22,32 23,23 21,79 22,82 24,42 25,07 18,79 22,69 22,70 23,57 21,03 22,79<br />
(1,04) (0,93) (0,95) (0,85) (1,07) (0,74) (0,59) (0,55) (0,87) (0,77) (0,73) (0,69)<br />
Raízes e tubérculos 10,39 11,24 10,50 11,03 6,48 5,12 2,46 4,11 9,68 10,13 8,47 9,62<br />
(0,69) (0,62) (0,81) (0,59) (1,93) (1,54) (0,31) (1,08) (0,66) (0,57) (0,65) (0,52)<br />
Feijões 6,48 6,22 4,76 5,80 3,55 3,30 2,16 2,87 5,95 5,69 4,10 5,21<br />
(0,41) (0,32) (0,39) (0,30) (0,53) (0,36) (0,12) (0,25) (0,35) (0,27) (0,30) (0,25)<br />
Amendoím 1,66 1,75 2,11 1,85 2,38 2,52 2,01 2,32 1,79 1,89 2,08 1,95<br />
(0,17) (0,17) (0,22) (0,16) (0,25) (0,23) (0,19) (0,18) (0,15) (0,14) (0,17) (0,13)<br />
Carne e derivados 4,06 4,41 5,89 4,84 1,51 1,56 5,03 2,87 3,60 3,89 5,67 4,44<br />
(0,52) (0,43) (0,50) (0,38) (0,28) (0,20) (0,42) (0,23) (0,44) (0,36) (0,39) (0,31)<br />
Peixe e mariscos 6,77 6,76 7,32 6,92 8,27 7,94 6,37 7,34 7,05 6,98 7,08 7,01<br />
(0,51) (0,42) (0,82) (0,47) (0,41) (0,40) (0,32) (0,34) (0,42) (0,36) (0,63) (0,38)<br />
Leite, derivados de leite e ovos 0,20 0,30 0,48 0,35 0,26 0,30 1,27 0,67 0,21 0,30 0,68 0,42<br />
(0,04) (0,04) (0,06) (0,04) (0,10) (0,06) (0,13) (0,07) (0,04) (0,04) (0,06) (0,03)<br />
Óleo de cozinha 0,41 0,46 0,77 0,55 1,57 1,94 2,39 2,11 0,63 0,73 1,18 0,87<br />
(0,09) (0,07) (0,13) (0,07) (0,18) (0,16) (0,14) (0,12) (0,08) (0,07) (0,11) (0,07)<br />
Verduras 7,08 6,22 4,11 5,61 3,96 3,13 1,13 2,37 6,51 5,66 3,35 4,95<br />
(0,34) (0,28) (0,25) (0,24) (0,42) (0,34) (0,11) (0,26) (0,30) (0,24) (0,20) (0,21)<br />
(continua...)
Tabela 2.28—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo alimentar gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Outros vegetais 5,52 5,15 5,24 5,18 5,26 5,05 4,56 4,86 5,47 5,13 5,07 5,11<br />
(0,51) (0,45) (0,71) (0,49) (0,71) (0,55) (0,35) (0,44) (0,44) (0,38) (0,54) (0,40)<br />
Fruta 2,88 2,72 2,83 2,75 1,76 1,68 1,44 1,59 2,68 2,53 2,48 2,51<br />
(0,28) (0,25) (0,34) (0,24) (0,32) (0,19) (0,08) (0,12) (0,24) (0,20) (0,25) (0,19)<br />
Açucar 0,62 0,75 1,14 0,86 2,21 2,81 2,76 2,79 0,91 1,13 1,55 1,26<br />
(0,09) (0,07) (0,12) (0,07) (0,20) (0,22) (0,14) (0,16) (0,09) (0,08) (0,11) (0,08)<br />
Bebidas 0,08 0,06 0,14 0,09 0,11 0,21 1,59 0,73 0,08 0,09 0,50 0,22<br />
(0,03) (0,02) (0,03) (0,02) (0,05) (0,07) (0,25) (0,13) (0,03) (0,02) (0,08) (0,03)<br />
Outros alimentos 1,48 1,42 1,72 1,51 0,97 1,14 1,51 1,28 1,39 1,37 1,67 1,46<br />
(0,11) (0,08) (0,19) (0,08) (0,10) (0,09) (0,14) (0,09) (0,09) (0,06) (0,15) (0,07)<br />
Notas : 8250 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
As proporções médias de despesas foram determinadas pelo cálculo de proporção orçamental de cada agregado familiar, tomando depois a média ponderada<br />
destas proporções, pondrando-as pelos factores de expansão e tamanho de agregado familiar.
Tabela 2.29—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas (método alternativo de ponderação)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo alimentar gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Alimentos 70,16 70,64 65,03 67,64 62,80 61,28 47,99 51,62 68,47 68,33 57,71 61,91<br />
(0,60) (0,48) (1,27) (0,76) (1,31) (0,91) (1,84) (1,47) (0,56) (0,45) (1,24) (0,86)<br />
Cereais 23,51 24.10 20,83 22,35 25,30 25,72 16,05 18,69 23,92 24,50 18,78 21,04<br />
(0,98) (0,89) (1,03) (0,84) (0,98) (0,61) (1,06) (0,90) (0,79) (0,68) (0,77) (0,65)<br />
Raízes e tubérculos 10,29 11,07 8,86 9,88 5,72 3,90 1,92 2,46 9,24 9,30 5,88 7,23<br />
(0,73) (0,63) (0,68) (0,59) (1,80) (1,11) (0,16) (0,40) (0,68) (0,55) (0,46) (0,45)<br />
Feijões 5,87 5,73 4,62 5,14 3,37 3,04 1,66 2,04 5,30 5,07 3,35 4,03<br />
(0,37) (0,29) (0,65) (0,40) (0,47) (0,27) (0,10) (0,13) (0,30) (0,23) (0,39) (0,28)<br />
Amendoím 1,89 1,93 2,06 2,00 2,53 2,74 1,78 2,04 2,04 2,13 1,94 2,01<br />
(0,21) (0,19) (0,23) (0,18) (0,27) (0,24) (0,21) (0,19) (0,17) (0,16) (0,16) (0,14)<br />
Carne e derivados 4,01 4,45 6,11 5,34 1,43 1,62 5,18 4,21 3,42 3,75 5,71 4,93<br />
(0,55) (0,44) (0,46) (0,37) (0,29) (0,21) (0,45) (0,34) (0,45) (0,35) (0,33) (0,27)<br />
Peixe e mariscos 6,27 6,34 6,38 6,36 7,95 7,51 5,76 6,24 6,66 6,63 6,12 6,32<br />
(0,40) (0,36) (0,61) (0,44) (0,39) (0,36) (0,52) (0,44) (0,33) (0,29) (0,42) (0,32)<br />
Leite, derivados de leite e ovos 0,19 0,33 0,45 0,40 0,25 0,32 1,51 1,18 0,20 0,33 0,90 0,68<br />
(0,03) (0,07) (0,05) (0,05) (0,08) (0,06) (0,13) (0,11) (0,03) (0,05) (0,08) (0,06)<br />
Óleo de cozinha 0,36 0,48 0,80 0,65 1,87 2,28 2,10 2,15 0,71 0,93 1,36 1,19<br />
(0,08) (0,07) (0,15) (0,09) (0,20) (0,16) (0,17) (0,13) (0,08) (0,07) (0,11) (0,08)<br />
Verduras 7,21 6,10 3,83 4,88 3,69 2,60 0,79 1,28 6,40 5,24 2,52 3,60<br />
(0,35) (0,25) (0,23) (0,21) (0,41) (0,29) (0,07) (0,14) (0,28) (0,21) (0,17) (0,17)<br />
(continua...)
Tabela 2.29—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos alimentos e bebidas (método alternativo de ponderação)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo alimentar gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Outros vegetais 5,20 4,82 5,06 4,95 5,00 4,93 4,60 4,69 5,16 4,85 4,86 4,86<br />
(0,39) (0,26) (0,56) (0,36) (0,41) (0,26) (0,59) (0,43) (0,32) (0,21) (0,40) (0,28)<br />
Fruta 3,25 3,01 2,78 2,89 1,92 1,74 1,22 1,37 2,95 2,70 2,11 2,34<br />
(0,26) (0,21) (0,28) (0,21) (0,24) (0,11) (0,07) (0,06) (0,21) (0,16) (0,17) (0,14)<br />
Açucar 0,69 0,90 1,32 1,13 2,58 3,32 2,36 2,62 1,12 1,50 1,77 1,66<br />
(0,08) (0,07) (0,22) (0,12) (0,22) (0,23) (0,15) (0,13) (0,09) (0,09) (0,14) (0,10)<br />
Bebidas 0,07 0,07 0,22 0,15 0,13 0,29 1,80 1,38 0,08 0,12 0,90 0,59<br />
(0,03) (0,02) (0,07) (0,04) (0,06) (0,12) (0,25) (0,19) (0,03) (0,03) (0,12) (0,08)<br />
Outros alimentos 1,34 1,31 1,71 1,52 1,05 1,26 1,27 1,27 1,28 1,30 1,52 1,43<br />
(0,08) (0,06) (0,20) (0,12) (0,10) (0,08) (0,10) (0,07) (0,07) (0,05) (0,12) (0,08)<br />
Notas: 8250 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
As proporções médias de despesas foram determinadas pelo cálculo de proporção orçamental de cada agregado familiar, tomando depois a média ponderada<br />
destas proporções, pondrando-as pelos factores de expansão, tamanho de agregado familiar, e despesas totais do agregados familiar (consumo) por capita.
Tabela 2.30—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos cereais, raízes e tubérculos<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Trigo e derivados 0,58 0,66 0,92 0,74 3,11 4,66 6,28 5,28 1,04 1,39 2,27 1,66<br />
(0,10) (0,08) (0,10) (0,07) (0,34) (0,30) (0,26) (0,23) (0,11) (0,09) (0,15) (0,09)<br />
Milho e derivados 17,31 17,60 14,42 16,68 15,45 13,43 5,88 10,56 16,97 16,84 12,26 15,44<br />
(0,76) (0,70) (0,65) (0,58) (0,97) (0,65) (0,51) (0,51) (0,64) (0,59) (0,53) (0,49)<br />
Arroz 2,19 2,74 3,95 3,09 5,72 6,87 6,61 6,77 2,83 3,49 4,62 3,84<br />
(0,25) (0,21) (0,35) (0,20) (0,49) (0,43) (0,39) (0,33) (0,23) (0,20) (0,29) (0,18)<br />
Mapira e mexoeira 2,24 2,23 2,50 2,31 0,14 0,11 0,02 0,08 1,85 1,85 1,87 1,85<br />
(0,55) (0,37) (0,44) (0,33) (0,09) (0,06) (0,01) (0,04) (0,46) (0,30) (0,34) (0,27)<br />
Batata 0,17 0,13 0,07 0,11 0,33 0,35 1,06 0,62 0,20 0,17 0,32 0,21<br />
(0,06) (0,03) (0,01) (0,02) (0,10) (0,07) (0,14) (0,08) (0,05) (0,03) (0,05) (0,03)<br />
Mandioca 8,53 9,63 9,31 9,54 5,36 4,06 1,07 2,93 7,95 8,62 7,23 8,19<br />
(0,55) (0,47) (0,65) (0,42) (0,37) (1,07) (0,23) (0,76) (0,51) (0,43) (0,51) (0,37)<br />
Batata doce 1,66 1,45 1,10 1,35 0,79 0,70 0,33 0,56 1,50 1,32 0,91 1,19<br />
(0,19) (0,13) (0,13) (0,11) (0,19) (0,12) (0,05) (0,08) (0,16) (0,11) (0,10) (0,09)<br />
Outras raízes e tubérculos 0,03 0,03 0,01 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,02 0,01 0,02<br />
(0,02) (0,01) (0,01) (0,01) 0,00 0,00 0,00 0,00 (0,01) (0,01) 0,00 (0,01)<br />
Notas: 8250 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
As proporções médias de despesas foram determinadas pelo cálculo de proporção orçamental de cada agregado familiar, tomando depois a média ponderada<br />
destas proporções, pondrando-as pelos factores de expansão e tamanho de agregado familiar.
Tabela 2.31—Consumo alimentar por fonte de aquisição (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Fonte de alimentos<br />
(Percentag<strong>em</strong> da despesa Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãototal<br />
<strong>em</strong> alimentos) gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Produção própria 32,0 29,4 23,4 27,7 12,9 10,0 2,8 7,3 28,5 25,9 18,2 23,6<br />
(1,48) (1,17) (1,53) (1,16) (2,64) (2,23) (0,54) (1,58) (1,35) (1,05) (1,19) (1,00)<br />
Mercado 26,7 27,6 32,7 29,1 74,5 78,3 85,4 81,0 35,4 36,8 46,0 39,7<br />
(1,56) (1,36) (2,00) (1,36) (3,85) (2,98) (1,34) (2,17) (1,88) (1,54) (1,87) (1,48)<br />
Outras (transferências, etc.) 41,3 42,9 43,8 43,2 12,6 11,7 11,8 11,8 36,1 37,3 35,8 36,8<br />
(1,75) (1,54) (1,95) (1,49) (1,72) (1,25) (1,27) (1,13) (1,68) (1,46) (1,66) (1,38)<br />
Notas: 8250 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.32—Percentag<strong>em</strong> da despesa total alocada aos bens e serviços não-alimentares<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo de bens gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Total não-alimentar 30,04 29,29 31,21 29,85 37,29 38,22 46,54 41,38 31,36 30,92 35,08 32,19<br />
(0,64) (0,51) (1,02) (0,51) (1,36) (1,14) (0,97) (0,95) (0,60) (0,48) (0,87) (0,48)<br />
Habitação 8,16 6,87 4,36 6,15 9,26 8,60 7,08 8,02 8,36 7,18 5,05 6,53<br />
(0,29) (0,22) (0,21) (0,18) (0,41) (0,35) (0,43) (0,28) (0,25) (0,19) (0,19) (0,15)<br />
Energia 11,12 10,73 10,25 10,59 12,83 12,60 9,70 11,50 11,43 11,07 10,11 10,78<br />
(0,37) (0,31) (0,38) (0,27) (0,46) (0,39) (0,25) (0,26) (0,32) (0,27) (0,29) (0,22)<br />
Bens da casa 6,29 6,60 9,19 7,34 8,71 9,82 19,57 13,52 6,73 7,18 11,81 8,60<br />
(0,37) (0,27) (0,57) (0,28) (0,83) (0,67) (0,94) (0,69) (0,34) (0,26) (0,56) (0,28)<br />
Roupas e calçado 2,89 3,52 4,75 3,87 2,56 2,71 3,70 3,09 2,83 3,37 4,48 3,71<br />
(0,23) (0,22) (0,40) (0,24) (0,31) (0,25) (0,30) (0,21) (0,19) (0,19) (0,31) (0,20)<br />
Educação, livros, jornais, etc. 0,77 0,65 0,37 0,57 1,91 1,74 1,40 1,61 0,98 0,85 0,63 0,78<br />
(0,09) (0,06) (0,04) (0,05) (0,27) (0,20) (0,36) (0,18) (0,09) (0,07) (0,10) (0,06)<br />
Saúde 0,24 0,21 0,21 0,21 0,57 0,54 0,38 0,48 0,30 0,27 0,25 0,26<br />
(0,04) (0,02) (0,04) (0,02) (0,12) (0,07) (0,07) (0,06) (0,04) (0,02) (0,03) (0,02)<br />
Itens pessoal 0,42 0,48 0,61 0,51 1,08 1,55 2,61 1,95 0,54 0,67 1,11 0,81<br />
(0,06) (0,04) (0,06) (0,04) (0,11) (0,12) (0,13) (0,11) (0,05) (0,04) (0,08) (0,04)<br />
Transportação 0,11 0,16 1,33 0,49 0,19 0,40 1,33 0,75 0,12 0,20 1,33 0,55<br />
(0,04) (0,03) (0,55) (0,16) (0,07) (0,14) (0,22) (0,12) (0,04) (0,04) (0,42) (0,13)<br />
Outros não-alimentares 0,04 0,09 0,14 0,11 0,18 0,27 0,77 0,46 0,06 0,12 0,30 0,18<br />
(0,01) (0,02) (0,04) (0,02) (0,06) (0,05) (0,15) (0,08) (0,02) (0,02) (0,05) (0,02)<br />
Notas: 8250 observações. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
As proporções médias de despesas foram determinadas pelo cálculo de proporção orçamental de cada agregado familiar, tomando depois a média ponderada<br />
destas proporções, pondrando-as pelos factores de expansão e tamanho de agregado familiar.
Tabela 2.33—Percentag<strong>em</strong> média da despesa total alocada aos bens e serviços não-alimentares (método alternativo de ponderação)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo de bens gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Total não-alimentar 29,84 29,36 34,97 32,36 37,20 38,72 52,01 48,38 31,53 31,67 42,29 38,09<br />
(0,49) (0,40) (1,19) (0,71) (1,19) (0,73) (2,03) (1,53) (0,47) (0,37) (1,16) (0,76)<br />
Habitação 7,62 6,32 4,12 5,15 8,43 8,13 8,37 8,31 7,81 6,77 5,95 6,27<br />
(0,22) (0,16) (0,22) (0,15) (0,42) (0,35) (1,43) (1,05) (0,20) (0,15) (0,64) (0,39)<br />
Energia 11,21 10,77 10,29 10,51 13,51 12,82 8,31 9,55 11,74 11,28 9,44 10,17<br />
(0,35) (0,29) (0,47) (0,31) (0,45) (0,32) (0,35) (0,29) (0,29) (0,23) (0,31) (0,22)<br />
Bens da casa 6,46 6,98 12,99 10,20 8,52 10,18 24,35 20,47 6,93 7,77 17,87 13,87<br />
(0,31) (0,23) (1,11) (0,63) (0,68) (0,51) (1,70) (1,26) (0,29) (0,22) (1,00) (0,64)<br />
Roupas e calçado 2,95 3,65 4,84 4,29 2,71 2,78 3,58 3,36 2,89 3,44 4,30 3,96<br />
(0,20) (0,18) (0,56) (0,32) (0,30) (0,18) (0,38) (0,28) (0,17) (0,15) (0,37) (0,23)<br />
Educação, livros e jornais 0,76 0,62 0,32 0,46 1,75 1,64 1,75 1,72 0,98 0,87 0,94 0,91<br />
(0,07) (0,05) (0,04) (0,03) (0,16) (0,12) (0,85) (0,62) (0,07) (0,05) (0,37) (0,22)<br />
Saúde 0,23 0,19 0,20 0,20 0,49 0,47 0,43 0,44 0,29 0,26 0,30 0,29<br />
(0,03) (0,02) (0,03) (0,02) (0,07) (0,06) (0,15) (0,11) (0,03) (0,02) (0,07) (0,04)<br />
Itens pessoal 0,45 0,52 0,68 0,61 1,38 1,95 2,41 2,28 0,66 0,87 1,42 1,21<br />
(0,06) (0,04) (0,09) (0,06) (0,12) (0,11) (0,14) (0,10) (0,06) (0,04) (0,08) (0,06)<br />
Transportação 0,13 0,18 1,38 0,82 0,22 0,43 1,82 1,44 0,15 0,24 1,57 1,04<br />
(0,05) (0,03) (0,47) (0,25) (0,08) (0,13) (0,41) (0,31) (0,04) (0,04) (0,32) (0,20)<br />
Outros não-alimentares 0,04 0,11 0,13 0,12 0,19 0,31 0,98 0,80 0,07 0,16 0,50 0,36<br />
(0,01) (0,03) (0,03) (0,02) (0,08) (0,06) (0,18) (0,13) (0,02) (0,02) (0,08) (0,05)<br />
Notas: 8250 observações. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
As proporções médias de despesas foram determinadas pelo cálculo de proporção orçamental de cada agregado familiar, tomando depois a média ponderada<br />
destas proporções, pondrando-as pelos factores de expansão, tamanho de agregado familiar, e despesas totais do agregados familiar (consumo) por capita.
Tabela 2.34—Percentag<strong>em</strong> de indivíduos com deficiência física ou mental<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
T<strong>em</strong> alguma deficiência<br />
incluindo “outras”) 1,8 2,0 2,3 2,1 2,0 1,6 1,4 1,5 1,9 2,0 2,1 2,0<br />
(42.152 obs) (0,20) (0,14) (0,23) (0,11) (0,24) (0,17) (0,26) (0,14) (0,17) (0,12) (0,18) (0,09)<br />
T<strong>em</strong> alguma deficiência<br />
(excluindo “outras”) 1,2 1,2 1,4 1,3 1,2 1,0 0,7 0,9 1,2 1,2 1,2 1,2<br />
(42.152 obs) (0,15) (0,11) (0,18) (0,09) (0,20) (0,12) (0,21) (0,11) (0,13) (0,09) (0,14) (0,08)<br />
Adultos com alguma deficiência<br />
(incluindo “outras”) 3,2 3,4 3,3 3,3 3,5 2,7 2,1 2,4 3,2 3,2 3,0 3,2<br />
(19.770 obs) (0,47) (0,30) (0,34) (0,21) (0,62) (0,40) (0,44) (0,27) (0,40) (0,26) (0,27) (0,18)<br />
Adultos com alguma deficiência<br />
(Exluindo “outras”) 2,0 2,0 1,9 2,0 2,2 1,7 1,0 1,4 2,0 1,9 1,7 1,8<br />
(19.770 obs) (0,36) (0,23) (0,26) (0,16) (0,53) (0,31) (0,30) (0,23) (0,31) (0,20) (0,21) (0,14)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
Adultos definidos como pessoas maiores e iguais a 18 anos.<br />
Deficiências especificadas inclu<strong>em</strong>: cego, mudo, mudo-surdo, diminuido metal, paralítico, e aqueles com perna ou braço ambutado.
Tabela 2.35—Percentag<strong>em</strong> de indivíduos doentes e dias de trabalho perdidos devido a doença, por grupo etário<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos<br />
Doente no último mês (percentag<strong>em</strong>)<br />
0-5 anos 12,7 14,1 22,8 16,1 15,8 15,4 15,3 15,3 13,3 14,3 20,8 16,0<br />
(7719 obs) (1,13) (0,93) (3,31) (1,05) (2,25) (1,75) (2,23) (1,53) (1,02) (0,82) (2,58) (0,90)<br />
6-17 anos 5,4 5,6 7,7 6,1 6,3 5,4 6,5 5,8 5,5 5,6 7,3 6,0<br />
(14513 obs) (0,65) (0,53) (0,94) (0,45) (1,00) (0,62) (1,29) (0,67) (0,56) (0,45) (0,76) (0,38)<br />
18-65 anos 11,2 11,8 16,1 13,3 10,9 11,1 12,3 11,2 11,2 11,7 15,2 13,0<br />
(18797 obs) (0,82) (0,58) (1,12) (0,54) (1,61) (1,24) (1,02) (0,94) (0,73) (0,53) (0,88) (0,47)<br />
66-99 anos 16,6 19,4 26,5 22,4 15,2 19,7 26,0 22,1 16,4 19,5 26,5 22,3<br />
(1075 obs) (3,09) (2,54) (3,24) (2,11) (4,82) (3,35) (7,52) (3,78) (2,71) (2,22) (2,98) (1,89)<br />
1<br />
Dias de trabalho perdidos (percentag<strong>em</strong>)<br />
18-65 anos<br />
0-3 dias 9,8 13,7 20,1 16,3 8,6 18,1 18,9 18,4 9,6 14,5 19,8 16,7<br />
(1,75) (1,92) (2,30) (1,48) (3,92) (3,09) (4,13) (2,96) (1,60) (1,68) (2,00) (1,33)<br />
4-7 dias 26,0 26,1 23,3 25,0 25,3 24,1 37,7 30,2 25,9 25,7 26,3 26,0<br />
(3,40) (2,37) (3,05) (2,01) (6,55) (3,36) (4,48) (3,17) (3,04) (2,04) (2,65) (1,73)<br />
Mais que 7 dias 63,3 59,7 56,4 58,4 65,8 57,7 43,0 51,2 63,8 59,4 53,6 57,0<br />
(3,78) (2,89) (3,52) (2,32) (8,63) (4,45) (4,54) (3,88) (3,49) (2,50) (3,03) (2,03)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
1Só<br />
para as 1584 pessoas que estiveram doentes neste grupo etário.<br />
136
Tabela 2.36—Tipo de consulta feita pelos doentes (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos<br />
Teve consulta 1<br />
Todos 56,3 56,3 59,2 57,4 64,2 69,5 81,0 74,2 57,8 58,6 63,4 60,5<br />
(4712 obs) (2,73) (1,85) (2,84) (1,80) (3,12) (2,77) (2,82) (2,54) (2,28) (1,62) (2,39) (1,57)<br />
Crianças de 0-5 anos 66,1 63,9 72,8 66,9 71,7 77,0 84,1 79,4 67,3 66,4 74,9 69,2<br />
(1148 obs) (3,88) (3,03) (7,06) (3,06) (5,34) (4,90) (2,97) (3,53) (3,25) (2,62) (5,68) (2,54)<br />
Teve consulta formal 2<br />
Todos 75,9 79,0 80,8 79,7 98,8 98,0 96,6 97,4 80,8 83,0 84,8 83,7<br />
(2830 obs) (3,48) (2,36) (2,88) (1,90) (0,64) (0,64) (1,22) (0,80) (2,89) (1,90) (2,17) (1,50)<br />
Crianças de 0-5 anos 77,6 84,0 87,7 85,3 99,3 99,6 98,4 99,2 82,7 87,5 90,0 88,4<br />
(799 obs) (5,07) (3,01) (4,24) (2,54) (0,70) (0,38) (1,51) (0,56) (3,96) (2,35) (3,17) (1,93)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
1 Só para as pessoas que estiveram doentes.<br />
2<br />
Para as pessoas que estiveram doentes e tiveram consulta.<br />
137
Tabela 2.37—Utilização de serviços de saúde e baixo peso ao nascer para crianças <strong>em</strong> idade pré-escolar (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos Indigentes Pobres Não-pobres Todos<br />
1<br />
T<strong>em</strong> cartão de saúde 54,8 55,1 57,8 55,7 83,9 87,2 93,7 89,2 60,5 61,1 67,1 62,6<br />
(6243 obs)<br />
Vacinações<br />
(5181 obs)<br />
(2,44) (2,24) (3,68) (1,97) (4,22) (3,15) (1,61) (2,16) (2,16) (1,89) (3,18) (1,66)<br />
Completa 40,2 40,7 43,7 41,4 71,3 76,8 84,2 79,2 46,2 47,4 54,5 49,1<br />
(2,24) (2,06) (4,23) (2,18) (7,23) (5,49) (2,63) (4,17) (2,40) (2,02) (3,55) (2,05)<br />
Alguma 18,3 16,5 18,5 16,9 11,2 9,9 8,9 9,7 16,9 15,3 15,9 15,4<br />
(2,42) (1,79) (3,38) (1,92) (2,03) (1,93) (2,15) (1,80) (2,04) (1,53) (2,60) (1,60)<br />
Nenhuma 40,3 41,5 36,9 40,5 16,8 12,6 6,3 10,6 35,7 36,1 28,7 34,3<br />
(2,87) (2,36) (3,08) (2,18) (5,79) (3,73) (1,26) (2,55) (2,54) (2,01) (2,45) (1,79)<br />
2<br />
Nenhuma (5-11,9 meses) 31,2 32,4 42,9 35,1 6,5 4,1 0,0 2,7 26,0 27,1 32,1 28,5<br />
(4,50) (3,45) (8,21) (3,45) (5,27) (3,17) 0,00 (2,19) (3,74) (2,88) (7,17) (2,92)<br />
3<br />
Baixo peso ao nascer 21,7 18,7 17,5 18,4 16,1 13,9 14,3 14,0 19,6 17,0 16,1 16,7<br />
(3249 obs) (2,96) (1,95) (2,58) (1,59) (1,99) (1,55) (1,85) (1,42) (2,00) (1,37) (1,67) (1,12)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
1 Para cartão de saúde e baixo peso ao nascer o grupo etário é 0-4 anos. Para vacinações é de 1-4 anos.<br />
2<br />
Crianças de 5-11,9 meses de idade .<br />
3<br />
Baixo peso ao nascer é com 2500 gramas ou menos.<br />
138
Tabela 2.38—Indicadores antropométricos de crianças 6-60 meses (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
1<br />
Crianças 6-60 meses: incluídas 55,72 60,26 69,49 62,43 77,14 79,51 90,33 82,90 59,81 63,75 74,64 66,48<br />
(7021 total obs) (2,55) (2,11) (3,15) (2,06) (2,78) (2,12) (2,09) (1,71) (2,14) (1,78) (2,45) (1,67)<br />
2<br />
Crianças 6-60 meses:excluídas 44,28 39,74 30,51 37,57 22,86 20,49 9,67 17,10 40,19 36,25 25,36 33,52<br />
3<br />
Prevalência da desnutrição: (%)<br />
(2,55) (2,11) (3,15) (2,06) (2,78) (2,12) (2,09) (1,71) (2,14) (1,78) (2,45) (1,67)<br />
Crónica: ZAI #-2 48,04 47,40 49,89 48,05 33,09 30,59 21,48 27,57 44,55 43,73 41,90 43,22<br />
(4406 obs) (3,55) (2,11) (4,91) (2,64) (2,85) (1,99) (2,26) (1,39) (3,01) (1,85) (4,06) (2,25)<br />
ZAI #-3 25,19 24,81 28,03 25,66 14,46 12,68 6,35 10,58 22,68 22,16 21,93 22,10<br />
(4,20) (2,51) (4,57) (2,84) (1,76) (1,15) (1,44) (1,00) (3,38) (2,07) (3,66) (2,33)<br />
Aguda: ZPA #-2 6,11 6,20 6,11 6,17 10,07 7,62 6,33 7,19 7,04 6,51 6,17 6,42<br />
(4354 obs) (0,96) (0,73) (1,19) (0,70) (2,04) (1,11) (1,51) (0,94) (0,91) (0,63) (0,96) (0,59)<br />
ZPA #-3 1,70 1,80 2,10 1,90 1,50 1,90 1,30 1,70 1,70 1,80 1,85 1,80<br />
(0,52) (0,39) (0,80) (0,35) (0,52) (0,45) (0,68) (0,35) (0,42) (0,32) (0,60) (0,28)<br />
Baixo peso-idade: ZPI #-2 27,89 26,39 24,01 25,76 22,90 20,30 13,98 18,19 26,72 25,06 21,18 23,98<br />
(4408 obs) (2,37) (1,53) (3,06) (1,71) (1,72) (1,72) (2,26) (1,52) (1,82) (1,23) (2,25) (1,31)<br />
ZPI #-3 2,60 3,00 3,10 3,00 3,10 2,70 1,70 2,40 2,80 3,00 2,70 2,90<br />
(0,74) (0,50) (0,84) (0,46) (0,97) (0,69) (0,77) (0,50) (0,61) (0,42) (0,63) (0,37)<br />
Notas: Erros padrão entre poarênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
ZAI = Altura para idade ZPA= Peso para altura ZPI= Peso para idade<br />
1 Criançás com medições antropométricas.<br />
2<br />
Crianças s<strong>em</strong> medições por falta de informação sobre idade ou erros extr<strong>em</strong>os na medição.<br />
3 Crianças abaixo de -2 Z-scores (desvio padrão de população de referência), são consideradas desnutridas.<br />
4<br />
Crianças abaixo de -3 Z-scores são consideradas severamente desnutridas.
Tabela 2.39—Prevalência da desnutrição crónica por grupo etário<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo etário gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
6 a 11 meses 26,89 27,24 34,31 29,16 17,20 19,74 15,54 18,48 24,71 25,72 30,10 26,94<br />
(1152 obs) (3,39) (2,43) (6,17) (2,61) (2,55) (2,78) (4,00) (2,36) (2,73) (2,01) (5,06) (2,16)<br />
12 a 23 meses 60,29 59,85 55,70 58,69 35,16 34,22 23,24 30,83 54,84 53,85 47,27 51,96<br />
(907 obs) (6,06) (3,62) (6,58) (3,99) (7,44) (5,92) (4,05) (3,93) (5,49) (3,47) (5,49) (3,52)<br />
24 a 35 meses 55,95 51,45 58,49 53,42 37,75 34,75 20,43 29,15 51,68 47,79 46,42 47,37<br />
(815 obs) (8,35) (5,74) (6,53) (5,35) (5,71) (3,48) (4,61) (2,57) (7,12) (4,84) (5,49) (4,51)<br />
36 a 47 meses 50,61 53,70 62,20 56,01 38,54 30,92 26,21 29,15 47,66 48,47 50,52 49,08<br />
(809 obs) (3,48) (3,02) (7,04) (2,84) (5,21) (4,19) (4,40) (3,32) (2,97) (2,71) (5,80) (2,55)<br />
48 a 59 meses 60,17 55,94 45,18 53,92 46,42 37,94 22,58 33,52 56,64 52,07 37,85 49,06<br />
(723 obs) (4,14) (3,51) (7,70) (3,25) (9,01) (5,94) (5,02) (4,22) (3,83) (3,05) (5,37) (2,69)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.40—Prevalência da desnutrição aguda por grupo etário<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Grupo etário gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
6 a 11 meses 5,65 6,38 7,02 6,56 7,04 6,98 10,33 7,98 5,97 6,51 7,78 6,86<br />
(1107 obs) (1,33) (1,23) (2,22) (1,17) (3,35) (2,49) (4,12) (1,97) (1,27) (1,10) (1,99) (1,02)<br />
12 a 23 meses 10,16 10,70 11,72 10,98 24,91 15,69 7,50 13,16 13,36 11,87 10,62 11,51<br />
(906 obs) (2,82) (1,91) (3,14) (1,62) (6,52) (3,35) (2,51) (2,69) (2,86) (1,71) (2,39) (1,40)<br />
24 a 35 meses 7,90 7,08 3,87 6,19 5,76 5,03 6,00 5,41 7,40 6,63 4,55 5,99<br />
(814 obs) (2,43) (1,75) (1,93) (1,53) (2,62) (1,79) (3,01) (1,48) (1,91) (1,40) (1,66) (1,20)<br />
36 a 47 meses 4,07 3,38 na 2,46 10,57 6,82 2,64 5,25 5,66 4,17 0,86 3,18<br />
(809 obs) (1,73) (1,18) na (0,88) (5,56) (3,24) (1,71) (2,32) (1,93) (1,20) (0,58) (0,90)<br />
48 a 59 meses 1,76 2,59 6,47 3,32 2,06 1,38 4,90 2,40 1,84 2,33 5,96 3,10<br />
(719 obs) (0,92) (1,02) (3,24) (1,19) (1,16) (0,69) (2,68) (0,97) (0,75) (0,82) (2,37) (0,94)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.41—Médias de Z- scores (desvio padrão de população de referência) para as crianças de 6-60 meses de idade<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Todos Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Altura para idade (ZAI) -1,87 -1,84 -2,04 -1,89 -1,22 -1,17 -0,78 -1,04 -1,72 -1,69 -1,69 -1,69<br />
(4406 obs) (0,17) (0,09) (0,24) (0,13) (0,10) (0,07) (0,11) (0,06) (0,14) (0,08) (0,20) (0,10)<br />
Peso para altura (ZPA) -0,08 -0,04 0,22 0,03 -0,41 -0,38 -0,20 -0,32 -0,15 -0,11 0,10 -0,05<br />
(4354 obs) (0, 20) (0,11) (0,26) (0,15) (0,08) (0,07) (0,06) (0,06) (0,16) (0,09) (0,19) (0,12)<br />
Peso para idade (ZPI) -1,21 -1,16 -1,09 -1,14 -1,11 -1,05 -0,66 -0,92 -1,18 -1,14 -0,97 -1,09<br />
(4408 obs) (0,09) (0,06) (0,08) (0,06) (0,05) (0,07) (0,08) (0,06) (0,07) (0,05) (0,06) (0,04)<br />
Notes: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.42—Características reprodutivas das mulheres de 12-49 anos que já estiveram grávidas pelo menos uma vez<br />
Com que idade teve o primeiro filho:<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Idade média <strong>em</strong> anos 18,11 18,07 18,20 18,11 17,99 18,27 19,26 18,66 18,09 18,11 18,45 18,22<br />
(6642 obs) (0,11) (0,08) (0,13) (0,07) (0,15) (0,11) (0,12) (0,10) (0,10) (0,07) (0,11) (0,06)<br />
Entre 12-15 anos (%) 21,10 21,05 16,95 19,74 20,32 16,52 7,88 13,10 20,96 20,25 14,87 18,44<br />
(1,36) (1,10) (1,36) (0,92) (2,55) (1,69) (1,31) (1,36) (1,21) (0,94) (1,10) (0,78)<br />
Entre 16-18 anos (%) 42,99 43,18 48,83 45,00 44,11 44,69 38,23 42,13 43,20 43,45 46,39 44,44<br />
(1,74) (1,61) (1,99) (1,49) (3,28) (2,43) (2,01) (1,85) (1,54) (1,39) (1,65) (1,26)<br />
Entre 18-37 anos (%) 35,91 35,76 34,21 35,26 35,56 38,79 53,89 44,77 35,84 36,30 38,74 37,12<br />
Quantos filhos vivos t<strong>em</strong>:<br />
(1,71) (1,38) (1,57) (1,18) (2,20) (1,74) (2,08) (1,52) (1,45) (1,18) (1,44) (1,03)<br />
0-1 filho vivo actualmente (%) 18,85 22,40 43,22 28,99 20,36 23,09 32,60 26,79 19,12 22,52 40,80 28,56<br />
(7093 obs) (1,00) (0,90) (1,92) (0,85) (2,57) (1,79) (2,17) (1,34) (0,95) (0,81) (1,61) (0,74)<br />
2-3 filhos vivos actualmente (%) 33,25 35,90 35,33 35,72 32,41 33,53 38,48 35,46 33,10 35,48 36,04 35,67<br />
(1,76) (1,12) (1,65) (1,04) (2,77) (1,91) (1,80) (1,11) (1,53) (0,98) (1,33) (0,87)<br />
4-6 filhos vivos actualmente (%) 38,42 33,55 16,77 28,24 32,72 30,61 23,39 27,80 37,39 33,03 18,28 28,15<br />
(1,40) (1,05) (1,61) (1,03) (3,29) (2,63) (1,59) (1,64) (1,31) (0,99) (1,32) (0,89)<br />
$7 filhos vivos actualmente (%) 9,48 8,15 4,68 7,06 14,51 12,77 5,53 9,96 10,39 8,97 4,88 7,62<br />
(0,95) (0,61) (0,64) (0,47) (1,46) (1,15) (1,13) (0,87) (0,85) (0,56) (0,56) (0,43)<br />
(continua....)
Tabela 2.42—Características reprodutivas das mulheres de 12-49 anos que já estiveram grávidas pelo menos uma vez<br />
Quantos filhos morreram:<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Nenhum filho morreu (%) 51,03 51,80 51,76 51,78 58,72 63,87 71,95 67,01 52,42 53,93 56,35 54,73<br />
(2,19) (1,70) (1,82) (1,34) (2,27) (1,61) (2,51) (1,22) (1,88) (1,46) (1,56) (1,14)<br />
1 filho morto (%) 19,79 20,61 24,78 21,93 20,95 19,61 18,05 19,00 20,00 20,43 23,25 21,36<br />
(1,14) (0,95) (1,49) (0,90) (2,60) (1,53) (1,83) (0,93) (1,04) (0,83) (1,23) (0,74)<br />
2 filhos mortos (%) 11,72 11,28 11,10 11,22 9,60 7,65 6,01 7,01 11,34 10,64 9,94 10,41<br />
(0,99) (0,81) (1,03) (0,60) (1,67) (1,03) (0,87) (0,66) (0,88) (0,69) (0,83) (0,51)<br />
3 ou mais filhos mortos (%) 17,46 16,31 12,36 15,06 10,73 8,87 4,00 6,97 16,24 15,00 10,46 13,50<br />
(1,56) (1,05) (1,28) (0,80) (1,73) (1,12) (0,73) (0,77) (1,35) (0,91) (1,01) (0,68)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.43—Números de filhos desejados (todas mulheres 12-49 anos) <strong>em</strong> percentag<strong>em</strong><br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Quantos filhos deseja ter: Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
0 a 2 filhos 0,89 1,07 1,30 1,14 3,70 4,90 13,03 8,23 1,40 1,79 4,36 2,64<br />
(0,17) (0,15) (0,25) (0,13) (0,64) (0,61) (1,47) (0,70) (0,18) (0,17) (0,43) (0,18)<br />
3 a 4 filhos 3,98 5,20 7,99 6,06 13,39 15,51 26,24 19,90 5,68 7,12 12,76 8,99<br />
(0,51) (0,47) (0,80) (0,42) (2,07) (1,41) (1,49) (1,18) (0,59) (0,48) (0,83) (0,45)<br />
5 a 6 filhos 6,73 7,32 8,83 7,79 12,56 13,82 14,24 14,00 7,78 8,53 10,25 9,10<br />
(0,57) (0,50) (0,84) (0,48) (1,74) (1,28) (1,30) (0,92) (0,57) (0,48) (0,71) (0,43)<br />
7 ou mais filhos 8,33 8,41 8,76 8,52 9,99 8,56 6,67 7,79 8,63 8,44 8,21 8,36<br />
(0,70) (0,54) (0,90) (0,48) (1,30) (0,88) (0,95) (0,61) (0,62) (0,47) (0,70) (0,40)<br />
Como Deus quizer 80,07 78,00 73,13 76,49 60,36 57,21 39,81 50,08 76,51 74,12 64,42 70,90<br />
(1,12) (0,94) (1,64) (0,90) (3,75) (2,64) (2,26) (2,02) (1,18) (0,93) (1,51) (0,90)<br />
Notas: 11.275 observações de mulheres de 12-49 anos<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.44—Características da Habitação (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Tipo de habitação<br />
Casa (vivenda) ou 1,6 2,0 3,7 2,7 9,7 17,2 47,3 30,4 3,0 4,5 12,2 7,6<br />
apartamento (0,35) (0,32) (0,59) (0,37) (2,39) (2,76) (3,88) (0,38) (0,45) (0,44) (1,33) (0,74)<br />
Palhota ou cabana 98,4 98,0 96,3 97,3 90,3 82,8 52,7 69,6 97,0 95,5 87,8 92,4<br />
(0,35) (0,32) (0,59) (0,37) (2,39) (2,76) (3,88) (3,76) (0,45) (0,44) (1,33) (0,74)<br />
Própria ocupação 75,3 70,9 67,0 69,3 73,2 73,2 68,8 71,3 74,9 71,3 67,3 69,7<br />
(2,29) (1,96) (2,31) (1,82) (3,22) (3,30) (3,91) (3,07) (1,90) (1,68) (1,96) (1,54)<br />
T<strong>em</strong> latrina 26,7 27,4 27,8 27,6 45,3 55,1 71,6 61,4 30,0 31,9 34,7 33,0<br />
(2,24) (2,06) (2,38) (1,95) (4,84) (5,19) (4,80) (5,20) (1,96) (1,88) (2,44) (1,89)<br />
Combustível usado para cozinhar<br />
Electricidade ou gás 0,5 0,4 0,9 0,6 2,2 3,7 21,6 11,6 0,8 0,9 4,9 2,6<br />
(0,23) (0,11) (0,27) (0,14) (0,96) (0,95) (3,10) (1,98) (0,25) (0,18) (0,76) (0,36)<br />
Lenha 99,0 98,8 98,2 98,6 67,5 61,4 35,5 50,0 93,3 92,5 86,1 89,9<br />
(0,32) (0,22) (0,33) (0,20) (5,31) (5,50) (4,49) (5,12) (1,42) (1,21) (1,78) (1,32)<br />
Carvão ou outros 0,5 0,8 0,9 0,8 30,3 34,9 43,0 38,5 5,9 6,6 9,0 7,6<br />
(0,23) (0,19) (0,21) (0,15) (5,16) (5,14) (3,90) (4,33) (1,37) (1,16) (1,35) (1,15)<br />
T<strong>em</strong> radio que funciona 19,5 20,4 24,1 21,9 31,0 39,2 66,5 51,4 21,5 23,5 32,2 27,1<br />
(1,18) (0,84) (1,33) (0,82) (4,33) (4,49) (3,10) (4,18) (1,20) (0,95) (1,62) (1,02)<br />
Notas: 8232 observações. Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.45—Fonte de água (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Não-<br />
Fonte de água gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Canalizada dentro de casa 0,11 0,17 0,90 0,38 1,90 4,19 20,74 10,49 0,44 0,90 5,92 2,40<br />
(0,11) (0,13) (0,44) (0,21) (0,65) (0,88) (2,73) (1,50) (0,14) (0,18) (0,80) (0,33)<br />
Canalizada fora de casa (quintal) 0,30 0,39 1,39 0,67 13,60 14,80 21,27 17,26 2,73 3,00 6,41 4,05<br />
(0,15) (0,13) (0,55) (0,21) (2,54) (2,51) (3,51) (2,50) (0,53) (0,48) (1,06) (0,56)<br />
Fontenário 9,20 9,57 13,00 10,56 27,70 27,89 23,39 26,18 12,53 12,90 15,63 13,70<br />
(1,58) (1,34) (2,20) (1,40) (4,10) (3,81) (3,57) (3,38) (1,56) (1,32) (1,85) (1,33)<br />
Proveniente do poço particular 5,60 5,22 3,30 4,67 11,40 12,77 8,97 11,32 6,66 6,59 4,73 6,00<br />
(1,01) (0,93) (0,61) (0,74) (2,81) (2,33) (2,23) (2,17) (1,00) (0,89) (0,75) (0,76)<br />
Proveniente do poço público 42,28 43,24 43,70 43,37 26,94 24,04 11,04 19,09 39,49 39,75 35,44 38,43<br />
(2,13) (1,86) (2,66) (1,77) (7,52) (6,38) (1,99) (4,69) (2,24) (1,90) (2,22) (1,73)<br />
Rios ou lagos 40,40 39,43 35,79 38,38 8,30 5,32 1,54 3,88 34,57 33,23 27,14 31,36<br />
(2,41) (2,13) (3,06) (2,10) (3,95) (2,37) (0,70) (1,63) (2,23) (1,92) (2,49) (1,85)<br />
Outras fontes 2,15 1,99 1,92 1,97 10,05 11,01 13,05 11,78 3,59 3,62 4,73 3,96<br />
(0,43) (0,32) (0,46) (0,32) (3,05) (2,55) (4,86) (3,17) (0,66) (0,56) (1,44) (0,76)<br />
Notas: 8198 observações<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
147
Tabela 2.46—Proporção de população rural que t<strong>em</strong> o<br />
serviço especificado na própria aldeia<br />
Rural<br />
Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos<br />
Médico 1,3 1,6 3,2 2,1<br />
(5784 obs) (0,48) (0,53) (1,15) (0,66)<br />
Curandeiro 94,7 94,3 92,3 93,7<br />
(5793 obs) (1,41) (1,17) (1,54) (1,12)<br />
Enfermeira 14,3 15,3 20,4 16,8<br />
(5802 obs) (1,79) (1,65) (2,82) (1,75)<br />
Parteira 19,2 19,9 19,2 19,7<br />
(5802 obs) (2,87) (2,56) (2,87) (2,46)<br />
Posto de saúde 18,4 18,5 20,5 19,1<br />
(5550 obs) (2,11) (1,92) (2,94) (1,96)<br />
Centro de saúde 3,9 4,6 6,4 5,1<br />
(5793 obs) (0,92) (0,96) (1,49) (1,01)<br />
Farmácia 3,7 4,1 6,0 4,6<br />
(5784 obs) (0,91) (0,89) (1,51) (0,98)<br />
Escola Primária 68,6 68,3 64,6 67,3<br />
(5811 obs) (2,98) (2,86) (4,34) (2,98)<br />
Escola Secundária 1,9 1,9 2,2 2,0<br />
(5784 obs) (0,70) (0,61) (0,91) (0,66)<br />
Restaurante 6,0 6,2 8,9 7,0<br />
(5811 obs) (1,10) (1,01) (1,75) (1,08)<br />
Correios 2,1 2,2 3,7 2,7<br />
(5811 obs) (0,65) (0,63) (1,03) (0,69)<br />
Banco 1,7 2,0 3,9 2,6<br />
(5811 obs) (0,65) (0,55) (1,06) (0,59)<br />
Telefone público 2,3 2,6 4,9 3,2<br />
(5811 obs) (0,66) (0,62) (1,28) (0,70)<br />
Mercado 25,0 23,4 21,7 22,9<br />
(5811 obs) (3,09) (2,49) (2,37) (2,16)<br />
Transporte 19,6 21,9 26,4 23,2<br />
(5811 obs) (2,12) (1,91) (2,74) (1,89)<br />
Assistência agro-pecuária 19,1 18,8 17,0 18,3<br />
(5766 obs) (2,44) (1,97) (2,26) (1,78)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o<br />
desenho da amostra
Tabela 2.47—Distâncias médias <strong>em</strong> kilómetros aos serviços<br />
especificados mais próximos nas áreas rurais<br />
149<br />
Rural<br />
Indi- Não-<br />
Serviço: gentes Pobres pobres Todos<br />
Médico 46,8 46,5 42,8 45,5<br />
(5533 obs) (4,05) (3,60) (3,92) (3,45)<br />
Curandeiro 1,3 1,3 1,8 1,5<br />
(5631 obs) (0,29) (0,24) (0,44) (0,26)<br />
Enfermeira 21,2 20,5 17,2 19,5<br />
(5615 obs) (2,53) (1,95) (1,88) (1,80)<br />
Parteira 22,6 21,4 18,8 20,6<br />
(5615 obs) (2,53) (1,89) (1,94) (1,75)<br />
Poato de saúde 18,7 19,3 17,1 18,6<br />
(5399 obs) (2,30) (2,05) (1,94) (1,90)<br />
Centro de saúde 30,6 29,7 26,2 28,7<br />
(5561 obs) (3,07) (2,41) (2,33) (2,20)<br />
Farmácia 30,5 29,0 24,7 27,7<br />
(5561 obs) (3,11) (2,39) (2,32) (2,18)<br />
Escola primária 4,4 4,5 4,4 4,5<br />
(5730 obs) (0,75) (0,91) (0,99) (0,87)<br />
Escola Secundária 69,9 65,1 66,2 65,5<br />
(5165 obs) (9,21) (7,31) (9,03) (7,48)<br />
Correios 50,8 49,1 37,1 45,6<br />
(4,20) (3,49) (2,49) (2,91)<br />
Banco 81,4 74,6 62,5 71,1<br />
(6,86) 5,09 (6,62) (4,85)<br />
Telefone público 49,0 48,1 47,1 47,8<br />
(4,32) (3,55) (6,53) (4,08)<br />
Mercado 17,1 16,9 14,8 16,3<br />
(1,34) (1,18) (1,41) (1,08)<br />
Transporte 18,1 17,0 14,5 16,3<br />
(1,32) (1,10) (1,17) (0,97)<br />
Assistência agro-pecuária 31,7 31,3 30,2 31,0<br />
(2,51) (2,11) (2,54) (2,00)<br />
Notas: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o<br />
desenho da amostra.
Tabela 2.48—Proporção da população imigrante e <strong>em</strong>igrante por causas (percentag<strong>em</strong>)<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Emigrante de guerra 7,4 5,4 3,2 4,6 0,5 0,3 0,1 0,2 6,2 4,4 2,4 3,7<br />
(1,19) (0,82) (0,87) (0,64) (0,43) (0,26) (0,05) (0,15) (1,00) (0,68) (0,66) (0,51)<br />
Imigrante de guerra 0,5 0,5 0,5 0,5 1,9 1,6 2,8 2,1 0,7 0,7 1,0 0,8<br />
(0,15) (0,12) (0,12) (0,09) (0,62) (0,38) (0,77) (0,40) (0,16) (0,12) (0,22) (0,11)<br />
Emigrante de <strong>em</strong>prego 1,0 1,2 1,3 1,2 0,4 0,6 0,7 0,6 0,9 1,1 1,2 1,1<br />
(0,18) (0,14) (0,18) (0,12) (0,15) (0,13) (0,34) (0,17) (0,15) (0,12) (0,16) (0,10)<br />
Imigrante de <strong>em</strong>prego 0,4 0,6 0,6 0,6 6,1 6,3 8,9 7,4 1,4 1,6 2,7 2,0<br />
(0,09) (0,09) (0,12) (0,07) (0,89) (0,67) (0,96) (0,67) (0,19) (0,16) (0,32) (0,18)<br />
Emigrante por outras razões 1,2 1,5 1,8 1,6 1,3 2,0 3,0 2,4 1,2 1,6 2,1 1,7<br />
(0,39) (0,32) (0,61) (0,35) (0,58) (0,53) (0,79) (0,58) (0,33) (0,28) (0,50) (0,30)<br />
Imigrante por outras razões 6,4 6,8 7,2 6,9 20,2 26,3 37,9 31,2 8,8 10,3 15,0 11,9<br />
(0,98) (1,19) (1,08) (0,88) (3,29) (2,53) (2,68) (2,19) (1,03) (1,07) (1,28) (0,90)<br />
Notas: 26.640 observações de pessoas maiores ou iguais a 12 anos.<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.
Tabela 2.49—Percentag<strong>em</strong> da população imigrante e <strong>em</strong>igrante por causas e género<br />
Rural Urbano <strong>Moçambique</strong><br />
Indi- Não- Indi- Não- Indi- Nãogentes<br />
Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos gentes Pobres pobres Todos<br />
Nunca migrou 86,7 88,0 89,3 88,4 81,2 78,6 67,7 74,0 85,8 86,3 83,8 85,5<br />
(1,32) (0,95) (0,98) (0,74) (2,12) (1,60) (2,09) (1,57) (1,15) (0,83) (1,05) (0,70)<br />
Migrante de guerra 7,9 5,8 3,6 5,1 2,4 1,9 2,8 2,3 6,9 5,1 3,4 4,5<br />
(1,19) (0,83) (0,88) (0,64) (0,75) (0,45) (0,77) (0,43) (1,00) (0,68) (0,68) (0,52)<br />
Migrante de guerra: Masculino 3,8 2,8 1,8 2,5 1,0 0,9 1,5 1,1 3,3 2,4 1,7 2,2<br />
(0,56) (0,39) (0,49) (0,31) (0,33) (0,22) (0,39) (0,21) (0,47) (0,32) (0,38) (0,25)<br />
Migrante de guerra: F<strong>em</strong>inino 4,1 3,1 1,9 2,7 1,3 1,1 1,3 1,2 3,6 2,7 1,7 2,4<br />
(0,66) (0,46) (0,41) (0,35) (0,46) (0,27) (0,42) (0,24) (0,56) (0,38) (0,32) (0,28)<br />
Migrante de <strong>em</strong>prego 1,5 1,7 1,9 1,8 6,5 6,9 9,6 8,0 2,3 2,7 3,9 3,1<br />
(0,20) (0,16) (0,22) (0,14) (0,90) (0,68) (0,92) (0,68) (0,24) (0,19) (0,34) (0,20)<br />
Migrante de <strong>em</strong>prego: Masculino 1,3 1,6 1,8 1,7 5,8 6,0 7,8 6,8 2,1 2,4 3,3 2,7<br />
(0,16) (0,14) (0,20) (0,13) (0,77) (0,58) (0,71) (0,52) (0,20) (0,17) (0,28) (0,17)<br />
Migrante de <strong>em</strong>prego: F<strong>em</strong>inino 0,1 0,1 0,1 0,1 0,7 0,9 1,8 1,3 0,2 0,3 0,5 0,4<br />
(0,06) (0,04) (0,05) (0,03) (0,22) (0,18) (0,31) (0,21) (0,07) (0,05) (0,10) (0,05)<br />
Migrante por outras causas 3,1 3,3 3,6 3,4 9,0 11,7 17,7 14,2 4,2 4,9 7,2 5,7<br />
(0,40) (0,40) (0,45) (0,32) (1,34) (0,99) (1,31) (0,93) (0,42) (0,38) (0,59) (0,34)<br />
Migrante por outras causas: Masc. 1,2 1,3 1,6 1,4 3,1 4,2 7,1 5,5 1,5 1,8 3,0 2,2<br />
(0,18) (0,15) (0,23) (0,14) (0,57) (0,51) (0,75) (0,53) (0,18) (0,15) (0,30) (0,16)<br />
Migrante por outras causas:F<strong>em</strong>in. 2,0 2,1 2,0 2,0 5,9 7,4 10,6 8,8 2,6 3,0 4,2 3,4<br />
(0,27) (0,29) (0,29) (0,22) (0,92) (0,68) (0,78) (0,58) (0,29) (0,27) (0,36) (0,23)<br />
Notas: 26.640 observações de pessoas maiores ou iguais a 12 anos.<br />
Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
Migrantes são definidos como indivíduos que sairam das suas províncias de orig<strong>em</strong> ou indivíduos que não estiveram nas suas províncias de orig<strong>em</strong> pelo menos<br />
um ano.
Tabela 2.50— Comparação de indicadores de b<strong>em</strong>-estar não baseados <strong>em</strong> consumo<br />
(rendimentos)<br />
Taxa de Taxa de População s<strong>em</strong> Taxa de<br />
Incidência analfabetismo: analfabetismo: Desnutrição acesso a água mortalidade<br />
Província da pobreza Homens Mulheres crónica potável<br />
a<br />
infantil<br />
Niassa 70,6 44,8 83,8 48,2 96,0 134<br />
Cabo Delgado 57,4 61,5 92,6 37,7 67,7 123<br />
Nampula 68,9 47,8 84,7 37,7 86,6 216<br />
Zambézia 68,1 47,3 81,6 62,8 94,3 129<br />
Tete 82,3 46,4 70,3 42,4 84,0 160<br />
Manica 62,6 36,6 78,9 47,7 80,5 91<br />
Sofala 87,9 42,9 83,8 41,3 74,2 173<br />
Inhambane 82,6 38,9 68,4 25,5 88,4 151<br />
Gaza 64,7 35,3 66,1 38,9 70,4 135<br />
Província de Maputo 65,6 24,2 56,7 27,8 80,4 92<br />
Cidade de Maputo 47,8 3,8 15,1 19,1 17,3 49<br />
Coeficiênte de<br />
correlação de Pearson<br />
Coeficiênte de<br />
1,0 0,4 0,5 0,2 0,6 0,7<br />
correlação : Percentag<strong>em</strong> de Spearmanda população 1,0 s<strong>em</strong> acesso 0,3a fonte de água 0,2 canalizada 0,2 0,6 0,8<br />
Percentag<strong>em</strong> de homens/mulheres com mais do que 15 anos que não sab<strong>em</strong> ler e<br />
Proporção de criânças com menos de 5 anos que têm altura por idade Z-score menor<br />
analfebetismo:<br />
População Desnutrição s<strong>em</strong> Taxa acesso de crónica: a água potável<br />
Rural 71,2 49,3 82,9 48,1 88,5 160<br />
Urbana 62,0 15,8 40,2 27,6 46,4 101<br />
Total 69,4 42,4 74,6 43,2 79,9 147<br />
a<br />
Notas: Fonte: Inquérito D<strong>em</strong>ográfico de Saúde, 1997.<br />
Fonte de outros dados: Inquérito aos Agregados Familiares, 1996-97.<br />
escrever.<br />
-2.<br />
(dentro ou fora da casa) ou fontenário.<br />
nascimentos.<br />
Taxa de mortalidade infantil: Número de crianças que morreram antes de um ano de idade por 1000<br />
152
Lista dos Gráficos<br />
Gráfico 2.1—<strong>Pobreza</strong> e tamanho do agregado familiar, <strong>em</strong> conformidade com diferentes<br />
assunções sobre economias de tamanho do agregado familiar ................ 153<br />
Gráfico 2.2—Distribuição das altura-por-idade Z-scores, <strong>em</strong> comparação com a distribuição<br />
da população de referencia .......................................... 154
Incidência da <strong>Pobreza</strong><br />
Gráfico 2.1—<strong>Pobreza</strong> e tamanho do agregado familiar, <strong>em</strong> conformidade com diferentes<br />
assunções sobre economias de tamanho do agregado familiar<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
θ = 0.0<br />
θ = 0.2<br />
θ = 0.4<br />
θ = 0.6<br />
θ = 0.8<br />
θ = 1.0<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10+<br />
Tamanho do Agregado Familiar<br />
153
Gráfico 2.2—Distribuição das altura-por-idade Z-scores, <strong>em</strong> comparação com a<br />
distribuição da população de referencia<br />
154
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Capítulo 3<br />
Determinantes da <strong>Pobreza</strong><br />
Gaurav Datt<br />
Kenneth Simler<br />
Sanjukta Mukherjee<br />
Gabriel Dava
3. Determinantes da <strong>Pobreza</strong><br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Índice<br />
3.1 Introdução ...................................................... 157<br />
3.2 Modelação dos determinantes da pobreza ............................... 158<br />
3.3 Um modelo dos níveis de b<strong>em</strong>-estar ao nível de agregado familiar ............ 160<br />
3.3.1 Dados e especificação do modelo ............................... 160<br />
3.3.2 Selecção de variáveis explicativas ............................... 160<br />
3.3.3 Estimação do modelo ........................................ 164<br />
3.4 As estimativas preferidas ........................................... 166<br />
3.4.1 Determinantes do consumo e da pobreza nas zonas rurais ............. 167<br />
3.4.2 Determinantes do consumo e da pobreza nas zonas urbanas ........... 172<br />
3.5 Simulações de pobreza ............................................. 174<br />
3.5.1 Metodologia ............................................... 174<br />
3.5.2 Simulações ................................................ 175<br />
3.6 Crescimento económico e a redução da pobreza .......................... 187<br />
3.7 Precauções ...................................................... 189<br />
3.8 Conclusões e implicações para as políticas .............................. 190<br />
Referências ........................................................... 193<br />
ii
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Lista de Tabelas<br />
Tabela 3.1: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da pobreza rural<br />
.............................................................. 195<br />
Tabela 3.2: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da pobreza<br />
urbana ......................................................... 197<br />
Tabela 3.3: Determinantes da pobreza rural <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> ...................... 199<br />
Tabela 3.4: Determinantes da pobreza urbana <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> .................... 201<br />
Tabela 3.5: Comparação da medição real de b<strong>em</strong>-estar com a simulação de base ....... 203<br />
Tabela 3.6: Mudanças totais no consumo e os níveis de pobreza (resultados de simulações)<br />
.............................................................. 204<br />
Tabela 3.7: Mudanças no consumo total e os níveis de pobreza entre a população afectada<br />
(resultados de simulações) .......................................... 206<br />
Tabela 3.8: Efeitos simulados das mudanças d<strong>em</strong>ográficas assumindo as economias do<br />
tamanho do agregado familiar ....................................... 208<br />
Tabela 3.9: Implicações do crescimento económico durante a última década para a redução da<br />
pobreza ........................................................ 209<br />
Tabela 3.10: Implicações do crescimento económico futuro para a redução da pobreza .. 210<br />
iii
3.1 Introdução<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
O perfil da pobreza para <strong>Moçambique</strong>, apresentado no Capítulo 2, é um instrumento útil<br />
para examinar as características da pobreza no país. As tabelas do perfil da pobreza fornec<strong>em</strong><br />
informação-chave acerca dos correlatos da pobreza e fornec<strong>em</strong> também importantes indicações<br />
para destacar os determinantes da pobreza. Porém, a utilidade dos perfis da pobreza é limitada<br />
porque as comparações bivariadas poderão simplificar erradamente relações complexas. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, quando a educação do chefe do agregado familiar é comparada com o estado de<br />
pobreza, não fica claro se a relação negativa observada é devida à educação, ou é devida a algum<br />
outro factor que possa estar correlacionado com a educação, como a posse da terra. Por esta<br />
razão, as associações típicas bivariadas encontradas no perfil da pobreza poderão induzir <strong>em</strong> erro;<br />
deixam s<strong>em</strong> resposta a pergunta sobre a maneira como uma variável particular afecta a pobreza<br />
condicionada a nível de outros determinantes potenciais da pobreza.<br />
Há contextos <strong>em</strong> que os perfis da pobreza “incondicional” são relevantes para uma<br />
decisão de políticas governamentais, tal como acontece no caso de direccionamento geográfico<br />
ou por grupos alvos, mas com mais frequência os efeitos da pobreza “condicional” são mais úteis<br />
para avaliar as intervenções das políticas propostas. Por outras palavras, o efeito líquido de uma<br />
intervenção política mede-se melhor quando controla outros factores potenciais que afectam a<br />
pobreza. Não é surpreendente, portanto, que certas avaliações recentes de carácter <strong>em</strong>pírico da<br />
pobreza tenham incluído a análise multivariada dos padrões de vida e da pobreza. 1<br />
Embora tenham sido feitos alguns estudos sobre a modelação <strong>em</strong>pírica dos determinantes<br />
2<br />
da pobreza, para <strong>Moçambique</strong>, a nível sub-nacional , tanto quanto se sabe, nunca foi feito<br />
qualquer esforço na modelação, com base <strong>em</strong> dados representativos a nível nacional. Isto deve-se<br />
provavelmente à falta de dados nacionalmente representativos, um obstáculo que foi mitigado<br />
com a conclusão do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares sobre as Condições de Vida,<br />
3<br />
ou MIAF, de 1996-97. Neste capítulo, apresentamos os resultados de uma análise sobre os<br />
determinantes da pobreza, baseados nos dados do MIAF.<br />
Este capítulo está organizado da seguinte maneira. A próxima secção descreve a<br />
abordag<strong>em</strong> da modelação dos determinantes da pobreza. A secção 3.3 apresenta o modelo<br />
<strong>em</strong>pírico. Introduz um conjunto de determinantes utilizados na análise e discute uma diversidade<br />
de questões de especificação. A secção 3.4 apresenta os resultados das estimativas do modelos<br />
preferidos de determinantes. Com base nestas estimativas, apresentam-se simulações da pobreza<br />
seleccionadas na secção 3.5, as quais indicam o impacto das intervenções políticas específicas<br />
1 Veja-se, por ex<strong>em</strong>plo, Glewwe (1991), Banco Mundial (1994a, 1994b, 1995a, 1995b, 1995c, 1996a,<br />
1996b), Grootaert (1997), e Dorosh et al. (1998).<br />
2<br />
3<br />
Veja-se a análise para Maputo e Matola, feita por Sahn e del Ninno (1994).<br />
Veja-se o Capítulo 1 para uma descrição deste jogo de dados.<br />
157
P " '<br />
n<br />
j<br />
j'1<br />
n<br />
j<br />
j'1<br />
h j p ",j<br />
h j<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
na pobreza. Segue-se uma breve discussão do papel des<strong>em</strong>penhado pelo crescimento económico<br />
na redução da pobreza na secção 3.6. A secção 3.7 faz uma revisão de algumas das limitações<br />
dos dados encontradas na análise. Na última secção oferec<strong>em</strong>-se conclusões.<br />
3.2 Modelação dos determinantes da pobreza<br />
Nesta secção, distingu<strong>em</strong> duas abordagens da modelação dos determinantes da pobreza,<br />
e discut<strong>em</strong>-se as razões que levaram a dar preferência a uma delas para o presente estudo.<br />
A abordag<strong>em</strong> preferida da modelação dos determinantes da pobreza pode ser descrita<br />
como um processo de duas etapas. Na primeira etapa, modelam-se os determinantes do logaritmo<br />
4<br />
de consumo a nível de agregado familiar. A forma mais simples desse modelo poderia expor-se<br />
da seguinte maneira:<br />
lnc j ' $ ) x j % 0 j<br />
<strong>em</strong> que ln c é o logaritmo natural do consumo de agregado familiar j (normalmente <strong>em</strong> termos<br />
j<br />
per capita), x é um conjunto de características do agregado familiar e outros determinantes, e 0<br />
j j<br />
é um termo de erro aleatório. A segunda etapa define a pobreza <strong>em</strong> termos do nível de consumo<br />
do agregado familiar. Assim, pod<strong>em</strong>-se escrever a medida da pobreza para o agregado familiar<br />
j como:<br />
p ",j ' [max((1&c j /z),0)] "<br />
5<br />
<strong>em</strong> que z indica a linha de pobreza e " é um parâmetro não-negativo. Os equivalentes do<br />
agregado familiar do índice de pessoas, o índice de pobreza diferencial e o índice do quadrado<br />
4<br />
Estima-se o logaritmo do consumo porque a sua distribuição se aproxima mais da distribuição normal<br />
do que a distribuição dos níveis de consumo.<br />
5<br />
A pobreza agregada para uma população com n agregados familiares é simplesmente a média desta<br />
medida através todos os agregados familiares, ponderada pelo tamanho do agregado familiar (h), dando<br />
158<br />
"$0<br />
de pobreza diferencial obtêm-se quando "_é 0, 1 e 2, respectivamente.<br />
Esta abordag<strong>em</strong> contrasta com a modelação directa das medições de pobreza a nível de<br />
agregado familiar, apresentadas a seguir:<br />
(3.1)<br />
(3.2)
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
p " j ' $ )<br />
" x j % 0 "j .<br />
Esta abordag<strong>em</strong> directa t<strong>em</strong> sido usada com frequência. Veja-se, por ex<strong>em</strong>plo, Bardhan (1984),<br />
Gaiha (1988), Banco Mundial (1994, 1995a, 1995b, 1996a) e Grootaert (1997). Apesar da<br />
popularidade desta abordag<strong>em</strong>, há várias razões que d<strong>em</strong>onstram por que a modelação do<br />
consumo do agregado familiar pode-se ser preferível à modelação dos níveis de pobreza do<br />
agregado familiar<br />
Primeiro, o uso dos dados unicamente sobre P é ineficaz. Implica uma perda de<br />
"j<br />
informação porque a informação sobre os padrões de vida dos agregados familiares acima da<br />
linha de pobreza é deliberadamente suprimida. Assim, todos os agregados familiares que não<br />
sejam pobres são tratados da mesma maneira, como dados censurados.<br />
Segundo, existe um el<strong>em</strong>ento de arbitrariedade inerente sobre o nível exacto da linha de<br />
pobreza absoluta, mesmo que os diferenciais relativos ao custo de vida, tais como estes são<br />
estabelecidos pelas linhas de pobreza regionais, sejam considerados sólidos. Diferentes linhas<br />
de pobreza implicariam que os dados de consumo de agregado familiar seriam censurados a<br />
diferentes níveis. Os parâmetros estimados do modelo de pobreza (3.3) mudariam, portanto, com<br />
o nível da linha de pobreza utilizada. Enquanto esta mudança nos parâmetros estimados fornece<br />
certa informação sobre a dominância estocástica, a modelação do consumo de forma directa t<strong>em</strong><br />
a característica, potencialmente atraente, de pressupor que as estimativas do modelo de consumo<br />
são independentes da linha de pobreza. A associação com o nível de pobreza do agregado<br />
familiar é estabelecida numa etapa subsequente e separada.<br />
Terceiro, a estimação do modelo de consumo evita a inclusão de pressupostos restritivos<br />
sobre a distribuição das variáveis que seriam tipicamente necessárias para os modelos não-<br />
6<br />
lineares de variáveis dependentes limitadas (Powell, 1994). Numa comparação final dos dois<br />
métodos, convém também notar que, uma vez que o agregado familiar, c , é modelado, o nível<br />
j<br />
de pobreza do agregado familiar, p , fica realmente determinado.<br />
j<br />
Seguindo os argumentos acabados de enumerar, a abordag<strong>em</strong> utilizada neste estudo<br />
consiste <strong>em</strong> modelar o consumo de acordo com (3.1) e depois servir-se de (3.2) para extrair as<br />
conclusões ou predições acerca dos níveis de pobreza.<br />
7<br />
6 Uma questão relacionada t<strong>em</strong> a ver com o número de observações abaixo da linha de pobreza, o qual<br />
é directamente determinado pelo índice da incidência de pobreza observada na amostra. Um índice baixo de<br />
incidência pode limitar seriamente o número de observações disponíveis para a estimação.<br />
7<br />
Vale a pena notar que existe pelo menos uma outra abordag<strong>em</strong>, especificamente o uso de uma<br />
variável dependente binária, para indicar se um agregado familiar é pobre ou não pobre, seguida do uso de uma<br />
estimação “probit” ou “logit” (veja-se, por ex<strong>em</strong>plo, Sahn e del Ninno, 1994, e o Banco Mundial, 1996b). Esta<br />
159<br />
(3.3)
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
3.3 Um modelo dos níveis de b<strong>em</strong>-estar ao nível de agregado familiar<br />
3.3.1 Dados e especificação do modelo<br />
Ao estimar (3.1), o consumo é expresso <strong>em</strong> termos reais, isto é, o consumo nominal per<br />
capita é normalizado por um índice espacial do custo de vida. O índice <strong>em</strong> si deriva das linhas<br />
de pobreza nominais, regionais, desde que cada linha reflicta o custo para alcançar um padrão<br />
de vida fixo nessa região. Esta normalização é justificável porque a classe de medidas de pobreza<br />
utilizadas são homogéneas de grau zero no consumo médio e na linha de pobreza. Isto é assim<br />
porque a medida de pobreza p depende da razão de c para z. Assim, <strong>em</strong> vez de definir as<br />
"j j<br />
medidas de pobreza <strong>em</strong> termos de consumo nominal per capita e linhas de pobreza nominal para<br />
as diferentes regiões, pod<strong>em</strong> ser expressas directamente <strong>em</strong> termos do consumo real per capita<br />
e da linha de pobreza expressa nas mesmas unidades reais. 8<br />
Na análise de regressão, toma-se <strong>em</strong> conta a heterogeneidade regional, estimando<br />
modelos separados para cinco regiões, três para zonas rurais e duas para zonas urbanas. A<br />
amostra rural é dividida <strong>em</strong> três regiões: Norte (províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula);<br />
Central (províncias do Tete, Manica, Zambézia e Sofala); e Sul (províncias de Gaza, Inhambane<br />
e Maputo). As zonas urbanas são divididas <strong>em</strong> cidades grandes (Maputo, Matola, Beira e<br />
Nampula) e outras áreas classificadas como zonas urbanas, na amostra do MIAF. Mais tarde<br />
verificar-se-à se é apropriado supor que não existe heterogeneidade regional dentro das zonas<br />
rurais e urbanas.<br />
3.3.2 Selecção de variáveis explicativas<br />
O conjunto de variáveis que se pressupõe determinar o consumo, e por conseguinte, a<br />
pobreza, inclui características do agregado familiar e da comunidade. Uma consideração-chave<br />
na selecção dos determinantes potenciais de consumo é escolher variáveis que sejam<br />
declaradamente exógenas ao consumo actual. Assim, por ex<strong>em</strong>plo, não se incluiu o valor ou a<br />
posse dos bens duráveis no grupo de variáveis explicativas porque o valor de uso atribuído aos<br />
bens duráveis é um componente do consumo (veja-se o Capítulo 1). Do mesmo modo, as<br />
características da casa de habitação não entram o modelo, dado que estas provavelmente são<br />
determinadas pelos padrões de vida do agregado familiar. Estas características determinam<br />
rendas reais ou atribuídas que são também componentes do consumo total do agregado familiar<br />
(veja-se o Capítulo 1).<br />
abordag<strong>em</strong> apresenta os mesmos três pontos fracos enumerados acima para o uso da Equação 3.3, mas, o que é<br />
ainda mais grave, como toda a informação sobre a distribuição das observações abaixo da linha de pobreza é<br />
também suprimida na especificação da variável binária dependente.<br />
8 Veja-se o Capítulo 1 para uma discussão ulterior da construção das linhas de pobreza e o índice<br />
espacial do custo de vida.<br />
160
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Também se omit<strong>em</strong> deliberadamente do modelo variáveis como a frequência escolar<br />
actual das crianças, uma vez que essas variáveis provavelmente são mais um resultado, que um<br />
determinante, dos actuais padrões de vida. Para esses atributos, a causalidade caminha noutra<br />
direcção. A selecção dos determinantes potenciais é também orientada pelos resultados do perfil<br />
de pobreza o qual sugeriu alguns correlatos significativos da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>,<br />
certamente baseados <strong>em</strong> associações bivariadas (veja-se o Capítulo 2). O conjunto de<br />
determinantes seleccionado agrupa-se, <strong>em</strong> termos gerais, nas seguintes categorias.<br />
(i) Características d<strong>em</strong>ográficas. Estas inclu<strong>em</strong> o tamanho do agregado familiar e as<br />
variáveis da sua composição. Distingu<strong>em</strong>-se quatro categorias de idade: pessoas com menos 10<br />
anos de idade; pessoas entre os 10 e os 17 anos; pessoas entre os 18 e os 59 anos; e pessoas dos<br />
60 anos para cima. O número de adultos <strong>em</strong> idade produtiva, entre os 18 e os 59 anos, ainda se<br />
9<br />
subdivide <strong>em</strong> género. Introduz-se um termo quadrático no tamanho do agregado familiar para<br />
permitir não linearidades na relação entre os padrões de vida e o tamanho do agregado familiar.<br />
A idade e o género do chefe do agregado familiar é também uma variável no modelo.<br />
Outras características do agregado familiar que poderão ser vagamente caracterizadas<br />
como variáveis d<strong>em</strong>ográficas também se inclu<strong>em</strong> no conjunto dos determinantes dos padrões de<br />
vida. Por ex<strong>em</strong>plo, para captar os efeitos potenciais adversos de adolescentes grávidas nos<br />
padrões de vida do agregado familiar (as adolescentes grávidas poderão afectar adversamente a<br />
escolaridade das mulheres, a participação na força de trabalho, ou a produtividade), há uma<br />
variável para o número de mulheres existentes no agregado familiar que tiveram o primeiro filho<br />
10<br />
antes dos 16 anos de idade. Também se inclui, entre o grupo de determinantes, o número de<br />
m<strong>em</strong>bros adultos com qualquer deficiência física ou mental. Finalmente, também se inclui, como<br />
uma variável explicativa, o número de m<strong>em</strong>bros do agregado familiar que foram refugiados ou<br />
deslocados, devido à guerra.<br />
(ii) Educação. Esta categoria de variáveis explicativas reflecte diversas medidas<br />
referentes aos vários níveis e dimensões da escolaridade obtida pelo agregado familiar. Primeiro,<br />
incluiu-se medidas relacionadas com o número de adultos (de 18 anos para cima) entre os<br />
m<strong>em</strong>bros do agregado familiar que declararam saber ler e escrever. Do mesmo modo, incluíram-<br />
se o número de m<strong>em</strong>bros adultos que completaram o ensino primário de segundo grau (nível<br />
9<br />
Incluiu-se também o número de m<strong>em</strong>bros do agregado familiar s<strong>em</strong> idade determinada, como uma<br />
variável separada. Esta variável, juntamente com as outras cinco variáveis referentes à composição do agregado<br />
familiar, soma exactamente ao tamanho total do agregado familiar.<br />
10 É bom l<strong>em</strong>brar que esta característica foi estreitamente associada com a pobreza no perfil da pobreza<br />
do Capítulo 2.<br />
161
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
11<br />
EP2) ou com um grau de instrução mais avançado. Dado que existe uma boa razão para supor<br />
a priori que os retornos da educação entre os homens e as mulheres poderão ser<br />
12<br />
significativamente diferentes, estas variáveis foram também diferenciadas pelo género. Incluí-se<br />
também o nível máximo de escolaridade atingido por qualquer m<strong>em</strong>bro do agregado familiar<br />
como uma variável adicional, para ver se este fenómeno t<strong>em</strong> um efeito independente.<br />
(iii) Emprego. Nesta categoria incluíram-se variáveis relacionadas com a distribuição das<br />
ocupações dentro do agregado familiar. Em particular, distinguiram-se três sectores gerais de<br />
<strong>em</strong>prego: a agricultura, incluindo a criação de gado e a pesca; a indústria, minas e construção;<br />
e o comércio, transportes, comunicações e outros serviços. Três variáveis correspondentes dão<br />
portanto o número total de adultos <strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> cada sector, existentes no agregado familiar.<br />
Incluí-se também uma variável relacionada com a diversificação de fontes de rendimento dentro<br />
do agregado familiar, com vista a examinar a hipótese de que múltiplas fontes de rendimento<br />
contribu<strong>em</strong> para riscos menores e rendimentos mais altos para o agregado familiar. 13<br />
(iv) A agricultura, a terra e a criação de gado. Inclui-se a área total da terra (machamba)<br />
como um determinante dos padrões de vida. No MIAF, o tamanho da terra não foi medido, mas<br />
14<br />
apenas estimado pelos informantes. Incluiu-se também uma variável binária para indicar se o<br />
agregado familiar irrigava a sua terra ou utilizava insumos, tais como fertilizantes, pesticidas,<br />
arados, motobombas ou equipamento de fumigação. Definiu-se uma variável para indicar o tipo<br />
e a segurança relativa da posse da terra. No modelo, a posse da terra é considerada relativamente<br />
precária, se a terra foi adquirida por meio de uma ocupação informal, ou por meio de um<br />
<strong>em</strong>préstimo ou à base de arrendamento.<br />
Os agregados familiares distingu<strong>em</strong>-se também pelo tipo de produtos cultivados.<br />
Incluiram-se três variáveis binárias para indicar o cultivo de produtos alimentares básicos, de<br />
11 Fiz<strong>em</strong>os uma experiência com o número de m<strong>em</strong>bros, por género, com ensino pós-primário, como<br />
variáveis separadas, mas abandonámos esta abordag<strong>em</strong> porque muito poucas mulheres têm ensino pós-primário,<br />
especialmente na região norte.<br />
12<br />
Há evidência aponta para a existência de um diferencial de género para o rendimento relacionado<br />
com a educação <strong>em</strong> outros países. Para uma revisão da bibliografia pertinente, veja-se Schultz (1988).<br />
13<br />
Esta variável dá uma conta do número de fontes distintas de rendimentos no agregado familiar, e<br />
leva valores de um para quatro.<br />
14<br />
Também procurou-se incluir a área cultivada, <strong>em</strong> oposição à área cultivável, mas as duas variáveis<br />
estavam estreitamente correlacionadas (com um coeficiente de correlação de 0,93), uma vez que os agregados<br />
familiares tendiam a cultivar toda a terra que possuíam. De entre as duas alternativas, é preferível a referente à<br />
posse total da terra, principalmente porque a variável da área cultivada apenas é referida como uma proporção<br />
das terras possuídas referidas, com apenas quatro opções codificadas: menos da metade, metade, mais da<br />
metade, e totalidade. Além disso, a endogeneidade é menos probl<strong>em</strong>ática com a variável da posse da terra do<br />
que com a variável da área cultivada.<br />
162
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
15<br />
produtos hortícolas e produtos destinados ao comércio. Do mesmo modo, incluiram-se também<br />
16<br />
variáveis para o número de cajueiros, citrinos ou coqueiros, e outras árvores de fruta que os<br />
agregados familiares possuíam.<br />
Incluiu-se também uma variável para indicar a posse de gado por parte do agregado<br />
familiar. Para construir medidas de posse de animais focalizou-se a identificação dos agregados<br />
familiares que tinham pelo menos um número mínimo relevante de animais (de qualquer tipo).<br />
Depois de examinar os dados, definiu-se uma variável binária que tomou o valor de 1 se o<br />
número de um tipo particular de animais possuído pelo agregado familiar não representava<br />
menos de 75 por cento entre os agregados familiares que possuíam pelo menos um dos tipos de<br />
animais. 17<br />
(v) Características da comunidade e acesso aos serviços. A partir do módulo<br />
comunitário do MIAF, dispõe-se de um número de variáveis potenciais para reflectir o acesso<br />
do agregado familiar às infra-estruturas e aos serviços básicos. Por ex<strong>em</strong>plo, há variáveis para<br />
indicar se a aldeia onde vivia o agregado familiar tinha um banco, um mercado, um gabinete de<br />
assistência técnica agro-pecuária, um posto de correio, um telefone público, ou se a estrada,<br />
18<br />
pavimentada ou de terra batida, passava pela aldeia. Além disso, há também variáveis para<br />
indicar a existência de instituições de saúde na aldeia, incluindo um médico, uma enfermeira,<br />
uma parteira, um centro de saúde, um posto sanitário, ou um curandeiro tradicional. Inicialmente<br />
tratou-se de identificar os efeitos separados das instituições nas comunidades; porém, com os<br />
dados disponíveis, estes efeitos individuais não foram estimados com precisão. Por isso<br />
aguparam-se estes dados <strong>em</strong> dois índices de desenvolvimento infra-estrutural. O primeiro é um<br />
índice de infra-estrutura económica, o qual é a média simples de seis variáveis binárias indicando<br />
a existência das seis instituições seguintes na aldeia: banco, mercado,um gabinete de assistência<br />
técnica agro-pecuária, posto de correio, telefone público e estrada pavimentada ou de terra batida.<br />
O segundo é um índice de infra-estruturas de saúde, que é a média simples do quatro variáveis<br />
15 Para estas variáveis, seguiu-se a classificação utilizada pelo protocolo do inquérito do MIAF (veja-se<br />
Cavero, 1998), nos termos seguintes. Os produtos alimentares básicos são o milho, a mandioca, a mapira, a<br />
meixoeira, o arroz, o amendoim, a batata, a batata doce, o feijão, o gergelim e a xingoza. Os produtos hortícolas<br />
são a cebola, o tomate, todos os vegetais de folha verde, a abóbora, a ervilha, o quiabo, a cenoura, o inhame, o<br />
melão, o pimento, o alho, a beringela e o pepino. Os produtos comerciais são o algodão, o café, a cana do<br />
açúcar, o chá, o gengibre, o girassol, o sisal, a soja e o tabaco.<br />
16 O coco foi incluído na mesma variável <strong>em</strong> que foi incluída o citrino, por causa da sua importância<br />
económica nas zonas costeiras das províncias da Zambézia e de Inhambane. Todas as outras frutas foram<br />
incluídas na categoria “outra.”<br />
17<br />
Na prática, a percentag<strong>em</strong> de 75 por cento era aproximadamente igual à média para todas as espécies<br />
de animais.<br />
18<br />
O questionário feito à comunidade, donde estas variáveis foram extraídas, também fornece a<br />
distância entre a aldeia e estes serviços, mas não consideramos esta informação digna de confiança e, por isso,<br />
limitamos a nossa especificação às variáveis binárias que indicam a existência desses serviços na aldeia.<br />
163
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
binárias representando a existência na aldeia de um médico, uma enfermeira, um centro de saúde<br />
ou um posto sanitário.<br />
A fim de captar os efeitos de outros factores de saúde, incluiu-se também uma variável<br />
binária para indicar se a malária era tida como o principal probl<strong>em</strong>a de saúde, a nível da<br />
comunidade.<br />
Tabela 3.2.<br />
A estatística do sumário sobre as variáveis do modelo poderá ver-se na Tabela 3.1 e na<br />
3.3.3 Estimação do modelo<br />
A primeira questão quanto à estimação t<strong>em</strong> que ver com os valores que faltam no<br />
conjunto de dados para um número de variáveis explicativas. Mesmo que o número das<br />
observações ausentes para qualquer variável simples não seja grande, o conjunto de agregados<br />
familiares para os quais faltam dados para pelo menos uma variável aumenta com o número de<br />
variáveis explicativas. Como se está a usar um grande número de variáveis para predizer o<br />
consumo, optou-se por incluir observações com dados omissos, construindo um grupo de<br />
variáveis binárias que tomam o valor de um (1), se o agregado familiar não tiver dados para uma<br />
variável particular. Desta forma, reduz-se a probabilidade potencial de fazer a selecção de uma<br />
amostra viciada, e não se exclui informação útil de agregados familiares que têm, na realidade,<br />
dados válidos para a maior parte das variáveis explicativas<br />
Exist<strong>em</strong> também algumas preocupações com erros potenciais nas estimativas dos<br />
parâmetros, devido à endogeneidade ou às variáveis omitidas. Por ex<strong>em</strong>plo, poderia argumentar-<br />
se que os factores agro-ecológicos que determinam a produtividade da terra são omitidos da<br />
regressão, e portanto implicitamente incluídos no termo erro do modelo. Se estes factores for<strong>em</strong><br />
um determinante significativo dos padrões de vida, o termo erro não convergirá para zero <strong>em</strong><br />
limite de probabilidade, e as estimativas dos parâmetros para as variáveis explicativas incluídas<br />
serão inconsistentes.<br />
Poderia descrever-se outra variante deste probl<strong>em</strong>a aduzindo que alguns dos<br />
determinantes, por ex<strong>em</strong>plo, quer haja um mercado na aldeia quer o agregado familiar cultive<br />
produtos hortícolas quer cultive produtos para comercializar depend<strong>em</strong> dos factores agro-<br />
ecológicos. Como os factores omitidos são integrados pelo termo de erro, estes determinantes<br />
estão agora correlacionados com o termo de erro, e portanto as estimativas dos parâmetros serão<br />
inconsistentes.<br />
Uma solução para o probl<strong>em</strong>a potencial das variáveis omitidas é o uso de um modelo de<br />
efeitos fixos. Por ex<strong>em</strong>plo, um conjunto de variáveis binárias — uma por aldeia — controlará<br />
para todos os determinantes, observados e não observados, de b<strong>em</strong>-estar a nível da aldeia. Para<br />
os dados disponíveis e o nosso modelo, decidiu-se introduzir efeitos fixos a nível de distrito,<br />
contendo cada distrito várias comunidades da amostra. Como se pretende analisar as variáveis<br />
164
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
a nível da comunidade (no modelo rural <strong>em</strong> que os dados a nível da comunidade estão<br />
disponíveis), não se pode introduzir efeitos fixos a nível da comunidade. (Isto é assim porque o<br />
estimador dos efeitos fixos a nível da comunidade absorverá toda a informação a nível da<br />
comunidade, e impedirá a análise dos efeitos específicos de qualquer variável de interesse a nível<br />
da comunidade.) Exist<strong>em</strong> 128 distritos, e afirmamos que a inclusão dos efeitos fixos a nível de<br />
distrito controla a maior parte do vício potencial por causa dos valores omissos nos dados.<br />
Uma limitação potencial de um modelo, ao longo das linhas da equação 3.1, é que o efeito<br />
marginal de um determinante presente para o consumo per capita é o mesmo para todos os<br />
agregados familiares dentro do domínio da estimação. Porém, poderia objectar-se que o efeito<br />
marginal de uma variável depende de outras características do agregado familiar. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
o efeito marginal de um banco ou de um mercado na própria aldeia poderia depender dos níveis<br />
de educação dos m<strong>em</strong>bros do agregado familiar. Isto sugere uma generalização do modelo (3.1),<br />
<strong>em</strong> que alguns determinantes dos padrões de vida interactuam uns com os outros (para um<br />
ex<strong>em</strong>plo desta abordag<strong>em</strong>, veja-se Datt e Jolliffe, 1998).<br />
Porém, esta ampliação do modelo t<strong>em</strong> o seu preço. Os termos da interacção poderão ser<br />
altamente colineares com outras variáveis do modelo. Isto pode, muitas vezes, levar a estimativas<br />
de parâmetros altamente imprecisas e voláteis, o que pode, por sua vez, produzir resultados<br />
enganadores <strong>em</strong> simulações <strong>em</strong> que apenas um sub-grupo selecto de variáveis é alterada de cada<br />
vez. Assim, optou-se por introduzir apenas um grupo limitado de termos de interacção. Para o<br />
modelo urbano, estes termos reduz<strong>em</strong>-se à interacção das variáveis de alfabetização dos homens<br />
e das mulheres no agregado familiar, com o sector de <strong>em</strong>prego. Para o sector rural, além destes<br />
termos, pode-se incluir também interacções de variáveis de alfabetização com os índices de<br />
desenvolvimento infra-estrutural a nível da comunidade.<br />
Assim, a especificação inicial é o modelo (3.1) com os efeitos fixos a nível de distrito.<br />
Este modelo é estimado separadamente para os sectores rurais e urbanos, incluindo no modelo<br />
rural as variáveis a nível da comunidade que não foram coligidas para as zonas urbanas. Para o<br />
modelo rural, permite-se que os parâmetros vari<strong>em</strong> para a região norte, para a região central e<br />
para a região sul. No modelo urbano permite-se que os parâmetros vari<strong>em</strong> <strong>em</strong> dois domínios: nas<br />
cidades grandes e nas outras zonas urbanas. Para permitir que os parâmetros vari<strong>em</strong> por domínio<br />
e para facilitar o teste da hipótese para a igualdade de parâmetros, através de domínios diferentes,<br />
estimou-se o modelo rural fazendo interactuar as variáveis explicativas com as variáveis binárias<br />
para cada uma das três regiões. Aplica-se um processo análogo para as duas categorias de zonas<br />
urbanas. Esta abordag<strong>em</strong> também serve para os poucos casos <strong>em</strong> que optamos por não permitir<br />
que um parâmetro varie por domínio, porque a variável explicativa tinha uma variação<br />
extr<strong>em</strong>amente limitada dentro de um ou mais domínios. Por ex<strong>em</strong>plo, só há 14 agregados<br />
familiares na amostra de 1905 agregados familiares de toda a região rural norte, com uma mulher<br />
que completou o ensino primário de segundo grau (EP2) ou com um grau de escolaridade mais<br />
165
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
elevado. Em todas as zonas rurais, apenas 1,5 por cento dos agregados familiares na amostra<br />
tinham uma mulher que completou o EP2. Para variáveis s<strong>em</strong>elhantes a esta, não é possível<br />
identificar efeitos precisos de um domínio específico. Nestes casos, as estimativas preferidas<br />
permit<strong>em</strong> apenas um único efeito que não varia de um domínio para um outro. 19<br />
3.4 As estimativas preferidas<br />
Reduziu-se o número de parâmetros do modelo, suprimindo os termos de interacção que<br />
não foss<strong>em</strong> significativos ao nível de 10 por cento. Estes termos são suprimidos, na condição de<br />
que se aceite um teste Wald para a sua supressão conjunta (as estatísticas do teste para os<br />
20<br />
modelos rurais e urbanos encontram-se ao fim da Tabela 3,3 e da Tabela 3.4). Porém, enquanto<br />
este modelo reduzido é estatisticamente aceitável, o teste para a supressão conjunta de todos os<br />
termos de interacção é rejeitado tanto para o modelo rural como para o modelo urbano, a um<br />
nível de 10 por cento ou melhor de significância (para o modelo rural o nível de significância é<br />
0,097 e para o modelo urbano é 0,019).<br />
Também testou-se para a significância conjunta dos efeitos fixos a nível de distrito. A<br />
hipótese nula da insignificância dos efeitos fixos a nível de distrito (isto é, que cada um dos<br />
coeficientes para as variáveis binárias não seja significante diferente a zero) é obviamente<br />
rejeitada tanto para os modelos rurais como para os modelos urbanos (vejam-se a Tabela 3.3 e<br />
a Tabela 3.4). A especificação dos efeitos fixos é portanto mantida nas estimativas preferidas dos<br />
modelos.<br />
Investigou-se a possibilidade de heterogeneidade regional nos efeitos de diferentes<br />
determinantes sobre os padrões de vida. Assim, para o modelo rural, testou-se a igualdade de<br />
estimativas de parâmetros, na região norte, região central e região sul e conclui-se que esta<br />
hipótese de homogeneidade é vigorosamente rejeitada (Tabela 3.3). Também para o modelo<br />
urbano não existe apoio para a hipótese de estimativas de parâmetros idênticos para a cidade<br />
grande e para as outras zonas urbanas (Tabela 3.4).<br />
As estimativas de parâmetros preferidos foram também submetidas a diagnósticos<br />
ulteriores de colinearidade. Porém, os factores de inflação de variância para os parâmetros não<br />
21<br />
suger<strong>em</strong> que isto seja preocupante. Testes diagnósticos para observações de influência (usando<br />
19 As variáveis que controlam para os dados que faltam entre as variáveis explicativas também não<br />
foram incluídas nas interacções com as variáveis binárias para cada domínio.<br />
20 Nestes e nos testes subsequentes, usamos uma matriz de variância corrigida para os efeitos do<br />
desenho da amostra, permitindo assim tanto a natureza estratificada como a natureza aglomerada da nossa<br />
amostra.<br />
21<br />
Os factores mais altos de inflação da variância para os modelos rurais e para os modelos urbanos<br />
foram 21,73 e 18,97, respectivamente (com a excepção das variáveis binárias para a região central e para a<br />
região norte no modelo rural).<br />
166
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
estatísticas dfbeta) também confirmam que as estimativas de parâmetros não são indevidamente<br />
influenciadas por um pequeno sub-grupo de observações. As estimativas finais para o modelo<br />
urbano pod<strong>em</strong> ver-se na Tabela 3.3, com os resultados para o modelo rural presentes na Tabela<br />
3.4. Segue-se uma discussão pormenorizada dos resultados de regressão, começando pelo modelo<br />
rural.<br />
3.4.1 Determinantes do consumo e da pobreza nas zonas rurais<br />
A Tabela 3.3 apresenta as estimativas dos parâmetros e as estatísticas para os modelos<br />
2<br />
rurais para cada uma das três regiões. O poder explicativo do modelo é bom, com um R de<br />
0,538. A significância estatística das várias estimativas de parâmetros varia muito, tanto nas<br />
variáveis dentro de uma região como nas regiões para as variáveis individuais. Com apenas<br />
algumas excepções, os sinais nos parâmetros são como se esperava, e as magnitudes relativas dos<br />
parâmetros também são razoáveis. Note-se que, como a variável dependente está expresso numa<br />
forma do logaritmo natural, os coeficientes da regressão estimada med<strong>em</strong> a mudança de<br />
percentag<strong>em</strong> no consumo per capita com a mudança de uma unidade na variável independente.<br />
Passa-se agora a uma discussão mais profunda dos resultados da análise de regressão, por<br />
categoria das variáveis explicativas, começando com as variáveis d<strong>em</strong>ográficas.<br />
D<strong>em</strong>ografia<br />
Dada a forte relação negativa entre o tamanho do agregado familiar e o consumo per<br />
capita, já notado no Capítulo 2, não é inteiramente surpreendente que as estimativas dos<br />
parâmetros sejam negativas, e altamente significativas, para as seis variáveis que med<strong>em</strong> o<br />
número de pessoas no agregado familiar, separadas por idade e por género. Porém, é<br />
surpreendente que os coeficientes sejam mais negativos para os adultos do agregado familiar do<br />
que para as crianças, um resultado que é consistente <strong>em</strong> todas as três regiões. Isto é, de acordo<br />
com as estimativas de regressão, sendo as outras variáveis iguais, um adulto adicional no<br />
agregado familiar contribuirá para redução do consumo per capita de uma maneira mais<br />
acentuada do que uma criança. Isto é contra-intuitivo, especialmente à luz da informação<br />
descritiva sobre a pobreza e as razões de dependência apresentadas anteriormente.<br />
O coeficiente estimado no termo quadrático para o tamanho do agregado familiar é<br />
positivo e significativo, sugerindo uma relação <strong>em</strong> forma de U entre o tamanho do agregado<br />
familiar e o consumo per capita, com a parte inferior do U correspondendo a um agregado<br />
familiar de 10 a 12 pessoas, aproximadamente. Isto implica que, <strong>em</strong> média, e sendo as outras<br />
variáveis iguais, nos agregados familiares com o tamanho de menos de 10 a 12 pessoas, a adição<br />
de outra pessoa ao agregado familiar reduz o consumo per capita, mas a uma taxa decrescente.<br />
Como só três por cento dos agregados familiares, segundo a amostra do MIAF, têm mais de 10<br />
167
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
m<strong>em</strong>bros, e só um por cento t<strong>em</strong> mais de 12 m<strong>em</strong>bros, não é necessário (e não deveria sê-lo)<br />
prestar muito atenção à parte ascendente da curva <strong>em</strong> forma de U.<br />
Os resultados apresentados acima depend<strong>em</strong> porém do pressuposto implícito respeitante<br />
às economias do tamanho do agregado familiar <strong>em</strong> matéria de consumo (veja-se a discussão do<br />
capítulo 2). O uso do consumo per capita como processo de medição do b<strong>em</strong>-estar implica,<br />
implicitamente, um pressuposto da inexistência de economias do tamanho do agregado familiar.<br />
A fim de pôr a questão sobre quão sensíveis são os resultados <strong>em</strong> relação a este pressuposto,<br />
estimou-se também o modelo preferido, usando o consumo “por adulto equivalente”, utilizando<br />
a elasticidade do tamanho na qual o tamanho do agregado familiar e a pobreza são quase<br />
ortogonais. Isto é, se c j é o consumo de um agregado familiar e h j é o tamanho do agregado<br />
2<br />
familiar, a variável dependente é ln ((c j / h j ), sendo 2=1,0 para o caso de per capita e 2=0,4 para<br />
a alternativa (veja-se o Capítulo 2). No modelo alternativo, os coeficientes para o número de<br />
pessoas existentes no agregado familiar tornaram-se muito menores, indo de -0,063 a somente<br />
-0,147. A maioria das outras estimativas dos parâmetros no modelo não mudaram muito no<br />
modelo alternativo. As principais excepções foram os parâmetros para as outras variáveis<br />
d<strong>em</strong>ográficas: as variáveis para a idade do chefe do agregado familiar tornaram-se mais<br />
negativas, e o termo quadrático para o tamanho do agregado familiar permaneceu positivo, mas<br />
eram muito menores <strong>em</strong> cada uma das três regiões.<br />
A idade do chefe do agregado familiar não t<strong>em</strong> um efeito significativo no consumo per<br />
capita <strong>em</strong> qualquer das regiões. Porém, o género do chefe do agregado familiar t<strong>em</strong> um efeito<br />
significativo <strong>em</strong> todas as regiões, com os agregados familiares com um chefe do sexo masculino<br />
tendo um nível do consumo per capita mais alto do que os agregados familiares com um chefe<br />
do sexo f<strong>em</strong>inino. A magnitude do efeito varia de 4 por cento na região sul para 9 por cento na<br />
região central e para 13 por cento na região norte.<br />
Convém l<strong>em</strong>brar que no perfil de pobreza se refere que, nas zonas rurais, os agregados<br />
familiares com um chefe do sexo f<strong>em</strong>inino têm menor probabilidade de ser pobres (e<br />
extr<strong>em</strong>amente pobres) do que os agregados familiares com um chefe do sexo masculino, para as<br />
três medidas de pobreza. Embora possa parecer que os resultados de regressão são inconsistentes<br />
com o perfil de pobreza, esse não é o caso, e isso é importante para compreender por que e quais<br />
são as suas implicações políticas. A principal razão é que a análise de regressão controla os níveis<br />
das outras variáveis, o que não acontece com o perfil de pobreza. Assim, os coeficientes de<br />
regressão consiste <strong>em</strong> comparar os agregados familiares que têm um chefe do sexo masculino<br />
ou um chefe do sexo f<strong>em</strong>inino e que têm o mesmo número de m<strong>em</strong>bros por agregado familiar,<br />
a mesma quantia de terra cultivável, os mesmos níveis de educação, etc. Porém, os agregados<br />
familiares médios, com um chefe do sexo masculino ou do sexo f<strong>em</strong>inino, não têm os mesmos<br />
valores para as mesmas co-variáveis. Por ex<strong>em</strong>plo, os agregados familiares rurais chefiados por<br />
mulheres tend<strong>em</strong> a ser menores do que os agregados familiares com um chefe do sexo masculino<br />
168
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
(3,7 m<strong>em</strong>bros contra 4,9 m<strong>em</strong>bros, <strong>em</strong> média), e os agregados familiares menores tend<strong>em</strong> a ser<br />
mais pobres. S<strong>em</strong> dúvida, exist<strong>em</strong> outras variáveis que confund<strong>em</strong> o efeito do género do chefe<br />
do agregado familiar na análise do perfil de pobreza bivariada.<br />
O que é que este contraste entre o perfil de pobreza e os resultados de regressão implicam<br />
para o estabelecimento de políticas orientadas para os agregados familiares chefiados por<br />
mulheres <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>? A resposta depende do tipo de medida política <strong>em</strong> questão. Se se<br />
pensa <strong>em</strong> usar o agregados familiares com um chefe do sexo f<strong>em</strong>inino como um único indicador<br />
para o estabelecimento de um programa de assistência pecuniária orientado para os pobres, então<br />
a resposta correcta é dada pelo perfil da pobreza “incondicional”, o qual sugere que o agregado<br />
familiar com um chefe do sexo f<strong>em</strong>inino não é um bom indicador de pobreza. Mas se,<br />
alternativamente, o propósito da intervenção da medida política for corrigir um factor<br />
responsável por padrões de níveis de vida mais baixos, os factores identificados por uma análise<br />
multivariada fornec<strong>em</strong> a resposta correcta, <strong>em</strong>bora neste caso o agregado familiar com um chefe<br />
do sexo f<strong>em</strong>inino não seja particularmente do agrado da medida política.<br />
O número de pessoas com incapacidade física no agregado familiar t<strong>em</strong> o previsível sinal<br />
negativo <strong>em</strong> todas as regiões, mas o impacto só é significativo no sul. Os resultados do perfil de<br />
pobreza suger<strong>em</strong> uma associação entre a pobreza e a migração causada pela guerra. Na análise<br />
de regressão dos determinantes da pobreza este efeito só é estatisticamente significativo na região<br />
central. A variável d<strong>em</strong>ográfica final é a que se refere ao número de mães jovens (mulheres entre<br />
os 12 e os 49 anos que tiveram o primeiro filho antes dos 16 anos) existentes no agregado<br />
familiar, facto que está também associado com níveis mais altos de pobreza no perfil de pobreza.<br />
Os coeficientes de regressão para esta variável são um pouco instáveis, com o esperado<br />
coeficiente negativo no norte (significativo ao nível de 10 por cento), um coeficiente significativo<br />
(também ao nível de 10 por cento) e positivo, da mesma magnitude, no centro, e um efeito<br />
irrelevante no sul.<br />
Educação<br />
Entre as variáveis da educação de adultos, a maioria delas têm a esperada relação positiva<br />
com o consumo per capita. Para a alfabetização dos adultos, os resultados são mais acentuados<br />
no sul - tanto <strong>em</strong> termos de magnitude dos coeficientes como <strong>em</strong> termos da significância<br />
estatística - e decresc<strong>em</strong> à medida que se avança para o norte. A alfabetização da mulher, <strong>em</strong><br />
particular, t<strong>em</strong> um grande impacto no consumo per capita: o coeficiente para a alfabetização da<br />
mulher no sul é três vezes maior do que o coeficiente para a alfabetização do hom<strong>em</strong>, e na região<br />
central o coeficiente da alfabetização da mulher é duas vezes maior do que o coeficiente da<br />
alfabetização do hom<strong>em</strong>. O coeficiente negativo para a alfabetização da mulher no norte não é<br />
significativamente diferente de zero, mas mesmo o zero seria um pouco difícil de explicar, dado<br />
o número de estudos que mostraram as contribuições positivas de alfabetização básica.<br />
169
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Embora o ensino primário (nível de EP2) tanto do hom<strong>em</strong> adulto como da mulher adulta<br />
tenham os esperados sinais positivos, nenhuma dessas variáveis é estatisticamente significativa<br />
ao nível de 10 por cento. Porém, a variável para o nível máximo de educação de qualquer adulto<br />
m<strong>em</strong>bro do agregado familiar é positivo e significativo nas três regiões. Isto indica que educação<br />
adicional para pelo menos um dos m<strong>em</strong>bros do agregado familiar t<strong>em</strong> um efeito positivo para o<br />
consumo per capita, independent<strong>em</strong>ente do efeito do número de m<strong>em</strong>bros do agregado familiar<br />
alfabetizados e educados ao nível de EP2. O efeito positivo e significativo do nível máximo de<br />
educação também envolve o efeito do ensino primário (EP2). Para confirmar isto, voltou-se a<br />
estimar o modelo, excluindo a variável do nível máximo de educação. Ao fazer isso, o<br />
coeficiente tanto do hom<strong>em</strong> como da mulher com o ensino primário (EP2) tornou-se significativa<br />
ao nível de 5 por cento ou superior. 22<br />
Emprego e Fontes de Rendimento<br />
As três variáveis para o número de adultos <strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> diferentes sectores da<br />
economia mostram o padrão esperado. A maioria dessas variáveis são estatisticamente<br />
significativas, e todas são positivas, indicando que, sendo as outras variáveis iguais, o <strong>em</strong>prego<br />
do adulto, seja de que natureza for, leva a um maior consumo per capita do que des<strong>em</strong>prego ou<br />
23<br />
do trabalho não r<strong>em</strong>unerado <strong>em</strong> casa. O ganho incr<strong>em</strong>ental no consumo per capita atinge o seu<br />
ponto mais baixo para os que trabalham na agricultura ou na pesca, e atinge o seu ponto mais alto<br />
para os que trabalham “noutros” sectores, os quais consist<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral nos serviços. A magnitude<br />
de alguns coeficientes, principalmente para “outros” sectores, deverá ser tratada com certo<br />
cuidado, uma vez que apenas uma pequena proporção da força de trabalho rural trabalha fora da<br />
agricultura, o que implica que as estimativas para outros sectores estão baseadas <strong>em</strong><br />
relativamente poucas observações. O coeficiente para a diversificação das fontes de rendimento<br />
é positivo e estatisticamente significativo apenas na região sul.<br />
Agricultura e Pecuária<br />
Entre as variáveis relacionadas com a agricultura e com a pecuária, a área da posse da<br />
terra (<strong>em</strong> forma de logaritmo natural) só é estatisticamente significativa no norte. Mesmo nessa<br />
região, o efeito é pequeno, pois o aumento de um por cento de terra cultivável está associado ao<br />
22 O parâmetro estimado para ensino primário (EP2) de homens é 0,10, com uma estatística de t de 3,5,<br />
e o parâmetro estimado para ensino primário (EP2) de mulheres é 0,15, com uma estatística de t de 2,1.<br />
23 Convém l<strong>em</strong>brar que, de acordo com o Capítulo 2, o protocolo do inquérito do MIAF tratou os<br />
trabalhadores não r<strong>em</strong>unerados de uma forma diferente, dependendo do tipo de trabalho que faziam. Se<br />
trabalhavam na agricultura, considerava-se que estavam <strong>em</strong>pregados no sector agrícola. Porém, se diziam que<br />
faziam trabalho caseiro para a sua própria família (incluindo acarretar água ou lenha, cozinhar, etc.), não eram<br />
considerados parte da força de trabalho, e, por conseguinte, não eram considerados <strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> qualquer<br />
sector.<br />
170
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
aumento de 0,05 por cento <strong>em</strong> consumo per capita. Estudos recentes feitos pelo Ministério da<br />
Agricultura e Pescas e pela Michigan State University, utilizando dados colhidos no norte de<br />
<strong>Moçambique</strong>, d<strong>em</strong>onstraram que o tamanho da terra é um determinante importante do<br />
rendimento per capita (veja-se, por ex<strong>em</strong>plo, Marrule et al., 1998; Tschirley e Weber, 1994;<br />
Ministério da Agricultura e Michigan State University, 1994). As nossas conclusões suger<strong>em</strong><br />
que, <strong>em</strong>bora pareça haver uma relação entre o tamanho da terra e os níveis de consumo no norte,<br />
o impacto do aumento do tamanho da terra é fraco. Além disso, os resultados suger<strong>em</strong> que a<br />
associação entre a terra e o consumo poderá não ser aplicável ao resto do país. 24<br />
O uso de algum equipamento ou de irrigação, o cultivo de produtos que são estritamente<br />
comerciais (o algodão, o tabaco, etc.), e o número de cajueiros (<strong>em</strong> forma logarítmica) têm os<br />
esperados coeficientes positivos, mas nenhum é estatisticamente significativo ao nível de 10 por<br />
cento. O cultivo de hortícolas t<strong>em</strong> um coeficiente negativo e também não é estatisticamente<br />
significativo. O mesmo acontece com a variável para a segurança da posse de terra.<br />
A variável para os citrinos e para os coqueiros só t<strong>em</strong> um coeficiente estatisticamente<br />
significativo na região sul do país, onde existe a probabilidade de captar a importância das<br />
laranjas, tangerinas e cocos, na província de Inhambane. Os coeficientes para as “outras árvores<br />
de frutas” são também positivos e significativos na região central e na região sul.<br />
As variáveis binárias representando a posse de um número elevado de animais têm<br />
coeficientes positivos e significativos nas três regiões do país. Os coeficientes também são altos,<br />
indicando que a posse de um número alto de animais está associada com um consumo per capita<br />
que vai de 9 a 13 por cento. 25<br />
Infra-Estrutura e Outras Características das Comunidades<br />
Os coeficientes estimados para as duas variáveis com índice de infra-estrutura construídas<br />
à base de dados a nível da comunidade (um para a infra-estrutura económica geral e a outra para<br />
os serviços de saúde), têm ambos os sinais positivos esperados, mas nenhum deles é<br />
estatisticamente significativo <strong>em</strong> qualquer região. Quando a variável de infra-estrutura<br />
económica interactua com a variável do número de mulheres alfabetizadas no agregado familiar,<br />
o coeficiente é positivo e significativo, sugerindo que é necessário pelo menos um fundo<br />
educacional básico para aproveitar dos benefícios da infra-estrutura económica melhorada. A<br />
24 Note-se que este resultado deveria ser considerado com cuidado, l<strong>em</strong>brando que a área de machamba<br />
no inquérito do MIAF não foi medida, mas simplesmente referida pelos agregados familiares da amostra, que<br />
têm pouca razão saber o tamanho das suas machambas, particularmente dada o baixo nível do uso de insumos<br />
agrícolas.<br />
25 Vale a pena notar que esta variável é provavelmente um pouco endógena, e a causalidade poderá<br />
funcionar de duas maneiras: a posse de animais poderá fazer aumentar o rendimento e o consumo do agregado<br />
familiar, por meio da venda e do consumo dos animais e dos produtos deles derivados, mas os agregados<br />
familiares mais prósperos poderão também comprar gados como uma forma de investimento.<br />
171
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
outra variável a nível de comunidade, com uma variável binária a indicar se a malária foi referida<br />
como o probl<strong>em</strong>a mais importante da comunidade, t<strong>em</strong> um coeficiente estimado não<br />
significativamente diferente de zero, <strong>em</strong> qualquer das regiões.<br />
3.4.2 Determinantes do consumo e da pobreza nas zonas urbanas<br />
A Tabela 3.4 apresenta os resultados da estimação dos modelos urbanos dos<br />
determinantes do consumo real per capita, estimados separadamente para as cidades grandes<br />
(Maputo, Matola, Beira e Nampula) e para as pequenas zonas urbanas. O poder explicativo do<br />
2<br />
modelo é bom, com um R de 0,502. Os resultados para coeficientes específicos são discutidos<br />
abaixo.<br />
D<strong>em</strong>ografia<br />
Tal como nos modelos rurais, todos os coeficientes sobre as variáveis para o tamanho do<br />
agregado familiar e a distribuição da idade são altos, negativos e estatisticamente significativos;<br />
o termo quadrático para o tamanho do agregado familiar é positivo e significativo. Mais uma vez<br />
vê-se o resultado contra-intuitivo de que os coeficientes para os adultos são mais negativos do<br />
que os coeficientes para os m<strong>em</strong>bros do agregado familiar que têm menos de 18 anos de idade.<br />
Tal como nas zonas rurais, quando o modelo é reespecificado para permitir que se consider<strong>em</strong><br />
as economias do tamanho do agregado familiar, os coeficientes para a composição da idade e do<br />
género do agregado familiar permanec<strong>em</strong> negativos, mas são muito menores. Também nos<br />
modelos urbanos que tiveram <strong>em</strong> consideração as economias do tamanho do agregado familiar,<br />
a maioria dos parâmetros não mudaram <strong>em</strong> relação ao modelo especificado <strong>em</strong> termos de per<br />
capita, com a excepção da idade do chefe de família e dos termos quadráticos para o tamanho<br />
do agregado familiar, como aconteceu com a reestimação dos modelos rurais.<br />
Nas cidades grandes, os agregados familiares, <strong>em</strong> que os chefes de família são mais<br />
velhos, tend<strong>em</strong> a ser ligeiramente mais pobres, com o consumo per capita crescendo 0,4 por<br />
cento para cada ano de idade adicional. Nas zonas urbanas pequenas não existe uma relação<br />
significativa entre a idade do chefe do agregado familiar e o consumo per capita. Em todas as<br />
zonas urbanas, os agregados familiares chefiados por mulher são significativamente mais pobres<br />
do que os agregados familiares chefiados por um hom<strong>em</strong>. Quando todas as outras variáveis são<br />
iguais, o consumo per capita de um agregado familiar urbano chefiado por um hom<strong>em</strong> é 15 a 18<br />
por cento mais alto do que o do agregado familiar chefiado por uma mulher. Para as zonas<br />
urbanas, este resultado poderá parecer corroborar os resultados observados no perfil de pobreza<br />
do Capítulo 2, o qual mostrou, numa análise bivariada, que nas zonas urbanas os agregados<br />
familiares chefiados por uma mulher têm mais alta probabilidade de ser pobres do que os<br />
agregados familiares chefiados por um hom<strong>em</strong>.<br />
172
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
As variáveis para o número de pessoas com incapacidades físicas e para o número de<br />
migrantes da guerra no agregado familiar não parec<strong>em</strong> ser determinantes significativos do<br />
consumo per capita. A variável para o número de mulheres que tiveram o primeiro filho antes<br />
da idade de 16 anos somente é significativa, e negativa, nas cidades grandes.<br />
Educação<br />
Enquanto todos os coeficientes estimados para as variáveis de educação têm os sinais<br />
positivos esperados, eles não são s<strong>em</strong>pre significativos. Por ex<strong>em</strong>plo, a alfabetização do hom<strong>em</strong><br />
nas cidades grandes não é uma variável explicativa significativa, n<strong>em</strong> o é a alfabetização da<br />
mulher nas pequenas zonas urbanas. Pelo contrário, nas pequenas zonas urbanas, sendo as outras<br />
variáveis constantes, a presença de um hom<strong>em</strong> alfabetizado adicional faz aumentar o consumo<br />
26<br />
per capita <strong>em</strong> 10 por cento. O coeficiente para a mulher alfabetizada, nas cidades grandes, é<br />
extr<strong>em</strong>amente grande, sugerindo um aumento <strong>em</strong> consumo per capita de 25 por cento associado<br />
com a transformação de uma mulher analfabeta, previamente, numa mulher alfabetizada.<br />
Os coeficientes estimados para os que completaram o ensino primário de segundo grau<br />
(EP2) exist<strong>em</strong>, como se esperava, para três <strong>em</strong> cada quatro casos. Os coeficientes para a mulher<br />
adulta com o ensino primário completo (EP2) são positivos e significativos nos dois modelos.<br />
O coeficiente correspondente para os homens adultos é positivo nos dois modelos, mas só é<br />
significativo no modelo para as pequenas zonas urbanas. Em cada um dos casos, o coeficiente<br />
para as mulheres com o EP2 é maior do que para os homens. Como no caso dos modelos rurais,<br />
a variável para o nível máximo de educação de qualquer m<strong>em</strong>bro do agregado familiar é grande<br />
e significativa <strong>em</strong> ambos os modelos urbanos. Como acontece com o caso do modelo rural, a<br />
falta de significância de algumas das variáveis relacionadas com a educação é <strong>em</strong> parte devida<br />
ao facto de o seu efeito ser compensado pelo efeito significativo da variável com um nível<br />
máximo de educação.<br />
Emprego e Fontes de Rendimento<br />
Nas zonas urbanas, os coeficientes para o <strong>em</strong>prego nos sectores da agricultura, da<br />
indústria ou da construção civil não são estatisticamente significativos, o que é um resultado<br />
surpreendente. Por outro lado, o <strong>em</strong>prego no sector dos serviços (“outros”) é significativo,<br />
positivo e razoavelmente grande tanto nas grandes zonas urbanas como nas pequenas. A<br />
diversificação das fontes de rendimento não acrescenta qualquer poder explicativo independente<br />
ao modelo, quando os coeficientes estimados são essencialmente zero.<br />
26<br />
Note-se que, dado que o modelo também controla para o tamanho do agregado familiar, a variável<br />
mede verdadeiramente o efeito no consumo per capita de um hom<strong>em</strong> alfabetizado existente no agregado<br />
familiar, <strong>em</strong> contraste com esse hom<strong>em</strong> sendo analfabeto.<br />
173
Agricultura e Pecuária<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Entre as variáveis na agricultura e na pecuária, o tamanho da terra cultivada não é um<br />
determinante significativo no consumo per capita nas grandes cidades, mas é-o nas pequenas<br />
zonas urbanas. O uso de equipamento agrícola ou de irrigação t<strong>em</strong> o esperado sinal positivo e<br />
um coeficiente razoavelmente grande, mas o coeficiente não é significativo ao nível de 10 por<br />
cento. As variáveis relacionadas com o estado da posse da terra não funcionaram como se<br />
esperava: o coeficiente não é significativo no modelo das cidades grandes, e t<strong>em</strong> um sinal<br />
negativo perverso no modelo das pequenas zonas urbanas.<br />
Em virtude da escassez de cajueiros e árvores de fruta nas zonas urbanas, usou-se uma<br />
variável mais agregada para os produtos de árvores no modelo urbano. A variável do logaritmo<br />
do número total de árvores de fruta e do cajueiro é negativa, mas não significativa, no modelo<br />
das cidades grandes, e é positivo e significativo no modelo das pequenas zonas urbanas.<br />
Finalmente, tal como acontece com as zonas rurais, a posse de “uma quantia crítica” de animais<br />
parece estar associada a um consumo significativo per capita mais alto.<br />
3.5 Simulações de pobreza<br />
3.5.1 Metodologia<br />
Tendo estimado os modelos de consumo, passa-se agora à tarefa de gerar predições de<br />
pobreza. Os pormenores formais da metodologia para gerar estas predições poderão ver-se <strong>em</strong><br />
Datt et al. (1998), mas pod<strong>em</strong>-se ilustrar as etapas-chave do processo para o índice da incidência<br />
de pobreza da maneira que se segue.<br />
Utilizando os parâmetros estimados ( ˆ$ ) do modelo preferido, primeiro geram-se as<br />
ĉ j<br />
predições do consumo per capita ( ) para cada agregado familiar j como:<br />
ĉ j ' e ˆ$ ) x j<br />
Correspondendo a cada nível de consumo predito, existe a probabilidade do agregado familiar<br />
ser pobre (p ) que é dado por:<br />
0j<br />
ˆp 0j ' prob(lnĉ j < lnz) ' prob(0 j < lnz & ˆ$ ) x j ) ' M (lnz & ˆ$ ) x j )/ ˆF<br />
<strong>em</strong> que M é a função de distribuição padronizada normal, F é o erro padrão da regressão, e ^<br />
indica os valores estimados.<br />
Baseado no consumo predito, pode-se, naturalmente, construir uma variável binária para<br />
classificar o agregado familiar como pobre ou não pobre. Mas o consumo predito é apenas a<br />
174<br />
(3.4)<br />
(3.5)
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
estimativa de um ponto que t<strong>em</strong> o seu próprio erro de predição ou de projecção. Assim, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, mesmo que o consumo predito estivesse acima da linha de pobreza para um dado<br />
agregado familiar, existe uma probabilidade não-zero (estimável) de que o valor verdadeiro do<br />
consumo predito do agregado familiar esteja abaixo da linha de pobreza. Portanto, não é correcto<br />
tratar o consumo predito como uma variável não-estocástica, e, por conseguinte, computa-se a<br />
probabilidade de ser pobre <strong>em</strong> associação com qualquer dado nível de consumo predito.<br />
Finalmente, uma média ponderada das probabilidades de o agregado familiar ser pobre<br />
resulta no índice de incidência da pobreza a nível nacional. Pode-se chegar da mesma maneira<br />
às estimativas de profundidade (índice do pobreza diferencial) e de severidade da pobreza (índice<br />
do quadrado de pobreza diferencial) (veja-se Datt et al., 1998).<br />
As simulações de pobreza que abaixo considerados são baseadas nas estimativas dos<br />
parâmetros do modelos preferidos. A precaução do costume aplica-se aos resultados desta análise<br />
de simulação. As simulações pressupõ<strong>em</strong> que as mudanças consideradas nas variáveis do<br />
determinante não afectam os parâmetros do modelo n<strong>em</strong> outras variáveis exógenas. Embora este<br />
seja um pressuposto plausível para mudanças incr<strong>em</strong>entais, ele exige uma interpretação mais<br />
cautelosa para as simulações que envolv<strong>em</strong> “grandes” mudanças de políticas.<br />
3.5.2 Simulações<br />
Considere-se agora um conjunto de simulações de políticas. O objectivo destas<br />
simulações é dupla. A primeira é ilustrar o impacto que as mudanças nos níveis dos<br />
determinantes de pobreza têm sobre os níveis de pobreza. Onde as variáveis explicativas<br />
estiver<strong>em</strong> intrinsecamente relacionadas umas com as outras, é as vezes difícil traçar a relação<br />
entre o determinante e a variável resultante, apenas por meio da análise dos coeficientes de<br />
regressão. Por ex<strong>em</strong>plo, para os agregados familiares que não têm um adulto que tenha concluído<br />
o ensino primário de segundo grau (a maioria dos agregados familiares na amostra do MIAF),<br />
o aumento do número de mulheres adultas com EP2 implicará também o aumento do nível<br />
máximo de educação obtido por qualquer adulto no agregado familiar. Estas são duas variáveis<br />
separadas nos modelos de determinantes, e o efeito no consumo per capita nestes agregados<br />
familiares será a soma dos dois efeitos. Poderá também haver implicações para o número de<br />
27<br />
pessoas alfabetizadas no agregado familiar. A interpretação dos resultados de regressão torna-se<br />
também menos transparente com a presença de variáveis de interacção.<br />
27 Podiam evitar-se estas complicações pressupondo que uma mudança <strong>em</strong> dadas variáveis não implica<br />
mudanças noutras variáveis. No ex<strong>em</strong>plo utilizado aqui, podia pressupor-se que já existe alguém no agregado<br />
familiar que completou o EP2, e que existe alguém alfabetizado que chegará a completar o ensino primário<br />
(EP2). Porém, estas pressuposições diverg<strong>em</strong> muitas vezes consideravelmente da realidade, e as simulações<br />
fornec<strong>em</strong> uma forma simples de evitar adopção de pressupostos simplificadores que sejam desnecessários e<br />
irrealistas.<br />
175
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
O segundo objectivo das simulações é d<strong>em</strong>onstrar, numa forma relativamente não técnica,<br />
os efeitos que as várias políticas poderão ter no consumo e na pobreza. Por esta razão, focaliza-se<br />
sobre a alteração de variáveis que sejam susceptíveis de mudança, pelo menos até certo ponto,<br />
por meio das políticas pública.<br />
Antes de proceder às simulações, é necessário estabelecer um ponto de referência ou<br />
simulação de base. Isto é assim por que os modelos <strong>em</strong>píricos dos determinantes de pobreza não<br />
são preditores perfeitos do consumo per capita ou da pobreza. Como tal, seria incorrecto<br />
comparar o consumo real e os níveis de pobreza referidos no capítulo 2 com níveis simulados.<br />
Em vez disso, o ponto de referência correcto para os níveis de consumo médio é a média dos<br />
ĉ j<br />
valores de consumo per capita preditos ( ) a partir das regressões dos determinantes,<br />
utilizando os valores originais de x , através Equação 3.5. Também para os níveis de pobreza, os<br />
j<br />
pontos de referência correctos são os valores médios calculados através da utilização da Equação<br />
3.6 e do x original. A Tabela 3.5 compara os níveis do consumo e de pobreza verdadeiros (reais)<br />
j<br />
com os resultados das simulações de base ou pontos de referência. Através desta tabela, v<strong>em</strong>os<br />
que o consumo médio predito e as medidas de pobreza se aproximam dos valores verdadeiros<br />
calculados a partir dos dados do MIAF.<br />
Os resultados das simulações são apresentados na Tabela 3.6 e na Tabela 3.7. A Tabela<br />
3.6 apresenta resultados para as populações rurais, urbanas e nacionais, mostrando a mudança<br />
no consumo real médio per capita, resultantes da mudança simulada nas variáveis independentes.<br />
A Tabela 3.6 mostra também as mudanças nas três medições de pobreza correspondentes à<br />
mudança no consumo. As medições de pobreza captam os efeitos sobre a distribuição que<br />
resultam das mudanças no consumo nas simulações. A Tabela 3.7 t<strong>em</strong> uma informação análoga,<br />
mas focaliza somente a sub-grupo de agregados familiares que foram afectados por uma<br />
simulação particular.<br />
Um resultado que é comum a quase todas as simulações é que a mudança de percentag<strong>em</strong><br />
nos índices de pobreza é maior para as ordens mais altas de P . Isto é, <strong>em</strong> termos de<br />
"<br />
percentagens, a redução na profundidade da pobreza (medida pelo índice de pobreza diferencial)<br />
é geralmente maior do que a redução na incidência de pobreza, e a redução na severidade de<br />
pobreza (medida pelo índice do quadrado de pobreza diferencial) é geralmente maior do que o<br />
índice de pobreza diferencial. Isto é assim, pelo menos <strong>em</strong> parte, devido ao facto de muitas das<br />
simulações fazer<strong>em</strong> subir os níveis de consumo do pobre, mas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre transferir<strong>em</strong> os<br />
pobres do nível abaixo da linha de pobreza para o nível acima da linha de pobreza. Isto, por sua<br />
vez, poderá ser assim devido ao facto de o aumento no consumo ser pequeno, ou devido ao facto<br />
de o agregado familiar, logo à partida, estar muito abaixo da linha de pobreza, ou devido a ambas<br />
as causas. Porém, o melhoria do b<strong>em</strong>-estar dos que permanec<strong>em</strong> abaixo da linha de pobreza<br />
176
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
continua a ser um el<strong>em</strong>ento importante, especialmente num país como <strong>Moçambique</strong>, <strong>em</strong> que dois<br />
terços da população estão abaixo da linha de pobreza.<br />
Quando se examinam os resultados da simulação, é útil ter <strong>em</strong> mente o seguinte. A<br />
magnitude da mudança no consumo médio e na pobreza <strong>em</strong> cada uma das simulações é atribuída<br />
a três factores: a relação quantitativa entre o determinante da pobreza e o consumo per capita<br />
(isto é, o sinal e a magnitude dos coeficientes de regressão); a proporção da população afectada<br />
pela simulação; e o tamanho da mudança considerada no determinante da pobreza.<br />
Educação<br />
Nas Simulações 1 - 5, apresentam-se os efeitos do aumento dos níveis educacionais no<br />
consumo per capita e na pobreza. As Simulações 1 e 2 focam a alfabetização básica, enquanto<br />
as Simulações 3 - 5 exploram os efeitos das taxas mais altas do curso completo do ensino<br />
primário de segundo grau (EP2). Para a Simulação 1 aumentou-se por um o número de homens<br />
no agregado familiar que saiba ler e escrever; esta mudança só se aplica aos agregados familiares<br />
<strong>em</strong> que há um hom<strong>em</strong> que não saiba ler n<strong>em</strong> escrever. Dezoito por cento da população urbana<br />
viv<strong>em</strong> nesses agregados familiares, contra 46 por cento da população rural (veja-se a Tabela 3.7).<br />
Com base nos dados do MIAF, esta simulação teria o efeito de fazer aumentar a taxa de<br />
alfabetização dos homens nas zonas urbanas de 83 por cento para 99 por cento, enquanto nas<br />
zonas rurais a taxa de alfabetização dos homens quase duplicaria, passando de 50 por cento para<br />
95 por cento. Para a totalidade da população, o consumo médio per capita aumenta <strong>em</strong> cinco por<br />
cento nas zonas rurais e <strong>em</strong> um por cento nas zonas urbanas (Tabela 3.6). Este aumento no<br />
consumo per capita está de tal maneira distribuído que reduz a incidência da pobreza <strong>em</strong> cinco<br />
por cento nas zonas rurais e <strong>em</strong> um por cento nas zonas urbanas. Em percentagens, as reduções<br />
na profundidade de pobreza e na severidade de pobreza são maiores do que as mudanças<br />
ocorridas na incidência de pobreza. Por ex<strong>em</strong>plo, nas zonas rurais as medidas da profundidade<br />
e da severidade de pobreza diminu<strong>em</strong> <strong>em</strong> seis e oito por cento, respectivamente.<br />
Através da Tabela 3.7 verifica-se que, entre os agregados familiares afectados, as<br />
mudanças correspondentes para as simulações são maiores. O consumo médio rural e urbano<br />
aumentam <strong>em</strong> dez por cento e oito por cento, respectivamente, enquanto os índices da incidência<br />
de pobreza rurais e urbanos decresc<strong>em</strong> <strong>em</strong> sete por cento e cinco por cento, respectivamente.<br />
A Simulação 2 é a simulação correspondente para as mulheres adultas. Como há números<br />
mais altos de agregados familiares com mulheres analfabetas, esta simulação afecta uma parte<br />
da população muito maior do que a simulação para os homens adultos: é estimado que 87 por<br />
cento da população rural e 50 por cento da população urbana viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> agregados familiares <strong>em</strong><br />
que há pelo menos uma mulher adulta que não sabe ler n<strong>em</strong> escrever (veja-se a Tabela 3.7). A<br />
Simulação 2 faria aumentar a taxa de alfabetização da mulher dos seus níveis actuais de 15 por<br />
cento nas zonas rurais e 57 por cento nas zonas urbanas para 86 por cento e 95 por cento,<br />
177
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
respectivamente. Esta grande mudança, combinada com os coeficientes de regressão que são<br />
tipicamente mais altos para a alfabetização da mulher do que para a alfabetização do hom<strong>em</strong><br />
(vejam-se a Tabela 3.3 e a Tabela 3.4), leva a um impacto muito maior no consumo e na pobreza<br />
do que ocorre na Simulação 1, especialmente nas zonas urbanas. Como se vê na Tabela 3.6, a<br />
média de consumo per capita aumenta <strong>em</strong> oito por cento nas zonas rurais e <strong>em</strong> dez por cento nas<br />
zonas urbanas; os índices da incidência de pobreza nas duas zonas diminu<strong>em</strong> <strong>em</strong> sete por cento<br />
e dez por cento, respectivamente, com reduções das percentagens ainda maiores nos índices de<br />
pobreza de ord<strong>em</strong> mais alta. Note-se que a redução do índice de pobreza é um pouco maior nas<br />
zonas urbanas, apesar do facto de a simulação afectar uma menor proporção da população urbana<br />
do que da população rural.<br />
As Simulações 3 e 4 são s<strong>em</strong>elhantes às Simulações 1 e 2, excepto que elas modelam os<br />
efeitos do aumento dos níveis educacionais atingidos pelos homens e pelas mulheres a um nível<br />
mais alto e necessariamente mais formal: a conclusão do ensino primário (EP2). Como se vê na<br />
Tabela 3.7, estas simulações afectam a grande maioria da população, o que significa que uma alta<br />
proporção da população vive <strong>em</strong> agregados familiares <strong>em</strong> que há pelo menos um hom<strong>em</strong><br />
(Simulação 3) ou uma mulher (Simulação 4) que não concluíram o ensino primário (EP2). Note-<br />
se que as mudanças implicadas pelas Simulações 3 e 4 são enormes. De acordo com os dados do<br />
MIAF, apenas 4 por cento dos homens rurais e 20 por cento dos homens urbanos concluíram o<br />
ensino primário (EP2). De acordo com a Simulação 3 essas taxas mudariam para 86 por cento<br />
e 81 por cento, respectivamente. As mudanças implicadas pela Simulação 4 são ainda mais<br />
dramáticas, com uma percentag<strong>em</strong> das mulheres rurais que concluíram o ensino primário (EP2)<br />
a aumentar de 1 para 80 por cento, e com uma percentag<strong>em</strong> das mulheres urbanas que concluíram<br />
o primário (EP2) a aumentar de 11 para 80 por cento. Como a mudança é tão grande, estes<br />
resultados dev<strong>em</strong> ser tratados com extr<strong>em</strong>o cuidado.<br />
Como era de esperar, o ensino primário completo (EP2) t<strong>em</strong> um maior impacto no<br />
28<br />
consumo per capita do que alfabetização básica. Para a Simulação 3, simulando um adulto<br />
masculino adicional no agregado familiar que tenha concluído o ensino primário (EP2), os<br />
resultados são aproximadamente iguais nas zonas rurais e nas zonas urbanas, com aumentos no<br />
consumo per capita médio de cerca de 15 por cento, uma redução da incidência de pobreza de<br />
28 Note-se que para as simulações nos agregados familiares <strong>em</strong> que havia uma pessoa do sexo<br />
apropriado, alfabetizada, mas que não tinha completada o ensino primário de segundo grau (EP2), apenas<br />
aumentou-se o valor da variável da conclusão do ensino primário (EP2), e, se necessário, o valor da variável<br />
para o nível máximo de educação na família. Além disso, se nenhuma das pessoas que não tinha completada o<br />
ensino primário primária era alfabetizada, também aumentou-se por um a variável de alfabetização, dado que<br />
uma pessoa não pode ser analfabeta e completar o ensino EP2. Assim, o efeito da conclusão do ensino primário<br />
de segundo grau no consumo per capita é muitas vezes a soma de vários coeficientes de regressão, e não apenas<br />
o coeficiente para a conclusão do ensino primário.<br />
178
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
aproximadamente 13 por cento, e declínios no índice de pobreza diferencial e no índice do<br />
quadrado de pobreza diferencial de 20 e 25 por cento, respectivamente.<br />
Tal como acontece com a alfabetização, os efeitos dum aumento do número de mulheres<br />
que completaram o ensino primário (Simulação 4) são maiores do que os dos homens, porque<br />
uma (marginalmente) maior percentag<strong>em</strong> da população é afectada, e, mais importante ainda,<br />
porque os retornos da educação primária das mulheres são mais altos do que os retornos da<br />
educação primária dos homens (vejam-se os coeficientes de regressão estimados na Tabela 3.3<br />
e na Tabela 3.4). No conjunto, o impacto da Simulação 4 é cerca de duas vezes maior do que o<br />
impacto da Simulação 3 para todas as medições que constam da Tabela 3.6.<br />
A Simulação 5 serve-se de uma abordag<strong>em</strong> diferente para simular os efeitos de uma<br />
mudança nos níveis de educação no consumo e na pobreza. Neste caso, simulou-se o efeito de<br />
garantia de que pelo menos um adulto do agregado familiar, quer do sexo masculino quer do sexo<br />
f<strong>em</strong>inino, complete o ensino primário de segundo grau (EP2). De acordo com os dados do MIAF,<br />
<strong>em</strong> 1996-97, 38 por cento dos agregados familiares urbanos e apenas 6 por cento dos agregados<br />
familiares rurais tinham um m<strong>em</strong>bro que completou o EP2. Como seria de esperar, o efeito desta<br />
simulação na pobreza e no consumo situa-se algures entre o efeito resultante das Simulações 3<br />
e 4. Em termos de percentag<strong>em</strong>, os efeitos na redução da pobreza dessas políticas são<br />
aproximadamente os mesmos nas zonas rurais e nas zonas urbanas.<br />
Agricultura<br />
Examinaram-se os determinantes agrícolas da pobreza alterando algumas das diversas<br />
variáveis, e representando diferentes abordagens às políticas agrícolas com vista à redução da<br />
pobreza. Estes determinantes poderão ser assim categorizados: expansão da área cultivada por<br />
agregado familiar; aumento do uso de insumos agrícolas destinados ao melhoramento da<br />
produtividade; aumento da produtividade (ou do número) de cajueiros, de árvores de fruta ou de<br />
coqueiros; aumento da produção dos produtos exclusivamente comerciais (por ex<strong>em</strong>plo, o<br />
algodão e o chá); e aumento da proporção de agregados familiares que têm um número<br />
significativo de animais.<br />
A Simulação 7 estima o efeito do aumento da área da machamba, <strong>em</strong> 0,5 hectares,<br />
cultivada pelos agregados familiares que já possu<strong>em</strong> pelo menos alguma terra cultivável. Como<br />
poderá verificar-se na Tabela 3.7, esta mudança afectaria uma metade da população urbana e<br />
quase toda a população rural. Embora esta proporção da população afectada seja extr<strong>em</strong>amente<br />
grande, o impacto no consumo e na pobreza é pequeno, com a Tabela 3.6 a mostrar somente um<br />
por cento de aumento no consumo médio per capita, a redução de um por cento na incidência<br />
de pobreza, e reduções muito baixas nas outras medições da pobreza. Como a adição de meio<br />
hectare de terra por agregado familiar não é uma mudança pequena — l<strong>em</strong>bre-se que o tamanho<br />
médio das machambas, referido pelos respectivos proprietários, é de 2,4 hectares — verifica-se<br />
179
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
claramente que a pequena magnitude da mudança é atribuída a um coeficiente pequeno sobre a<br />
variável que mede a área de machamba, o que já se notou anteriormente na discussão dos<br />
resultados de regressão.<br />
A Simulação 7 pressupõe uma abordag<strong>em</strong> mais focalizada para o aumento da área da<br />
machamba cultivada. O aumento na área total da terra cultivada é aproximadamente o mesmo<br />
que o da Simulação 6, mas neste caso é um aumento de um hectare por agregado familiar,<br />
direccionado para os agregados familiares que present<strong>em</strong>ente têm dois hectares ou menos.<br />
Embora esta simulação afecte menos agregados familiares, os resultados são essencialmente os<br />
mesmos da Simulação 7.<br />
As Simulações 8 - 10 examinam os efeitos do aumento do uso de insumos agrícolas<br />
destinados ao melhoramento da produtividade, incluindo um ou mais de fertilizantes, pesticidas,<br />
equipamento pesado e irrigação. As três simulações consideram a mesma mudança na variável<br />
independente: a mudança da variável binária para uso dos insumos agrícolas modernos de zero<br />
a um, e limitados aos agregados familiares que cultivavam pelo menos alguma terra ao t<strong>em</strong>po<br />
deste inquérito. A diferença reside no grupo seleccionado para a mudança. Na Simulação 8 a<br />
mudança é limitada aos agregados familiares que possuíam alguma terra, mas não mais de um<br />
hectare; 29 por cento da população rural e 24 por cento da população urbana são afectados por<br />
esta simulação (Tabela 3.7). Na Simulação 9 este limite superior no tamanho da terra é<br />
aumentado se incluir todos os agregados familiares que não tenham mais de dois hectares de<br />
terra; esta simulação afecta 59 por cento e 35 por cento da população rural e da população<br />
urbana, respectivamente. Finalmente, a Simulação 10 inclui todos os agregados familiares que<br />
cultivavam alguma terra no período do inquérito, que é 89 por cento da amostra rural e 43 por<br />
cento da amostra urbana.<br />
Como se poderá ver na Tabela 3.7, <strong>em</strong> cada uma das Simulações 8 - 10, o consumo médio<br />
per capita da população afectada é aproximadamente 6 por cento nas zonas rurais e 8,5 por cento<br />
nas zonas urbanas, o que é consideravelmente mais alto do que os resultados para as simulações<br />
do aumento de terra (Simulações 6 e 7). Isto sugere que os insumos destinados ao melhoramento<br />
da produtividade têm mais probabilidade de ter um impacto maior no consumo e na pobreza do<br />
que os aumentos de terra. Porém, mesmo no caso mais ambicioso (Simulação 10), <strong>em</strong> que todos<br />
os agregados familiares que cultivam terras adoptam pelo menos alguma tecnologia agrícola<br />
moderna, os ganhos no consumo per capita são modestos, cerca de cinco por cento, e as reduções<br />
na incidência de pobreza são igualmente modestas, <strong>em</strong> quatro por cento.<br />
As Simulações 11 e 12 exploram os efeitos da produção <strong>em</strong> expansão do castanha do<br />
caju, o terceiro produto, <strong>em</strong> termos de receitas de exportação — depois do camarão e do algodão<br />
— e objecto de considerável interesse político nos últimos anos. Uma das áreas <strong>em</strong> foco t<strong>em</strong> sido<br />
fazer aumentar a produtividade dos cajueiros, hoje existentes, por meio da reabilitação do estoque<br />
actual dos cajueiros, que é o principal processo para aumentar a produção da castanha do caju,<br />
180
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
a curto prazo (Banco Mundial e Ministério da Agricultura, 1998). Uma outra abordag<strong>em</strong> é fazer<br />
aumentar o número de cajueiros que cada produtor da castanha do caju t<strong>em</strong> <strong>em</strong> produção, <strong>em</strong>bora<br />
essa abordag<strong>em</strong> seja inerent<strong>em</strong>ente a médio e longo prazo, dado que as cajueiros não começam<br />
a produzir castanhas <strong>em</strong> quantidade significativa até cinco ou seis anos depois da sua plantação.<br />
A Simulação 11 capta cada uma destas abordagens para expandir a produção da castanha do caju,<br />
simulando um aumento de 20 por cento na produção da castanha do caju entre os produtores<br />
actuais — a simulação é tão genérica que pode ser interpretada como um aumento da<br />
produtividade dos cajueiros existentes ou da plantação de novos cajueiros pelos produtores<br />
actuais. A simulação é limitada às zonas rurais porque a produção da castanha do caju nas zonas<br />
urbanas é insignificante. A Tabela 3.6 mostra que quase não existe qualquer espécie de impacto<br />
nos níveis de consumo médio ou na pobreza. Em parte, isto é assim devido ao número<br />
relativamente pequeno da população afectada pela simulação, isto é, a pequena proporção da<br />
população que vive <strong>em</strong> agregados familiares que present<strong>em</strong>ente cultivam caju (veja-se a Tabela<br />
3.7). Isto deve-se também à magnitude pequena de coeficientes estimados na relação entre o<br />
número de cajueiros e o consumo per capita. O impacto é quase zero, mesmo entre os agregados<br />
familiares afectados pela simulação.<br />
Uma outra abordag<strong>em</strong> para expandir a produção da castanha do caju que está sendo<br />
promovida present<strong>em</strong>ente é encorajar os agregados familiares a começar a produzir a castanha<br />
do caju, fenómeno que é modelado na Simulação 12. Na Simulação 12 seleccionou-se uma<br />
amostra aleatória de 50 por cento dos agregados familiares nas províncias que são os produtoras<br />
principais da castanha do caju (Nampula, Zambézia, Gaza e Inhambane), os quais não produziam<br />
a castanha do caju no período deste inquérito, e a qu<strong>em</strong> se “deram” cajueiros. A cada um destes<br />
agregados familiares produtores da castanha do caju novos foram “dados” 46 cajueiros. Este<br />
número é o dobro do valor mediano de cajueiros calculados a partir da amostra dos produtores<br />
29<br />
da castanha do caju nas províncias referidas. O grande número de cajueiros e a alta proporção<br />
dos novos produtores, foram seleccionados porque simulações prévias (não mostradas), com um<br />
crescimento mais conservador entre os novos produtores da castanha do caju, tiveram um<br />
impacto pequeno. Como se vê na Tabela 3.7, mesmo este grande aumento teve um pequeno<br />
impacto nos agregados familiares afectados, e um impacto muito menor no consumo médio per<br />
capita e na pobreza a nível nacional (Tabela 3.6).<br />
29<br />
Nos dados do MIAF há 2629 agregados familiares rurais naquelas quatro províncias, de entre os<br />
quais 1006 tinham cajueiros por ocasião do inquérito, com uma mediana de 23 cajueiros por agregado familiar.<br />
Havia 1623 agregados familiares s<strong>em</strong> cajueiros, de entre os quais se escolheram aleatoriamente 812 agregados<br />
familiares. Como os resultados da simulação depend<strong>em</strong> <strong>em</strong> parte de quais 812 agregados familiares são<br />
escolhidos (por ex<strong>em</strong>plo, como os parâmetros estimados variam de região para região, e a composição regional<br />
dos novos produtores na simulação pod<strong>em</strong> mudar com cada amostra tirada aleatoriamente), repetimos a<br />
simulação várias vezes e comparámos os resultados. Como nenhum desses resultados revelou ter um grande<br />
impacto no consumo ou na pobreza, não se utilizou um processo formal de “bootstrapping” (tirando subamostras<br />
aleatória repetidamente para estimar o efeito médio) para esta simulação.<br />
181
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
A Simulação 13 examina o impacto potencial da expansão da produção dos citrinos e do<br />
coco na redução da pobreza. O coco foi incluído porque é economicamente importante tanto para<br />
o rendimento como para o auto-consumo nas zonas costeiras das províncias da Zambézia e de<br />
Inhambane. Como aconteceu com a primeira simulação da castanha do caju (Simulação 11),<br />
modelou-se um aumento de 20 por cento na produção dos citrinos e do coco, e limitámos a<br />
simulação às zonas rurais. Também aqui, o impacto no consumo e na pobreza foi insignificante<br />
para os agregados familiares afectados pela simulação, assim como para todo o país.<br />
A Simulação 14 examina a selecção das colheitas, modelando os efeitos dos agregados<br />
familiares que produz<strong>em</strong> present<strong>em</strong>ente qualquer tipo de produto, adoptando produtos que<br />
30<br />
poderão ser considerados estritamente comerciais, tal como já foi definido na Nota 15. Note-se<br />
que a simulação especifica a adopção de produtos comerciais para além dos produtos que os<br />
agregados familiares já estão a produzir. A maioria destes produtos (<strong>em</strong>bora não todos) não são<br />
apropriados para produção <strong>em</strong> ambientes urbanos, de maneira que a simulação foi limitada às<br />
zonas rurais, onde afectam 91 por cento da população (isto é, 9 por cento da população rural vivia<br />
<strong>em</strong> agregados familiares que já estavam a produzir um ou mais desses produtos). Nesta<br />
simulação, o consumo médio per capita aumenta <strong>em</strong> três por cento e o índice de incidência da<br />
pobreza desce dois por cento. As reduções noutras medições de pobreza são maiores, com a<br />
profundidade da pobreza (o índice de pobreza diferencial) a baixar <strong>em</strong> quatro por cento e a<br />
severidade da pobreza (o índice do quadrado da pobreza diferencial) a baixar <strong>em</strong> cinco por cento.<br />
A última simulação referente à agricultura estuda a relação entre a pobreza e a posse de<br />
um número considerável de animais. L<strong>em</strong>bra-se que, a partir da secção 3.3.2, se definiu uma<br />
variável binária para a posse de animais, atribuindo o valor um se o agregado familiar possuía<br />
pelo menos um número crítico mínimo de animais de qualquer tipo, e atribuindo o valor zero se<br />
isso não acontecesse. Os agregados familiares que têm o valor zero para essa variável binária<br />
pod<strong>em</strong> ser divididos <strong>em</strong> duas categorias: os que não têm absolutamente nenhum animal e os que<br />
têm alguns animais, mas um número abaixo da linha de limite. Na Simulação 15, para este último<br />
grupo de agregados familiares mudou-se o valor da variável binária sobre animais de zero para<br />
um. Isto é, está-se a modelar o efeito dos actuais proprietários de animais, aumentando o seu<br />
número de animais de modo a que possam atingir uma certa quantia crítica necessária para que<br />
os animais comec<strong>em</strong> a contribuir para a melhoria do b<strong>em</strong>-estar do agregado familiar. Por meio<br />
da Tabela 3.6, vê-se que o impacto total no consumo e na pobreza é pequeno tanto nas zonas<br />
30<br />
É possível que alguns destes produtos sejam consumidos <strong>em</strong> casa, mas os requisitos de<br />
processamento indicam que a quantia consumida seria muito provavelmente numa escala menor. Reconhece-se<br />
também que alguns dos produtos “comerciais” importantes de <strong>Moçambique</strong> são produtos básicos, tais como o<br />
milho. Estes produtos são deliberadamente excluídos da simulação por causa da dificuldade <strong>em</strong> analisar o duplo<br />
papel des<strong>em</strong>penhado por estes produtos nos dados do MIAF.<br />
182
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
rurais como nas zonas urbanas, com a média de consumo per capita a aumentar apenas um por<br />
cento, e a incidência da pobreza a baixar apenas um por cento.<br />
A Tabela 3.7 fornece uma explicação para estes resultados: a Simulação 15 afecta apenas<br />
15 por cento da população rural e 5 por cento da população urbana. Por outras palavras, a<br />
simulação não afecta a grande maioria da população, a qual ou (a) já possui um número<br />
substancial de animais (20 por cento da população rural e 6 da população urbana) ou (b) não<br />
tinha absolutamente nenhum animal (65 por cento da população rural e 89 por cento da<br />
população urbana). Entre essa pequena proporção da população afectada pela Simulação 15, o<br />
impacto no consumo per capita e <strong>em</strong> todas as medições de pobreza é grande, com um aumento<br />
no consumo médio per capita de 12 por cento nas zonas rurais e 20 por cento nas zonas urbanas.<br />
A incidência da pobreza entre a população afectada baixa 8 por cento nas zonas rurais e 14 por<br />
cento nas zonas urbanas, com reduções maiores na profundidade da pobreza e na severidade da<br />
pobreza.<br />
Emprego<br />
Nas Simulações 16 e 17 examinam-se os efeitos das mudanças sectoriais na distribuição<br />
da força de trabalho, <strong>em</strong> particular, na deslocação de trabalhadores do sector agrícola para outros<br />
sectores da economia. A Simulação 16 modela a transferência de um adulto a trabalhar no sector<br />
agrícola para o sector da indústria e da construção, ao passo que a Simulação 17 considera a<br />
transferência de um adulto a trabalhar no sector agrícola para o sector de serviços. Como é fora<br />
do comum para os agregados familiares, <strong>em</strong> particular nas zonas rurais, abandonar totalmente<br />
a agricultura, limitou-se estas simulações aos agregados familiares urbanos que tinham pelo<br />
menos dois adultos a trabalhar na agricultura e aos agregados familiares rurais que tinham pelo<br />
menos três adultos a trabalhar na agricultura. Desta forma, ainda há um adulto (ou dois adultos<br />
nas zonas rurais) a tomar conta da machamba e a preservar o direito à terra. Isto é uma estratégia<br />
de distribuição de trabalho entre os agregados familiares comum na África austral (veja-se, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, Low, 1986). Por causa desta restrição, estas simulações afectam menos de um quarto<br />
da população rural e menos de um quinto da população urbana (Tabela 3.7). 31<br />
Como é mostrada na Tabela 3.7, a Simulação 17 t<strong>em</strong> um grande impacto na população<br />
afectada, fazendo aumentar a média de consumo per capita <strong>em</strong> 18 por cento nas zonas rurais e<br />
<strong>em</strong> 12 por cento nas zonas urbanas. O impacto da Simulação 16 é menor, <strong>em</strong> 5 por cento e 10<br />
por cento, respectivamente. Porém, devido à relativamente pequena proporção da população<br />
31<br />
Uma das razões para exigir que um agregado familiar rural tenha três adultos a trabalhar no sector<br />
agrícola é porque isso implica a magnitude da transferência de trabalhadores do sector agrícola para outros<br />
sectores fica dentro de limites plausíveis. Se apenas se exigiss<strong>em</strong> dois adultos a trabalhar no sector agrícola, a<br />
simulação implicaria a transferência para outros sectores de mais de metade das pessoas que trabalham no<br />
sector agrícola actualmente, o que seria claramente irrealista.<br />
183
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
afectada, o impacto é muito menor quando se considera a população na sua totalidade (veja-se<br />
a Tabela 3.6). Quando se consideram todos os agregados familiares, a deslocação de<br />
trabalhadores da agricultura para a indústria e para a construção (Simulação 16) mostra apenas<br />
um aumento marginal no consumo per capita e uma redução marginal da pobreza. Ao contrário,<br />
uma deslocação da agricultura para o sector de serviços (Simulação 17) gera um aumento de 4<br />
por cento no consumo per capita rural e 4 por cento de redução na incidência de pobreza rural.<br />
Nas zonas urbanas há um aumento de 2 por cento no consumo per capita e uma redução de 2 por<br />
cento na incidência da pobreza.<br />
Relacionada com o sector do <strong>em</strong>prego, a Simulação 18 examina o papel da diversificação<br />
de rendimento na determinação do consumo e da pobreza. De acordo com o inquérito do MIAF,<br />
cada trabalhador de um agregado familiar indicou se ele ou ela recebia rendimento de uma ou<br />
mais de cinco fontes: salários, auto-<strong>em</strong>prego (incluindo produção agrícola por conta própria),<br />
rendimentos de bens pessoais (renda de casa, renda de terras, juros bancários), assistência<br />
pecuniária formal ou informal e “outras” fontes. Estes dados a nível individual foram depois<br />
agregados ao nível do agregado familiar e codificados, usando números inteiros de zero a cinco,<br />
como uma medição bruta da diversificação de rendimentos de um agregado familiar. Na<br />
Simulação 18, modificou-se esta variável de modo a que todos os agregados familiares com<br />
apenas uma fonte de rendimento tivess<strong>em</strong> duas fontes de rendimento. Embora esta simulação<br />
afecte dois terços da população, essencialmente não t<strong>em</strong> impacto n<strong>em</strong> no consumo médio per<br />
capita n<strong>em</strong> na pobreza.<br />
Mudança d<strong>em</strong>ográfica<br />
No perfil da pobreza, no capítulo 2, e na discussão dos resultados dos modelos de<br />
regressão na secção 3.4, notou-se a relação negativa entre o tamanho do agregado familiar e o<br />
consumo per capita. Na próxima conjunto de simulações examinaram-se os efeitos do aumento<br />
do tamanho do agregado familiar de um m<strong>em</strong>bro, sendo esse m<strong>em</strong>bro uma criança com menos<br />
de 10 anos de idade (Simulação 19), ou um hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> idade de trabalho (Simulação 20), ou uma<br />
mulher <strong>em</strong> idade de trabalho (Simulação 21). Como o modelo dos determinantes também inclui<br />
informação sobre o nível educacional e sobre o sector de <strong>em</strong>prego dos m<strong>em</strong>bros adultos do<br />
agregado familiar, nas Simulações 20 e 21 pressupôs-se que o m<strong>em</strong>bro adicional do agregado<br />
familiar teria características educacionais que correspondiam às dos adultos do mesmo género<br />
presentes no agregado familiar e características do <strong>em</strong>prego que correspondiam às de todos os<br />
adultos existentes no agregado familiar (dado que as variáveis de <strong>em</strong>prego no modelo não estão<br />
separados por género). Por ex<strong>em</strong>plo, se um agregado familiar tivesse uma mulher adulta, que<br />
completasse o ensino primário (EP2) e estivesse <strong>em</strong>pregada no sector agrícola, na Simulação 21<br />
pressupunha-se que a mulher adicionada também completou o ensino primário (EP2) e estava<br />
<strong>em</strong>pregada no sector agrícola. Se há mais de uma mulher no agregado familiar, à mulher<br />
184
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
adicional ser-lhe-iam atribuídas as características médias das mulheres do agregado familiar.<br />
Propositadamente, estas três simulações afectaram todos os agregados familiares da amostra.<br />
Portanto, as entradas na Tabela 3.6 e na Tabela 3.7 são idênticas para estas três simulações.<br />
Na Tabela 3.6 verifica-se que, <strong>em</strong> geral, o aumento do tamanho do agregado familiar teve<br />
um impacto negativo no consumo per capita e contribuiu para o aumento da pobreza. Nas zonas<br />
rurais, a idade ou o género da pessoa adicional somente mudou a magnitude do impacto e não<br />
a sua orientação. Nas zonas urbanas, o impacto negativo de uma criança adicional foi s<strong>em</strong>elhante<br />
ao das zonas rurais, com o consumo médio per capita a baixar 15 por cento e a incidência de<br />
pobreza a aumentar cerca de 12 por cento tanto nas zonas rurais como nas zonas urbanas. Uma<br />
mulher adulta adicional teve um impacto menor do que uma criança, reduzindo o consumo médio<br />
per capita <strong>em</strong> 14 por cento e aumentando e a incidência de pobreza <strong>em</strong> 12 por cento nas zonas<br />
rurais. Nas zonas urbanas os números correspondentes são um decrescimento de 9 por cento no<br />
consumo médio per capita e um aumento de 9 por cento na incidência de pobreza.<br />
A única excepção a esta relação negativa <strong>em</strong> termos gerais é a adição de um hom<strong>em</strong> nos<br />
agregados familiares urbanos. Na Simulação 20, a adição de um hom<strong>em</strong> leva a um aumento<br />
estimado de cinco por cento no consumo médio per capita e à redução de um por cento na<br />
incidência de pobreza. Porém, esta nota positiva é neutralizada pela observação de que as<br />
medições da pobreza aumentam nesta simulação (veja-se a Tabela 3.6). Há duas inferências que<br />
se pod<strong>em</strong> fazer a partir dos resultados da Simulação 20 nas zonas urbanas. Primeiro, o grande<br />
aumento no consumo médio per capita relativo às mudanças nas medições da pobreza indica que<br />
a maioria dos benefícios se manifestam nos agregados familiares que não são pobres. Segundo,<br />
os aumentos no consumo médio per capita entre os pobres concentram-se nos agregados<br />
familiares que estão relativamente próximos da linha de pobreza. Nesta simulação, estes<br />
agregados familiares sa<strong>em</strong> da pobreza e o índice da incidência de pobreza é reduzido. Porém, os<br />
aumentos na profundidade de pobreza (o índice de pobreza diferencial) e na severidade de<br />
pobreza (o índice do quadrado de pobreza diferencial), o consumo médio per capita diminui na<br />
realidade nos agregados familiares mais pobres.<br />
L<strong>em</strong>brando a discussão do capítulo 2 a respeito da pobreza e do tamanho do agregado<br />
familiar, fez-se simulações s<strong>em</strong>elhantes às Simulações 19 - 21, mas incorporou-se a noção das<br />
economias do tamanho do agregado familiar. Na prática, voltou-se a estimar o modelo, mudando<br />
a variável dependente do consumo per capita (que pressupõe nenhuma economias do tamanho<br />
do agregado familiar) para o consumo “por adulto equivalente”, utilizando a elasticidade do<br />
tamanho do agregado familiar, <strong>em</strong> que o tamanho do agregado familiar é mais ou menos<br />
ortogonal para a pobreza (2=0.4). 32<br />
32<br />
Note-se também que, de acordo com a discussão do Capítulo 2, as economias do tamanho do<br />
agregado familiar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> não são certamente tão grandes como as implicadas pela 2=0.4. Porém,<br />
utilizou-se este valor porque a “verdadeira” elasticidade do tamanho do agregado familiar é desconhecido, e<br />
185
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Estes resultados são apresentados nas Simulações 19a, 20a, e 21a na Tabela 3.8, e são<br />
mais consistentes com a intuição do que os resultados das Simulações 19 - 21 que ignoram as<br />
economias do tamanho do agregado familiar. Nas Simulações 19 - 21, um m<strong>em</strong>bro adicional do<br />
agregado familiar reduzia o consumo per capita e aumentava a pobreza <strong>em</strong> quase todos os casos,<br />
mesmo se a pessoa adicional estivesse na idade do trabalho (e, assim, a adição desse m<strong>em</strong>bro<br />
reduzia a razão de dependência). Quando as economias do tamanho do agregado familiar eram<br />
tomadas <strong>em</strong> consideração, o impacto no b<strong>em</strong>-estar de um m<strong>em</strong>bro adicional no agregado familiar<br />
é ainda negativo se o m<strong>em</strong>bro adicional é uma criança (isto é, a razão de dependência aumenta),<br />
tal como na Simulação 19a, <strong>em</strong>bora este impacto adverso seja menor do que o verificado quando<br />
as economias do tamanho não são tidas <strong>em</strong> consideração. Porém, quando o m<strong>em</strong>bro adicional<br />
é um adulto (Simulação 20a e Simulação 21a), há um pequeno aumento no consumo por<br />
“equivalente adulto,” e não há praticamente nenhuma mudança no índice da incidência de<br />
pobreza, um resultado bastante diferente dos verificados nas Simulações 20 e 21. Note-se que<br />
a profundidade e a severidade de pobreza tend<strong>em</strong> ainda a aumentar nas simulações 20a e 21a,<br />
indicando que a maioria dos benefícios desta simulação vai para os agregados familiares que<br />
estão acima ou ligeiramente abaixo da linha de pobreza, e que o consumo por equivalente adulto<br />
baixa na realidade para os agregados familiares mais pobres.<br />
Desenvolvimento infra-estrutural<br />
As últimas simulações exploram as contribuições potenciais para a redução da pobreza<br />
por parte do desenvolvimento infra-estrutural e do acesso físico aos serviços de saúde. Fez-se isto<br />
servindo-se de duas variáveis do índices de infra-estrutura — uma para a infra-estrutura<br />
económica geral e outra para a infra-estrutura dos serviços de saúde — descritas na secção 3.3.2.<br />
A simulação é limitada às zonas rurais, uma vez que estas variáveis (baseadas no questionário<br />
à comunidade rural) não faz<strong>em</strong> parte do conjunto de dados urbanos. Em qualquer das duas<br />
simulações, aumentou-se o valor da variável relevante para a infra-estrutura para um (1) para<br />
todos os agregados familiares que têm um valor de menos de um para essa variável. Como estas<br />
variáveis inclu<strong>em</strong> diversas medidas de infra-estruturas, e como a presente infra-estrutura é tão<br />
sub-desenvolvida, estas simulações afectam quase toda a população rural, <strong>em</strong>bora a níveis<br />
variados, uma vez que os valores iniciais dos índices adquir<strong>em</strong> uma gama de valores entre o zero<br />
e o um, inclusiva.<br />
Na Simulação 22, a variável da infra-estrutura económica é disposta ao valor um para<br />
todos os agregados familiares rurais. Isto equivale a especificar que o agregado familiar t<strong>em</strong> cada<br />
um dos seguintes ingredientes existentes na sua aldeia: um banco, um mercado, uma estrada<br />
porque este valor elimina o efeito de qualquer relação entre o tamanho do agregado familiar e a pobreza, o que<br />
nos permite focar os aspectos da composição do agregado familiar.<br />
186
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
pavimentada ou de terra batida, um gabinete de assistência técnica agro-pecuária, um posto de<br />
correio e um telefone público. A Simulação 22 implica mudanças fundamentais: a mudança<br />
simulada na variável independente é grande (vai de uma média de 0,15 a 1,00), a magnitude do<br />
coeficiente de regressão é grande (0,116), e quase 100 por cento da população rural é afectada.<br />
Portanto, não surpreende que o impacto no consumo médio per capita e nos níveis de pobreza<br />
nas zonas rurais seja da mesma magnitude: o consumo médio per capita aumenta 14 por cento,<br />
a incidência de pobreza baixa 11 por cento, a profundidade de pobreza baixa 16 por cento e a<br />
severidade de pobreza baixa 19 por cento.<br />
Os melhoramentos nas infra-estruturas dos serviços de saúde (Simulação 23) têm um<br />
impacto muito menor na pobreza do que os melhoramentos na infra-estrutura económica,<br />
modelados na Simulação 22. Isto deve-se sobretudo ao facto de a relação entre a infra-estrutura<br />
dos serviços de saúde e o consumo per capita ser muito mais precário (com um coeficiente de<br />
regressão de apenas 0,038).<br />
3.6 Crescimento económico e a redução da pobreza<br />
O crescimento económico t<strong>em</strong> sido visto geralmente como um pilar-chave da estratégia<br />
para a redução da pobreza. Muitas das simulações de políticas que t<strong>em</strong>os vindo a considerar<br />
actuam claramente através do apoio ao crescimento económico, como, por ex<strong>em</strong>plo, no caso do<br />
desenvolvimento da infra-estrutura económica. Do mesmo modo, o desenvolvimento do capital<br />
humano também pode ser considerado como um ingrediente importante do processo de<br />
crescimento económico. Nesta secção, abstraí-se das fontes potenciais ou dos determinantes de<br />
crescimento, mas põe-se a questão sobre qual será o potencial do crescimento económico, seja<br />
qual for a sua fonte, para levar à redução da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
Primeiro vai-se ver a experiência histórica recente. Baseados nos dados das Contas<br />
Nacionais, estima-se que o PIB real per capita <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> cresceu 6,5 por cento, uma<br />
33<br />
quantia modesta, durante a década de 1987-1996. Embora não exista um inquérito aos<br />
agregados familiares a nível nacional anterior ao MIAF de 1996-97, é possível utilizar os dados<br />
do MIAF para explorar sobre a magnitude de impacto na pobreza que teve este crescimento. Em<br />
particular, estima-se quais teriam sido os níveis de pobreza <strong>em</strong> 1987 se a média dos níveis de<br />
vida tivess<strong>em</strong> crescido à mesma taxa que a do PIB real per capita, e assumindo que não tivess<strong>em</strong><br />
ocorrido mudanças no nível de desigualdade. (Isto equivale à simulação de cenários de<br />
crescimento distributivamente neutro, onde o consumo de todos os agregados familiares é<br />
assumido como crescendo proporcionalmente pelo mesmo factor de crescimento).<br />
33<br />
Estas estimativas estão baseadas nos números oficiais do PIB publicados pelo INE <strong>em</strong> diversas<br />
edições do Anuário Estatístico, incluindo o mais recente a 1996 (veja-se INE, 1997). Nos cálculos, o PIB<br />
nominal per capita foi ajustado pelo Índice do Preços ao Consumidor da Cidade de Maputo.<br />
187
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
A Tabela 3.9 resume os resultados desta análise. Mostra que, a base deste modesto<br />
crescimento no consumo médio, só poderiam ter resultado ganhos modestos na redução da<br />
pobreza. Durante o período de dez anos, esse crescimento teria implicado uma redução na<br />
incidência da pobreza de cerca de 4,4 por cento, e um declínio na profundidade e na severidade<br />
da pobreza de cerca de 8 a 10 por cento, respectivamente.<br />
A Tabela 3.10 apresenta as implicações potenciais de um crescimento mais alto no futuro,<br />
à base de vários pressupostos sobre a taxa de crescimento económico e a distribuição desse<br />
crescimento. No primeiro cenário, considera-se uma modesta taxa de crescimento económico real<br />
de dois por cento per capita por ano, com os ganhos deste crescimento distribuídos <strong>em</strong> termos<br />
proporcionais (permanecendo a curva de Lorenz inalterada). Este cenário de crescimento gera<br />
ganhos significativos na redução da pobreza, especialmente quando medida pelo índice de<br />
pobreza diferencial (profundidade) e pelo índice do quadrado de pobreza diferencial (severidade).<br />
Depois, <strong>em</strong> cada um dos cenários 2 - 4 na Tabela 3.10, pressupõe-se uma taxa de<br />
crescimento económico muito mais rápida, à ord<strong>em</strong> de 7,7 por cento <strong>em</strong> termos reais per capita,<br />
com três pressupostos alternativos sobre a distribuição desse crescimento. Esta taxa de<br />
crescimento económico é baseada nas correntes projecções quinquenais de crescimento feitas<br />
pelo o Governo (comunicação pessoal, Gabinete de Estudos), pressupondo uma taxa de<br />
crescimento da população de 2,7 por cento ao ano. No cenário 2, pressupõe-se um crescimento<br />
de distribuição neutra (tal como no primeiro cenário). Um crescimento mais rápido relativo ao<br />
cenário 1 conduz, naturalmente, a uma maior redução da pobreza <strong>em</strong> relação ao cenário 1. Esse<br />
crescimento, se sustentado até 2003, conduziria a uma redução de quase 40 por cento na<br />
incidência de pobreza a nível nacional. Verificam-se até maiores declínios percentuais nos<br />
índices da pobreza diferencial e do quadrado da pobreza diferencial, indicando que os restantes<br />
pobres deverão ser menos pobres do que anteriormente.<br />
A experiência noutros países indica que um crescimento económico tão rápido como o<br />
projectado para <strong>Moçambique</strong> não é tipicamente distribuído de uma forma igual. Assim, o cenário<br />
3 ilustra os efeitos na pobreza da mesma taxa de crescimento económico, com os rendimentos<br />
urbanos crescendo o dobro dos rendimentos rurais. Neste cenário, a redução da pobreza é um<br />
pouco mais baixa do que a projectada no cenário de distribuição neutra (Cenário 2), mas mesmo<br />
assim a redução ainda é substancial <strong>em</strong> todas as medições da pobreza (Tabela 3.10). Finalmente,<br />
o cenário 4 mostra os efeitos do crescimento económico na redução da pobreza, se os<br />
rendimentos dos não pobres crescer<strong>em</strong> ao dobro da taxa dos rendimentos dos pobres. Perante este<br />
padrão assimétrico de crescimento económico, a redução da pobreza é menor que nos cenários<br />
2 e 3, mas mesmo assim a redução da pobreza é ainda significativa, com a incidência de pobreza<br />
a baixar 30 por cento, deixando 48 por cento da população abaixo da linha de pobreza no ano<br />
2003.<br />
188
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Estas simulações de crescimento d<strong>em</strong>onstram que o crescimento económico pode ser uma<br />
força poderosa no combate da pobreza. Dito isto, o padrão e a distribuição desse crescimento<br />
terão ainda um peso importante na maneira como a pobreza é reduzida.<br />
3.7 Precauções<br />
Como um primeiro inquérito aos agregados familiares representativo à escala nacional,<br />
o MIAF fornece uma riqueza de informação útil sobre as condições de vida dos agregados<br />
familiares. Contudo, os dados do inquérito têm também algumas limitações significativas que<br />
influenciaram a análise do presente estudo. Entre estas limitações,<br />
Uma omissão significativa entre os potenciais determinantes da pobreza refere-se a<br />
medidas dos rendimentos agrícolas. Esta omissão toma mais peso tendo <strong>em</strong> conta a não<br />
disponibilidade de dados desagregados a nível regional sobre rendimentos agrícolas os quais<br />
poderiam ser integrados com os dados do inquérito do MIAF. Seria útil recolher tais dados <strong>em</strong><br />
inquéritos futuros, tanto para permitir uma melhor análise dos determinantes da pobreza e<br />
condições de vida, assim como para facilitar o monitoreio da pobreza ao longo do t<strong>em</strong>po.<br />
Parece também existir um grau de erro de medição considerável <strong>em</strong> algumas variáveis<br />
medidas no inquérito do MIAF, incluindo a distância para as infra-estruturas, área da machamba,<br />
a dimensão das áreas irrigadas, as quantidades da produção e vendas. Embora se tenha feito um<br />
esforço considerável de limpeza dos dados (incluindo correcções baseadas na revisão dos<br />
questionários originais), a existência de erros de medição influenciou as escolhas de<br />
especificações que foram feitas no trabalho analítico (como, por ex<strong>em</strong>plo, a necessidade de criar<br />
índices brutos de desenvolvimento infra-estrutural para os modelos dos determinantes da<br />
pobreza). Outra limitação t<strong>em</strong> a ver com a falta de dados sobre a pesca como um meio de vida.<br />
Suspeita-se que a pesca dá uma contribuição potencialmente importante para os padrões de vida<br />
dos agregados familiares, especialmente na região costeira. Porém, os dados de <strong>em</strong>prego do<br />
MIAF indicam uma proporção extr<strong>em</strong>amente pequena da população envolvida na pesca. Embora<br />
tenha-se estabelecido um controle parcial para isto, por meio dos modelos com efeitos fixos a<br />
nível de distrito, não se pode isolar o seu efeito específico de pesca na análise.<br />
Estas limitações suger<strong>em</strong> tanto a necessidade de melhoria nos esforços de recolha de<br />
dados no futuro como a necessidade de ter cuidado com a interpretação d<strong>em</strong>asiado literal dos<br />
resultados apresentados neste estudo. É mais prudente focar nas tendências gerais do que<br />
números exactos.<br />
3.8 Conclusões e implicações para as políticas<br />
A análise apresentada neste capítulo procurou ampliar a compreensão do fenómeno da<br />
pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, indo além da análise bivariada do perfil da pobreza e examinando os<br />
determinantes estruturais das condições de vida e da pobreza. Em conclusão, baseando-nos na<br />
189
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
análise tanto deste capítulo como do anterior, puderam ser identificados seis el<strong>em</strong>entos principais<br />
de uma estratégia prospectiva para o alívio da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Estes el<strong>em</strong>entos inclu<strong>em</strong><br />
(i) um aumento de investimento na educação, (ii) crescimento económico sustentado, (iii) um<br />
padrão de crescimento sectorial que favoreça um crescimento mais rápido nos sectores da<br />
indústria e dos serviços, (iv) medidas para elevar a produtividade do sector agrícola, (v)<br />
melhoramento da infra-estrutura rural e (vi) redução da fecundidade e da razão de dependência<br />
dentro dos agregados familiares. Cada um destes el<strong>em</strong>entos vai ser elaborado <strong>em</strong> mais pormenor<br />
nos parágrafos que se segu<strong>em</strong>.<br />
Uma das mensagens chave desta análise é a de que é importante investir na educação.<br />
Como um indicador básico de b<strong>em</strong> estar não baseado nos rendimentos, a educação é importante<br />
por si própria. Nesta perspectiva, uma alta prioridade deveria ser resolver as disparidades de<br />
género, regionais e entre as zonas rurais e urbanas <strong>em</strong> relação aos níveis de frequência. As<br />
diferenças hom<strong>em</strong>-mulher e zonas rurais-urbanas na educação são grandes e significativas. Uma<br />
ênfase especial deveria ser dada às províncias de Niassa, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e<br />
Sofala, onde o nível de desenvolvimento do capital humano é significativamente mais baixo que<br />
nas outras províncias. O processo de elevação geral dos níveis de educação no país pode<br />
certamente tomar a forma de resposta a estes desequilíbrios.<br />
A educação t<strong>em</strong> também um valor instrumental. A análise mostra que a educação é um<br />
determinante chave das condições de vida e que melhorias na educação são um meio importante<br />
de redução da pobreza. Completar a educação primária, <strong>em</strong> particular, está associada a largos<br />
ganhos na redução da pobreza, <strong>em</strong>bora o impacto de taxas mais altas de alfabetização na redução<br />
da pobreza seja também importante por si mesmo. Acima de tudo, parece claro que o<br />
investimento na educação pode ser um el<strong>em</strong>ento chave na estratégia de redução da pobreza <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>.<br />
A análise aponta também para a importância do crescimento económico na redução da<br />
pobreza. Não se poderia esperar muito <strong>em</strong> termos de redução da pobreza ao longo das duas<br />
últimas décadas passadas, caracterizadas por um declínio da economia, ou na melhor das<br />
hipóteses, pela sua estagnação. Durante 1987-96, o PIB real per capita cresceu <strong>em</strong> apenas cerca<br />
de 0,6 por cento ao ano. Contudo, o crescimento económico encerra <strong>em</strong> si perspectivas de uma<br />
redução significante da pobreza no futuro. Com efeito, uma taxa sustentada de crescimento<br />
económico anual de 7,7 por cento <strong>em</strong> termos reais per capita ao longo dos próximos cinco anos<br />
t<strong>em</strong> o potencial de reduzir a incidência da pobreza <strong>em</strong> 40 por cento, <strong>em</strong>bora a redução efectiva<br />
da pobreza dependerá criticamente da distribuição do crescimento.<br />
O padrão sectorial de crescimento é também importante. Nos níveis actuais de<br />
produtividade, um padrão de crescimento que favoreça os sectores industrial e de serviços irá<br />
reduzir a pobreza. Todavia, é também importante elevar a produtividade na agricultura. Os níveis<br />
de pobreza relativamente altos no sector da agricultura reflect<strong>em</strong> actualmente baixos níveis de<br />
190
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
produtividade. Os resultados indicam que aumentando o tamanho da terra dos pequenos<br />
produtores não irá reduzir a pobreza, a não ser que se eleve a produtividade- fazendo<br />
investimentos na melhoria da irrigação e no uso de insumos modernos (e.g., fertilizantes). Isto<br />
não é surpreendente num contexto <strong>em</strong> que a disponibilidade de terra não parece ser um grande<br />
constrangimento.<br />
Identificou-se também um papel importante para o melhoramento das infra-estruturas<br />
económicas nas zonas rurais. A construção de mais estradas, mercados, bancos, serviços de<br />
extensão e de comunicações para as aldeias de <strong>Moçambique</strong> pod<strong>em</strong> dar uma grande contribuição<br />
para a redução da pobreza no país.<br />
Os resultados suger<strong>em</strong> também que medidas para reduzir as taxas de dependência nos<br />
agregados familiares irá ajudar na redução da pobreza. Além do efeito directo através da redução<br />
do número de crianças dependentes de um adulto <strong>em</strong> idade activa, os efeitos de redução da<br />
pobreza poderiam ser também esperados dos efeitos benéficos de uma fertilidade reduzida na<br />
saúde da mulher, participação da força de trabalho e produtividade. Com base na experiência de<br />
outros países, nunca é d<strong>em</strong>ais enfatizar a importância da educação da mulher neste contexto.<br />
Finalmente, deverá reiterar-se que, enquanto esta análise ajudou a identificar algumas<br />
direcções-chave para as políticas a adoptar <strong>em</strong> vista à redução da pobreza, é necessário expandir<br />
e aperfeiçoar esta análise, incluindo análises mais desagregadas a nível regional e provincial,<br />
assim como a incorporação de informação supl<strong>em</strong>entar fornecida por outras fontes de dados<br />
recentes, tais como o inquérito à agricultura nacional, o inquérito d<strong>em</strong>ográfico e de saúde e o<br />
recenseamento nacional.<br />
191
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
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193
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.1: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da<br />
pobreza rural<br />
Norte Centro Sul Todos<br />
Variáveis<br />
(N=1905) (N=2288) (N=1618) (N=5811)<br />
Logaritmo natural do consumo real por pessoa por 8,42 8,19 8,24 8,28<br />
dia (0,03) (0,03) (0,04) (0,02)<br />
Pessoas de 0-9 anos 1,92 2,07 2,24 2,05<br />
(0,06) (0,06) (0,06) (0,04)<br />
Pessoas de 10-17 anos 1,04 1,41 1,64 1,33<br />
(0,05) (0,05) (0,06) (0,03)<br />
Mulheres de 18-59 anos 1,12 1,25 1,71 1,29<br />
(0,03) (0,03) (0,05) (0,02)<br />
Homens de 18-59 anos 0,98 1,03 1,06 1,02<br />
(0,03) (0,02) (0,04) (0,01)<br />
Pessoas de 60 anos ou mais 0,19 0,16 0,41 0,22<br />
(0,02) (0,01) (0,02) (0,01)<br />
Pessoas de idade não classificada 0,00 0,00 0,00 0,00<br />
(0,00) (0,00) (0,00) (0,00)<br />
Quadrado do tamanho do agregado familiar 33,00 41,47 61,64 42,46<br />
(1,73) (1,66) (2,69) (1,11)<br />
Idade do chefe do agregado familiar 41,81 42,24 47,83 43,16<br />
(0,63) (0,50) (0,57) (0,35)<br />
Chefe do agregado familiar masculino (0/1) 0,89 0,81 0,78 0,83<br />
(0,01) (0,01) (0,01) (0,01)<br />
Número de deficientes no agregado familiar 0,11 0,10 0,12 0,11<br />
(0,01) (0,01) (0,01) (0,01)<br />
Número de migrantes de guerra no agregado 0,08 0,33 0,19 0,22<br />
familiar (0,03) (0,06) (0,10) (0,04)<br />
Nº de mulheres que tiveram 1º filho antes de 16 0,29 0,14 0,07 0,18<br />
anos (0,02) (0,01) (0,01) (0,01)<br />
Número de adultos masculinos alfabetizados 0,54 0,59 0,76 0,61<br />
(0,03) (0,03) (0,05) (0,02)<br />
Número de adultos f<strong>em</strong>ininos alfabetizados 0,12 0,19 0,59 0,24<br />
(0,02) (0,02) (0,04) (0,02)<br />
Nº de adultos masculinos que completaram o ensino 0,05 0,06 0,07 0,06<br />
primário do segundo grau (EP2) (0,01) (0,01) (0,01) (0,01)<br />
Nº de adultos f<strong>em</strong>ininos que completaram o 0,01 0,01 0,05 0,02<br />
ensino primário do segundo grau (EP2) (0,00)<br />
(0,01) 0,00 (0,01)<br />
Nível escolar mais elevado de um adulto no AF 1,51 1,46 1,90 1,56<br />
(0,07) (0,07) (0,08) (0,05)<br />
Número de adultos no sector agrícola 1,93 2,10 2,52 2,12<br />
(0,05) (0,05) (0,09) (0,03)<br />
Número de adultos no sector industrial ou de 0,04 0,04 0,14 0,06<br />
construção (0,01) (0,01) (0,02) (0,01)<br />
(continua...)<br />
194
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.1: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da<br />
pobreza rural<br />
Norte Centro Sul Todos<br />
Variáveis<br />
(N=1905) (N=2288) (N=1618) (N=5811)<br />
Número de adultos <strong>em</strong>pregados noutros sectores 0,07 0,07 0,11 0,08<br />
(0,01) (0,01) (0,02) (0,01)<br />
Número de fontes de rendimentos 1,21 1,77 1,12 1,46<br />
(0,03) (0,08) (0,02) (0,04)<br />
Masculino alfabetizado * Empregado no sector 0,03 0,00 0,00 0,01<br />
industrial ou de construção (0,01) (0,00) (0,00) (0,00)<br />
F<strong>em</strong>ininos alfabetizado * Empregado no sector 0,00 0,00 1,87 0,36<br />
agrícola (0,00) (0,00) (0,19) (0,04)<br />
Logaritmo natural da área de machamba (Ha) 0,54 0,44 1,06 0,59<br />
(0,04) (0,03) (0,05) (0,02)<br />
Uso de algum equipamento ou irrigação (0/1) 0,07 0,03 0,14 0,06<br />
(0,02) (0,01) (0,02) (0,01)<br />
Segurança no uso e aproveitamento da terra (0/1) 0,33 0,50 0,74 0,49<br />
(0,02) (0,03) (0,03) (0,02)<br />
Cultiva hortícolas (0/1) 0,07 0,29 0,46 0,25<br />
(0,02) (0,04) (0,03) (0,02)<br />
Cultiva culturas de rendimento (0/1) 0,12 0,05 0,01 0,07<br />
(0,04) (0,02) (0,00) (0,02)<br />
Logaritmo natural do número de cajueiros 0,50 0,42 1,64 0,68<br />
(0,10) (0,07) (0,16) (0,06)<br />
Logaritmo natural do número de citrinos e 0,27 0,43 1,30 0,54<br />
coqueiros (0,07) (0,07) (0,19) (0,06)<br />
Logaritmo natural do número de outras árvores de 0,48 0,90 1,43 0,86<br />
fruta (0,05) (0,06) (0,12) (0,04)<br />
T<strong>em</strong> quantidade “significante” de animais (0/1) 0,12 0,23 0,29 0,21<br />
(0,01) (0,03) (0,02) (0,02)<br />
Índice de infra-estruturas económicas 0,17 0,12 0,17 0,15<br />
(0,02) (0,01) (0,03) (0,01)<br />
Índice de infra-estruturas económicas * Adultos 0,02 0,02 0,12 0,04<br />
f<strong>em</strong>ininos alfabetizados (0,01) (0,00) (0,03) (0,01)<br />
Índice de infra-estruturas de saúde 0,11 0,07 0,19 0,11<br />
(0,02) (0,01) (0,03) (0,01)<br />
Malária identificada como maior probl<strong>em</strong>a 0,40 0,41 0,66 0,46<br />
de saúde na aldeia (0/1) (0,05) (0,05) (0,05) (0,03)<br />
Nota: Erros padrão entre parênteses , e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
195
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.2: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da<br />
pobreza urbana<br />
Grandes Pequenas<br />
cidades cidades Todos<br />
Variável (N=1570) (N=869) (N=2439)<br />
Logaritmo natural do consumo real por pessoa por dia 8,46 8,38 8,43<br />
(0,08) (0,07) (0,05)<br />
Pessoas de 0-9 anos 2,20 2,31 2,24<br />
(0,05) (0,08) (0,04)<br />
Pessoas de 10-17 anos 1,83 1,55 1,72<br />
(0,04) (0,14) (0,06)<br />
Mulheres de 18-59 anos 1,50 1,24 1,40<br />
(0,05) (0,05) (0,04)<br />
Homens de 18-59 anos 1,43 1,17 1,33<br />
(0,05) (0,07) (0,04)<br />
Pessoas de 60 anos ou mais 0,17 0,23 0,20<br />
(0,03) (0,03) (0,02)<br />
Pessoas de idade não classificada 0,001 0,009 0,004<br />
(0,001) (0,006) (0,002)<br />
Quadrado do tamanho do agregado familiar 60,65 51,62 57,26<br />
(2,86) (4,23) (2,20)<br />
Idade do chefe do agregado familiar 42,91 41,69 42,45<br />
(0,69) (0,73) (0,50)<br />
Chefe do agregado familiar masculino (0/1) 0,81 0,80 0,81<br />
(0,01) (0,02) (0,01)<br />
Nº de deficientes no agregado familiar 0,08 0,12 0,09<br />
(0,01) (0,02) (0,01)<br />
Nº de migrantes de guerra no agregado familiar 0,17 0,05 0,12<br />
(0,04) (0,03) (0,03)<br />
Nº de mulheres que tiveram o 1º filho antes de 16 anos 0,13 0,15 0,14<br />
(0,02) (0,02) (0,01)<br />
Nº de adultos masculinos alfabetizados 1,37 0,97 1,22<br />
(0,06) (0,09) (0,05)<br />
Nº de adultos f<strong>em</strong>ininos alfabetizados 1,09 0,60 0,91<br />
(0,06) (0,07) (0,04)<br />
Nº de adultos masculinos que completaram o ensino 0,49 0,35 0,44<br />
primário do segundo grau (EP2) (0,04) (0,06) (0,03)<br />
Nº de adultos f<strong>em</strong>ininos que completaram o ensino 0,28 0,14 0,23<br />
primário do segundo grau (EP2) (0,03) (0,04) (0,02)<br />
Nível de educação mais elevado de um adulto no AF 3,31 2,64 3,06<br />
(0,07) (0,26) (0,11)<br />
Número de adultos no sector agrícola 0,45 1,00 0,66<br />
(0,08) (0,12) (0,07)<br />
Número de adultos no sector industrial ou de construção 0,34 0,18 0,28<br />
(0,04) (0,02) (0,03)<br />
(continua...)<br />
196
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.2: Médias e erros padrão das variáveis no modelo de determinantes da<br />
pobreza urbana<br />
Grandes Pequenas<br />
cidades cidades Todos<br />
Variável (N=1570) (N=869) (N=2439)<br />
Número de adultos noutros sectores 0,88 0,47 0,73<br />
(0,06) (0,08) (0,04)<br />
Nº de fontes de rendimento 1,26 1,29 1,27<br />
(0,03) (0,06) (0,02)<br />
F<strong>em</strong>ininos alfabetizados * Empregados noutros sectores 1,26 0,00 0,79<br />
(0,14) (0,00) (0,07)<br />
Masculinos alfabetizados * Empregados no sector 0,00 0,91 0,34<br />
agrícola (0,00) (0,12) (0,06)<br />
F<strong>em</strong>ininos alfabetizados * Empregados no sector agrícola 0,00 0,53 0,20<br />
(0,00) (0,09) (0,04)<br />
F<strong>em</strong>ininos alfabetizados * Empregados no sector 0,00 0,13 0,05<br />
industrial ou de construção (0,00) (0,03) (0,01)<br />
Logaritmo natural da área de machamba (Ha) 0,11 0,21 0,15<br />
(0,03) (0,04) (0,02)<br />
Uso de algum equipamento ou irrigação (0/1) 0,07 0,12 0,09<br />
(0,01) (0,02) (0,01)<br />
Segurança no uso e aproveitamento da terra (0/1) 0,22 0,42 0,29<br />
(0,02) (0,04) (0,02)<br />
Logaritmo natural do número de total de árvores 0,35 0,89 0,56<br />
de fruta e cajueiros (0,07) (0,12) (0,07)<br />
T<strong>em</strong> quantidade “significante” de animais (0/1) 0,04 0,09 0,06<br />
(0,01) (0,01) (0,01)<br />
Nota: Erros padrão entre parênteses, e calculados tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra.<br />
197
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.3: Determinantes da pobreza rural <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Norte Centro Sul<br />
Estima- Estima- Estimativas<br />
do Estatística tivas do Estatística tivas do Estatística<br />
parâmetro de t parâmetro de t parâmetro de t<br />
Constante (Norte) 1,043 6,76<br />
Constante (Centro) 0,570 3,91<br />
Constante (Sul) (excluído)<br />
Pessoas de 0-9 anos -0,402 -14,72 -0,355 -20,89 -0,313 -12,10<br />
Pessoas de 10-17 anos -0,358 -13,64 -0,319 -19,95 -0,292 -12,20<br />
Mulheres de 18-59 anos -0,451 -10,56 -0,417 -12,31 -0,312 -7,97<br />
Homens de 18-59 anos -0,431 -9,19 -0,378 -14,15 -0,337 -8,03<br />
Pessoas de 60 anos ou mais -0,464 -9,36 -0,397 -10,70 -0,366 -9,58<br />
Pessoas com idade não classificada -0,509 -7,01 -0,159 -0,69 0,340 0,77<br />
Quadrado do tamanho de AF 0,021 8,19 0,016 13,97 0,014 7,27<br />
Idade do chefe do AF 0,000 -0,42 -0,001 -0,82 -0,002 -1,61<br />
Chefe do AF masculino (0/1) 0,135 3,57 0,091 2,85 0,043 1,47<br />
Nº de deficientes no AF -0,019 -0,48 -0,002 -0,06 -0,080 -2,17<br />
Nº de migrantes de guerra no AF -0,011 -0,80 -0,037 -2,15 0,008 0,52<br />
Nº de mulheres que tiveram o<br />
1º filho antes de 16 anos -0,052 -1,85 0,055 1,68 0,021 0,39<br />
Nº de homens alfabetizados 0,042 1,56 0,039 1,72 0,061 2,30<br />
Nº de mulheres alfabetizados -0,041 -0,84 0,075 2,65 0,201 4,68<br />
Nº de homens que completaram o<br />
ensino primário (EP2) 0,031 0,97 0,031 0,97 0,031 0,97<br />
Nº de mulheres que completaram o<br />
ensino primário (EP2) 0,103 1,52 0,103 1,52 0,103 1,52<br />
Nível de educação mais elevado de<br />
um adulto no agregado familiar 0,048 3,08 0,054 4,19 0,049 2,86<br />
Nº de adultos no sector agrícola 0,033 1,10 0,037 1,68 0,041 1,82<br />
Nº de adultos no sector industrial ou<br />
de construção 0,193 1,90 0,053 1,00 0,109 2,12<br />
Nº de adultos noutros sectores 0,342 6,63 0,265 5,02 0,105 2,01<br />
Nº de fontes de rendimento 0,010 0,33 -0,032 -1,12 0,084 2,31<br />
Masculinos alfabetizados * Sector<br />
industrial/construção -0,107 -1,01<br />
F<strong>em</strong>ininos alfabetizados * Sector<br />
agrícola -0,044 -3,857<br />
Logaritmo natural da machamba (Ha) 0,048 1,98 0,018 0,87 0,042 1,31<br />
Uso de algum equipamento ou<br />
irrigação (0/1) 0,057 1,50 0,057 1,50 0,057 1,50<br />
Segurança no uso da terra (0/1) -0,047 -1,63 0,007 0,25 -0,042 -1,20<br />
(continua...)<br />
198
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.3: Determinantes da pobreza rural <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Norte Centro Sul<br />
Estima- Estima- Estimativas<br />
do Estatística tivas do Estatística tivas do Estatística<br />
parâmetro de t parâmetro de t parâmetro de t<br />
Cultiva hortícolas (0/1) -0,003 -0,12 -0,003 -0,12 -0,003 -0,12<br />
Cultiva culturas de rendimento (0/1) 0,032 0,86 0,032 0,86 0,032 0,86<br />
Logaritmo natural do nº de cajueiros<br />
Logaritmo natural do nº de citrinos<br />
0,015 1,12 0,008 0,43 0,004 0,38<br />
mais coqueiros<br />
Logaritmo natural do nº de outras<br />
0,006 0,29 0,014 1,07 0,040 3,16<br />
árvores<br />
T<strong>em</strong> quantidade “significante” de<br />
0,008 0,61 0,028 2,61 0,044 3,63<br />
animais (0/1) 0,135 3,68 0,089 3,03 0,109 3,42<br />
Índice de infra-estruturas económicas 0,122 1,27 0,122 1,27 0,122 1,27<br />
Índice de infra-estruturas económicas<br />
* Adultos f<strong>em</strong>ininos alfabetizados 0,116 2,23 0,116 2,23 0,116 2,23<br />
Índice de infra-estruturas de saúde 0,038 0,59 0,038 0,59 0,038 0,59<br />
Malária o maior probl<strong>em</strong>a de saúde na<br />
aldeia (0/1) -0,017 -0,48 -0,017 -0,48 -0,017 -0,48<br />
Constante, efeitos fixos ao nível do<br />
distrito, e variáveis para controlar os<br />
dados omissos<br />
Número de observações 5811 F(153, 34) 154,45<br />
Número dos estratos<br />
Número de Unidades Primárias de<br />
10 Prob > F 0,00<br />
Amostra 196<br />
2<br />
R 0,538<br />
Testes de hipóteses:<br />
Eliminação de todas as variáveis de interacção F(18,169) = 1,50 prob > F = 0,097<br />
Eliminação de variáveis de interacção com p>0,1 F(17,170) = 1,03 prob > F = 0,432<br />
Parâmetros idênticos para o norte, centro e sul F(62,125) = 1,92 prob > F = 0,001<br />
S<strong>em</strong> os efeitos fixos ao nível do distrito F(109,78) = 304,90 prob > F = 0,000<br />
Notas: (excluído) indica que a variável é perfeitamente colinear com a outra, e portanto é omitida na regressão.<br />
A estatística de F na regressão é F(k, d-k+1), <strong>em</strong> que k = o número de parâmetros estimados, d = o número<br />
total das Unidades Primárias da Amostra na regressão menos o número total de estratos. As estatísicas de F<br />
dos testes de hipóteses são F(r, d-r+1) <strong>em</strong> que r = o número das restrições testadas. A regressão e os testes<br />
são impl<strong>em</strong>entados usando os comandos de Stata svyreg e svytest. Veja Korn & Graubard (1990) para mais<br />
explicação acerca dos graus de liberdade (citados nas referências do manual de Stata, Release 5, Volume 3).<br />
199
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.4: Determinantes da pobreza urbana <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Grandes cidades Pequenas cidades<br />
Estimativas Estimativas<br />
do Estatística do Estatística<br />
parâmetro de t parâmetro de t<br />
Constante - Grandes cidades (excluído)<br />
Constante - Pequenas cidades (excluído)<br />
Pessoas de 0-9 anos -0,303 -14,58 -0,360 -12,44<br />
Pessoas de 10-17 anos -0,246 -12,82 -0,274 -6,06<br />
Mulheres de 18-59 anos -0,449 -12,40 -0,439 -5,92<br />
Homens de 18-59 anos -0,349 -5,82 -0,309 -4,51<br />
Pessoas de 60 anos ou mais -0,410 -7,57 -0,297 -4,57<br />
Pessoas com idade não classificada -0,539 -0,99 -0,509 -0,88<br />
Quadrado do tamanho do agregado familiar 0,010 9,14 0,015 7,24<br />
Idade do chefe do agregado familiar 0,004 1,72 -0,001 -0,43<br />
Chefe do agregado familiar masculino (0/1) 0,183 3,99 0,153 2,58<br />
Nº de deficientes no agregado familiar 0,036 0,61 -0,084 -1,28<br />
Nº de migrantes de guerra no agregado familiar 0,008 0,41 -0,093 -1,37<br />
Nº de mulheres que tiveram o 1º filho antes de 16 anos -0,100 -1,87 -0,013 -0,24<br />
Nº de adultos masculinos alfabetizados 0,021 0,35 0,097 1,71<br />
Nº de adultos f<strong>em</strong>ininos alfabetizados 0,253 7,28 0,097 1,18<br />
Nº de homens que completaram o ensino primário (EP2) 0,037 1,01 0,110 1,80<br />
Nº de mulheres que completaram o ensino primário<br />
(EP2) 0,112 2,66 0,145 1,94<br />
Nível de educação mais elevado dum adulto no AF 0,178 7,00 0,086 2,60<br />
Nº de adultos no sector agrícola -0,031 -0,74 -0,010 -0,16<br />
Nº de adultos no sector industrial ou de construção 0,013 0,41 -0,035 -0,78<br />
Nº de adultos noutros sectores 0,135 3,63 0,146 4,39<br />
Nº de fontes de rendimento -0,001 -0,03 0,012 0,22<br />
F<strong>em</strong>inino alfabetizado * Empregado noutros sectores -0,055 -3,93<br />
Masculino alfabetizado * Empregado no sector agrícola -0,079 -2,72<br />
F<strong>em</strong>inino alfabetizado * Empregado no sector agrícola 0,068 1,60<br />
F<strong>em</strong>inino alfabetizado * Empregado no sector industrial<br />
ou de construção 0,170 1,80<br />
Logaritmo natural da área da machamba (Ha) 0,032 0,68 0,130 3,63<br />
Uso de algum equipamento ou irrigação (0/1) 0,105 1,62 0,105 1,62<br />
Segurança no uso e aproveitamento da terra (0/1) -0,011 -0,17 -0,098 -2,39<br />
(continua...)<br />
200
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.4: Determinantes da pobreza urbana <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Grandes cidades Pequenas cidades<br />
Estimativas Estimativas<br />
do Estatística do Estatística<br />
parâmetro de t parâmetro de t<br />
Logaritmo natural do número total de fruteiras e cajueiros -0,054 -1,57 0,038 1,95<br />
T<strong>em</strong> quantidade “significante” de animais (0/1) 0,231 2,19 0,166 2,47<br />
Constante, efeitos fixos ao nível do distrito, e variáveis<br />
para controlar os dados omissos<br />
Número de observações 2439 F(62, 5) 50,81<br />
Número de estratos 11 Prob > F 0,000<br />
Número de Unidades Primárias da Amostra 77<br />
2<br />
R 0,502<br />
Testes de hipóteses:<br />
Eliminação de todas as variáveis de interacção F(12,55 ) = 2,3 prob > F = 0,019<br />
Eliminação de variáveis de interacção com p> 0,1 F(9,58) = 1,15 prob > F = 0,344<br />
Parâmetros idênticos para as pequenas e grandes cidades F(31,36) = 3,54 prob > F = 0,000<br />
S<strong>em</strong> efeitos fixos ao nível do distrito F(19,48) = 12,09 prob > F = 0,000<br />
Nota: Veja as notas da tabela 3.3.<br />
201
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.5: Comparação da medição real de b<strong>em</strong>-estar com a simulação de base<br />
202<br />
Rural Urbano<br />
Simulação Simulação<br />
Estatística Real de base Real de base<br />
1<br />
Consumo médio por dia por pessoa 4.933,95 4.442,25 6.663,62 5.463,68<br />
Incidência da pobreza 71,25 67,79 62,01 58,00<br />
Índice da pobreza diferencial (profundidade) 29,92 29,43 26,67 26,27<br />
Índice do quadrado da pobreza diferencial (severidade) 15,89 16,22 14,60 15,15<br />
1<br />
Nota: Expresso <strong>em</strong> Mt com ajustamentos t<strong>em</strong>porais e espaciais dos preços de 1996-97.
Tabela 3.6: Mudanças totais no consumo e os níveis de pobreza (resultados de simulações)<br />
Mudança no consumo real Mudança na incidência da Mudança na profundidade da Mudança na severidade da<br />
Simulação por pessoa (%) pobreza (%) pobreza (%) pobreza (%)<br />
Nº<br />
1<br />
Descrição Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional<br />
1 Aumentar por 1 o número de homens<br />
alfabetizados no AF 4,5 1,1 3,7 -3,5 -1,1 -3,1 -6,0 -2,0 -5,3 -7,8 -2,7 -6,8<br />
2 Aumentar por 1 o número de mulheres<br />
alfabetizadas no AF 8,1 10,3 8,7 -6,5 -10,4 -7,2 -11,0 -17,7 -12,3 -14,0 -22,5 -15,7<br />
3 Aumentar por 1 o número de homens no<br />
AF que completaram o ensino primário 16,3 15,0 16,0 -12,5 -13,8 -12,7 -19,6 -21,1 -19,9 -24,1 -25,8 -24,4<br />
4 Aumentar por 1 o número de mulheres no<br />
AF que completaram o ensino primário 28,9 31,6 29,6 -22,1 -28,1 -23,2 -32,8 -40,1 -34,2 -39,3 -47,2 -40,8<br />
5 Garantir que pelo menos um adulto no<br />
AF completa o ensino primário (EP2) 24,3 21,2 23,6 -18,4 -19,7 -18,6 -27,6 -29,8 -28,0 -33,3 -36,2 -33,8<br />
6 Aumentar a área da machamba <strong>em</strong> 0,5 Ha<br />
(entre AFs que têm machamba) 0,9 1,4 1,0 -0,7 -1,3 -0,8 -1,1 -2,1 -1,3 -1,3 -2,6 -1,5<br />
7 Aumentar a área da machamba <strong>em</strong> 1 Ha<br />
(para AFs com # 2 Ha) 0,8 1,7 1,0 -0,6 -1,6 -0,8 -0,9 -2,5 -1,2 -1,0 -3,1 -1,4<br />
8 AFs com # 1 Ha de terra, passam a usar<br />
insumos agrícolas modernos 1,8 2,0 1,9 -1,4 -2,0 -1,5 -2,0 -3,4 -2,3 -2,4 -4,3 -2,7<br />
9 Todos AFs com # 2 Ha de terra, passam a<br />
usar insumos agrícolas modernos 3,6 3,0 3,5 -2,8 -2,9 -2,8 -4,3 -5,0 -4,4 -5,2 -6,4 -5,4<br />
10 AFs com machamba passam a usar<br />
insumos agrícolas modernos 5,2 3,8 4,8 -4,1 -3,6 -4,0 -6,6 -6,0 -6,5 -8,2 -7,6 -8,1<br />
11 Aumentar o nº de cajueiros (ou sua<br />
produtividade) <strong>em</strong> 20% 0,04 N/A 0,03 -0,03 N/A -0,02 -0,04 N/A -0,03 -0,05 N/A -0,04<br />
12 Aumentar o nº de AFs que produz<strong>em</strong><br />
castanha de cajú (Veja o texto) 0,8 N/A 0,7 -0,7 N/A -0,5 -1,0 N/A -0,8 -1,1 N/A -0,9<br />
13 Aumentar o número de citrinos e<br />
coqueiros <strong>em</strong> 20% 0,1 N/A 0,1 -0,1 N/A -0,1 -0,1 N/A -0,1 -0,1 N/A -0,1<br />
(continua...)
Tabela 3.6: Mudanças totais no consumo e os níveis de pobreza (resultados de simulações)<br />
Mudança no consumo real Mudança na incidência da Mudança na profundidade da Mudança na severidade da<br />
Simulação por pessoa (%) pobreza (%) pobreza (%) pobreza (%)<br />
Nº<br />
1<br />
Descrição Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional<br />
14 Todos AFs que produz<strong>em</strong> culturas<br />
alimentares ou hortícolas passam a<br />
produzir também culturas de rendimento 2,9 N/A 2,3 -2,3 N/A -1,8 -3,8 N/A -3,0 -4,7 N/A -3,8<br />
15 AFs com animais aumentar a quantidade<br />
para um número “substancial” 1,7 0,8 1,5 -1,3 -0,7 -1,2 -2,1 -1,1 -1,9 -2,6 -1,4 -2,4<br />
16 Passar um trabalhador por AF do sector<br />
agrícola para o sector industrial ou<br />
construção (veja o texto) 1,3 1,2 1,3 -1,1 -1,1 -1,1 -2,0 -1,7 -2,0 -2,6 -2,1 -2,5<br />
17 Passar um trabalhador por AF do sector<br />
agrícola para o sector de serviços 4,3 2,2 3,8 -3,7 -2,3 -3,4 -6,6 -4,2 -6,2 -8,6 -5,4 -8,0<br />
18 Aumentar o número de fontes de<br />
rendimento para 2 1,1 0,2 0,9 -0,9 -0,2 -0,8 -1,3 -0,4 -1,2 -1,5 -0,5 -1,3<br />
19 Aumentar o AF por uma criança -15,3 -14,7 -15,2 12,5 12,0 12,4 19,2 17,9 18,9 23,0 21,7 22,8<br />
20 Aumentar o AF por um hom<strong>em</strong> -12,1 5,1 -8,6 10,0 -0,6 7,8 14,7 2,4 12,2 17,3 5,0 14,8<br />
21 Aumentar o AF por uma mulher -14,5 -9,4 -13,5 12,1 9,0 11,4 19,1 17,3 18,8 23,4 23,7 23,5<br />
22 Melhorar as infra-estruturas económicas<br />
(veja o texto) 13,9 N/A 11,0 -10,5 N/A -8,4 -16,0 N/A -12,7 -19,2 N/A -15,3<br />
23 Melhorar as infra-estruturas de saúde<br />
(veja o texto) 3,4 N/A 2,7 -2,7 N/A -2,1 -4,4 N/A -3,5 -5,6 N/A -4,4<br />
Nota: N/A indica que a simulação não se aplica nas áreas urbanas. Para o fim de cálculo do impacto a nível nacional, simulações não aplicáveis são tratados como tendo<br />
impacto igual a zero no consumo e na pobreza das áreas urbanas.<br />
1<br />
Veja o texto para uma descrição completa das simulações.
Tabela 3.7: Mudanças no consumo total e os níveis de pobreza entre a população afectada (resultados de simulações)<br />
Simulação População afectada (%) real por pessoa (%) da pobreza (%) profundidade (%) severidade (%)<br />
Mudança no consumo Mudança na incidência Mudança na Mudança na<br />
No Descrição 1<br />
Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional<br />
1 Hom<strong>em</strong> alfabetizado 46,4 18,4 40,7 10,6 8,4 10,2 -7,1 -4,6 -6,6 -11,7 -7,8 -10,9 -14,5 -9,9 -13,6<br />
2 Mulher alfabetizada 86,7 50,0 79,2 9,9 29,2 13,8 -7,3 -16,7 -9,2 -12,1 -26,1 -14,9 -15,2 -31,7 -18,6<br />
3 Hom<strong>em</strong> com EP2 87,3 71,9 84,1 19,2 23,5 20,1 -14,0 -17,9 -14,8 -21,8 -26,9 -22,9 -26,6 -32,6 -27,8<br />
4 Mulher com EP2 97,2 88,2 95,3 30,5 39,9 32,4 -22,4 -29,9 -23,9 -33,2 -42,2 -35,0 -39,6 -49,5 -41,6<br />
5 Garantido o EP2 para um<br />
adulto 92,6 56,3 85,2 26,8 49,8 31,5 -19,5 -29,3 -21,5 -29,2 -41,7 -31,7 -35,0 -48,7 -37,8<br />
6 Aumento da machamba <strong>em</strong><br />
0,5 Ha (entre AFs com<br />
machamba) 95,4 52,1 86,6 1,0 3,2 1,4 -0,7 -2,2 -1,0 -1,1 -3,4 -1,6 -1,3 -4,0 -1,9<br />
7 Aumentar a área da<br />
machamba <strong>em</strong> 1Ha (AFs<br />
com área # 2 Ha) 61,2 40,0 56,9 1,3 5,4 2,1 -1,0 -3,5 -1,5 -1,5 -5,2 -2,3 -1,8 -6,2 -2,7<br />
8 AFs com área # 1Ha passar<br />
a usar isumos agrícolas<br />
modernos 28,6 24,0 27,6 5,9 11,1 6,9 -5,2 -7,0 -5,6 -7,9 -11,2 -8,6 -9,6 -13,9 -10,5<br />
9 AFs com área # 2 Ha<br />
passar a usar insumos<br />
agrícolas modernos 59,4 35,3 54,5 5,9 11,1 6,9 -4,9 -6,9 -5,4 -7,7 -11,0 -8,4 -9,5 -13,6 -10,4<br />
10 Todos AFs com machamba<br />
passar<strong>em</strong> a usar insumos<br />
agrícolas modernos 89,3 43,3 79,9 5,9 11,1 6,9 -4,5 -7,1 -5,0 -7,3 -11,1 -8,0 -9,0 -13,7 -9,9<br />
11 Aumentar os cajueiros (ou<br />
a produtividade) <strong>em</strong> 20% 23,6 N/A 18,8 0,2 N/A 0,1 -0,1 N/A -0,1 -0,2 N/A -0,2 -0,3 N/A -0,2<br />
12 Aumentar o nº de AFs que<br />
produz<strong>em</strong> castanhas<br />
(veja o texto) 19,4 N/A 15,5 4,1 N/A 3,2 -3,6 N/A -2,8 -5,6 N/A -4,5 -7,0 N/A -5,6<br />
13 Aumentar o nº de citrinos e<br />
coqueiros <strong>em</strong> 20% 22,5 N/A 17,9 0,4 N/A 0,3 -0,3 N/A -0,2 -0,6 N/A -0,4 -0,7 N/A -0,6<br />
(continua...)
Tabela 3.7: Mudanças no consumo total e os níveis de pobreza entre a população afectada (resultados de simulações)<br />
Mudança no consumo Mudança na incidência Mudança na Mudança na<br />
Simulação População afectada (%) real por pessoa (%) da pobreza (%) profundidade (%) severidade (%)<br />
No Descrição1 Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional<br />
14 AFs começam também a<br />
produzir culturas de<br />
rendimento 90,5 N/A 72,1 3,2 N/A 2,6 -2,5 N/A -2,0 -4,1 N/A -3,3 -5,1 N/A -4,1<br />
15 AFs com animais aumentar<br />
a quantidade para um<br />
número “substancial” 15,2 4,6 13,0 11,6 20,5 13,4 -8,5 -13,6 -9,5 -13,2 -20,6 -14,7 -16,0 -25,0 -17,8<br />
16 Passar um adulto por AF<br />
do sector agrícola para<br />
industrial ou construção<br />
(veja o texto) 23,9 18,1 22,7 6,7 10,0 7,4 -3,8 -4,6 -4,0 -6,5 -6,4 -6,5 -8,0 -7,4 -7,9<br />
17 Passar um adulto por AF<br />
do sector agrícola para<br />
os serviços (veja o texto) 23,9 18,1 22,7 23,2 18,3 22,2 -13,0 -9,9 -12,4 -21,3 -15,8 -20,2 -26,0 -19,4 -24,7<br />
18 Aumentar a fonte de<br />
rendimento para 2 66,4 73,3 67,8 1,7 0,3 1,4 -1,4 -0,3 -1,1 -1,9 -0,5 -1,6 -2,0 -0,7 -1,7<br />
19 Adicionar uma criança por<br />
AF 100,0 100,0 100,0 -15,3 -14,7 -15,2 12,6 12,0 12,4 19,2 17,9 18,9 23,1 21,7 22,8<br />
20 Adicionar um adulto<br />
masculino por AF 100,0 100,0 100,0 -12,1 5,1 -8,6 10,0 -0,6 7,8 14,7 2,4 12,2 17,3 5,0 14,8<br />
21 Adicionar um adulto<br />
f<strong>em</strong>inino por AF 100,0 100,0 100,0 -14,5 -9,4 -13,5 12,1 9,0 11,4 19,1 17,3 18,8 23,4 23,7 23,5<br />
22 Melhorar as infraestruturas<br />
económicas<br />
(veja o texto) 99,2 N/A 79,0 14,0 N/A 11,2 -10,6 N/A -8,4 -16,1 N/A -12,8 -19,3 N/A -15,4<br />
23 Melhorar as infraestruturas<br />
de saúde (veja<br />
o texto) 98,6 N/A 78,5 3,5 N/A 2,8 -2,7 N/A -2,2 -4,5 N/A -3,6 -5,6 N/A -4,5<br />
Nota: N/A indica que a simulação não se aplica nas áreas urbanas. Para o fim de cálculo do impacto a nível nacional, simulações não aplicáveis são tratados como tendo<br />
impacto igual a zero no consumo e na pobreza das áreas urbanas.<br />
1 Veja o texto e a primeira coluna da tabela 3.6 para explicação mais detalhada das simulações usadas. Os números da simulação refere-se aos números para mesma<br />
simulação <strong>em</strong> ambas as tabelas.
Tabela 3.8: Efeitos simulados das mudanças d<strong>em</strong>ográficas assumindo as economias do tamanho do agregado familiar<br />
Mudança no consumo por Mudança na incidência da Mudança na profundidade da Mudança na severidade da<br />
Simulação “Adulto equivalente” (%) pobreza (%) pobreza (%) pobreza (%)<br />
Nº Descrição Rural Urban National Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional Rural Urbano Nacional<br />
19a Adicionar uma<br />
criança -3,01 -9,30 -4,29 3,23 9,74 4,55 5,48 14,37 7,29 6,87 17,53 9,04<br />
20a Adicionar um hom<strong>em</strong> 1,28 1,11 1,25 -0,34 0,80 -0,11 -0,04 3,24 0,63 0,13 5,21 1,16<br />
21a Adicionar uma mulher 0,51 3,67 1,15 0,66 0,31 0,59 1,99 5,26 2,66 2,86 9,40 4,19<br />
Nota: Os determinantes do modelo da pobreza foram reestimados, levando <strong>em</strong> consideração as economias do tamanho de agregados familiares. A variável dependente<br />
2<br />
foi mudada para x j / h j , <strong>em</strong> que x j é o consumo total do agregado familiar j, h j é o número de pessoas no agregado familiar j, e 2 é o parâmetro da elasticidade do<br />
tamanho do agregado famliar, que foi definido para 0,4 (o nível no qual o tamanho do agregado familiar e a pobreza são quase ortogonal). A linha da pobreza foi<br />
normalizada usando o tamanho médio do agregado familiar na amostra. Para mais detalhes, veja o texto, e Lanjouw e Ravallion (1995).
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.9: Implicações do crescimento económico durante a última década para a<br />
redução da pobreza<br />
1987 Simulada 1996-97<br />
Mudança durante a<br />
década (%)<br />
Consumo médio (MT por pessoa por dia <strong>em</strong><br />
preços de 1996-7) 4963 5286 6,5<br />
Índice da incidência da pobreza (%) 72,60 69,37 -4,4<br />
Índice de profundidade da pobreza (%) 31,82 29,26 -8,0<br />
Índice de severidade da pobreza (%) 17,39 15,63 -10,1<br />
208
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3.10: Implicações do crescimento económico futuro para a redução da pobreza<br />
Crescimento económico hipotético 1996-97 2003 simulada<br />
Mudança durante<br />
5 anos %<br />
Cenário 1: 2% crescimento anual <strong>em</strong> consumo real per cápita, distribuído igualmente<br />
Consumo Médio (MT por pessoa por dia<br />
<strong>em</strong> preços de 1996-7) 5286 5836 10,4<br />
Índice de incidência da pobreza (%) 69,37 64,17 -7,5<br />
Índice de profundidade da pobreza (%) 29,26 25,35 -13,4<br />
Índice de severidadeda pobreza (%) 15,63 13,06 -16,4<br />
Cenário 2: 7,7% crescimento anual <strong>em</strong> consumo real per cápita, distribuído igualmente<br />
Consumo Médio (MT por pessoa por dia<br />
<strong>em</strong> preços de 1996-7) 5286 8240 55,9<br />
Índice de incidência da pobreza (%) 69,37 41,95 -39,5<br />
Índice de profundidade da pobreza (%) 29,26 13,72 -53,1<br />
Índice de severidade da pobreza (%) 15,63 6,28 -59,9<br />
Cenário 3: 7,7% crescimento anual <strong>em</strong> consumo real per cápita, com taxa de crescimento duas vezes<br />
mais rápidas nas zonas urbanas que nas zonas rurais<br />
Consumo Médio (MT por pessoa por dia<br />
<strong>em</strong> preços de 1996-7) 5286 8240 55,9<br />
Índice de incidência da pobreza (%) 69,37 43,42 -37,4<br />
Índice de profundidade da pobreza (%) 29,26 14,70 -49,8<br />
Índice de severidade da pobreza (%) 15,63 6,83 -56,3<br />
Cenário 4: 7,7% crescimento anual <strong>em</strong> consumo real per cápita, com taxa de crescimento duas vezes<br />
mais rápidas entre os não-pobres que os pobres<br />
Consumo Médio (MT por pessoa por dia<br />
<strong>em</strong> preços de 1996-7) 5286 8240 55,9<br />
Índice de incidência da pobreza (%) 69,37 48,44 -30,2<br />
Índice de profundidade da pobreza (%) 29,26 16,85 -42,4<br />
Índice de severidade da pobreza (%) 15,63 8,01 -48,8<br />
209
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Capítulo 4<br />
Segurança alimentar e nutricão <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>:<br />
Características, determinantes e previsões estratégicas<br />
James L. Garrett<br />
Sergio Cassamo<br />
Marie T. Ruel
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Índices<br />
4.1. Introdução ....................................................... 213<br />
4.2 Considerações conceituais ........................................... 214<br />
4.3 Segurança alimentar ................................................ 215<br />
4.3.1 Disponibilidade ............................................... 215<br />
4.3.2 Acesso ..................................................... 216<br />
4.4. Prevalência e localização da insegurança alimentar ......................... 223<br />
4.5. Segurança nutricional ............................................... 227<br />
4.5.1 Utilização .................................................. 227<br />
4.6 Prevalência e localidade de desnutrição ................................. 230<br />
4.7 <strong>Pobreza</strong>, insegurança alimentar e desnutrição .............................. 234<br />
4.8 Determinantes da segurança alimentar e nutriçao nas zonas urbanas e nas zonas rurais<br />
de <strong>Moçambique</strong>: uma análise de regressão. .............................. 236<br />
4.9 Recomendações e conclusão ........................................ 240<br />
Referência ............................................................ 250<br />
Anexo 1: Distribuição da sub-amostra do capítulo e amostra completa ............... 274
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Lista de Tabelas e Figuras<br />
4.1: Disponibilidade de mercado na comunidade ............................... 252<br />
4.2: Orig<strong>em</strong> dos alimentos ................................................ 252<br />
4.3: Acesso à terra ...................................................... 253<br />
4.4: Média de rendimento por província e por colheita .......................... 254<br />
4.5: Utilização dos insumo agrícolas e das tecnologias ........................... 255<br />
4.6: <strong>Pobreza</strong> e consumo .................................................. 256<br />
4.7: Educação ......................................................... 257<br />
4.8: Assistência social e transferência pecuniária ............................... 258<br />
4.9: Segurança alimentar ................................................. 259<br />
4.10: Associação da disponibilidade de calorias e percentag<strong>em</strong> das despesas com a<br />
alimentação ...................................................... 260<br />
4.11: Segurança alimentar: Grupos vulneráveis? ............................... 260<br />
4.12: Disponibilidade de centros de saúde .................................... 261<br />
4.13: Acesso a cuidados materno-infantis: Cuidados pré-natais ................... 261<br />
Habitação e ambiente .................................................... 263<br />
4.16: Nº de crianças desnutridas 0-60 meses .................................. 264<br />
4.17: Prevalência da desnutrição: <strong>Moçambique</strong> e países vizinhos ................... 265<br />
4.18: Estado nutricional: Grupos vulneráveis? ................................ 265<br />
4.19: Tabelas cruzadas: <strong>Pobreza</strong>, segurança alimentar, estado nutricional ............ 266<br />
4.20:Tabelas cruzadas: Segurança alimentar e estado nutricional ................... 266<br />
4.21: Modelo de disponibilidade de calorias .................................. 267<br />
1<br />
4. 22: Modelo do estado nutricional, de 0 a 23 meses (rural e urbano) ............. 268<br />
1<br />
4. 22: Modelo do estado nutricional, entre 0 e os 23 meses (rural e urbano) ......... 269<br />
1<br />
4.23: Modelo do estado nutricional de 24 a 60 meses ........................... 270<br />
1<br />
4.23: Modelo do estado nutricional entre de 24 a 60 meses ....................... 271<br />
Figura 4.1: Determinantes da segurança alimentar e nutrição: quadro conceitual<br />
............................................................... 273<br />
Figura 4.2: Estado Nutricional das crianças, Idades 0-60 meses ................... 273
4.1. Introdução<br />
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Este relatório t<strong>em</strong> vindo a focar, até este momento, a natureza e os determinantes da<br />
pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, usando uma medida de pobreza baseada numa avaliação do<br />
consumo dos agregados familiares. Este capítulo volta a sua atenção para outros aspectos<br />
significativos do b<strong>em</strong>-estar: segurança alimentar e nutricão. Sendo o primeiro inquérito<br />
representativo das despesas por agregado familiar a nível nacional, o MIAF proporciona uma<br />
oportunidade única para avaliar até que ponto os moçambicanos têm insegurança alimentar,<br />
isto é, até que ponto estão impossibilitados de obter alimentos suficientes para uma vida<br />
saudável e activa. O MIAF proporciona também informação importante sobre a extensão da<br />
desnutrição infantil no país e a sua localização. A desnutrição das crianças com menos de 5<br />
anos é uma medida-chave das capacidades produtivas e reprodutivas de um país no futuro, e é<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po um indicador, de larga aceitação, do b<strong>em</strong>-estar geral de uma sociedade.<br />
Não nos surpreende que para um país que apenas começa a reconstruir-se, após<br />
décadas de guerra civil e de uma transição recente para uma maior liberalização da economia<br />
de mercado,as condições <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> não sejam boas. Dez milhões de moçambicanos<br />
viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> agregados familiares s<strong>em</strong> segurança alimentar. Dois milhões destes moçambicanos<br />
viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> zonas urbanas, e a prevalência da falta de segurança alimentar é hoje mais alta nas<br />
zonas urbanas que nas zonas rurais. Além de reduzir a produtividade económica, a fome<br />
causada pela falta de segurança alimentar poderá constituir um factor importante da violência<br />
doméstica, da instabilidade social e da agitação política.<br />
Mais de milhão e meio de crianças moçambicanas têm baixa altura-para-idade (<strong>em</strong><br />
inglês, "low height-for-age, or stunting"), ou seja não têm vindo a crescer adequadamente<br />
através dos anos e a sua altura está "baixo" para sua idade. Quase duzentas e cinquenta mil<br />
delas viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> zonas urbanas. Em média, estas crianças estão impossibilitadas de aprender<br />
ao rítmo das crianças saudaveis, e as crianças do sexo f<strong>em</strong>inino que chegam à idade adulta<br />
têm um maior risco de vir a ter complicações de saúde durante a gravidéz, de morrer e de vir<br />
a dar à luz crianças com baixo peso. Isto, por sua vez, eleva o risco destas crianças para a<br />
doença e para a desnutrição. Mais de 200.000 crianças moçambicanas têm um peso inferior<br />
ao que seria normal para a sua altura, o seja têm baixo peso - para-altura (<strong>em</strong> inglês, "low<br />
weight-for-height, or wasting"). Estas crianças têm probabilidades muito mais altas de<br />
adoecer e de morrer antes das crianças b<strong>em</strong> nutridas. Embora a maior parte destas crianças<br />
viva <strong>em</strong> zonas rurais, a prevalência do baixo peso-para-altura é mais alta nas zonas urbanas.<br />
Este capítulo mostra a variação na prevalência da segurança alimentar e nutricão e as<br />
condições que as causam através do país. Por ex<strong>em</strong>plo, a pobreza é mais baixa nas cidades<br />
que nas zonas rurais. O clima e o solo são mais apropriadas para a agricultura no norte que no<br />
sul. Os centros de saúde são mais comuns nas grandes cidades, tais como Maputo, do que nas<br />
outras capitais de província.<br />
Estas diferenças acentuam o facto de que a segurança alimentar e nutricional<br />
depender<strong>em</strong> de factores locais e regionais, além das políticas macro-económicas a nível<br />
213
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
nacional e da eficiência do governo nacional. Tomando as distinções geográficas como ponto<br />
de partida, as tabelas neste capítulo apresentam não só figuras rurais e urbanas, mas também<br />
nacionais. As figuras urbanas são ainda subdivididas <strong>em</strong> 3 categorias: Maputo; as cidades<br />
grandes da Beira, Nampula e Matola; e, finalmente, todas as outras zonas classificadas como<br />
1<br />
urbanas por este inquérito. As figuras rurais estão divididas <strong>em</strong> zonas norte, central e sul. A<br />
zona norte inclui as províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula; a zona central inclui a<br />
Zambézia, Tete, Manica e Sofala; e a zona sul inclui as províncias de Inhambane, Gaza e<br />
Maputo. 2<br />
Este capítulo não se destina a fornecer uma análise exaustiva de tudo o que se conhece<br />
sobre a segurança alimentar e nutricão <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. O capítulo destina-se a proporcionar<br />
uma visão geral dos factores que afectam a segurança alimentar e nutrição, utilizando os<br />
dados do MIAF. Mesmo assim, os dados do MIAF deverão ser submetidos a uma nova<br />
análise para mostrar<strong>em</strong> melhor outros determinantes importantes de segurança alimentar e<br />
nutrição não analisados aqui <strong>em</strong> pormenor, tais como padrões dietéticos e morbidez. Noutros<br />
casos, o MIAF precisa de ser supl<strong>em</strong>entado por informação adicional, tais como a<br />
distribuição de recursos e comportamentos de cuidado dentro do agregado familiar, o papel<br />
da mulher e as práticas de regime alimentício e de higiene dentro do agregado familiar.<br />
O capítulo constitui, portanto, uma visão breve, mas compreensiva, da segurança<br />
alimentar e nutricão <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, a qual identifica os principais obstáculos, aponta as<br />
diferenças regionais, assim como as diferenças entre as zonas rurais e as zonas urbanas, e põe<br />
<strong>em</strong> evidência as características dos grupos vulneráveis e a relação entre a pobreza, a<br />
segurança alimentar e a nutrição. Uma pequena secção no final do capítulo considera as<br />
medidas gerais a tomar para melhorar a segurança alimentar e nutrição <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, à luz<br />
destes dados.<br />
4.2 Considerações conceituais<br />
As condições, ao nível da comunidade, do agregado familiar e do indivíduo afectam a<br />
segurança alimentar e nutricão, tal como se mostra na Figura 4.1. A segurança alimentar do<br />
agregado familiar depende do facto de a alimentação estar disponível ao agregado familiar e<br />
ao facto de o agregado familiar ter recursos suficientes para adquirir–ou ter acesso–à<br />
1 Neste inquérito, as pequenas cidades e as vilas, assim como todas as capitais provinciais e Maputo,<br />
são classificadas como urbanas.<br />
2<br />
As figuras a nível de agregado familiar referidas aqui são baseadas num número mais reduzido de<br />
observações do que o banco de dados utilizado para os cálculos da pobreza (6463 contra 8273). Os agregados<br />
familiares que apresentaram um nível de consumo de calorias desmesurado (menos de 800 calorias por AEU<br />
(unidade equivalente por adulto) ou mais de 7000 calorias por AEU) foram excluídos dos dados utilizados para<br />
efeitos de estatística neste capítulo. Dentro desta sub-amostra de agregados familiares, as crianças apresentadas<br />
sob a classificação de -5 ou +5 a partir da média padronizada tanto para o estado de nutrição como para o<br />
indicador (baixo altura-para-idade ou peso-para-altura) foram excluídas, dando uma sub-amostra de 3309<br />
crianças de 0 a 60 meses. O inquérito da comunidade reflete as condições de 5811 agregados familiares rurais.<br />
O Anexo 1 mostra que há pouca diferença na composição regional dos dois modelos de dados (o "sub-amostra<br />
do capítulo" e da "amostra completa"), uma vez omitidos estes valores extr<strong>em</strong>os.<br />
214
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
alimentação, mesmo quando esteja disponível. A segurança alimentar do indivíduo depende<br />
do facto de a alimentação ser distribuída pelo agregado familiar de modo a que todos os<br />
m<strong>em</strong>bros tenham acesso a ela. A segurança nutricional depende do estado de saúde do<br />
indivíduo e do facto de o indivíduo estar a consumir uma dieta adequada, condições que<br />
determinam se o indivíduo t<strong>em</strong> possibilidades de utilizar a comida.<br />
Este capítulo concentra-se <strong>em</strong> certos indicadores seleccionados destes determinantes,<br />
a nível do agregado familiar e do indivíduo quanto à segurança alimentar e nutricão, mas os<br />
factores económicos, políticos e culturais são também importantes e criam o ambiente <strong>em</strong> que<br />
estes factores actuam. As políticas macro-económicas afectam o nível de actividade<br />
económica e influenciam os preços e a d<strong>em</strong>anda de mão-de-obra. A estrutura das instituições<br />
políticas afectam a maneira como as necessidades da comunidade se expressam e são<br />
satisfeitas. O Governo e as ONG poderão ter de criar esqu<strong>em</strong>as institucionais a fim de<br />
poder<strong>em</strong> utilizar conjuntamente os seus recursos de uma forma mais eficaz para providenciar<br />
serviços de saúde e de educação, assim como as infra-estruturas sanitárias e o fornecimento<br />
de água. As normas culturais poderão afectar a maneira como os recursos financeiros ou a<br />
comida são distribuídos no agregado familiar.<br />
Dado que este estudo se concentra na utilização dos dados do inquérito do MIAF, não<br />
analisará muito de perto o ambiente económico, político e cultural, mesmo que isso seja<br />
visivelmente importante. Uma análise futura deveria procurar compreender o papel<br />
des<strong>em</strong>penhado por estes factores ambientais na segurança alimentar e nutricional <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>, e tomá-los <strong>em</strong> consideração no planeamento e na impl<strong>em</strong>entação das políticas<br />
de alimentação e nutrição.<br />
4.3 Segurança alimentar<br />
4.3.1 Disponibilidade<br />
Qual é a acessibilidade dos mercados? Embora a acessibilidade ao mercado não possa<br />
indicar o nível de competição nesta área, deveria pelo menos sugerir até que ponto os bens,<br />
incluindo a comida, e a informação do preço do mercado estão acessíveis à comunidade. Uma<br />
fraca acessibilidade torna mais improvável que um estoque abundante e diverso de bens<br />
alimentares possa entrar numa determinada zona. E torna mais difícil para os produtores o<br />
aumento do seu rendimento por meio da participação <strong>em</strong> mercados fora da sua comunidade.<br />
O inquérito à comunidade, realizado <strong>em</strong> zonas rurais, levou à conclusão de que a<br />
população rural (74 por cento) não t<strong>em</strong> acesso aos mercados diários ou s<strong>em</strong>anais na sua<br />
3<br />
comunidade. Apenas 33 por cento da população da região sul vive <strong>em</strong> comunidades com<br />
mercados diários ou s<strong>em</strong>anais permanentes, e apenas 25 por cento da população das regiões<br />
3 O inquérito à comunidade só foi realizado <strong>em</strong> zonas rurais. As análises que utilizaram dados<br />
extraídos do inquérito à comunidade são evidentes quando as tabelas contêm informação sobre zonas rurais ou a<br />
informação de zonas urbanas está indicada como "n.d.", ou "não disponível."<br />
215
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
central e norte viv<strong>em</strong> nessas condições (Tabela 4.1). 4<br />
O acesso aos mercados t<strong>em</strong> ainda outros obstáculos: a distância e as fracas condições<br />
das estradas. A distância média do mercado (caso não exista um na comunidade) é de 15<br />
quilómetros, <strong>em</strong>bora esta distância seja mais na região norte (21 quilómetros). As estradas<br />
são por vezes intransitáveis. Só 61 por cento das estradas das comunidades da região central<br />
são transitáveis durante o ano inteiro. Os números são mais elevados na região norte (72 por<br />
cento) e na região sul (81 por cento). A viabilidade das estradas que ligam as comunidades<br />
durante o ano inteiro é provavelmente ainda mais baixa.<br />
A falta de boas estradas na região central t<strong>em</strong> efeitos negativos para o país inteiro,<br />
prejudicando a ligação entre a região norte, com excesso de bens alimentícios, e as zonas da<br />
região sul, deficitária <strong>em</strong> bens alimentícios. Com o regresso da paz, houve alguns<br />
melhoramentos. A produção do milho no norte pode agora escoar-se mais facilmente para o<br />
sul, indo de encontro à d<strong>em</strong>anda, amenizando assim, até certo ponto, altos e baixos sazonais<br />
anteriores nas duas regiões (Governo de <strong>Moçambique</strong>, 1998). Mesmo assim, cada região<br />
present<strong>em</strong>ente t<strong>em</strong> melhores acessos aos mercados internacionais que aos mercados<br />
domésticos (FAO, 1997).<br />
4.3.2 Acesso<br />
Onde é que os agregados familiares de <strong>Moçambique</strong> obtêm os bens alimentícios?<br />
Os agregados familiares pod<strong>em</strong> comprar bens alimentícios, pod<strong>em</strong> produzi-los ou colhê-los<br />
eles próprios, ou obtê-los de terceiros (doutros agregados familiares ou dos programas de<br />
assistência alimentar, por ex<strong>em</strong>plo). Os habitantes rurais têm probabilidade de produzir a<br />
maioria dos seus bens alimentícios e os processos de troca entre agregados familiares de<br />
zonas rurais poderão dar-se com mais frequência do que entre os agregados familiares de<br />
zonas urbanas (veja-se o Capítulo 6). Mesmo os camponeses das zonas rurais muitas vezes<br />
compram pelo menos alguns dos seus bens alimentícios, <strong>em</strong>bora a quantidade possa variar de<br />
estação para estação. Os habitantes das zonas urbanas <strong>em</strong> geral não têm acesso a terreno<br />
suficiente para produzir grande quantidade de bens alimentícios, mas os dados mostram que a<br />
agricultura present<strong>em</strong>ente não é invulgar mesmo nas zonas urbanas de <strong>Moçambique</strong>.<br />
Os agregados familiares rurais de <strong>Moçambique</strong> parec<strong>em</strong> ser altamente<br />
auto-suficientes. Em média, os agregados familiares rurais só compram 30 por cento dos seus<br />
bens alimentícios. Obtêm 70 por cento das suas próprias terras ou de outras fontes (Tabela<br />
5<br />
4.2). Os números são mais altos no sul, onde os agregados familiares obtêm 77 por cento dos<br />
4 Para esta exposição, o texto refere-se por vezes à percentag<strong>em</strong> por comunidades ou à percentag<strong>em</strong><br />
por agregado familiar, mas todos os números foram tomados <strong>em</strong> consideração para reflectir as condições a nível<br />
do indivíduo. Para maior precisão, por conseguinte, os números deveriam ser citados como uma percentag<strong>em</strong><br />
dos indivíduos que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> comunidades ou agregados familiares sujeitos a condições específicadas.<br />
5 O inquérito distinguiu entre compras, produção própria e "outros" (principalmente r<strong>em</strong>essas de outros<br />
agregados familiares ou programas de assistência social) como fontes de bens alimentícios, mas estas distinções<br />
não parec<strong>em</strong> ter sido observadas com rigor durante a recolha de dados e o seu processamento. Tal como se<br />
216
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
seus bens alimentícios fora do mercado. Tal como se nota abaixo, os agregados familiares da<br />
região sul receb<strong>em</strong> menor assistência alimentar fora do seu agregado familiar do que os<br />
agregados familiares rurais noutras zonas, de maneira que os agregados familiares do sul<br />
depend<strong>em</strong> provavelmente mais da sua própria produção do que os das outras regiões. A razão<br />
para isto poderá dever-se ao facto de a taxa de pobreza ser mais alta no sul (os agregados<br />
familiares rurais pobres tend<strong>em</strong> a depender mais da produção própria <strong>em</strong> geral do que os<br />
agregados familiares mais ricos), ou então poderá dever-se ao facto de os agregados<br />
familiares do sul possuír<strong>em</strong> terrenos maiores, e, portanto, dispor<strong>em</strong> de mais espaço para<br />
cultivar bens alimentícios.<br />
Por outro lado, os habitantes urbanos compram a maioria dos seus bens alimentícios<br />
(83 por cento), <strong>em</strong>bora também eles produzam ou colham uma quantia significativa de<br />
comida, ou a obtenham por meio de programas de assistência alimentar, pública ou privada,<br />
ou transferêncios ou r<strong>em</strong>essas (17 por cento). Isto é quase o inverso dos números referentes às<br />
zonas rurais. Como era de esperar, a percentag<strong>em</strong> de bens alimentícios que se compra baixa à<br />
medida que a aglomeração urbana decresce, à medida que a zona se torna "menos urbana,"<br />
<strong>em</strong> certo sentido. Por ex<strong>em</strong>plo, os agregados familiares <strong>em</strong> Maputo compram quase todos os<br />
seus bens alimentícios (96 por cento), mas os agregados familiares <strong>em</strong> zonas urbanas fora de<br />
Maputo só compram entre 70 e 80 por cento dos seus bens alimentícios, recebendo o resto da<br />
comida das suas próprias terras ou <strong>em</strong> forma de transferências dos programas de assistência<br />
alimentar ou outros agregados familiares.<br />
Mesmo assim, a diferença nos padrões de aquisição de bens alimentícios, mesmo<br />
entre as zonas menos urbanas e as zonas rurais, é b<strong>em</strong> definida e fornece um el<strong>em</strong>ento<br />
interessante para a caracterização para o que é urbano e para o que é rural. Embora os que<br />
viv<strong>em</strong> nas zonas menos urbanas experiment<strong>em</strong> provavelmente mais aspectos de um modo de<br />
vida rural que os que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> grandes cidades, como Maputo, e o seu modo de vida gire<br />
provavelmente mais à volta da agricultura, contudo, <strong>em</strong> geral, eles não viv<strong>em</strong> da terra e<br />
compram portanto a maioria dos bens alimentícios.<br />
Produção própria. Com tantos moçambicanos a depender da sua própria produção<br />
6<br />
agrícola para se alimentar<strong>em</strong>, os factores que afectam a capacidade dos agregados familiares<br />
para produzir os seus bens alimentícios poderão ser importantes para a segurança alimentar.<br />
Estes factores inclu<strong>em</strong> a disponibilidade da terra, as condições agro-ecológicas, incluindo o<br />
clima e a fertilidade do solo, o uso de tecnologias mais avançadas, e a disponibilidade de uma<br />
boa assistência técnica e de informação do mercado. Além disso, a fim de proporcionar uma<br />
fonte directa de bens alimentícios, o melhoramento da produção agrícola poderá fazer crescer<br />
também o rendimento do agregado familiar, fornecendo assim um rendimento mais alto que<br />
informa abaixo, os dados indicam que a contribuição dos programas de assistência, tanto pública como privada<br />
ou de r<strong>em</strong>essas, é provavelmente pequena, mas para garantir uma representação precisa aqui os dois grupos -<br />
produção própria e "outros" - combinam-se numa única categoria designada como "não mercado."<br />
6<br />
Muitos agregados familiares também colh<strong>em</strong> comida, tais como folhas, nas terras baldias.<br />
217
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
permita adquirir no mercado bens alimentícios adicionais.<br />
Posse da terra. <strong>Moçambique</strong> continua sendo um país de pequenos proprietários. Mais<br />
de 98 por cento dos habitantes rurais <strong>em</strong> todas as regiões têm acesso à terra, mas o tamanho<br />
da terra é pequeno: insuficiente <strong>em</strong> geral para sustentar uma família durante todo o ano, com<br />
bens alimentícios e rendimento adequados. Além disso, toda a terra, present<strong>em</strong>ente, é na<br />
realidade propriedade do estado, o qual cede a terra <strong>em</strong> regime de arrendamento, que é<br />
renovável ao fim de 50 anos, garantindo os direitos de usufructo. Present<strong>em</strong>ente encontra-se<br />
sob estudo uma nova lei no Parlamento (FAO, 1997).<br />
O tamanho médio de um terreno per capita é mais elevado no sul que no norte ou que<br />
na zona central (Tabela 4.3). No sul, onde a terra é mais apropriada para a criação de gado, o<br />
tamanho médio de um terreno per capita é 0,62 hectares, <strong>em</strong>bora 45 por cento dos agregados<br />
familiares possuam terrenos com mais de 3 hectares. Apenas 12 a 14 por cento têm mais de 3<br />
hectares na zona central e na zona norte, e o tamanho médio per capita é menor: 0,38 e 0,52<br />
hectares per capita, respectivamente.<br />
Os dados confirmam também que a agricultura urbana não é uma coisa fora do<br />
comum <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> (Tabela 4.3). Em média, 56 por cento dos agregados familiares<br />
urbanos possu<strong>em</strong> terra. Mas este número agregado obscurece grandes diferenças entre<br />
Maputo, onde apenas 12 por cento têm acesso à terra, e outras zonas urbanas, onde entre 70 e<br />
75 por cento dos agregados familiares possu<strong>em</strong> terra. Para os que possu<strong>em</strong> terra, porém, o<br />
tamanho médio do terreno é um pouco maior <strong>em</strong> Maputo que noutras zonas urbanas. Vinte e<br />
cinco por cento dos agregados familiares <strong>em</strong> Maputo com terra possu<strong>em</strong> mais de 3 hectares,<br />
ao passo que só cerca de 10 por cento dos que possu<strong>em</strong> terras noutras zonas urbanas têm um<br />
terreno desse tamanho. O inquérito não indica se a terra possuída está localizada dentro ou<br />
fora da cidade, mas mesmo uma simples vista por alto, <strong>em</strong> Maputo, confirma que pelo menos<br />
alguns agregados familiares dentro da cidade têm as suas hortas.<br />
Rendimento e uso de insumos agrícolas. A produção agrícola é importante para o<br />
próprio consumo e para gerar rendimentos. A produção de colheitas t<strong>em</strong> vindo a aumentar<br />
substancialmente nos últimos anos, e, com excepção do trigo, <strong>Moçambique</strong> é agora<br />
auto-suficiente no que se refere aos cereais básicos. O auxílio para a importação de milho<br />
baixou de 563.000 toneladas métricas <strong>em</strong> 1992 para 14.000 toneladas métricas <strong>em</strong> 1996<br />
(Governo de <strong>Moçambique</strong>, 1998).<br />
A produtividade agrícola é ainda muito baixa. A Tabela 4.4 mostra a informação<br />
sobre a produtividade <strong>em</strong> todas as províncias para quatro culturas principais: milho, arroz,<br />
mandioca e feijão. Esta informação é do inquérito de 1996, uma vez que a informação sobre a<br />
produção no estudo dos agregados familiares não se considerava fidedigna. Os números<br />
obviamente não se refer<strong>em</strong> unicamente à produção própria, mas fornec<strong>em</strong> uma indicação da<br />
produtividade da agricultura de <strong>Moçambique</strong>, uma parte da qual é utilizada para o consumo.<br />
218
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tal como consta da Tabela 4.4, a taxa de produtividade de <strong>Moçambique</strong> é<br />
substancialmente mais baixa do que no vizinho Zimbabwe e até do que a taxa de<br />
produtividade nos países da África Sub-Sahariana, no seu conjunto. Esta baixa taxa de<br />
produtividade é devida principalmente ao facto de os lavradores moçambicanos utilizar<strong>em</strong><br />
relativamente pouca tecnologia, incluindo equipamento agrícola, s<strong>em</strong>entes de boa qualidade<br />
ou fertilizantes (Tabela 4.5). Muito poucos agricultores utilizam qualquer equipamento<br />
mecânico (4 por cento); apenas 20 por cento compram s<strong>em</strong>entes (geralmente um bom<br />
indicador do uso de s<strong>em</strong>ente de mais alta qualidade); e apenas um número insignificante usa<br />
fertilizantes. Significativamente, uma maior percentag<strong>em</strong> de agricultores do sul usa<br />
equipamento mecanizado (8 por cento) e compra s<strong>em</strong>entes (32 por cento) do que noutras<br />
regiões, o que provavelmente é o resultado de um acesso mais fácil a meios fornecidos por<br />
melhores estradas e por uma melhor infra-estrutura de comunicações.<br />
Dado que o uso da tecnologia é tão baixo, a produtividade <strong>em</strong> zonas rurais reflecte<br />
assim,principalmente, a riqueza dos recursos naturais das zonas <strong>em</strong> que se cultivam esses<br />
produtos. Desta forma, não surpreende que a média de produtividade na região norte e na<br />
região central, com as suas condições agro-ecológicas mais favoráveis, sejam mais altas do<br />
que no sul, excepto para o arroz na província sul de Gaza, a qual t<strong>em</strong> alguma irrigação.<br />
Ulteriores aumentos na produtividade baseiam-se no melhoramento dos insumos e na<br />
disponibilidade de crédito e de um maior uso de tecnologias que favoreçam a produção (FAO,<br />
1997).<br />
Embora, naturalmente, o número de habitantes urbanos envolvidos na agricultura seja<br />
muito menor, os moradores da cidade tend<strong>em</strong> a usar mais tecnologia agrícola que os<br />
agricultores rurais. Mais uma vez, isto deve-se talvez <strong>em</strong> geral ao facto de os agricultores de<br />
zonas urbanas dispor<strong>em</strong> de maior acesso aos insumos que os agricultores de zonas rurais. A<br />
percentag<strong>em</strong> mais elevada de agricultores residentes de Maputo que utilizam estas<br />
tecnologias dá mais credibilidade a esta hipótese. Vinte e três por cento desses agricultores<br />
residentes <strong>em</strong> Maputo, por ex<strong>em</strong>plo, utilizam fertilizantes, ao passo que, de entre os<br />
agricultores que viv<strong>em</strong> noutras zonas, apenas 3 por cento ou menos utilizam fertilizantes.<br />
Este inquérito não avaliou a qualidade da assistência técnica, mas indica que as<br />
comunidades rurais do sul e do norte do país têm maior acesso à assistência (entre 22 e 23 por<br />
cento) do que os que viv<strong>em</strong> na zona central (14 por cento). E quanto às comunidades s<strong>em</strong><br />
assistência técnica, a assistência está ainda mais perto dos que viv<strong>em</strong> no sul do que dos que<br />
viv<strong>em</strong> noutras regiões (uma distância média de 20 quilómetros contra 32 a 34 quilómetros<br />
para os das outras regiões). Um melhoramento no acesso a uma assistência de boa qualidade<br />
faria aumentar, provavelmente, a taxa de produtividade.<br />
Compra de bens alimentícios e rendimento. Mesmo os agregados familiares rurais<br />
compram uma porção substancial dos seus bens alimentícios. Mesmo se hipoteticamente<br />
pudess<strong>em</strong> viver somente do que produz<strong>em</strong>, os agregados familiares poderiam querer comprar<br />
bens alimentícios para diversificar a sua dieta alimentar ou compensar pelas quedas sazonais<br />
219
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
<strong>em</strong> produção. Então, mesmo os agregados familiares rurais precisam de ganhar algum<br />
rendimento <strong>em</strong> efectivo. A capacidade de trabalhar e ganhar um salário é especialmente<br />
crítica para os que viv<strong>em</strong> na cidade porque não pod<strong>em</strong> explorar tão facilmente o ambiente<br />
que os rodeia para a água, a comida e a habitação.<br />
Como os dados sobre a quantia ganha pelo agregado familiar não estão disponíveis, os<br />
dados sob quer o agregado familiar seja pobre ou não se utilizam para indicar a capacidade de<br />
o agregado de comprar comida. Embora este número, baseado nos valores das despesas de<br />
consumo, não reflete verdadeiramente a quantia do dinheiro disponível do agregado familiar,<br />
isto sugere os recursos que o agregado familiar t<strong>em</strong> ao seu dispor para fazer as compras no<br />
mercado, se necessário.<br />
Tal como se pode ver na Tabela 4.6 (e detalhadamente no Capítulo 2), a pobreza <strong>em</strong><br />
7<br />
<strong>Moçambique</strong> é extensiva tanto nas zonas urbanas como nas zonas rurais. Sessenta e um por<br />
cento dos moradores das cidades são pobres, ao passo que, de entre os habitantes rurais, 72<br />
por cento são pobres. Cerca de um terço da população de cada uma das zonas é extr<strong>em</strong>amente<br />
pobre, com uma despesa de consumo de 60 por cento ou menos abaixo da linha de pobreza.<br />
Embora seja ainda bastante alta, uma percentag<strong>em</strong> muito mais baixa da população da<br />
cidade de Maputo é pobre (49 por cento), <strong>em</strong> comparação com a população de outras zonas<br />
rurais ou urbanas. Os níveis de pobreza nas zonas urbanas, fora de Maputo, incluindo a Beira<br />
e Nampula, rondam entre os 65 e os 70 por cento, rivalizando com os que viv<strong>em</strong> nas zonas<br />
rurais. Na região sul, com um potencial agrícola baixo, 75 por cento dos agregados familiares<br />
são pobres, <strong>em</strong>bora a região central, com poucas infra-estruturas e fraco desenvolvimento<br />
económico, esteja um tudo nada abaixo, com um nível de pobreza de 73 por cento.<br />
O nível mediano de consumo é mais alto nas zonas urbanas que nas zonas rurais. As<br />
linhas de pobreza, ajustadas ao custo de vida, são mais altas nestas zonas. A despesa mediana<br />
de consumo nas zonas urbanas é de 6262 meticais per capita por dia, ou à volta de USD$.50,<br />
e de 3423 meticais per capita por dia, ou à volta de USD$.30, nas zonas rurais.<br />
O ponto principal é que com uma pobreza tão generalizada e com um rendimento tão<br />
baixo, a maioria dos moçambicanos não dispõe de recursos suficientes para garantir que<br />
estejam s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> condições de poder obter bens alimentícios suficientes. E a sua pobreza<br />
coloca-os num risco maior de não poder obter segurança alimentar, se o agregado familiar<br />
sofrer algum choque, tal como a perda do trabalho, a morte de um ganha-pão, ou uma colheita<br />
pobre. O agregado familiar t<strong>em</strong> pouca capacidade para absorver mais choques, colocando<br />
esse agregado familiar num risco maior de fome.<br />
A capacidade de adquirir bens de rendimento está estreitamente relacionada com o<br />
capital humano disponível do agregado familiar, especialmente nas zonas urbanas. Aqui o<br />
nível mais alto de educação formal atingida pelas mulheres e pelos homens <strong>em</strong> cada agregado<br />
7 Por causa da diferença nos bancos de dados referidos antes (veja-se a Nota 2), estes números poderão<br />
diferir ligeiramente dos apresentados noutros capítulos deste relatório.<br />
220
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
familiar dá uma indicação do nível de capital humano existente no agregado familiar. Tal<br />
como se pode ver na Tabela 4.7, os níveis de educação <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> são extr<strong>em</strong>amente<br />
baixos, aterrorizadores nas zonas rurais, onde quase 90 por cento das mulheres e quase 70 por<br />
cento dos homens ou não têm qualquer instrução ou são analfabetos. Mesmo nas zonas<br />
urbanas os níveis educacionais são baixos: 49 por cento das mulheres e 23 por cento dos<br />
homens nas cidades também não têm qualquer instrução ou são analfabetos. Em preparação<br />
para o futuro, mais de 30 por cento das crianças rurais ainda não têm a instrução primária na<br />
sua comunidade, e as escolas secundárias nas zonas rurais são praticamente inexistentes.<br />
Estes níveis tão baixo de escolaridade dificultam a produção, a flexibilidade e o<br />
potencial de salário da mão-de-obra de <strong>Moçambique</strong>, impossibilitando-os de ganhar o<br />
suficiente para fugir à pobreza e à fome. A falta de educação limitará também a maneira<br />
como a assistência social ou as mensagens referentes à saúde pública poderão ser transmitidas<br />
aos mais necessitados e reduzirão a capacidade dos recipientes ao acesso, à compreensão e ao<br />
uso dessa assistência.<br />
Transferencias (assistência social e r<strong>em</strong>essas). Receber comida de outros agregados<br />
familiares ou de programas mais formais de assistência poderá ajudar um agregado familiar a<br />
fazer face aos choques causados pelas ameaças da falta de segurança alimentar. Naturalmente,<br />
estas transferências e r<strong>em</strong>essas que pod<strong>em</strong> ir de encontro à necessidade de alimentação não<br />
têm que ser necessariamente <strong>em</strong> forma de comida; alguns poderão sê-lo, mas outros poderão<br />
ser <strong>em</strong> dinheiro ou na forma de outros bens, de modo a permitir que o agregado familiar gaste<br />
mais <strong>em</strong> alimentação.<br />
A Tabela 4.8 mostra que, apesar dos elevados níveis de pobreza existentes <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>, relativamente poucos agregados familiares receb<strong>em</strong> qualquer espécie de<br />
assistência de uma organização formal, tais como o Governo ou a ONG. A assistência social<br />
formal não está a ter um impacto generalizado na pobreza ou na segurança alimentar <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>. Apesar das necessidades urgentes, os recursos disponíveis para os programas<br />
sociais são limitados. De acordo com o estudo sobre os agregados familiares, apenas 5 por<br />
cento dos agregados familiares urbanos receb<strong>em</strong> alguma forma de assistência formal, ao<br />
passo que a assistência formal aos agregados familiares rurais é um pouco mais elevada (7<br />
por cento). De acordo com estes dados, o inquérito às comunidades chegou à conclusão de<br />
que somente 9 por cento de todas as comunidades rurais recebiam algum tipo de assistência<br />
social formal.<br />
Porém, a assistência disponível d<strong>em</strong>onstra uma tendência regional, com uma maior<br />
percentag<strong>em</strong> de comunidades nas regiões norte e sul (11 por cento) a receber assistência do<br />
que as comunidades da região central (7 por cento). O inquérito aos agregados familiares<br />
corrobora estes números com percentagens significativamente mais altas na cidade de Maputo<br />
(8 por cento) e na região sul (16 por cento) a receber assistência do que nas outras zonas.<br />
Embora a existência da assistência (ou a falta dela) seja sensivelmente uniforme na<br />
maior parte das zonas do país, fora do sul, o tipo de assistência recebida não o é. Cerca de 90<br />
221
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
por cento dos agregados familiares que receb<strong>em</strong> assistência <strong>em</strong> Maputo recebe comida, ao<br />
passo que apenas 14 por cento dos agregados familiares noutras grandes cidades e 53 por<br />
cento dos agregados familiares noutras zonas urbanas a receb<strong>em</strong>. Da mesma maneira, 75 por<br />
cento dos agregados familiares rurais na região central dotados de programas de assistência<br />
receb<strong>em</strong> comida, 66 por cento na região sul e apenas 24 por cento na região norte. O inquérito<br />
às comunidades reflete uma tendência s<strong>em</strong>elhante, com 5 por cento das comunidades no sul<br />
beneficiadas com programas de assistência alimentar, e 3 por cento tanto na zona central<br />
como na zona norte. Este paradigma reflete provavelmente tanto um ajustamento aos tipos de<br />
assistência necessária <strong>em</strong> cada região (os agregados familiares na região norte têm<br />
provavelmente mais segurança alimentar) e à missão institucional e aos recursos das ONGs e<br />
às agências de desenvolvimento a actuar <strong>em</strong> cada região.<br />
As transferências de uns agregados familiares a outros também poderão indicar a<br />
capacidade dos agregados familiares ao acesso ou à participação na rede de assistência social.<br />
Estes dados suger<strong>em</strong> que a rede de assistência social poderá ser mais forte nas zonas rurais do<br />
que nas zonas urbanas, corroborando os resultados do estudo sobre a rede de assistência<br />
social no Capítulo 6. Os agregados familiares nas zonas rurais, <strong>em</strong> qualquer caso, têm uma<br />
relação de intercâmbio mais activa do que nas zonas urbanas. Os agregados familiares rurais<br />
têm mais probabilidades quer de enviar quer de receber assistência de fundos de pensão, de<br />
clubes, ou de outros agregados familiares do que os agregados familiares das zonas urbanas.<br />
É interessante notar que todos os agregados familiares tend<strong>em</strong> mais para dar do que para<br />
receber assistência.<br />
Mesmo na <strong>em</strong>pobrecida <strong>Moçambique</strong>, 36 por cento dos agregados familiares rurais<br />
enviam r<strong>em</strong>essas para outros grupos ou para famílias, enquanto 22 por cento receb<strong>em</strong><br />
8<br />
assistência de outras fontes. As taxas de envio de assistência são s<strong>em</strong>elhentes entre as<br />
regiões, mas são muito diferentes <strong>em</strong> termos de receber assistência: os agregados familiares<br />
da zona central têm mais probabilidade de receber assistência (31 por cento) do que os da<br />
zona norte (15 por cento) ou os da zona sul (13 por cento).<br />
Em média, os agregados familiares urbanos têm aproximadamente a mesma taxa de<br />
envio de assistência que os agregados familiares rurais (35 por cento), mas os agregados<br />
familiares nas cidades grandes tend<strong>em</strong> a enviar assistência com mais frequência do que os de<br />
outras zonas urbanas. Tanto uns como outros receb<strong>em</strong> assistência com muito menos<br />
frequência. E também aqui existe uma diferença regional: os agregados familiares <strong>em</strong> Maputo<br />
indicam que receb<strong>em</strong> assistência com mais frequência do que os de outros centros urbanos,<br />
incluindo os das cidades grandes (19 por cento dos agregados familiares contra 9 a 10 por<br />
cento noutras zonas).<br />
As razões para as diferenças observadas para as diversas regiões não são claras.<br />
8 Os dados sobre transferências e r<strong>em</strong>essas enviadas referentes à cidade de Maputo e à região sul não<br />
oferec<strong>em</strong> garantia, de maneira que foram excluídos destas estatísticas.<br />
222
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Infelizmente, o inquérito não indica o fluxo de assistência, quer entre agregados familiares<br />
urbanos quer rurais, n<strong>em</strong> dentro dos agregados familiares urbanos ou dos agregados<br />
familiares rurais. A prevalência mais elevada de recepção de assistência formal na parte sul<br />
do país, incluindo Maputo, poderá também indicar que os programas de assistência formais,<br />
tais como pensões, são mais activos nessa parte do país. E a prevalência mais elevada de<br />
assistência entre os agregados familiares rurais poderá simplesmente indicar uma maior<br />
necessidade de assistência do que entre os agregados familiares urbanos, <strong>em</strong> condições um<br />
pouco melhores.<br />
4.4. Prevalência e localização da insegurança alimentar<br />
Com um baixo nível de produtividade agrícola e com taxas altas de pobreza, a<br />
insegurança alimentar é um espectro constante para uma porção substancial da população de<br />
<strong>Moçambique</strong>: 64 por cento de todos os moçambicanos, mais de 10 milhões de habitantes,<br />
viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> agregados familiares com insegurança alimentar. O nível de insegurança alimentar<br />
9<br />
é ainda mais elevado nas zonas urbanas que nas zonas rurais. Sessenta e sete por cento dos<br />
agregados familiares urbanos não têm comida suficiente, comparados com 63 por cento dos<br />
habitantes do campo (Tabela 4.9). 10<br />
O nível mais baixo de insegurança alimentar encontra-se na região rural norte, de 48<br />
por cento. Embora ainda seja alta, a insegurança alimentar no norte é muito menor que <strong>em</strong><br />
qualquer outra região rural ou zona urbana de <strong>Moçambique</strong>. Isto deve-se provavelmente à<br />
produtividade agrícola na região norte, a qual leva a níveis mais altos de produção para uso<br />
doméstico, a rendimentos relativamente mais altos e aos preços da comida relativamente mais<br />
baixos. Por outro lado, o nível mais alto de insegurança alimentar encontra-se na região sul,<br />
onde 75 por cento da população vive <strong>em</strong> regime de insegurança alimentar. Isto corresponde<br />
aos níveis mais altos de pobreza, a potenciais agrícolas mais baixos e a baixos níveis de<br />
produtividade agrícola. De outra maneira, os níveis de insegurança alimentar nas cidades,<br />
incluindo Maputo, e outras zonas urbanas, são sensivelmente s<strong>em</strong>elhantes, oscilando entre 65<br />
e 71 por cento.<br />
A disponibilidade do nível médio de calorias/UEA/ dia no agregado familiar é quase<br />
um terço mais alto na zona norte, com 3120 calorias/UEA/ dia, do que <strong>em</strong> qualquer outra<br />
9<br />
A segurança alimentar foi definida como se o agregado familiar dispusesse de calorias suficientes<br />
para satisfazer os requisitos de calorias do agregado familiar, usando como medida uma unidade equivalente por<br />
adulto. O número de "unidades equivalentes por adulto" (UEA) num agregado familiar foi determidado<br />
escalonando os requisitos de cada indivíduo no agregado familiar <strong>em</strong> relação aos requisitos de uma referência<br />
adulta, com base na idade, no género e no pressuposto de um nível moderado de actividade. O requisito de 3000<br />
kcals por dia de uma referêndia adulta foi baseado nos requisitos estimados para um adulto do género<br />
masculino, entre os 18 e os 30 anos de idade, com níveis moderados de actividade (FAO/WHO/UNU, 1985).<br />
10 Para fins de comparação, a Tabela 4.9 mostra também os números que resultariam se se usasse a<br />
sub-amostra do capítulo e a amostra completa (veja-se a Nota 2). Os números não sofr<strong>em</strong> grande alteração,<br />
tendo lugar a alteração mais acentuada na região norte, onde a percentag<strong>em</strong> da insegurança alimentar desce de<br />
48 por cento para 43 por cento, se se usar a amostra completa.<br />
223
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
parte de <strong>Moçambique</strong> (Tabela 4.9). Isto é um pouco mais do que as necessidades de<br />
referência a 3000 calorias/UEA/ dia. Os que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> cidades grandes fora de Maputo têm a<br />
disponibilidade mais baixa de calorias, com 1894 calorias/UEA/por dia, 63 por cento das<br />
requeridas. Outras zonas têm uma disponibilidade mediana de quase 2000-2300<br />
calorias/UEA/ dia, ou 65-75 por cento das calorias requeridas.<br />
A disponibilidade de calorias/UEA/dia mostra uma grande variabilidade, mas a<br />
partilha da alimentação, como uma proporção da despesa total com o consumo, é<br />
sensivelmente constante dentro das categorias urbanas e rurais. O valor do consumo de<br />
alimentação pelos moradores da cidade é de 56-62 por cento da despesa do consumo total,<br />
refletindo d<strong>em</strong>andas financeiras adicionais nas zonas urbanas, tais como os serviços e a<br />
habitação, enquanto a despesa do consumo de alimentação dos habitantes rurais é de 68-73<br />
por cento da despesa do consumo total. Tal como se vê na Tabela 4.10, a alimentação<br />
constitui uma percentag<strong>em</strong> mais alta da despesa do consumo total para os pobres do que para<br />
os não pobres, tanto nas zonas urbanas como nas zonas rurais, tal como era de esperar (63 por<br />
cento, comparados com 52 por cento nas zonas urbanas, e 72 por cento comparados com 67<br />
por cento nas zonas rurais).<br />
O inquérito não recolheu informação sobre a disponibilidade de alimentação no<br />
mercado, mas outros autores, usando os dados do MIAF depararam com variações sazonais<br />
<strong>em</strong> modelos de consumo de alimentação (Mlay, Handa, Tostão, 1998). Eles chegaram à<br />
conclusão de que todas as categorias de comida, com excepção da carne e do marisco,<br />
apresentam uma certa sazonabilidade, sendo a variação sazonal mais acentuada no norte.<br />
Porém, resultados preliminares extraídos de outro inquérito, descritos adiante neste capítulo<br />
(Garrett e Ruel, estudo <strong>em</strong> andamento), usando também dados do MIAF, não indicam<br />
quaisquer variações sazonais no consumo total de calorias. Apesar das variações nos modelos<br />
de consumo, os agregados familiares estão aparent<strong>em</strong>ente a fazer substituições entre produtos<br />
que lhes permit<strong>em</strong> manter níveis relativamente constantes de calorias durante o ano. Isto<br />
contrasta com outros relatórios que suger<strong>em</strong> uma dimensão sazonal para a insegurança<br />
alimentar (FAO, 1997), pelo que deverão ser examinados com maior cuidado.<br />
Onde se encontram os carentes de alimentação? Uma figura de prevalência poderá<br />
indicar onde se encontram os probl<strong>em</strong>as mais graves, mas saber onde os números totais são<br />
mais altos poderá ajudar a determinar a melhor maneira de distribuir os recursos a fim de<br />
reduzir a insegurança alimentar. Ainda que a prevalência da insegurança alimentar seja mais<br />
alta nas zonas urbanas, os números mais altos da insegurança alimentar ainda se encontram<br />
nas zonas rurais, refletindo a população predominant<strong>em</strong>ente rural de <strong>Moçambique</strong> (Tabela<br />
4.9). Setenta e oito por cento de todos os agregados familiares que têm carências alimentares,<br />
cerca de 7,8 milhões de habitantes, encontram-se <strong>em</strong> zonas rurais. Quarenta e dois por cento<br />
do total, à volta de 4 milhões de habitantes, viv<strong>em</strong> na região central, mais do dobro do que na<br />
zona norte ou na zona sul. Um total de 2,2 milhões dos agregados familiares que enfrentam a<br />
insegurança alimentar encontram-se <strong>em</strong> zonas urbanas, vivendo entre 6 a 8 por cento dos<br />
224
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
carentes alimentares <strong>em</strong> cada uma das categorias urbanas.<br />
Qu<strong>em</strong> são os grupos vulneráveis? Uma das peças-chave da informação que o<br />
inquérito aos agregados familiares pode fornecer é sobre as características dos mais<br />
vulneráveis. É necessária uma análise adicional, mas este capítulo fornece-nos el<strong>em</strong>entos<br />
preliminares sobre as características de alguns grupos frequent<strong>em</strong>ente mencionados como<br />
correndo o risco de enfrentar<strong>em</strong> insegurança alimentar (Tabela 4.11).<br />
Primeiro, ter uma mulher como chefe do agregado familiar não parece pôr o agregado<br />
familiar a um risco maior de insegurança alimentar do que ser um hom<strong>em</strong> o chefe do<br />
agregado familiar. Um número significativo de agregados familiares, tanto nas zonas rurais<br />
como nas zonas urbanas, têm a mulher como chefe do agregado familiar: 17 por cento nas<br />
zonas rurais e 19 por cento nas zonas urbanas. E a verdade é que nas zonas rurais 63 por<br />
cento dos agregados familiares não têm segurança alimentar, quer tenham a mulher quer<br />
tenham o hom<strong>em</strong> como chefe do agregado familiar. Nas zonas urbanas, os agregados<br />
familiares que têm a mulher como chefe do agregado familiar têm de facto probabilidades um<br />
pouco menores de ser carentes alimentares (64 por cento contra 68 por cento).<br />
Embora se conceda que as mulheres, <strong>em</strong> geral, têm, com mais frequência, maiores<br />
dificuldades que os homens <strong>em</strong> ganhar um salário, o resultado não é d<strong>em</strong>asiado<br />
surpreendente. Uma resenha recente da bibliografia sugere que os agregados familiares que<br />
têm a mulher como chefe do agregado familiar não são necessariamente mais pobres do que<br />
os agregados familiares que têm o hom<strong>em</strong> como chefe do agregado familiar (Quisumbing,<br />
Haddad e Peña, 1995). O seu risco de ter insegurança alimentar poderá também não ser<br />
maior. Estudos adicionais poderiam esclarecer um pouco melhor por que isto é assim. Talvez<br />
os agregados familiares que têm a mulher como chefe do agregado familiar recebam<br />
assistência de parceiros masculinos que não estão presentes; talvez disponham de redes de<br />
assistência que lhes permitam obter comida suficiente, ou pode ser que, mesmo quando<br />
pobres, utiliz<strong>em</strong> e distribuam os recursos dentro do agregado familiar de forma a administrar<br />
melhor os bens alimentares que os agregados familiares que têm o hom<strong>em</strong> como chefe do<br />
agregado familiar.<br />
Os que foram deslocados pela guerra também têm sido considerados, geralmente, um<br />
grupo especialmente vulnerável. Arrancados de suas casas, deixaram para trás a terra e os<br />
recursos, tratando de sobreviver com outras famílias e outros amigos. Estes migrantes da<br />
guerra representam uma minoria significativa tanto nas zonas urbanas como nas zonas rurais<br />
(3 por cento do total da população nas zonas urbanas e 7 do total da população nas zonas<br />
rurais). Nas zonas rurais este grupo apresenta níveis de insegurança alimentar sensivelmente<br />
mais altos do que os não migrantes (73 por cento contra 62 por cento) e números um pouco<br />
mais altos de insegurança alimentar nas zonas urbanas (71 por cento contra 67 por cento).<br />
As famílias com crianças com menos de 5 anos de idade parec<strong>em</strong> estar sujeitas a um<br />
risco mais alto de insegurança alimentar do que as famílias s<strong>em</strong> crianças. Embora o consumo<br />
de uma criança com menos de 5 anos não seja tão grande como o de um adulto as crianças<br />
225
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
concorr<strong>em</strong> para agravar o probl<strong>em</strong>a, uma vez que não contribu<strong>em</strong> para o rendimento familiar<br />
e que poderão requerer mais atenção de um adulto, causando assim a diminuição do potencial<br />
do adulto na sua qualidade de ganha-pão. E, ao mesmo nível de rendimentos, famílias mais<br />
numerosas significam menos recursos por pessoa. Nas zonas rurais, 56 por cento das famílias<br />
com crianças com menos de 5 anos de idade não têm segurança alimentar, comparadas com<br />
60 por cento das que não t<strong>em</strong> crianças. Nas zonas urbanas, 69 por cento das famílias com<br />
crianças, comparadas com 64 por cento das famílias s<strong>em</strong> crianças, não têm segurança<br />
alimentar.<br />
Talvez mais surpreendente seja o facto de os agregados familiares de idosos, que aqui<br />
significam os agregados familiares cujos m<strong>em</strong>bros têm todos mais de 59 anos de idade, e,<br />
teoricamente, já estão fora da mão-de-obra, tenham significativamente menos insegurança<br />
alimentar do que os outros agregados familiares. Estes agregados familiares constitu<strong>em</strong> uma<br />
pequena proporção da população: apenas 1 por cento. Mesmo assim, enquanto 63 por cento<br />
dos agregados familiares rurais e 67 por cento dos outros agregados familiares urbanos, têm<br />
insegurança alimentar, apenas 35 por cento destes agregados familiares de idosos nas zonas<br />
rurais e 30 por cento dos agregados familiares de idosos nas zonas urbanas, têm insegurança<br />
alimentar. Quer dependam da assistência de amigos e de vizinhos, quer sobrevivam como<br />
agregado familiar num conjunto habitacional mais amplo, a maioria dos idosos parece<br />
encontrar maneira de obter comida suficiente.<br />
São necessários estudos adicionais para estabelecer um perfil mais preciso dos<br />
agregados familiares que não têm segurança alimentar. Isto é particularmente pertinente, uma<br />
vez que parece que <strong>Moçambique</strong> apresenta desafios às generalizações comuns sobre os<br />
grupos vulneráveis. Uma pesquisa apropriada poderá mostrar, por ex<strong>em</strong>plo, que os agregados<br />
familiares que têm a mulher como chefe do agregado familiar têm um m<strong>em</strong>bro do sexo<br />
masculino a trabalhar na África do Sul, enquanto outros agregados familiares poderão ser<br />
particularmente vulneráveis porque não têm m<strong>em</strong>bros de família com cuja ajuda possam<br />
contar. Uma pesquisa apropriada poderá também levar à conclusão de que as causas da<br />
vulnerabilidade variam de localidade para localidade (falta de água potável num lugar, falta<br />
de centros de saúde noutro), e assim deverá variar, portanto, a estratégia apropriada para<br />
combater essa vulnerabilidade.<br />
Esta informação poderá portanto ajudar a fornecer directrizes gerais para orientar a<br />
assistência social, os investimentos do sector público, e as actividades do Governo e das<br />
ONGs para grupos específicos ou para zonas geográficas determinadas. Os programas<br />
frequent<strong>em</strong>ente procuram dirigir-se a grupos específicos, mas muitas vezes é difícil obter a<br />
informação e supervisá-la. Estes dados poderão permitir agora o desenvolvimento de uma<br />
lista facilmente verificável de indicadores visíveis que d<strong>em</strong>onstr<strong>em</strong> um grau elevado de<br />
correlação com a pobreza ou com a insegurança alimentar, reduzindo a verificação custosa<br />
destes resultados, por meio da medição dos níveis de rendimento ou do consumo de calorias.<br />
226
4.5. Segurança nutricional<br />
4.5.1 Utilização<br />
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Até aqui este capítulo focou os factores que afectam a segurança alimentar a nível dos<br />
agregados familiares. A segurança alimentar do indivíduo depende da distribuição da<br />
alimentação dentro do agregado familiar, e da consequente composição da dieta do indivíduo.<br />
O estado nutritivo do indivíduo depende também da utilização biológica da comida, a qual é<br />
afectada grand<strong>em</strong>ente pelo estado de saúde do indivíduo. Os comportamentos de higiene e de<br />
cuidados dentro do agregado familiar, assim como a limpeza do ambiente do agregado<br />
familiar e a capacidade do agregado familiar para obter adequados cuidados de saúde para os<br />
seus m<strong>em</strong>bros, são os factores mais importantes que afectam a saúde do indivíduo. O<br />
inquérito não recolheu muita informação sobre a prática dietética do indivíduo n<strong>em</strong> sobre os<br />
seus determinantes, tais como as práticas da distribuição de comida do agregado familiar.<br />
Porém, o inquérito recolheu informação limitada sobre as práticas de cuidados infantis, tais<br />
como o aleitamento e a vacinação e as infra-estruturas de saúde e sanitárias.<br />
Cuidados de saúde e centros de saúde. De acordo com o inquérito comunitário,<br />
apenas 22 por cento das comunidades rurais têm acesso a um posto ou a um centro de saúde<br />
(Tabela 4.12). As clínicas de saúde e os postos de saúde são de longe mais prevalecentes na<br />
região sul do que noutras regiões. Ao passo que 39 por cento das comunidades na região sul<br />
têm um posto de saúde ou um centro de saúde, apenas 23 por cento das comunidades da<br />
região norte e unicamente 14 por cento das comunidades da região central os têm. A distância<br />
mediana de um centro de saúde para as comunidades que não os têm é menor, porém, na<br />
região central (9 quilómetros para um posto de saúde) do que na região sul (12 quilómetros)<br />
ou na região norte (15 quilómetros). Embora a distância seja menor na região central, a<br />
verdade é que 9 quilómetros ainda é longe para uma criança doente, e as estradas ainda são<br />
<strong>em</strong> geral ruins, não sendo transitáveis durante o ano inteiro, como se pode ver na Tabela 4.1.<br />
A dificuldade <strong>em</strong> chegar aos centros de saúde reduz indubitavelmente a sua utilização,<br />
com o consequente efeito negativo na saúde da mãe e da criança. O uso de cuidados<br />
pré-natais são muito altos nas zonas urbanas: 94 por cento (Tabela 4.13). Todas as mães da<br />
cidade de Maputo declararam que receberam cuidados pré-natais, enquanto 92 por cento das<br />
mães de outras zonas urbanas tiveram esses cuidados. Apenas 62 por cento das mães de zonas<br />
rurais disseram que receberam pelo menos alguns cuidados pré-natais durante a sua última<br />
gravidez. A prevalência de cuidados pré-natais <strong>em</strong> zonas rurais variou de região para região,<br />
com 77 por cento das mães na região sul, onde exist<strong>em</strong> mais centros de saúde, a declarar que<br />
receberam alguns cuidados pré-natais. Apenas cerca de 60 por cento das mães na região norte<br />
e na região central receberam pelo menos alguns cuidados pré-natais.<br />
Sessenta por cento das mães das zonas rurais dão à luz <strong>em</strong> casa, <strong>em</strong>bora a<br />
percentag<strong>em</strong> varia largamente de região para região. Cinquenta e cinco por cento das mães na<br />
região sul declararam que deram à luz numa clínica de maternidade, mais do dobro das mães<br />
227
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
do que na região norte e na região central (21 e 23 por cento, respectivamente). Quase 75 por<br />
cento das mulheres nas zonas rurais da região norte deram à luz <strong>em</strong> casa, enquanto apenas 37<br />
por cento deram à luz <strong>em</strong> casa na região sul. Relativamente mais comunidades na região sul<br />
refer<strong>em</strong> a existência de uma parteira (38 por cento na região sul, 16 por cento na região norte<br />
e na região central), e a distância mediana até à uma parteira, quando não existe uma na<br />
comunidade, é mais curta (12 quilómetros na região sul, 15 e 20 quilómetros,<br />
respectivamente, na região central e na região norte). Na medida <strong>em</strong> que as parteiras têm uma<br />
boa preparação, a qualidade dos cuidados de saúde parece ter probabilidades de ser melhor na<br />
região sul do que nas outras regiões.<br />
Setenta e cinco por cento das mulheres nas zonas urbanas dão à luz <strong>em</strong> clínicasde<br />
maternidade ou <strong>em</strong> hospitais, incluindo praticamente todas as mulheres <strong>em</strong> Maputo. A<br />
medida que a zona urbana diminui de tamanho, a percentag<strong>em</strong> das mulheres que dão à luz <strong>em</strong><br />
casa ou <strong>em</strong> centros de saúde aumenta substancialmente (de 5 por cento <strong>em</strong> Maputo para cerca<br />
de 30 por cento noutras zonas urbanas).<br />
Como se pode ver na Tabela 4.14, de acordo com o inquérito à comunidade, as<br />
crianças rurais também têm falta de cuidados de saúde. Em média, apenas 20 por cento das<br />
crianças rurais têm monitoreo de crescimento na comunidade. Trinta e cinco por cento das<br />
crianças na região sul viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> comunidades dotadas de monitoreo de crescimento, o que é<br />
muito mais alto do que os níveis verificados na região norte e na região central (19 por cento<br />
e 15 por cento, respectivamente). Porém, os níveis de vacinação nas zonas rurais são bastante<br />
altos: 70 por cento das crianças rurais foram vacinadas, <strong>em</strong>bora apenas 52 por cento dessas<br />
crianças tenham recebido a série completa de vacinas. 11<br />
Porém, a existência de um controle de saúde ou de um programa de saúde não garante<br />
que as crianças recebam os benefícios a eles inerentes. As campanhas de vacinação atingiram<br />
uma percentag<strong>em</strong> muito alta nas comunidades rurais da região norte (78 por cento), mais do<br />
que <strong>em</strong> qualquer outra região. Mesmo assim, as crianças na região norte têm menor<br />
probabilidade de ter sido vacinadas (54 por cento) ou de ter recebido a série completa de<br />
vacinas (35 por cento) . Menos de metade dos agregados familiares na região sul vive <strong>em</strong><br />
comunidades que tenham tido uma campanha recente de vacinação (47 por cento). Mesmo<br />
assim, as crianças dessas comunidades são de longe as que têm mais probabilidades de ter<br />
recebido a série completa de vacinas (87 por cento). Estes números suger<strong>em</strong> que onde há<br />
centros de saúde (como no sul) as famílias consegu<strong>em</strong> achar novas maneiras de vacinar seus<br />
filhos mesmo s<strong>em</strong> uma campanha. E sugere que exist<strong>em</strong> alguns probl<strong>em</strong>as com a cobertura<br />
feita pelas próprias campanhas de vacinação.<br />
As crianças urbanas têm uma taxa de probabilidade muito mais alta de ter<strong>em</strong> sido<br />
vacinadas e de ter<strong>em</strong> recebido a série completa de vacinas (mais de 95 por cento nas cidades<br />
11 Uma série completa de vacinas foi definida como a vacinação contra a tuberculose (BCG) e contra o<br />
sarampo e uma série de 3 vacinas contra o DTP e contra o pólio, até à idade de 12 meses.<br />
228
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
grandes, incluindo Maputo). Mas apenas 69 por cento das crianças das pequenas zonas<br />
urbanas receberam a série completa de vacinas. Isto é significativamente mais baixo que a<br />
média, mesmo daquelas crianças que viv<strong>em</strong> nas zonas rurais da região sul.<br />
Tal como observado acima, a mera presença de um centro ou posto de saúde não<br />
garante um bom cuidado de saúde. Vários factores maternais e inerentes aos agregados<br />
familiares afectam o seu uso e os seus benefícios <strong>em</strong> pro das crianças. A educação da mãe é<br />
particularmente importante e t<strong>em</strong>-se verificado que influencia positivamente os<br />
comportamentos relacionados com os cuidados de saúde (Ruel et al. <strong>em</strong> andamento),<br />
incluindo a utilização de centros de saúde e o uso de informação sobre a saúde e sobre o<br />
regime dietético (Cleland e van Ginneken, 1988) (veja-se a Tabela 4.7 para a educação das<br />
mulheres <strong>em</strong> geral). Nesta amostra, quase todas as mães das zonas urbanas e das zonas rurais<br />
amamentam os filhos e a duração dessa amamentação é aproximadamente a mesma numas e<br />
noutras. Esta conclusão difere de outros estudos que mostram que a duração da amamentação<br />
diminui com a urbanização (Ruel et al., 1998), mas isto poderá refletir a predominância de<br />
modelos tradicionais rurais existentes ainda <strong>em</strong> vastas zonas rurais de <strong>Moçambique</strong>.<br />
Em geral, as facilidades de saúde são razoavelmente acessíveis aos habitantes da<br />
cidade, mas são raros nas zonas rurais. A utilização relativamente mais alta de cuidados<br />
pré-natais e de parto <strong>em</strong> hospitais ou clínicas na região sul parece estar relacionada com uma<br />
maior disponibilidade de facilidades de saúde nessa região do que noutras regiões. Também<br />
parece que onde as prácticas de cuidado da criança benefici<strong>em</strong> de algum tipo de intervenção<br />
de saúde pública, tais como o monitoreo de crescimento da criança, as condições são<br />
geralmente melhores nas zonas urbanas e nas zonas rurais da região sul. Onde os<br />
comportamentos relacionados com a saúde depend<strong>em</strong> mais da tradição do que da presença de<br />
infra-estruturas ou de serviços, tais como a amamentação, as condições são aproximadamente<br />
as mesmas.<br />
Condições ambientais. Aparte as facilidades de saúde, as condições ambientais<br />
afectam o estado de saúde e o estado nutritivo dos m<strong>em</strong>bros da família. A utilização, por<br />
parte dos agregados familiares, de quantias suficientes de água limpa e de saneamento são<br />
factores importantes para uma boa saúde. Embora este inquérito só tenha indagado sobre a<br />
orig<strong>em</strong> da água, <strong>em</strong> geral, a água canalizada para a casa será de melhor qualidade e de maior<br />
acessibilidade (recomendando o seu uso) do que a água dos poços, dos rios ou dos lagos.<br />
Embora o inquérito não tenha colhido informação sobre as condições de higiene do agregado<br />
familiar, o estado precário da casa e a falta de boas condições sanitárias estão potencialmente<br />
associados a uma incidência mais alta de doença e de subnutrição e, <strong>em</strong> geral, são por norma<br />
indicativos de um nível de vida mais baixo.<br />
A Tabela 4.15 mostra que estas condições ambientais variam muito de localidade para<br />
localidade, mesmo dentro das zonas urbanas e das zonas rurais. Sessenta e seis por cento dos<br />
moradores da cidade geralmente têm acesso a água "boa", como a água canalizada, enquanto<br />
apenas 12 por cento dos habitantes rurais têm esse acesso. Dentro das zonas urbanas, a<br />
229
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
percentag<strong>em</strong> de água canalizada varia muito. Em Maputo, <strong>em</strong> 10 famílias, mais de 9 têm água<br />
canalizada, mas apenas 61 por cento das famílias têm água canalizada <strong>em</strong> cidades grandes<br />
fora de Maputo e somente 44 por cento têm esse acesso noutras zonas urbanas. Entre 10 e 20<br />
por cento dos habitantes rurais têm água canalizada.<br />
Uma vasta percentag<strong>em</strong> dos moradores da cidade também obtêm água de um poço<br />
público ou privado (32 por cento), especialmente fora de Maputo. Porém, os resultados do<br />
modelo de regressão apresentado mais adiante suger<strong>em</strong> que os poços poderão não dar melhor<br />
garantia quanto à água do que um lago ou um rio, <strong>em</strong> zonas urbanas. Metade dos habitantes<br />
rurais extra<strong>em</strong> água de um poço. Na região sul e na região norte, a maioria dos habitantes<br />
rurais extra<strong>em</strong> água de um poço (58 por cento e 55 por cento, respectivamente), ao passo que<br />
a maioria da população da região central extrai água de um rio ou de um lago.<br />
Quanto aos meios sanitários, uma vasta maioria dos moradores da cidade t<strong>em</strong> latrinas<br />
(68 por cento), ao passo que a maioria dos habitantes rurais não as t<strong>em</strong> (31 por cento). Quase<br />
todos os agregados familiares <strong>em</strong> Maputo têm latrinas, mas só um pouco mais da metade dos<br />
agregados familiares das outras zonas urbanas as têm. Sessenta e um por cento da população<br />
que vive nas zonas rurais da região sul têm latrinas, comparado com apenas 18 por cento e 34<br />
por cento na região central e na região norte, respectivamente. Os agregados familiares da<br />
região sul têm mais probabilidades de ter latrinas do que os agregados familiares das zonas<br />
urbanas fora de Maputo.<br />
A fim de estimar a qualidade da habitação, recorreu-se a um índice com uma<br />
classificação de 8 a 9, sugerindo que <strong>em</strong> geral se utilizaram materiais de boa qualidade na<br />
construção, e a um índice com uma nota de 3 a 4, sugerindo que se usaram materiais de fraca<br />
12<br />
qualidade ou materiais de menor duração. A base deste índice, 40 por cento das casas <strong>em</strong><br />
zonas urbanas são de "boa" qualidade, comparadas com apenas 4 por cento das casas <strong>em</strong><br />
zonas rurais. De facto, de acordo com esta estimativa, mais de 80 por cento das casas <strong>em</strong><br />
zonas rurais são de construção precária (31 por cento <strong>em</strong> zonas urbanas). Porém a qualidade<br />
da habitação na região sul é muito melhor do que noutras zonas rurais, e Maputo t<strong>em</strong> de longe<br />
a melhor qualidade de casas nas zonas urbanas.<br />
4.6 Prevalência e localidade de desnutrição<br />
A desnutrição resulta da combinação dos factores que afectam o acesso à alimentação,<br />
a sua disponibilidade e a sua utilização. Embora esteja estreitamente relacionada com elas, a<br />
desnutrição não é a mesma coisa que a segurança alimentar ou que a saúde e não deverá ser<br />
vista como um indicador apropriado para qualquer desses dois fenómenos. A desnutrição<br />
12<br />
Uma nota "boa" significaria que as paredes, o chão e o tecto tiveram que ser construídos com pelo<br />
menos 2 de 3 materiais enumerados como "bons" e com não mais de um material enumerado como<br />
"satisfatório." Uma nota "má" significaria que as paredes, o chão e o tecto tiveram que ser construídos com pelo<br />
menos 2 de 3 materiais enumerados como "maus" e com não mais de um material enumerado como<br />
"satisfatório." Veja-se a Tabela 4.15.<br />
230
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
pode evitar ou retardar o desenvolvimento físico ou psicológico e é um determinante<br />
importante da doença e da mortalidade infantil. A baixa altura-para-idade e o baixo peso-<br />
para- idade são duas medidas antropométricas de desnutrição, comumente referidas. A baixa<br />
altura-para-idade representa o resultado cumulativo associado com deficiências nutritivas<br />
com o decorrer do t<strong>em</strong>po. O baixo peso-para-altura representa o resultado associado com<br />
deficiências agudas de nutrição sofridas, geralmente, dentro de um período de t<strong>em</strong>po<br />
relativamente curto.<br />
Quarenta e um por cento das crianças moçambicanas têm baixa altura-para-idade,<br />
cerca de 1,6 milhão de crianças. Seis por cento dessas crianças têm baixa altura-para-idade,<br />
13<br />
cerca de 225.000 crianças (Tabela 4.16). A Tabela 4.17 mostra que o nível de baixa altura-<br />
para-idade <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> é aproximadamente o mesmo de Tanzânia e Zâmbia, e um pouco<br />
mais baixo que o do Malawi. A África do Sul e o Zimbabwe têm um índice de baixa altura-<br />
para-idade muito mais baixo (cerca de 20 por cento). De acordo com as categorias do WHO<br />
(1995), todos estes países, com excepção da África do Sul e do Zimbabwe, d<strong>em</strong>onstram uma<br />
prevalência muito alta de baixa altura-para-idade (mais de ou igual a 40 por cento), <strong>em</strong><br />
relação com outros países do mundo. A África do Sul e o Zimbabwe têm uma prevalência de<br />
baixo peso-para-altura muito mais baixa que <strong>Moçambique</strong>, mas outros países têm uma<br />
prevalência sensivelmente idêntica. Embora considerado baixo <strong>em</strong> termos de prevalência, o<br />
WHO sustenta porém que este nível de baixo peso-para-altura indica as condições pobres do<br />
país (WHO, 1995).<br />
Quarenta e seis por cento, ou quase metade, de todas as crianças rurais têm baixa<br />
altura-para-idade. Com altos níveis de pobreza e insegurança alimentar e com poucas<br />
facilidades de saúde, a região central parece estar <strong>em</strong> risco de ter os mais altos níveis de<br />
desnutrição nas zonas rurais. E, de facto, 55 por cento das crianças da região central têm<br />
baixa altura-para-idade, atingindo o nível mais elevado do país. A disponibilidade de<br />
alimentação nos agregados familiares, que aqui se pressupõe seja dirigida às crianças, é mais<br />
alta na região norte do que nas outras zonas, e a região sul beneficia da disponibilidade dos<br />
centros de saúde e das condições sanitárias, mas a região central, <strong>em</strong>bora não sendo a pior<br />
neste caso, sofre de uma combinação de pobreza, fraco potencial agrícola e infra-estruturas<br />
pobres, com poucos factores compensadores. A baixa altura-para-idade também continua<br />
sendo muito alto na região norte e na região sul, 38 por cento e 36 por cento, respectivamente.<br />
Embora a baixa altura-para-idade seja mais elevado nas zonas rurais do que nas zonas<br />
urbanas, deverá acentuar-se que a desnutrição não é um probl<strong>em</strong>a apenas rural. Se b<strong>em</strong> que as<br />
zonas urbanas tenham um maior acesso às facilidades de saúde e a níveis mais altos de<br />
13 As crianças que baixaram para < -2 z-scores da altura-para-idade média (peso-para-altura) da<br />
referência do NCHS foram consideradas como grav<strong>em</strong>ente desnutridas. Embora não esteja referido aqui, uma<br />
desnutrição entre mitigada e moderada (das crianças que vão de 0 a -2 z-scores da referência média) também faz<br />
aumentar o risco da mortalidade e das doenças infecciosas para as crianças. Assim, as estratégias para melhorar<br />
o índice de sobrevivência da criança e o seu estado nutritivo deverão focar também as crianças que sofr<strong>em</strong> de<br />
uma desnutrição entre mitigada e moderada.<br />
231
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
educação maternal, o que poderá afectar positivamente o comportamento com as facilidades<br />
de saúde das crianças, mais de uma de cada quatro crianças nas cidades t<strong>em</strong> baixo altura-<br />
para-idade (26 por cento). A baixa altura-para-idade t<strong>em</strong> um índice mais alto <strong>em</strong> cidades<br />
grandes como Matola, Beira e Nampula (31 por cento) do que na cidade de Maputo (20 por<br />
cento) ou noutras cidades mais pequenas (26 por cento).<br />
A prevalência da baixa peso-para-altura (também conhecido por desnutrição aguda) é<br />
mais baixa do que a baixa altura-para-idade, mas ainda se encontra a níveis preocupantes.<br />
Numa população b<strong>em</strong> nutrida, apenas 3 por cento da população deverá apresentar baixo peso-<br />
para-altura. Em contraste com a baixa altura-para-idade, o índice de baixo peso-para-altura é<br />
mais ou menos o mesmo nas zonas urbanas e nas zonas rurais. Sete por cento das crianças das<br />
zonas urbanas sofr<strong>em</strong> de baixo peso-para-altura, <strong>em</strong> comparação com 6 por cento das zonas<br />
rurais. A taxa de baixo peso-para-altura é mais alta do que numa população b<strong>em</strong> nutrida,<br />
mesmo <strong>em</strong> Maputo (4 por cento), e é o dobro noutras cidades, atingindo entre 8 e 9 por cento<br />
nessas zonas. Nas zonas rurais, o baixo peso-para-altura é mais prevalecente na região norte,<br />
com 8 por cento, do que na região central e na região sul (4 e 5 por cento, respectivamente).<br />
Uma alta prevalência de baixo peso-para-altura geralmente ocorre quando as crianças estão<br />
particularmente doentes, quando não com<strong>em</strong> o suficiente, ou sofr<strong>em</strong> de ambas coisas ao<br />
mesmo t<strong>em</strong>po, de maneira que não pod<strong>em</strong> absorver os nutrientes necessários, como acontece<br />
<strong>em</strong> situações de crise de fome. O elevado índice de crianças <strong>em</strong> estado de baixo peso-para-<br />
altura na região norte, portanto, parece ser uma aberração, tendo <strong>em</strong> conta os níveis<br />
relativamente baixos de insegurança alimentar, o que indica falta de comida ao dispor da<br />
criança ou índices elevados de doença na região, ou ambas as coisas ao mesmo t<strong>em</strong>po.<br />
A Figura 4.2 mostra como a média z-scores varia com a idade da criança. Os modelos<br />
apresentados aqui são típicos do crescimento das crianças na maioria dos países <strong>em</strong><br />
desenvolvimento, e na África <strong>em</strong> particular. No que diz respeito a baixa altura-para-idade, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, as crianças africanas nasc<strong>em</strong> geralmente com uma altura comparável à altura<br />
mediana dos padrões de referência, o que lhes dá uma altura-para-idade z-score de zero,<br />
aproximadamente. Porém, o seu crescimento <strong>em</strong> altura começa a ser deficiente nos primeiros<br />
meses de vida e continua a deteriorar-se até que ating<strong>em</strong> a classificação mais baixa z-score de<br />
altura-para-idade <strong>em</strong> dado momento, durante o seu segundo ano de vida (Sommerfelt e<br />
Stewart, 1994). No caso de <strong>Moçambique</strong>, a média de z-score altura-para-idade diminui<br />
radicalmente durante o primeiro ano de vida, atinge a sua média mais baixa aproximadamente<br />
aos 16 meses e estabiliza depois por volta de -1,5 z-score (um segundo ponto baixo ocorre<br />
por volta dos 32 meses de idade). Como também é típico da maioria dos países africanos, não<br />
se observa um período <strong>em</strong> que as crianças recuperam o crescimento perdido e as crianças<br />
permanec<strong>em</strong> com baixa altura-para-idade durante a infância.<br />
O baixo peso-para-idade mostra um modelo diferente. A média z-score peso-para-<br />
altura permanece à volta do zero (equivalente à mediana na dos padrões de referência),<br />
excepto durante o segundo ano de vida, quando baixa para -0,5 z-scores, aproximadamente.<br />
232
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Este período corresponde à idade <strong>em</strong> que as crianças são atingidas por altos índices de<br />
doenças contagiosas, combinadas muitas vezes com práticas de alimentação compl<strong>em</strong>entares<br />
inadequadas. Após atingir<strong>em</strong> os 2 anos de idade, o peso-para-altura das crianças<br />
moçambicanas estabiliza e não observa-se muito o baixo peso-para-altura.<br />
Essencialmente, o t<strong>em</strong>po mais crítico para um crescimento linear é durante os<br />
primeiros meses, e se essa etapa for perdida e a velocidade do crescimento for impedida ou<br />
retardada, é difícil para a criança compensar essa falha, mesmo que a criança mais tarde coma<br />
b<strong>em</strong> e tenha boa saúde. Por outro lado, encontrando-se <strong>em</strong> estado de baixo peso-para-altura,<br />
ou magra, esse obstáculo poderá vir a ser vencido se a criança mais tarde comer b<strong>em</strong> e for<br />
saudável.<br />
Onde se encontram as crianças desnutridas? A Tabela 4.16 mostra que, de modo<br />
geral, as crianças com baixa altura-para-idade viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> zonas rurais (85 por cento). E a<br />
região central t<strong>em</strong> mais de metade de todas as crianças cronicamente desnutridas. A região<br />
norte t<strong>em</strong> 19 por cento e a região sul t<strong>em</strong> 14 por cento. As zonas urbanas têm somente 15 por<br />
cento de todas as crianças com baixo altura-para-idade.<br />
Porém, as cidades são o habitat de um número considerável de crianças com baixo<br />
peso-para-altura. Dezassete por cento encontram-se <strong>em</strong> zonas urbanas mais pequenas, e 9 por<br />
cento encontram-se nas cidades maiores da Beira, Nampula e Matola. Esse número é superior<br />
ao existente nas zonas rurais da região sul, as quais têm 14 por cento de todas as crianças com<br />
baixo peso-para-altura. Uma vasta proporção de crianças que t<strong>em</strong> baixo peso-para-altura vive<br />
na região norte (29 por cento) e na região central (27 por cento). A existência de um grande<br />
número de crianças desnutridas <strong>em</strong> zonas urbanas significa que as intervenções e as políticas<br />
de nutrição dirigidas às crianças que moram nos centros urbanos não pod<strong>em</strong> ser esquecidas.<br />
Quais são os agregados familiares com crianças desnutridas? A Tabela 4.18 dá-nos<br />
uma pequena ideia das características dos agregados familiares com crianças desnutridas. Nas<br />
zonas rurais, os agregados familiares com a mulher como chefe do agregado familiar têm<br />
aproximadamente o mesmo risco ou um risco ligeiramente mais baixo de ter crianças<br />
desnutridas que os agregados familiares que têm o hom<strong>em</strong> como chefe do agregado familiar<br />
(43 por cento e 46 por cento, respectivamente). Mas <strong>em</strong> zonas urbanas os agregados<br />
familiares que têm a mulher como chefe do agregado familiar têm uma vez e meia mais<br />
probabilidades de ter crianças desnutridas do que os agregados familiares que têm o hom<strong>em</strong><br />
como chefe do agregado familiar. Isto não parece estar relacionado com a capacidade do<br />
agregado familiar para obter bens alimentares, uma vez que dados prévios indicaram que os<br />
agregados familiares que têm a mulher como chefe do agregado familiar não tinham<br />
probabilidades de ter mais insegurança alimentar do que os agregados familiares que têm o<br />
hom<strong>em</strong> como chefe do agregado familiar; por outro lado, pod<strong>em</strong>os pressupor que a<br />
distribuição de comida intra-agregados familiares dentro dos agregados familiares que têm a<br />
mulher como chefe do agregado familiar é, <strong>em</strong> média, pelo menos tão favorável às crianças<br />
como a dos agregados familiares que têm o hom<strong>em</strong> como chefe do agregado familiar. O<br />
233
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
estado de uma nutrição deficiente poderá resultar de comportamentos de cuidados de saúde<br />
deficientes. Talvez os agregados familiares que têm a mulher como chefe do agregado<br />
familiar tenham menos t<strong>em</strong>po para providenciar cuidados de saúde às crianças. Com 13 por<br />
cento dos agregados familiares <strong>em</strong> zonas urbanas chefiados pela mulher, as razões deveriam<br />
ser examinadas com mais pormenor.<br />
É também reconhecida no mundo inteiro a importância da educação da mãe para a<br />
nutrição da criança, para a sua saúde e para a sua sobrevivência (Caldwell, 1979; Cochrane e<br />
O'Hara, 1982). Em zonas rurais de <strong>Moçambique</strong>, uma diferença significativa na probabilidade<br />
de ter crianças desnutridas existe entre os agregados familiares <strong>em</strong> que a mãe t<strong>em</strong> pelo menos<br />
alguma educação e os agregados familiares <strong>em</strong> que a mãe não t<strong>em</strong> nenhuma educação (36 por<br />
cento contra 45 por cento). A diferença é ainda mais acentuada nas zonas urbanas (19 por<br />
cento contra 31 por cento). Tendo <strong>em</strong> conta que quase 90 por cento (89 por cento) das mães<br />
das zonas rurais não têm educação, assim como a não têm 55 por cento das mães das zonas<br />
urbanas, é bom pensar até que ponto o melhoramento da educação da mãe poderia contribuir<br />
para o melhoramento do estado nutritivo da criança.<br />
A baixa altura-para-idade tende a estar associado com o tipo de água utilizada. Tanto<br />
nas zonas urbanas como nas zonas rurais, a baixa altura-para-idade t<strong>em</strong> um índice mais baixo<br />
nos agregados familiares que dispõ<strong>em</strong> de água canalizada. Nas zonas urbanas, a baixa altura-<br />
para-idade atinge o seu ponto mais baixo nos agregados familiares que têm água canalizada, a<br />
melhor qualidade de água, e torna-se pior à medida que a água oferece menos garantias. Os<br />
agregados familiares que depend<strong>em</strong> de poços para a água têm um índice mais elevado de<br />
baixa altura-para-idade, e os agregados familiares que utilizam a água de rios e de lagos,<br />
<strong>em</strong>bora a percentag<strong>em</strong> seja pequena entre os habitantes das cidades, têm ainda mais<br />
probabilidades de ter<strong>em</strong> crianças desnutridas.<br />
4.7 <strong>Pobreza</strong>, insegurança alimentar e desnutrição<br />
As estratégias para aliviar a pobreza, a insegurança alimentar e a desnutrição deverão<br />
ser desenvolvidas e impl<strong>em</strong>entadas, de maneira que é importante reconhecer que a pobreza, a<br />
insegurança alimentar e a desnutrição estão estreitamente relacionadas, mas não são idénticas.<br />
A pobreza é apenas uma causa da insegurança alimentar, possivelmente a mais importante.<br />
Porém, ser pobre não significa automaticamente que os agregados familiares tenham<br />
insegurança alimentar. N<strong>em</strong> não ser pobre significa que o agregado familiar tenha garantias<br />
de bens alimentícios ou de que os filhos não sejam desnutridos. As escolhas feitas pelos<br />
agregados familiares sobre a maneira de dispender o dinheiro ou distribuir a comida ou cuidar<br />
dos filhos também contam. Uma simples tabelação estatística destes três fenómenos<br />
documenta b<strong>em</strong> este fenómeno.<br />
Tal como se pode ver na Tabela 4.19, existe uma estreita relação entre a pobreza e a<br />
insegurança alimentar nas zonas urbanas e nas zonas rurais. De entre os pobres das zonas<br />
rurais, 73 por cento enfrentam insegurança alimentar. Nas zonas urbanas, 79 por cento dos<br />
234
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
pobres têm insegurença alimentar. Nas zonas rurais, não ser pobre está altamente relacionado<br />
com não ter insegurança alimentar. Nas zonas rurais, 63 por cento dos que não são pobres têm<br />
segurança alimentar. A relação é mais frágil nas zonas urbanas, onde só 50 por cento dos não<br />
pobres têm segurança alimentar. (Se as associações foss<strong>em</strong> perfeitas, então ambas estas<br />
associações seriam 100 por cento perfeitas e as células da parte superior direita e da parte<br />
inferior esquerda estariam vazias.)<br />
A grande percentag<strong>em</strong> dos não pobres que têm insegurança alimentar, tanto nas zonas<br />
urbanas como nas zonas rurais, reflet<strong>em</strong> provavelmente o quase estado de pobreza <strong>em</strong> que<br />
muitos destes agregados familiares viv<strong>em</strong> e as suas escolhas quanto à maneira de gastar o<br />
dinheiro noutros bens que não sejam a alimentação, <strong>em</strong> face de outras d<strong>em</strong>andas. É também<br />
interessante e importante notar que uma proporção significativa dos pobres (27 por cento nas<br />
zonas rurais e 21 por cento nas zonas urbanas) encontrará processos de adquirir bens<br />
alimentares suficientes para ter<strong>em</strong> segurança alimentar. Um estudo ulterior desses agregados<br />
familiares poderia elucidar as estratégias adoptadas que lhes permitam não ter carência<br />
alimentar, mesmo sendo pobres.<br />
A associação entre a pobreza e a desnutrição dos filhos é bastante fraca tanto nas<br />
zonas rurais como nas zonas urbanas (Tabela 4.19). Nas zonas rurais, a probabilidade de ter<br />
um filho subnutrido é sensivelmente a mesma, quer o agregado familiar seja pobre quer não:<br />
43 por cento dos agregados familiares das zonas rurais não pobres têm um filho desnutrido,<br />
enquanto a percentag<strong>em</strong> para os agregados familiares pobres das zonas rurais é de 47 por<br />
cento. Nas areas urbanas a associação é mais forte. Dezoito por cento dos agregados<br />
familiares não pobres ainda têm filhos desnutridos neles, ao passo que a percentag<strong>em</strong> para os<br />
agregados familiares pobres é muito mais alto, de 30 por cento. Mais: 70 por cento dos<br />
agregados familiares pobres das zonas urbanas não têm filhos desnutridos, <strong>em</strong> comparação<br />
com os 82 por cento para os agregados familiares não pobres.<br />
Considerando a importância da pobreza para a segurança alimentar, que factores<br />
levarão os agregados familiares pobres e os não pobres a ter<strong>em</strong> uma distribuição tão<br />
s<strong>em</strong>elhante de filhos desnutridos? Da mesma maneira que a Tabela 4.19 se comporta para<br />
com a pobreza, a Tabela 4.20 ilustra o facto que não surpreende, mas frequent<strong>em</strong>ente<br />
esquecido, de que a segurança alimentar dos agregados familiares não garante um bom estado<br />
de nutrição dos filhos. As condições ambientais e a educação da mãe deverão provavelmente<br />
ter influência neste fenómeno. Tanto os agregados familiares das zonas rurais como os das<br />
zonas urbanas que têm segurança alimentar ou que têm insegurança alimentar têm idênticas<br />
probabilidades de ter<strong>em</strong> filhos desnutridos. De facto, os níveis correspond<strong>em</strong> quase<br />
exactamente ao nível global da desnutrição <strong>em</strong> cada zona.<br />
Estas tabelações mostram claramente que ser pobre não é um determinante único de<br />
insegurança alimentar ou de desnutrição, <strong>em</strong>bora a pobreza afecte e esteja associada com um<br />
número de factores determinantes, tais como a educação. É evidente que o aumento ou a<br />
diminuição de segurança alimentar dos agregados familiares poderão constituir um<br />
235
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
el<strong>em</strong>ento-chave para o melhoramento da nutrição, mas isso não é suficiente. Estas tabelações<br />
suger<strong>em</strong> também que os gastos têm um maior impacto na nutrição nas zonas urbanas, <strong>em</strong>bora<br />
isto possa simplesmente refletir o facto de que o rendimento está mais estreitamente<br />
associado nessas zonas com outros factores que afectam a saúde, tais como a acesso a água<br />
não contaminada e à higiene da casa de habitação, do que unicamente com o rendimento.<br />
4.8 Determinantes da segurança alimentar e nutriçao nas zonas urbanas e nas zonas<br />
rurais de <strong>Moçambique</strong>: uma análise de regressão.<br />
A estatística descritiva proporciona uma visão da situação global e lança luz sobre as<br />
medidas a tomar, mas, como não nos permit<strong>em</strong> estabelecer uma separação clara do efeito de<br />
um factor sobre o outro, é difícil responder com segurança às questões importantes de<br />
políticas sobre os factores mais relevantes. A análise de regressão ajuda-nos a responder a<br />
estas questões, na medida <strong>em</strong> que controla a influência de outros factores quando se investiga<br />
o efeito de apenas um dos factores. Conclusões preliminares resultantes de um estudo feito<br />
por Garrett e Ruel (<strong>em</strong> andamento) fornec<strong>em</strong>-nos algumas respostas às questões sobre a<br />
importância relativa de diferentes factores e sobre o facto de esses factores diferir<strong>em</strong> entre as<br />
zonas urbanas e as zonas rurais.<br />
Processo. Estimaram-se três modelos diferentes de regressão para estudar os<br />
determinantes da segurança alimentar e nutriçao <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Cada modelo foi estimado<br />
separadamente para as zonas rurais e para as zonas urbanas. Realizaram-se testes estatísticos<br />
para ver se os coeficientes diferiam entre a variante de zonas rurais e de zonas urbanas de<br />
cada modelo. Utilizou-se uma técnica variável instrumental para controlar as relações<br />
endógenas e usaram-se variáveis fictícias (uma para cada uma das 271 comunidades) para<br />
representar os efeitos dos factores a nível da comunidade, tais como os preços e a<br />
infra-estrutura.<br />
O primeiro modelo explora o impacto de factores sobre a disponibilidade de calorias<br />
para os agregados familiares (expressos <strong>em</strong> unidades equivalentes por adulto). Dois outros<br />
modelos examinaram os factores que afectam baixa altura-para-idade <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, o<br />
qual, dada a sua alta prevalência, foi escolhido como expressão de uma criança desnutrida.<br />
Como os determinantes de desnutrição difer<strong>em</strong> hipoteticamente de idade para idade, um<br />
modelo estimou determinantes para crianças entre 0 e 23 meses de idade e outro modelo<br />
estimou determinantes para crianças entre 24 e 60 meses de idade.<br />
Modelo de calorias disponíveis. Os resultados mostram que o rendimento<br />
(representado pela variável de despesa de consumo), assim como os factores d<strong>em</strong>ográficos e<br />
comunitários são os determinantes mais importantes da disponibilidade de calorias a nível<br />
dos agregados familiares (Tabela 4.21). Os efeitos das despesas, a posse da terra, e o tamanho<br />
do agregado familiar sobre a disponibilidade das calorias são todos estatisticamente diferentes<br />
entre as zonas rurais e as zonas urbanas.<br />
O efeito das despesas na disponibilidade das calorias é mais alto nas zonas urbanas do<br />
236
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
que nas zonas rurais, dada uma elasticidade de despesas por calorias de 0,14 para as zonas<br />
urbanas e de 0,11 para as zonas rurais (o que significa que um aumento de 10 por cento no<br />
rendimento resultaria num aumento de 1,4 por cento e de 1 por cento <strong>em</strong> disponibilidade de<br />
calorias, respectivamente). Embora sejam baixas, estas estimativas são consistentes com as<br />
conclusões de outros investigadores (Behrman e Deolalikar, 1998; Bouis e Haddad, 1992) e<br />
dão credibilidade à discussão <strong>em</strong> questão: de que a associação entre o rendimento e a<br />
segurança alimentar não é tão sólida como era de esperar. É de certo modo surpreendente que<br />
a elasticidade é mais alta nas zonas urbanas, <strong>em</strong> que a mediana de despesas com o consumo<br />
total per capita por dia é quase duas vezes mais alto do que nas zonas rurais (6262 Mts contra<br />
3423 Mts, respectivamente), uma vez que, <strong>em</strong> geral, as elasticidedes mais altas estão<br />
associadas com os grupos mais pobres (Alderman, 1986). Mas então a mediana de calorias<br />
por dia/UEA é também cerca de 10 por cento mais baixa nas zonas urbanas (2296 contra<br />
2464), de maneira que não é ilógica uma maior propensão marginal para gastar com a<br />
comida.<br />
Embora a quantia de terra por pessoa que um agregado familiar pode cultivar não<br />
esteja relacionada com a disponibilidade de calorias de um agregado familiar nas zonas<br />
rurais, essa quantia é estatisticamente significativa e negativa nas zonas urbanas, pelo menos<br />
para aqueles agregados familiares que possu<strong>em</strong> terra. Este resultado poderá estar parcialmente<br />
associado aos modelos de posse da terra nas zonas rurais, onde, devido aos direitos de<br />
propriedade tradicionais, muitas vezes comunais, a posse reportada da terra poderá não<br />
refletir com precisão a quantia de terra de que os agregados familiares poderão na realidade<br />
depender para efeitos de bens alimentares. Por outro lado, uma análise descritiva adicional<br />
mostrou que os agregados familiares que têm terra <strong>em</strong> zonas urbanas têm níveis médios um<br />
pouco mais baixos de disponibilidade de calorias do que os que não têm terra (2821<br />
calorias/UEA/ dia contra 2998 calorias/UEA/ dia, respectivamente), e o sinal negativo sobre<br />
os proprietários de terra nas zonas urbanas não é inconsistente com estas conclusões. Tal<br />
como se sugeriu para a agricultura urbana noutra parte, possuir uma horta ou um quintal<br />
numa zona urbana poderá na realidade ser parte de uma estratégia de r<strong>em</strong>edeio para os<br />
agregados familiares relativamente pobres (Maxwell, 1995).<br />
Quanto a outros factores, o efeito negativo do aumento do tamanho do agregado<br />
familiar é substancial tanto nas zonas rurais como nas zonas urbanas, <strong>em</strong>bora o impacto seja<br />
maior entre os agregados familiares rurais. Uma explicação para este grande efeito positivo,<br />
resultante de uma maior percentag<strong>em</strong> de crianças e de adolescentes no agregado familiar, não<br />
é porém imediatamente aparente. Os factores a nível de comunidade (tal como estão<br />
representados por variáveis fictícias) eram significativos neste modelo, indicando que eles<br />
têm importância para a disponibilidade de calorias. Para economizar espaço, não<br />
apresentamos aqui os seus coeficientes.<br />
N<strong>em</strong> o facto de ser a mulher a chefe do agregado familiar de um agregado familiar<br />
n<strong>em</strong> o el<strong>em</strong>ento sazonal (estação das chuvas ou estação da seca) tiveram qualquer influência<br />
237
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
sobre a disponibilidade de calorias, tanto nas zonas urbanas como nas zonas rurais. (Porém,<br />
como se notou anteriormente, o el<strong>em</strong>ento sazonal t<strong>em</strong> influência nos modelos de consumo de<br />
comida.) Os níveis de educação de adultos no agregado familiar também não mostraram ser<br />
determinantes significativos. Como o rendimento já está incluído no modelo, esta variável - o<br />
nível mais alto de educação obtido por um adulto do sexo masculino (ou adulto do sexo<br />
f<strong>em</strong>inino) do agregado familiar - apenas produz efeitos para além dos efeitos da educação já<br />
produzidos pela variável rendimento, tal como o efeito de educação nas preferências da<br />
alimentação. Os resultados não indicam quaisquer efeitos adicionais.<br />
Estado nutritivo, entre 0 e 23 meses de idade. Os efeitos de determinantes sobre a<br />
baixa altura-para-idade para as crianças entre 0 e 23 meses de idade foram idênticos tanto<br />
para as zonas urbanas como para as zonas rurais, e os resultados para ambos os casos são<br />
apresentados na Tabela 4.22. A educação da mãe t<strong>em</strong> um efeito significativo no estado<br />
nutritivo da criança nesta idade. Mesmo que apenas tenha alguma educação, esse factor<br />
contribui para o estado nutritivo da criança <strong>em</strong> quase meio z-score, e, se a distribuição total<br />
da baixa altura-para-idade pudesse subir de meio z-score, a baixa altura-para-idade <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> baixaria de 41 para 29 por cento.<br />
Tal como aconteceu com o modelo de disponibilidade de calorias, a influência da<br />
educação na geração de rendimento é captada principalmente pela variável de despesas, já<br />
presente neste modelo. O efeito da educação da mãe no estado nutricional, para além do<br />
efeito do rendimento, crê-se que seja assim mediado através da selecção e uso pela mãe dos<br />
meios que melhor<strong>em</strong> o estado de saúde e de nutrição da criança, tais como a vacinação, os<br />
comportamentos de cuidados de saúde e as práticas higiénicas do agregado familiar, tal como<br />
foi d<strong>em</strong>onstrado por outros autores (Ruel et al., <strong>em</strong> andamento). A educação do adulto do<br />
sexo masculino não é relevante.<br />
Em contraste com descobertas anteriores sobre a nutrição <strong>em</strong> Maputo (Sahn e<br />
Alderman, 1997), chegámos à conclusão de que os gastos também têm relevância, mesmo<br />
nesta idade da criança. Um aumento das despesas <strong>em</strong> 10 por cento contribui para um<br />
melhoramento do z-score de 3.1 por cento. Porém, para o efeito de o rendimento vir a igualar<br />
o de alguma escolaridade aternal, o rendimento teria que duplicar. Estudos ulteriores<br />
deveriam explorar os meandros através dos quais o rendimento t<strong>em</strong> este efeito, dado que não<br />
é de esperar que a disponibilidade acrescida de comida influencie significativamente o estado<br />
nutricional nesta idade, e as variáveis que captam o ambiente físico também não aparentam<br />
ser relevantes neste modelo. Como se notou noutros estudos, o estado nutricional das<br />
raparigas é melhor do que o dos rapazes nesta idade, aqui na ord<strong>em</strong> de 0,35 z-score. Crê-se<br />
que isto reflita a maior vulnerabilidade documentada dos rapazes, nesta idade, <strong>em</strong>bora as<br />
causas para esta maior vulnerabilidade ainda não sejam totalmente compreendidas.<br />
O estado nutritivo, tal como se reflete pela altura-para- idade, deteriora-se com a idade<br />
à razão de 0,12 z-scores por mês, refletindo a rápida deterioração no crescimento que ocorre<br />
tipicamente nas crianças que viv<strong>em</strong> num ambiente <strong>em</strong>pobrecido. Uma grande percentag<strong>em</strong> de<br />
238
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
crianças, com menos de 5 anos, no agregado familiar também afecta negativamente a altura-<br />
para- idade. Isto provavelmente reflete as d<strong>em</strong>andas crescentes sobre os cuidados maternais<br />
de saúde que um número maior de crianças pequenas exerce e os períodos mais curtos entre<br />
os partos, que pod<strong>em</strong> resultar <strong>em</strong> pesos mais baixos por ocasião do nascimento e num<br />
crescimento deficiente após o nascimento.<br />
Estes resultados condiz<strong>em</strong> com os de outros pesquisadores, os quais descobriram que,<br />
nas crianças entre 0 e 23 meses de idade, os determinantes principais do estado nutricional<br />
são as características biológicas da criança (o género, a idade) e os comportamentos maternos<br />
que afectam os cuidados de saúde da criança, tais como o estado da amamentação e as<br />
práticas da desmama (Ricci e Becker, 1996). A educação da mãe é crítica para a saúde da<br />
criança e para a nutrição, contanto que possa afectar estes comportamentos. A s<strong>em</strong>elhança de<br />
influências nas zonas urbanas e nas zonas rurais não é surpreendente, portanto, uma vez que,<br />
nesta idade, a influência dos determinantes biológicos e as práticas que pouco têm a ver com<br />
o ambiente externo parec<strong>em</strong> predominar.<br />
Estado nutritivo, entre os 24 e os 60 meses de idade. Os determinantes do estado<br />
nutriconal nas zonas rurais e nas zonas urbanas só começam a diferenciar-se quando a criança<br />
é mais velha e começa a ter interacções mais extensivas com o ambiente (Tabela 4.23). Os<br />
determinantes também difer<strong>em</strong> dos grupos mais novos. Alguns factores biológicos, tais como<br />
a idade e o género, já não são significativos, <strong>em</strong>bora as crianças mais novas, como era de<br />
esperar, estejam <strong>em</strong> melhores condições do que as crianças mais velhas (média de z-scores de<br />
-1,20 para crianças de 0 a 23 meses de idade, e de -1,74 para crianças de 24 a 60 meses de<br />
idade). Um pouco surpreendente, <strong>em</strong>bora se conforme com os resultados de Sahn e Alderman<br />
(1997), a educação da mãe não t<strong>em</strong> influência relevante no estado nutricional das crianças<br />
nesta idade. O papel das despesas é mais importante nestas crianças mais velhas do que nas<br />
crianças mais novas, e é mais importante nas zonas urbanas do que nas zonas rurais.<br />
A elasticidade do calorias-estado nutricional é bastante alta, tendo <strong>em</strong> conta a<br />
importância de outros factores, além do rendimento, no estado nutricional, à razão de 0,35 e<br />
0,57 para as zonas rurais e para as zonas urbanas, respectivamente. Distinto do seu efeito na<br />
disponibilidade de calorias no agregado familiar, um agregado familiar maior t<strong>em</strong> um efeito<br />
positivo no estado nutriconal das crianças mais velhas. Isto poderá refletir algumas economias<br />
de escala para o consumo das necessidades que se expand<strong>em</strong> para além da alimentação para o<br />
grupo desta idade.<br />
A orig<strong>em</strong> da água têm uma grande importância para as crianças das zonas urbanas, um<br />
aspecto já apontado por outros pesquisadores (Burger e Esrey, 1995). Refletindo a<br />
contaminação e a falta de acesso a água suficiente, nas zonas urbanas o uso da água de poço<br />
faz diminuir o estado nutricional de quase um z-score inteiro (-0,94) <strong>em</strong> comparação com o<br />
239
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
14<br />
uso da água do rio, ao passo que o uso da água canalizada não é significativo. Isto sugere<br />
que a água do rio ainda é bastante limpa ou que a água dos poços nas zonas urbanas está mais<br />
contaminada quer na fonte quer durante o seu transporte e o seu armazenamento.<br />
Alternativamente os agregados familiares que usam água dos poços deverão ter certas<br />
características comuns que afectam negativamente o estado nutricional da criança, como se,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, o uso da água do poço estivesse associado ao uso de uma quantidade menor de<br />
água, uma vez que faz aumentar o t<strong>em</strong>po que é necessário dispender para obtê-la. O simples<br />
facto de providenciar para que os agregados familiares que usam água do poço tenham<br />
quantias adequadas de água potável podia melhorar o estado nutricional das crianças que<br />
viv<strong>em</strong> nesses agregados familiares <strong>em</strong> quase um z-score inteiro. Nas zonas rurais, o estado<br />
nutricional melhora com o aumento de terra disponível, não se verificando qualquer efeito nas<br />
zonas urbanas.<br />
Sumário. Conceitualmente, os determinantes da disponibilidade de calorias, tanto nas<br />
zonas urbanas como nas zonas rurais, são os mesmos: geralmente, os preços e o rendimento.<br />
E de facto, <strong>em</strong> ambas as zonas, têm importância os preços (tais como foram captados pelas<br />
variáveis fictícias da comunidade), o rendimento, os factores d<strong>em</strong>ográficos, tais como o<br />
tamanho do agregado familiar. Porém, os efeitos de alguns factores são diferentes nas duas<br />
zonas, com a influência positiva das despesas sobre a disponibilidade das calorias maiores<br />
nas zonas urbanas e o impacto negativo do tamanho do agregado familiar maior nas zonas<br />
rurais.<br />
Para a baixa altura-para-idade, nas crianças entre os 0 e os 23 meses de idade, não<br />
havia diferenças significativas na influência dos determinantes entre as zonas urbanas e as<br />
zonas rurais. Os determinantes da baixa altura-para-idade nas zonas urbanas e nas zonas<br />
rurais começam a variar à medida que a criança cresce e começa a interactuar mais<br />
extensivamente com o ambiente exterior. O ambiente exterior, tal como se d<strong>em</strong>onstrou<br />
claramente por meio da estatística descritiva, é muito diferente nas zonas urbanas e nas zonas<br />
rurais, e é quando a criança é mais velha que essas diferenças começam a fazer-se sentir.<br />
Estes resultados d<strong>em</strong>onstram que os factores que afectam a baixa altura-para-idade variam<br />
com a idade da criança e que, <strong>em</strong>bora conceitualmente os factores que afectam a desnutrição<br />
da criança não sejam diferentes entre as zonas rurais e as zonas urbanas, as diferenças, <strong>em</strong><br />
níveis de desnutrição <strong>em</strong> zonas urbanas e <strong>em</strong> zonas rurais, evidenciam-se por causa das<br />
diferenças das características do ambiente rural e do ambiente urbano.<br />
4.9 Recomendações e conclusão<br />
Com a paz e a estabilidade, as causas principais da insegurança alimentar e da<br />
14 Os agregados familiares obtêm água de uma de três fontes: água canalizada, água do poço e água do<br />
rio ou do lago. Estas três fontes foram modeladas como sendo variáveis binárias mutuamente exclusivas. Por<br />
conseguinte, para que as computações se possam realizar, pelo menos uma dessas fontes deverá ser omitida do<br />
modelo e os coeficientes nas outras duas deverão ser interpretados <strong>em</strong> relação ao efeito da variável omitida.<br />
240
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
subnutrição <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> tornaram-se s<strong>em</strong>elhantes às de outras nações da África sub-<br />
Sahariana: a pobreza, exacerbada pelos baixos níveis de produtividade agrícola e a ameaça de<br />
desastres naturais; os baixos níveis de educação, com consequências negativas sobre a<br />
capacidade do pobre <strong>em</strong> ganhar um salário e prover-se dos recursos de vida de uma forma<br />
mais eficaz; um ambiente doentio e uma assistência médica inadequada. Embora a<br />
disponibilidade dos bens alimentícios seja ainda um probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> certas zonas, o acesso e a<br />
sua utilização, mais que a sua disponibilidade, são hoje obstáculos mais críticos.<br />
Apesar destes desafios, o futuro é prometedor. Num clima politicamente estável e<br />
voltado para uma economia de mercado, o sector privado pode abrir o caminho para o<br />
crescimento económico. Com atenção à equidade, e ao desenvolvimento humano e social, o<br />
Governo pode garantir que o crescimento económico se traduza <strong>em</strong> níveis mais elevados de<br />
segurança alimentar e nutricional.<br />
Em apoio deste objectivo, o Governo de <strong>Moçambique</strong> já estabeleceu uma estratégia<br />
de segurança alimentar e nutriç~o a nível nacional (Governo de <strong>Moçambique</strong>, 1998). A<br />
estratégia acentua a importância da agricultura e defende que o papel do governo é criar as<br />
condições necessárias para um desenvolvimento agrícola equitativo, ao mesmo t<strong>em</strong>po que<br />
permite ao sector privado abrir o caminho para a produção e comercialização e o<br />
fornecimento dos insumos. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, reconhece que o governo deverá prover os<br />
chamados bens públicos, tais como a assistência social e a educação, que são essenciais para<br />
o desenvolvimento, mas que normalmente não seriam providenciados <strong>em</strong> quantidade<br />
suficiente pelo sector privado. Finalmente, o Governo reafirma o compromisso de<br />
providenciar assistência aos m<strong>em</strong>bros da população mais vulneráveis.<br />
Os dados apresentados neste capítulo, e as recomendações que se segu<strong>em</strong>, corroboram<br />
a estratégia do Governo. Mas a estratégia deverá ser materializada. São necessários planos e<br />
programas detalhados que impl<strong>em</strong>ent<strong>em</strong> a estratégia de uma forma sustentável. Embora,<br />
como se notou, este capítulo não cubra todos os aspectos da situação da alimentação e da<br />
nutrição <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, ele oferece alguns princípios para um ulterior desenvolvimento da<br />
estratégia.<br />
Que medidas, portanto, deverá o Governo tomar, à luz destes dados, para reduzir a<br />
insegurança alimentar e nutricional?<br />
Deverá começar-se pelo fundamental. Os dados mostram, <strong>em</strong> essência, que<br />
<strong>Moçambique</strong> começa quase do zero. Com tão poucas estradas, tão poucas escolas, tão poucas<br />
instituições de saúde, e com uma pobreza generalizada, parece que tudo terá de ser feito de<br />
uma vez para criar as condições e o capital físico, humano, financeiro e social necessário para<br />
o progresso.<br />
Mas o que pod<strong>em</strong> ser simples generalidades <strong>em</strong> países mais desenvolvidos, <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> são directivas poderosas para a acção. Construam-se bons sist<strong>em</strong>as de<br />
transporte, garanta-se que as crianças possam ir à escola e que os adultos possam aprender a<br />
ler e a escrever; providencie-se para que todos tenham acesso aos cuidados básicos de saúde,<br />
241
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
a água pura, a boas condições sanitárias. Com níveis tão elevados de insegurança alimentar e<br />
nutricional, fazer o fundamental terá um enorme efeito. O Governo comprometeu-se a reduzir<br />
a subnutrição <strong>em</strong> 50 por cento até ao ano 2015 (Governo de <strong>Moçambique</strong>, 1998). Poderá ser<br />
difícil atingir esta meta, mas não é impossível.<br />
Certamente o Governo não dispõe dos recursos n<strong>em</strong> da capacidade para fazer todas<br />
estas coisas de uma vez, n<strong>em</strong> precisa de fazer isso. Deverá voltar-se para as comunidades,<br />
para as ONGs, para os governos locais, para as agências internacionais e mesmo para o sector<br />
privado para obter assistência, e coordenar as sua acções com essas instituições, de uma<br />
forma criativa, a fim de realizar estes objectivos. Em muitos casos, outras organizações têm<br />
melhores condições do que o Governo, e este deverá deixá-las realizar estas tarefas,<br />
especialmente nas áreas da produção e operaçÇ dos programas. Para as actividades que se<br />
propõe realizar, a experiência com o programa de assistência social nas zonas urbanas<br />
(Capítulo 7) sugere que para que as acções do Governo sejam estáveis e eficazes, deverá<br />
garantir que cada programa tenha o necessário apoio administrativo, técnico, financeiro e<br />
político.<br />
Subir os rendimentos mediante políticas que incentiv<strong>em</strong> um crescimento<br />
económico equitativo, baseado no trabalho. A análise neste capítulo d<strong>em</strong>onstrou que o<br />
aumento do rendimento t<strong>em</strong> um efeito poderoso na redução da insegurança alimentar e<br />
nutricional. Rendimentos mais altos permit<strong>em</strong> às famílias comprar comida suficiente e ao<br />
mesmo t<strong>em</strong>po melhorar outros aspectos das suas vidas, incluindo a obtenção de uma melhor<br />
educação, de melhores cuidados de saúde e a conquista de um melhor ambiente à sua volta. A<br />
longo prazo, a receita para o crescimento económico deverá compreender quatro aspectos:<br />
liberar os mercados para que possam funcionar; ter a certeza de que funcionam; ter a certeza<br />
de que as pessoas pod<strong>em</strong> participar nesses mercados; e garantir que os que não puder<strong>em</strong><br />
participar neles não são deixados para trás.<br />
Desenvolver a agricultura para benefício das zonas rurais...Em <strong>Moçambique</strong>, um<br />
crescimento económico generalizado depende <strong>em</strong> larga escala da agricultura. Com três<br />
quartos da população a viver <strong>em</strong> zonas rurais, quase toda ela ligada ou influenciada<br />
fort<strong>em</strong>ente pela agricultura, o desenvolvimento agrícola deverá ser visto como o el<strong>em</strong>ento<br />
chave para o b<strong>em</strong>-estar da maioria dos moçambicanos. Certamente, outros sectores, tais como<br />
o dos transportes e o do turismo, também são importantes, mas para a vasta maioria dos<br />
moçambicanos pobres a agricultura é um meio de vida.<br />
Quase todas as famílias rurais têm terra e extra<strong>em</strong> produtos alimentícios das terras que<br />
cultivam. Mas as famílias rurais não poderão fugir à pobreza e atingir um estado de segurança<br />
alimentar permanente unicamente por meio do cultivo da terra e da assistência social e<br />
transferências. Essas famílias deverão poder também gerar rendimento adicional, servindo-se<br />
da sua própria terra ou trabalhando para os outros.<br />
A fim de aumentar a produtividade agrícola, uma das tarefas mais importantes do<br />
Governo é garantir que os mercados funcion<strong>em</strong>. Present<strong>em</strong>ente, as estradas nas zonas rurais<br />
242
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
estão frequent<strong>em</strong>ente intransitáveis. Mesmo no sul, onde as condições são melhores, as<br />
estradas encontram-se intransitáveis <strong>em</strong> quase uma de cada 5 comunidades, ao menos uma<br />
vez por ano. Os mercados rurais são poucos e estão distante uns dos outros. Com o<br />
isolamento, o aumento de produção t<strong>em</strong> pouca saída e os rendimentos não pod<strong>em</strong> subir. S<strong>em</strong><br />
bons meios de transporte, os insumos agrícolas, as novas tecnologias e o crédito dificilmente<br />
pod<strong>em</strong> chegar, corroborando o uso quase inexistente de tecnologias agrícolas e fazendo<br />
aumentar os riscos dos agricultores. Com o custo tão alto dos transportes, devido à<br />
precariedade das estradas, os consumidores pagam preços altos e os produtores não tiram<br />
benefícios do que produz<strong>em</strong>.<br />
O Governo deverá também preocupar-se com a criação de um ambiente institucional,<br />
por meio de leis apropriadas e de medidas de investimento, umas e outras necessárias para<br />
promover a competitividade e encorajar o sector privado e providenciar os insumos agrícolas<br />
necessários, tais como os fertilizantes e o crédito agrícola. As medidas do Governo deverão<br />
provavelmente prestar também atenção ao papel da mulher na produção agrícola e no<br />
mercado, um aspecto não posto <strong>em</strong> evidência pelo MIAF.<br />
Parte deste ambiente institucional inclui medidas para incentivar um mercado activo<br />
da terra. O tamanho médio das terras cultivadas dificilmente chega para sustentar uma<br />
família, de maneira que os mercados de terra deverão funcionar b<strong>em</strong> para ultrapassar as<br />
limitações das pequenas parcelas de cultivo. Quer se trate de um processo formal quer<br />
informal, de acordo ou não com as práticas tradicionais, uma melhor segurança da terra pode<br />
levar os mercados de terra a florescer. Os produtores poderão consolidar parcelas, orientando<br />
assim a terra pelo melhor uso e os productores mais eficientes. Com medidas para encorajar<br />
os mercados activos da terra e uma produtividade mais alta, os donos das terras terão<br />
incentivos para aumentar a produção por meio de tecnologias sustentaveis que proteg<strong>em</strong> o<br />
ambiente.<br />
Mesmo quando os mercados exist<strong>em</strong> e funcionam, a população deverá dispor dos<br />
recursos e dos meios para participar neles. Baixos níveis de educação inib<strong>em</strong> a participação<br />
activa dos habitantes do campo no mercado, o qual pr<strong>em</strong>ia a capacidade ao seu acesso à<br />
interpretação da informação. Através das zonas rurais, as mulheres praticamente não têm<br />
educação, e os níveis de educação dos homens não são muito melhores. Certamente os<br />
agricultores têm os seus conhecimentos, muitas vezes melhor adaptados à sua realidade do<br />
que os dos que vêm de fora. Certamente os mensagens comunica-se com eles que não pod<strong>em</strong><br />
ler. Mas a alfabetização e a educação tornam a comunicação mais fácil e melhoram<br />
acapacidade de uma pessoa para ler, compreender, analisar e aprender.<br />
...e os benefícios das zonas urbanas. Medidas sábias para a agricultura e para o<br />
desenvolvimento rural são boas não só para as zonas rurais mas também para as cidades. Com<br />
um sector rural dinâmico, as cidades farão face a taxas de migração mais fáceis de<br />
administrar, o que é quase certo vir a constituir um desafio significativo para o futuro. Como<br />
tantos habitantes da cidade têm <strong>em</strong>pregos relacionados com a agricultura, o crescimento<br />
243
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
agrícola contribuirá também para o crescimento dos rendimentos dos que já viv<strong>em</strong> e<br />
trabalham na cidade. E numa economia principalmente rural, é necessário um sector agrícola<br />
pujante para o desenvolvimento futuro, na medida <strong>em</strong> que gera excedentes económicos que<br />
poderão ser utilizadas para investimento na agricultura e noutros sectores, incluindo os<br />
sectores da indústria e dos serviços, que são frequent<strong>em</strong>ente a base para a economia urbana.<br />
Uma proporção significativa dos habitantes da cidade depende também da agricultura<br />
para pelo menos algum do rendimento familiar e para a alimentação, especialmente nas zonas<br />
fora de Maputo, de maneira que o melhoramento da produtividade agrícola é também<br />
importante para eles. A agricultura urbana, especialmente a horta urbana, t<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrado<br />
contribuir para melhorar o nível alimentar e a diversidade de rendimento e t<strong>em</strong> contribuído<br />
para a segurança alimentar, s<strong>em</strong> ameaçar o ambiente (Maxwell, 1995; Maxwell, 1997;<br />
UNDP, 1995). À medida que as cidades de <strong>Moçambique</strong> se desenvolv<strong>em</strong>, os responsáveis<br />
pelos planos directores da cidade deverão estudar com cuidado os arranjos do espaço, das<br />
instituições e das leis necessárias para que a agricultura peri-urbana e urbana continu<strong>em</strong> a<br />
fazer parte do cenário da cidade.<br />
Desenvolver o sist<strong>em</strong>a de produção agrícola, o processamento dos produtos<br />
agrícolas e o sist<strong>em</strong>a da sua distribuição. É importante melhorar a produtividade agrícola e<br />
aumentar a produção agrícola, a fim de alcançar segurança alimentar. Mas a produção<br />
agrícola é simplesmente a base para um sist<strong>em</strong>a integral de produção, de processamento dos<br />
produtos agrícolas e da sua distribuição, criando assim <strong>em</strong>pregos para milhões de<br />
agricultores, de motoristas, de processadores de produtos alimentares, de comerciantes, de<br />
retalhistas, tanto nas zonas rurais como nas zonas urbanas. O desenvolvimento do sist<strong>em</strong>a<br />
agrícola, na sua totalidade, não só providenciará mais bens alimentares directamente para<br />
muitas famílias de agricultores, mas contribuirá também para fazer aumentar os seus<br />
rendimentos, assim como os rendimentos dos trabalhadores que <strong>em</strong>pregam e dos que<br />
des<strong>em</strong>penham o seu papel dentro do sist<strong>em</strong>a ligado à agricultura, noutras partes. As medidas<br />
do Governo deverão focar o desenvolvimento do sist<strong>em</strong>a de produção, de processamento dos<br />
produtos agrícolas e da sua distribuição, na sua totalidade, e não ater-se apenas à produção.<br />
Investir nos recursos humanos do país, especialmente na sua educação e na sua<br />
saúde. O trabalho é o recurso mais importante do pobre, de maneira que criar uma<br />
mão-de-obra capaz, flexível, implicará o investimento numa educação contínua e na<br />
formação profissional dos operários de hoje e o investimento na instrução primária e na<br />
instrução secundária dos operários de amanhã.<br />
Construir mais escolas nas zonas rurais, proporcionar um sist<strong>em</strong>a de educação<br />
contínua para os adultos, tanto nas zonas rurais como nas zonas urbanas. Muitas<br />
comunidades, particularmente nas províncias da região central, ainda não têm escolas<br />
primárias. Nas zonas rurais quase não exist<strong>em</strong> escolas secundárias. As crianças da cidade têm<br />
mais acesso à escolas, mas os níveis de educação dos seus pais e de outros adultos, <strong>em</strong>bora<br />
244
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
não sejam tão baixos como nas zonas rurais, ainda são tão baixos que metade das mulheres da<br />
cidade e um quarto dos homens são analfabetos ou não têm qualquer educação. Por amor do<br />
futuro do país, o Governo deverá garantir que todas as crianças tenham acesso à escola<br />
primária e também à escola secundária. E por amor dos trabalhadores de hoje, e de todos os<br />
que depend<strong>em</strong> deles, o Governo deverá duplicar os esforços para melhorar as taxas de<br />
alfabetização e a formação profissional entre os adultos.<br />
Criar centros de saúde nas zonas rurais e dotar as zonas urbanas de água<br />
potável. Providenciar cuidados de saúde, bons serviços sanitários e água potável <strong>em</strong><br />
abundância são condições essenciais para uma boa saúde, e uma boa saúde é essencial para a<br />
segurança nutricional. Uma boa saúde é também indispensável para a segurança económica.<br />
A prevenção das doenças e os cuidados de saúde são importantes para ter a certeza de que os<br />
trabalhadores são saudáveis, de modo a poder continuar a ganhar o salário de que necessitam<br />
e a evitar os custos adicionais com os cuidados de saúde. Um bom estado de saúde poderá ser<br />
especialmente importante para os trabalhadores urbanos. A agricultura é sazonal e geralmente<br />
é uma <strong>em</strong>presa familiar, de maneira que os agregados familiares rurais poderão abrandar o<br />
rítmo de trabalho ou transferir o trabalho para outros m<strong>em</strong>bros da família quando algum deles<br />
adoece, mas nas zonas urbanas os trabalhadores têm pouco espaço de manobra. Um dia de<br />
trabalho perdido é um dia de salário perdido.<br />
A maior ameaça contra a saúde nas zonas rurais parece derivar de uma fraca<br />
cobertura. Nas zonas rurais, especialmente na região central e na região sul, os centros de<br />
saúde ficam normalmente longe. Os cuidados de saúde primários, incluindo os cuidados com<br />
as mulheres grávidas, antes do parto e depois do parto, os centros de saúde ou as clínicas para<br />
tratamento de doenças são quase ainda inexistentes. Os habitantes da cidade, <strong>em</strong>bora<br />
benefici<strong>em</strong> de um acesso mais fácil aos serviços de saúde, poderão estar mais expostos às<br />
doenças, devido à existência das multidões, à deficiência sanitária e à contaminação da água.<br />
A análise de regressão sugere que mesmo present<strong>em</strong>ente a contaminação das fontes de água,<br />
devido ao nível de pobreza de comunidade ou à falta de higiene nos agregados familiares,<br />
está a fazer subir os níveis de desnutrição nas zonas urbanas.<br />
Mesmo à medida que vai descentralizando a responsabilidade para providenciar<br />
muitos dos serviços públicos às comunidades locais, o Governo deverá estar b<strong>em</strong> ciente da<br />
necessidade de apoiar uma transição eficaz e incentivar um nível adequado de prestação<br />
desses serviços (ajuda para a construção de poços, instalação de sist<strong>em</strong>as de água, por<br />
ex<strong>em</strong>plo), mesmo que a entidade responsável pela prestação desses serviços seja na realidade<br />
uma instituição de base comunitária ou o sector privado.<br />
Desenvolver um conjunto de programas de assistência social apropriados e b<strong>em</strong><br />
administrados. A rede formal de segurança de <strong>Moçambique</strong> não é sólida n<strong>em</strong> nas zonas<br />
rurais n<strong>em</strong> nas zonas urbanas. A assistência social formal parece estar present<strong>em</strong>ente<br />
concentrada no sul e na cidade de Maputo. S<strong>em</strong> ignorar os necessitados nestas zonas, os<br />
programas de assistência social deveriam estender-se a outras zonas, especialmente à região<br />
245
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
norte e à região central. Porém, a assistência social deveria refletir as necessidades peculiares<br />
de cada região. Por ex<strong>em</strong>plo, na região norte, a assistência pecuniária ou alimentar são menos<br />
necessárias do que os serviços de saúde e os programas de educação.<br />
É evidente que o Governo não t<strong>em</strong> n<strong>em</strong> a capacidade n<strong>em</strong> os recursos necessários<br />
para <strong>em</strong>barcar na criação de uma extensa rede de programas <strong>em</strong> larga escala. Mas, dentro dos<br />
limites dos seus recursos e de um esqu<strong>em</strong>a de medidas globais, poderá continuar a envidar os<br />
seus esforços <strong>em</strong> vista ao desenvolvimento de um conjunto de programas capazes de<br />
providenciar a assistência indispensável. Embora possa recorrer a agências internacionais, aos<br />
ONGs e às comunidades para ajuda, <strong>em</strong> regime de parceria, no planeamento e na<br />
impl<strong>em</strong>entação desses programas, é da responsabilidade do Governo liderar o<br />
desenvolvimento de uma estratégia coerente e integrada de assistência social para toda a<br />
nação.<br />
Os dois principais programas do Governo - o programa de assistência social nas zonas<br />
urbanas e o programa de auxílio nos desastres nas zonas rurais - estão <strong>em</strong> vias de revisão e de<br />
consolidação. O Governo está present<strong>em</strong>ente a planear programas adicionais, sob a tutela do<br />
INAS. O Governo deverá tirar partido da oportunidade de ter apenas um reduzido número de<br />
programas de assistência social <strong>em</strong> larga escala para consolidar e aprender lições sobre o<br />
funcionamento dos programas. Isto contribuirá para que o sector público adquira a capacidade<br />
de planear e de administrar programas de assistência social, tanto nas zonas rurais como nas<br />
zonas urbanas. Portanto, à medida que o crescimento económico se desenvolve e os<br />
rendimentos do Governo aumentam, o Governo disporá de uma base sólida para criar um<br />
conjunto de programas para a assistência social e para a segurança social. Para além desta<br />
actividade, o Governo deverá tudo fazer para que os seus programas sejam eficazes e<br />
alcanc<strong>em</strong> os seus objectivos. O monto do subsidio para o programa de assistência social nas<br />
zonas urbanas, por ex<strong>em</strong>plo, é tão baixo, neste momento, que a quantia praticamente não t<strong>em</strong><br />
sentido. Adoptando numerosas recomendações prévias, o Governo deverá aumentar o monto<br />
para que o programa seja eficaz (veja-se o Capítulo 7).<br />
Uma estratégia para a assistência social deverá evitar a adopção de programas que<br />
cri<strong>em</strong> dependência ou que substituam, s<strong>em</strong> fundamento, os sist<strong>em</strong>as informais de apoio social<br />
já existentes. Redes de assistência sociais com base na família e na comunidade são<br />
el<strong>em</strong>entos importantes de uma estratégia de sobrevivência para muitos moçambicanos, e o<br />
Governo deverá apoiar essas estrategias. Por outro lado, quando esses sist<strong>em</strong>as informais não<br />
for<strong>em</strong> adequados para permitir que os moçambicanos fujam da pobreza extr<strong>em</strong>a e pass<strong>em</strong> a<br />
viver uma vida digna, o Governo t<strong>em</strong> a responsabilidade de apoiar ou de compl<strong>em</strong>entar estas<br />
estratégias com projectos e programas formais.<br />
Adaptar os programas e as medidas legais às condições regionais e locais. A<br />
discussão já chamou a atenção para algumas diferenças regionais na natureza dos desafios à<br />
segurança alimentar e nutricião. Em geral, a insegurança alimentar é quase igualmente<br />
prevalecente nas zonas urbanas e nas zonas rurais, de maneira que as medidas para melhorar<br />
246
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
o rendimento das pessoas deverão dirigir-se a ambas as zonas. As medidas governamentais<br />
que promov<strong>em</strong> o crescimento agrícola contribuirão principalmente para o aumento dos<br />
rendimentos nas zonas rurais, enquanto as medidas que incentivam o investimento nos<br />
sectores da indústria e dos serviços beneficiarão principalmente, de uma forma directa, as<br />
zonas urbanas.<br />
Os programas de educação de adultos deverão destinar-se a todas as zonas rurais, e<br />
muito especialmente à região norte e à região central do país, e às zonas urbanas fora de<br />
Maputo. São necessários <strong>em</strong> todas as zonas rurais, mas mais especificamente na região norte<br />
e na região central, programas eficazes para fazer com que as mães tenham mais cuidados<br />
com a saúde durante a gravidez e com que tenham partos <strong>em</strong> casa <strong>em</strong> boas condições. A<br />
atenção aos partos <strong>em</strong> centros de saúde é mais importante nas zonas urbanas e nas zonas<br />
rurais do sul. Enquanto uma vasta maioria das crianças na maior parte das zonas urbanas e<br />
nas zonas rurais do sul tomaram todas as vacinas, são necessários programas mais eficazes<br />
para as crianças nas zonas rurais da região norte e da região central e nas zonas urbanas fora<br />
de Maputo, incluindo as grandes cidades. É preciso fazer o possível para melhorar as<br />
condições sanitárias nas cidades fora de Maputo e na região norte e na região central. Deverá<br />
fornecer-se água canalizada aos moradores das outras cidades, para além de Maputo.<br />
Regionalmente, o número maior de pessoas s<strong>em</strong> segurança alimentar e nutricional<br />
encontra-se na região central. Isto parece ser o resultado de uma combinação de factores que<br />
afectam tanto a segurança alimentar como a saúde. Os níveis educacionais são baixos, as<br />
instituições de saúde e as escolares são poucas, a infra-estrutura dos transportes é precária.<br />
Quando se criar<strong>em</strong> programas e se tomar<strong>em</strong> medidas para fazer diminuir a falta de segurança<br />
alimentar deverá prestar-se particular atenção às províncias da região central. Porém, é<br />
importante notar que dentro de uma zona poderá existir uma variação significativa. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, o interior da região norte, relativamente b<strong>em</strong> no que se refere à segurança alimentar,<br />
t<strong>em</strong> numerosas bolsas de vulnerabilidade (Governo de <strong>Moçambique</strong>, 1998). Tendo <strong>em</strong> conta<br />
os custos dos programas, na sua realização deverá procurar-se o melhor equilíbrio possível<br />
entre o erro de excluir os que precisam de assistência e o erro de incluir os que não precisam<br />
dela.<br />
Uma estrutura institucional de acção. É evidente que as causas da falta de<br />
segurança alimentar e nutricional são multi-sectoriais e actuam a diferentes níveis. As<br />
medidas governamentais e os programas deverão portanto coordenar as acções através e<br />
dentro dos sectores e através e dentro dos níveis do governo. Deverão também reconhecer que<br />
o Governo central é apenas um dos actores, se b<strong>em</strong> que importante. Esse Governo central<br />
deverá cooperar com o sector privado, com as comunidades, com os agregados familiares e<br />
com os indivíduos que têm papéis a des<strong>em</strong>penhar no melhoramento do estado da segurança<br />
alimentar e nutricional.<br />
As medidas governamentais e os programas deveriam encarar os diferentes aspectos<br />
da vulnerabilidade inerente à falta de segurança alimentar e nutricional. Alguns programas<br />
247
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
poderão fazer aumentar a segurança alimentar e nutricão dos agregados familiares ou dos<br />
indivíduos, directamente. Outros programas contribu<strong>em</strong> para o melhoramento da capacidade<br />
dos agregados familiares e dos indivíduos para fazer face às mudanças ou aos choques que<br />
afectam negativamente a sua situação, ao passo que outros programas reduz<strong>em</strong> o risco de<br />
esses choques vir<strong>em</strong> sequer a dar-se.<br />
Os dados suger<strong>em</strong> que a maioria dos moçambicanos têm dificuldades <strong>em</strong> todos os<br />
campos. Têm falta de segurança alimentar e nutricional. Estão sujeitos a probl<strong>em</strong>as de toda a<br />
ord<strong>em</strong>, incluindo o t<strong>em</strong>po e as variações dos preços, mas têm poucos recursos para evitar e<br />
reduzir estes riscos ou para fazer face às dificuldades. Deveria haver uma estratégia global<br />
para procurar promover a segurança alimentar e nutricional do agregado familiar e do<br />
indivíduo, para reduzir a possibilidade de ter de fazer face a esses choques e para lhes<br />
possibilitar a resposta aos choques quando eles vier<strong>em</strong> a dar-se.<br />
Para pôr a funcionar esta estratégia, o Governo central não necessita, e provavelmente<br />
não deveria, planear e administrar directamente programas vastos, integrados e<br />
multi-sectoriais. Porém, as agências do Governo deveriam incorporar um convénio de<br />
carácter multidimensional de segurança alimentar e nutricional nos seus planos e estudar até<br />
que ponto as suas acções afectam e são afectadas por outras. Deveriam procurar tirar partido<br />
das sinergias com outros programas, incluindo os das comunidades ou os de outros níveis do<br />
governo, que se destinam a compl<strong>em</strong>entar aspectos das causas da segurança alimentar e<br />
nutricional.<br />
Para ser<strong>em</strong> relevantes e estáveis, os programas deverão refletir as necessidades, os<br />
obstáculos e os recursos locais. O Governo deveria promover uma acção local, erigindo a<br />
capacidade local e os mecanismos para a sua participação. O Governo pode apoiar<br />
actividades locais com recursos financeiros, com cursos de formação e com os meios<br />
necessários para compartilhar os conhecimentos e as experiências com outras localidades. As<br />
directrizes nacionais que não fomentam a participação local e não tomam <strong>em</strong> consideração as<br />
necessidades e os recursos locais não têm probabilidades de vir a ter êxito a longo prazo.<br />
Os determinantes da segurança alimentar e nutricional são obviamente múltiplos e<br />
multi-sectoriais. A redução da pobreza não é uma garantia de que estes outros aspectos de<br />
b<strong>em</strong>-estar venham a ser alcançados. Na verdade, tal como estes resultados suger<strong>em</strong>,<br />
investimentos básicos e relativamente baratos na saúde e na educação do pobre pod<strong>em</strong><br />
contribuir de modo significativo para a redução da falta de segurança alimentar e nutricional,<br />
mesmo que os rendimentos não aument<strong>em</strong>.<br />
Da mesma forma, o aumento da produção agrícola não garante a segurança alimentar,<br />
e o melhoramento da saúde não pode garantir a redução da desnutrição. Os esforços feitos<br />
para alcançar a segurança alimentar e nutricional deverão apoiar-se <strong>em</strong> numerosos factores e<br />
concentrar-se nos m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis da população, probl<strong>em</strong>as que as medidas<br />
tomadas <strong>em</strong> relação à agricultura e à saúde não poderão resolver, por si sós. Uma estratégia<br />
248
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
de segurança alimentar e deverá incluir, não só a alimentação, mas também os processos de<br />
aumentar o rendimento, de ultrapassar as deficiências do mercado e distribuir os bens<br />
alimentícios pelos m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis dos agregados familiares. As medidas tomadas<br />
quanto à nutrição não pod<strong>em</strong> focar unicamente as crianças, mas deverão concentrar-se<br />
também nas suas mães e no ambiente físico que as rodeia, especialmente a educação, as<br />
condições sanitárias e o acesso às facilidades de cuidados de saúde.<br />
A fim de reduzir a falta de segurança alimentar e nutricional, <strong>Moçambique</strong> deverá<br />
promover uma ofensiva sólida e integrada contra estes múltiplos factores, cujos níveis e a<br />
importância variarão de acordo com o contexto geográfico, económico e cultural. Dentro da<br />
sua vasta estrutura estratégica, o Governo deverá desenvolver também planos de acção mais<br />
pormenorizados, planos que tom<strong>em</strong> <strong>em</strong> consideração os desafios específicos encontrados <strong>em</strong><br />
cada situação e os recursos disponíveis, desde o governo às comunidades. Esta análise é o<br />
primeiro passo <strong>em</strong> direcção ao desenvolvimento de outros planos mais específicos para<br />
apropriar e descobrir recursos, e os presentes dados fornec<strong>em</strong> um ponto de partida básico, a<br />
partir do qual o Governo pode medir o seu sucesso e avaliar a eficácia das estratégias<br />
propostas.<br />
249
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
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251
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela. 4.1: Disponibilidade de mercado na comunidade<br />
Mercado permanente ou Distância média (km)* Estrada<br />
s<strong>em</strong>anal (%) transitável<br />
todo o ano(%)<br />
Rural 26 15 69<br />
Norte 26 21 72<br />
Central 24 14 61<br />
Sul 33 15 81<br />
Nota: * Se não existir na comunidade<br />
Tabela 4.2: Orig<strong>em</strong> dos alimentos<br />
Compra Cultivo/ Outro<br />
(% do valor total das (% do valor total das<br />
despesas com o consumo) despesas com o consumo)<br />
Total 41 59<br />
Urbano 83 17<br />
Rural 30 0<br />
Urbano<br />
Maputo 96 4<br />
Cidades grandes * 79 21<br />
Outras regiões 73 27<br />
Rural<br />
Norte 33 67<br />
Central 30 70<br />
Sul 23 77<br />
Nota: * Beira, Nampula, Matola<br />
252
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.3: Acesso à terra<br />
Posse da terra > 3 hectares ** Tamanho médio do<br />
(%) (%) terreno per capita (<strong>em</strong><br />
hectares)<br />
Total 89 16 .45<br />
Urbano 56 11 .31<br />
Rural 99 19 .47<br />
Urbano<br />
Maputo 12 25 .37<br />
Cidades grandes * 70 9 .32<br />
Outras regiões 75 11 .29<br />
Rural<br />
Norte 98 14 .52<br />
Central 99 12 .38<br />
Sul 98 45 .62<br />
Notas: * Beira, Nampula, Matola<br />
** Dos que possu<strong>em</strong> terras<br />
253
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.4: Média de rendimento por província e por colheita<br />
Toneladas/ hectare Milho Arroz Mandioca Feijões<br />
Norte<br />
Niassa 0.3 0.3 2.7 0.1<br />
Cabo-Delgado 0.9 0.3 2.1 0.2<br />
Nampula 0.6 0.4 1.8 0.3<br />
Central<br />
Sul<br />
Zambézia 0.5 0.3 2.1 0.2<br />
Tete 0.6 0.2 2.7 0.2<br />
Maniça 0.7 0.2 0.6 0.1<br />
Sofala 0.5 0.4 3.0 0.2<br />
Inhambane 0.2 0.3 0.6 0.2<br />
Gaza 0.2 1.5 0.6 0.2<br />
Maputo 0.2 - 0.6 0.1<br />
Total 0.5 0.4 1.8 0.2<br />
Zimbabwe 1.4 2.8 4.0 0.7<br />
África sub-Sahariana 1.2 1.6 7.5 0.7<br />
Fonte: Inquérito Agrícola 1996. Ministério de Agricultura e Pesca.<br />
254
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.5: Utilização dos insumo agrícolas e das tecnologias<br />
Utilização de Compra de Utilização de Assistência Distância<br />
equipamento s<strong>em</strong>entes fertilizantes técnica média até a<br />
mecanizado* (%) (%) disponível na localidade de<br />
(%) comunidade (%) assistência<br />
(kms)***<br />
Total 5 22 1 n.a. n.a.<br />
Urbano 9 40 4 n.a. n.a.<br />
Rural 4 20 0 18 30<br />
Urbano<br />
Maputo 13 52 23 n.a. n.a.<br />
Cidades 9 39 0 n.a. n.a.<br />
grandes **<br />
Outras 6 35 3 n.a. n.a.<br />
regiões<br />
Rural<br />
Norte 3 13 0 23 32<br />
Central 2 19 0 14 34<br />
Sul 8 32 0 22 20<br />
Notes: * Canos, fumigador, etc.<br />
** Beira, Nampula, Matola<br />
*** Se não existir na comunidade<br />
255
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.6: <strong>Pobreza</strong> e consumo<br />
Pobre Indigente Valor total do consumo per capita por dia Valor do consumo de alimentos per capita por<br />
(%) (%) ** dia<br />
média mediana média mediana<br />
(meticais) (meticais) (meticais) (meticais)<br />
Total 69 34 5322 3771 3223 2580<br />
Urbano 61 30 9389 6262 4655 3634<br />
Rural 72 35 4259 3423 2849 2416<br />
Urbano<br />
Maputo 49 17 12505 8691 6068 4749<br />
Cidades<br />
grandes * 66 39 8209 5130 3791 2748<br />
Outras<br />
regiões 68 35 7266 5116 3933 3038<br />
Rural<br />
Norte 68 30 3482 2911 2410 2005<br />
Central 73 37 4127 3435 2812 2399<br />
Sul 75 38 5854 4685 3665 3142<br />
Notas: *Beira, Nampula, Matola<br />
** 60% abaixo da linha de pobreza<br />
256
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.7: Educação<br />
Educação<br />
(% de adultos<br />
analfabetos ou s<strong>em</strong> Escola primária Escola secundária<br />
educação)<br />
Sexo Sexo Na Distância Na Distância<br />
masculino f<strong>em</strong>inino comunidade média comunidade média<br />
( %) (kms)** (%) (kms)**<br />
Total 59 81 n.a. n.a. n.a. n.a.<br />
Urbano 23 49 n.a. n.a. n.a. n.a.<br />
Rural 68 89 67 6 2 35<br />
Urbano<br />
Maputo 11 29 n.a. n.a. n.a. n.a.<br />
Cidades<br />
grandes * 22 60 n.a. n.a. n.a. n.a.<br />
Outras<br />
regiões 36 62 n.a. n.a. n.a. n.a.<br />
Rural<br />
Norte 69 94 80 4 3 40<br />
Central 70 92 57 7 1 37<br />
Sul 60 76 72 5 3 25<br />
Notas: * Beira, Nampula, Matola<br />
** Se não existir na comunidade<br />
257
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.8: Assistência social e transferência pecuniária<br />
Recebeu De Programa de Programa de Programas de assistência<br />
assistência assistência, assistência subsídio de social (pensões, clubes,<br />
do recebeu <strong>em</strong> social na alimentos na outros agregados<br />
Governo alimentos comunidade comunidade familiares)<br />
ou de (%) (%) (%) (%)<br />
ONG<br />
(%)<br />
258<br />
mandados** recebidos<br />
Total 6 61 n.a. n.a. 36 20<br />
Urbano 5 70 n.a. n.a. 35 13<br />
Rural 7 60 9 3 36 22<br />
Urbano<br />
Maputo 8 89 n.a. n.a. n.a. 19<br />
Cidades<br />
grandes* 2 14 n.a. n.a. 41 9<br />
Outras<br />
regiões 3 53 n.a. n.a. 32 10<br />
Rural<br />
Norte 4 24 11 3 35 15<br />
Central 5 75 7 3 36 31<br />
Sul 16 66 11 5 n.a. 13<br />
Notas: * Beira, Nampula, Matola<br />
** As zonas urbanas e rurais das províncias do sul, incluindo a Cidade de Maputo, são<br />
excluídas
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.9: Segurança alimentar<br />
< 100% requisitos (%) Disponibilidade de<br />
Calorias/UEA/Dia Partilha de Distribuição<br />
alimentos locacional da não<br />
Capítulo Amostra completa Média Média<br />
Sub-amostra<br />
Total 64 62 2761 2420 68<br />
259<br />
do valor total do segurança<br />
consumo alimentar<br />
(%) (%)<br />
Urbano 67 66 2645 2296 59 22<br />
Rural 63 62 2792 2464 71 78<br />
Urbano<br />
Maputo 67 66 2663 2370 57 8<br />
Cidades grandes* 71 69 2477 1894 56 6<br />
Outras regiões 65 63 2751 2394 62 8<br />
Rural<br />
Norte 48 43 3305 3120 73 20<br />
Central 69 69 2601 2228 70 40<br />
Sul 75 75 2389 2078 68 19<br />
Nota: * Beira, Nampula, Matola<br />
100%<br />
100%
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.10: Associação da disponibilidade de calorias e percentag<strong>em</strong> das despesas com<br />
a alimentação<br />
Urbano<br />
Calorias/ UEA/dia Percentag<strong>em</strong> do valor total<br />
(média)<br />
do consumo com a<br />
alimentação (% )<br />
260<br />
(média)<br />
Pobre 2235 .63<br />
Não pobre 3282 .52<br />
Rural<br />
Pobre 2448 .72<br />
Não pobre 3659 .67<br />
Tabela 4.11: Segurança alimentar: Grupos vulneráveis?<br />
Género, chefe do agregado familiar<br />
% da segurança % da população<br />
alimentar<br />
rural urbano rural urbano<br />
sexo masculino 63 68 83 81<br />
sexo f<strong>em</strong>inino 63 64 17 19<br />
Migrantes da guerra<br />
sim 73 71 7 3<br />
não 62 67<br />
Crianças
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.12: Disponibilidade de centros de saúde<br />
T<strong>em</strong> um posto Distância média até Distância média até<br />
ou centro de ao centro de saúde* ao posto de saúde*<br />
saúde<br />
(%)<br />
(kms) (kms)<br />
Rural 22 20 12<br />
Norte 23 28 15<br />
Central 14 15 9<br />
Sul 39 20 12<br />
Nota: * Se não existir na comunidade<br />
Tabela 4.13: Acesso a cuidados materno-infantis: Cuidados pré-natais<br />
Local do ultimo parto (%) Parteira<br />
Teve<br />
cuidados Clinica de Na<br />
pré-natais maternidade/ Centro Em comunidade Distância**<br />
(%) hospital de saúde casa (%) (kms)<br />
Total 70 41 10 50 n.a. n.a.<br />
Urbano 94 75 8 16 n.a. n.a.<br />
Rural 62 29 10 60 20 16<br />
Urbano<br />
Maputo 100 95 2 3 n.a. n.a.<br />
Cidades 92 70 12 18 n.a. n.a.<br />
grandes*<br />
Outras 92 67 10 22 n.a. n.a.<br />
regiões<br />
Rural<br />
Norte 57 21 5 74 16 20<br />
Central 60 23 14 63 16 15<br />
Sul 77 55 8 37 38 12<br />
Notas: * Beira, Nampula, Matola<br />
** Se não existir na comunidade<br />
261
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.14: Acesso a cuidados materno-infantis: Cuidados pos-natais<br />
Amamentação Cuidados Vacinas<br />
infantis (%)<br />
Meses Na<br />
Campanha<br />
de<br />
vacinação<br />
(duração comunidade na Série<br />
% média) (%) comunidade Vacinadas completa **<br />
Conjunto 99 18 n.a. n.a. 76 60<br />
Urbano 98 18 n.a. n.a. 92 83<br />
Rural 99 18 20 54 70 52<br />
Urbano<br />
Maputo 99 20 n.a. n.a. 100 98<br />
Cidades<br />
grandes* 96 18 n.a. n.a. 96 94<br />
Outras<br />
regiões 97 18 n.a. n.a. 86 69<br />
Rural<br />
Norte 99 18 19 78 54 35<br />
Central 99 18 15 39 68 44<br />
Sul 10 20 35 47 92 87<br />
0<br />
Notas: * Beira, Nampula, Matola<br />
** Para crianças $12 meses<br />
262
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.15: Habitação e ambiente<br />
Orig<strong>em</strong> da água (%) Latrinas Qualidade da<br />
(%) habitação (%)**<br />
Canalizada Poço Rio/lago Boa Pobre<br />
Total 22 47 32 38 11 71<br />
Urbano 66 32 3 68 40 31<br />
Rural 12 50 38 31 4 82<br />
Urbano<br />
Maputo 92 7 0 97 70 10<br />
Cidade<br />
grandes* 61 35 3 53 32 26<br />
Outras<br />
regiões 44 52 5 57 17 54<br />
Rural<br />
Norte 13 55 32 34 1 80<br />
Central 9 43 49 18 2 92<br />
Sul 17 58 25 61 14 59<br />
Notas: * Beira, Nampula, Matola<br />
** Índice da qualidade da habitação<br />
Resultado Total = paredes + chão + tecto<br />
3-4 = pobre<br />
8-9 = boa<br />
Paredes Chão Tecto<br />
1 = caniço ou paus 1 =s<strong>em</strong> nada (terra) 1 = capim, outros<br />
2 = adobe 2 = adobe 2 = lusalite, zinco<br />
3 = cimento, tijolo, madeira, zinco 3 = pedra, madeira, cimento 3 = telha, laje de betão<br />
tijolo<br />
263
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.16: Nº de crianças desnutridas 0-60 meses<br />
Prevalência (%) Distribuição locacional (%)<br />
Baixa altura- Baixo peso-para- Baixa altura- Baixo pesopara-idade**<br />
altura** para-idade para-altura<br />
Total 41 6<br />
Urbano 26 7 15 29<br />
Rural 46 6 85 71<br />
Urbano<br />
264<br />
100% 100%<br />
Maputo 20 4 3 4<br />
Cidades<br />
grandes * 31 8 5 9<br />
Outras<br />
regiões 26 9 7 17<br />
Rural<br />
Norte 38 8 19 29<br />
Central 55 4 51 27<br />
Sul 36 5 14 14<br />
Notas: * Beira, Nampula, Matola<br />
** < -2 s.d. extraído da média de referencia do NCHS<br />
100% 100%
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.17: Prevalência da desnutrição: <strong>Moçambique</strong> e países vizinhos<br />
Países Baixa altura-para-idade* Baixo peso-para-<br />
(%) altura** (%)<br />
<strong>Moçambique</strong> (MIAF 96-97) 41 6<br />
Malawi 48 7<br />
África do Sul 23 3<br />
Tanzânia 43 7<br />
Zâmbia 42 4<br />
Zimbabwe 21 6<br />
Fonte: Excepto para <strong>Moçambique</strong> (MIAF 96), Organização Mundial da Saúde, Genebra.<br />
1997. Bancos de Dados Globais do WHO sobre o crescimento e a desnutrição das crianças.<br />
Notas: *% < 2 s.d. da altura para a idade<br />
**% < 2 s.d. do peso para a altura<br />
Tabela 4.18: Estado nutricional: Grupos vulneráveis?<br />
Género, chefe do agregado familiar<br />
% baixa altura-para- % da população<br />
idade<br />
rural urbano rural urbano<br />
sexo masculino 46 24 90 87<br />
sexo f<strong>em</strong>inino 43 36 10 13<br />
Educação da mãe<br />
nenhuma 45 31 89 55<br />
alguma 36 19 11 45<br />
Orig<strong>em</strong> da água<br />
canalizada 34 24 13 58<br />
poço 48 30 49 39<br />
rio, lago 48 53 38 3<br />
265
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.19: Tabelas cruzadas: <strong>Pobreza</strong>, segurança alimentar, estado nutricional<br />
Rural<br />
Segurança alimentar *<br />
,<br />
Estado Nutricional * **<br />
(%) (%)<br />
Segurança Insegurança <strong>B<strong>em</strong></strong> nutridas Baixa altura-paraalimentar<br />
alimentar idade<br />
Não pobre 63 37 57 43<br />
Pobre 27 73 53 47<br />
Urbano<br />
Não pobre 51 49 82 18<br />
Pobre 21 79 70 30<br />
Notas: * Condicionado a ser ou não ser pobre<br />
** Para agregados familiares com crianças #5 anos de idade<br />
Rural<br />
Tabela 4.20:Tabelas cruzadas: Segurança alimentar e estado nutricional<br />
266<br />
Estado nutricional *<br />
<strong>B<strong>em</strong></strong> nutridas (%) Baixa altura-para-idade (%)<br />
Seguras 53 47<br />
Inseguras 55 45<br />
Urbano<br />
Seguras 75 25<br />
Inseguras 74 26<br />
Notas: * Condicionadas a ter ou não segurança alimentar
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.21: Modelo de disponibilidade de calorias 1<br />
Variáveis independentes Variável dependente: Calorias por dia por unidade equivalente<br />
de adulto<br />
Despesas per capita<br />
(logaritmo) 2,3<br />
Rural Urbano<br />
322.80*<br />
(104.17)<br />
267<br />
408.44*<br />
(69.36)<br />
4<br />
Educação do hom<strong>em</strong> adulto -33.27 -33.27<br />
(42.63) (42.63)<br />
4<br />
Educação da mulher adulta 39.55 39.55<br />
(50.52) (50.52)<br />
Migrante da guerra -73.32 -73.32<br />
(76.92) (76.92)<br />
3<br />
Terra per capita (logaritmo) 38.96 -121.34*<br />
(32.18) (53.56)<br />
% do gregado familar < 5 660.83* 660.83*<br />
anos de idade (140.74) (140.74)<br />
% do agregado familiar $60 207.88* 207.88<br />
(100.70) (100.70)<br />
% do agregado familiar $ 5 142.20 142.20<br />
e # 17 (111.69) (111.69)<br />
Tamanho do agregado<br />
familiar 3<br />
Tamanho do agregado<br />
familiar (quadrado) 3<br />
-406.96 -309.26*<br />
(40.23) (36.42)<br />
19.79* 11.20*<br />
(2.41) (2.12)<br />
Género, Chefe do agregado -29.01 -29.01<br />
familiar (56.20) (56.20)<br />
Estação 205.98 205.98<br />
(173.0) (173.0)<br />
Variáveis da comunidade n.r.* n.r.*<br />
2<br />
R 0.34 0.34<br />
F 10.96 10.96<br />
N 6461.00 6461.00<br />
1 Notas: Os erros padrão são referidos entre parênteses;<br />
2 Variável endógena, predita pelos bens possuídos;<br />
3 O coeficiente varia entre os modelos rurais e os modelos urbanos;<br />
4 O adulto t<strong>em</strong> alguma educação;<br />
* Significativo a 1o ou a um nível mais alto; n.r.= não referido
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
1<br />
Tabela 4. 22: Modelo do estado nutricional, de 0 a 23 meses (rural e urbano)<br />
Variáveis independentes Variável dependente: Z-score de altura-paraidade<br />
2<br />
Despesas per capita (logaritmo) .39*<br />
(.21)<br />
Género .35*<br />
(.10)<br />
Idade <strong>em</strong> meses -.12*<br />
(.03)<br />
Idade (quadrada) .00<br />
(.00)<br />
3<br />
Educação do adulto do sexo masculino -.03<br />
(.13)<br />
3<br />
Educação da mae .40*<br />
(.16)<br />
Migrante da guerra .07<br />
(.22)<br />
Terra per capita (logaritmo) .08<br />
(.09)<br />
% do agregado familiar < 5 anos de idade -1.33*<br />
(.68)<br />
% do agregado familiar $ 60 -1.24<br />
(1.38)<br />
% do agregado familiar $ 5 e # 17 .02<br />
(.53)<br />
Tamanho do agregado familiar .00<br />
(.11)<br />
Tamanho do agregado familiar (quadrado) .01<br />
(.01)<br />
Género, chefe do agregado familiar .03<br />
(.23)<br />
Estação 1.61*<br />
(.76)<br />
A mãe fala português -.05<br />
(.14)<br />
Quartos per capita .15<br />
(.21)<br />
268
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Cuidados pré-natais -.19<br />
(.16)<br />
1<br />
Tabela 4. 22: Modelo do estado nutricional, entre 0 e os 23 meses (rural e urbano)<br />
Variáveis independentes Variável dependente: Z-score de altura-paraidade<br />
Uso de latrinas .13<br />
269<br />
(.13)<br />
Uso de água de poço -.23<br />
(.15)<br />
Uso de água canalizada -.27<br />
Uso de água de rio --<br />
(.21)<br />
Variáveis da comunidade n.r.<br />
2 R 0.22<br />
F 2.22<br />
N<br />
1<br />
Notas : Os erros padrão são referidos entre parêntesis<br />
2<br />
Variável endógena, predita pelos bens possuídos<br />
3<br />
O adulto t<strong>em</strong> alguma educação<br />
*<br />
Significativo a .1 ou a um nível mais alto.<br />
n.r. = não referido<br />
1197
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.23: Modelo do estado nutricional de 24 a 60 meses 1<br />
Variáveis independentes Variável dependente: Z-score de altura-para-idade<br />
Rural Urbano<br />
2<br />
Despesas per capita (logaritmo) .68* .68*<br />
(.17) (.17)<br />
Género -.01 -.01<br />
(.08) (.08)<br />
Idade <strong>em</strong> meses -.03 -0.03<br />
(.03) .00<br />
Idade (quadrada) .00 .00<br />
(.00) (.00)<br />
Educação do adulto do sexo .07 .07<br />
masculino (.11) (.11)<br />
Educação da mãe .13 .13<br />
(.13) (.13)<br />
Migrante da guerra .02 .02<br />
(.19) (.19)<br />
3<br />
Terra per capita (logaritmo) .21* -.06<br />
(.09) (.12)<br />
% do agregado familiar < 5 -.45 -.45<br />
anos de idade (.59) (.59)<br />
% do agregado familiar $ 60 -.91 -.91<br />
(1.00) (1.00)<br />
% do agregado familiar $ 5 e .03 .03<br />
#17 (.47) (.47)<br />
Tamanho do agregado familiar .21* .21*<br />
(.09) (.09)<br />
Tamanho do agregado familiar -.01* -.01*<br />
(quadrado) (.01) (.01)<br />
Género, chefe do agregado -.17 -.17<br />
familiar (.19) (.19)<br />
Estação -.11 -.11<br />
(.47) (.47)<br />
270
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Tabela 4.23: Modelo do estado nutricional entre de 24 a 60 meses 1<br />
Variáveis independente Variável dependente: Z-score de altura-para-idade<br />
Rural Urbano<br />
A mãe fala português .10 .10<br />
(.12) (.12)<br />
Quartos per capita .31 .31<br />
(.21) (.21)<br />
Acesso a cuidados pré-natais -.03 -.03<br />
(.14) (.14)<br />
Uso de latrinas .07 .07<br />
(.12) (.12)<br />
3<br />
Uso de água de poço .09 -.94*<br />
(.15) (.49)<br />
3<br />
Uso de água canalizada .22 -.16<br />
(.23) (.50)<br />
3<br />
Uso de água de rio -- --<br />
Variáveis da comunidade n.r. n.r.<br />
2<br />
R 0.12 0.12<br />
F 1.83 1.83<br />
N 1509 1509<br />
1<br />
Notes: Os erros padronizados são referidos entre parêntesis.<br />
2 Variável endógena, predita pelos bens possuídos.<br />
3 O coeficiente varia entre o modelo urbano e o modelo rural.<br />
* Significativo a .1 ou a um nível mais alto.<br />
n .r. = não referido<br />
271
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Figura 4.1: Determinantes da segurança alimentar e nutrição: quadro conceitual<br />
272
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Figura 4.2: Estado Nutricional das crianças, Idades 0-60 meses<br />
273
Total<br />
Poverty and Well-Being in Mozambique: 1996-97<br />
Anexo 1: Distribuição da sub-amostra do capítulo e amostra completa<br />
Distribuição da amostra (%)<br />
Não pesados Pesados Número de agregados<br />
familiares<br />
Capítulo Amostra Capítulo Amostra Capítulo Amostra<br />
sub- completa sub- completa sub- completa<br />
amostra amostra amostra<br />
Urbano 31 30 21 20 2009 2439<br />
Rural 69 70 79 80 4454 5811<br />
Urbano<br />
Maputo 13 11 7 6 828 893<br />
Cidades<br />
grandes* 8 8 6 7 495 677<br />
Outras<br />
regiões 11 11 8 8 686 869<br />
Rural<br />
Norte 22 23 26 27 1417 1905<br />
Central 26 28 37 38 1693 2288<br />
Sul 21 20 16 15 1344 1618<br />
n 6463 8273<br />
* Beira, Nampula, Matola<br />
274
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Capítulo 5<br />
Capital Humano e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Social <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Ashu Handa<br />
Farizana Omar<br />
Maimuna Ibraimo
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Sumário .............................................................. 278<br />
5.1. Introdução ...................................................... 279<br />
5.2. Estrutura do Sist<strong>em</strong>a Nacional de Educação<br />
.............................................................. 279<br />
5.3. Indicadores Básicos de Escolaridade .................................. 280<br />
5.3.1. Adulto ................................................... 280<br />
5.3.2. Crianças .................................................. 281<br />
5.3.3. Comparação inter-gerações ................................... 281<br />
5.3.4. Informação a Nível da Comunidade: Acesso a Escola ................ 282<br />
5.4. Educação e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> no AF ...................................... 283<br />
5.4.1. <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Monetário: Consumo Per Capita ....................... 283<br />
5.4.2. <strong>B<strong>em</strong></strong> <strong>Estar</strong> Social: Educação da Criança, Saúde e Acesso aos<br />
Serviços de Saúde .......................................... 285<br />
5.4.3. Baixo Altura para Idade ou Mal-Nutrição Crónica .................. 285<br />
5.4.4. Acesso aos Serviços de Saúde: Vacinações e Cartões de Saúde ........ 287<br />
5.5. Educação do AF e Investimento na Educação Escolar da Criança ............ 288<br />
5.5.1. Quadro Teórico ............................................ 288<br />
5.5.2. Os Indicadores da Escolaridade da Criança ....................... 289<br />
5.5.3. Probabilidade de ter frequentado a escola ......................... 290<br />
5.5.4. Probabilidade de se matrícular ................................. 290<br />
5.5.6. Ultimo grau atingido ......................................... 291<br />
5.5.7. Eficiência escolar ........................................... 291<br />
5.6. Conclusões e Implicações para as Políticas .............................. 292<br />
Bibliografia ........................................................... 295<br />
2
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.1: Taxa de Alfabetismo por Grupo Etário (%) .......................... 296<br />
Tabela 5.2: Taxa de Adultos com 5ª classe (EP1) Completo por Grupo Etário (%) .... 296<br />
Tabela 5.3: Matrículas Actuais por Grupo Etário de Crianças (%) ................ 296<br />
Tabela 5.4: Ultima Classe Atingida pelas Crianças por Grupo Etário ............... 297<br />
Tabela 5.5: Eficiência Escolar da Criança .................................. 297<br />
Tabela 5.6: Principais Razões da não Frequência a Escola Primária, nas<br />
Aréas Rurais (%) ................................................. 297<br />
Tabela 5.7: Estimativas da Determinação do Logarítmo do Consumo Per<br />
Capita do AF .................................................... 298<br />
Tabela 5.8: Nível de Educação do Chefe do Agregado e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar Social da Criança ... 299<br />
Tabela 5.9:Estimativas da Regressão do ‘z-score’ da Altura da Criança .............. 300<br />
Tabela 5.10: Estimativas das Determinantes da Probabilidade de Crianças entre<br />
12-60 Meses de Idade Tomar<strong>em</strong> Doses Completas de Vacinações ......... 301<br />
Tabela 5.11: Estimativas dos Determinantes da Probabilidade de as Crianças<br />
de 0-60 Meses de Idade Ter<strong>em</strong> Cartão de Saúde ......................... 302<br />
Tabela 5.12: Estimativas da Probabilidade de Crianças de 7 - 11 Anos Ter<strong>em</strong><br />
Frequentado a Escola .............................................. 303<br />
Tabela 5.13: Estimativas da Probabilidade das Crianças de 7 - 11 Anos <strong>Estar</strong><strong>em</strong><br />
Matriculadas .................................................... 304<br />
Tabela 5.14: Estimativas dos Determinantes da Classe Mais Alta Frequentada pelas Crianças<br />
7 - 17 Anos que Alguma Vez Foram a Escola ........................... 305<br />
Tabela 5.15: Estimativas dos Determinantes da Eficiência Escolar Estimados<br />
para Crianças de 9-17 anos que Ccompletaram a Escolaridade .............. 306<br />
3
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Sumário<br />
Neste estudo faz-se uma avaliação do papel da educação como um determinante do b<strong>em</strong><br />
estar social e material dos agregados familiares <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> com base no Inquérito Aos<br />
Agregados Familiares Sobre as Condições de Vida feito <strong>em</strong> 1996-97. Os resultados mostram<br />
que a educação é um dos determinantes muito influentes do b<strong>em</strong>-estar social e material do AF,<br />
com um impacto particularmente forte para a mulher das aréas rurais.<br />
Em relação ao b<strong>em</strong> estar material, constatou-se que a adição duma mulher adulta com<br />
EP2 completo ao AF aumenta o consumo per capita <strong>em</strong> 34 por cento nas aréas rurais e <strong>em</strong> 21<br />
por cento nas aréas urbanas. O s aumentos no consumo associados a adição de um hom<strong>em</strong> são<br />
de 18 e 19 por cento para as áreas rural e urbana respectivamente.<br />
A educação da mãe está fort<strong>em</strong>ente associada a saúde e o estado nutricional das crianças<br />
pré-escolares nas aréas rurais de <strong>Moçambique</strong>. Nestas aréas, a alfabetização das mães aumenta<br />
os z-scores de altura para idade (um indicador de mal-nutrição crónica) <strong>em</strong> 0.174 desvios<br />
padrões, aumenta a probabilidade da criança tomar as doses completas de vacinas <strong>em</strong> 17 por<br />
cento, e aumenta a probabilidade da criança ter cartão de saúde <strong>em</strong> 6 por cento. Nas aréas<br />
urbanas, o impacto da alfabetização das mães é menor e ás vezes não é estatísticamente<br />
significante.<br />
Uma análise profunda da escolaridade da criança mostra que a educação dos pais<br />
(adultos) é que t<strong>em</strong> maior peso na decisão se a criança vai ou não ingressar à escola primária<br />
tanto nas aréas rurais assim como para as urbanas. Nas aréas urbanas, o rendimento do agregado<br />
familiar e a idade da criança também jogam papel importante na decisão sobre o ingresso à<br />
escola primária, enquanto que nas aréas rurais, o sexo da criança é o mais importante (há maior<br />
ingresso de rapazes do que de raparigas). Para crianças que tenham ido a escola, dois outros<br />
resultados relacionados com a educação escolar foram analizados: o grau mais alto frequentado<br />
e a eficiência escolar. Para ambos, são os níveis mais altos de educação dos pais (tal como o<br />
EP2 completo) e não a alfabetização os factores chaves que influenciam estas escolhas.<br />
Exist<strong>em</strong> três implicações políticas principais deste estudo:<br />
i) O investimento na educação da mulher das aréas rurais terá benefícios materiais e sociais<br />
muito amplos. Portanto, intervenções direcionadas a alfabetização da mulher adulta nas aréas<br />
rurais e que estimul<strong>em</strong> as raparigas a ingressar<strong>em</strong> à escola são prioritárias.<br />
ii) Nas aréas urbanas, políticas que alivi<strong>em</strong> o constrangimento monetário vivido pelos agregados<br />
familiares terão um impacto forte no ingresso às escolas. Ex<strong>em</strong>plos destas políticas inclu<strong>em</strong><br />
lanches escolares, redução das taxas de propinas, redução do preço ou distribuição gratuíta de<br />
livros e uniformes.<br />
iii) Nas escola primárias das aréas urbanas, as desistências aumentam significativamente por<br />
volta dos 9 anos de idade. Portanto, políticas que estimul<strong>em</strong> este grupo de crianças a estudar<br />
poderão ser importantes soluções para aumentar o grau atingido.<br />
278
5.1. Introdução<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
A maioria das histórias modernas de <strong>Moçambique</strong> retratam a situação das guerras.<br />
Finalmente, depois do fim da guerra civil que culminou com a assinatura do acordo de paz <strong>em</strong><br />
1992, <strong>Moçambique</strong> atravessa uma nova era política e económica. De 1970 a 1980 esta guerra<br />
provocou a destruição severa dos recursos produtivos, tanto materiais como humanos, deixando<br />
uma base fraca para a recuperação económica. Para acelerar o crescimento económico, a médio<br />
prazo,um passo essêncial seria a reabilitação destes recursos produtivos.<br />
Este estudo aborda a questão dos recursos humanos no período pós-guerra <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> providênciando uma avaliação <strong>em</strong>pírica do estoque de capital humano e as<br />
implicações do mesmo no b<strong>em</strong>-estar social. Usou-se como base de dados, o Inquérito Aos<br />
Agregados Familiares (IAF) Sobre as Condições de Vida <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> feito <strong>em</strong> 1996/97.<br />
O IAF, feito pelo Instituto Nacional de Estatísticas, é o primeiro levantamento feito a nível<br />
nacional depois da guerra civil. O IAF é um levantamento muito abrangente que reúne<br />
informação detalhada sobre o consumo; foi usada na construção duma linha de pobreza nacional<br />
e no desenvolvimento do perfil de pobreza do País. A informação sobre o b<strong>em</strong> estar pode ser<br />
ligada a educação, saúde, <strong>em</strong>prego e migração para sustentar análises sobre condições de vida<br />
e desenvolvimento de recursos humanos, permitindo a formulação de políticas de intervenção<br />
para estas aréas.<br />
Este relatório compreende o seguinte conteúdo: Primeiro, é feita uma abordag<strong>em</strong> do<br />
estoque a nível da educação escolar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, através de informação descritiva sobre<br />
adultos alfabetizados e indíce de matrículas nas escolas. Baseando-se na informação<br />
comunitária do IAF, fez-se uma descrição sobre a oferta da educação nas aréas rurais, com<br />
enfoque a questões sobre o acesso a escola. A Secção 4 avalia o impacto da educação do adulto<br />
<strong>em</strong> várias dimensões de b<strong>em</strong>-estar do agregado familiar, nomeadamente do consumo do AF (<strong>em</strong><br />
meticais) de bens e serviços, de saúde e do estado nutricional da criança. A Secção 5 apresenta<br />
uma análise rigorosa dos determinantes de escolaridade <strong>em</strong> crianças de 7-17 anos, no país. A<br />
Secção 6, sumariza as principais constatações, avaliando o impacto da educação na determinação<br />
do b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> e apresenta uma discusão sobre as implicações políticas do<br />
estudo.<br />
5.2. Estrutura do Sist<strong>em</strong>a Nacional de Educação<br />
O Sist<strong>em</strong>a Nacional de Educação está estruturado <strong>em</strong> escolas pré-primárias e escolas de<br />
educação O ensino pré-primário abrange crianças com idade abaixo de 6 anos, e as creches e os<br />
jardins de infancia é que se encarregam por tal. Embora seja um compl<strong>em</strong>ento da educação<br />
dentro da família, este ensino abarca, apenas, pequenas proporções da população Moçambicana.<br />
A educação escolar inclue ensino geral, ensino técnico e professional e o ensino superior.<br />
Em adição a educação providênciada pelo estabelecimento do ensino geral, a educação escolar<br />
também inclue formas especiais de ensino, nomeadamente: educação especial, educação<br />
279
1<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
vocacional, educação de adultos (alfabetização), ensino a distancia e formação de professores.<br />
Cada um destes são uma componente integrante da educação escolar, administrado <strong>em</strong> condições<br />
específicas. Por ex<strong>em</strong>plo, o Ministério da Acção Social é que se encarrega <strong>em</strong> parte pela<br />
educação especial, por forma a atinguir os seus objectivos específicos, dentro do seu grupo alvo<br />
de vulnerabilidade populacional.<br />
O ensino geral compreende dois níveis de educação. O ensino primário compreende 7<br />
anos de escolaridade e está subdividido <strong>em</strong> dois níveis, 1º primeiro nível do ensino primário (1ª<br />
a 5ª classe - EP1) e 2º segundo nível do ensino primário (6ª a 7ª classe - EP2). O ensino<br />
secundário geral com 5 anos de escolaridade está subdividido <strong>em</strong> dois ciclos, 1º ciclo secundário<br />
do ensino geral (8ª a 10ª classe - ESG1) e 2º ciclo secundário do ensino geral (11ª a 12ª classe -<br />
ESG2). O ensino técnico e professional compreende o nível el<strong>em</strong>entar, básico e médio. Estes<br />
níveis correspond<strong>em</strong> ao EP2, ESG1 e ESG2 do ensino geral, respectivamente.<br />
5.3. Indicadores Básicos de Escolaridade: 1<br />
5.3.1. Adulto<br />
2<br />
A Tabela 5.1 providência os indíces de alfabetismo de adultos por sexo e região. Todos<br />
os números apresentados neste relatório foram pesados através do inverso da probabilidade de<br />
ser<strong>em</strong> seleccionados na amostra e portanto, deverão ser considerados como representativos, a<br />
nível nacional. O indíce de alfabetizados, a nível nacional, dos adultos da primeira idade, na<br />
faixa compreendida entre os (18-65 anos), é de 40%. Em relação as mulheres, é de referir que<br />
a percentag<strong>em</strong> é muito baixa (24%) assim como <strong>em</strong> ambos grupos etários de adultos, ilustrados<br />
na tabela 5.1. Estes indíces baixos verificados pertenc<strong>em</strong> ao grupo de mulheres provenientes das<br />
aréas rurais ou seja apenas 16% deste grupo de mulheres é alfabetizada, a nível do país.<br />
Considerando que a maioria dos trabalhos agrícolas <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> são feitos pela mulher,<br />
estes indíces baixos t<strong>em</strong> implicações de grande relevancia na adopção de novas tecnologias e<br />
outras intervenções com vista a aumentar a produtividade agrícola .<br />
3<br />
A Tabela 5.2 mede a qualidade de educação indicando a proporção de adultos que<br />
completaram algum nível de escola primária. A média nacional, no grupo de adultos de 18-65,<br />
é apenas de 17%, é ainda muito mais baixa para mulheres 10% e 14% para os AFs que estão<br />
abaixo da linha da pobreza. Constatou-se também medindo com este indicador, que o grupo com<br />
baixo estoque de educação são as mulheres das aréas rurais ---aproximadamente 5 % de mulheres<br />
A informação sobre educação contida neste documento, foi extraída do módulo sobre educação do<br />
IAF, e esta informação foi recolhida <strong>em</strong> todos os agregados familiares residentes a 7 anos e mais.<br />
2<br />
3<br />
O apêndice providência os indíces de matrículas e alfabetizados, por região.<br />
De referir que a educação para além de aumentar a eficiência na aplicação de outras tecnologias<br />
aumenta a probabilidade de adopção da mesma.<br />
280
4<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
nestas aréas completaram algum nível primário.<br />
5.3.2. Crianças<br />
As Tabelas 5.3-5.5 providênciam os indíces médios de matrículas feitas, a última classe<br />
frequentada e a eficiência escolar <strong>em</strong> crianças com idades compreendidas entre os 7-11 anos<br />
(idade correspondente a frequência da escola primária) e 12-17 anos (idade correspondente a<br />
frequência da escola secundária). Para estes dois grupos, os indíces de matrículas são 49% e 48%<br />
respectivamente, sendo para as mulheres mais baixos e extr<strong>em</strong>amente baixos para crianças<br />
pobres. Estes indíces (de matrículas) são s<strong>em</strong>pre mais altos nas aréas urbanas, e diferenças entre<br />
pobres e não-pobres exist<strong>em</strong> apenas nessas aréas. A Tabela 5.4 mostra que crianças com idades<br />
compreendidas entre os 12-17anos (metade delas nunca frequentou a escola) atinge <strong>em</strong> média<br />
a classe 2.7 ou seja 3ª classe e as raparigas das aréas rurais atinge <strong>em</strong> média abaixo de 2<br />
(segunda classe).<br />
A tabela 5.5 apresenta as médias de um indicador de eficiência escolar que avalia o<br />
t<strong>em</strong>po que o estudante leva a passar, através do sist<strong>em</strong>a de educação <strong>em</strong> vigor. Este indicador foi<br />
gerado dividindo a última classe frequentada pela classe que deveria ter atingido dado a sua<br />
4<br />
idade, assumindo que nunca repetiu classe alguma. As crianças que estão na classe correcta<br />
<strong>em</strong> função das suas idades atribuíu-se um indicador igual a 1 (ou 100%). Aquelas que nunca<br />
frequentaram a escola t<strong>em</strong> como indicador de eficiência 0 (zero) e este grupo é omitido na<br />
tabela. Para qualquer grupo etário, a média de eficiência a nível nacional é de 70%, indicando<br />
que <strong>em</strong> média, as crianças que ingressam no sist<strong>em</strong>a de educação ating<strong>em</strong> apenas 70% do que<br />
5<br />
elas deveriam atingir . Esta ocorrência pode ser dever a qualquer factor do lado da procura<br />
(pelo AF) ou do lado da oferta (sist<strong>em</strong>a de educação) do mercado. É de notar que apesar da<br />
eficiência ser alta nas areas urbanas, para os grupos de crianças mais novas, a diferença entre a<br />
média das crianças pobres e a média nacional é quase igual a zero. Isto significa que para as<br />
gerações jovens, o rendimento do AF da criança pode não ser um determinante importante de<br />
acesso a escolaridade.<br />
5.3.3. Comparação inter-gerações:<br />
A tabela descritiva apresentada anteriormente, indica que exist<strong>em</strong> diferenças de grande<br />
impacto nos indicadores de escolaridade entre regiões, sexo e também por nível de b<strong>em</strong>-estar<br />
das famílias. A importancia relativa destes factores para os adultos será igual a das crianças?<br />
Para esclarecer melhor esta questão, dividiu-se o grupo de adultos com idades compreendidas<br />
As crianças que não frequentaram a escola por muito t<strong>em</strong>po foram questionadas sobre o ano que<br />
terminaram a última classe. Esta informação foi usada para calcular a idade com a qual completaram essa<br />
classe.<br />
5<br />
Outro modo de analizar os números é fazendo a pergunta quanto t<strong>em</strong>po ‘extra’ levará uma criança <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> completar um dado nível de educação. A resposta é 43% do t<strong>em</strong>po “extra” (1/.70).<br />
281
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
entre os 18-65 anos <strong>em</strong> 12 grupos, baseando-se na região de residência (urbana/rural), genéro<br />
(hom<strong>em</strong>/mulher) e se vive num AF não pobre, pobre (se estiver abaixo da linha de pobreza), ou<br />
muito pobre (60 % da linha de pobreza). A taxa de alfabetismo para cada um destes 12 grupos<br />
foi calculada, ordenada e apresentada na Figura 5.7, do apêndice. O mesmo exercício é<br />
apresentado na Figura 5.8 mas, ilustrando os indíces de matrículas referentes a crianças com<br />
idades compreendidas entre os 7-11 anos. Nestas duas figuras, as barras brancas representam o<br />
sexo f<strong>em</strong>enino e as pretas o sexo masculino.<br />
Na Figura 5.7 (adultos), o factor chave que determina se o grupo t<strong>em</strong> uma alta ou baixa<br />
taxa de alfabetismo é o genéro . Quase todas as barras pretas (grupos de homens) estão<br />
posicionadas acima das barras brancas (grupo de mulheres). Porém, na Figura 5.8 referente a<br />
crianças, esta divisão não persiste. Em vez do genéro, o factor mais decisivo é a região de<br />
residência.---quase todos os grupos da área urbana estão posicionados acima de todos os grupos<br />
da aréa rural. As matrículas actuais de crianças nas escolas primárias med<strong>em</strong> o des<strong>em</strong>penho<br />
num período muito cedo e curto da carreira estudantil. Portanto, não é um indicador perfeito do<br />
resultado alcansado no final. Contudo, se esta tendência continuar, haverá menores diferenças<br />
de educação entre sexos nas próximas gerações de Moçambicanos do que actualmente.<br />
5.3.4. Informação a Nível da Comunidade: Acesso a Escola<br />
O IAF recolheu informação comunitária nas aldeias onde foram feitos os principais<br />
levantamentos. Nessa informação estão inclusas questões tais como infra-estruturas, acesso ao<br />
mercado e produção de culturas. É com base nesta informação que se quantificou o nível de<br />
acesso as escolas nas aréas rurais.<br />
A Figura 5.9 mostra a proporção do AF que t<strong>em</strong> escola na aldeia, por província. A média<br />
nacional das escolas primárias, a nível das zonas rurais é de 67% e, de acordo com a Figura 5.9,<br />
as províncias de Cabo Delgado, Niassa e Gaza apresentam proporções bastante altas de AFs<br />
com escola primária na aldeia. Pode-se notar através das Figuras 5.3-5.6 do apêndice que a<br />
província de Gaza também apresenta um indíce altíssimo de crianças matrículadas. Contudo, as<br />
províncias de Cabo Delgado e Niassa não apresentam indíces de matrículas acima da média<br />
nacional, implicando que o acesso a escola não é o único factor determinante do ingresso nas<br />
escolas.<br />
A Figura 5.9 mostra também a proporção de AFs que t<strong>em</strong> uma escola primária na aldeia<br />
(EP2) e nesta tabela, mais uma vez, pode-se ver que as províncias de Cabo Delgado, Niassa e<br />
Gaza apresentam altos indíces (a média a nível rural é de 17%). Em relação ao acesso a escola<br />
secundária constatou-se que é quase inexistente nas aréas rurais. A média, a nível rural, é menor<br />
do que 2%, contudo, as províncias de Maputo-província, Gaza e Cabo Delgado registam indíces<br />
acima da média.<br />
A Tabela 5.6 providencia informação, baseada no mesmo questionário feito a nível da<br />
aldeia, sobre as principais razões que levam os estudantes a não frequentar<strong>em</strong> a escola. Em todas<br />
282
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
as aréas rurais, 39% dos AF disseram que o custo monetârio era o factor principal (última<br />
coluna). Contudo, a resposta depende da existência de uma escola na aldeia e do b<strong>em</strong>-estar total.<br />
Em ambas aldeias com escola ou s<strong>em</strong> escola, a maior razão da não frequência a escola é o custo<br />
monetârio. A segunda razão apontada, é o custo do t<strong>em</strong>po (32%) de se deslocar a escola, para as<br />
aldeias s<strong>em</strong> escola, enquanto a necessidade de a criança ter de trabalhar é de 26% <strong>em</strong> aldeias<br />
com escola. Finalmente, <strong>em</strong> aldeias pobres (coluna 3), as principais razões constatadas da não<br />
frequência são os custos do t<strong>em</strong>po (distância) e os custos monetários (também muito elevados).<br />
Estes resultados agrupados, indicam que o custo monetário, de frequentar a escola, é um<br />
determinante importante <strong>em</strong> ambos tipos de aldeia e que os custos do t<strong>em</strong>po investido na<br />
educação são reduzidos <strong>em</strong> aldeias com escola.<br />
Um interessante sinal de restabelecimento que v<strong>em</strong> ocorrendo nas aréas rurais de<br />
<strong>Moçambique</strong> depois da guerra é a construção de escolas primárias. Com base na Figura 5.10,<br />
baseiada <strong>em</strong> informações recolhidas nas aldeias abrangidas pelo IAF pode-se observar um<br />
grande incr<strong>em</strong>ento na construção de novas escolas nestas aréas depois do acordo de paz.<br />
5.4. Educação e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> no AF<br />
Para além da educação ser considerada um dos factores chaves para a redução da pobreza<br />
e promoção da mobilidade inter-gerações, é também um determinante importante do b<strong>em</strong>-estar<br />
social ou não-monetârio tal como o estado de saúde da criança. Nesta parte, faz-se uma avaliação<br />
da associação existente entre a educação do AF, o b<strong>em</strong>-estar monetário e o b<strong>em</strong>-estar social dos<br />
m<strong>em</strong>bros do AF <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
5.4.1. <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> Monetário: Consumo Per Capita<br />
A avaliação foi feita considerando-se os determinantes de uma medida de b<strong>em</strong>-estar<br />
monetârio --o o valor per capita das despesas <strong>em</strong> consumo de todos os bens e serviços. Esta<br />
medida é reconhecida na literatura sobre pobreza como a melhor maneira de fazer comparações<br />
de b<strong>em</strong>-estar entre os AF e de avaliar o padrão de vida (Ravallion, 1992). Em geral, prefere-se<br />
considerar as despesas feitas como medida de b<strong>em</strong>-estar , ao invéns de considerar o rendimento<br />
porque as despesas correntes reflect<strong>em</strong> a utilidade ou o consumo alcansado, enquanto que os<br />
rendimentos reflet<strong>em</strong> as várias oportunidades que o AF pode ter. Não deve existir uma<br />
correspondência exacta entre as oportunidades e o b<strong>em</strong>-estar por causa das transferências, ofertas<br />
e a produção familiar; tudo o que é importante <strong>em</strong> paises <strong>em</strong> desenvolvimento como<br />
<strong>Moçambique</strong>. A medida aqui usada, é o total de gastos <strong>em</strong> consumo per-capita feitos pelo AF--<br />
incluíndo habitação e gastos de energia e agua. Esta medida foi deflacionada por região e um<br />
indíce de custo de vida espacial.<br />
Nesta avaliação foram usados vários indicadores de educação do AF e dentre eles estão<br />
inclusos se o chefe do AF é alfabetizado, se o chefe do AF completou a 7ª classe (equivalente<br />
a escola primária de segundo grau <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>--EP2), o número de homens e mulheres que<br />
283
6<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
tenham completado a 7ª classe, e uma série de variáveis que indicam o nível mais alto de<br />
educação de qualquer m<strong>em</strong>bro adulto do AF.<br />
Estas variáveis de educação foram inclusas <strong>em</strong> equações de regressão separadas para<br />
prevêer o logarítmo de gastos <strong>em</strong> consumo per-capita. As estimativas da regressão foram feitas<br />
separaradamente por aréas (rural/urbana), e as variáveis de controle inclusas são as<br />
seguintes:Composição d<strong>em</strong>ográfica do AF, Sexo e idade do chefe do AF, Posse de terra e area<br />
cultivada, Se o AF produz culturas de rendimento, e Se o AF t<strong>em</strong> regadio ou equipamento<br />
agrícola.<br />
Para adicionar a informação anterior, as variáveis dummy província e distrito foram<br />
também incluídas para explorar o impacto dos factores não observáveis a nível de comunidade<br />
tais como a fertilidade do solo, características agro-ecológicas e o acesso aos serviços do<br />
mercado e extensão. Finalmente, nesta e todas as outras regressões apresentadas neste artigo<br />
faz-se a apresentação dos erros padrões (ou t-estatístico ) calculados tomando <strong>em</strong> conta o<br />
desenho da amostra.<br />
O impacto da educação do AF no consumo per capita do AF, estimado apartir destas<br />
regressões, é sumarizado na Tabela 7. Exist<strong>em</strong> 3 conjuntos de estimativas usando diferentes<br />
combinações de 3 medidas de educação do AF e os coeficientes indicam a variação percentual<br />
no consumo per capita do AF de uma variação unitária <strong>em</strong> qualquer característica da educação<br />
que aparece na tabela. Por ex<strong>em</strong>plo, as estimativas da coluna 1 indicam que nas areas urbanas,<br />
os AF com chefes alfabetizados t<strong>em</strong> um consumo per capita 47 porcento maior que aqueles<br />
.6<br />
cujos chefes não o são Nas aréas rurais, esta diferença de consumo é menor -- apenas 15<br />
porcento -- apesar de ainda assim ser estatisticamente significante.<br />
A coluna 2- 3 da Tabela 5.7 apresenta diferentes maneiras de medir a educação do AF.<br />
Em qualquer definição, os AFs cujos adultos são mais instruídos t<strong>em</strong> consumos per capita<br />
significativamente maiores, e <strong>em</strong> geral esta diferença é maior nas aréas urbanas do que nas aréas<br />
rurais, com uma única excepção. Na coluna 2, apartir das estimativas da associação sobre o<br />
número de mulheres adultas com EP2, pode-se ver que é mais alta nas areas rurais do que nas<br />
urbanas. Por ex<strong>em</strong>plo, a adição de uma mulher adulta com EP2 vai aumentar o consumo per<br />
capita <strong>em</strong> 34 porcento nas aréas rurais mas fazendo o mesmo nas aréas urbanas o aumento será<br />
apenas de 21 porcento. De notar também que a adição de um hom<strong>em</strong> com EP2 nas aréas rurais<br />
também aumenta o consumo per capita mas não tanto como o aumento de uma mulher com<br />
educação similar (18 versus 34 porcento). Portanto, a importancia da educação da mulher das<br />
aréas rurais, no consumo do AF, pode ser relaciondada com a observação anterior--- <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> as mulheres são responsáveis pela maioria dos trabalhos agrícolas e a agricultura<br />
é a fonte primária de subsistência nestas aréas.<br />
Este efeito e todos os outros apresentados na Tabela 5.7, excepto o indicador um pelo*, são<br />
estatísticamente significantes <strong>em</strong> 5 porcentos.<br />
284
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
5.4.2. <strong>B<strong>em</strong></strong> <strong>Estar</strong> Social: Educação da Criança, Saúde e Acesso aos Serviços de Saúde<br />
Os m<strong>em</strong>bros adultos do AF tomam decisões <strong>em</strong> relação á saúde e educação das crianças.<br />
As características destes adultos é que influenciam no tipo de investimento de saúde e de<br />
educação da criança. De notar que estas decisões t<strong>em</strong> consequências importantes não só para o<br />
b<strong>em</strong>-estar do AF e da criança <strong>em</strong> particular, mas também da sociedade <strong>em</strong> geral. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
a decisão de não levar a criança as vacinações é muito importante para a erradicação de doenças<br />
infecciosas com consequências óbvias para os outros m<strong>em</strong>bros da sociedade.<br />
A Tabela 5. 8 fornece uma indicação de uma associação simples entre a educação do<br />
chefe do AF, a saúde e a educação obtida por crianças de vários grupos etários. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
a coluna 1 da Tabela 5.8 mostra que as crianças cujos chefes de AF completaram EP1 ou EP2<br />
t<strong>em</strong> maiores probabilidades de estar<strong>em</strong> matrículadas numa escola do que aquelas cujos chefes<br />
de AF não completaram. O mesmo ocorre para os outros dois indicadores de des<strong>em</strong>penho<br />
escolar---maior nível de educação do chefe do AF implica melhor des<strong>em</strong>penho da criança.<br />
A Tabela 5.8 ilustra também a proporção de crianças pré-escolares que se encontram <strong>em</strong><br />
estado de mal-nutrição (coluna 6) e a proporção de crianças com idades compreendidas entre os<br />
12-23 meses que t<strong>em</strong> cartão de saúde, que é uma indicação importante de uso de serviços formais<br />
de saúde. Para cada caso, indica-se que quanto maior for o nível de educação do chefe do AF,<br />
melhor é o indicador do estado nutricional ou o acesso aos serviços sociais.<br />
Através de análises prévias feitas, já se sabia que a educação dos m<strong>em</strong>bros adultos do<br />
AF aumentava significativamente o b<strong>em</strong>-estar monetârio do AF. A associação da Tabela 5.8<br />
(entre educação e b<strong>em</strong>-estar da criança) pode reflectir que, de facto, as crianças que t<strong>em</strong> um chefe<br />
de AF com educação escolar são provenientes de famílias ricas. Por forma a separar e<br />
identificar o impacto da educação na saúde da criança estimou-se uma série de regressões para<br />
predizer<strong>em</strong> o estado de saúde da criança e incluíu-se a educação e o consumo per capita assim<br />
como as outras variáveis de controle acima mencionadas.<br />
5.4.3. Baixo Altura para Idade ou Mal-Nutrição Crónica<br />
A altura para idade é um indicador a longo prazo de mal-nutrição crónica, e t<strong>em</strong> sido<br />
encontrada correlacionada com indicadores sócio-económicos do AF tais como o rendimento,<br />
consumo, e educação. O IAF contém um módulo sobre a saúde das crianças pré-escolares com<br />
informação antropométrica (altura e peso), cartões de saúde e vacinações. Este módulo também<br />
inclue as mães das crianças com idades pré-escolares, permitindo aos pesquisadores identificar<strong>em</strong><br />
as características delas (das mães) para propósitos analíticos. A educação da mãe é usada na<br />
análise subsequente para as crianças que viv<strong>em</strong> com a mãe. Para crianças que não viv<strong>em</strong> com as<br />
mães mas que outro alguém que zela por ela foi identificado, a educação deste alguém é que foi<br />
usada na análise. Onde não foi indentificado n<strong>em</strong> mãe n<strong>em</strong> outro alguém, a educação da mulher<br />
285
7<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
7<br />
mais velha no agregado é que foi usada para a análise . Nestas estimativas , o sexo da criança,<br />
a idade <strong>em</strong> meses, a idade ao quadrado e a idade ao cubo foram também inclusas para permitir<br />
analisar o crescimento rápido e as diferenças sexuais no padrão de crescimento (ou diferente<br />
tratamento entre as crianças por sexo).<br />
A altura da criança indicada no levantamento foi padronizada, de acordo com as<br />
recomendações de WHO, usando a mediana e o desvio padrão da altura da população de<br />
crianças com a mesma característica <strong>em</strong> termos de sexo e idade. Seguindo as tais<br />
recomendações, as crianças cujos z-scores encontrados eram inferiores a 5 desvios padrões<br />
abaixo da mediana ou maior do que 3 desvios padrões abaixo da mediana foram excluídas da<br />
análise . 8<br />
A Tabela 5.9 fornece as estimativas da associação entre a educação materna e o z-scores<br />
de altura para idade, feitas pelo metódo de quadrados mínimos. Em todo o <strong>Moçambique</strong> (coluna<br />
1), ter uma mãe letrada t<strong>em</strong> um impacto positivo na altura da criança enquanto que ter uma mãe<br />
com o EP2 completo para além de ter um impacto positivo é forte e estatísticamente<br />
significante. A associação positiva entre a educação materna e o estado nutricional a longo<br />
prazo, é forte particularmente nas aréas rurais. A criança cuja mãe pode ler ou escrever t<strong>em</strong><br />
z-scores de 0.304 desvios padrões acima daquela cuja mãe é iletrada; as crianças cujas mães<br />
t<strong>em</strong> o EP2 t<strong>em</strong> um desvio padrão inacreditável de 0.624 acima (da média) do que as crianças<br />
cujas mães não completaram o EP2 nas zonas rurais. Por outro lado, nas aréas urbanas, o impacto<br />
da educação materna não é estatísticamente significante.<br />
Estas associações estimadas entre a educação e a altura são o impacto líquido do<br />
rendimeto ou b<strong>em</strong>-estar do AF, desde que o consumo per-capita esteja incluso nas regressões.<br />
Contudo, o b<strong>em</strong>-estar do AF é um determinante muito importante da altura da criança,<br />
sobretudo nas aréas urbanas onde o incr<strong>em</strong>ento de 1 porcento no consumo per capita diário vai<br />
aumentar a altura <strong>em</strong> 0.0046 desvios padrões. Nas aréas rurais, um aumento de 1 porcento<br />
aumenta a altura <strong>em</strong> apenas 0.0017 desvios padrões.<br />
Para concluír, a educação materna possue uma associação extr<strong>em</strong>amente forte com a<br />
mal-nutrição nas aréas rurais de <strong>Moçambique</strong>, pois nestas aréas existe uma forte correlação<br />
entre o EP2 e a altura enquanto que nas aréas urbanas isso não se verifica. Os rendimentos ou<br />
o b<strong>em</strong>-estar do AF são importantes tanto para a aréa rural assim como para a urbana. Contudo,<br />
essa correlação é muito mais forte nas aréas urbanas do que <strong>em</strong> aréas rurais. É de recordar que<br />
na análise acima efectuada, a educação da mulher adulta nas aréas rurais tinha uma forte<br />
associação com o b<strong>em</strong>-estar material do AF.<br />
Sete 7 porcento de crianças com idade pré-escolar, usadas neste estudo, responderam que não viv<strong>em</strong><br />
com a mãe, na altura <strong>em</strong> que se efectuou o levantamento.<br />
8<br />
Não foi possível calcular os z-scores para aproximadamente 2300 das 7000 crianças de idade préescolar<br />
contidas no levantamento. Essas crianças tend<strong>em</strong> a pertencer a agregados pobres e viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> aréas<br />
rurais.<br />
286
9<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
5.4.4. Acesso aos Serviços de Saúde: Vacinações e Cartões de Saúde<br />
Como foi mencionado anteriormente, o módulo de IAF sobre saúde contém informação<br />
sobre vacinações e posse de cartão de saúde. As vacinações são extr<strong>em</strong>amente importantes para<br />
proteger<strong>em</strong> a criança vulnerável das doenças infecciosas, especialmente <strong>em</strong> países como<br />
<strong>Moçambique</strong> onde estas doenças apresentam maiores cifras <strong>em</strong> relação as outras doenças.<br />
Posse de cartão indica que a criança t<strong>em</strong> feito uso dos serviços de saúde pública ou seja<br />
vacinações ou controle de crescimento. Este é provavelmente o indicador mais importante<br />
sobre o conhecimento das facilidades formais de saúde pública e serviços pelas famílias.<br />
Seguiu-se o mesmo procedimento que o anterior nas estimações das equações de<br />
regressão multivariadas da probabilidade da criança pré-escolar ter doses de vacinações<br />
9 completas e ter cartão de saúde. Para o caso das vacinações, as vacinações completas inclu<strong>em</strong><br />
uma dose completa de DPT e Pólio, uma BCG e uma de sarampo. A amostra do estudo é<br />
constítuida por crianças com mais de 11 meses para dar t<strong>em</strong>po delas adquirir<strong>em</strong> todas as doses<br />
de vacinações. Para o caso de cartões de saúde, usou-se como amostra crianças de 0-24 meses,<br />
partindo da ideia de que a criança que nasce usando as facilidades formais de saúde recebe um<br />
cartão de saúde. Esta opção (0-24 meses) se deve porque a falta de dados sobre cartão de saúde<br />
aumenta dramaticamente depois dos 2 anos.<br />
A Tabela 5.10 fornece as estimativas da probabilidade de crianças de 12-60 meses de<br />
idade tomar<strong>em</strong> as doses completas de vacinações por região. Nas aréas rurais, ter uma mãe<br />
que pode ler ou escrever aumenta a probabilidade de apanhar a dose completa de vacinações<br />
<strong>em</strong> 17 porcento e ter uma mãe com EP2 aumenta esta probabilidade <strong>em</strong> 27 porcento. Nas aréas<br />
urbanas, o impacto da educação da mãe é muito menor (3 porcento para as mães letradas) e para<br />
as mães com EP2 a associação não é estatisticamente significante.<br />
Baseando-se numa série de análises desta secção, a conclusão mais relevante <strong>em</strong> termos<br />
de políticas é que a educação da mulher t<strong>em</strong> um tr<strong>em</strong>endo impacto no b<strong>em</strong>-estar do AF, tanto<br />
material como não material, nas aréas rurais de <strong>Moçambique</strong>. Por ex<strong>em</strong>plo, a adição de uma<br />
mulher adulta com EP2 aumenta o consumo per capita do AF <strong>em</strong> 34 porcento mas, a<br />
alfabetização da mulher (e o EP2) está fort<strong>em</strong>ente relacionada com o estado nutricional da<br />
criança a longo prazo, vacinações e contacto com os serviços formais de saúde.<br />
5.5. Educação do AF e Investimento na Educação Escolar da Criança<br />
5.5.1. Quadro Teórico<br />
Esta secção foca exclusivamente a educação a nível escolar da criança e procura<br />
identificar o impacto da educação do adulto do AF na educação dos m<strong>em</strong>bros jovens do AF.<br />
Aos 12 meses de idade, a criança <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, deveria ter tomado 3 doses de vacina contra a<br />
pólio, 1 BCG, 1 contra o sarampo e 3 doses de DPT.<br />
287
10<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Embora o modelo teórico desenvolvido não seja rigoroso, a análise foi baseada no quadro teórico<br />
10<br />
do New Household Economics (Becker, 1965) modelo do comportamento do AF .<br />
No quadro teórico, assume-se que os m<strong>em</strong>bros adultos tomam decisões sobre a educação<br />
escolar das crianças, por forma a maximizar<strong>em</strong> o b<strong>em</strong>-estar ou a utilidade do AF definido por<br />
si próprio. A opção de educação escolar depende não apenas das preferências dos adultos que<br />
tomam decisões, mas também dos custos e benefícios da educação escolar para as famílias. Os<br />
benefícios serão primariamente os rendimentos que a criança terá no futuro. Exist<strong>em</strong> dois<br />
tipos de custos, custos monetários ou directos e o custo de oportunidade ou custo de t<strong>em</strong>po. Os<br />
custos directos referentes são as propinas, os livros e os uniformes, e a Tabela 6 indica que esta<br />
dimensão de custos é importante na decisão de não enviar a criança a escola. O custo<br />
oportunidade depende do t<strong>em</strong>po gasto no trajecto a escola b<strong>em</strong> como do t<strong>em</strong>po dispêndido a<br />
estudar na escola. A distancia a escola será um factor influêncial nesta componente de custos de<br />
escolaridade. É provável também que o custo de oportunidade do t<strong>em</strong>po (b<strong>em</strong> como os<br />
benefícios esperados) vari<strong>em</strong> de acordo com a idade e o sexo da criança. Por ex<strong>em</strong>plo, o custo<br />
de oportunidade da rapariga pode ser maior do que o dos rapazes, pois espera-se que elas ajud<strong>em</strong><br />
nas actividades do AF ou trabalhos da machamba. Por outro lado, o custo de oportunidade dos<br />
rapazes mais velhos pode também ser maior do que o das raparigas mais velhas porque se espera<br />
que estes entr<strong>em</strong> no mercado de trabalho e tenham uma fonte de rendimentos para o AF.<br />
As decisões dos adultos m<strong>em</strong>bros do AF, feitas para maximizar a utilidade do AF sujeita<br />
aos constrangimentos de custos e benefícios acima discutidos, levam ás escolhas obervadas <strong>em</strong><br />
relação a escolaridade da criança. Fez-se um modelo destas decisões observadas sobre a<br />
educação escolar da criança usando equações de regressão onde se tentou isolar o impacto da<br />
educação do AF, controlando muitos dos outros factores intervenientes (por outras palavras, os<br />
factores que representam os custos e benefícios anteriormente mencionados). Portanto, as<br />
11<br />
variáveis seguintes foram incluídas na regressão estimada: Consumo per capita do AF , Idade<br />
e sexo do chefe do AF Características da criança (idade, idade ao quadrado e sexo), area da<br />
machamba e area actualmente cultivada, se o AF t<strong>em</strong> irrigação ou algum equipamento de<br />
machamba, e se o AF produz culturas de rendimento.<br />
Como foi feito anteriormente, incluiu-se na regressão as variáveis dummy que indicam<br />
as províncias e distritos do AF. As variáveis dos distritos são extr<strong>em</strong>amente importantes porque<br />
elas controlam a disponibilidade das infra-estruturas tais como escolas, ruas e mercados; todas<br />
Informação detalhada é apresentada <strong>em</strong> S. Handa & F. Omar, 1998, O Estado Sócio-económico<br />
da Criança <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, Projecto Segurança Alimentar e Nutrição, Faculdade de Agronomia e Engenharia<br />
Florestal, UEM, Maputo.<br />
11<br />
As decisões sobre o consumo do Agregado Familiar afectam também o consumo não alimentar e<br />
são tomadas juntamente com as decisões sobre a escolaridade. Devido a este probl<strong>em</strong>a simultaneo, o consumo<br />
mediano per-capita da aldeia ou bairro é usado na análise ao <strong>em</strong> vez do consumo do Agregado Familiar. Esta<br />
variável está altamente correlacionada com o consumo do Agregado Familiar: O coeficiente OLS do logarítmo<br />
(consumo) sobre o logarítmo (consumo mediano do conglomerado) é 0.88.<br />
288
12<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
as que irão determinar o t<strong>em</strong>po ou custo oportunidade de estudar.<br />
A educação a nível do AF foi medida <strong>em</strong> 4 maneiras diferentes. Primeiro, usou-se a<br />
educação do chefe como um meio para descrever as suas características portanto, se ele ou ela<br />
é letrado/a ou se ele ou ela completou a 7ª classe (EP2). O terceiro indicador usado foi, se algum<br />
adulto no AF t<strong>em</strong> algum nível de EP2 e o quarto indicador, se alguma mulher adulta t<strong>em</strong> o nível<br />
de EP1 (5ª classe). O EP1 é usado para as mulheres porque muito poucas mulheres adultas <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong> completaram mais do que este nível.<br />
5.5.2. Os Indicadores da Escolaridade da Criança<br />
Várias dimensões de decisões sobre a escolaridade foram analizados porque cada<br />
dimensão implica um grupo alvo diferente e diferentes intervenções políticas. Iníciou-se com<br />
as matrículas no ensino primário e analisou-se o impacto da educação do adulto na probabilidade<br />
das crianças do ensino primário (com idade entre 7-11 anos ) ter<strong>em</strong> se matrículado numa escola<br />
ou estar<strong>em</strong> actualm<strong>em</strong>ente a frequentá-la. Este estágio é tal vez , o mais importante na carreira<br />
escolar das crianças mais novas. É b<strong>em</strong> sabido que as crianças que atrasam entrar para a escola<br />
pela primeira vez, muitas vezes, não chegam a matrícular-se e que as d<strong>em</strong>oras e os atrasos no<br />
início da carreira da criança representam t<strong>em</strong>po jamais recuperado pela criança. Dado o baixo<br />
nível do estoque actual de capital humano <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, uma das preocupações imediatas<br />
consiste <strong>em</strong> incr<strong>em</strong>entar os ingressos á t<strong>em</strong>po das crianças no ensino primário. (Recorde que<br />
a Tabela 3 indicou que a taxa de ingressos nas escolas primárias é apenas de 49%).<br />
Uma vez que o estudante está matrículado numa escola, o desafio a seguir é continuar<br />
com os estudos atingíndo o nível mais alto possível. Para entender os determinantes desta<br />
escolha, observou-se a classe mais alta atingida pelas crianças de 7-17 anos de idade que já<br />
entraram no sist<strong>em</strong>a, excluíndo as que ainda não completaram o ensino porque para eles, o seu<br />
nível mais alto ainda não se conhece.<br />
Uma questão preocupante no sector da educação é a eficiência do sist<strong>em</strong>a de educação,<br />
medida pelo t<strong>em</strong>po que a criança leva para completar um dado nível escolar. Para o grupo de<br />
crianças que tenham entrado no sist<strong>em</strong>a e que completaram a sua formação, foram estimados os<br />
12<br />
determinantes de eficiência usando a definição de eficiência da Secção 3. Foram excluídas<br />
da análise as crianças de idades 7 e 8 anos, porque a eficiência destas poucas crianças que<br />
alguma vez frequentaram mas já não estão matriculadas é de 100%.<br />
5.5.3. Probabilidade de ter frequentado a escola<br />
As estimativas da variável ter frequentado a escola, por região, estão apresentadas na<br />
Tabela 5.12. Os coeficientes apresentados na Tabela 5.12 apresentam a variação percentual dum<br />
A eficiência é definida como a classe completada dividida pela classe que deveria ter completado<br />
<strong>em</strong> função da idade da criança. Na análise da regressão este indicador é medido <strong>em</strong> percentag<strong>em</strong>.<br />
289
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
resultado positivo dada a uma variação de uma unidade na variável correspondente. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, a primeira coluna da tabela indica que na zona urbana, ter um chefe do AF letrado<br />
aumenta a probabilidade da criança ter frequentado a escola <strong>em</strong> 29.2 porcento.<br />
Todas as variáveis de educação do AF, <strong>em</strong> todas as regiões, são determinantes altamente<br />
(estatísticamente) significantes da probabilidade da criança ter frequentado a escola. Nas aréas<br />
urbanas, os grandes aumentos da probabilidade de ter frequentado ocorr<strong>em</strong> quando os chefes dos<br />
AFs são letrados (29.2 porcento), enquanto nas aréas rurais, os grandes aumentos estão<br />
associados com o factor ter chefe de AF com EP2 (29.1 porcento) completo.<br />
Exist<strong>em</strong> diferenças importantes no impacto das outras características entre as aréas<br />
urbanas e rurais. Nas aréas urbanas, o b<strong>em</strong>-estar do AF (medido através do consumo) é um<br />
determinante importante de ter entrado na escola---na coluna 1, o aumento de 1 porcento no<br />
consumo per capita aumenta a probabilidade de ter frequentado a escola <strong>em</strong> 16.8 por cento. A<br />
idade da criança é também muito importante nas aréas urbanas pois, a probabilidade de ter<br />
frequentado a escola aumenta até 10 anos e depois decresce. Contudo, nas aréas rurais, n<strong>em</strong> os<br />
rendimentos n<strong>em</strong> a idade são determinantes importantes de entrada na escola. A característica<br />
mais importante nestas aréas é o sexo, com a probabilidade dos rapazes frequentar<strong>em</strong> a escola<br />
ser 10 porcento acima da probabilidade das raparigas.<br />
5.5.4. Probabilidade de se matrícular<br />
As estimativas da probabilidade de se matricular numa escola, actualmente, são<br />
resumidas na Tabela 5.13 e os resultados são quase idênticos aos da Tabela 5.12. Em qualquer<br />
definição de educação do AF utilizada, níveis mais altos aumentam significativamente a<br />
probabilidade da criança estar matriculada na escola. Nas aréas urbanas, o grande aumento na<br />
probabilidade de se matricular está associado ao factor ter chefes de AFs letrados, enquanto nas<br />
aréas rurais o grande aumento ocorre quando a mulher no AF t<strong>em</strong> o EP2 completo.<br />
Como foi referido anteriormente, o consumo do AF e a idade da criança tend<strong>em</strong> a ser<br />
determinantes significantes da probabilidade de estar matrículado actualmente para as aréas<br />
urbanas mas não para as aréas rurais. Nas areas rurais, é o sexo da criança o factor mais<br />
importante para a determinação da probabilidade de estar matrículado . Os rapazes nas aréas<br />
rurais t<strong>em</strong> <strong>em</strong> média 11 por cento mais de probabilidade de se matrícular<strong>em</strong> do que as raparigas.<br />
Em resumo, tal como foi verificado para a saúde infantil, a educação do AF é um<br />
determinante extr<strong>em</strong>amente importante para o ensino primário da criança. Nas aréas rurais,<br />
a educação dum adulto do AF é o determinante mais importante para a criança matrícular-se<br />
numa escola primária, seguida do género. Por outro lado, nas aréas urbanas, tanto a educação<br />
como o b<strong>em</strong>-estar familiar são determinantes importantes da decisão de matrícular a criança no<br />
ensino primário. É de referir que o índice de desistências nas escolas primárias aumenta<br />
dramáticamente aos 10 anos de idade.<br />
290
5.5.6. Ultimo grau atingido<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
O resumo das estimativas sobre o último grau atingido é apresentado na Tabela 5.14.<br />
Estas estimativas foram efectuadas apenas para crianças, da amostra, que alguma vez<br />
frequentaram a escola mas que, no momento do levantamento, já não estavam frequentá-la--<br />
teoriacamente existe probabilidade de estas crianças ter<strong>em</strong> completado a sua formação. Qual<br />
é o determinante mais importante do t<strong>em</strong>po que estas crianças dispend<strong>em</strong> na escola? Ao se<br />
analizar<strong>em</strong> os resultados é importante recordar que estas crianças faz<strong>em</strong> parte de um grupo<br />
especial que entrou no sist<strong>em</strong>a educativo. Baseando-se nos resultados da Tabela 5.12 sobre os<br />
determinantes de ter frequentado a escola (ou seja, de ter ingressado no sist<strong>em</strong>a) constatou-se que<br />
as crianças que alguma vez frequentaram á escola vêm de AFs onde os adultos possu<strong>em</strong> altos<br />
níveis de escolaridade; nas zonas rurais é mais provável que elas sejam do sexo masculino<br />
enquanto na zona urbana estas crianças pertenc<strong>em</strong> a AF mais ricos.<br />
A coluna 1 da Tabela 5.12 indica que um chefe de AF letrado aumenta a probabilidade<br />
da criança ir a escola ( <strong>em</strong> 29 porcento nas aréas urbanas e 15 porcento nas aréas rurais).<br />
Porém, a coluna 1 da Tabela 14 mostra que uma vez dentro do sist<strong>em</strong>a de educação, o facto de<br />
ter um chefe letrado (na zona urbana) não t<strong>em</strong> impacto significativo no ultimo grau atingido.<br />
Portanto, só os níveis mais altos de educação dos adultos são importantes para manter<strong>em</strong> a<br />
criança a estudar . Ter um adulto com EP2 aumento o ultimo grau atingido <strong>em</strong> 0.80 nas aréas<br />
urbanas e <strong>em</strong> quase 0.94 nas aréas rurais.<br />
Os outros factores associados com a classe atingida são o rendimento nas aréas urbanas<br />
(coluna 2) e o genéro nas aréas rurais. O que é importante é que estes factores também<br />
influênciam na decisão inicial de enviar a criança a escola primária.<br />
5.5.7. Eficiência escolar<br />
Eficiência escolar refere-se ao t<strong>em</strong>po que o estudante leva para terminar um determinado<br />
nível de educação. Os atrasos na escola primária ou as reprovações reduz<strong>em</strong> a eficiência e<br />
desmoralizam o estudante levando-o eventualmente á desistência.<br />
As estimativas dos determinantes de eficiência para os estudantes que completaram os<br />
seus estudos são resumidos na Tabela 5.15. Como foi referido anteriormente, estes estudantes<br />
são um grupo especial que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> AFs com chefes com bom nível de escolaridade, os das<br />
zonas urbanas viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> AFs mais ricos. Os factores que aumentam a eficiência do estudante<br />
são geralmente os mesmos que elevam a última classe frequentada. Por ex<strong>em</strong>plo, o baixo nível<br />
de educação (chefes letrados) t<strong>em</strong> um papel insignificante enquanto que um nível alto de<br />
educação (adulto com EP2) t<strong>em</strong> um impacto importante no aumento da eficiência da criança.<br />
Note que nas aréas rurais o factor com maior impacto no aumento da eficiência é a educação da<br />
mulher---- uma mulher adulta com EP1 aumenta a eficiência por 12 pontos de percentag<strong>em</strong><br />
291
nestas aréas.<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Nas aréas rurais os rapazes continuam a ser previlegiados -- mantendo os outros<br />
constantes , a média de eficiência dos rapazes é de 5 - 7 pontos percentuais acima da das<br />
raparigas. Uma diferença entre estes resultados e aqueles sobre a última classe frequentada é que<br />
nas aréas rurais existe algum papel a nível do AF que influi na eficiência escolar. Um aumento<br />
proporcional no consumo per capita aumenta a eficiência escolar da criança <strong>em</strong> 7 pontos de<br />
percentag<strong>em</strong> nas aréas rurais.<br />
Resumindo, a educação do adulto é um determinante importante para o sucesso escolar<br />
das crianças que ingressam e completam os estudos. Porém, o que importa são os níveis mais<br />
altos de educação atinguidos pelos adultos e não apenas a alfabetização. Para as mulheres adultas<br />
o EP1 é que t<strong>em</strong> maior impacto tanto na eficiência assim como para o último grau atingido<br />
pela criança.<br />
5.6. Conclusões e Implicações para as Políticas<br />
O estoque de capital humano é extr<strong>em</strong>amente baixo <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> e reflecte a história<br />
dos conflictos que o país viveu. Apenas 40 porcento dos adultos do grupo etário de 18-65 são<br />
letrados e apenas 16 porcento das mulheres da zona rural sab<strong>em</strong> ler ou escrever. Os indíces<br />
correntes de ingressos nas escolas primárias são de 49 porcentos e a desigualdade <strong>em</strong> relação ao<br />
genéro aparenta ser muito menor do que na geração corrente de adultos (<strong>em</strong>bora diferenças ainda<br />
persistam).<br />
Devido a história da guerra, a destruição das infra-estruturas, e a migração da população,<br />
o papel da educação na determinação dos resultados económicos e sociais é de particular<br />
interesse <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> partindo do princípio de que esta relação pode não ser a mesma que<br />
a do outros países <strong>em</strong> desenvolvimento. Os resultados deste documento mostram que, de facto,<br />
o papel da educação é muito forte na determinação da saúde, educação e b<strong>em</strong>-estar material do<br />
AF.<br />
Em todos os resultados analizados neste documento, tanto monetários b<strong>em</strong> como os não-<br />
monetários, constatou-se que a educação do adulto é altamente significante e quantitativamente<br />
importante. Além disso, a escolaridade do adulto, especialmente das mulheres, t<strong>em</strong> uma<br />
grande influência nas zonas rurais de <strong>Moçambique</strong>. Por ex<strong>em</strong>plo, o estado de nutrição da<br />
criança a longo prazo, a probabilidade de tomar todas as doses de vacinações e a probabilidade<br />
de ter um cartão de saúde têm uma correlação muito forte com a educação da mulher nestas<br />
aréas. Porém, <strong>em</strong> relação ao estado nutricional da criança das aréas urbanas, ao invés da<br />
escolaridade da mulher é o rendimento do AF que t<strong>em</strong> mais importancia.<br />
O papel da educação da mulher também t<strong>em</strong> papel no b<strong>em</strong>-estar material. A adição de<br />
uma mulher com EP2 , nas aréas rurais, aumenta o consumo per capita <strong>em</strong> 34 por cento enquanto<br />
que a adição de um hom<strong>em</strong> aumenta o consumo apenas <strong>em</strong> 18 por cento.<br />
Análises mais rigorosas dos resultados escolares da criança mostram também que tanto<br />
292
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
para as aréas rurais assim como para as urbanas a educação do adulto é um dos factores de<br />
maior influência na decisão quanto á escolaridade da criança. Porém, exist<strong>em</strong> diferenças<br />
quantitativas que depend<strong>em</strong> do tipo de decisão analisada. Por ex<strong>em</strong>plo, a decisão básica de<br />
mandar a criança a escola primária é significativamente influenciada pela alfabetização e pelo<br />
maior nível de educação atinguido pelos m<strong>em</strong>bros adultos do AF. Contudo, a decisão de mantê-<br />
la na escola, uma vez matrículada, e a sua eficiência subsequente depende criticamente dos<br />
níveis mais altos dos adultos e não da alfabetização. Portanto, apesar do factor ter m<strong>em</strong>bros<br />
adultos do AF letrados ser um dos determinantes de grande importancia no envio da criança a<br />
escola, isto não é suficiente para mantê-la lá e n<strong>em</strong> para a sua progressão dentro do sist<strong>em</strong>a de<br />
educação.<br />
O genéro e rendimento também des<strong>em</strong>penham papeis interessantes e importantes nas<br />
decisões escolares dos AFs. Portanto, <strong>em</strong> relação as aréas rurais, constatou-se que o rendimento<br />
não t<strong>em</strong> tanto impacto como o genéro -- há maiores probabilidades de mandar os rapazes a<br />
escola e uma vez lá, existe maior probabilidade de continuar<strong>em</strong> os estudos por muito t<strong>em</strong>po.<br />
Porém, nas aréas urbanas, as diferenças a nível de genéro não são significantes. O factor crucial,<br />
nesta aréas, depois da educação do adulto, é o b<strong>em</strong>-estar do AF--os AFs mais ricos t<strong>em</strong> mais<br />
probabildade de mandar as suas crianças á escola, e muito mais probabilidade de mante-las lá.<br />
As implicações principais dos resultados <strong>em</strong> termos de políticas para a educação<br />
correspond<strong>em</strong> aos potenciais benefícios económicos e sociais da educação da mulher nas aréas<br />
rurais. A educação da mulher nestas aréas não só traz benefícios para o AF <strong>em</strong> termos de<br />
maiores níveis de consumo mas também tráz grandes benefícios para a sociedade <strong>em</strong> termos de<br />
saúde infantil, o estado nutricional e a escolaridade da criança. Análises feitas sobre as escolhas<br />
de escolaridade <strong>em</strong> aréas rurais mostram que as meninas continuam a receber menos educação<br />
do que os rapazes. Uma intervenção política e de caractér imediato que pode trazer grandes<br />
benefícios futuros é a planificação de estratégias que aument<strong>em</strong> os ingressos e a retenção das<br />
meninas na escola primária. Uma campanha de alfabetização direccionada para os indivíduos<br />
jovens e adultos do sexo f<strong>em</strong>enino também sería benéfico.<br />
A importancia do rendimento do AF na determinação de enviar a criança a escola<br />
primária nas aréas urbanas é também uma preocupação política e merece especial atenção. Este<br />
resultado será conduzido pelo custo oportunidade do t<strong>em</strong>po da jov<strong>em</strong> criança, especialmente<br />
depois dos 9 anos de idade, e será relacionada com a pobreza. Nas aréas urbanas, as políticas<br />
dev<strong>em</strong> ser direccionadas para a redução dos indíces de desistências dessas crianças de 9 anos<br />
para cima, através de intervenções que diminu<strong>em</strong> o constrangimento monetário dos AFs. Alguns<br />
ex<strong>em</strong>plos para estes casos seriam programas de lanches escolares, propinas gratuitas e não uso<br />
de uniformes ou o seu fornecimento gratuíto.<br />
293
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
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294
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.1: Taxa de Alfabetismo por Grupo Etário (%)<br />
18-65 anos 66-99 anos<br />
Rural Urbana Mocambique Rural Urbana Mocambique<br />
Total 32.0 71.0 40.0 29.7 69.2 37.7<br />
Homens 52.3 85.1 59.3 42.9 78.4 50.3<br />
Mulheres 15.7 57.6 23.6 17.5 60.2 26.0<br />
Pobres 31.2 61.8 36.6 28.4 59.1 34.2<br />
Tabela 5.2: Taxa de Adultos com 5ª classe (EP1) Completo por Grupo Etário (%)<br />
18-65 anos 66-99 anos<br />
Rural Urbana Mocambique Rural Urbana Mocambique<br />
Total 11.0 42.8 17.4 8.5 32.6 13.6<br />
Homens 18.1 53.0 25.5 27.1 38.2 18.1<br />
Mulheres 5.1 32.8 10.4 4.6 12.6 9.3<br />
Pobres 9.7 33.2 13.9 7.2 24.5 10.4<br />
Tabela 5.3: Matrículas Actuais por Grupo Etário de Crianças (%)<br />
7-11 anos 12-17 anos<br />
Rural Urbana Mocambique Rural Urbana Mocambique<br />
Total 43.9 70.7 49.2 43.3 63.5 48.0<br />
Homens 49.1 73.5 53.9 51.5 65.6 54.5<br />
Mulheres 39.0 68.0 44.7 33.2 61.4 40.3<br />
Pobres 41.7 63.3 45.5 42.3 54.9 44.8<br />
295
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.4: Ultima Classe Atingida pelas Crianças por Grupo Etário<br />
7-11 anos 12-17 anos<br />
Rural Urbana Mocambique Rural Urbana Mocambique<br />
Total 0.98 1.90 1.17 2.17 4.29 2.68<br />
Homens 1.12 1.97 1.30 2.50 4.38 2.93<br />
Mulheres 0.84 1.85 1.04 1.76 4.19 2.39<br />
Pobres 0.92 1.60 1.05 2.04 3.78 2.36<br />
Tabela 5.5: Eficiência Escolar da Criança<br />
7-11 anos 12-17 anos<br />
Rural Urbana Mocambique Rural Urbana Mocambique<br />
Total 0.67 0.79 0.70 0.47 0.64 0.53<br />
Homens 0.67 0.78 0.70 0.48 0.63 0.52<br />
Mulheres 0.66 0.79 0.70 0.47 0.65 0.54<br />
Pobres 0.66 0.76 0.69 0.46 0.61 0.50<br />
Note: Eficiência é definida como a classe mais alta completada dividida pela classe mais alta que deveria ter<br />
atinguido <strong>em</strong> função da idade. A amostra é de crianças que já frequentaram a escola alguma vez.<br />
Tabela 5.6: Principais Razões da não Frequência a Escola Primária, nas Aréas Rurais<br />
(%)<br />
Principais Razões que Levam a Aldeia com Aldeias s<strong>em</strong> Tercil mais Amostra<br />
Criança a não Frequentar a Escola<br />
Primária<br />
Escola Primária Escola Primária 2 Pobre Total<br />
Muito Cara 38.0 39.7 27.0 38.9<br />
Muito Distante 4.4 32.3 33.2 13.4<br />
Crianças que Trabalham 26.2 4.4 3.3 19.2<br />
Escola s<strong>em</strong> Professor 8.1 2.8 11.1 6.3<br />
Outro/ S<strong>em</strong> Resposta 23.3 20.0 23.5 22.4<br />
Total 100 100 100 100<br />
1 Notes: Informação recolhida a nível da comunidade, nas aréas rurais<br />
2<br />
Aldeias cuja mediana de consumo por pessoa estava abaixo do terceiro tercil da distribuição do<br />
consumo per capita..<br />
296
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.7: Estimativas da Determinação do Logarítmo do Consumo Per Capita do AF<br />
a<br />
1<br />
b<br />
2<br />
c<br />
3<br />
Urbana Rurala Urbana Rural Urbana Rural<br />
Chefe do AF Letrado 46.90 17.44 37.67 15.18<br />
(10.07) (9.87) (8.46) (8.81)<br />
Nº de Homens Adultos com EP2 19.20 17.99<br />
297<br />
(8.72) (5.90)<br />
Nº de Mulheres Adultas com EP2 21.10 33.81<br />
(5.83) (5.08)<br />
Nível da Educação mais<br />
Alto no AF:<br />
Nenhum (excluído) - -<br />
Algum Primário 7.34 9.71<br />
(1.09) (4.15)<br />
EP1 26.88 15.98<br />
(5.43) (7.40)<br />
EP2 57.32 36.38<br />
(11.32) (9.50)<br />
Secundário ou Maior 96.67 56.70<br />
(12.54) (5.09)<br />
2 R 36.0 43.9 40.7 44.9 42.2 44.2<br />
F 147 2410 89 1204 2865 522<br />
EP2 male = EP2 f<strong>em</strong> (p-value) 0.65 0.02<br />
Observações 2491 5731 2491 5738 2501 5748<br />
Notes: a. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’ é a variável independente.<br />
b. Refere-se á forma de função onde ‘número de adultos com EP2’ é a variável independente.<br />
C. Refere-se á forma de função onde ‘número de mulheres com EP2’ é a variável independente.<br />
O t-estatístico (calculado tomando <strong>em</strong> conta o desenho da amostra) dado <strong>em</strong> parenteses. Todos os<br />
coeficientes são multiplicados por 100, e são significantes ao nível de confiança de 5 por cento<br />
exceptuando o assinalado com (*). Todas as estimativas da regressão calculadas ao nível do AF, e<br />
inclue os efeitos fixos das provincias e distritos, composição d<strong>em</strong>ografica, sexo e idade do chefe, area<br />
da machamba e area cultivada, se a AF produz culturas comerciais e indicadores de produtividade (se o<br />
AF t<strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a de irrigação ou posse de algum equipamento).
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.8: Nível de Educação do Chefe do Agregado e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar Social da Criança<br />
Educação do Chefe Matrículas Alguma Classe Eficie Posse de Baixo<br />
Actuais Vez foi Mais Alta n- cia Cartão Peso<br />
% a Escola Frequen- Escolar de para<br />
% tada % Saúde Idade<br />
% %<br />
7-11 anos 12-23 0-60<br />
meses meses<br />
Nunca Frequentou 36 48 2.8 56 63 46<br />
Nenhum Nível<br />
Completo 47 61 2.9 56 66 45<br />
Algum Primário 63 77 3.4 65 80 38<br />
EP1 62 73 3.4 67 73 38<br />
EP2 75 87 4 75 88 27<br />
First 1º Ciclo<br />
Secundário 85 95 4.5 77 97 32<br />
Second 2º Ciclo<br />
Secundário 92 97 5 78 99 7<br />
Note: Veja a página 2 para uma explicação dos níveis de educação <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
298
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.9:Estimativas da Regressão do ‘z-score’ da Altura da Criança<br />
Mocambique Urbana Rural<br />
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 1 Modelo 2 Modelo 1 Modelo<br />
2<br />
Mãe Letrada 0.166 0.087 0.174<br />
(3.22) (1.21) (2.49)<br />
Mãe com EP2 0.297 0.179 0.513<br />
(3.10) (1.84) (1.87)<br />
Logarítmo do Consumo<br />
p. c. 0.308 0.304 0.460 0.453 0.166 0.163<br />
(7.40) (7.48) (7.99) (8.27) (2.92) (2.96)<br />
Sexo F<strong>em</strong>enino 0.158 0.156 0.253 0.252 0.113 0.108<br />
(3.40) (3.34) (3.81) (3.77) (1.79) (1.72)<br />
Idade (Meses) -0.167 -0.168 -0.162 -0.164 -0.166 -0.167<br />
(14.40) (14.63) (8.39) (8.52) (11.62) (11.68)<br />
2 Idade 0.005 0.005 0.005 0.005 0.005 0.005<br />
(10.47) (10.71) (6.45) (6.60) (8.23) (8.31)<br />
3 Idade (*100) -0.005 -0.005 -0.005 -0.005 -0.004 -0.004<br />
(8.48) (8.70) (5.36) (5.50) (6.54) (6.63)<br />
2 R 22.1 22.1 19.1 19.2 20.4 20.4<br />
F 305 579 158 272 1500 2790<br />
Observações<br />
Média da variável<br />
4372 4380 1622 1622 2750 2758<br />
dependente -1.68 -1.17 -1.85<br />
Note: O módelo 1 utiliza ‘mãe letrada’ coma a variável independente. O módelo 2 utiliza ‘mãe com EP2' como<br />
a variável independente.<br />
A variável dependente é o z-score da altura para idade e o método de estimação é o OLS. O t-estatístico<br />
robusto para o desenho da amostrag<strong>em</strong> é indicado entre parenteses. Os efeitos fixos do distrito e<br />
província, idade e sexo do chefe, posse de terra e area cultivada, irrigação, equipamento agrícola, se o<br />
agregado familiar comercializa algumas culturas e o constante foram inclusos mas não são ilustrados.<br />
Para detalhes, vide o texto.<br />
Tabela 5.10: Estimativas das Determinantes da Probabilidade de Crianças entre 12-60<br />
299
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Meses de Idade Tomar<strong>em</strong> Doses Completas de Vacinações<br />
Mocambique Urbana Rural<br />
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 1 Modelo 2 Modelo 1 Modelo<br />
2<br />
Mãe Letrada 0.105 0.026 0.169<br />
(6.15) (3.50) (5.63)<br />
Mãe com EP2 0.056 0.008 0.266<br />
(1.39) (0.73) (2.66)<br />
Logarítmo do Consumo Per<br />
Capita 0.016 0.025 -0.003 0.000 0.056 0.057<br />
(1.28) (1.97) (0.65) (0.06) (2.26) (2.38)<br />
Sexo F<strong>em</strong>enino 0.003 0.006 -0.004 -0.003 0.012 0.016<br />
(0.25) (0.45) (0.87) (0.69) (0.51) (0.66)<br />
Observações 3861 3868 1500 1500 2361 2368<br />
Log likelihood -1563 -1587 -432 -436 -1112 -1131<br />
2<br />
Valor de P do x 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00<br />
Média da variável dependente 0.71 0.88 0.60<br />
Note: O módelo 1 utiliza ‘mãe letrada’ coma a variável independente. O módelo 2 utiliza ‘mãe com EP2' como<br />
a variável independente.<br />
A variável dependente é igual a 1 se a criança tiver completado todas as doses de vacinações e 0 para o<br />
caso contrário. O método de estimação usado foi o ‘probit’ e os coeficientes mostrados são as<br />
probabilidades marginais associadas com um resultado positivos. O t-estatístico robusto para o desenho<br />
da amostrag<strong>em</strong> é mostrado entre parenteses. Os efeitos fixos para os distritos e provincias, idade e sexo<br />
do chefe, posse de terra e area cultivada, irrigação, equipamento agrícola, se o agregado familiar<br />
comercializa algumas culturas e o constante foram inclusos mas não são ilustrados. Para detalhes, vide o<br />
texto.<br />
300
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.11: Estimativas dos Determinantes da Probabilidade de as Crianças de 0-60<br />
Meses de Idade Ter<strong>em</strong> Cartão de Saúde<br />
Mocambique Urbana Rural<br />
Model 1 Model 2 Model 1 Model 2 Model 1 Model<br />
2<br />
Mãe Letrada 0.012 0.00 0 0.061<br />
(3.50) (1.26) (3.05)<br />
Mãe com EP2 0.014 0.000 0.127<br />
(2.10) (1.35) (1.80)<br />
Logarítmo do Consumo Per<br />
Capita 0.004 0.005 0.000 0.000 0.022 0.026<br />
(1.61) (1.86) (0.75) (1.00) (1.22) (1.46)<br />
Sexo F<strong>em</strong>enino 0.001 0.002 0.000 0.000 0.005 0.006<br />
(0.44) (0.61) (0.25) (0.61) (0.34) (0.39)<br />
Observações 2463 2470 857 857 1606 1613<br />
Log likelihood -807 -811 -87 - 87 -695 -696<br />
2<br />
Valor de P do x 0.00 0.00 0.01 0.01 0.00 0.00<br />
Média da variável dependente 0.81 0.96 0.73<br />
Note: O módelo 1 utiliza ‘mãe letrada’ coma a variável independente. O módelo 2 utiliza ‘mãe com EP2' como<br />
a variável independente.<br />
A variável dependente é igual a 1, se a criança tiver posse de cartão de saúde e 0 para o caso contrário.<br />
O método de estimação usado foi o probit e os coeficientes mostrados são as probabilidades marginais<br />
associadas com um resultado positivos. O T-estatístico robusto para o desenho da amostrag<strong>em</strong> é<br />
mostrado entre parenteses. Os efeitos fixos para os distritos e províncias, idade e sexo do chefe, posse de<br />
terra e area cultivada, irrigação, equipamento agrícola, se o agregado familiar comercializa algumas<br />
culturas e a constante foram inclusos mas não são mostrados. Para detalhes, vide o texto.<br />
301
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.12: Estimativas da Probabilidade de Crianças de 7 - 11 Anos Ter<strong>em</strong><br />
Frequentado a Escola<br />
a 1 b 2 c 3<br />
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural<br />
Chefe Letrado 0.292 0.154 0.151 0.129<br />
(6.05) (6.81) (4.56) (5.62)<br />
Chefe com EP2 0.132 0.291<br />
302<br />
(5.53) (5.29)<br />
Adulto no Agregado Familiar com 0.078 0.179<br />
EP2<br />
(3.67) (4.52)<br />
Adulto F<strong>em</strong>enino com EP1 0.082 0.143<br />
(4.11) (3.49)<br />
Sexo da Criança Masculino 0.008 0.108 0.009 0.104 0.009 0.109<br />
(0.50) (6.83) (0.53) (6.51) (0.57) (6.80)<br />
Idade <strong>em</strong> Anos 0.416 0.149 0.399 0.122 0.422 0.165<br />
(5.59) (1.62) (5.30) (1.32) (5.71) (1.79)<br />
2 Idade (*100) -2.052 -0.381 -1.977 -0.235 -2.090 -0.467<br />
(5.02) (0.75) (4.79) (0.46) (5.14) (0.91)<br />
Logaritmo do Consumo 0.168 0.053 0.177 0.071 0.141 0.044<br />
(5.18) (1.41) (5.35) (1.87) (4.46) (1.13)<br />
Observações 2124 4448 2127 4461 2124 4448<br />
Log Likelihood -824 -2534 -837 -2557 -798 -2501<br />
P-valor de X Quadrado 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00<br />
Média da variável dependente 0.74 0.49 0.79 0.49 0.79 0.49<br />
Note: a. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’ é a variável independente.<br />
b. Refere-se á forma de função onde ‘chefe com EP2’ é a variável independente.<br />
c. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’, ‘adulto qualquer com EP2’, e ‘adulto f<strong>em</strong>enino com<br />
EP1' são as variáveis independentes.<br />
A variável dependente é igual a 1 se a criança frequentou a escola alguma vez e 0 para o caso contrário.<br />
O método de estimação usado foi o ‘probit’ e os coeficientes mostrados são as probabilidades marginais<br />
associadas com um resultado positivos. O T-estatístico robusto para o desenho da amostrag<strong>em</strong> é<br />
mostrado entre parenteses. Os efeitos fixos para os distritos e províncias, a idade e sexo do chefe, posse<br />
de terra e area cultivada, irrigação, equipamento agrícola, se o agregado familiar comercializa algumas<br />
culturas e o constante foram inclusos mas não são mostrados. Para detalhes, vide o texto.<br />
Tabela 5.13: Estimativas da Probabilidade das Crianças de 7 - 11 Anos <strong>Estar</strong><strong>em</strong>
Matriculadas<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
a 1 b 2 c 3<br />
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural<br />
Chefe Letrado 0.284 0.142 0.217 0.116<br />
(8.07) (6.55) (6.29) (5.30)<br />
Chefe com EP2 0.160 0.272<br />
303<br />
(6.30) (4.78)<br />
Adulto com EP2 0.097 0.169<br />
(4.25) (4.18)<br />
Adulto F<strong>em</strong>enino com EP1 0.100 0.152<br />
(4.07) (3.80)<br />
Sexo da Criança Masculino 0.028 0.111 0.026 0.107 0.027 0.111<br />
(1.51) (7.02) (1.42) (6.78) (1.59) (6.97)<br />
Idade <strong>em</strong> Anos 0.505 0.173 0.484 0.149 0.523 0.189<br />
(5.62) (2.02) (5.27) (1.73) (6.06) (2.21)<br />
2<br />
Idade -0.026 -0.006 -0.025 -0.005 -0.027 -0.007<br />
(5.29) (1.29) (4.98) (1.01) (5.72) (1.47)<br />
Logarítmo do Consumo Per Capita 0.158 0.030 0.170 0.046 0.127 0.020<br />
(4.31) (0.79) (4.58) (1.19) (3.48) (0.52)<br />
Observações 2121 4447 2124 4459 2121 4447<br />
Log Likelihood -932 -2545 -957 -2567 -946 -2510<br />
Valor de P do X quadrado 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00<br />
Média da variável dependente 0.75 0.45 0.74 0.45 0.74 0.45<br />
Note: a. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’ é a variável independente.<br />
b. Refere-se á forma de função onde ‘chefe com EP2’ é a variável independente.<br />
c. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’, ‘adulto qualquer com EP2’, e ‘adulto f<strong>em</strong>enino com<br />
EP1' são as variáveis independentes.<br />
A variável dependente é igual a 1 se a criança estiver matriculada actulmente e 0 para o caso contrário. O<br />
método de estimação usado foi o ‘probit’ e os coeficientes mostrados são as probabilidades marginais<br />
associadas com um resultado positivos. O t-estatístico robusto para o desenho da amostrag<strong>em</strong> é<br />
mostrado entre parenteses. Os efeitos fixos para os distritos e províncias, idade e sexo do chefe, posse de<br />
terra e area cultivada, irrigação, equipamento agrícola, se o agregado familiar comercializa algumas<br />
culturas e o constante foram inclusos mas não são ilustrados. Para detalhes, vide o texto.
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.14: Estimativas dos Determinantes da Classe Mais Alta Frequentada pelas<br />
Crianças 7 - 17 Anos que Alguma Vez Foram a Escola<br />
a<br />
1<br />
b<br />
2<br />
c<br />
3<br />
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural<br />
Chefe Letrado 0.186 0.358 -0.049 0.206<br />
(0.93) (3.06) (0.27) (1.80)<br />
Chefe com EP2 0.799 0.937<br />
(3.85) (3.29)<br />
Adulto com EP2 0.729 0.960<br />
(4.95) (4.89)<br />
Mulheres com EP2 0.728 1.184<br />
304<br />
(5.23) (8.70)<br />
Sexo da Criança Masculino 0.199 0.369 0.182 0.400 0.293 0.581<br />
(1.53) (3.75) (1.47) (4.10) (2.37) (6.39)<br />
Idade <strong>em</strong> Anos 0.212 0.172 0.162 0.180 0.215 0.329<br />
(1.18) (1.17) (0.95) (1.23) (1.26) (2.22)<br />
2 Idade 0.720 0.499 0.918 0.462 0.579 -0.229<br />
(0.97) (0.86) (1.30) (0.80) (0.83) (0.40)<br />
logarítmo de Consumo Per Capita 0.451 0.198 0.347 0.213 0.228 0.089<br />
(2.60) (1.17) (2.24) (1.25) (1.48) (0.54)<br />
Observações 648 1002 650 1003 648 1002<br />
2<br />
R 36.8 48.7 38.4 48.8 44.4 56.4<br />
Valor de p do F 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00<br />
Média da variável dependente 3.87 2.79 3.87 2.79 3.87 2.79<br />
Note: a. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’ é a variável independente.<br />
b. Refere-se á forma de função onde ‘chefe com EP2’ é a variável independente.<br />
c. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’, ‘adulto qualquer com EP2’, e ‘mulher com EP2' são<br />
as variáveis independentes.<br />
A variável dependente é a classe mais alta atinguida e o método de estimação é o OLS. O T-estatístico<br />
robusto para o desenho da amostrag<strong>em</strong> é mostrado entre parenteses. Tomou-se como a amostra crianças<br />
que tenham completado a sua escolaridade. Os efeitos fixos para os distritos e províncias, idade e sexo<br />
do chefe, posse de terra e area cultivada, irrigação, equipamento agrícola, se o agregado familiar<br />
comercializa algumas culturas e o constante foram inclusos mas não são ilustrados. Para detalhes, vide o<br />
texto.
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 5.15: Estimativas dos Determinantes da Eficiência Escolar Estimados para<br />
Crianças de 9-17 anos que Ccompletaram a Escolaridade<br />
a<br />
1<br />
b<br />
2<br />
c<br />
3<br />
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural<br />
Chefe Letrado 3.926 1.729 1.020 0.602<br />
(1.09) (0.88) (0.28) (0.31)<br />
Chefe com EP2 8.777 3.100<br />
305<br />
(2.80) (0.70)<br />
Adulto com EP2 8.815 5.848<br />
(3.59) (2.31)<br />
Mulheres com EP2 5.919 12.326<br />
(2.61) (5.52)<br />
Sexo da Criança Masculino 2.479 4.945 2.308 5.076 3.134 7.258<br />
(1.40) (2.79) (1.34) (2.86) (1.74) (3.97)<br />
Idade <strong>em</strong> Anos -8.731 -7.016 -9.866 -6.998 -11.131 -6.741<br />
(1.62) (1.41) (1.78) (1.41) (2.12) (1.41)<br />
2 Idade 0.285 0.215 0.328 0.214 0.355 0.188<br />
(1.50) (1.22) (1.68) (1.21) (1.91) (1.11)<br />
Logarítmo de Consumo Per<br />
Capita 3.463 7.215 2.701 7.370 1.549 6.453<br />
(1.90) (2.23) (1.55) (2.31) (0.87) (2.01)<br />
Observações 551 798 553 798 551 798<br />
2 R 11.6 28.8 12.6 28.7 16.7 32.6<br />
P-valor de F 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00<br />
Média da variável dependente 66.90 50.95 66.90 50.95 66.90 50.95<br />
Note: a. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’ é a variável independente.<br />
b. Refere-se á forma de função onde ‘chefe com EP2’ é a variável independente.<br />
c. Refere-se á forma de função onde ‘chefe literado’, ‘adulto qualquer com EP2’, e ‘mulher com EP2' são<br />
as variáveis independentes.<br />
A variável dependente é a eficiencia escolar, definida como a classe completada dividida pela classe que<br />
deveria ter completado dada a idade (x 100) e o método da estimação é OLS. O t-estatístico robusto<br />
para o desenho da amostrag<strong>em</strong> é mostrado entre parenteses. Tomou-se como amostra crianças que já<br />
completaram a sua escolaridade Os efeitos fixos para os distritos e províncias, idade e sexo do chefe,<br />
posse de terra e area cultivada, irrigação, equipamento agrícola, se o agregado familiar comercializa<br />
algumas culturas e o constante foram inclusos mas não são ilustrados. Para detalhes, vide o texto.
Por Cento<br />
Taxa<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Niassa<br />
Niassa<br />
Figure 5.1: Alfabetismo dos Adultos de 8-65 da Zona Urbana<br />
C.Delgado<br />
Masculino<br />
F<strong>em</strong>enino<br />
Nampula<br />
Zambezia<br />
Tete<br />
Manica<br />
Sofala<br />
Provincia<br />
Inhambane<br />
Gaza<br />
Maputo<br />
Maputo-cid<br />
Figure 5.2: Alfabetismo dos Adultos de 18-65 das Zonas Rurais<br />
Masculino<br />
F<strong>em</strong>enino<br />
C.Delgado<br />
Nampula<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Zambezia<br />
Tete<br />
Manica<br />
Provincia<br />
306<br />
Sofala<br />
Inhambane<br />
Gaza<br />
Maputo
Taxa<br />
Taxa<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Niassa<br />
Niassa<br />
Figure 5.3: Matricula das Criancas de 7-11 das Zonas Urbanas<br />
C.Delgado<br />
Masculino<br />
F<strong>em</strong>enino<br />
Nampula<br />
Zambezia<br />
Tete<br />
Manica<br />
Province<br />
Sofala<br />
Inhambane<br />
Gaza<br />
Figure 5.4: Matricula das Criancas de 7-11 Anos das Zonas<br />
Rurais<br />
Masculino<br />
F<strong>em</strong>enino<br />
C.Delgado<br />
Nampula<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Zambezia<br />
Tete<br />
Manica<br />
Provincias<br />
307<br />
Sofala<br />
Inhambane<br />
Gaza<br />
Maputo<br />
Maputo<br />
Maputo-cid
Taxa<br />
Taxa<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Niassa<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Fig 5.5: Matricula das Criancas de12-17 das Zonas Urbanas<br />
C.Delgado<br />
Masculino<br />
F<strong>em</strong>enino<br />
Nampula<br />
Zambezia<br />
Tete<br />
Manica<br />
Sofala<br />
Provincias<br />
Inhambane<br />
Gaza<br />
Maputo<br />
Maputo-cid<br />
Figure 5.6: Matricula das Criancas de 12-17 Years das Zonas Rurais<br />
Niassa<br />
C.Delgado<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Masculino<br />
F<strong>em</strong>enino<br />
Nampula<br />
Zambezia<br />
Tete<br />
Manica<br />
Provincias<br />
308<br />
Sofala<br />
Inhambane<br />
Gaza<br />
Maputo
Percentag<strong>em</strong><br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
NP-Urban<br />
Figure 5.7: Alfabetismo dos Adultos de 18-65 por Sexo, Area e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<br />
<strong>Estar</strong><br />
P-Urban<br />
MP-Urban<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
NP-Urban<br />
F<br />
NP-Rural<br />
P-Rural<br />
MP-Rural<br />
P-Urban<br />
F<br />
MP-Urban<br />
F<br />
NP-Rural<br />
NP=Nao-Pobre; P=Pobre; MP=Muito Pobre<br />
309<br />
F<br />
P-Rural<br />
F<br />
MP-Rural<br />
F
Percentag<strong>em</strong><br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Figure 5.8: Matricula das Criancas de 7-11 por Sexo, Area, e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<br />
<strong>Estar</strong><br />
NP-Urban<br />
NP-Urban<br />
F<br />
P-Urban<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
P-Urban<br />
F<br />
MP- Urban<br />
NP-Rural<br />
MP-Urban<br />
F<br />
NP-Rural<br />
F<br />
P-Rural<br />
NP-Nao Pobre; P=Pobre; MP=Muito Pobre<br />
310<br />
MP-Rural<br />
P-Rural<br />
F<br />
MP-Rural<br />
F
Proporcao dos AFs<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Percentag<strong>em</strong><br />
Niassa<br />
100<br />
Figure 5.9: Disponibilidade das Escolas nas Zonas Rurais por Provincia<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
Cabo Delgado<br />
0<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-<strong>Estar</strong> <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Nampula<br />
Zambêzia<br />
Escola primaria nao completa<br />
Escola primaria completa<br />
Escola secondaria<br />
Tete<br />
Manica<br />
Province<br />
Sofala<br />
Inhambane<br />
Gaza<br />
Maputo Province<br />
Figure 5.10: Ano de Construcao de Escolas Primarias nas Zonas<br />
Rurais<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Capítulo 6<br />
Mecanismos de Ajuda Mútua e Redes Informais de Protecção<br />
Social: Estudo de Caso das Províncias de Gaza e Nampula e a<br />
Cidade de Maputo<br />
Gabriel Dava<br />
Jan Low<br />
Cristina Matusse
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
ÍNDICE<br />
6.1. Introdução .........................................................316<br />
6.2. Objectivos .........................................................317<br />
6.3. Metodologia .......................................................317<br />
6.4. Características dos Agregados Familiares do Estudo .........................318<br />
6.4.1. Características D<strong>em</strong>ográficas, Fontes de Rendimento, e<br />
Indicadores de <strong>B<strong>em</strong></strong>- <strong>Estar</strong> .................................318<br />
6.4.2. Estatuto de Residência e Assistência Formal Durante e<br />
Depois da Guerra ........................................320<br />
6.5. Caracterização e Evolução dos Sist<strong>em</strong>as de Entre-Ajuda Existentes<br />
nas Comunidades ....................................................322<br />
6.6. Ajuda aos Grupos Vulneráveis na Comunidade .............................325<br />
6.6.1. Organizações de Ajuda Existentes .................................325<br />
6.6.2. Assistência Não-Formal <strong>em</strong> Situação de Crise no Agregado<br />
Familiar ...............................................326<br />
6.6.3. Percepções das Comunidades das suas Responsabilidades<br />
Perante os Grupos Vulneráveis ..............................327<br />
6.7. Laços Familiares e Comunitários ........................................329<br />
6.7.1. Existência de Laços Fora da Família Imediata .......................332<br />
6.7.2. Reciprocidade e Tipos de Laços ...................................333<br />
6.7.3. Características Individuais e do Agregado Familiar<br />
Associadas com Laços Fortes ...............................335<br />
6.7.4. Características Individuais e do Agregado Familiar<br />
Associadas com Laços Fortes ...............................336<br />
6.7.5. Estimativas de “Probit” Descrevendo Pessoas que nada Receb<strong>em</strong> de Outras e<br />
Pessoas que Nada Dão a Outras ..................................337<br />
6.8. Discussão e Conclusões ...............................................338<br />
6.9. Recomendações de Políticas ............................................343<br />
REFERÊNCIAS ..........................................................346<br />
FIGURAS ..............................................................348<br />
TABELAS ..............................................................352
6.1. Introdução<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Os eventos adversos que assolaram o país nos últimos anos, tais como a guerra e as<br />
calamidades naturais, apesar dos recentes sucessos <strong>em</strong> termos de crescimento económico como<br />
resultado do alcance da paz e estabilidade, continuam a ter o seu impacto negativo que se reflecte<br />
nas condições de vida da população. A deterioração das condições de vida t<strong>em</strong> afectado com<br />
mais intensidade os grupos vulneráveis da população, nomeadamente mulheres, crianças, idosos,<br />
deficientes, vítimas das calamidades naturais, deslocados de guerra, refugiados/retornados,<br />
des<strong>em</strong>pregados, doentes crónicos e todas as pessoas consideradas de baixo rendimento, e com<br />
maior incidência nas zonas rurais.<br />
Este quadro verifica-se num contexto <strong>em</strong> que por um lado, o acesso aos serviços sociais<br />
básicos como a saúde, educação e abastecimento de água ainda é limitado, assim como<br />
capacidade de produção de alimentos do país que ainda não consegue satisfazer as necessidades<br />
da população e por outro lado, o sist<strong>em</strong>a de segurança social no país ainda é limitado e frágil<br />
(UAP, 1997).<br />
Os programas estabelecidos para o apóio aos grupos mais vulneráveis quer nas zonas<br />
rurais quer nas urbanas, como são os casos do Programa de Emergência e o Programa de<br />
Subsídio de Alimentos (ex-GAPVU), ou não funcionam eficient<strong>em</strong>ente ou já não estão <strong>em</strong><br />
funcionamento. No Inquérito aos Agregados Familiares de 1996/97, representativo a nível<br />
nacional à pergunta se o agregado familiar recebeu ou não alguma assistência nos últimos seis<br />
meses, apenas 6% das famílias responderam que receberam assistência directa <strong>em</strong> alimentos,<br />
roupa, dinheiro, s<strong>em</strong>entes e utensílios e <strong>em</strong> termos de melhoramento de infra estruturas nas<br />
comunidades rurais, apenas 39% da população encontrava-se a viver <strong>em</strong> aldeias onde registaram-<br />
se melhorias nas infra-estruturas durante os dois anos anteriores. Em geral, isto indica que o nível<br />
de assistência externa directa às famílias <strong>em</strong> 1996 era ligeiramente baixo e cerca de 2/3 das<br />
aldeias não experimentaram nenhuma melhoria nas infra-estruturas no passado recente.<br />
Portanto, é de interesse investigar que estratégias as comunidades <strong>em</strong>pregam actualmente<br />
para assegurar a sua sobrevivência, como as comunidades por sí próprias lidam com os grupos<br />
vulneráveis na sua sociedade, se as práticas tradicionais (i.e aquelas práticas b<strong>em</strong> estabelecidas<br />
e persistentes antes da guerra) de ajuda mútua estão ainda <strong>em</strong> uso e como os laços de parentesco<br />
funcionam como redes de apóio social. Esta avaliação t<strong>em</strong> por finalidade constituir uma base<br />
para o estabelecimento de políticas e programas apropriadas no que respeita a redes de protecção<br />
social.<br />
A presente pesquisa está dividida <strong>em</strong> duas partes. A primeira investiga as práticas nas<br />
comunidades, incidindo sobre os grupos muitas vezes considerados os mais vulneráveis da<br />
sociedade: os deficientes, os idosos, crianças menores e suas mães. A segunda investiga qual<br />
o papel actual das Organizações Não-Governamentais na área dos programas de protecção social.<br />
Neste documento, são apresentados os resultados da primeira parte da pesquisa que investiga os<br />
mecanismos existentes de apóio baseado no parentesco e assistência mútua dentro da<br />
comunidade. A segunda parte será realizada posteriormente.<br />
316
6.2. Objectivos<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Diversos estudos já realizados no país forneceram informação sobre características<br />
d<strong>em</strong>ográficas da população, padrões de consumo, acesso aos serviços sociais, segurança<br />
alimentar, vulnerabilidade, estratégias de sobrevivência <strong>em</strong> momentos de crise, etc (MSF-CIS<br />
(1996), MISAU/MPF (1997), van Vugt (1992), Dava (1995), Mausse(1997)). Contudo, ainda<br />
escasseia informação detalhada sobre o funcionamento e evolução dos mecanismos informais<br />
e tradicionais de assistência social e ajuda mútua. Portanto, o objectivo deste estudo é procurar<br />
informação mais detalhada para responder a aspectos específicos relacionados com as redes<br />
sociais comunitárias e a evolução das práticas tradicionais de assistência mútua <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
para responder às seguintes questões:<br />
(i). Que estratégias e organizações exist<strong>em</strong> dentro das comunidades para lidar com as pessoas<br />
mais vulneráveis ou m<strong>em</strong>bros severamente desnutridos da sociedade?<br />
(ii). Até que ponto os mecanismos tradicionais de assistência ainda funcionam e como se<br />
desenvolveram desde a independência?<br />
(iii). Qual a extensão das redes sociais, tanto dentro como fora dos laços da família alargada?<br />
Até que ponto os mais vulneráveis depend<strong>em</strong> destas ligações para lidar com os maiores<br />
eventos transitórios ou debilitantes da vida?<br />
6.3. Metodologia<br />
O estudo foi conduzido através da combinação de entrevistas <strong>em</strong> grupo com os líderes<br />
comunitários e entrevistas s<strong>em</strong>i-estruturadas a indivíduos dos grupos alvos seleccionados. Os<br />
dados foram recolhidos a partir dos finais de Junho até Agosto de 1997 por estudantes da<br />
Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal, fluentes <strong>em</strong> Changana ou Emákua, sob a<br />
supervisão do pessoal do Departamento de População e Desenvolvimento Social (Ministério do<br />
Plano e Finanças), UEM e Ministério da Acção Social. Adicionalmente, foram consultadas<br />
fontes secundárias de informação.<br />
Com vista a cobrir os vários objectivos e dadas as limitantes de t<strong>em</strong>po e financeiras, a<br />
amostra para esta avaliação qualitativa (estudo de caso) das redes informais de protecção social<br />
foi seleccionado com o propósito de:<br />
(a). Refletir as principais diferenças culturais e sócio-antropológicas existentes no pais,<br />
(b). Comparar as diferenças nas redes sociais e estratégias de sobrevivência entre as áreas<br />
pobres e não-pobres do pais,<br />
(c). Contrastar as experiências urbanas e rurais<br />
(d). Dar uma visão dos mecanismos de sobrevivência dos três grupos de população<br />
considerados vulneráveis: mulheres com crianças, deficientes e idosos.<br />
A amostra total (não estatisticamente representativa) consistiu de 412 agregados<br />
familiares, tendo as seguintes características:<br />
Tabela 6.1: Características de 412 Agregados Familiares da Amostra<br />
317
Categoria<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Descrição Numero de<br />
318<br />
casos<br />
Por Local Gaza-Rural 141<br />
Maputo-Urbano 71<br />
Nampula-Rural 127<br />
Nampula-Urbano 73<br />
Por Grupo Alvo Mulheres com Crianças menores de 5 anos 184<br />
Idosos (homens > 60 anos e mulheres > 55 anos 182<br />
Deficientes 46<br />
A Tabela 6.2 apresenta algumas das características chave das comunidades abrangidas<br />
pelo estudo. Nas áreas seleccionadas, ao nível do posto administrativo, foram contactados chefes<br />
dos postos administrativos e através deles, foram feitos arranjos para visitar os líderes locais das<br />
aldeias. Com cada líder, foi compilada a lista consistindo de todos os agregados com pessoas<br />
idosas, todos os agregados com mulheres com crianças, e todos os agregados com pessoas<br />
deficientes. No caso de mulheres com crianças e idosos, os agregados foram seleccionados<br />
aleatoriamente a partir das listas acima mencionadas; no caso de pessoas deficientes, todos<br />
agregados foram visitados devido ao menor número de casos <strong>em</strong> cada aldeia.<br />
6.4. Características dos Agregados Familiares do Estudo<br />
6.4.1. Características D<strong>em</strong>ográficas, Fontes de Rendimento, e Indicadores de <strong>B<strong>em</strong></strong>- <strong>Estar</strong><br />
Examinando as características d<strong>em</strong>ográficas da amostra, não é surpreendente que as<br />
mulheres com crianças têm a maior média de tamanho de agregado familiar (6,7) e os agregados<br />
com pessoas idosas têm menor (3,7) devido à elevada percentag<strong>em</strong> de agregados de idosos com<br />
apenas um m<strong>em</strong>bro adulto. Os agregados com idosos foram os que mais tendiam a ter <strong>em</strong> falta<br />
um adulto <strong>em</strong> idade tipicamente produtiva, isto é com idade entre os 15 - 49 anos e a idade média<br />
das pessoas idosas entrevistadas é de 68 anos. Os agregados familiares tendo um m<strong>em</strong>bro<br />
deficiente tiveram <strong>em</strong> média o mesmo número de adulto dos 15 - 49 anos de idade como a sub-<br />
amostra das mulheres com crianças, mas menor que a metade do número médio de crianças<br />
menores de 14 anos de idade. A média do tamanho destes agregados foi 4,6 e a idade média das<br />
pessoas deficientes entrevistadas foi de 44 anos.<br />
Exist<strong>em</strong> diferenças distintas nas actividades económicas realizadas <strong>em</strong> diferentes áreas.<br />
Nampula rural foi claramente a área mais apropriada para a produção agrícola, com somente<br />
5,6% de agregados s<strong>em</strong> nenhuma machamba e 75% de agregados tendo a venda de produtos<br />
agrícolas como sua fonte de rendimento mais importante (Tabela 6.3). Em contraste, os<br />
agregados do sul tipicamente mais seco depend<strong>em</strong> de uma diversidade de estratégias para gerar
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
rendimento. Para além da posse de machambas nas zonas altas, mais de metade de agregados<br />
(53%) têm também machambas nas zonas baixas comparados a 30% de agregados de Nampula<br />
rural. Ad<strong>em</strong>ais, uma percentag<strong>em</strong> significativa de agregados <strong>em</strong> Gaza têm pelo menos um<br />
m<strong>em</strong>bro contratado no trabalho assalariado (49%), vende bebida alcoólica tradicional (43%) e<br />
realiza trabalho ocasional (43%). Diferent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> Nampula rural, menos de 6% de agregados<br />
ocupam-se <strong>em</strong> qualquer uma destas três actividades. Além do mais, entre todas as áreas, os<br />
agregados de Gaza rural são mais dependentes de r<strong>em</strong>essas (19%) como sua fonte principal de<br />
rendimento (Tabela 6.3).<br />
Faz<strong>em</strong> diferença também as estratégias de meios de vida entre as duas áreas urbanas.<br />
Nampula urbano foi notavelmente dependente da venda de produtos agrícolas como a fonte mais<br />
importante de rendimento (46% de todos os agregados), enquanto 45% dos agregados de Maputo<br />
dependeram primeiramente dos salários dos entrevistados ou outro m<strong>em</strong>bro do agregado (Tabela<br />
6.3). Somente 12% dos agregados de Nampula Urbano não têm machambas, comparados a<br />
quase metade (49%) de agregados de Maputo. A posse de machambas nas zonas baixas<br />
tipicamente usadas para produção de hortícolas é significante <strong>em</strong> ambas as áreas urbanas, com<br />
48% de agregados de Nampula Urbano e 38% de agregados de Maputo possuindo machambas<br />
na zona baixa. Em acréscimo, alguns agregados <strong>em</strong> ambas as áreas têm m<strong>em</strong>bros trabalhando<br />
<strong>em</strong> pequenos negócios, fazendo trabalho casual, e vendendo álcool como actividades de gerir<br />
rendimento.<br />
A capacidade dos agregados familiares de atingir as necessidades alimentares básicas das<br />
próprias machambas depend<strong>em</strong> de nível de produção e acesso a armazenag<strong>em</strong>. Embora metade<br />
dos agregados de Maputo tenham machambas, <strong>em</strong> qualquer mês do ano mais de 90% de<br />
agregados da amostra de Maputo têm de comprar bens alimentares básicos no mercado. Por<br />
outro lado, o número de agregados que compram bens alimentares básicos <strong>em</strong> Nampula Cidade<br />
varia entre 37 e 47% <strong>em</strong> todo o ano. Nas áreas rurais, a dependência do mercado foi muito mais<br />
sazonal por natureza, com alto nível de compras básica de mercado constatadas <strong>em</strong> Gaza durante<br />
os meses de Outubro até Dez<strong>em</strong>bro e <strong>em</strong> Nampula Rural de Dez<strong>em</strong>bro até Março.<br />
Algo inesperado, dado seu menor potencial agrícola que Nampula, menos que 10% dos<br />
agregados de Gaza Rural dependeram do mercado durante o principal período de colheita<br />
(Março - Julho), comparados a 25 - 33% dos agregados de Nampula. Isto pode ser devido ao<br />
facto de na região de Nampula existir uma certa concentração na produção de culturas de<br />
rendimento do que culturas alimentares básicas, o que cria a necessidade de supl<strong>em</strong>entar a<br />
produção familiar das culturas alimentares com compras.<br />
Existe um grau similar de dependência da venda de produtos agrícolas como uma fonte<br />
importante de rendimento <strong>em</strong> todas as três categorias de pessoas estudadas. Um terço de<br />
mulheres com crianças citaram as vendas de produtos agrícolas como sendo a mais importante<br />
fonte de rendimentos, seguidas do trabalho assalariado (26%) e transferências (12%). A venda<br />
de produtos agrícolas (37%) foi considerada muito importante também para os agregados de<br />
idosos, seguida pelo trabalho casual (ganho-ganho) (10%), trabalho assalariado (8%),<br />
transferências (8%) e venda de álcool (8%).<br />
319
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Os deficientes entrevistados neste estudo difer<strong>em</strong> consideravelmente nas suas habilidades<br />
de realizar tarefas físicas. Na amostra do estudo, 46% dos deficientes entrevistados eram<br />
paralíticos, 14% cegos, 14% tinham uma perna amputada e o resto sofr<strong>em</strong> de deficiências menos<br />
debilitantes. Portanto, enquanto 33% de agregados com pessoas deficientes não têm machambas,<br />
30% de outros agregados nesta categoria citaram a venda de produtos agrícolas como a principal<br />
fonte de rendimento. A outra fonte de rendimento importante para os indivíduos deficientes foi<br />
o trabalho assalariado (17%), trabalho casual (15%) e pensão (15%). Note-se que o programa<br />
urbano formal de transferências de dinheiro (GAPVU) foi citado somente por 1% de idosos da<br />
amostra como sendo a fonte de rendimento mais importante.<br />
Para avaliar o b<strong>em</strong>-estar sócio-económico relativo dos diferentes agregados, três índices<br />
foram construídos: qualidade de habitação, posse de bens, e posse de gado (Tabela 6.4). A<br />
qualidade de habitação variou significativamente por local, mas não pela categoria de<br />
entrevistados. A qualidade de habitação foi mais significativa <strong>em</strong> Maputo que todas as outras<br />
cidades. Ad<strong>em</strong>ais, a qualidade de habitação <strong>em</strong> Nampula urbano é superior que <strong>em</strong> Nampula<br />
rural. Contudo, nenhuma diferença significativa foi observada, na qualidade de habitação <strong>em</strong><br />
Gaza rural e Nampula rural.<br />
A diferença nos índices de bens entre o norte e o sul é impressionante: o índice de bens<br />
<strong>em</strong> Maputo é quatro vezes maior que o de Nampula rural, duas vezes maior que Nampula urbano,<br />
mas somente 68% maior que Gaza rural. Gaza rural t<strong>em</strong> um índice de bens duas vezes maior que<br />
Nampula rural. Incluindo o valor do gado no índice de bens, o índice para Gaza rural é três vezes<br />
maior que o de Nampula rural, mas não adiantando qualquer diferença significante no nível de<br />
bens entre Maputo e Gaza rural. O baixo índice de bens dos idosos comparativamente às<br />
mulheres com crianças pode ser o reflexo das perdas de gado e de bens acumulados durante a<br />
guerra, <strong>em</strong> que os agregados idosos teriam mais dificuldades <strong>em</strong> recuperar do que os agregados<br />
com indivíduos economicamente activos.<br />
6.4.2. Estatuto de Residência e Assistência Formal Durante e Depois da Guerra<br />
A força de laços sociais é influenciada s<strong>em</strong> dúvida pela severidade de devastações que<br />
aconteceram na comunidade durante a guerra. A maioria dos agregados familiares do estudo<br />
(54%) tornaram-se parte das comunidades onde actualmente viv<strong>em</strong> antes da independência<br />
(1975). Os agregados de pessoas idosas (69%) encontram-se nesta categoria mais do que os<br />
agregados com mulheres tendo crianças menores (40%) ou agregados com pessoas deficientes<br />
(48%). Cerca de um quarto das mulheres com crianças foram para as suas comunidades<br />
recent<strong>em</strong>ente (desde 1994). Porém, exist<strong>em</strong> diferenças significativas <strong>em</strong> relação aos locais, com<br />
três quartos da amostra de Gaza rural sendo residente desde antes da independência, comparados<br />
a apenas 37% da amostra de Nampula urbano, 41% da Amostra de Maputo e 46% da amostra de<br />
Nampula rural.<br />
Os agregados de Nampula rural tend<strong>em</strong> a ser residentes recentes, com 29% destes<br />
agregados tendo se tornado residentes desde 1994. Em comparação, aproximadamente um<br />
quinto dos agregados de Maputo e Cidade de Nampula e só 1,4% de Gaza se tornaram também<br />
320
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
residentes desde 1994. Assim, nesta sub amostra, os agregados de Gaza teoricamente tiveram<br />
mais t<strong>em</strong>po para estabelecer laços dentro das suas comunidades e os agregados de Nampula rural<br />
tiveram menos t<strong>em</strong>po.<br />
Apesar de seu estatuto de residência, os agregados de Gaza foram negativamente<br />
afectados pela guerra, com 70% da amostra tendo sido deslocada durante a guerra. Vinte e um<br />
por cento dos agregados de Maputo foram deslocados, metade dos quais fugiram de outros locais<br />
para Maputo e lá permaneceram. Não obstante as zonas abrangidas de Nampula rural ter<strong>em</strong> sido<br />
afectadas pela guerra, apenas 11% dos agregados de Nampula rural e 14% dos agregados de<br />
Nampula urbano foram t<strong>em</strong>porariamente deslocados, o que é surpreendente.<br />
Dada a distribuição das pessoas deslocadas nesta amostra, Gaza-rural recebeu mais ajuda<br />
alimentar de <strong>em</strong>ergência, tanto durante como depois da guerra. A outra maior assistência depois<br />
da guerra foi a de s<strong>em</strong>entes gratuitas para reiniciar a produção agrícola, com um número limitado<br />
dos agregados da amostra que receberam roupa e utensílios. Nenhum agregado nesta amostra<br />
recebeu gado para fomento pecuário.<br />
Para os que não receberam ajuda de <strong>em</strong>ergência durante a guerra (67% da amostra), os<br />
meios mais importantes através dos quais obtiveram alimentos, foram a produção da própria<br />
machamba (57%), o salário do cônjuge (12%), apóio de parentes (10%) e o salário próprio (7%).<br />
Outros mecanismos usados ocasionalmente inclu<strong>em</strong>: a pesca, trabalho ocasional para outros,<br />
trabalhar nos campos de refugiados, dependência de r<strong>em</strong>essas da África do Sul, pequenos<br />
negócios, venda de artesanato, pensões, com apenas dois casos a reportar<strong>em</strong> ajuda de instituições<br />
não-governamentais.<br />
Com o fim da guerra <strong>em</strong> 1992, os refugiados e deslocados começaram a regressar <strong>em</strong><br />
grande número para as suas zonas de orig<strong>em</strong> e dos deslocados nesta amostra (136 agregados),<br />
87% afirmaram ter regressado às suas zonas de orig<strong>em</strong> s<strong>em</strong> receber nenhuma assistência. Apenas<br />
dois agregados afirmaram ter recebido assistência formal: um do Governo da Swazilândia e outro<br />
do Governo de <strong>Moçambique</strong>. Os restantes agregados receberam assistência de seus parentes<br />
(filhos, netos, sobrinhos e irmãos) para o seu regresso.<br />
Assim, apesar de ter o maior número de pessoas deslocadas durante a guerra, parece que<br />
os agregados refugiados de Gaza foram capazes de se restabelecer por si próprios nas suas<br />
comunidades originais, obtendo terra e reconstruindo os seus activos de base. Em parte isto pode<br />
ser devido ao elevado número destes agregados que t<strong>em</strong> acesso a recursos provenientes de<br />
m<strong>em</strong>bros do agregado familiar assalariados trabalhando fora da área assim como o facto de esta<br />
sub-amostra ter se estabelecido b<strong>em</strong> no local muito antes da independência.<br />
6.5. Caracterização e Evolução dos Sist<strong>em</strong>as de Entre-Ajuda Existentes nas<br />
Comunidades<br />
Os dados sobre as redes tradicionais/informais de protecção social reportam 14 práticas<br />
tradicionais/informais de ajuda mútua baseadas <strong>em</strong> relações de amizade, parentesco ou apenas<br />
321
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
de convivência na mesma aldeia, as quais estão ilustradas na Tabela 6.5. Estas actividades ou<br />
práticas encontram-se tanto no sul do país como no norte e, <strong>em</strong>bora tenham designações<br />
diferentes, na sua maioria possu<strong>em</strong> as mesmas características, objectivos e mesma forma de<br />
funcionamento.<br />
A zona sul do país é a que apresenta maior número de actividades praticadas (10)<br />
comparativamente ao norte (6). No geral, as actividades mais conhecidas são<br />
Kurhimela/Xitoco/Thôthôtho, Tsima/Ntimo, e Xitique. Na Cidade de Maputo <strong>em</strong> particular, são<br />
mais conhecidas o Xitique e Kurhimela. Outras práticas que apesar de pouco conhecidas foram<br />
mencionadas por alguns respondentes, são Kuthekela, Matsoni/Holimihana e Mukhumi/Oteka.<br />
Para a análise da evolução destas práticas tradicionais foram tomados três períodos,<br />
nomeadamente o período antes da independência, o período depois da independência até 1986<br />
e deste período até à altura de realização do inquérito (Tabela 6.6). Os dados do inquérito<br />
indicam que antes da independência, tanto <strong>em</strong> Gaza-Rural como <strong>em</strong> Nampula-Rural eram mais<br />
praticadas as actividades relacionadas com o trabalho agrícola, especialmente a baseada no<br />
1<br />
trabalho colectivo "não-r<strong>em</strong>unerado" e na amizade ou convivência comunitária, como é o caso<br />
da Tsima ou Ntimo.<br />
Na cidade de Maputo, o Xitique e Kurhimela foram as actividades mais praticadas antes<br />
da independência, o que mostra a pro<strong>em</strong>inência das actividades caracterizadas pelo trabalho<br />
r<strong>em</strong>unerado e esqu<strong>em</strong>as informais de poupança e crédito, o que pode ser o reflexo do maior nível<br />
de monetização da economia urbana do que as economias rurais. Pelo contrário, <strong>em</strong> Nampula-<br />
Cidade apresenta-se o mesmo padrão que as zonas rurais (com as actividades compensadas com<br />
pagamentos <strong>em</strong> espécie ou mão-de-obra), o que pode ter a ver com as diferenças no nível de<br />
urbanização entre Nampula e Maputo. Neste período, foram mais praticadas as actividades<br />
baseadas nas relações de amizade e vizinhança entre os m<strong>em</strong>bros das comunidades, com<br />
tendência de maior monetização das relações só na maior zona urbana, Maputo.<br />
No período pós-independência e anterior às grandes mudanças políticas e económicas<br />
ocorridos no país (1975-1986), constata-se que apesar de uma ligeira tendência de crescimento<br />
na realização das práticas tradicionais, não se registaram grandes alterações <strong>em</strong> termos dos tipos<br />
de actividades preferidas. As zonas rurais de Gaza e Nampula apresentam o mesmo padrão,<br />
com a passag<strong>em</strong> de actividades colectivas baseadas nas relações de amizade e vizinhança entre<br />
os m<strong>em</strong>bros das comunidades e “não r<strong>em</strong>uneradas” para actividades individuais e r<strong>em</strong>uneradas.<br />
Neste caso, pode ser o reflexo, por um lado de uma tendência da monetização da economia rural<br />
e provavelmente da progressiva perda dos valores tradicionais que norteavam a convivência das<br />
comunidades rurais pela modernidade e por outro lado, pode ser o reflexo do sist<strong>em</strong>a sócio-<br />
económico vigente na altura que tinha uma orientação para a colectivização do campo na base<br />
dos paradigmas de orientação socialista. O mesmo padrão ocorre <strong>em</strong> Nampula-urbano, sendo<br />
válidos os mesmos argumentos. A tendência na Cidade de Maputo aponta para o crescimento<br />
1<br />
Não r<strong>em</strong>unerado no sentido de não existir um pagamento individualizado pré-estipulado, mas apenas<br />
confraternização colectiva.<br />
322
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
das actividades que privilegiam o uso do dinheiro, como atesta o aumento do Xitique,<br />
manifestando a monetização crescente da economia. Os resultados do inquérito indicam que<br />
estas práticas ainda são comuns na actualidade, isto é de 1986 até à realização do estudo <strong>em</strong> 1997<br />
(Tabela 6.6). Na zona rural de Gaza, comparativamente aos períodos anteriores, há um<br />
crescimento na aplicação das práticas tradicionais, <strong>em</strong> particular daquelas que se baseiam no<br />
trabalho colectivo "não r<strong>em</strong>unerado" (Tsima) ou na troca de mão-de-obra (Matsoni e Xivunga),<br />
não obstante a crescente monetização da economia rural consubstanciada na <strong>em</strong>ergência do<br />
Xitique. Na zona rural de Nampula, há um crescimento nas actividades relacionadas com a troca<br />
de mão-de-obra e bens e contrariamente a Gaza, não têm grande peso as actividades que<br />
privilegiam o uso de dinheiro nas relações, <strong>em</strong>bora o volume total de actividades continue baixo<br />
como nos períodos anteriores.<br />
Na Cidade de Maputo, todas as práticas registaram um crescimento <strong>em</strong> relação aos<br />
períodos anteriores com destaque para o Xitique, cujo crescimento reflecte o florescimento do<br />
sector do comércio informal na cidade onde se destacam as mulheres, as principais participantes<br />
nesta prática. A zona urbana de Nampula t<strong>em</strong> um padrão de evolução similar aos dos centros<br />
rurais com o crescimento das práticas do Thôthôtho e o Ntimo, sendo as restantes práticas quase<br />
inexistentes.<br />
Os procedimentos inerentes à consumação do matrimónio tradicional ao longo do t<strong>em</strong>po<br />
pod<strong>em</strong> ajudar a uma melhor percepção de como os mecanismos tradicionais de auxílio mútuo<br />
evoluíram. No acto do lobolo ou mahari, dote pago pelo noivo á família da noiva como forma<br />
do seu pedido de casamento (conhecido por lobolo no sul e mahari <strong>em</strong> Nampula) e que simboliza<br />
o casamento tradicional, antigamente era prática os pais do noivo e outros familiares<br />
contribuír<strong>em</strong> para o suporte das despesas daí decorrentes, o que hoje reduziu substancialmente<br />
(Tabela 6.7), sendo actualmente, o noivo o responsável pelo pagamento do lobolo ou mahari,<br />
com pouca ajuda dos pais, familiares ou outras fontes.<br />
Os dados mostram na generalidade que s<strong>em</strong>pre existiram e ainda exist<strong>em</strong> práticas<br />
comunitárias de ajuda mútua entre os m<strong>em</strong>bros das comunidades, tanto nas zonas rurais como<br />
nas zonas urbanas, com mais incidência na região sul, comparativamente ao norte. A nível das<br />
zonas urbanas, destacam-se aquelas práticas que privilegiam o dinheiro nas relações, enquanto<br />
nas zonas rurais destacam-se as práticas que privilegiam a troca de mão-de-obra e o pagamento<br />
<strong>em</strong> espécie.<br />
A tendência de evolução destas práticas é de paulatinamente as práticas que privilegiam<br />
as relações de amizade e de convivência comunitária e a troca de mão-de-obra ir<strong>em</strong> sendo<br />
substituídas por aquelas práticas que privilegiam o dinheiro nas relações, apesar de entre os<br />
pobres, continuar<strong>em</strong> a ter maior destaque as actividades que envolv<strong>em</strong> a troca de mão-de-obra<br />
por mão-de-obra, devido às suas limitações de recursos (Tabela 6.8). A crescente monetização<br />
da economia, <strong>em</strong> que o principal indicador de b<strong>em</strong>-estar é a posse de dinheiro afigura-se como<br />
a mais provável causa desta tendência. Com efeito, à pergunta por quê alguém não participa<br />
nestas actividades mútuas, as principais explicações foram a falta de meios (que pode incluir o<br />
dinheiro) e o facto de ultimamente usar-se mais dinheiro . Do mesmo modo, a maioria dos<br />
323
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
inquiridos que consideraram que a forma como as práticas eram feitas mudou, referiram como<br />
principais mudanças o facto de actualmente pagar-se <strong>em</strong> dinheiro enquanto antes era <strong>em</strong><br />
comida/bens e o facto de agora de vez <strong>em</strong> quando não compensar realizar tais práticas.<br />
As práticas tradicionais de ajuda mútua tend<strong>em</strong> a ser mais frequentes (depois de 1986)<br />
comparativamente ao período anterior provavelmente pelo aparente aumento das dificuldades<br />
para as pessoas mais pobres (os que mais participam) que têm que procurar estratégias de<br />
sobrevivência, levando naturalmente à recuperação das práticas que existiam no passado (Tabela<br />
6.8).<br />
As mulheres apresentam-se como as maiores participantes nestas práticas tradicionais,<br />
e algumas actividades como Matsoni/Xivunga e Xitique aparec<strong>em</strong> particularmente dominadas<br />
pelas mulheres (Tabela 6.9), e isto mostra como as mulheres jogam um papel importante na<br />
provisão de meios de subsistência para os agregados familiares.<br />
O papel destas práticas tradicionais no apóio aos grupos vulneráveis é limitado uma vez<br />
que exig<strong>em</strong> contrapartidas que estes não estão <strong>em</strong> condições de oferecer, especialmente<br />
excedente de mão-de-obra. Os dados indicam que apenas 59,7% das mulheres com crianças<br />
participam nas diferentes actividades por falta de algo para dar, falta de t<strong>em</strong>po, nunca ter sido<br />
convidada, não beber e a doença; apenas 41,8% de idosos participam nas actividades, por falta<br />
de forças, doença, o nunca ter sido convidado e não ter o que dar; e apenas 37,2% deficientes<br />
participam nas actividades, pelo facto de ser<strong>em</strong> deficientes, doença e não ter forças.<br />
6.6. Ajuda aos Grupos Vulneráveis na Comunidade<br />
6.6.1. Organizações de Ajuda Existentes<br />
Os inquéritos comunitários indicam a existência de diversas organizações que actuam <strong>em</strong><br />
sectores distintos, com particular destaque para a reabilitação e construção de infra-estruturas<br />
sociais, fomento agrícola e pecuário e programas de crédito, com menor implantação de<br />
programas de apóio social direccionados aos mais vulneráveis que tend<strong>em</strong> a estar concentrados<br />
nas capitais distritais ou provinciais e são limitados <strong>em</strong> termos de cobertura. Nas zonas urbanas,<br />
existe o programa de subsídio de alimentos (GAPVU), que atribui um montante mensal aos<br />
beneficiários (idosos e deficientes) o qual se t<strong>em</strong> mostrado insuficiente para cobrir as<br />
necessidades dos participantes. Exist<strong>em</strong> também outros programas urbanos menos abrangentes<br />
do que GAPVU dirigidos aos grupos mais vulneráveis, particularmente crianças.<br />
Os resultados indicam que a existência das organizações de assistência humanitária nas<br />
áreas de estudo varia, mas só algumas são b<strong>em</strong> conhecidas. Em termos regionais, a cidade de<br />
Maputo é onde são conhecidas mais organizações, com 90,7% dos entrevistados a responder<strong>em</strong><br />
que conhec<strong>em</strong> pelo menos uma agência de ajuda humanitária, seguida da zona rural de Gaza com<br />
71,9%, a cidade de Nampula com 69,4% e por fim Nampula-Rural com 16,8%.<br />
324
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
As organizações mais conhecidas são a Cruz Vermelha de <strong>Moçambique</strong> (CVM), o<br />
GAPVU (transferência do dinheiro nas zonas urbanas) e o DPCCN (Calamidades). Para além<br />
destas organizações são conhecidas <strong>em</strong> muito menor escala, a CARITAS, Conselho Cristão de<br />
<strong>Moçambique</strong> (CCM), o Auxílio Mundial, a CARE , o Programa de Reabilitação de Estradas e<br />
a African Muslim Agency.<br />
Dos 133 entrevistados que conhec<strong>em</strong> a CVM, 72,2% são de Gaza, 24,8% de Maputo e<br />
apenas 1,5% de Nampula-Cidade e 1,5% de Nampula-Rural; deste total, 45,5% são mulheres<br />
com crianças, 40,6% são idosos e 13,5% são deficientes. De um modo geral, os requisitos para<br />
se ter acesso aos benefícios dos programas são pouco conhecidos e qu<strong>em</strong> conhece os requisitos<br />
tende a satisfazê-los.<br />
Dos 93 entrevistados que conhec<strong>em</strong> o GAPVU, 33,5% são de Maputo, 47,3% de<br />
Nampula-Cidade e 17,2% de Nampula-Rural; deste total, 50,5% são idosos, 35,5% são mulheres<br />
com crianças e 14% deficientes. Das mulheres com crianças que conhec<strong>em</strong> o GAPVU, apenas<br />
3% conhec<strong>em</strong> todos os requisitos e 36,4% conhec<strong>em</strong> alguns; dos idosos, apenas 8,7% conhec<strong>em</strong><br />
todos os requisitos e 45,7% conhec<strong>em</strong> alguns; e dos deficientes, só 15,4% conhec<strong>em</strong> todos os<br />
requisitos e 38,5% conhec<strong>em</strong> alguns. Das mulheres com crianças que conhec<strong>em</strong> os requisitos<br />
do GAPVU, 6 satisfaz<strong>em</strong> os requisitos do Programa; dos idosos, 24 satisfaz<strong>em</strong> os requisitos; e<br />
dos deficientes, 6 satisfaz<strong>em</strong> os requisitos.<br />
Das poucas pessoas que disseram satisfazer os requisitos dos diversos programas, há um<br />
número significativo que nunca tentou solicitar apóio às organizações que impl<strong>em</strong>entam tais<br />
programas. A falta de informação, incluindo o não conhecimento da localização da organização<br />
que dá apóio, é a principal razão do não pedido de apóio. Os pedidos de apóio feitos pelos que<br />
satisfaz<strong>em</strong> os requisitos, foram mais positivos para os idosos e particularmente para a Cidade de<br />
Nampula e os grupos alvo mais beneficiados são os idosos e deficientes no sentido de ser<strong>em</strong> os<br />
que mais tiveram respostas positivas nos seus pedidos. A ajuda recebida foi basicamente <strong>em</strong><br />
alimentos ou serviu para adquirir alimentos.<br />
Este apóio directo abrange poucas pessoas, principalmente aquelas concentradas nas<br />
zonas urbanas, provavelmente devido ao facto de às poucas organizações de apóio estar<strong>em</strong><br />
direccionadas nas zonas rurais, ao não conhecimento da existência de tais organizações e mais<br />
importante ainda a dificuldade de localização das organizações conhecidas.<br />
Os crentes e os grupos vulneráveis beneficiam também da ajuda de instituições religiosas<br />
sob várias formas, especialmente o conforto moral <strong>em</strong> caso de doença, falecimento ou outro<br />
evento constrangedor nas famílias, <strong>em</strong>bora ocorram casos de apóio <strong>em</strong> alimentos, água, lenha,<br />
confecção de alimentos, etc. Do total da amostra, apenas 46% <strong>em</strong> Gaza-Rural não são crentes,<br />
14% <strong>em</strong> Maputo-Urbano, 15% <strong>em</strong> Nampula-Urbano e apenas 7% <strong>em</strong> Nampula-Rural. Do total<br />
dos crentes, 85% <strong>em</strong> Gaza, 93% <strong>em</strong> Maputo, 53% <strong>em</strong> Nampula-Urbano e 33% <strong>em</strong> Nampula-<br />
Rural referiram que as suas igrejas têm programas de apóio aos seus m<strong>em</strong>bros, enquanto 40%,<br />
42%, 25% e 19% respectivamente têm programas de apóio aos grupos vulneráveis. Os<br />
programas de apóio aos grupos vulneráveis (principalmente idosos e deficientes) são mais<br />
notórios nas zonas de influência mahometana através das oferendas aos pobres às sextas-feiras.<br />
325
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
6.6.2. Assistência Não-Formal <strong>em</strong> Situação de Crise no Agregado Familiar<br />
Além de formas tradicionais de assistência mútua, m<strong>em</strong>bros da comunidade pod<strong>em</strong><br />
depender frequent<strong>em</strong>ente da ajuda de parentes ou vizinhos quando um desastre imprevisto<br />
acontecer. Por ex<strong>em</strong>plo, perante o falecimento de um m<strong>em</strong>bro do agregado familiar, ocorre<br />
s<strong>em</strong>pre um movimento social de apóio ao agregado familiar do falecido, que inclui o apóio moral<br />
e material, este sob forma de contribuição monetária ou <strong>em</strong> espécie durante as cerimónias<br />
fúnebres e missas <strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória dos defuntos ou contribuições de famílias ou grupos comunitários<br />
e religiosos.<br />
Dos 76 idosos que viveram uma situação de falecimento no agregado, 78,9% afirmaram<br />
ter recebido alguma ajuda, sendo a maior proporção <strong>em</strong> Gaza e menor <strong>em</strong> Nampula-Urbano, com<br />
poucas diferenças <strong>em</strong> termos de género (Tabela 6.10). A única diferença de género t<strong>em</strong> a ver<br />
com o facto de <strong>em</strong> certas circunstâncias, as viúvas perder<strong>em</strong> os direitos de herança, levando-as<br />
à penúria. Os dados do estudo mostram que cerca de 21% das viúvas inquiridas perderam as<br />
machambas deixadas pelo falecido, 27% perderam os bens a favor dos familiares destes e 33%<br />
das viúvas tiveram que mudar de residência após a morte do cônjuge. As principais fontes de<br />
sustento dos idosos viúvos ou que perderam o principal ganha-pão do agregado, são o apóio dos<br />
filhos, a produção da machamba e o trabalho para terceiros.<br />
Os entrevistados foram questionados sobre a situação mais difícil que enfrentaram <strong>em</strong><br />
termos de catástrofe natural ou doença. Do total dos entrevistados, 61,6% <strong>em</strong> Gaza, 78,6% <strong>em</strong><br />
Maputo, 50,4% <strong>em</strong> Nampula-Rural e 41,4% <strong>em</strong> Nampula-Cidade afirmaram ter tido <strong>em</strong> algum<br />
momento doença que lhes debilitou e limitou a sua capacidade de se auto-sustentar<strong>em</strong>, enquanto<br />
21% <strong>em</strong> Gaza, 11,4% <strong>em</strong> Maputo, 19,2% <strong>em</strong> Nampula-Rural e 17,1% <strong>em</strong> Nampula-Cidade<br />
enfrentaram escassez séria de alimentos <strong>em</strong> algum momento da sua vida. A situação de doença<br />
afectou mais os deficientes 66,7% e idosos 60,2%, enquanto a fome foi mais mencionada pelos<br />
idosos 22,7%.<br />
Perante estas situações, os dados do inquérito indicam que a principal fonte a qu<strong>em</strong> os<br />
afectados recorreram para solicitar auxílio são os filhos (9% <strong>em</strong> Gaza, 10% <strong>em</strong> Maputo, 11% <strong>em</strong><br />
Nampula-Rural e 26% <strong>em</strong> Nampula-Cidade), os cônjuges, pais, outros familiares,<br />
amigos/vizinhos e a Igreja, aparecendo a solicitação de apóio a pessoas s<strong>em</strong> parentesco com<br />
apenas um caso <strong>em</strong> Gaza. Os filhos (homens) são a principal fonte de apóio para os idosos, as<br />
mães e os pais são as principais fontes para as mulheres com crianças menores. A maioria das<br />
pessoas que solicitaram apóio, os seus pedidos foram satisfeitos, variando os pedidos que tiveram<br />
resposta positiva de 96,7% <strong>em</strong> Gaza a 51,4% na cidade de Nampula.<br />
Estes dados mostram que os sist<strong>em</strong>as de apóio social informal baseiam-se<br />
fundamentalmente nas relações de parentesco dentro da família nuclear, principalmente entre pais<br />
e filhos o que significa que aquelas pessoas que perderam estes laços de parentesco imediato<br />
dificilmente encontram apóio <strong>em</strong> momentos de dificuldades e isto é comum entre os idosos e<br />
deficientes.<br />
A percentag<strong>em</strong> de pessoas que não pediram apóio é maior nas zonas rurais que nas<br />
urbanas e na zona norte que na zona sul. Para as pessoas que não receberam ajuda, a principal<br />
326
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
razão foi o facto de as pessoas a qu<strong>em</strong> foi solicitado o apóio estar<strong>em</strong> também na mesma situação<br />
e a não existência de espírito de entre-ajuda entre as pessoas.<br />
6.6.3. Percepções das Comunidades das suas Responsabilidades Perante os Grupos Vulneráveis<br />
Tendo se constatado que os grupos vulneráveis são potencialmente excluídos das práticas<br />
de ajuda mútua descritas na secção precedente, importa compreender <strong>em</strong> que medida as forças<br />
da comunidade estão dispostas a oferecer apóio informal aos grupos vulneráveis.<br />
Num estudo participativo realizado na província de Nampula (Methven, 1996), os<br />
m<strong>em</strong>bros da comunidade identificaram cinco categorias de indivíduos que se encontram num<br />
estado permanente de vulnerabilidade: indivíduos s<strong>em</strong> família, deficientes (cegos, paralíticos e<br />
leprosos), viúvos, crianças órfãs e mulheres que viv<strong>em</strong> sozinhas. Outros indicadores comuns que<br />
pod<strong>em</strong> contribuir para um estado de vulnerabilidade quer permanente quer t<strong>em</strong>porária, inclu<strong>em</strong>:<br />
capacidade limitada para trabalhar nas machambas, indivíduos com alimentação e vestuário<br />
insuficientes, mulheres adultas vivendo sós com crianças, aqueles que não pod<strong>em</strong> construir as<br />
suas casas, indivíduos com machambas pequenas e os que são muito dependentes do apóio de<br />
familiares para sobreviver<strong>em</strong>.<br />
A vulnerabilidade está intimamente ligada às percepções sobre qu<strong>em</strong> é pobre. Em<br />
Manjacaze (Gaza), a percepção da comunidade sobre as características dos pobres inclui o<br />
tamanho médio da família pequeno, poucas posses, machambas pequenas, baixo nível de<br />
educação formal e necessidade de praticar o ganho-ganho para sobreviver (MISAU/MPF, 1997).<br />
As comunidades <strong>em</strong> Chibuto (Gaza) indicaram também o estado de viuvez como uma<br />
característica específica da pobreza naquela área (MISAU/MPF, 1997).<br />
As comunidades no estudo de Nampula (Methven, 1996) distinguiram claramente entre<br />
m<strong>em</strong>bros vulneráveis que merec<strong>em</strong> ou não merec<strong>em</strong> assistência. O termo Emákua Ohawas<br />
refere-se a pessoas que necessitam e merec<strong>em</strong> apóio quando não têm família (por ex<strong>em</strong>plo,<br />
cegos, doentes crónicos, idosos, etc.) e Ohawas wotunas, aquelas pessoas que têm oportunidade<br />
e capacidade de fazer trabalho da machamba, mas não faz<strong>em</strong>. Embora sendo vulneráveis, não<br />
merec<strong>em</strong> assistência visto que são considerados preguiçosos.<br />
A constatação do estudo foi de que a maioria das pessoas deficientes encontravam-se a<br />
viver com os seu parentes, excluindo um grupo de deficientes ex-militares que beneficiava de<br />
pensão mensal através da qual pod<strong>em</strong> contratar assistência permanente e, nalguns casos,<br />
constituir uma família. Se a assistência da família para um deficiente for insuficiente, as<br />
comunidades contam com as instituições do governo e organizações não-governamentais e<br />
religiosas para esta ajuda.<br />
Similarmente, nas áreas do estudo, todos os órfãos eram cuidados pelos parentes s<strong>em</strong><br />
nenhuma outra assistência directa de fora da família. Embora existam alguns orfanatos<br />
estabelecidos, particularmente junto dos maiores centros urbanos como Maputo, a política do<br />
Governo é de encorajar a permanência das crianças nas suas comunidades, sob os cuidados de<br />
famílias substitutas (Walker e Dava, 1994). Um estudo realizado pelo MICAS (SEAS, 1994)<br />
sobre o papel da família substituta na socialização das crianças órfãs constatou que as<br />
327
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
comunidades, espontânea e voluntariamente, mobilizaram-se para cuidar das crianças<br />
abandonadas e órfãos de guerra, integrando-as como se foss<strong>em</strong> seus próprios filhos.<br />
Evident<strong>em</strong>ente, a vontade de aceitar as crianças não acompanhadas é uma forma tradicional de<br />
assistência social de grande importância para o b<strong>em</strong> estar da criança.<br />
O cuidado das crianças desnutridas ou doentes é considerado um domínio dos pais da<br />
criança, particularmente da mãe. A comunidade não entende que ela própria tenha que intervir,<br />
ela pensa que qualquer assistência necessária além da dos pais é da responsabilidade da unidade<br />
sanitária.<br />
No caso dos idosos, constatou-se que exist<strong>em</strong> muitos que viv<strong>em</strong> sós. Alguns têm família<br />
que vive nas proximidades que lhes ajuda nas tarefas mais difíceis: obter e preparar alimentos,<br />
buscar água e procurar lenha. Aqueles que não têm família dev<strong>em</strong> depender da boa vontade dos<br />
vizinhos, ou <strong>em</strong> alguns momentos receb<strong>em</strong> assistência de outros m<strong>em</strong>bros da sua congregação<br />
religiosa. Quando questionados <strong>em</strong> Gaza (Manjacaze) sobre o que se faria se um idosos ficasse<br />
doente, uma comunidade respondeu que deveriam ser avisadas as autoridades na expectativa de<br />
que tom<strong>em</strong> conta do probl<strong>em</strong>a.<br />
Portanto, dos três grupos estudados, os idosos são os mais afectados pela ruptura dos<br />
padrões tradicionais de apóio social. Nas províncias fort<strong>em</strong>ente afectadas pela guerra, muitas<br />
famílias ficaram separadas por vários factores e muitos jovens que se refugiaram nos centros<br />
urbanos ou países vizinhos, decidiram lá permanecer. Portanto, muitos idosos perderam os seus<br />
filhos ou os seus filhos já não lhes prestam assistência, devido à sua própria situação precária.<br />
Visto que as mulheres idosas nas sociedades patrilineares são fort<strong>em</strong>ente dependentes das<br />
noras para realizar as tarefas domésticas <strong>em</strong> seu lugar à medida que vão envelhecendo, a ruptura<br />
dos padrões de assentamento <strong>em</strong> que os filhos viv<strong>em</strong> no perímetro do quintal do pai, alterou<br />
profundamente o volume de assistência que poderiam esperar receber. Considerando que é mais<br />
fácil para um idoso casar-se de novo uma mulher jov<strong>em</strong> do que uma idosa encontrar um novo<br />
marido, as mulheres idosos tend<strong>em</strong> mais a viver sozinhas do que os homens idosos e sob o risco<br />
de ser<strong>em</strong> acusadas de feitiçaria, s<strong>em</strong>pre que alguém na comunidade adoeça ou morra<br />
(HELPAGE, 1997).<br />
Ter fontes adicionais de assistência é essencial para os idosos, dado que a maioria não<br />
pode viver dos bens acumulados durante a sua vida. Os resultados mostram que poucos idosos<br />
possu<strong>em</strong> bens duráveis, especialmente bens que pod<strong>em</strong> ser usados para gerar rendimentos. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, dos 182 idosos entrevistados, apenas 10 possu<strong>em</strong> uma máquina de costura (5 <strong>em</strong> Gaza<br />
e 5 <strong>em</strong> Maputo Cidade), 1 t<strong>em</strong> carro (Maputo Cidade), 7 têm gado (<strong>em</strong> Gaza), 5 têm bois de<br />
tracção, têm charruas (Gaza) e nenhum possui bomba ou pulverizadores.<br />
Como foi mencionado na secção sobre a ajuda mútua, grupos de igrejas locais serv<strong>em</strong><br />
também ocasionalmente como fonte de assistência, com mais de uma metade apoiando os seus<br />
m<strong>em</strong>bros e alguns assistindo também aos grupos vulneráveis no geral. Em geral, as instituições<br />
religiosas são frequent<strong>em</strong>ente vistas como forças positivas para encorajar o apóio mútuo,<br />
providenciando educação moral e contribuindo para a redução da criminalidade (Athmer, 1996)<br />
328
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
As organizações que solicitam a comunidade a especificar qu<strong>em</strong> deveria ter prioridade<br />
para receber assistência, muitas vezes encontram relutância. No trabalho participatório da<br />
CONCERN (Methven, 1997, p. 19), as atitudes comuns encontradas inclu<strong>em</strong> algumas como<br />
”todos nós estamos na mesma situação”, ”pobres são pobres, não pode haver priorização” e<br />
”nunca faz<strong>em</strong>os machambas comunitárias porque não somos culpados de os outros ser<strong>em</strong> pobres<br />
ou vulneráveis”. Visto que durante a guerra existiram muitas organizações que distribuíam<br />
comida gratuita , roupa, utensílios, muitas vezes distribuída numa base comunitária alargada, a<br />
dificuldade <strong>em</strong> conseguir que a comunidade priorize qu<strong>em</strong> necessita de mais ajuda, é exacerbada<br />
pela elevada expectativa das comunidades de que todos deveriam receber ajuda. Se tais<br />
comunidades não concordam que os beneficiários da ajuda merec<strong>em</strong> esta assistência<br />
direccionada, os m<strong>em</strong>bros da comunidade pod<strong>em</strong> retirar qualquer que seja o apóio que<br />
estivess<strong>em</strong> a dar às pessoas pobres <strong>em</strong> questão, talvez até deixando-as numa situação pior,<br />
especialmente se a assistência direccionada não é sustentável. Considerando que muitos dos que<br />
estão <strong>em</strong> melhor situação nas comunidades rurais só recent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong>ergiram da situação de<br />
vulnerabilidade <strong>em</strong> que se encontravam durante os anos de guerra, é compreensível que a<br />
vontade de apoiar os mais vulneráveis ao nível da comunidade só possa <strong>em</strong>ergir paulatinamente.<br />
Ad<strong>em</strong>ais, enquanto as comunidades esperam que a família cuide dos seus m<strong>em</strong>bros do<br />
agregado vulneráveis, o nível de cuidados necessário está limitado à garantia das necessidades<br />
básicas do m<strong>em</strong>bro <strong>em</strong> termos de alimentação e abrigo, s<strong>em</strong> mais expectativas adicionais, tais<br />
como educação formal ou treinamento <strong>em</strong> habilidades profissionais.<br />
Finalmente, <strong>em</strong>bora seja difícil medir a dimensão da vontade da comunidade <strong>em</strong><br />
providenciar cuidados adicionais aos m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis, esta vontade parece ser<br />
significativamente influenciada pela liderança política designada da comunidade, a sua vontade<br />
<strong>em</strong> organizar os m<strong>em</strong>bros da comunidade para enfrentar os probl<strong>em</strong>as locais e o grau de<br />
confiança entre os m<strong>em</strong>bros da comunidade e os seus líderes.<br />
6.7. Laços Familiares e Comunitários<br />
No centro das relações sociais comunais está o conceito de que o relacionamento pessoal<br />
durável é edificado numa série de trocas de ”ofertas” (Mauss, 1969). As relações tradicionais<br />
de trocas têm sido descritas como um ”estado de dependência recíproca” (Gregory, 1982) ao<br />
contrário das trocas mercantis entre dois indivíduos que talvez nunca pod<strong>em</strong> voltar a interagir.<br />
As redes de reciprocidade de parentesco envolv<strong>em</strong> transacções que integram relações sociais e<br />
considerações económicas <strong>em</strong> quatro vias:<br />
1. Seguro contra riscos co-variados.<br />
Os parentes co-residentes tend<strong>em</strong> a estar sujeitos a riscos similares de produção na<br />
agricultura, dada a grande s<strong>em</strong>elhança da proximidade geográfica das suas machambas. Assim,<br />
estes riscos são considerados positivamente covariados. Portanto, laços a parentes com fontes<br />
de rendimento não-agrícolas pode ser um meio importante para reduzir o risco (Platteau, 1991).<br />
2. Seguro contra riscos específicos.<br />
329
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Riscos específicos de eventos inesperados que afectam os indivíduos, mas não estão<br />
fort<strong>em</strong>ente relacionados aos riscos enfrentados por outros m<strong>em</strong>bros da rede (Binswanger e<br />
McIntire, 1987 ). Nestas circunstâncias, viver num agregado familiar grande (uma rede intra-<br />
familiar grande) pode ser mais vantajoso do que ter muitos parentes distantes (Platteau, 1991).<br />
3. Conselhos, mediação e controle sobre a tomada de decisões.<br />
A composição e proximidade das redes de parentesco determina as regras e facilidades<br />
pelas quais as interacções ocorr<strong>em</strong>. Uma mulher que vive no mesmo agregado familiar que os<br />
seus sogros, com efeito, poderá ter substancialmente menos poder de decisão com relação aos<br />
seus filhos do que uma mulher que apenas vive com o seu esposo (Low, 1994).<br />
4. Fontes de fundos de investimento.<br />
As redes de parentesco alargado pod<strong>em</strong> ser mais capazes de acumular activos, com os<br />
indivíduos mais b<strong>em</strong> sucedidos na rede a servir<strong>em</strong> de fontes de crédito para os outros m<strong>em</strong>bros.<br />
Portanto, coloca-se a hipótese de que indivíduos adversos ao risco poderiam maximizar<br />
o número de possíveis relações recíprocas que têm com parentes nas zonas rurais, assim como<br />
estabelecer<strong>em</strong> laços <strong>em</strong> locais mais distantes, preferencialmente nos centros urbanos ou no<br />
exterior (Platteau, 1991; von Braun, 1991). Em particular, as mulheres nas sociedades<br />
patrilineares que viv<strong>em</strong> na terra dos maridos, tentariam manter os laços fortes com os seus<br />
próprios parentes para reforçar a sua fraca posição no agregado familiar do esposo (Low, 1994).<br />
Neste estudo de caso, foi feita uma tentativa de medição da capacidade dos laços<br />
familiares e comunitários através da pergunta sobre quantas vezes durante o ano transacto<br />
ocorreram trocas com diferentes tipos de indivíduos. Foram pesquisados quatro tipos de trocas:<br />
alimentação, dinheiro, bens e mão-de-obra. Uma troca pode ser de direcção única, quer dizer o<br />
entrevistado só dá ou só recebe algo ou recíproca, uma troca caracterizada pelo entrevistado que<br />
tanto dá como recebe dum outro indivíduo especificado durante o ano transacto.<br />
Para assegurar que o campo de relações importantes fosse coberto na avaliação<br />
quantitativa dos laços, foi obtida informação detalhada sobre trocas para quatro tipos distintos<br />
de relações de parentesco: Pais, Irmãos biológicos, Filhos maiores de 18 anos de idade e Todas<br />
as outras relações de troca com parentes e não parentes.<br />
Nas primeiras três categorias, as trocas são a nível individual, com a informação recolhida<br />
sobre todos os indivíduos vivos. Na última categoria, as relações de troca com um ou mais<br />
indivíduos da mesma família desta categoria, foi registada como um único laço.<br />
Depois de determinar se existiu uma relação com um indivíduo específico, por ex<strong>em</strong>plo<br />
trocas de alimentos, o entrevistador perguntou sobre o número de vezes que o entrevistado<br />
recebeu alimentos daquele laço durante o ano passado e o número de vezes que o entrevistado<br />
deu alimentos aquela pessoa durante o ano. Se o número de vezes <strong>em</strong> que tais trocas ocorreram<br />
excede 4, foi considerado como sendo frequent<strong>em</strong>ente que tal evento ocorreu, <strong>em</strong> oposição à<br />
ocorrência ocasional. O sexo e a localização (mesma aldeia ou cidade, centro urbano ou fora do<br />
país) dos indivíduos que realizam trocas foram também registados.<br />
330
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Com base nesta informação, o número total dos laços que representam um fluxo positivo<br />
(a soma dos diferentes indivíduos que deram algo ao entrevistado) pode ser comparado com o<br />
número total dos laços que representam fluxo negativo (a soma dos diferentes indivíduos que<br />
receberam algo do entrevistado) por tipo de troca (alimentos, dinheiro, bens e mão-de-obra). O<br />
tamanho destes laços totais indica a profundidade das relações disponíveis para o entrevistado<br />
para além daqueles que se encontram tipicamente no grau de parentesco imediato (esposo e<br />
crianças menores, no caso do grupo alvo de mulheres com crianças menores). Assume-se que<br />
o indivíduo que mitiga o risco tenta estabelecer um maior número de laços de modo a ter uma<br />
variedade de pessoas a qu<strong>em</strong> recorrer <strong>em</strong> momentos de crise.<br />
A localização da relação de troca fora do agregado imediato reflecte a potencialidade do<br />
entrevistado mitigar o risco através de laços localizados ambos na mesma comunidade (acesso<br />
fácil) e os laços mais distantes para utilizar quando toda a aldeia ou vila está afectada<br />
negativamente pelo mesmo acontecimento (seca, cheia, etc.). Os laços distantes, nos outros<br />
países, por ex<strong>em</strong>plo os parentes que trabalham na África do Sul, têm sido conhecidos durante<br />
muito t<strong>em</strong>po como uma das fontes mais importantes de transferências monetárias no sul de<br />
<strong>Moçambique</strong>. Além disso, as ligações entre as áreas rurais e urbanas na África Sub-Sahariana<br />
são citadas frequent<strong>em</strong>ente como os mecanismos significantes para assegurar<strong>em</strong> a segurança<br />
alimentar das famílias durante todo o ano.<br />
A direcção líquida dos laços entre um indivíduo e os outros reflecte a dependência do<br />
entrevistado nos outros e t<strong>em</strong> implicações na probabilidade de sustentar as relações de troca.<br />
Quando as relações são recíprocas, com os dois lados dando e recebendo sobre t<strong>em</strong>po, maiores<br />
incentivos exist<strong>em</strong> para os dois lados de manter o contacto, que na situação de relações uni-<br />
direccionais nos quais só um lado está a beneficiar significativamente da relação. Indivíduos<br />
vulneráveis numa sociedade, hipoteticamente praticam mais relações uni-direccionais (neste<br />
caso, recebendo e não dando) que laços recíprocos, reflectindo a sua dependência dos outros para<br />
sobreviver nos t<strong>em</strong>pos de crise.<br />
Para perceber o grau <strong>em</strong> que o agregado familiar está integrado <strong>em</strong> relações recíprocas<br />
, foi calculado um razão de reciprocidade, no qual o número de laços que implicam dar é<br />
dividido pela soma de todos os laços que implicam saídas (dar) e dos que representam entradas<br />
(receber). Neste caso, um valor de 0,50 indica que um indivíduo tende a ter reciprocidade nas<br />
suas trocas com os outros: o número de laços que implicam recebimentos durante o ano transacto<br />
esteve ao mesmo nível com o número de laços que implicaram saídas. Nos extr<strong>em</strong>os, um valor<br />
zero indica que o agregado familiar encontra-se no extr<strong>em</strong>o final de recepção <strong>em</strong> qualquer<br />
transacção e o valor 1 indica que o agregado familiar apenas dá e nunca recebe nada <strong>em</strong> troca.<br />
Note-se que a razão de reciprocidade não reflecte o tamanho da rede dos laços, ou seja um<br />
indivíduo com 4 laços pode ter a mesma razão que um indivíduo com 8; capta a natureza do tipo<br />
de troca, com a medida de reciprocidade de 0,50 a representar o mais elevado grau de benefício<br />
mútuo.<br />
6.7.1. Existência de Laços Fora da Família Imediata<br />
331
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Se o entrevistado recebeu ou deu algo a um indivíduo particular durante o ano anterior,<br />
esta pessoa foi contada como um laço simples, independent<strong>em</strong>ente do número de vezes <strong>em</strong> que<br />
a troca ocorreu. Na Tabela 6.11, o número total das pessoas de qu<strong>em</strong> o entrevistado recebeu algo<br />
aparece na coluna Laços: Receber, enquanto o número das pessoas à qu<strong>em</strong> o entrevistado deu<br />
algo aparece na coluna Laços: Dar. Na coluna Número Total de Laços, cada pessoa que dá ou<br />
recebe algo do entrevistado é contada só uma vez.<br />
Em média, o número de laços totais fora da família imediata é surpreendent<strong>em</strong>ente baixo:<br />
apenas 4,3 para as mulheres com crianças, 3,4 para os idosos e 3,1 para os deficientes. Nota-se<br />
que as famílias inteiras não-parentes só contam como um laço, estes resultados indicam uma<br />
forte dependência sobre os m<strong>em</strong>bros da família imediata como principais fontes de apóio<br />
(Tabela 6.11).<br />
Existe uma variação considerável entre grupos. A maior média nas mulheres com<br />
crianças comparada a outros grupos é ditada pelos 36% deste grupo que recebeu alguma coisa<br />
de mais de 6 laços distintos, com mais de 32% das mulheres tendo dado alguma coisa <strong>em</strong> mais<br />
de 6 laços (Figura 6.1). Pelo contrário, não é surpreendente que os idosos e os deficientes tenham<br />
mais laços <strong>em</strong> que receb<strong>em</strong> coisas, do que laços <strong>em</strong> que dão coisas. De entre a amostra dos<br />
deficientes, 16% não receberam algo de pessoas de fora da sua família nuclear durante o ano<br />
anterior e 42% nunca deram algo a outr<strong>em</strong>. Tal como o grupo de deficientes, 16% dos idosos<br />
nunca receberam algo, mas apenas 30% nunca deram algo a outr<strong>em</strong>.<br />
De entre os dois maiores grupos da amostra, as mulheres com crianças menores e os<br />
idosos, o número de laços é maior no sul do que no norte e dentro de cada região, os laços<br />
urbanos são maiores do que os rurais. Por ex<strong>em</strong>plo, as mulheres com crianças menores do sul<br />
têm <strong>em</strong> média 6,2 laços <strong>em</strong> Maputo, comparados com 5,6 laços na zona rural de Gaza; no Norte,<br />
as mulheres da zona urbana de Nampula têm <strong>em</strong> média 3,6 laços comparados com 2,4 para a<br />
zona rural de Nampula (Tabela 6.11). Mesmo examinando apenas os laços relacionados com dar<br />
e receber alimentos (Tabela 6.12), as zonas urbanas e rurais de Nampula têm significativamente<br />
menos probabilidade de ter algum laço fora do agregado familiar do que os entrevistados <strong>em</strong><br />
Gaza e Maputo. Isto reflecte <strong>em</strong> parte a maior auto-suficiência na produção agrícola constatada<br />
nos agregados familiares rurais do norte, tal como evidenciado por mais de dois terços dos<br />
agregados familiares rurais de Nampula que nunca dependeram do mercado para as suas<br />
necessidades <strong>em</strong> alimentos básicos <strong>em</strong> nenhum período do ano.<br />
6.7.2. Reciprocidade e Tipos de Laços<br />
Na Tabela 6.13 e na Figura 6.2, o grau de reciprocidade é apresentado por grupos alvos<br />
e as percentagens s<strong>em</strong> laços por tipo de troca (alimentos, dinheiro, mão-de-obra). Como<br />
mencionada anteriormente, as relações recíprocas (reflectindo a razão de reciprocidade de 0,50)<br />
hipoteticamente são desejáveis como incentivos existentes para os dois lados continuar<strong>em</strong> com<br />
a relação de troca. Os m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis da sociedade hipoteticamente têm mais<br />
relações uni-direccionais que reciprocas, que reflect<strong>em</strong> a sua dependência nos outros para<br />
332
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
sobreviver. Nesta amostra, os idosos e os deficientes têm mais laços uni-direccionais do que<br />
mulheres com crianças, <strong>em</strong> termos de receber alguma coisa s<strong>em</strong> reciprocidade.<br />
Em geral, as ligações fora da família são mais prováveis a existir para a troca de<br />
alimentos. Pelo menos um quarto dos entrevistados de todos os grupos não tiveram laços fora<br />
da família imediata para trocar dinheiro, bens ou mão-de-obra. O baixo número de laços<br />
relacionados com a mão-de-obra na zona rural de Nampula é particularmente surpreendente<br />
(Tabela 6.14), dadas as práticas tradicionais de assistência mútua descritas na secção anterior.<br />
Isto pode reflectir a fraqueza da metodologia de recolha de dados.<br />
Mais de metade dos idosos não têm nenhuns laços pelos quais deram dinheiro e 48% não<br />
têm laços pelos quais deram bens. Não surpreendente é que seja pouco provável que os<br />
deficientes tenham laços através dos quais oferec<strong>em</strong> mão-de-obra. Para todos os tipos de trocas,<br />
as mulheres com crianças menores são o grupo alvo com mais probabilidade de dar e de igual<br />
modo receber.<br />
A Tabela 6.15 e a Figura 6.3 d<strong>em</strong>onstram que o ciclo de vida influencia a dimensão dos<br />
tipos de laços activos com diferentes categorias de relações. Na Tabela 6.15, o número médio<br />
dos laços com os pais, irmãos biológicos, próprios filhos maiores de 18 anos de idade, e outros<br />
parentes são apresentados, junto com a percentag<strong>em</strong> de cada grupo alvo que não t<strong>em</strong> nenhum<br />
laço com aquele tipo de relação. A Figura 3 abrange o tópico noutra perspectiva, mostrando a<br />
percentag<strong>em</strong> de cada grupo alvo que t<strong>em</strong> pelo menos um laço com cada grande categoria de<br />
relações. Todos os agregados familiares abrangidos pela pesquisa tiveram pelo menos um laço<br />
com outra pessoa fora da família nuclear que não se enquadra nestas categorias específicas<br />
(Tabela 6.15).<br />
Dado o facto de que a idade média da amostra de mulheres com crianças menores ser de<br />
28,8 anos, 80% delas ainda têm laços com pelo menos um dos pais, 65% com pelo menos um<br />
irmão e 59% com pelo menos uma irmã. Visto que a maioria delas ainda têm crianças menores,<br />
mais de 90% não têm nenhum filho maior de 18 anos de idade. Pelo contrário, os idosos têm<br />
muito mais laços com os seus próprios filhos do que com outro tipo de parentes. Isto faz sentido,<br />
dado que a idade média dos idosos da amostra é de 68 anos de idade. Contudo, deve ser<br />
mencionado que surpreendent<strong>em</strong>ente, 47% dos idosos não têm contacto com nenhum filho<br />
e 43% com nenhuma filha. Um terço dos idosos ainda têm contactos com os seus irmãos e<br />
irmãs.<br />
Com a sua idade média de 44 anos de idade encontrando-se entre os outros dois grupos,<br />
a amostra dos deficientes teve mais laços com pais e irmãos do que com filhos próprios maiores<br />
de 18 anos de idade. Pelo menos a metade ainda mantém laços com pelo menos um dos pais.<br />
Frequent<strong>em</strong>ente as discussões das estratégias de sobrevivência importantes na África<br />
austral enfatizam a força dos laços rurais-urbanos e laços com parentes fora do país. A Tabela<br />
6.16 e a Figura 6.4 examinam os laços activos que exist<strong>em</strong> entre os entrevistados e pessoas que<br />
viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> áreas rurais ou urbanas, sendo estes últimos combinados com os laços fora do país.<br />
É escusado dizer que o número médio de laços rural-rural é maior que o número médio de laços<br />
333
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
rural-urbano e igualmente, o número médio dos laços urbano-urbano é maior que o número de<br />
laços urbano-rural. Neste estudo há uma tendência de depender de laços com outras pessoas<br />
próximas da casa <strong>em</strong> termos logísticos e para aproximadamente metade da amostra, os laços<br />
urbano-rural são fracos.<br />
6.7.3. Características Individuais e do Agregado Familiar Associadas com Laços Fortes<br />
A rede de laços sociais duma família pode servir como um mecanismo de sobrevivência<br />
importante <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po de crise. Na tentativa de identificar que características chaves das famílias<br />
da amostra pod<strong>em</strong> estar associadas a um número elevado de laços com outras pessoas fora da<br />
família imediata, são apresentadas na Tabela 6.17 as correlações entre o número total de laços,<br />
o número total de laços apenas para dar e não receber, com as características chaves descritivas<br />
do entrevistado e sua família. A correlação negativa entre o número de laços e ser idoso ou<br />
deficiente era de esperar, dados os resultados descritivos acima.<br />
As correlações positivas mais fortes com as variáveis do número de laços são constatadas<br />
<strong>em</strong> duas categorias: as relacionadas com a riqueza e as relacionadas com o tipo de <strong>em</strong>prego.<br />
Dois índices construídos têm uma correlação positiva significante, mas não forte: 0,24 para o<br />
índice de bens e apenas 0,16 para o índice de qualidade de habitação (a máxima correlação<br />
positiva possível é +1). O tamanho do agregado familiar é também positivamente<br />
correlacionado: 0,27. Portanto, enquanto os agregados familiares cresc<strong>em</strong> <strong>em</strong> riqueza e tamanho,<br />
há uma tendência de aumento do número de laços fora do agregado familiar. Ad<strong>em</strong>ais, as<br />
correlações significativas mais fortes são encontradas entre o número de laços e o facto de se pelo<br />
menos uma pessoa no agregado familiar recebe salário (0,37), faz trabalho ocasional (0,22),<br />
trabalha fora do país (0,33), vende bebidas alcoólicas (0,20), vende castanha de caju ou algodão<br />
(0,10), ou vende outros produtos agrícolas (0,162). Pelo contrário, as correlações negativas<br />
significativas mais fortes estão associadas com as agregados familiares que depend<strong>em</strong><br />
predominant<strong>em</strong>ente da agricultura. Na Tabela 6.15, o número médio dos laços com os pais,<br />
irmãos biológicos, próprios filhos maiores de 18 anos de idade, e outros parentes são<br />
apresentado, junto com a percentag<strong>em</strong> de cada grupo alvo que não t<strong>em</strong> nenhum laço com aquele<br />
tipo de relação. A Figura 3 abrange o tópico duma outra perspectiva, mostrando a percentag<strong>em</strong><br />
de cada grupo alvo que t<strong>em</strong> pelo menos um laço com cada grande categoria de relações. Todos<br />
os agregados familiares abrangidos pela pesquisa tiveram pelo menos um laço com outra pessoa<br />
fora da família nuclear que não se enquadra nestas categorias específicas (Tabela 6.15).<br />
Dado o facto de que a idade média da amostra de mulheres com crianças menores ser de<br />
28,8 anos, 80% delas ainda têm laços com pelo menos um dos pais, 65% com pelo menos um<br />
irmão e 59% com pelo menos uma irmã. Visto que a maioria delas ainda têm crianças menores,<br />
mais de 90% não têm nenhum filho maior de 18 anos de idade. Pelo contrário, os idosos têm<br />
muito mais laços com os seus próprios filhos do que com outro tipo de parentes. Isto faz sentido,<br />
dado que a idade média dos idosos da amostra é de 68 anos de idade. Contudo, deve ser<br />
mencionado que surpreendent<strong>em</strong>ente, 47% dos idosos não têm contacto com nenhum filho<br />
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<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
e 43% com nenhuma filha. Um terço dos idosos ainda têm contactos com os seus irmãos e irmãs.<br />
Com a sua idade média de 44 anos de idade encontrando-se entre os outros dois grupos,<br />
a amostra dos deficientes teve mais laços com pais e irmãos do que com filhos próprios maiores<br />
de 18 anos de idade. Pelo menos a metade ainda mantém laços com pelo menos um dos pais.<br />
Frequent<strong>em</strong>ente as discussões das estratégias de sobrevivência importantes na África<br />
austral enfatizam a força dos laços rurais-urbanos e laços com parentes fora do país. A Tabela<br />
6.16 e a Figura 6.4 examinam os laços activos que exist<strong>em</strong> entre os entrevistados e pessoas que<br />
viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> áreas rurais ou urbanas, sendo estes últimos combinados com os laços fora do país.<br />
É escusado dizer que o número médio de laços rural-rural é maior que o número médio de laços<br />
rural-urbano e igualmente, o número médio dos laços urbano-urbano é maior que o número de<br />
laços urbano-rural. Neste estudo há uma tendência de depender de laços com outras pessoas<br />
próximas da casa <strong>em</strong> termos logísticos e para aproximadamente metade da amostra, os laços<br />
urbano-rural são fracos.<br />
6.7.4. Características Individuais e do Agregado Familiar Associadas com Laços Fortes<br />
A rede de laços sociais duma família pode servir como um mecanismo de sobrevivência<br />
importante <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po de crise. Na tentativa de identificar que características chaves das famílias<br />
da amostra pod<strong>em</strong> estar associadas a um número elevado de laços com outras pessoas fora da<br />
família imediata, são apresentadas na Tabela 6.17 as correlações entre o número total de laços,<br />
o número total de laços apenas para dar e não receber, com as características chaves descritivas<br />
do entrevistado e sua família. A correlação negativa entre o número de laços e ser idoso ou<br />
deficiente era de esperar, dados os resultados descritivos acima.<br />
As correlações positivas mais fortes com as variáveis do número de laços são constatadas<br />
<strong>em</strong> duas categorias: as relacionadas com a riqueza e as relacionadas com o tipo de <strong>em</strong>prego.<br />
Dois índices construídos têm uma correlação positiva significante, mas não forte: 0,24 para o<br />
índice de bens e apenas 0,16 para o índice de qualidade de habitação (a máxima correlação<br />
positiva possível é +1). O tamanho do agregado familiar é também positivamente<br />
correlacionado: 0,27. Portanto, enquanto os agregados familiares cresc<strong>em</strong> <strong>em</strong> riqueza e tamanho,<br />
há uma tendência de aumento do número de laços fora do agregado familiar. Ad<strong>em</strong>ais, as<br />
correlações significativas mais fortes são encontradas entre o número de laços e o facto de se pelo<br />
menos uma pessoa no agregado familiar recebe salário (0,37), faz trabalho ocasional (0,22),<br />
trabalha fora do país (0,33), vende bebidas alcoólicas (0,20), vende castanha de caju ou algodão<br />
(0,10), ou vende outros produtos agrícolas (0,162). Pelo contrário, as correlações negativas<br />
significativas mais fortes estão associadas com os agregados familiares que depend<strong>em</strong><br />
predominant<strong>em</strong>ente da agricultura: que nunca compraram alimentos básicos durante o ano (-<br />
0,12), que citam a venda de produtos agrícolas como principal fonte de rendimentos (-0,20), que<br />
têm uma machamba própria (-0,15) e que têm uma machamba (-0,08) na zona baixa.<br />
A correlação negativa mais significativa está associada com a pertença à religião<br />
Muçulmana (-0,34). Isto relaciona-se com o facto de mais de metade da amostra da população<br />
de Nampula ser muçulmana e existir<strong>em</strong> poucos muçulmanos no resto da amostra. Pelo contrário,<br />
335
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
ser Cristão está associado a pequena, mas significativa correlação positiva (0,027).<br />
Surpreendent<strong>em</strong>ente, nenhuma das variáveis de educação estão significativamente associadas<br />
com o número de laços que a pessoa t<strong>em</strong>. Contudo, certos tipos de estado civil, como as pessoas<br />
que nunca se casaram mostram uma correlação ligeiramente positiva (0,12) e indivíduos<br />
divorciados ou viúvos d<strong>em</strong>onstrando uma tendência oposta (-0,11). Uma explicação possível<br />
é que indivíduos divorciados ou viúvos tenham perdido as suas bases sociais e/ou laços<br />
disponíveis através do casamento, enquanto as pessoas solteiras ainda depend<strong>em</strong> fort<strong>em</strong>ente dos<br />
irmãos e outros fora da sua família imediata.<br />
De algum modo não previsto, ter sido deslocado de guerra está positivamente associado,<br />
<strong>em</strong>bora fracamente, com o número de laços (0,149), tal como o ter recebido ajuda de <strong>em</strong>ergência,<br />
quer durante (0,21), quer depois (0,18) da guerra. Dado que os ex-deslocados de guerra nesta<br />
amostra provêm principalmente da zona rural de Gaza, pode se concluir que o ter sido deslocado<br />
concedeu uma oportunidade de expandir os laços ou que a variável reflecte o facto de que os<br />
residentes de Gaza <strong>em</strong> geral têm maior número de laços do que os de Nampula apesar de ter<strong>em</strong><br />
sido refugiados.<br />
2<br />
6.7.5 Estimativas de “Probit” Descrevendo Pessoas que nada Receb<strong>em</strong> de Outras e Pessoas<br />
que Nada Dão a Outras<br />
As características de pessoas com poucos laços são de interesse particular porque se eles<br />
não estão a receber algo de fora de agregado, eles são muito dependentes de seus próprios<br />
recursos e daqueles da família imediata para sobreviver. Por outro lado, as pessoas que não dão<br />
às outras pod<strong>em</strong> ter duas razões: a falta de recursos adequados ou simplesmente a escolha de não<br />
dar.<br />
Tendo se discutido nas secções anteriores a dimensão das associações entre o número de<br />
laços e características típicas, é também possível examinar as características num quadro multi-<br />
variado. Esta abordag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> a vantag<strong>em</strong> de que o efeito de uma dada característica é avaliado<br />
enquanto se tomam <strong>em</strong> conta as características r<strong>em</strong>anescentes. Neste caso, as características são<br />
comparadas a duas variáveis dependentes: não ter pessoas (laços) de qu<strong>em</strong> alguma coisa foi<br />
recebida (RECNADA) e não ter pessoas a qu<strong>em</strong> alguma coisa foi dada (DARNADA). Desde<br />
que estas variáveis dependentes tom<strong>em</strong> o valor zero (alguns laços) ou 1 (s<strong>em</strong> laços), então um<br />
modelo ”probit” que assume uma distribuição de probabilidade normal e contínua, pode ser<br />
usado para examinar a probabilidade de que não exist<strong>em</strong> laços dado o efeito das diferentes<br />
características listadas na Tabela 6.18. Os coeficientes são as estimativas de probabilidade<br />
máxima geradas a partir do modelo “probit” univariado para a versão 5.0 do STATA. A<br />
capacidade predictiva real do modelo é limitada. O modelo ”ajustado” baseado no índice da<br />
2<br />
razão da probabilidade (likelihood ratio index, o análogo ao R convencional) é 0,29 para o<br />
modelo RECNADA e 0,24 para o modelo DARNADA.<br />
2<br />
Probit é uma técnica para estimar uma regressão quando a variável dependente é binária, isto é toma<br />
apenas os valores 0 e 1.<br />
336
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
No modelo que examina a probabilidade de não receber de laços (Tabela 6.18), sete das<br />
variáveis são estatisticamente significativas com os sinais esperados, ajudando assim a explicar<br />
sob que circunstâncias uma pessoa tende a não ter nenhuns laços dos quais recebe. Duas<br />
características mostraram associações positivas significantes com o não receber: ser do sexo<br />
masculino e ter alguém no agregado que seja pensionista. Assim, parece que os homens e<br />
pensionistas não necessitam de se envolver <strong>em</strong> relações de troca fora do agregado familiar ou são<br />
vistos por outros m<strong>em</strong>bros da comunidade como menos necessitados. Ad<strong>em</strong>ais, cinco variáveis<br />
relacionadas com actividades estão fort<strong>em</strong>ente associadas com o ter pelo menos alguns laços de<br />
qu<strong>em</strong> recebe: alguém no agregado com <strong>em</strong>prego assalariado ou realizando trabalho casual, ter<br />
um m<strong>em</strong>bro do agregado a viver fora do país, vender aguardente ou realizar pequenos negócios.<br />
Note-se que no quadro multivariado, as variáveis de índice de bens e qualidade da habitação não<br />
mostraram nenhuma associação significativa, ao invés da relação bi-variada significante<br />
constatada na análise de correlação.<br />
A incapacidade de ter laços para fora (DARNADA=0 na Tabela 6.19) t<strong>em</strong> dois factores<br />
positivamente associados e que são estatisticamente significantes: ser deficiente e o aumento do<br />
tamanho do agregado familiar. O último resultado não era esperado uma vez que existia uma<br />
correlação positiva entre o tamanho do agregado e o número total de laços. Contudo, esta<br />
discrepância pode ser devido às diferenças na composição do agregado familiar: agregados<br />
grandes com uma proporção elevada de dependentes (crianças e idosos), com efeito, poderão ser<br />
menos capazes de dar a outras pessoas fora do agregado familiar do que os que têm taxas de<br />
dependência baixas. Quatro variáveis relacionadas com o <strong>em</strong>prego tiveram também uma forte<br />
associação negativa com a ausência de laços para fora: alguém no agregado que tenha <strong>em</strong>prego<br />
assalariado, que realiza trabalho ocasional, que vende aguardente e que vende outros produtos<br />
agrícolas. Evident<strong>em</strong>ente, as pessoas com acesso a oportunidades ocupacionais, tend<strong>em</strong> mais a<br />
participar nas redes de relações sociais, tanto para dar como para receber. Mais ainda, uma<br />
pessoa que nunca se casou foi significativamente mais provável ter algum laço para fora.<br />
Em ambos os modelos de casos extr<strong>em</strong>os (não ter laços para fora ou para dentro), as<br />
variáveis de educação, religião, t<strong>em</strong>po de residência, ter sido deslocado durante a guerra e de<br />
bens activos não se mostraram estatisticamente significativas e até ocasionalmente exibiram<br />
sinais inesperados. O acesso a rendimentos do <strong>em</strong>prego, seja directamente ou através da família,<br />
foi o factor explicativo mais importante por detrás da existência de pelo menos laços mínimos<br />
para além da família imediata.<br />
6.8. Discussão e Conclusões<br />
Nas secções anteriores, fez-se uma tentativa de compreender o nível dos sist<strong>em</strong>as de<br />
segurança social comunitários, nas zonas rurais e urbanas de <strong>Moçambique</strong>. O conhecimento<br />
337
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
tanto das forças como das fraquezas destes sist<strong>em</strong>as ajuda a identificar o âmbito potencial para<br />
uma acção apropriada estatal e não-governamental.<br />
A longa história do trabalho migratório masculino no sul de <strong>Moçambique</strong>, o<br />
reassentamento das comunidades a seguir à independência ligado com uma devastadora e<br />
prolongada guerra civil, resultou na mudança nas relações de troca caracterizadas pelo<br />
incr<strong>em</strong>ento da monetização das transacções e menos confiança. Isto colocou pressão sobre as<br />
relações sociais tanto dentro como fora do agregado familiar.<br />
O estudo investigou a evolução das mais conhecidas formas de apóio mútuo que<br />
contribu<strong>em</strong> para a capacidade do agregado familiar de sobreviver <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos de crise. Elas<br />
envolv<strong>em</strong> trocas de mão-de-obra por mão-de-obra (matsoni; holimihana), troca de mão de obra<br />
por alimentos ou dinheiro (khurhimela; thôthôtho, kuthekela, ganho-ganho), troca de mão-de-<br />
obra pela acumulação de gado (kuvekhelissa, ovaliha), e sist<strong>em</strong>a informal de poupança (xitique).<br />
Em geral , estas práticas de assistência mútua que existiam antes da independência continuam<br />
a ser praticadas hoje tanto nas zonas urbanas como nas zonas rurais, com as mais elevadas taxas<br />
de participação nos locais de estudo do sul que do norte. Apesar dos nomes distintos destas<br />
práticas no sul versus norte, exist<strong>em</strong> muitas similaridades nas suas características.<br />
Nas zonas urbanas, os tipos mais dominantes de ajuda mútua são os que requer<strong>em</strong> a troca<br />
de dinheiro como parte da transacção, enquanto nas zonas rurais, salientam-se as práticas com<br />
pagamento feito <strong>em</strong> mão de obra ou alimentos. A tendência na evolução destas prática entre<br />
amigos ou comunidades é a substituição das trocas de mão-de-obra por mão-de-obra por aquelas<br />
que envolv<strong>em</strong> transacções monetárias. Todavia, entre os pobres, há uma continuidade<br />
significativa das trocas de mão-de-obra por mão-de-obra entre amigos e parentes, s<strong>em</strong> dúvidas<br />
devido á limitada disponibilidade de recursos.<br />
Por detrás desta mudança está a crescente monetização da economia, na qual o maior<br />
indicador do b<strong>em</strong> estar é a posse de dinheiro que permite a qualquer um adquirir toda a espécie<br />
de bens activos, inclusive a mão-de-obra. A falta de meios (que pode incluir dinheiro) e o maior<br />
uso de pagamento monetário ao invés do pagamento <strong>em</strong> espécie são as causas da redução do<br />
nível das práticas ou da mudança da sua forma de funcionamento.<br />
Para além da tendência para a monetização, o estudo constatou que t<strong>em</strong> havido o<br />
ressurgimento do uso das práticas tradicionais de ajuda mútua nos anos mais recentes. Este<br />
ressurgimento reflecte o fim do sist<strong>em</strong>a de orientação socialista dominante nos anos<br />
imediatamente após a independência e o aparente crescimento das dificuldades enfrentadas pelas<br />
pessoas mais pobres que dev<strong>em</strong> procurar estratégias para a sua sobrevivência. Na procura de<br />
mecanismos apropriados, é natural que as pessoas retorn<strong>em</strong> àquelas práticas que existiram no<br />
passado e que terão sido parcialmente perdidas ou não praticadas durante algum período (os anos<br />
de guerra).<br />
Os resultados indicam que os pobres tend<strong>em</strong> mais a participar nas práticas tradicionais<br />
onde a mão-de-obra é oferecida <strong>em</strong> troca de alimentos, bens ou dinheiro do que os ricos. A<br />
habilidade de participar <strong>em</strong> tais actividades é, contudo, largamente dependente da existência de<br />
m<strong>em</strong>bros da comunidade <strong>em</strong> boa situação para ter<strong>em</strong> excedentes <strong>em</strong> alimentos, dinheiro ou bens<br />
338
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
para oferecer como pagamento. Integrar-se no trabalho t<strong>em</strong>porário é considerado a maior<br />
estratégia de sobrevivência para lidar com a insegurança alimentar transitória. Nas áreas mais<br />
pobres, onde tais oportunidades são limitadas, a alteração radical da dieta, incluindo a<br />
dependência <strong>em</strong> alimentos silvestres, venda de bens activos e <strong>em</strong>igração para outras zonas são<br />
estratégias que reduz<strong>em</strong> a capacidade da família de recuperar dos choques.<br />
As questões da participação do género nas actividades tradicionais de auxílio mútuo é<br />
importante porque mesmo quando ambos os sexos se envolv<strong>em</strong> numa actividade particular, as<br />
mulheres participam mais que os homens. No caso de Matsoni/Xivunga e Xitique, todos os<br />
respondentes do estudo salientaram que apenas as mulheres participam. Isto enfatiza o papel<br />
importante que a mulher joga na garantia das necessidades básicas de subsistência do seu<br />
agregado familiar.<br />
Uma das práticas tradicionais mais severamente afectadas pela guerra é o kuvekela (Gaza)<br />
ou ovaliha (Nampula), pela qual os m<strong>em</strong>bros mais jovens ou pobres da comunidade pod<strong>em</strong><br />
cuidar do gado de outras pessoas e <strong>em</strong> troca, receber parte das crias. Tradicionalmente, acumular<br />
gado era o maior objectivo na vida de muitos habitantes das zonas rurais no sul de <strong>Moçambique</strong><br />
e muitas parte do centro e norte do país, uma vez que muito gado representava riqueza e<br />
assegurava a habilidade de participar <strong>em</strong> cerimónias (casamento, funeral), sendo a venda do gado<br />
a maior estratégia de sobrevivência para os agregados familiares <strong>em</strong> dificuldades. A posse de<br />
gado estava muito associada ao nível de respeito dado a um idoso na comunidade. A destruição<br />
massiva e roubo de gado é um dos legados mais duros da guerra. A expansão desta actividade<br />
é severamente limitada <strong>em</strong> alguns locais pela insuficiência de gado de reprodução.<br />
No geral, o papel potencial das práticas tradicionais de apóio mútuo na assistência aos<br />
m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis da comunidade é consideravelmente limitado dada a natureza de<br />
muitas destas actividades, exigindo muitas uma certa capacidade de realizar trabalho físico e<br />
t<strong>em</strong>po livre suficiente para realizar tarefas adicionais. Claramente, os m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis<br />
(idosos, deficientes, doentes, mulheres grávidas e a amamentar ou que tenham crianças menores)<br />
tend<strong>em</strong> frequent<strong>em</strong>ente a ser excluídos de muitas destas práticas porque falta-lhes capacidade<br />
física de participar, ou têm capacidade física, mas falta-lhes t<strong>em</strong>po devido às responsabilidades<br />
domésticas, particularmente as associadas com o cuidado das crianças.<br />
Em caso de grandes calamidades (secas e cheias), a intervenção de fora da comunidade<br />
é normalmente através do DPCCN <strong>em</strong> colaboração com um conjunto de instituições não-<br />
governamentais, tais como o Programa Mundial de Alimentação e a Cruz Vermelha. Os<br />
m<strong>em</strong>bros das comunidades não souberam as vezes distinguir entre as várias organizações durante<br />
o período de <strong>em</strong>ergência, mas é claro que nas comunidades rurais estudadas, registou-se um<br />
declínio no nível de assistência exterior desde o fim da <strong>em</strong>ergência <strong>em</strong> 1996.<br />
Embora reconhecendo a existência de grupos vulneráveis, a vontade específica da<br />
comunidade de atender a questão da pobreza e vulnerabilidade varia de área para área. Visto que<br />
durante o período de guerra, existiram muitas organizações que distribuíram alimentação, roupa<br />
e utensílios gratuitos, as vezes distribuídos a toda a comunidade, a dificuldade <strong>em</strong> as<br />
comunidades priorizar<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> é mais necessitado é exacerbada pela elevada expectativa <strong>em</strong><br />
339
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
algumas comunidades de que todos deveriam ser beneficiados. Se tais comunidade não<br />
concordam que os beneficiários merec<strong>em</strong> a assistência direccionada, os m<strong>em</strong>bros da comunidade<br />
pod<strong>em</strong> retirar qualquer apóio que poderiam estar a dar às pessoas pobres <strong>em</strong> questão, talvez até<br />
deixando-as numa situação pior. Visto que muitos dos que estão <strong>em</strong> melhor situação nas zonas<br />
rurais só recent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong>ergiram eles próprios da situação de vulnerabilidade durante os anos<br />
de guerra, é compreensível que a vontade de apoiar os mais vulneráveis ao nível comunitário<br />
também <strong>em</strong>erge paulatinamente.<br />
Em geral, as instituições religiosas são frequent<strong>em</strong>ente vistas como forças positivas para<br />
encorajar o auxílio mútuo, dando educação moral e contribuindo para a redução da criminalidade.<br />
Nas zonas sob influência da religião Islámica, existe um movimento de acção social significativo<br />
que se desenvolve <strong>em</strong> redor das mesquitas, através do sist<strong>em</strong>a de dar algo aos m<strong>em</strong>bros pobres<br />
e mais vulneráveis da comunidade às sextas-feiras, quer sejam ou não crentes.<br />
Ad<strong>em</strong>ais, enquanto as comunidades esperam que as famílias cuid<strong>em</strong> dos seus m<strong>em</strong>bros<br />
do agregado vulneráveis, o nível de assistência exigido está limitado à garantia das necessidades<br />
básicas do m<strong>em</strong>bro <strong>em</strong> termos de alimentação e habitação, s<strong>em</strong> expectativas adicionais como a<br />
educação formal e treinamento <strong>em</strong> habilidades profissionais.<br />
Portanto, permanece uma considerável necessidade de desenvolvimento de estratégias<br />
para assistir as comunidades na reconstrução do seu capital social, encorajando o reconhecimento<br />
dos m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis das suas comunidades e a criação de formas inovativas para as<br />
comunidades reforçar<strong>em</strong> os seus laços sociais. .<br />
Dentro das comunidades rurais, as famílias imediatas eram responsáveis pela assistência<br />
aos seus m<strong>em</strong>bros deficientes. Poucos deficientes viviam sós. Todas as comunidades <strong>em</strong> todas<br />
as áreas indicaram que as crianças órfãs eram assistidas pelos parentes. Em Maputo, vizinhos<br />
das crianças desamparadas acabam ocasionalmente cuidando delas. Contudo, <strong>em</strong>bora não<br />
mencionado pelos participantes na pesquisa, muitas instituições estão envolvidas na prestação<br />
de cuidados aos órfãos, particularmente próximo dos maiores centros urbanos <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
Dos três grupos estudados, os idosos enfrentam mais a desagregação dos padrões<br />
tradicionais de apóio social. A maioria dos que acumularam bens activos, especialmente gado,<br />
durante o t<strong>em</strong>po da sua vida activa, perderam esta riqueza acumulada durante a guerra. Ad<strong>em</strong>ais,<br />
nas províncias fort<strong>em</strong>ente afectadas pela guerra, muitas famílias foram separadas devido à guerra<br />
e os que se refugiaram nos centros urbanos ou países vizinhos, decidiram lá permanecer.<br />
Portanto, particularmente nas zonas rurais e urbanas com população reassentada, muitos idosos<br />
perderam as suas fontes potenciais de apóio social, os seus filhos .<br />
Os idosos fisicamente capazes continuam a contribuir para o seu auto-sustento,<br />
cultivando as suas machambas e no caso das mulheres, buscando água e lenha. Contudo, os<br />
incapazes de fazer o mesmo, são muitas vezes dependentes de parentes e vizinhos que às vezes<br />
não pod<strong>em</strong> oferecer apóio significativo, especialmente <strong>em</strong> zonas negativamente afectadas pela<br />
guerra.<br />
Dado que é mais fácil para um idoso casar de novo uma mulher jov<strong>em</strong> do que uma idosa<br />
encontrar um novo marido, as idosas tend<strong>em</strong> a viver mais sós do que os idosos. A perda do<br />
340
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
esposo pode levar uma mulher idosa à pobreza, particularmente no sul de <strong>Moçambique</strong> se a<br />
família optar por reclamar o direito à herança. Todavia, a evidência deste estudo de caso indica<br />
que a maioria das mulheres idosas mantiveram as suas machambas e a maioria dos bens do<br />
agregado familiar. As mulheres idosas que viv<strong>em</strong> sós estão também sob o risco de ser<strong>em</strong><br />
acusadas de feitiçaria se alguém na comunidade morre ou fica seriamente doente.<br />
Ao focalizar sobre três sub-grupos da população comumente classificados como sendo<br />
vulneráveis, mulheres com crianças menores de cinco anos de idade, pessoas deficientes, e<br />
idosos, a capacidade das redes sociais existentes fora do agregado imediato foi determinado pela<br />
medição da frequência das trocas para dentro e para fora que ocorreram no ano anterior,<br />
realçando com qu<strong>em</strong> as transacções ocorreram. Em média, o número total de laços fora da<br />
família imediata para esta amostra é surpreendent<strong>em</strong>ente baixo e este resultado indica uma forte<br />
dependência sobre os m<strong>em</strong>bros da família nuclear como principal fonte de apóio.<br />
Exist<strong>em</strong> diferenças regionais consideráveis, como o número de laços maior no sul que<br />
no norte e para as mulheres com crianças menores e idosos. Isto pode reflectir a grande auto-<br />
suficiência na produção agrícola constatada nos agregados familiares do norte que nos do sul,<br />
diferenças culturais e diferenças nas taxas de participação no comércio e <strong>em</strong>igração. De algum<br />
modo espantoso, <strong>em</strong> cada região, os laços urbanos são maiores que os rurais.<br />
De entre os três grupos alvos considerados, as mulheres com crianças menores têm o<br />
maior número médio de laços. Pelo contrário, não surpreende que os idosos e deficientes tenham<br />
mais laços pelos quais receb<strong>em</strong> coisas, do que laços pelos quais dão coisas.<br />
A importância das oportunidades disponíveis para ganhar rendimento está reflectida no<br />
número de laços que o indivíduo é capaz de ter com pessoas fora da família imediata. Resultados<br />
da simulação de casos extr<strong>em</strong>os de pessoas que não têm laços para dentro e para fora com os<br />
factores que pod<strong>em</strong> influenciar o número de laços, a educação, religião, t<strong>em</strong>po de residência, ter<br />
sido deslocado durante a guerra e variáveis sobre o nível de riqueza não se mostraram como<br />
sendo factores estatisticamente significativos. Acesso a rendimentos do <strong>em</strong>prego, quer<br />
directamente quer através de um m<strong>em</strong>bro da família imediata, foi o factor explicativo mais<br />
importante por detrás da existência de laços mínimos para além da família nuclear.<br />
Em muitas áreas, os laços para além da família imediata são fracos. Sendo provável que<br />
as tendências actuais na monetização das relações sociais irá continuar, a chave para a<br />
reconstrução das redes de apóio social é a continuação do crescimento económico e a provisão<br />
de <strong>em</strong>pregos para apoiar as famílias na sua própria capacidade de assistir aos m<strong>em</strong>bros mais<br />
vulneráveis de entre eles. Atenção especial deve ser dada às necessidades especiais na assistência<br />
aos deficientes e idosos s<strong>em</strong> níveis substantivos de apóio familiar, a sensibilização das<br />
comunidades para a contribuição positiva que os grupos vulneráveis pod<strong>em</strong> dar às suas<br />
comunidades e a continuada melhoria das infra-estruturas dos serviços sociais básicos (serviços<br />
de saúde e educação) para aumentar o capital humano que é a base para a manutenção e melhoria<br />
das relações sociais.<br />
6.9. Recomendações de Políticas<br />
341
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Na base da discussão anterior, nove áreas para uma acção concreta <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> para o<br />
reforço das redes informais de protecção social por parte do Governo e outras instituições<br />
interessadas na acção social, nomeadamente:<br />
6.9.1. Reforço dos Laços R<strong>em</strong>anescentes através da Geração de Emprego, Particularmente nas<br />
Zonas Rurais<br />
Os laços familiares são difíceis de manter se o contacto não é frequente e envolve<br />
elevados custos de transacção. A falta de oportunidades de <strong>em</strong>prego nas zonas rurais encoraja<br />
a <strong>em</strong>igração, particularmente entre os m<strong>em</strong>bros fisicamente capazes das comunidades. Embora<br />
a <strong>em</strong>igração possa ser benéfica na provisão de rendimento adicional para a família se o <strong>em</strong>igrante<br />
encontra <strong>em</strong>prego, a <strong>em</strong>igração <strong>em</strong> larga escala dos homens distorce a estrutura da comunidade,<br />
restringindo a capacidade dos m<strong>em</strong>bros r<strong>em</strong>anescentes do agregado familiar de cultivar terra<br />
suficiente, intensificar o uso de insumos e produzir excedentes agrícolas. Ad<strong>em</strong>ais, se a<br />
<strong>em</strong>igração se tornar permanente, os níveis de assistência pod<strong>em</strong> diminuir ao longo do t<strong>em</strong>po,<br />
resultando <strong>em</strong> maior insegurança alimentar, probl<strong>em</strong>as domésticos e até abandono.<br />
A habilidade de manter laços recíprocos, pelos quais um indivíduo pode dar e também<br />
receber trocas, está intimamente ligada à habilidade de usar o trabalho físico, criar excedente de<br />
produção e estabelecer diversas fontes de rendimento. Os principais factores correlacionados<br />
com a capacidade dos laços sociais fora do agregado familiar imediato, foram os relacionados<br />
com o <strong>em</strong>prego: ter um m<strong>em</strong>bro do agregado familiar num <strong>em</strong>prego assalariado, ter alguém<br />
trabalhando fora do país, fazer o ganho-ganho, produzir bebidas tradicionais e fazer pequenos<br />
negócios.<br />
A política mais efectiva para reforçar os laços r<strong>em</strong>anescentes e melhorar a capacidade<br />
social dentro do país é a geração de oportunidades de <strong>em</strong>prego. Programas de dinheiro por<br />
trabalho para construir estradas e outras infra-estruturas, melhor acesso aos mercados para<br />
adquirir insumos agrícolas e vender os excedentes nas zonas rurais para estancar o êxodo da mão-<br />
de-obra e reforçar a capacidade do agregado familiar de participar e manter as suas redes sociais.<br />
Ao impl<strong>em</strong>entar políticas desenhadas para melhorar as oportunidades de <strong>em</strong>prego, os fazedores<br />
de políticas dev<strong>em</strong> ter consciência de que as necessidades dos grupos vulneráveis estão cobertas.<br />
Se não, dev<strong>em</strong> ser feitas tentativas de modificar o desenho do projecto para a sua inclusão s<strong>em</strong>pre<br />
que se mostrar viável.<br />
6.9.2. Melhoria de Infra-estruturas para Facilitar a Transferência de Recursos e Comunicação<br />
entre Parentes<br />
Dados os seus recursos limitados, não é realístico que o Estado considere uma expansão<br />
do programa urbano de transferência de dinheiro aos grupos vulneráveis para as zonas rurais<br />
onde o custo de transferência (custos administrativos) por beneficiário será significativamente<br />
alto. Para além da geração do <strong>em</strong>prego, a concentração deveria ser sobre a melhoria das infra-<br />
342
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
estruturas que irão facilitar a transferência de recursos entre parentes e o estabelecimento de<br />
instituições de poupança. Existe um papel claro para um serviço postal efectivo com facilidades<br />
bancárias mínimas para facilitar transferências monetárias urbanas-rurais e externas-internas<br />
assim como encorajar a poupança como segurança contra eventos inesperados.<br />
6.9.3. Desenvolvimento de Projectos Inovativos que Encorajam as Comunidades a<br />
Apoiar<strong>em</strong> os M<strong>em</strong>bros mais Vulneráveis da sua Sociedade<br />
Desenhos de projectos inovativos que encorajam as comunidades a apoiar<strong>em</strong> os m<strong>em</strong>bros<br />
mais vulneráveis da sua sociedade são necessários. Um estudo de caso interessante é o projecto<br />
de crédito <strong>em</strong> Tete impl<strong>em</strong>entado pela ONG HELPAGE <strong>em</strong> que o crédito atribuído para<br />
desenvolver projectos de geração de rendimentos é alocado aos jovens fisicamente capazes, mas<br />
o juro pago sobre o <strong>em</strong>préstimo vai para um fundo de acção social para assistir aos idosos da<br />
aldeia. Os responsáveis pelo fundo de acção social decid<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> de entre os idosos se encontra<br />
<strong>em</strong> extr<strong>em</strong>a necessidade de assistência e o que deverá ser tal assistência da (por ex<strong>em</strong>plo<br />
reparação da casa, compra de alimentação). Outros aspectos do projecto que encorajam a<br />
reconstrução do capital social refer<strong>em</strong>-se ao facto de as pessoas idosas colaborar<strong>em</strong> com as<br />
crianças da escola <strong>em</strong> iniciativas de plantação de árvores.<br />
6.9.4. Melhorar o Serviço de Pagamento das Pensões Existentes e outros Pacotes de Assistência<br />
Social<br />
A melhoria dos serviços de distribuição deveria incluir mecanismos de pagamento de<br />
pensões e outros benefícios sociais. Por ex<strong>em</strong>plo, os deficientes ex-militares que receb<strong>em</strong><br />
pensões significativas (3 a 4 vezes o valor do salário mínimo) <strong>em</strong> Maputo eram capazes de<br />
garantir a sua segurança alimentar e <strong>em</strong> alguns casos estava <strong>em</strong> processo de construção de casas<br />
de habitação permanentes. Todavia, haviam custos de transacção significativos para receber<strong>em</strong><br />
a sua pensão mensalmente, visto que os transportadores privados as vezes cobravam-lhes uma<br />
taxa extra devido à sua deficiência.<br />
Para ser<strong>em</strong> efectivos os pacotes de assistência social dev<strong>em</strong> reter o seu valor. A inflação<br />
t<strong>em</strong> desvalorizado o fundo urbano de transferência monetária para os idosos e deficientes a um<br />
ponto <strong>em</strong> que não t<strong>em</strong> um impacto significativo no b<strong>em</strong>-estar. Dada a grande proporção de<br />
deficientes e idosos com redes de apóio social extr<strong>em</strong>amente limitadas nos centros urbanos, a<br />
necessidade do apóio deverá provavelmente continuar num futuro próximo. Enquanto o actual<br />
programa está a ser reestruturado para melhorar o direccionamento e eficiência, ideias inovativas<br />
de financiamento (por ex<strong>em</strong>plo taxas sobre o luxo) dev<strong>em</strong> ser exploradas para assegurar a<br />
sustentabilidade a longo prazo.<br />
6.9.5. Reforço da Habilidade de Sobrevivência através do Re-estabelecimento da Posse de<br />
Gado<br />
A prática do kuvekelissa (cuidar do gado para <strong>em</strong> troca receber parte da procriação) só<br />
pode ser revigorada quando um número suficiente de animais estiver disponível na comunidade.<br />
343
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Muitos entrevistados indicaram o elevado custo e a fraca disponibilidade de animais como os<br />
maiores constrangimentos. Dada a importância cultural e económica do gado como protecção<br />
social, do mesmo modo que o seu papel essencial na diversificação da dieta (particularmente<br />
ovos e leite), grande ênfase deveria ser dada à expansão de programas para aumentar o número<br />
de cabeças de gado nas zonas rurais e peri-urbanas. Ad<strong>em</strong>ais, já que a criação de gado pode ser<br />
feita pelas pessoas fisicamente capazes <strong>em</strong> nome dos mais vulneráveis, aumentar a posse de gado<br />
pelos idosos, deficientes e outros grupos vulneráveis é uma forma de protecção social<br />
culturalmente aceitável.<br />
6.9.6. Ênfase nos Currículos de Formação de Professores e Profissionais do Serviço de Saúde<br />
sobre como Lidar com a Reintegração Social, Responder às Necessidades dos Grupos<br />
Vulneráveis e Reconstrução do Capital Social<br />
O estabelecimento de escolas especializadas e infra-estruturas para lidar com diferentes<br />
categorias de grupos vulneráveis (paralíticos, cegos, surdos, idosos) é extr<strong>em</strong>amente caro e por<br />
razões logísticas, tend<strong>em</strong> a estar orientados para as zonas urbanas. É muito questionável <strong>em</strong> que<br />
medida o Governo seria capaz de impl<strong>em</strong>entar iniciativas <strong>em</strong> larga escala nestas áreas. Todavia,<br />
uma grande proporção da população moçambicana foi traumatizada ou negativamente afectada<br />
pela guerra e os professores e profissionais de saúde necessitam de receber capacitação sobre<br />
como identificar e atender as necessidades dos grupos vulneráveis que vão encontrar. Ad<strong>em</strong>ais,<br />
como tais profissionais serão vistos como líderes <strong>em</strong> muitas das suas comunidades, um<br />
treinamento adicional deverá ser dado para apoiar as comunidades na reconstrução do seu capital<br />
social. Os grupos vulneráveis deveriam ser integrados no funcionamento normal do dia a dia da<br />
vida da comunidade (por ex<strong>em</strong>plo a frequência escolar dos jovens/crianças deficientes) s<strong>em</strong>pre<br />
que se mostrar viável e com salas especiais desenvolvidas dentro das instituições existentes<br />
s<strong>em</strong>pre que recursos adicionais for<strong>em</strong> obtidos.<br />
6.9.7. Estabelecimento de Parcerias Colaborativas com Organizações Não-Governamentais e<br />
Instituições Religiosas na Provisão de Serviços Sociais<br />
O desenvolvimento de métodos inovativos para revigorar as estruturas comunitárias e<br />
gerar <strong>em</strong>prego requererá recursos massivos. Ad<strong>em</strong>ais, os desafios de reabilitar efectivamente as<br />
infra-estruturas sociais assim como as infra-estruturas de comunidades culturalmente diversas<br />
requererá imensos recursos e um elevado nível de capacidade humana treinada para impl<strong>em</strong>entar<br />
os programas e políticas. Portanto, parcerias colaborativas entre o Estado e organizações não-<br />
governamentais e instituições religiosas, s<strong>em</strong>elhantes àquelas propostas por Thomson (1998),<br />
serão necessárias para providenciar serviços sociais adequados. O Estado deveria providenciar<br />
um ambiente regulamentar no qual as actividades direccionadas aos mais vulneráveis<br />
enfrentass<strong>em</strong> as mínimas barreiras burocráticas tanto durante o seu estabelecimento como<br />
durante a fase operacional.<br />
6.9.8. Identificação de Áreas Prioritárias de Intervenção, enfatizando o Direccionamento<br />
344
Geográfico<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
O Estado t<strong>em</strong> a responsabilidade de definir áreas prioritárias de intervenção para<br />
assegurar a utilização eficiente dos recursos limitados. Dado o ciúme aparente e a resposta<br />
negativa potencial aos programas direccionados a grupos vulneráveis específicos, atenção deveria<br />
ser dada à definição de áreas prioritárias para intervenção numa escala abrangente a ser definida<br />
<strong>em</strong> termos geográficos. Com efeito, áreas com população de retornados relativamente alta,<br />
deficientes, idosos abandonados ou aqueles vulneráveis á desnutrição severa deveriam ser<br />
identificados e classificados <strong>em</strong> termos de prioridades de intervenção, tomando <strong>em</strong> conta o<br />
número de potenciais beneficiários.<br />
6.9.9. Revisão das Leis que Proteg<strong>em</strong> Viúvas da Perda de Recursos Produtivos<br />
Evidências do estudo de caso indicam que as práticas tradicionais relativas ao tratamento<br />
da mulher depois da morte do cônjuge, que pod<strong>em</strong> incluir a perda do acesso aos meios produtivos<br />
de apóio assim como a usurpação dos activos acumulados, pode contribuir para o<br />
<strong>em</strong>pobrecimento das viúvas. Consideração deveria ser dada à revisão das leis para proteger as<br />
viúvas de tais perdas, com as subsequentes campanhas de educação para obter o apóio das<br />
comunidades.<br />
É óbvio que políticas consideráveis que desencorajam práticas tradicionais, as<br />
calamidades naturais e a guerra civil prolongada causaram a erosão do capital social e<br />
diminuíram a habilidade dos agregados familiares de apoiar os outros e assim como eles próprios<br />
sobreviver<strong>em</strong>. As recomendações de políticas propostas poderiam ajudar a suster as redes<br />
r<strong>em</strong>anescentes e espera-se, injectar recursos adicionais na comunidade para encorajar a expansão<br />
da reciprocidade <strong>em</strong> numerário e trocas não-monetárias que são a base das estratégias de<br />
sobrevivência tradicionais <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
345
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
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347
Percentagens na Cada Categoria<br />
Figura 1. Número de Laços de Qu<strong>em</strong> Recebe ou a Qu<strong>em</strong> Da<br />
Qualquer Coisa:<br />
Percentagens Por Grupo Alvo Que Teve Laços Durante o Ano<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
Mulheres com Crianças (184)...<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Passado<br />
36 32 27 25<br />
24<br />
28 29 24<br />
12 14 16<br />
Mulheres: Dar<br />
26 34<br />
Idosos (181): Receber<br />
Idosos: Dar<br />
19 31<br />
26<br />
30<br />
Deficientes (45): Receber<br />
18<br />
36<br />
16<br />
Deficientes: Dar<br />
Grupo Alvo Que Recebe ou Da<br />
348<br />
16<br />
18<br />
24<br />
42<br />
>6<br />
3-6<br />
1-2<br />
Nada
Figura 2. Percentagens dos Grupos Alvos Com Tipos de Laços<br />
Diferentes:<br />
S<strong>em</strong> Laços, Só Receber de Laços, Laços Reciprocas<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
SEM LAÇOS:<br />
ALIMENTOS<br />
DINHEIRO<br />
BENS<br />
MÃO-DE-OBRA<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
SÓ RECEBE DE LAÇOS,<br />
NUNCA DA<br />
ALIMENTOS<br />
DINHEIRO<br />
BENS<br />
MÃO-DE-OBRA<br />
349<br />
LAÇOS RECIPROCAS<br />
QUALQUER<br />
MULHERES COM<br />
CRIANÇAS (176)<br />
IDOSOS (164)<br />
DEFICIENTES (43)
Percentag<strong>em</strong> na Cada Categoria<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
80<br />
Pais<br />
2<br />
47<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Figura 3. Número de Laços com os Parentes Directos:<br />
Percentagens Com Pelo Menos Um Laço Por Grupo Alvo<br />
Mulheres com Crianças Idosos Deficientes<br />
65<br />
Irmão<br />
33<br />
56<br />
350<br />
59<br />
Irma<br />
35<br />
44<br />
9<br />
Filho>18 anos<br />
53<br />
33<br />
6<br />
Filha>18 anos<br />
57<br />
22
Percentagens Na Cada Categoria<br />
Figura 4. Número de Laços De Troca Com Pessoas Nas Zonas<br />
Rurais e Urbanas:<br />
Percentagens Por Localização do Estudo Que Teve Laços<br />
Durante O Ano Passado<br />
100%<br />
9 5<br />
11 9<br />
2<br />
90%<br />
20<br />
12 6<br />
4<br />
26<br />
35<br />
19<br />
80%<br />
43<br />
>6<br />
70%<br />
19<br />
32<br />
28<br />
31<br />
18<br />
60%<br />
3-6<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
29<br />
34<br />
3<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
57<br />
52 53 55<br />
3<br />
Gaza Nampula<br />
Maputo Nampula<br />
(Rural) (Rural)<br />
LAÇOS RURAIS<br />
Cidade Cidade<br />
LAÇOS URBANAS OU FORA DO PAIS<br />
351<br />
37<br />
21<br />
73<br />
42<br />
14<br />
1-2<br />
Nada
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.2: Características Chaves dos Sítios Seleccionados para o Estudo do Caso<br />
Sítios: Densidade de Racio de Tamanho Características Distintas<br />
Província/Distrito Comunidades População Homens/ Médio do<br />
2<br />
(Pessoas /Km ) Mulheres Agregado<br />
Familiar<br />
Rural: *100 kms de Xai-Xai, a capital provincial<br />
Gaza: Chibuto Muhambe *aldeias comunais desde 1977 por causa de cheias<br />
Guve-Guve 25,35 0,71 4,52 *fome <strong>em</strong> 1983; grande perda de gado durante a guerra<br />
*mais afectada pela guerra 1987/88; maioria deslocada até 1993<br />
*muitos homens trabalham fora do país<br />
*acesso a irrigação; mais infra-estrutura do que Manjacaze<br />
Gaza: Manjacaze Machachuvane 44,02 0,72 4,23 *mais pobre do que Chibuto; 78 kms de Xai-Xai, o capital provincial<br />
*mais afectada pela guerra 1984; maioria deslocada durante a guerra<br />
*agricultura depende de chuvas, castanha de caju<br />
Nampula: Rapale Namilisse *22 kms da cidade de Nampula, t<strong>em</strong> acesso à cidade<br />
Massiguassa 28,77 0,98 3,62 *interior, maior parte das pessoas são de linhagen matrilinear<br />
*agricultura de subsistência e comercial, e o comércio informal<br />
*não há muita actividade de ONG’s ; mais afectada pela guerra <strong>em</strong> 1985<br />
Nampula: Mossuril Sawa-Sawa *mais pobre do que Rapale; 175 kms da cidade de Nampula<br />
Namitine 24,21 1,02 3,77 *costeiro, maioria muçulmana, sist<strong>em</strong>a patrilinear<br />
*não exist<strong>em</strong> infra-estruturas sociais e económicas; destruída 1990 (guerra)<br />
*graves carências de transporte; ciclone Nádia <strong>em</strong> 1994; existência de<br />
ONG’s é quase nula<br />
*pesca, agricultura de subsistência, comerciantes ambulantes<br />
Urbano: *Luis Cabral na cidade própria; alta densidade de população<br />
Cidade de Maputo Luis Cabral *Mahotas nos subúrbios: agricultura mais importante; menos densidade<br />
Mahotas 3220,00 1,08 5,34 *a guerra nunca aconteceu dento da cidade<br />
Cidade de Nampula Muatula *mais pobre do que a Cidade de Maputo<br />
Murrapaniwa 953,13 0,95 4,62 *depende de agricultura e trabalho assalariado na cidade<br />
*mais afectada pela guerra <strong>em</strong> 1988; ciclone Nádia <strong>em</strong> 1994<br />
352
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.3: Percentag<strong>em</strong> de Casos da Fonte de Rendimento Mais Importante Por Local e Por Grupos Alvos<br />
Local Grupos Alvos<br />
Fonte de Rendimento Mais<br />
Importante<br />
Rural<br />
Gaza<br />
Urbano<br />
Maputo<br />
Rural<br />
Nampula<br />
Urbano<br />
Nampula<br />
Mulheres<br />
com<br />
Crianças<br />
Idosos Deficientes<br />
Total<br />
da<br />
Amostra<br />
Número de casos 133 71 107 70 178 157 46 381<br />
Venda de produtos agrícolas (1) 9,0 11,3 75,7 45,7 34,3 36,9 30,4 34,9<br />
Salário próprio 12,0 33,8 2,8 15,7 19,7 7,6 15,2 14,2<br />
Transferências 18,8 7,0 0,9 7,2 11,8 7,6 6,5 9,4<br />
Ganho-Ganho 14,5 5,6 2,8 7,1 5,1 9,5 15,2 8,4<br />
Pensão 1,5 15,5 3,7 7,1 2,8 6,4 15,2 5,7<br />
Salário de outra pessoa 7,5 11,3 0,9 2,9 6,2 5,7 2,2 5,5<br />
Venda de Aguardente 9,8 4,2 0,9 2,9 3,9 7,6 0 5,0<br />
Venda de Castanha 7,5 0 0 1,4 2,8 3,8 0 2,9<br />
Pequenos Negócios 0 7,0 3,7 1,4 3,4 1,9 2,2 2,6<br />
Venda de Galinha 6,0 0 0,9 0 3,4 1,3 2,2 2,4<br />
Conta própria 3,8 1,4 0,9 2,8 1,7 3,2 2,2 2,3<br />
Apoio de filhos/vizinhos 2,3 1,4 1,9 1,4 0 3,2 4,4 1,9<br />
Pesca 0,8 0 4,7 0 3,4 0 0 1,6<br />
Trabalho artesanal 2,3 0 0 1,4 0,6 1,9 0 1,0<br />
Trabalho de construção 2,3 0 0 0 0,6 1,9 0 0,8<br />
Venda /material construção construção 1,5 0 0 0 0,6 0 2,2 0,5<br />
Dinheiro do GAPVU 0 0 0 2,9 0 1,3 0 0,5<br />
Arrendar tracção animal 0,8 0 0 0 0 0,6 0 0,3<br />
Alugar casas 0 1,4 0 0 0 0,6 0 0,3<br />
(1) Produtos agrícolas não especificados, excluíndo castanha de caju<br />
353
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.4: Percentag<strong>em</strong> de Índices de Habitação e Posse de Bens por Local e Grupos Alvos<br />
Local Grupos Alvos Total<br />
Gaza Maputo Nampula Nampula Mulheres Idosos Deficientes da<br />
Rural Urbano Rural Urbano Crianças Amostra<br />
QUALIDADE DE HABITAÇÃO # casos 141 71 127 73 184 182 46 412<br />
PR RST QS PQT<br />
Média 1019 1419 1029 1106 1119 1099 1086 1106<br />
Percentag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Quartis: Mais Baixo (1) 34 3 36 16 24 28 26 26<br />
(2) 27 6 28 32 23 26 24 24<br />
(3) 28 16 27 23 24 23 30 24<br />
Mais Alto (4) 11 76 9 29 28 23 20 25<br />
POSSE DE BENS # casos 140 71 124 72 181 180 46 407<br />
ABE CDE AC BD F F<br />
Média 216 363 91 146 228 158 174 191<br />
Percentag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Quartis: Mais Baixo (1) 21 13 31 18 20 23 26 22<br />
(2) 23 11 40 26 24 29 24 26<br />
(3) 23 25 27 32 22 33 24 26<br />
Mais Alto (4) 33 51 2 24 34 16 26 25<br />
POSSE DE BENS E GADO # casos 140 71 123 71 180 180 45 405<br />
VU XZ VZ UX P P<br />
Média 334 385 102 157 290 199 219 241<br />
Percentag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Quartis: Mais Baixo (1) 14 16 39 28 22 28 22 24<br />
(2) 17 14 36 24 19 28 22 24<br />
(3) 26 30 22 35 29 24 31 27<br />
Mais Alto (4) 42 41 3 13 30 20 24 25<br />
* (a, b, c, ...) Letras iguais, médias significativamente diferentes a um nível de significância de 0.05, usando o teste estatístico Oneway.<br />
354
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Table 6.5: Actividades/Práticas Tradicionais de Ajuda Mútua<br />
ACTIVIDADE EM GAZA EQUIVALENTE FORMA DE<br />
EM NAMPULA PAGAMENTO<br />
KURHIMELA: Actividade que consiste <strong>em</strong> um indivíduo THÔTHÔTHO<br />
necessitando de fontes de rendimentos (adicionais ou não)<br />
ofereça t<strong>em</strong>porariamente e para uma actividade especifica<br />
a sua mão-de-obra a outr<strong>em</strong> <strong>em</strong> troca de dinheiro,<br />
alimentos ou outros bens. Normalmente, trata-se de<br />
trabalho realizado <strong>em</strong> actividades agrícolas (lavoura, sacha,<br />
s<strong>em</strong>enteira, colheita, etc.)<br />
KURHIMELISSA: Actividade que consiste <strong>em</strong> alguns IDEM<br />
agregados familiares necessitando de mão-de-obra<br />
adicional nas suas machambas, contratar<strong>em</strong><br />
t<strong>em</strong>porariamente e para um trabalho específico indivíduos<br />
a título particular para realizar<strong>em</strong> diversas actividades<br />
(lavoura, sacha, s<strong>em</strong>enteira, colheita, etc.). É o Kurhimela,<br />
visto na óptica de qu<strong>em</strong> contrata a mão-de-obra.<br />
KUTHEKELA: Actividade que consiste <strong>em</strong> que Não Existe<br />
indivíduos de uma determinada aldeia onde haja escassez<br />
de alimentos <strong>em</strong>igr<strong>em</strong> para outras onde haja abundância<br />
para trabalhar<strong>em</strong> t<strong>em</strong>porariamente nas machambas <strong>em</strong><br />
troca de alimentos.<br />
GANHO-GANHO: Actividade que consiste <strong>em</strong> um PWATI (mais<br />
indivíduo necessitando de fontes de rendimentos casual)<br />
(adicionais ou não) ofereça t<strong>em</strong>porariamente e para um GANHO-GANHO<br />
trabalho específico a sua mão-de-obra a outr<strong>em</strong> <strong>em</strong> troca<br />
de dinheiro, Normalmente, trata-se de trabalho realizado<br />
<strong>em</strong> qualquer área de actividades (agrícola, busca de água,<br />
abertura de poços, construção de casa, etc.) e geralmente é<br />
pago <strong>em</strong> dinheiro, <strong>em</strong>bora não exclua outras formas de<br />
pagamento.<br />
TSIMA: Actividade <strong>em</strong> que um indivíduo ou agregado NTIMO<br />
familiar necessitando de mão-de-obra adicional <strong>em</strong> grande MUKHUMI<br />
quantidade nas suas machambas ou outra área de<br />
actividade não agrícola convidam pessoas da comunidade,<br />
parentes ou não, a apoiar<strong>em</strong> na realização de um trabalho<br />
específico, tendo como recompensa a oferta de uma<br />
refeição conjunta e bebida (alcoólica ou não), a qual<br />
termina numa festa de confraternização entre os<br />
participantes.<br />
MATSONI/TSONI: Actividade que consiste <strong>em</strong> duas HOLIMIHANA<br />
pessoas ligadas por relações de amizade troqu<strong>em</strong> mão-deobra<br />
nas suas machambas, isto é, alternam o trabalho nas<br />
suas machambas, acabando por ser trabalho pago por<br />
trabalho.<br />
XIVUNGA: Actividade que consiste <strong>em</strong> duas famílias ou HOLIMIHANA<br />
dois indivíduos ligados por relações de amizade troqu<strong>em</strong><br />
mão-de-obra nas suas machambas, isto é, alternam o<br />
trabalho nas suas machambas, acabando por ser trabalho<br />
pago por trabalho . É o Matsoni denominado mais por<br />
Xivunga <strong>em</strong> Manjacaze.<br />
355<br />
Numerário e<br />
Espécie<br />
Numerário e<br />
Espécie<br />
Alimentos<br />
Numerário<br />
Refeição<br />
conjunta<br />
acompanhada de<br />
bebidas<br />
alcoólicas ou<br />
apenas bebida<br />
Mão-de-obra<br />
Mão-de-obra
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Table 6.5: Actividades/Práticas Tradicionais de Ajuda Mútua<br />
ACTIVIDADE EM GAZA EQUIVALENTE FORMA DE<br />
EM NAMPULA PAGAMENTO<br />
KUVEKELISSA: Actividade <strong>em</strong> que um indivíduo ou OVALIHA<br />
agregado familiar entrega seus animais domésticos à<br />
guarda de outra família que não tenha tais animais e<br />
pretende iniciar a actividade de criação, ou a uma família<br />
que esteja especializada na criação de tais animais. Como<br />
recompensa, a pessoa que cuida dos animais t<strong>em</strong> direito a<br />
receber parte dos animais procriados durante o período <strong>em</strong><br />
que esta relação decorrer.<br />
KUVEKELISIWA: Kuvekhelissa, visto na óptica de OVALIHA<br />
qu<strong>em</strong> recebe os animais para guarda.<br />
XITIQUE: É uma espécie de sist<strong>em</strong>a de poupança e<br />
crédito informal que não inclui o conceito de juro, <strong>em</strong> que<br />
duas ou mais pessoas, na base confiança mútua gerada de<br />
relações de amizade ou profissionais financiam-se<br />
mutuamente e de forma rotativa, numa base diária, s<strong>em</strong>anal<br />
ou mensal num determinado montante fixo. A pessoa a<br />
qu<strong>em</strong> cabe a vez de receber o financiamento, usa-o<br />
normalmente para adquirir bens duráveis ou bens que<br />
exig<strong>em</strong> um esforço financeiro que os seus rendimentos não<br />
permit<strong>em</strong> cobrir de uma única vez, <strong>em</strong>bora não sejam de<br />
excluir outras opções.<br />
356<br />
Animais<br />
Animais<br />
Numerário
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.6: Evolução das Práticas Tradicionais<br />
1<br />
ANTES DA INDEPENDÊNCIA DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA COMUM ESTES<br />
(%) (antes do fim da Guerra) DIAS<br />
LOCAL / ACTIVIDADE TAMANHO (%) (%)<br />
TRADICIONAL DA<br />
AMOSTRA MUITO UM<br />
POUCO<br />
NÃO MUITO UM<br />
POUCO<br />
NÃO SIM NÃO<br />
GAZA-Rural<br />
-Kurhimela 123 22 49 6 53 28 3 90 10<br />
1<br />
-Tsima 131 64 14 2 29 53 2 86 14<br />
-Kurhimelissa 47 38 40 2 45 36 2 89 8<br />
1<br />
-Matsoni 37 51 24 0 43 35 3 83 17<br />
-Kuvekelissa 28 75 14 0 43 54 0 63 37<br />
1<br />
-Xivunga 25 36 36 4 44 36 0 88 12<br />
1<br />
-Kuvekeseliwa 18 67 6 6 44 28 11 83 17<br />
-Xitique 10 0 4 0 10 0 0 89 11<br />
Maputo-Cidade<br />
-Xitique 45 16 29 0 36 18 0 93 7<br />
-Kurhimela 6 27 27 4 15 42 0 65 35<br />
Nampula-Rural<br />
1<br />
-Ntimo 32 69 16 6 53 41 0 61 39<br />
-Thôthôto 26 27 12 4 54 8 0 91 10<br />
1<br />
-Mukhume 4 50 0 0 0 0 0 100 0<br />
Nampula-Cidade<br />
1<br />
-Ntimo 31 58 26 0 45 32 3 69 31<br />
-Thôthôto 29 31 48 0 66 21 3 82 18<br />
-Ganho-Ganho 7 43 27 0 29 57 0 14 86<br />
1 -Mukhume<br />
Trabalho "não-r<strong>em</strong>unerado"<br />
6 67 17 0 67 17 0 50 50<br />
357
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.7: Práticas Relativas ao Lobola (Gaza) e Mahari (Nampula)<br />
Local (%) Grupos Alvos (%)<br />
Rural: Urbano: Rural: Urbano: Mulheres Idosos Deficientes<br />
Gaza Maputo Nampula Nampula com<br />
Crianças<br />
Responsável pelo Pagamento de Lobolo Antigamente<br />
Número de casos 137 63 47 32 122 127 30<br />
Noivo 65 91 28 25 58 64 50<br />
Família do noivo 1 3 43 31 16 11 3<br />
País do noivo 29 2 13 6 20 13 27<br />
Noivo com ajuda 2 0 4 0 2 2 0<br />
Não se paga lobolo 0 0 13 34 0 4 2<br />
Responsável pelo Pagamento de Lobolo Actualmente<br />
Número de casos 137 63 47 32 122 127 30<br />
Noivo 95 98 48 41 84 81 85<br />
Família do noivo 0 0 25 47 7 9 11<br />
País do noivo 3 2 17 12 7 7 0<br />
Noivo com ajuda 1 0 3 0 1 2 0<br />
Não se paga lobolo 0 0 5 0 2 0 0<br />
Recebe Ajuda de Outras Fontes<br />
Número de casos 137 65 45 13 121 115 24<br />
Sim 28 22 44 77 21 20 33<br />
Não 72 78 56 23 79 80 67<br />
Quando Casou Todo o Lobolo/Mahari foi Pago<br />
Número de casos 136 67 77 30 150 130 30<br />
Sim 73 54 66 53 49 83 67<br />
Não 27 46 34 47 51 17 33<br />
358
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.8: Participação nas Actividades Tradicionais<br />
ACTIVIDADE<br />
PARTICIPAÇÃO POR CATEGORIA PARTICIPAÇÃO POR NÍVEL DE BEM-<br />
ESTA<br />
Mulheres com Idosos Deficientes: Ricos Pobres<br />
Criança:<br />
Casos % Casos % Casos % Casos % Casos %<br />
Kurhimelissa 25 36 17 52 5 40 47 83 47 21<br />
Kurhimela 68 59 66 42 15 20 149 15 149 95<br />
Thothoto/Ganho-Ganho 27 30 28 18 7 29 63 3 63 76<br />
Tsima/Ntimo 83 52 92 28 21 29 196 51 196 86<br />
Matsone/Xivunga/Mukhume/Otheka 44 64 25 40 5 60 74 45 74 92<br />
Xitique 32 34 14 15 9 0 55 89 55 53<br />
Kuvhekelissa/Kuvekhesseliwa 17 65 22 41 9 44 48 79 48 85<br />
Apoio Funerário 51 90 36 81 16 75 103 88 103 87<br />
359
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.9: Nível de Participação por Género<br />
TAMANHO QUEM NORMALMENTE PARTICIPA TAMANHO QUEM PARTICIPA MAIS<br />
PRATICA TRADICIONAL DA (%) DA (%)<br />
AMOSTRA AMOSTRA<br />
HOMENS MULHERES AMBOS HOMENS MULHERES IGUAL<br />
Kurhimela/ Xitoco 149 7 16 83 127 6 80 15<br />
Kurhimelissa 47 2 21 77 38 13 55 32<br />
Kuthekela 3 0 100 0 0 - - -<br />
Ganho-Ganho 7 0 14 86 6 17 83 -<br />
Thôthôtho/ Pwati 56 18 2 80 43 67 12 21<br />
Tsima 133 2 13 85 115 13 76 10<br />
Ntimo 63 6 5 89 61 34 28 38<br />
Mukhumi/Otheka 10 10 10 80 8 25 25 50<br />
Xivunga 25 4 52 44 14 7 71 21<br />
Matsoni/ Holimihana 38 0 55 45 26 0 85 16<br />
Xitique 54 35 65 65 36 3 69 22<br />
Kuvekeseliwa 20 15 5 80 17 24 35 41<br />
Kuvekelissa 28 0 0 100 27 26 37 37<br />
360
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.10: Consequências de Morte de Ganha-Pão<br />
(Percentagens Por Género do Idoso)<br />
Sexo Masculino Sexo F<strong>em</strong>inino<br />
361<br />
Casos % Casos %<br />
Viveu num Agregado onde Faleceu um<br />
Importante Ganha-Pão?<br />
Sim 11 69 65 97<br />
Não 5 31 2 3<br />
Qu<strong>em</strong> Faleceu?<br />
Esposa 5 45 - -<br />
Filha 6 55 0 0<br />
Esposo - - 65 100<br />
A Família Recebeu Ajuda?<br />
Sim 9 82 51 79<br />
Não 2 18 13 21<br />
Com Qu<strong>em</strong> Ficaram as Machambas?<br />
Esposo (o entrevistado) 6 56 - -<br />
Esposa (a entrevistada) - - 43 69<br />
Esposa e Filhos - - 6 10<br />
Familiar 0 0 5 8<br />
Irmão 3 27 1 2<br />
Outros Parentes 2 18 7 11<br />
Com Qu<strong>em</strong> Ficaram os Bens?<br />
Esposo (o entrevistado) 6 55 - -<br />
Esposa (a entrevistada) - - 34 54<br />
Esposo(a) e Filhos 1 9 12 19<br />
Familiar 1 9 7 11<br />
Irmão 0 0 2 3<br />
Outros 3 27 8 13<br />
Mudou de residência?<br />
Sim 2 18 21 33<br />
Não 9 82 43 67
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.11: Número de Laços Activos (Durante o Ano Passado) de Receber de Alguém ou a Dar a Alguém Qualquer Coisa:<br />
Média e Percentagens Por Grupo Alvo<br />
Laços Totais: Receber ou Dar Ligações: Receber Ligações: Dar<br />
% % %<br />
Categoria: Média Nada 1-2 3-6 >6 Média Nada 1-2 3-6 >6 Média Nada 1-2 3-6 >6<br />
MULHER COM CRIANÇA 184 4,29 11 27 26 36 3,98 12 28 24 36 3,86 14 29 26 32<br />
Gaza-Rural 64 5,59 2 19 31 48 5,25 2 19 28 52 4,79 6 20 31 42<br />
Maputo Cidade -Urbano 29 6,24 0 7 31 62 5,82 0 10 34 55 5,75 0 10 38 52<br />
Nampula - Rural 61 2,36 26 44 13 16 2,16 30 43 13 15 2,18 28 48 12 13<br />
Nampula Cidade -Urbano 30 3,60 13 27 33 27 3,20 13 37 27 23 3,46 13 30 30 27<br />
IDOSO 181 3,43 15 22 33 30 3,30 16 24 34 27 2,56 30 26 19 25<br />
Gaza - rural 62 4,08 0 24 36 40 3,87 0 27 40 32 3,30 11 29 23 37<br />
Maputo Cidade - Urbano 30 5,53 0 7 53 40 5,40 0 7 57 37 4,43 13 13 40 33<br />
Nampula - Rural 56 2,25 30 25 25 20 2,14 32 25 21 21 1,28 52 29 9 11<br />
Nampula Cidade - Urbano 33 2,33 30 27 21 21 2,30 30 30 21 18 1,63 42 27 12 18<br />
DEFICIENTE 45 3,08 16 33 31 20 2,93 16 36 31 18 2,04 42 24 18 16<br />
Gaza - Rural 15 3,33 0 33 47 20 3,13 0 33 40 27 2,06 27 33 33 7<br />
Maputo Cidade - Urbano 10 3,40 20 30 20 30 3,20 20 30 30 20 2,50 50 10 10 30<br />
Nampula -Rural 10 3,90 10 40 30 20 3,80 10 40 30 20 2,70 30 40 10 20<br />
Nampula Cidade -Urban 10 1,60 40 30 20 10 1,50 40 40 20 0 0,90 70 10 10 10<br />
Amostra Total 410 3,78 13 25 29 32 3,56 14 27 29 30 3,09 24 27 22 27<br />
362
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.12: Número de Laços Activos (Durante o Ano Passado) de Receber de Alguém ou a Dar Alimentos:<br />
Média e Percentagens Por Grupo Alvo<br />
Alimentos: Dar Alimentos: Receber<br />
Percentagens <strong>em</strong> Cada Categoria Percentagens <strong>em</strong> Cada Categoria<br />
Média Nada 1-2 3-6 >6 Média Nada 1-2 3-6 >6<br />
MULHER COM CRIANÇA 176 3,57 14 32 25 29 3,64 13 31 25 31<br />
GAZA-RURAL 64 4,20 11 20 31 38 4,41 8 25 28 39<br />
MAPUTO CIDADE-URBANO 29 5,07 0 21 34 45 5,21 0 17 38 45<br />
NAMPULA-RURAL 27 2,34 21 54 12 12 2,21 27 43 12 18<br />
NAMPULA CIDADE-URBANO 27 3,04 18 30 26 26 3,15 11 37 30 22<br />
IDOSO 164 3,61 27 28 18 27 3,26 10 30 31 29<br />
GAZA-RURAL 62 3,03 16 31 18 36 3,48 3 31 34 32<br />
MAPUTO CIDADE-URBANO 30 4,10 17 16 40 27 4,90 0 13 50 37<br />
NAMPULA-RURAL 46 1,48 46 30 7 17 2,33 20 37 20 24<br />
NAMPULA CIDADE-URBANO 26 1,88 35 31 12 23 2,46 23 35 19 23<br />
DEFICIENTE 43 1,93 44 26 19 12 2,77 14 42 33 12<br />
GAZA-RURAL 15 2,00 33 27 33 7 2,87 0 47 40 13<br />
MAPUTO CIDADE-URBANO 10 2,30 50 10 20 20 2,60 20 40 30 10<br />
NAMPULA-RURAL<br />
NAMPULA CIDADE-URBANO<br />
10 2,20 40 40 0 20 3,50 20 30 30 20<br />
8 1,00 62 25 12 0 1,88 20 50 25 0<br />
Amostra Total 383 2,98 3,38<br />
(% Não Dá ou Recebe: 27 casos)<br />
363
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
3<br />
Tabela 6.13. Razão de Reciprocidade e Número das Laços por Tipo<br />
Razão de Laços para Mulheres<br />
com Idosos Deficientes Total<br />
Crianças<br />
Número de casos 176 164 43 383<br />
QUALQUER LIGAÇÃO: Percentag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> ligações 7,4 6,1 11,6 7,3<br />
Num. de Casos com Laços 163 154 38 355<br />
Média de Razão de Reciprocidade 0,49 0,39 0,33 0,43<br />
Percentag<strong>em</strong> com Razão de: Só Receber: 0 2,5 17,5 31,6 12,1<br />
0,01-0,49 19,0 18,2 15,8 18,3<br />
Recíproco: 0,50 63,2 56,5 42,1 58,0<br />
0,51-0,99 14,1 7,1 10,5 10,7<br />
Só Dar: 1,00 1,2 0,6 0,0 0,8<br />
ALIMENTOS: Percentag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> ligações 9,7 7,9 11,6 9,1<br />
Num. de Casos com Laços 159 151 38 348<br />
Percentag<strong>em</strong> que : Só Receber: 4,4 21,2 36,8 15,2<br />
Só Dar: 3,8 2,6 2,6 3,2<br />
DINHEIRO: Percentag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> ligações 34,1 34,8 34,9 34,5<br />
Num. de Casos com Laços 116 107 28 251<br />
Percentag<strong>em</strong> que: Só Receber: 21,6 54,2 35,7 37,1<br />
Só Dar: 8,6 3,7 10,7 6,8<br />
BENS: Percentag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> ligações 25,0 32,9 27,9 26,6<br />
Num. de Casos com Laços 132,0 110,0 31,0 281,0<br />
Percentag<strong>em</strong> que: Só Receber: 15,2 48,3 38,7 31,7<br />
Só Dar: 12,1 0,8 0,0 6,0<br />
MÃO-DE-OBRA: Percentag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> ligações 27,8 32,3 34,9 30,5<br />
Num. de Casos com Laços 127 111 28 266<br />
Percentag<strong>em</strong> que de: Só Receber: 10,2 30,6 46,4 22,6<br />
Só Dar: 11,0 1,8 0 6,0<br />
1<br />
Definição: Número de Laços de Dar a Alguém/ Soma de Laços de Dar e Receber<br />
364
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.14: Número de Laços Activos (Durante o Ano Passado) de Receber de Alguém ou a Dar Mão-de-Obra:<br />
Média e Percentagens Por Grupo Alvo<br />
Mão-de-Obra: Dar Mão- de-Obra: Receber<br />
Percentagens <strong>em</strong> Cada Categoria Percentagens <strong>em</strong> Cada Categoria<br />
casos Média Nada 1-2 3-6 >6 Média Nada 1-2 3-6 >6<br />
MULHER COM CRIANCA 176 2,03 35 32 17 15 2,12 35,8 33 13 18<br />
GAZA-RURAL 64 2,48 25 31 30 22 2,83 21,9 34 16 28<br />
MAPUTO CIDADE-URBANO 29 2,24 28 31 21 21 1,76 41,4 31 17 10<br />
NAMPULA-RURAL 56 1,16 50 41 7 1 1,41 46,4 41 5 7<br />
NAMPULA CIDADE-URBANO 27 2,52 37 18 22 22 2,29 40,7 15 18 26<br />
IDOSO 164 0,98 53 37 4 7 1,62 33,5 41 18 17<br />
GAZA-RURAL 62 1,18 45 44 2 10 1,89 24,2 47 6 23<br />
MAPUTO CIDADE-URBANO 30 1,20 41 43 10 7 1,90 16,7 53 17 13<br />
NAMPULA-RURAL 46 0,70 74 17 4 4 1,22 52,2 28 6 13<br />
NAMPULA CIDADE-URBANO 26 0,73 50 46 0 4 1,35 42,3 35 8 15<br />
DEFICIENTE 43 0,98 65 21 5 9 1,91 34,9 37 19 9<br />
GAZA-RURAL 15 1,13 53 27 7 13 1,67 20,0 53 13 13<br />
MAPUTO CIDADE-URBANO 10 0,60 80 10 10 0 1,70 40,0 30 30 0<br />
NAMPULA-RURAL<br />
NAMPULA CIDADE-URBANO<br />
10 1,80 50 30 0 20 3,40 20,0 30 30 20<br />
8 0,12 88 12 0 0 0,38 75,0 25 0 0<br />
Total 383 1,45 1,88<br />
365
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.15: Número de Laços com os Parentes Directos, Outros Parentes e Não-Parentes:<br />
Médias e Percentagens S<strong>em</strong> Nenhuma Ligação Por Grupo Alvo <strong>em</strong> Cada Região<br />
Categoria<br />
Idade Pais Irmão Irma Filho >18 Filha >18 Outro<br />
Média Média Nada Médi Nada Média Nada Média Nada Média Nada Média Nada 1-2<br />
(Anos) % a % %<br />
% % % %<br />
Mulher com criança 184 28,8 1,25 20 1,35 35 1,28 41 0,12 91 0,08 94 1,94 0 73<br />
Gaza - Rural 64 29,7 1,25 16 1,67 31 1,42 38 0,20 84 0,09 92 2,62 0 55<br />
Maputo - Urbano 29 27,6 1,38 17 2,03 14 1,66 17 0,14 90 0,07 93 2,24 0 66<br />
Nampula - Rural 61 28,4 1,20 23 0,85 51 0,97 52 0,05 95 0,03 97 1,21 0 95<br />
Nampula - Urbano 30 28,6 1,27 27 1,03 33 1,23 50 0,07 97 0,17 90 1,70 0 77<br />
Idoso 181 68,2 0,02 98 0,54 67 0,59 65 1,04 47 1,13 43 1,50 0 86<br />
Gaza - Rural 62 70,6 0,00 100 0,56 66 0,87 56 1,11 39 1,18 36 1,68 0 82<br />
Maputo - Urbano 30 67,9 0,03 97 0,60 53 0,80 50 1,83 23 1,80 17 2,03 0 63<br />
Nampula - Rural 56 66,3 0,05 96 0,45 75 0,30 75 0,62 62 0,84 59 1,23 0 96<br />
Nampula - Urbano 33 67,3 0,00 100 0,58 67 0,36 76 0,88 58 0,91 54 1,12 0 97<br />
Deficiente 45 44,2 0,62 53 0,80 44 0,80 56 0,73 67 0,40 78 1,78 0 84<br />
Gaza - Rural 15 57,3 0,13 87 0,67 67 0,67 60 1,33 33 1,00 53 1,53 0 93<br />
Maputo - Urbano 10 43,2 0,60 50 1,50 20 1,50 30 0,20 90 0,20 80 2,20 0 80<br />
Nampula - Rural 10 32,8 0,80 40 0,50 20 0,50 60 0,50 70 0,10 90 2,20 0 70<br />
Nampula - Urbano 10 36,4 1,20 20 0,60 60 0,60 70 0,60 90 0,00 100 1,30 0 90<br />
Amostra Total 410 47,9 0,64 0,97 0,92 0,59 0,58 1,73<br />
Tabela 6.16: Número de Laços Activos (Dar ou Receber) com Pessoas que Viv<strong>em</strong> nas Zonas Rurais e nas Zonas Urbanas ou Fora do Pais<br />
366
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Laços Rurais Laços Urbanos ou Fora do País<br />
Percentagens <strong>em</strong> cada categoria: Percentagens <strong>em</strong> cada categoria:<br />
Média Nada 1-2 3-6 >6 Média Nada 1-2 3-6 >6<br />
abc<br />
adc<br />
Gaza - Rural 140 3,84 3 34 29 35 0,87 55 32 4 9<br />
Maputo Cidade - Urbano 68 ad 1,35 52 28 12 9 abc 4,24 0 21 37 43<br />
Nampula - Rural 93 bde<br />
2,80 3 57 19 20<br />
be<br />
0,52 73 19 2 5<br />
ce<br />
cde<br />
Nampula Cidade - Urbano 55 1,09 53 31 6 11 2,53 14 42 18 26<br />
MULHER COM CRIANÇA 162 3,19 18 35 20 26 1,66 44 25 12 19<br />
Gaza - Rural 63 4,70 5 24 30 41 0,98 51 32 6 11<br />
Maputo Cidade - Urbano 29 2,14 45 17 21 17 4,03 0 17 28 55<br />
Nampula - Rural 45 2,87 2 64 18 16 0,33 82 13 2 2<br />
Nampula Cidade - Urbano 25 1,20 52 32 0 16 3,00 8 40 24 28<br />
IDOSO 155 2,41 21 41 17 21 1,80 42 30 15 14<br />
Gaza - Rural 62 3,21 2 37 27 34 0,84 55 36 3 6<br />
Maputo Cidade - Urbano 30 0,57 57 43 0 0 4,87 0 13 57 30<br />
Nampula - Rural 39 2,54 5 51 18 26 0,67 69 20 3 8<br />
Nampula Cidade - Urbano 24 0,96 54 29 8 8 2,29 12 50 12 25<br />
DEFICIENTE 39 2,18 20 41 26 13 1,67 46 33 3 18<br />
Gaza - Rural 15 2,80 0 60 27 13 0,53 73 20 0 7<br />
Maputo Cidade - Urbano 9 1,44 56 11 22 11 2,78 0 56 0 44<br />
Nampula - Rural 9 3,56 0 44 33 22 0,78 44 44 0 11<br />
Nampula Cidade - Urbano 6 1,17 50 33 17 0 1,50 50 17 17 17<br />
TOTAL 356 2,66 20 38 19 22 1,68 43 28 12 17<br />
Casos Omissos: 56 agregados familiares (13,6%)<br />
367
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.17: Correlações de Spearman (Rank Correlations) Entre O Número de Laços e as<br />
Características Individuais ou de Agregado Familiar<br />
Características Individuais ou do Agregado Famliar (AF) Correlação com o Correlação com o<br />
Individual: Idade de Entrevistado` -0,108** -0,207**<br />
Sexo de Entrevistado (1=Masculino) -0,095** -0,122**<br />
Sofre de Deficiência -0,068 -0,147**<br />
Vivo pelo menos 10 anos na Aldeia 0,083* 0,073<br />
Casado (Monógamo ou Polígamo) 0,017 0,037<br />
Nunca foi casado(a) 0,119** 0,110**<br />
Divorciado(a), Separado(a), Viuvo(a) -0,107** -0,012**<br />
Fala Português 0,026 0,054<br />
Nível de Educação (Anos) 0,039 0,068<br />
T<strong>em</strong> mais de 4 anos de Educação Formal 0,012 0,028<br />
Crente numa Religião -0,025 0,036<br />
Cristiano(a) 0,027** 0,034**<br />
Muçulmano(a) -0,340** -0,306**<br />
Anos Trabalhava fora do País -0,019 -0,032<br />
Foi Refugiado ou Deslocado Durante a Guerra 0,149** 0,145**<br />
Recebeu Ajuda de Emergência Durante a Guerra 0,207** 0,185**<br />
Recebeu Ajuda de Emergência Depois da Guerra 0,179** 0,188**<br />
T<strong>em</strong> Machamba Própria -0,148** -0,118**<br />
T<strong>em</strong> Machamba na Zona Baixa -0,082** -0,061<br />
Chefe de Agregado Familiar -0,174** -0,223**<br />
Alguém no Agregado Familiar: Recebe Pensão -0,004 -0,016<br />
É Assalariado(a) 0,372** 0,359**<br />
Faz Trabalho Ocasional 0,221** 0,246**<br />
Trabalha Actualmente Fora do País 0,329** 0,270**<br />
Vende de Caju ou Algodão 0,100** 0,130**<br />
Vende de Outros Produtos Agrícolas 0,162** 0,176**<br />
Vende Aguardente 0,204** 0,218**<br />
T<strong>em</strong> Trabalhador(es) Permanentes 0,120** 0,130**<br />
Faz Negócios 0,086** 0,098**<br />
Agregado Familiar: Tamanho 0,274** 0,293**<br />
Índice de Bens 0,238** 0,209**<br />
Índice de Qualidade de Habitação 0,164** 0,177***<br />
Índice de Bens per capita 0,067 0,038<br />
Índice de Qualidade de Habitação per capita -0,218** -0,238**<br />
Nunca Comprou Alimentos Básicos Durante o Ano -0,121** -0,143**<br />
T<strong>em</strong> Celeiro 0,065 0,075<br />
Fonte Principal do Rendimento é Agricultura -0,196** -0,187**<br />
** Indica que a correlação de spearman entre a característica específica e o número de laços é significativa<br />
estatisticamente à nível de p#0,05.<br />
* Indica que a correlação de spearman entre a característica específica e o número de laços é significativa<br />
estatisticamente à nível de p#0,10.<br />
368
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.18. Probabilidade de Não Ter Laços de Receber: Análise Binária de Probit, Estimativas de Maximum Likelihood<br />
Variável Sinal Parâmetro Erro Valor de z Prob>|z| Média Desvio<br />
Esperado $ Padrão Padrão<br />
Variável Dependente: Não t<strong>em</strong> Laços de RECEBER (58<br />
casos) 0,142 0,349<br />
Variáveis Explanatória:<br />
Sexo de Entrevistado (0=F<strong>em</strong>inino 1=Masculino) + 0,4915 0,2643 1,860 0,063 * 0,269 0,444<br />
Idade de Entrevistado + 0,0156 ,0348 0,450 0,653 47,846 21,092<br />
Quadrado - -,0002 ,0004 -0,736 0,462 2732,988 2123,514<br />
Sofre de Deficiência - -,1014 ,4031 -0,251 0,801 0,110 0,313<br />
Vivo pelo menos 10 anos na Aldeia - 0,0188 0,2283 0,082 0,934 0,738 0,440<br />
Nunca foi casado(a) - -,4478 0,4885 -0,916 0,359 0,095 0,294<br />
Divorciado(a), Separado(a), Viuvo(a) + 0,2814 ,2632 1,069 0,285 0,196 0,397<br />
Foi Refugiado ou Deslocado Durante a Guerra + -,0498 ,2786 -0,179 0,858 0,330 0,471<br />
Tamanho do Agregado Familiar (AF) - 0,0308 ,0456 0,676 0,499 5,156 3,419<br />
Fala Português - 0,1407 ,2114 0,666 0,506 0,494 0,501<br />
Cristiano(a) - -,2446 ,3110 -0,786 0,432 0,474 0,500<br />
Muçulmano(a) - 0,3081 ,3058 1,008 0,314 0,286 0,452<br />
Alguém no AF: É Assalariado(a) - -1,0710 ,3765 -2,846 0,004** 0,332 0,472<br />
Alguém no AF: Faz Trabalho Ocasional - -,7586 ,4127 -1,838 0,066 * 0,240 0,427<br />
Alguém no AF: Trabalha Actualmente Fora do País - -,9742 0,5024 -1,939 0,053 * 0,262 0,440<br />
T<strong>em</strong> Machamba Própria - -,0393 ,2245 -0,175 0,861 0,584 0,493<br />
T<strong>em</strong> Machamba na Zona Baixa<br />
Nunca Comprou Alimentos Básicos Durante o Ano<br />
Alguém no Agregado Familiar: Recebe Pensão<br />
Alguém no AF: Vende de Caju ou Algodão<br />
Alguém no AF: Vende Outros Produtos Agrícolas<br />
Alguém no AF: Vende Aguardente<br />
Alguém no AF: Faz Negócios<br />
Índice de Bens<br />
Índice de Qualidade de Habitação<br />
Constante:<br />
-<br />
+<br />
+<br />
-<br />
-<br />
-<br />
-<br />
-<br />
-<br />
0,0699<br />
-,1966<br />
0,8989<br />
0,1286<br />
-,1704<br />
-1,042<br />
-,6634<br />
-,0008<br />
-,0003<br />
-,5749<br />
,2112<br />
,2314<br />
,3866<br />
,2758<br />
,2726<br />
,5140<br />
,3383<br />
0,0011<br />
,0007<br />
1,0445<br />
0,331<br />
-0,849<br />
2,325<br />
0,467<br />
-0,625<br />
-2,028<br />
-1,961<br />
-0,723<br />
-0,441<br />
-0,550<br />
0,741<br />
0,396<br />
0,020**<br />
0,641<br />
0,532<br />
0,043**<br />
0,050**<br />
0,470<br />
0,659<br />
0,582<br />
0,345<br />
0,264<br />
0,073<br />
0,208<br />
0,222<br />
0,193<br />
0,186<br />
190,829<br />
1106,848<br />
0,476<br />
0,441<br />
0,261<br />
0,406<br />
0,416<br />
0,395<br />
0,389<br />
234,634<br />
246,840<br />
2<br />
Amostra: 403 Casos Qui-Quadrado (25 graus de liberdade): 96,03 Nível de Significância (Qui-Quadrado) = 0,0000 Log-Likelihood: -114,42 Pseudo-R : 0,296<br />
369
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 6.19. Probabilidade de Não Ter Laços de Dar: Análise Binária de Probit, Estimativas de Maximum Likelihood<br />
Variável Sinal Parâmetro Erro Valor Prob>|z| Média Desvio<br />
Esperado<br />
$ Padrão de z<br />
Padrão<br />
Variável Dependente:<br />
Não t<strong>em</strong> Laços de DAR (98 casos) 0,240 0,427<br />
Variáveis Explanatória:<br />
Sexo de Entrevistado (0=F<strong>em</strong>inino 1=Masculino) - 0,0644 ,2062 0,312 0,755 0,269 0,444<br />
Idade de Entrevistado + -,0353 ,0264 -1,335 0,182 47,846 21,092<br />
Quadrado - 0,0005 ,0002 2,060 0,039** 2732,988 2123,514<br />
Sofre de Deficiência + 0,9698 ,2706 3,584 0,000** 0,110 0,313<br />
Vivo pelo menos 10 anos na Aldeia - -,2699 ,1987 -1,357 0,175 0,738 0,440<br />
Nunca foi casado(a) - -,6377 ,3810 -1,674 0,094 * 0,095 0,294<br />
Divorciado(a), Separado(a), Viuvo(a) + 0,2641 ,2146 1,230 0,219 0,196 0,397<br />
Foi Refugiado ou Deslocado Durante a Guerra + -,0131 ,2112 -0,062 0,950 0,330 0,471<br />
Tamanho do Agregado Familiar (AF) - 0,0996 ,0347 2,864 0,004** 5,156 3,419<br />
Fala Português - 0,0930 ,1740 0,534 0,593 0,494 0,501<br />
Cristiano(a) - -,1607 ,2285 -0,703 0,482 0,474 0,500<br />
Mohametano(a) - 0,3939 ,2473 1,593 0,111 0,286 0,452<br />
Alguém no AF: É Assalariado(a) - -,7562 ,2449 -3,087 0,002** 0,332 0,472<br />
Alguém no AF: Faz Trabalho Ocasional - -,4460 ,2447 -1,823 0,068 * 0,240 0,427<br />
Alguém no AF: Trabalha Actualmente Fora do País - -,2633 ,2730 -0,964 0,335 0,262 0,440<br />
T<strong>em</strong> Machamba Própria - -,0544 ,1847 -0,295 0,768 0,584 0,493<br />
T<strong>em</strong> Machamba na Zona Baixa - -,0214 ,1763 -0,122 0,903 0,345 0,476<br />
Nunca Comprou Alimentos Básicos Durante o Ano + 0,0139 ,1882 0,074 0,941 0,264 0,441<br />
Alguém no Agregado Familiar: Recebe Pensão + 0,3895 ,3110 1,252 0,210 0,073 0,261<br />
Alguém no AF: Vende de Caju ou Algodão - -,1043 ,2356 -0,443 0,658 0,208 0,406<br />
Alguém no AF: Vende Outros Produtos Agrícolas - -,3812 ,2213 -1,722 0,085 * 0,222 0,416<br />
Alguém no AF: Vende Aguardente - -,6286 ,2994 -2,099 0,036** 0,193 0,395<br />
Alguém no AF: Faz Negócios - -,0751 ,2318 -0,324 0,746 0,186 0,389<br />
Índice de Bens - -,0005 ,0006 -0,788 0,431 190,829 234,634<br />
Índice de Qualidade de Habitação - -,0005 ,0005 -0,982 0,326 1106,848 246,840<br />
Constante: 0,0538 ,8296 0,065 0,948<br />
2<br />
Amostra: 403 Casos Qui-Quadrado (25 graus de liberdade): 105,6 Nível de Significância (Qui-Quadrado) = 0,00 Log-Likelihood: -166,10 Pseudo-R : 0,241<br />
370
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Capítulo 7<br />
Redes Formais de Segurança Social num Ambiente Urbano<br />
Lições Extraídas do Programa de Subsídio de Alimentos 1<br />
<strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong><br />
Jan Low<br />
James L. Garrett<br />
Vitória Ginja<br />
1 O programa <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> é conhecido por programa do subsídio de alimentos, mas como<br />
o programa consiste de uma transferência directa de dinheiro do governo aos recipientes, o uso<br />
de termo transferência de dinheiro é mais apropriado para descrever este tipo de<br />
programa.
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Índice
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
List of Tables and Figures<br />
3
7.1. Introdução<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
O programa de subsídio de alimentos, começou <strong>em</strong> 1990 como GAPVU, Gabinete de<br />
Apóio à População Vulnerável, e é present<strong>em</strong>ente administrado pelo INAS (Instituto<br />
Nacional de Acção Social). Desde o seu início, o objectivo principal do programa t<strong>em</strong> sido<br />
minimizar as dificuldades encontradas pelos agregados familiares urbanos indigentes <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>, <strong>em</strong>bora <strong>em</strong> 1998 o programa tenha começado a expandir-se para fora das<br />
capitais provinciais - para os pequenos centros urbanos - e pense expandir-se também para as<br />
zonas rurais.<br />
Enquanto o Governo de <strong>Moçambique</strong> está present<strong>em</strong>ente <strong>em</strong>penhado <strong>em</strong> testar os<br />
outros programas ao longo do país, o programa de subsídio de alimentos nas zonas urbanas<br />
continua sendo um el<strong>em</strong>ento fundamental na rede de protecção social (safety net) <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>. Na verdade, o programa de subsídio de alimentos continua sendo o único<br />
programa na rede de programas de protecção social verdadeiramente com cobertura nacional.<br />
Constitui o principal programa do Governo destinado a providenciar assistência social geral<br />
aos agregados familiares pobres, <strong>em</strong> base permanente, e é o programa de mais longa duração<br />
e com maior cobertura.<br />
Certamente, o programa de subsídio de alimentos nas zonas urbanas representa um<br />
importante apóio e compromisso por parte do Governo às pessoas mais vulneráveis, e no<br />
passado este programa contribuiu de uma forma significativa para o seu b<strong>em</strong>-estar. Este<br />
programa moçambicano constitui um raro ex<strong>em</strong>plo de transferência de dinheiro operacional<br />
2<br />
<strong>em</strong> países <strong>em</strong> vias de desenvolvimento. Os economistas assinalam que a concessão de<br />
subsídios de alimentação ou bens é muitas vezes a mesma coisa que a distribuição de uma<br />
quantia equivalente <strong>em</strong> dinheiro, e perguntam-se por vezes se a transferência de dinheiro ao<br />
agregado familiar não seria mais eficiente <strong>em</strong> termos de custo. Porém, por várias razões,<br />
muitos países continuam a providenciar subsídios específicos <strong>em</strong> alimentos, bens ou serviços.<br />
Além disso, alguns estudos têm d<strong>em</strong>onstrado que os custos administrativos poderão ser<br />
d<strong>em</strong>asiado elevados para que o programa de transferência de dinheiro seja eficiente nas zonas<br />
rurais, excluindo-se deste modo esta opção para uma grande parte da população pobre de um<br />
país <strong>em</strong> vias de desenvolvimento (veja-se Subbarão et al. (1996) para efeitos de um debate de<br />
carácter comparativo sobre programas alternativos de protecção social).<br />
Vários estudos internos do Governo de <strong>Moçambique</strong> têm sublinhado que o programa<br />
de subsídio de alimentos deveria existir como parte da estratégia geral do Governo no campo<br />
da assistência social. Porém, tendo <strong>em</strong> consideração os recursos limitados de que o Governo<br />
2 O outro único programa do continente africano, do conhecimento dos autores, é um programa de pensão<br />
social paga aos idosos (homens com mais de 65 anos e mulheres com mais de 60) na África do Sul, programa<br />
que teve início <strong>em</strong> 1992/93. Dá-se <strong>em</strong> dinheiro tanto a idosos das zonas rurais como das zonas urbanas,<br />
independent<strong>em</strong>ente de contribuições prévias (Case e Deaton, 1996).<br />
374
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
dispõe e a vasta gama de prioridades competitivas, deve ter-se o maior cuidado <strong>em</strong> d<strong>em</strong>arcar<br />
b<strong>em</strong> o alcance dessa actividade. A finalidade deste capítulo, portanto, é documentar as<br />
mudanças ocorridas neste importante programa, no decorrer dos anos, a fim de fornecer<br />
el<strong>em</strong>entos sobre a forma como o Governo pode estruturar esse programa de modo a ser mais<br />
eficaz dentro do contexto da sua estratégia de combate à pobreza. Com base na experiência<br />
relativamente nova do GAPVU, esta avaliação poderá proporcionar lições para a criação e<br />
impl<strong>em</strong>entação de programas de transferência de dinheiro noutros países <strong>em</strong> vias de<br />
desenvolvimento.<br />
7.2 Resenha Histórica<br />
O Programa de Ajustamento Estrutural, conhecido por Programa de Reabilitação<br />
Económica de 1987 (PRE), levou à criação do programa de subsídio de alimentos nas zonas<br />
urbanas. O Governo e as instituições financeiras internacionais reconheceram o impacto<br />
potencialmente negativo do PRE no b<strong>em</strong> estar e incluíram um el<strong>em</strong>ento por forma a<br />
considerar as dimensões sociais do ajustamento. No caso de <strong>Moçambique</strong>, houve necessidade<br />
particular de fazer face ao fluxo de pessoas deslocadas pela guerra e às dificuldades<br />
económicas causadas pela guerra. No início da década de 90, ainda existia um programa<br />
generalizado de distribuição de alimentos nas zonas rurais, principalmente nas zonas com<br />
números elevados de refugiados e de pessoas deslocadas e <strong>em</strong> zonas afectadas pelas<br />
calamidades naturais.<br />
Além de ter de fazer face ao estado de indigência, o programa de subsídio de<br />
alimentos nas zonas urbanas fazia parte de uma política padronizada de práticas preconizadas<br />
nessa altura pelo Banco Mundial como parte integrante do seu programa da Dimensão Social<br />
do Ajustamento (SDA). O programa de subsídio de alimentos nas zonas urbanas foi apenas<br />
um dos programas de entre um grupo de intervenções sugeridas no Estudo sobre Segurança<br />
Alimentar para <strong>Moçambique</strong>, por parte do Banco Mundial (1989), destinado a providenciar<br />
segurança social aos grupos vulneráveis. Em 1989, o Banco Mundial recomendou como<br />
estratégias preferencias uma melhor cobertura do sist<strong>em</strong>a de racionamento então existente<br />
(conhecido por o Novo Sist<strong>em</strong>a de Abastecimento) e a introdução da transferências<br />
indireitas de rendimento através de subsídios relacionados com bens alimentares de qualidade<br />
inferior, tais como o milho amarelo. Porém, <strong>em</strong> 1991, um programa de subsídio de alimentos<br />
foi apresentado por consultores do projecto SDA como alternativa mais eficiente ao Novo<br />
Sist<strong>em</strong>a de Abastecimento, por se considerar esse programa de racionamento caro e mal<br />
administrado, programa esse que o Governo desejava abolir, com o mínimo de resistência<br />
política e social.<br />
Desde o início, o objectivo enunciado para o programa de subsídio de alimentos era<br />
minimizar, não eliminar, a pobreza nos agregados familiares indigentes (Boletim, 1993).<br />
375
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Provavelmente, devido ao facto de que esse programa poderia ser promovido, <strong>em</strong> termos<br />
políticos, como um substituto do programa de racionamento, ou provavelmente devido ao<br />
facto do reconhecimento, cada vez mais evidente, da insegurança alimentar como um<br />
probl<strong>em</strong>a urbano fundamental, o programa foi oficialmente designado como subsídio de<br />
alimentos.<br />
Em Junho de 1990, O Conselho de Ministros aprovou uma resolução para criar o<br />
GAPVU como uma Unidade subordinada ao Ministério das Finanças. A finalidade dessa<br />
Unidade era compl<strong>em</strong>entar outras componentes da rede de protecção social do Governo,<br />
especialmente a distribuição de alimentação gratuita às famílias vulneráveis nas zonas rurais;<br />
o controle dos preços de produtos alimentares básicos <strong>em</strong> Maputo e na Beira; e o novo<br />
Programa de Segurança Social Nacional. O Conselho de Ministros ordenou a impl<strong>em</strong>entação,<br />
<strong>em</strong> larga escala, do programa GAPVU <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de 1990, <strong>em</strong>bora, por essa altura, numa<br />
observação de natureza presciente, um consultor tenha notado que o GAPVU "não estava de<br />
forma alguma [<strong>em</strong> termos organizacionais] preparado para des<strong>em</strong>penhar essa missão"<br />
(Schubert 1990).<br />
Desde o início, o programa de subsídio de alimentos foi financiado pelo Governo de<br />
<strong>Moçambique</strong> através dos fundos obtidos da venda da ajuda alimentar. Após um período<br />
inicial de crescimento lento, o número dos beneficiários do GAPVU cresceu<br />
vertiginosamente. Em finais de 1991, o GAPVU tinha apenas 2.000 agregados familiares<br />
como beneficiários. Quatro anos mais tarde, <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro de 1995, o número era superior a<br />
80.000. Em 1997, o GAPVU foi abolido e subsídio de alimentos sofreu reformas<br />
significativas <strong>em</strong> 1996 e <strong>em</strong> 1997, reaparecendo sob a direcção de uma instituição recém-<br />
criada, o INAS, considerada a instituição indigitada para impl<strong>em</strong>entar esse programa, sob os<br />
auspícios do Ministério de Acção Social (MICAS). Sob uma administração mais rigorosa, os<br />
números baixaram rapidamente, e <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro de 1997 o programa urbano de subsídio de<br />
alimentos tinha cerca de 30.000 agregados familiares como beneficiários (INAS, 1997).<br />
Ao longo deste relatório descrever-se-á inicialmente a evolução dos aspectos<br />
administrativos fundamentais do programa. Em seguida, procurar-se-á identificar e esclarecer<br />
os factores que se encontram por detrás das mudanças fundamentais, especialmente daqueles<br />
que levaram à reorganização <strong>em</strong> 1997. Descreve-se também a maneira como o Governo<br />
actuou <strong>em</strong> relação a certas dificuldades inerentes ao programa de subsídio de alimentos, e<br />
extra<strong>em</strong>-se algumas lições preliminares à cerca dos desafios a encarar com a criação e a<br />
impl<strong>em</strong>entação de um programa desta natureza que seja sólido e eficaz num país pobre de<br />
recursos, como <strong>Moçambique</strong>.<br />
7.3 A evolução do programa<br />
A evolução do programa pode ser dividida <strong>em</strong> três fases: 1) a Fase de Concepção e<br />
376
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Impl<strong>em</strong>entação Inicial, desde a criação do GAPVU, <strong>em</strong> 1990 até Set<strong>em</strong>bro de 1991; 2) A<br />
Fase de Expansão do Programa, desde Outubro de 1991 até meados de 1996 (a qual incluiu<br />
uma reorganização importante <strong>em</strong> 1993); e 3) a Fase de Reestruturação, desde meados de<br />
1996 até à presente data (Outubro de 1998). Em finais da Fase Inicial de Impl<strong>em</strong>entação,<br />
apenas estavam inscritos no programa do GAPVU 572 agregados familiares (Schubert,<br />
1992). Em contraste, no apogeu da Fase de Expansão, <strong>em</strong> 1996, o número de agregados<br />
familiares inscritos atingia o número de 92.300 (Tovela, 1997). A subsequente descoberta de<br />
uma vasta rede de corrupção resultou na abolição do GAPVU <strong>em</strong> 1996. Como parte da fase<br />
de reestruturação, o programa foi transferido para o INAS, <strong>em</strong> 1997, e o número de<br />
beneficiários foi reduzido <strong>em</strong> mais de 50%. A intenção do INAS é não só continuar com o<br />
programa de subsídio de alimentos, mas também com os serviços sociais <strong>em</strong> geral, incluindo<br />
a expansão e o desenvolvimento de uma rede mais completa de segurança social, de acordo<br />
com a qual se dará relevância a programas que, <strong>em</strong> última análise, resultarão numa redução<br />
da pobreza e não apenas no alívio da pobreza. Este último programa inclui programas como o<br />
subsídio de alimentos, comida por trabalho para os agregados familiares vulneráveis, treino e<br />
iniciativas tendentes a gerar rendimento, e um programa que incentive o regresso de pessoas<br />
das zonas urbanas para as zonas rurais.<br />
Cada uma destas fases não só reflecte a interacção de grupos de diferentes interesses,<br />
mas também as medidas tomadas como resposta a uma série de avaliações realizadas no<br />
decorrer da existência do programa. Na Tabela 1 apresenta-se um sumário das conclusões e<br />
das recomendações fundamentais resultantes de cada uma destas avaliações. Primeiro,<br />
descreve-se a evolução dos aspectos administrativos fundamentais do programa. Depois,<br />
chama-se a atenção para um exame das motivações que levaram a essas mudanças.<br />
7.3.1 A evolução dos componentes do programa<br />
Vários aspectos do GAPVU foram evoluindo com o t<strong>em</strong>po. Enquanto o objectivo<br />
fundamental não parece ter mudado muito, houve mudanças na estrutura organizativa, nos<br />
grupos beneficiários do programa, no nível de cobertura, nos requisitos de elegibilidade e no<br />
modo de impl<strong>em</strong>entação do programa de subsídio de alimentos. Estas mudanças foram<br />
ocasionadas muitas vezes como resposta a pressões tanto externas como internas, e, no fim,<br />
tiveram um efeito cumulativo negativo na eficácia e na solidez do programa, tendo vindo a<br />
resultar numa reorganização global <strong>em</strong> 1997.<br />
7.3.1.1 Objectivos<br />
O objectivo fundamental do programa de subsídio de alimentos t<strong>em</strong>-se mantido desde<br />
a sua criação no dia 27 de Junho de 1990: minimizar as dificuldades encontradas pelos grupos<br />
mais vulneráveis da população urbana, por meio de subsídio de alimentos. A este subsídio<br />
377
3<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
nunca teve como finalidade cobrir todos custos de vida básicos, mas era considerado como<br />
um subsídio de alimentação, prevendo-se que o dinheiro dado seria utilizado para comprar os<br />
alimentos básicos adicionais. Tal como foi previamente mencionado, o programa foi<br />
concebido como meio de proteger os pobres vulneráveis das zonas urbanas, de tal forma<br />
desprovidos de poder de compra que n<strong>em</strong> sequer estariam <strong>em</strong> condições de poder usufruir do<br />
programa urbano de racionamento de bens alimentares quando existia (Schubert, 1990).<br />
Devido ao nome e ao objectivo principal do uso do subsídio, alguns estudos sobre a<br />
viabilidade e sobre as avaliações que previam a contribuição potencial do dinheiro para obter<br />
os bens de alimentação converteram o valor pecuniário do subsídio <strong>em</strong> calorias equivalentes<br />
(Schubert (1990), Schubert (1991), Schubert (1992), Tovela (1997), Bazo (1998)). Esta<br />
quantia deveria corresponder à quantia necessária para comprar uma certa quantidade de<br />
calorias supl<strong>em</strong>entares. Na resolução que estabeleceu oficialmente o GAPVU (Junho de<br />
1998), o reajustamento do valor do assistência pecuária deveria ser feito <strong>em</strong> proporção dos<br />
aumentos do salário mínimo nacional. Dado que esse salário deveria, teoricamente, cobrir<br />
todos os custos de vida essenciais, o subsídio de alimentos deveria, <strong>em</strong> teoria, ser ajustado de<br />
acordo com o aumento do custo das calorias no mercado local.<br />
Embora o cálculo inicial da quantia do subsídio possa ter sido baseado nestas<br />
estimativas, nunca foram adoptadas as subsequentes sugestões para coordenar explicitamente<br />
essa quantia com o custo das calorias supl<strong>em</strong>entares. Por ex<strong>em</strong>plo, Schubert (1992) descobriu<br />
que alguns agregados familiares vulneráveis só consumiam 1150 kcal por dia por adulto, <strong>em</strong><br />
3<br />
termos de unidade equivalente , e recomendou um aumento do assistência de modo a permitir<br />
a aquisição de 450 kcal adicionais por dia por adulto, <strong>em</strong> termos de unidade equivalente, a<br />
fim de garantir a sobrevivência dos m<strong>em</strong>bros do agregado familiar. Na documentação<br />
disponível não parece existir qualquer evidência de tais ajustamentos associados às calorias<br />
necessárias.<br />
7.3.1.2 Estrutura organizativa<br />
A estrutura organizativa do programa de subsídio de alimentos caracterizou-se s<strong>em</strong>pre<br />
por uma colaboração significativa inter-ministerial, especialmente entre os Ministérios do<br />
Plano e Finanças, da Acção Social, da Saúde, e, até certo ponto, do Ministério da<br />
Administração Estatal. Quando foi criado o programa do GAPVU <strong>em</strong> 1990, ainda não existia<br />
à Acção Social como instituição, a nível ministerial. Havia a Secretaria de Estado da Acção<br />
Social (SEAS), uma instituição recém-criada. Nesse t<strong>em</strong>po, o apóio-chave para a criação do<br />
programa veio do Ministro das Finanças, Sr. Magid Osman, e do Ministro da Saúde, Sr.<br />
As unidades equivalentes por adulto, ao contrário dos cálculos feitos à base das unidades equivalentes per<br />
capita, tomam <strong>em</strong> consideração as calorias necessárias com base na idade e no género.<br />
378
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Fernando Vaz. Portanto, o primeiro director do GAPVU era do Ministério do Plano e<br />
Finanças e todos os Directores Provinciais das Finanças (conhecidos por Delegados) eram<br />
responsáveis pelas delegações provinciais do GAPVU (Schubert, 1993a). Os Delegados eram<br />
responsáveis pela garantia do pagamento mensal do subsídio de alimentos a nível provincial.<br />
Além disso, devido aos indicadores nutricionais utilizados para identificar alguns agregados<br />
familiares beneficiários, cada agência do GAPVU a nível provincial tinha um representante<br />
do Ministério da Saúde que era responsável pela garantia de uma boa cooperação entre os<br />
Centros de Saúde e o programa do GAPVU.<br />
Em Janeiro de 1992, como parte da primeira reorganização do GAPVU, a<br />
responsabilidade pela direcção do programa foi transferida do Ministério do Plano e Finanças<br />
para a Secretaria de Estado da Acção Social (Schubert, 1993a). Pode ver-se na Figura 1 a<br />
estrutura organizativa do GAPVU, tal como existia <strong>em</strong> 1992. O GAPVU estava sob a<br />
direcção da SEAS, mas funcionava como uma instituição autónoma, com o seu próprio<br />
director. A Acção Social era vista como a sede lógica para as actividades destinadas à<br />
assistência aos indigentes. De acordo com os Artigos 10 e 15 dos regulamentos internos<br />
referentes à estrutura organizativa do GAPVU, a SEAS tinha a responsabilidade de definir os<br />
critérios técnicos de qu<strong>em</strong> devia ser incluído no programa, contratar e d<strong>em</strong>itir o Director e o<br />
Director Adjunto do GAPVU, e definir os objectivos do funcionamento dos Conselhos<br />
Consultivos para as delegações que operass<strong>em</strong> dentro de cada cidade.<br />
Porém, continuou a existir a influência preponderante do Ministério de Plano e<br />
Finanças. Primeiro, o Ministério do Plano e Finanças é qu<strong>em</strong> decide anualmente a quantia do<br />
orçamento do estado destinada a todos os programas sociais. Dado que o GAPVU era<br />
financiado principalmente pelo orçamento de estado (as excepções eram a cargo técnico, pago<br />
pela UNICEF, e consultores externos pagos pelos fundos do SDA), esta atribuição anual<br />
determinou um limite à quantia de dinheiro e, concomitant<strong>em</strong>ente, aos beneficiários que<br />
podiam ser cobertos pelo programa. Segundo, os directores provinciais das Finanças<br />
continuaram a servir de Delegados responsáveis pelos pagamentos dentro de cada delegação<br />
provincial do GAPVU.<br />
O Conselho Administrativo tratava-se de um conselho consultivo constituído por<br />
diferentes representantes dos Ministérios responsáveis pelo fornecimento de el<strong>em</strong>entos sobre<br />
os protocolos que deveriam ser estabelecidos para uma impl<strong>em</strong>entação eficaz do programa,<br />
para a avaliação da administração do programa, e para a realização de avaliações periódicas<br />
das actividades do GAPVU. Juntamente com a Secretaria de Estado de Acção Social, os<br />
Ministérios representados no conselho incluíam: Plano e Finanças, Saúde, Administração<br />
Estatal, e Trabalho (Schubert, 1993a). Enquanto o conselho se reunia com regularidade e<br />
fazia frequentes recomendações para melhorar o funcionamento do programa, o seu papel era<br />
estritamente consultivo. Por conseguinte, o conselho não era capaz de impor mudanças<br />
379
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
fundamentais no funcionamento real do GAPVU, s<strong>em</strong> o acordo da própria instituição<br />
(Piaraly, informação pessoal). Em retrospectiva, a independência financeira do GAPVU <strong>em</strong><br />
relação à SEAS poderá ter levado ao enfraquecimento da capacidade desta última instituição<br />
para servir efectivamente como guardião do programa, deixando o Director do GAPVU com<br />
considerável autonomia no que se refere à direcção do programa e à sua impl<strong>em</strong>entação.<br />
Em termos de apóio financeiro dos doadores, durante a fase de planeamento e de<br />
expansão, o programa de subsídio de alimentos nas zonas urbanas tinha duas fontes principais<br />
de assistência, para além do orçamento de estado. Em termos financeiros, a UNICEF prestava<br />
o apóio mais significativo, pagando o salário do único assistente técnico externo<br />
permanent<strong>em</strong>ente baseado no programa, e comprando alguns equipamentos. O interesse da<br />
UNICEF no programa estava claramente associado à alta percentag<strong>em</strong> de beneficiários do<br />
GAPVU, os quais eram famílias <strong>em</strong>pobrecidas com crianças desnutridas. Além disso, tal<br />
como foi mencionado anteriormente, o projecto de Dimensão Social do Ajustamento<br />
Estrutural (SDA), supervisado pelo Banco Mundial <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, recebeu apóio dos<br />
governos da Inglaterra, Holanda, Suíça e Al<strong>em</strong>anha. O Banco Mundial e o Fundo Monetário<br />
Internacional (FMI) apoiaram o programa como se fosse uma parte integrante da Estratégia de<br />
Segurança Alimentar para <strong>Moçambique</strong> (Schubert, 1993a). Usaram-se fundos do SDA/GTZ<br />
(Al<strong>em</strong>anha) para apoiar a assistência técnica principal fornecida pelo projecto: houve<br />
numerosas visitas efectuadas pela Equipa de Consultoria de Berlim para colaborar no<br />
planeamento e na avaliação do programa. Os relatórios pormenorizados do consultor<br />
principal, Bernard Schubert, serv<strong>em</strong> de principal fonte de informação sobre a evolução do<br />
programa desde 1990 até 1995.<br />
Houve s<strong>em</strong>pre atrasos substanciais no preenchimento de cargos especificados na<br />
estrutura organizativa, durante a existência do GAPVU. Apesar da estrutura organizativa ter<br />
sido adoptada <strong>em</strong> fins de 1991 (Figura 1), <strong>em</strong> princípios de 1993 dois dos cinco cargos<br />
principais de gerência ainda não tinham sido preenchidos. A isto juntou-se a d<strong>em</strong>issão do<br />
Chefe do Departamento de Administração e Finanças pela mesma altura. Em meados do ano,<br />
por falta de capacidade administrativa suficiente, a organização esteve à beira do colapso, tal<br />
como se refere no título da avaliação de Outubro de 1993, feita por Schubert: "Para vencer a<br />
crise de capacidade administrativa do GAPVU." No final do ano, foi adoptada uma nova<br />
estrutura organizativa (Figura 2), que dividiu a supervisão das 13 cidades entre dois<br />
supervisores centrais, <strong>em</strong> vez de todas as cidades estar<strong>em</strong> sob a jurisdição de um único<br />
indivíduo. Tratava-se de um reconhecimento explícito de que não era viável que fosse um<br />
único indivíduo a supervisar adequadamente todas a capitais provinciais. Além disso, a<br />
adopção formal, <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de 1993, do Decreto e Regulamento que estabeleceu<br />
oficialmente o GAPVU possibilitou a contratação de pessoal numa base mais permanente.<br />
Foi esta a estrutura organizativa do programa de subsídio de alimentos até à abolição do<br />
380
GAPVU <strong>em</strong> 1996.<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
A criação do Instituto Nacional de Acção (INAS) deveu-se ao reconhecimento, por<br />
parte do Ministério de Coordenação da Acção Social (MICAS), da necessidade de uma<br />
instituição independente, não anexa ao MICAS, que fosse responsável pela implantação de<br />
programas de assistência social. Para além da reintegração social das crianças e de outras<br />
pessoas afectadas pela guerra nas comunidades, da manutenção de centros para as pessoas da<br />
terceira idade, e de outras actividades estabelecidas sob os auspícios do Ministério de Acção<br />
Social, o INAS propôs-se desenvolver programas de r<strong>em</strong>uneração de trabalho com alimentos,<br />
de micro-crédito, e de programas destinados a fomentar a migração das pessoas da cidade<br />
para o campo. As funções do INAS são vastas, com a missão de criar programas geradores de<br />
salários e outros meios de assistência a pessoas que estivess<strong>em</strong> a viver <strong>em</strong> condições de<br />
subsistência precária (INAS, 1997). A estrutura organizativa do INAS, <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de 1998,<br />
pode ver-se na Figura 3. Além dos departamentos típicos, encarregues de impl<strong>em</strong>entar e de<br />
administrar, o Departamento de Cooperação e Planificação t<strong>em</strong> o mandato de identificar<br />
oportunidades de financiamento de várias actividades de assistência social. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
criaram-se programas de crédito, financiados pelos doadores, com a finalidade de estabelecer<br />
um novo Fundo Social.<br />
A estrutura <strong>em</strong>ergente do programa de assistência social inclui o INAS, <strong>em</strong><br />
coordenação com outras duas instituições governamentais: Instituto Nacional de Emprego e<br />
Formação Profissional e a Direcção Nacional de Assuntos da Juventude (DNAJ). Estas duas<br />
últimas instituições já tinham programas relacionados com a formação profissional, com o<br />
DNAJ orientado especialmente para a integração da juventude, na reconstrução sócio-<br />
económica do país. A nova estratégia preconiza uma maior colaboração no planeamento de<br />
novos programas e na impl<strong>em</strong>entação dos programas existentes entre o governo e as<br />
organizações internacionais e não governamentais. O Programa das Nações Unidas para o<br />
Desenvolvimento (PNUD) t<strong>em</strong> vindo a apoiar financeiramente os consultores que colaboram<br />
na formulação de novas orientações do programa de assistência social (Thompson, 1998), e o<br />
INAS está present<strong>em</strong>ente à procura de novas parcerias incluindo rede de doadores que<br />
ajud<strong>em</strong> a financiar os seus programas, para além da continuação do apóio do orçamento de<br />
estado.<br />
Quando o GAPVU foi abolido, a sede lógica para o programa de subsídio de<br />
alimentos era o INAS. Oficialmente, o programa de subsídio de alimentos está integrado no<br />
Departamento de Programas (Figura 3). Porém, a nível provincial, manteve-se a utilização de<br />
Delegados para efectuar os pagamentos. Além disso, com a expansão do programa para fora<br />
das capitais, teve que proceder-se à nomeação de subdelegados. Os delegados aufer<strong>em</strong> um<br />
salário supl<strong>em</strong>entar por dirigir<strong>em</strong> o programa de subsídio de alimentos. Enquanto os<br />
directores provinciais de Finanças serviam como Delegados, sob a jurisdição do GAPVU, o<br />
381
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
INAS começou por transferir essas funções para os directores provinciais da Acção Social.<br />
Porém, essa transferência ainda não está completa, e nalgumas províncias os directores<br />
provinciais de Finanças continuam como delegados, enquanto noutras províncias essas<br />
funções foram assumidas pelos directores da Acção Social.<br />
Em retrospectiva, é claro que a estrutura organizativa original do programa de<br />
assistência pecuária fosse d<strong>em</strong>asiado complexo para a capacidade limitada administrativa de<br />
<strong>Moçambique</strong> a impl<strong>em</strong>entar. As re-organizações faltaram de rectificar completamente os<br />
assuntos de requisitos complexos de eligibilidade e supervisão, resultando na abolição do<br />
programa.<br />
7.3.1.3 Grupos alvos (beneficiários)<br />
Uma das alterações mais importantes relativas ao programa é o conceito sobre quais<br />
são os sectores populacionais mais vulneráveis e sobre quais são os grupos elegíveis para o<br />
subsídio de alimentos. Nos primeiros anos da década de 90, calculou-se o número das pessoas<br />
absolutamente pobres do país, com a clara distinção entre o pobre conjuntural, que t<strong>em</strong><br />
condições suficientes para trabalhar, mas a qu<strong>em</strong> falta essa oportunidade, e o pobre estrutural,<br />
impossibilitado de trabalhar (Green (1991), Schubert (1992)). Por ocasião da criação do<br />
GAPVU, 15% dos agregados familiares urbanos foram classificados como indigentes (60.000<br />
agregados familiares no total), compreendidos entre a classe dos habitantes urbanos com o<br />
mais baixo rendimento per capita (independent<strong>em</strong>ente de a causa ser estrutural ou<br />
conjuntural), e aparentavam estar extr<strong>em</strong>amente desprovidos de alimentação, consumindo<br />
4<br />
uma média de 60% dos requisitos mínimos de calorias. A alimentação inadequada nos<br />
meios urbanos era devida principalmente à falta de poder de compra e, portanto, concluiu-se<br />
que o subsídio de alimentos seria uma intervenção apropriada (Schubert, 1990).<br />
Os grupos específicos a beneficiar desde o início do programa eram os residentes com<br />
rendimentos que não excedess<strong>em</strong> metade do salário mínimo, os quais também eram ou:<br />
! idosos com mais de 60 anos e des<strong>em</strong>pregados há mais de 2 anos<br />
! pessoas fisicamente incapacitadas com mais de 18 anos e impossibilitadas de<br />
trabalhar;<br />
! famílias com mulheres grávidas grav<strong>em</strong>ente desnutridas;<br />
! famílias com crianças grav<strong>em</strong>ente desnutridas<br />
De acordo com Schubert (1992), a selecção das primeiras duas categorias (as pessoas<br />
da terceira idade e os incapacitados físicos) brotou das características das famílias<br />
4 Os cálculos feitos para determinar as pessoas extr<strong>em</strong>amente pobres e os indigentes existentes nas zonas urbanas<br />
de <strong>Moçambique</strong> foram baseados nos resultados de um inquérito sobre as despesas feitas por agregado familiar na<br />
cidades de Maputo e Tete <strong>em</strong> 1988 (Greene, 1991).<br />
382
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
extr<strong>em</strong>amente pobres, identificadas por meio de um inquérito aos agregados familiares de<br />
Maputo. Os últimos dois grupos foram identificados através de sintomas (subnutrição) que<br />
aparentavam estar claramente relacionados com famílias com sérios probl<strong>em</strong>as de<br />
alimentação, probl<strong>em</strong>as causados principalmente por uma pobreza extr<strong>em</strong>a. Não existe<br />
documentação oficial que possa explicar <strong>em</strong> pormenor o critério usado para designar estes<br />
grupos como candidatos a benefícios. Porém, notas da Repartição de Nutrição, tomadas<br />
durante a fase de planeamento, indicam que 92% das crianças desnutridas eram provindas de<br />
famílias com pai e mãe, e que a maioria dessas famílias eram d<strong>em</strong>asiado pobres para poder<br />
sequer comprar a comida racionada (Repartição de Nutrição, 1990). Portanto, a desnutrição<br />
servia como indicador de agregados familiares pobres, sabendo os responsáveis pelo<br />
planeamento que o subsídio não resolveria o probl<strong>em</strong>a de desnutrição.<br />
De 1991 <strong>em</strong> diante, os relatórios de avaliação mencionam a inclusão de outras duas<br />
categorias de recipientes de subsídio de alimentos: agregados familiares chefiados por<br />
mulheres com cinco ou mais filhos e indivíduos pobres com doenças crónicas. Em Dez<strong>em</strong>bro<br />
de 1994, ainda nenhum destes dois grupos candidatos a benefícios estava inscrito no<br />
programa (Rogers, 1994). A inclusão de grupos adicionais teve início <strong>em</strong> 1995, no auge da<br />
Fase de Expansão, mas nenhum dos grupos veio alguma vez a atingir os níveis de cobertura<br />
equivalentes aos quatro grupos originais.<br />
O desmesurado alargamento do número de beneficiários, os rumores de corrupção e as<br />
questões sobre a viabilidade do programa devido ao declínio das receitas provindas das<br />
vendas dos produtos alimentícios, levaram o Ministério do Plano e Finanças a realizar, <strong>em</strong><br />
1995, um grande inquérito estruturado dos beneficiários do programa. As avaliações baseadas<br />
na análise destes dados (UAP/MPF (1995), Datt et al. (1996), Garrett et al. (1996) e as<br />
questões sobre a viabilidade acima mencionadas, que o programa tinha de encarar, levaram à<br />
reformulação da política do Governo no que diz respeito aos critérios apropriados a seguir na<br />
selecção dos grupos que deveriam beneficiar dos programas de subsídio de alimentos<br />
(UAP/MPF (1997)).<br />
Reconhecendo a falta de recursos, por parte do próprio Governo, os pedidos para a<br />
reestruturação, como uma prioridade urgente, e um ónus cada vez mais pesado para o<br />
orçamento do Governo, procuram-se maneiras de reduzir o custo do GAPVU. Começou por<br />
se proceder à distinção entre os beneficiários capacitados para exercer actividades laborais de<br />
natureza física e os incapacitados para essas actividades. Começou a surgir um consenso<br />
sobre o facto de que se deveriam criar outros programas para agregados familiares que<br />
incluíss<strong>em</strong> mulheres e crianças desnutridas e sobre o facto de que estes agregados familiares<br />
deveriam ser capazes de poder sair do estado de pobreza quando surgiss<strong>em</strong> oportunidades de<br />
<strong>em</strong>prego apropriadas. Além disso, <strong>em</strong>bora os idealizadores do programa de subsídio de<br />
alimentos nunca esperass<strong>em</strong> que o subsídio viesse a resolver o probl<strong>em</strong>a de desnutrição, a sua<br />
383
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
incapacidade para o resolver começou a ser visto como um ponto fraco no planeamento do<br />
programa.<br />
Os critérios actuais para receber o subsídio de alimentos são os seguintes: tratar-se de<br />
uma pessoa idosa que viva num agregado familiar onde não exista qualquer pessoa<br />
economicamente activa; tratar-se de um deficiente físico que viva com um adulto não<br />
economicamente activo; tratar-se de uma pessoa com uma doença crónica. As mulheres com<br />
mais de 5 filhos e famílias com filhos desnutridos ou com mulheres grávidas deviam ser<br />
transferidas para outros programas mais apropriados. Quando o programa foi reestruturado<br />
sob os auspícios do INAS, estes critérios foram aceites, com o lançamento de programas-<br />
piloto de trabalho r<strong>em</strong>unerado, cuja finalidade era providenciar uma fonte alternativa de<br />
rendimento para as mulheres excluídas do programa de subsídio de alimentos . 5<br />
A outra questão fundamental relacionada com a selecção dos grupos de beneficiários<br />
apropriados prende-se com o facto do programa de subsídio de alimentos se tornar ou não<br />
extensivo às zonas rurais. Antes do fim da guerra, <strong>em</strong> 1992, o programa de distribuição de<br />
produtos alimentícios nas zonas rurais, quer gratuitamente quer <strong>em</strong> troca de trabalho, era o<br />
principal programa de segurança social existente nas zonas rurais. Depois da guerra, estes<br />
programas diminuíram <strong>em</strong> termos de cobertura. Tipicamente, a pobreza rural e a indigência<br />
são piores que a urbana nos países muito pobres e <strong>Moçambique</strong> não é excepção (DPDS,<br />
1998). Várias avaliações levantaram a questão sobre o facto de ser desejável tornar extensivo<br />
o programa de subsídio de alimentos às zonas rurais ou de os programas de segurança social<br />
alternativos ser<strong>em</strong> mais apropriados que o programa de subsídio de alimentos (Schubert)<br />
(1992), Schubert (1993), UAP / MPF (1995),Datt et al. (1996), AUAP/UPP (1997)).<br />
Sob os auspícios do INAS, a expansão inicial do programa de subsídio de alimentos às zonas<br />
rurais começou com seis novas delegações <strong>em</strong> Abril de 1998 (Borges, informação pessoal)<br />
para administrar o programa de subsídio de alimentos fora das capitais provinciais. A<br />
selecção de uma localidade particular foi feita <strong>em</strong> resposta à pressão das autoridades políticas<br />
locais, no sentido de ter<strong>em</strong> um programa na sua zona.<br />
7.3.1.4 Cobertura<br />
As expectativas do programa de subsídio de alimentos com respeito à taxa de<br />
5 Antes de dar início ao programa-piloto, o INAs realizou um inquérito entre os beneficiários do<br />
programa de subsídio de alimentos com o fim de verificar se esses beneficiários estariam interessados <strong>em</strong><br />
participar <strong>em</strong> programas de trabalho r<strong>em</strong>unerado e com fim de determinar que tipos de programas eles<br />
preferiam. Verificou-se que existia um grande interesse <strong>em</strong> programas de trabalho r<strong>em</strong>unerado, no caso de o<br />
trabalho não exigir grande esforço físico (limpar parte da cidade), <strong>em</strong> oposição a trabalhos que exigiss<strong>em</strong><br />
grande esforço físico (construção de estradas) (INAS, 1997). Concluiu-se que os trabalhos que exigiss<strong>em</strong><br />
grande esforço físico não eram apropriados para mulheres grávidas desnutridas. Deveria também prestar-se<br />
atenção ao declínio da qualidade dos cuidados infantis se as mães viess<strong>em</strong> a participar nesses programas.<br />
384
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
implantação de actividades foram substanciais e, vistas retrospectivamente, foram irrealistas<br />
desde o início. Após a aprovação da resolução pelo Conselho de Ministros no dia 27 de Junho<br />
de 1990 que criou o GAPVU, dentro do Ministério das Finanças, esperava-se que a<br />
impl<strong>em</strong>entação <strong>em</strong> larga escala começasse <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de 1990. Porém, o pessoal<br />
administrativo foi sendo contratado com muita lentidão e gastou-se muito t<strong>em</strong>po a pôr o<br />
programa a funcionar. Por conseguinte, a Criação e a Fase de Iniciação caracterizou-se por<br />
taxas de crescimento extr<strong>em</strong>amente baixas no número de beneficiários. No dia primeiro de<br />
Janeiro de 1991, no ano seguinte, portanto, após o lançamento do programa, só estavam<br />
inscritas no programa 19 pessoas, o que quer dizer que só aumentou para 572 agregados<br />
familiares, <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de 1991 (Schubert, 1992).<br />
A modesta taxa de inscrição foi severamente criticada numa reunião-chave realizada<br />
no dia 27 de Maio de 1991, reunião presidida pelo Ministro das Finanças. Tendo atingido<br />
apenas 0,6% do grupo alvo <strong>em</strong> Maputo, (10.000 agregados familiares indigentes), tomou-se a<br />
decisão de reorganizar o programa, estabelecendo metas específicas para o número de<br />
beneficiários a ser<strong>em</strong> incluídos. A finalidade era incluir 4.000 beneficiários no dia 30 de<br />
Junho de 1992; 8.000 no dia 30 de Junho de 1993; 20.000 no dia 30 de Junho de 1994; e<br />
60.000 no dia 30 de Junho de 1995, representando o último número 75% do número<br />
calculado de beneficiários indigentes <strong>em</strong> todas as zonas urbanas (80.000 no total) (Schubert,<br />
1992).<br />
Com uma estrutura numérica devidamente definida, as taxas de inscrição aumentaram<br />
dramaticamente. Em Set<strong>em</strong>bro de 1993, o principal consultor contratado para avaliar o<br />
programa de subsídio de alimentos informou que a cobertura era "excelente", com 54.000<br />
beneficiários inscritos, o que não só ultrapassava o número estabelecido para Junho do ano<br />
seguinte, como se aproximava do número total de 60.000 para o dia 30 de Junho de 1995<br />
(Schubert, 1993).<br />
A expansão do programa variou consideravelmente entre os números designados e as<br />
cidades. A Tabela 2 compara o número de beneficiários <strong>em</strong> listas oficiais, a partir de duas<br />
datas precisas: Agosto de 1995, durante a fase de expansão, e Dez<strong>em</strong>bro de 1997, um ano<br />
depois de a reestruturação do programa haver tido início. Apesar de mais da metade da<br />
população do país viver <strong>em</strong> Maputo/Matola, as cidades muito mais pequenas de Tete e<br />
Nacala igualavam ou excediam o número de beneficiários inscritos <strong>em</strong> Maputo/Matola.<br />
Naquelas duas localidades, havia percentagens muito mais altas de mulheres com filhos<br />
desnutridos inscritas no programa do que as previstas no dito programa de recrutamento<br />
(GAPVU, 1995). Em Agosto de 1995, aproximadamente 52% dos beneficiários eram pessoas<br />
da terceira idade, 38% eram mulheres com filhos desnutridos, compreendendo os deficientes<br />
físicos apenas 4,2% dos beneficiários. Subsequentes investigações de corrupção revelaram<br />
que muitos dos beneficiários eram imaginários - <strong>em</strong> Tete e <strong>em</strong> Quelimane, por ex<strong>em</strong>plo, mais<br />
385
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
de 70% dos beneficiários não apareceram durante a prova de vida para reclamar os seus<br />
benefícios (Borges, informação pessoal). Seguidamente foram substituídos a maioria dos<br />
funcionários, com excepção dos de Chimoio, Beira e Lichinga (Borges, informação pessoal).<br />
Em Dez<strong>em</strong>bro de 1997, a composição dos 32.391 beneficiários reflectia a eliminação<br />
dos beneficiários imaginários e a alteração da política relacionada com os grupos alvos,<br />
compreendendo então as pessoas da terceira idade 78% dos beneficiários, os deficientes<br />
físicos 6%, e as mulheres com filhos desnutridos apenas 10% (Tabela 2). Este último grupo,<br />
juntamente com as mulheres grávidas desnutridas e com as mulheres chefes de agregados<br />
familiares com mais de 5 filhos, foi sendo gradualmente eliminado do programa (INAS,<br />
1997). Além disso, aproximadamente 30% dos beneficiários encontravam-se <strong>em</strong><br />
Maputo/Matola, sendo reduzido para mais de 60% o número de beneficiários oficiais <strong>em</strong><br />
Nacala, Tete, Quelimane e P<strong>em</strong>ba.<br />
7.3.1.5 Requisitos de Elegibilidade e Prestação de Serviços<br />
O GAPVU tinha critérios explícitos de admissão e de saída do programa. Havia dois<br />
tipos de requisitos de elegibilidade: os que se aplicavam a todos os grupos e os que se<br />
aplicavam especificamente a grupos particulares. Todos os candidatos tinham que viver numa<br />
6<br />
capital provincial ou <strong>em</strong> Nacala ou Maxixe durante mais de um ano e o seu rendimento<br />
mensal per capita não podia exceder 26.000 MT durante a fase inicial do programa<br />
(US$26.00 por mês, <strong>em</strong> Agosto de 1990), e 32.000 MT durante a fase de expansão e de<br />
reestruturação (US3.54, <strong>em</strong> Agosto de 1995, quantia que desceu para US$2.78, <strong>em</strong> Agosto de<br />
1997). Além disso, os candidatos - as pessoas da terceira idade, os deficientes físicos e as<br />
mulheres que tinham a cargo agregados familiares (com mais de 5 filhos) - tinham de viver<br />
<strong>em</strong> agregados familiares onde não houvesse outro parente, entre os 18 e os 59 anos, de idade<br />
economicamente activa, ou que tivesse um parente ausente que trabalhasse num país vizinho,<br />
tinham de apresentar o bilhete de identidade e apresentar uma declaração assinada de que<br />
nenhum m<strong>em</strong>bro do agregado familiar trabalhava para outra entidade (Schubert, 1996). As<br />
crianças desnutridas e as mulheres grávidas tinham que ser examinadas <strong>em</strong> clínicas de saúde<br />
e satisfazer critérios adicionais de elegibilidade (por ex<strong>em</strong>plo, as crianças deviam ter menos<br />
de um terço do peso apropriado para a sua idade), a fim de poder<strong>em</strong> ser incluídas no<br />
programa.<br />
Sob o GAPVU, logo que um funcionário recebesse um boletim de candidatura, tinha<br />
de fazer uma visita ao domicílio e fazer a avaliação do estado sócio-económico do(a)<br />
candidato(a) e da residência, uma e outra confirmadas por meio de critérios enumerados na<br />
6 Como é óbvio, isto destinava-se a des-incentivar a futura migração do campo para a cidade (Schubert,<br />
1990)<br />
386
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Certificação das Diversas Situações Relativas. Com a desvalorização da moeda nacional (o<br />
metical), tornou-se cada vez mais evidente, durante a fase de expansão, que os critérios de<br />
elegibilidade referentes ao rendimento eram tão baixos que era impossível impl<strong>em</strong>entá-los.<br />
Para algumas pessoas da terceira idade, a obtenção dos necessários documentos de identidade<br />
eram também um obstáculo à admissão no programa. Os critérios de elegibilidade eram mais<br />
simples para as mulheres e para as crianças desnutridas, as quais eram normalmente aceites<br />
no programa apenas com base nos indicadores do estado de nutrição, do que para as pessoas<br />
sujeitas a uma avaliação baseada na d<strong>em</strong>ografia e no rendimento. Rogers (1994) notou que<br />
90% dos boletins de candidatura das mulheres grávidas desnutridas e das crianças desnutridas<br />
eram aceites, <strong>em</strong> comparação com 60 a 70% dos boletins de candidatura das pessoas da<br />
terceira idade e dos deficientes físicos.<br />
Em teoria, havia critérios explícitos para a retirada dos beneficiários do programa. Os<br />
benefícios eram garantidos por um ano para todos os beneficiários de agregados familiares,<br />
com excepção das mulheres grávidas. Ao fim de um ano, a elegibilidade do agregado familiar<br />
era reavaliada. As mulheres grávidas eram excluídas do programa 6 meses após o nascimento<br />
da criança. Se a criança continuasse a apresentar sintomas de desnutrição, os pagamentos<br />
continuavam a ser efectuados até ao máximo de cinco anos de idade. Porém, a confirmação<br />
de desnutrição como critério para a exclusão do programa exigia visitas ao domicílio, e, à<br />
medida que o sist<strong>em</strong>a se foi expandindo, não era possível, para o limitado número de<br />
funcionários, n<strong>em</strong> sequer fazer as visitas obrigatórias ao domicílio para a admissão no<br />
programa.<br />
As expectativas dos funcionários foram d<strong>em</strong>asiado exigentes durante o programa do<br />
GAPVU. Os esforços feitos para levar os bancos a fazer os pagamentos mensais foram<br />
inutilizados (Schubert, 1993a), e, à medida que o programa cresceu, as actividades exigidas<br />
tanto ao pessoal administrativo como ao pessoal executivo tornaram-se excessivas.<br />
Começaram a notar-se sinais contraditórios a respeito da prestação de serviços: "a aplicação<br />
dos critérios de elegibilidade era subjectiva" (Rogers, Dez<strong>em</strong>bro de 1994): "a prática de<br />
servir-se dos Directores Provinciais de Finanças como Delegados garantia a regularidade dos<br />
pagamentos e a responsabilidade financeira" (Schubert, Maio de 1995); "30% dos agregados<br />
familiares sofreram interrupções no pagamento e havia discrepâncias entre a quantia que o<br />
agregado familiar deveria receber e a quantia que o agregado familiar recebia na realidade"<br />
(UAP/MPF, Set<strong>em</strong>bro de 1995); "59% dos beneficiários recebiam menos do que a<br />
composição do seu agregado familiar indicava que deveriam receber, e 70% dos agregados<br />
familiares com pessoas da terceira idade recebiam menos do que deveriam receber" (Garrett<br />
et al., 1996). Muitos beneficiários afirmaram que não sabiam qual deveria ser o seu nível de<br />
pagamento. Além disso, poderá haver duas razões para que os pagamentos não<br />
correspondess<strong>em</strong> à composição apropriada do agregado familiar. Por um lado, o GAPVU<br />
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<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
poderia estar <strong>em</strong> erro, com ou s<strong>em</strong> intenção, na aplicação das regras. Por outro lado, os<br />
beneficiários, especialmente as pessoas da terceira idade, poderiam não referir os m<strong>em</strong>bros do<br />
agregado familiar cuja existência poderia exclui-los potencialmente do programa (isto é, os<br />
adultos entre os 18 e os 59 anos de idade).<br />
A fim de impl<strong>em</strong>entar o inquérito sobre a estrutura dos beneficiários <strong>em</strong> 1995, a UAP<br />
obteve as listas existentes dos beneficiários e procurou, com grande dificuldade, localizar, ao<br />
acaso, alguns agregados familiares selectos que constavam dessa lista. Os funcionários do<br />
GAPVU <strong>em</strong> algumas províncias tornaram-se extr<strong>em</strong>amente relutantes <strong>em</strong> prestar auxílio aos<br />
realizadores desse inquérito, os quais foram eventualmente forçados a localizar os<br />
beneficiários nos locais de pagamento e a acompanhá-los a suas casas a fim de fazer<strong>em</strong> a<br />
entrevista (Desai, informação pessoal). A falta de colaboração reflectiu-se provavelmente no<br />
reconhecimento da existência de beneficiários imaginários inscritos na lista de pagamentos.<br />
No ano seguinte, descobriu-se uma vasta rede de corrupção, mercê de uma investigação<br />
interna feita pelo governo, não por meio de qualquer avaliação feita por el<strong>em</strong>entos alheios ao<br />
programa.<br />
A fase de reestruturação e da transferência do programa para o recém-criado INAS foi<br />
acompanhada de consideráveis mudanças nos processos administrativos. Computarizaram-se<br />
as listas dos beneficiários e dentro de cada província realizou-se um minucioso processo<br />
(conhecido por prova de vida) para identificar todos os agregados familiares constantes da<br />
lista. Durante este período, os beneficiários legítimos não receberam os devidos pagamentos<br />
durante vários meses (Bazo, 1998). Porém, fizeram-se mudanças permanentes nos processos<br />
de pagamento para evitar o reaparecimento de beneficiários inexistentes. De acordo com os<br />
novos processos, o residente permanente responsável por auxiliar os m<strong>em</strong>bros elegíveis da<br />
sua comunidade a inscrever-se no programa e os delegados que vieram das sedes provinciais<br />
de propósito para fazer os pagamentos têm ambos uma lista separada dos beneficiários<br />
legítimos. O nome do beneficiário deverá aparecer <strong>em</strong> ambas as listas para que o beneficiário<br />
possa receber o pagamento. Além disso, o residente permanente deve assinar a lista definitiva<br />
de pagamento, um acto que não se exigia anteriormente (Quive, 1998).<br />
Além de tornar os residentes permanentes mais responsáveis pela administração do<br />
programa, modificaram-se os mecanismos de incentivo para os que colaboravam com o INAS<br />
na identificação dos beneficiários. Em vez de receber<strong>em</strong> um pagamento nominal por cada<br />
pessoa inscrita, os residentes permanentes e as enfermeiras utilizados pelo INAS,<br />
regularmente, passaram a receber um salário mensal de 300.000 MT (US$25.40) (Quive,<br />
1998). Além de servir<strong>em</strong> como um incentivo para melhorar os serviços de pagamento, Quive<br />
(1998) nota-se que o prestígio social dos assalariados residentes permanentes t<strong>em</strong> subido nas<br />
suas comunidades. Além disso, <strong>em</strong> resposta às críticas de que <strong>em</strong> certas zonas era escasso o<br />
conhecimento acerca dos requisitos e dos processos para admissão no programa e do subsídio<br />
388
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
com que os beneficiários contavam, baseados na composição do agregado familiar, dentro de<br />
cada capital provincial, nomeou-se uma equipa de dois funcionários para se<br />
responsabilizar<strong>em</strong> pela informação das comunidades acerca da existência e dos requisitos do<br />
programa.<br />
Porém, enquanto melhorava o cumprimento das regras e se faziam tentativas para<br />
melhorar os serviços básicos de pagamento, certos requisitos-chave de elegibilidade para os<br />
grupos destinatários do programa (pessoas da terceira idade, deficientes físicos, e doentes<br />
crónicos) permaneceram na mesma. Os critérios de rendimento permaneceram<br />
paradoxalmente baixos (32.000 MT per capita por mês (nominal US$2.62) <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de<br />
1998) e, portanto, os funcionários baseavam-se nos indicadores que constavam do boletim de<br />
candidatura (por ex<strong>em</strong>plo, a presença de pessoas entre os 18 e os 59 anos de idade dentro do<br />
agregado familiar), na avaliação e nas observações pessoais (por ex<strong>em</strong>plo, os bens<br />
observáveis, a dificuldade de andar ou de des<strong>em</strong>penhar tarefas simples, por parte de uma<br />
pessoa da terceira idade), antes de apresentar a sua recomendação. O aumento dos<br />
funcionários e os custos da operação fizeram com que os gastos totais feitos com o programa<br />
e com a sua administração passass<strong>em</strong> de aproximadamente 3-5% (Schubert 1993, 1995) para<br />
cerca de 11% (Borges, informação pessoal).<br />
7.3.1.6 Subsídio<br />
Na Resolução de Junho de 1990, que criou o programa de subsídio de alimentos nas<br />
zonas urbanas, a quantia do "subsídio" a ser distribuído foi especificado no Artigo 3, sob a<br />
rubrica de Regulamento: O subsídio de alimentação é de 7.500 MT por mês para os<br />
indivíduos que não pertençam a um agregado familiar. Para os agregados familiares, a<br />
quantia do subsídio sobe para 12.500 MT ou para 15.000 MT, dependendo de o número das<br />
pessoas da família ser constituído por dois ou três ou mais m<strong>em</strong>bros, respectivamente. O<br />
subsídio de alimentação será ajustado <strong>em</strong> proporção com os aumentos do salário mínimo<br />
(Boletim, 1990). Quando se oficializou formalmente a transferência do GAPVU do<br />
Ministério do Plano e Finanças para a Secretaria de Estado para a Acção Social, pelo Decreto<br />
Nº 16/93, a quantia do subsídio subiu para os agregados familiares elegíveis. Os agregados<br />
familiares elegíveis, constituídos por 1, 2, ou 3 pessoas, recebia 20.000, 32.400, 40.000 MT,<br />
respectivamente, estipulando o decreto que se fariam ajustamentos apropriados <strong>em</strong> proporção<br />
com os aumentos do salário mínimo (Boletim, 1993). O último aumento significativo de<br />
subsídio de alimentos teve lugar <strong>em</strong> 1996, com 32.000 MT mensais estipulados para um<br />
indivíduo solteiro, 51.000 MT para agregados familiares de 2 pessoas, 64.000 MT para<br />
agregados familiares de 3 pessoas, e uma quantia adicional de 8.000 MT por cada m<strong>em</strong>bro<br />
adicional do agregado familiar.<br />
Como poderá ver-se na Figura 4, os aumentos previstos <strong>em</strong> proporção com os<br />
389
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
aumentos do salário mínimo nunca ocorreram numa base regular. Desde o seu início, tanto o<br />
Ministério do Plano e Finanças como o Ministério de Acção Social acordaram que houvesse<br />
uma marg<strong>em</strong> significativa entre o salário mínimo e o subsídio do programa para promover<br />
uma atitude de auto-respeito e motivar os beneficiários a servir<strong>em</strong>-se das suas próprias<br />
capacidades para melhorar a sua situação sócio-económica (Mandlate, informação pessoal).<br />
Portanto, o subsídio inicial para um indivíduo solteiro (7.500 MT) era 30% do salário mínimo<br />
(25.100 MT), <strong>em</strong> Agosto de 1990. A partir desse momento, o valor relativo do subsídio<br />
baixou gradualmente para 13% do valor do salário mínimo, <strong>em</strong> princípios de 1993. Com o<br />
aumento do subsídio para 20.000 MT, o subsídio voltou a recuperar o seu valor <strong>em</strong> termos<br />
relativos, sendo 34% do salário mínimo <strong>em</strong> Abril de 1993: 58.800 MT. Desse momento <strong>em</strong><br />
diante, o valor relativo do subsídio voltou a baixar gradualmente. Depois de atingir um valor<br />
relativo de 8.8% do salário mínimo, um aumento do subsídio para 32.000 MT para um<br />
indivíduo solteiro, <strong>em</strong> 1996, fez apenas subir o seu valor relativo para 11.8%. O subsídio<br />
voltou a baixar para 9% do valor do salário mínimo, <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de 1998.<br />
Teoricamente, supõe-se que o salário mínimo cubra as necessidades básicas<br />
(alimentação e o resto das despesas normais) de um agregado familiar de 6 pessoas. Porém,<br />
enquanto o poder de compra do salário mínimo t<strong>em</strong> vindo a ser ajustado mais frequent<strong>em</strong>ente<br />
que o subsídio, <strong>em</strong> resposta ao declínio do seu valor real (usualmente cada 8-12 meses), o<br />
salário, desde 1990, nunca cobriu n<strong>em</strong> sequer as necessidades básicas de alimentação de um<br />
agregado familiar de 6 pessoas, <strong>em</strong> Maputo (Pires, 1997). Baseados no custo de uma dieta<br />
nutritiva equilibrada de 2.200 calorias por pessoa por dia <strong>em</strong> Maputo, Pires (1997) calculou<br />
que, desde Janeiro de 1990 até Agosto de 1996, o valor flutuante do salário mínimo passou a<br />
ser suficiente para alimentar apenas adequadamente de 1,3 a 2,7 pessoas.<br />
Como é óbvio, o poder de compra do subsídio de alimentos não só t<strong>em</strong> baixado<br />
significativamente <strong>em</strong> relação ao salário mínimo, como também t<strong>em</strong> baixado drasticamente<br />
<strong>em</strong> termos reais, desde a sua criação. Praticamente cada avaliação do programa, quer seja<br />
baseada na recolha de dados fundamentais, quer seja feita <strong>em</strong> base aos relatórios publicados,<br />
t<strong>em</strong> revelado um declínio no valor do poder de compra do subsídio (veja-se a Tabela 1) e, por<br />
conseguinte, t<strong>em</strong> resultado na recomendação do seu aumento. Recomendações recentes de<br />
pagamentos mensais para um agregado familiar de uma única pessoa inclu<strong>em</strong> 60.000 MT<br />
(Tovela, 1997), 70.000 a 105.000 MT (Bazo, 1998), com o próprio Ministério de Acção<br />
Social a recomendar 50% do salário mínimo (177.000 MT) <strong>em</strong> Julho de 1998 (MICAS,<br />
1998). A falta de resposta a estas recomendações reflecte antes de mais nada o declínio de<br />
apóio político ao programa, por parte do governo, atrasos devido ao desejo do Ministério do<br />
Plano e Finanças de avaliar a forma como o programa reestruturado se adaptaria à estratégia<br />
para a redução da pobreza revista que tinha vindo a ser examinada desde 1996, e devido à<br />
limitação dos recursos fiscais do Governo.<br />
390
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
7.3.2. Motivações para as mudanças-chave sofridas pelo programa<br />
A análise precedente da evolução do programa foca dois pontos básicos na história do<br />
programa de subsídio de alimentos nas zonas urbanas. O primeiro ponto é a reunião realizada<br />
no dia 27 de Maio de 1991, a qual resultou na primeira reorganização do programa, e o<br />
segundo ponto é a decisão da abolição do GAPUV <strong>em</strong> 1996 e a transferência das funções do<br />
programa para a recém-criada instituição: o INAS.<br />
Como se referiu anteriormente, a reunião de Maio de 1991 foi presidida pelo Ministro<br />
das Finanças e a ela assistiram o Vice-Ministro da Saúde, o Secretário de Estado de Acção<br />
Social, todos os m<strong>em</strong>bros da Comissão de Supervisão do GAPVU e os consultores principais.<br />
O consultor mais importante foi Bernard Schubert, cujo trabalho era financiado pela Equipa<br />
Consultiva de Berlim (GTZ), o qual tinha sido encarregado de avaliar o programa de subsídio<br />
de alimentos desde a sua criação. Sob pressão dos principais doadores, para mostrar<br />
progresso na impl<strong>em</strong>entação do programa de segurança social, o Ministro das Finanças<br />
criticou energicamente a impl<strong>em</strong>entação lenta do programa, propondo uma reorganização<br />
total. Esta medida foi baseada na evidência fornecida pelo consultor, mostrando que a<br />
cobertura do programa, no seu conjunto, era muito limitada, o que, por sua vez, tinha<br />
resultado <strong>em</strong> custos administrativos por recipiente extr<strong>em</strong>amente altos (Schubert, 1991).<br />
Porém, o consultor fez saber que, devido a rigorosos processos de candidatura e de<br />
aprovação, o programa tinha evitado qualquer derrame.<br />
O consultor, com um argumento visivelmente perverso, quis "reduzir os custos com<br />
os beneficiários, expandindo o programa." Certamente que a expansão do programa não<br />
reduziria os custos, mas, se o orçamento administrativo se mantivesse ao mesmo nível, os<br />
custos administrativos seriam mais baixos, mas apenas numa base de custo por beneficiário.<br />
Mas, dada a necessidade de um controle adequado de supervisão e administração e de um<br />
apóio logístico, os custos administrativos "baixos" não eram necessariamente indicadores de<br />
uma boa administração. Na verdade, o consultor, ao mesmo t<strong>em</strong>po que argumentava a favor<br />
da expansão dos números exponencialmente, observou que o GAPVU tinha uma capacidade<br />
administrativa limitada, e que esta constituiria um grande obstáculo para a impl<strong>em</strong>entação do<br />
programa com êxito (Schubert, 1991).<br />
Como parte do esforço de reorganização, foram adoptadas uma série de medidas para<br />
fortalecer a capacidade administrativa e o impacto potencial do programa de subsídio de<br />
alimentos. Discutiram-se os incentivos referentes aos funcionários para aumentar o<br />
recrutamento de beneficiários. Por ex<strong>em</strong>plo, a fim de motivar os enfermeiros a processar os<br />
requerimentos, um enfermeiro receberia 500 MT por cada requerimento aprovado (Schubert,<br />
1992). Outras medidas tomadas durante a reorganização incluíram a transferência da<br />
supervisão do GAPVU do Ministério do Plano e Finanças para a Secretaria de Estado de<br />
Acção Social, a contratação de dois dirigentes adicionais a t<strong>em</strong>po integral, a simplificação de<br />
391
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
alguns dos critérios de elegibilidade (por ex<strong>em</strong>plo, as declarações de rendimento das famílias<br />
de mulheres desnutridas e de crianças seriam aceites s<strong>em</strong> a subsequente verificação por parte<br />
dos líderes de quarteirão), a aquisição de mais equipamento (telefone para a sede central,<br />
7<br />
veículos), e um aumento no nível de subsídio para famílias mais numerosas . A transferência<br />
do programa para a Secretaria de Estado de Acção Social fez sentido <strong>em</strong> termos<br />
organizativos, uma vez que o GAPVU estava agora sediado numa instituição que tinha por<br />
missão institucional zelar pelo b<strong>em</strong>-estar das pessoas. Porém, os funcionários do Ministério<br />
das Finanças, a nível provincial, funcionavam ainda, na realidade, como delegados<br />
responsáveis pelos pagamentos. Assim, o Ministério do Plano e Finanças continuou a<br />
controlar os aspectos financeiros do programa.<br />
A consequência mais significativa da reorganização foi a adopção integral de<br />
objectivos quantitativos para a inscrição nos prazos estabelecidos. Mesmo assim, o consultor<br />
comentou que o número de beneficiários a inscrever (4.000 <strong>em</strong> Junho de 1992; 8.000 <strong>em</strong><br />
Junho de 1993; 20.000 <strong>em</strong> Junho de 1994) "era muito modesto e frustrante, tendo <strong>em</strong><br />
consideração os probl<strong>em</strong>as pr<strong>em</strong>entes de extr<strong>em</strong>a pobreza e desnutrição a que estavam<br />
sujeitos os grupos alvos" (Schubert, 1991). Isto era indubitavelmente verdade do ponto de<br />
vista social, mas do ponto de vista de administração pública, t<strong>em</strong>os que reconhecer que o<br />
Governo, nessa altura, não dispunha de recursos humanos e financeiros suficientes para<br />
elevar os números de recipientes <strong>em</strong> tão pouco t<strong>em</strong>po.<br />
A adopção de uma cobertura tão vasta de beneficiários passou a ser o critério<br />
fundamental para avaliar o êxito do programa de subsídio de alimentos, minimizando a<br />
importância de uma selecção cuidadosa e rigorosa e a importância de uma administração<br />
eficaz e efectiva do programa. Avaliações subsequentes, realizadas entre 1993 e meados de<br />
1995, elogiaram os altos índices de cobertura e os baixos custos administrativos: "o GAPVU<br />
é o único, de entre os programas urbanos de segurança social, que é na realidade operacional<br />
e que atinge um alto número de beneficiários" (Rogers, 1994); "Na opinião das famílias<br />
pobres e indigentes, o GAPVU é a única esperança" (Schubert, 1995); "O programa está b<strong>em</strong><br />
concebido e é b<strong>em</strong> administrado. O custo de eficácia do programa é excelente, apenas 3,2%<br />
do orçamento total" (Schubert, 1995).<br />
A decisão de ampliar o número de beneficiários reflecte a pressão exercida pelas<br />
comunidades de doadores que queriam ver resultados imediatos, a pressão exercida pelos<br />
políticos que queriam mostrar que estavam fazendo alguma coisa pelos pobres, e reflecte<br />
7 Antes da reorganização, o subsídio era de 7.500 MT para indivíduos que não pertencess<strong>em</strong> a um agregado<br />
familiar, 12.500 MT para agregados familiares de 2 pessoas, e 15.000 MT para agregados familiares com mais de<br />
3 pessoas (GAPVU, 1990). Depois, o subsídio foi aumentado de 2.000 MT para cada m<strong>em</strong>bro adicional do<br />
agregado familiar com mais de 3 pessoas (Schubert, 1991).<br />
392
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
também uma avaliação deficiente por parte dos consultores técnicos <strong>em</strong> relação à melhor<br />
maneira de reduzir os custos administrativos.<br />
Esses baixos custos administrativos, <strong>em</strong> vez de ter dado aso a elogios ao êxito do<br />
programa, deveriam ter levado os responsáveis a perguntar-se se haveria alguma coisa errada.<br />
Estavam os custos do programa a ser considerados baixos deliberadamente? Eram esses<br />
custos tão baixos que estavam a pôr <strong>em</strong> risco a operação e a supervisão efectiva do programa?<br />
Não dispomos de factos para mostrar que os custos do programa estavam a ser considerados<br />
baixos incorrectamente, mas <strong>em</strong> 1996 era evidente que a administração do programa estava<br />
tendo probl<strong>em</strong>as (pagamentos <strong>em</strong> atraso ou interrompidos), e que estava a haver desvio de<br />
fundos.<br />
O Ministério de Acção Social e o Ministério do Plano e Finanças foram responsáveis<br />
por iniciar a segunda reforma fundamental: a abolição do GAPVU. O Ministério de Acção<br />
Social já tinha iniciado a criação de um Instituto separado (o INAS) para a impl<strong>em</strong>entação de<br />
serviços sociais <strong>em</strong> 1996, e essa era a instituição lógica para se responsabilizar pela reforma e<br />
pela administração do programa de subsídio de alimentos. Certamente que a reestruturação<br />
foi uma resposta à vasta rede de corrupção detectada na administração do programa e que<br />
tinha sido publicada <strong>em</strong> jornais locais e discutida no Parlamento (Quive, 1998). Porém, de<br />
particular interesse é o facto de a responsabilidade de supervisar os pagamentos ter sido<br />
transferida, nalgumas províncias, dos Delegados Provinciais, os quais, sob o GAPVU, eram<br />
Directores Provinciais do Ministério do Plano e Finanças, para o Ministério de Acção Social<br />
(MICAS).<br />
O documento básico que descreve a estrutura e as responsabilidades do INAS reflecte<br />
uma evolução de compreensão <strong>em</strong> termos do que seja uma estratégia de combate à pobreza,<br />
consciente do que se deverá fazer <strong>em</strong> prol dos grupos populacionais mais vulneráveis (INAS,<br />
1997). Reflecte também o reconhecimento de que, <strong>em</strong> virtude da limitação de recursos, as<br />
agências do Governo, tais como o INAS, deverão trabalhar <strong>em</strong> colaboração com organizações<br />
não-governamentais para alcançar estes objectivos. O novo conceito reflecte a diferenciação<br />
dos grupos populacionais vulneráveis <strong>em</strong> termos da sua capacidade para realizar trabalho. Os<br />
agregados familiares com pessoas da terceira idade indigentes e com deficientes físicos<br />
continuarão a ser mantidos por meio do programa de subsídio de alimentos; criar-se-ão<br />
oportunidades de trabalho r<strong>em</strong>unerado para os aglomerados familiares com crianças<br />
desnutridas ou com elevadas condições de dependência; e estabelecer-se-ão programas<br />
especiais de formação profissional para a juventude (Programa Nacional Integrado para a<br />
Acção Social, Emprego, e Juventude, 1998).<br />
É interessante notar que algumas das actividades a exercer pelo INAS (como, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, um programa integrado <strong>em</strong> que coexist<strong>em</strong> o trabalho r<strong>em</strong>unerado e o programa de<br />
subsídio de alimentos) foram propostos por Schubert (1992) no documento <strong>em</strong> que descrevia<br />
393
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
a sua visão de "Um programa de rede de protecção social (social safety net)de baixo custo<br />
para os agregados familiares com pobres e indigentes nas cidades de <strong>Moçambique</strong>." Isto<br />
aponta para o longo período de gestação necessário para que certas ideias possam penetrar no<br />
processo de planeamento, assim como uma evolução na maneira de encarar os programas de<br />
redes de protecção social. Dado o orçamento proposto para o novo Instituto (que ainda está à<br />
espera de ser financiado na íntegra pelo governo e pelos doadores) e dada a experiência com o<br />
GAPVU, é altamente improvável que haja alguém que afirme que um programa de redes de<br />
protecção social compreensivo poderá existir e funcionar com "custos baixos."<br />
7.4. Impacto do Programa<br />
Há três maneiras principais <strong>em</strong> que se pode avaliar o impacto do programa: Atinge o<br />
programa os grupos para cujo benefício foi criado? Melhorou o nível de consumo alimentar<br />
dos beneficiários do subsídio? Melhorou a vida dos beneficiários do subsídio noutros<br />
aspectos ou, pelo contrário, o programa t<strong>em</strong> efeitos negativos colaterais? Exist<strong>em</strong> vários<br />
relatórios de avaliação de certos aspectos do INAS, desde a sua criação (veja-se a Tabela 1).<br />
Uma leitura rápida destas conclusões revela que ainda não existe nenhum estudo que possa<br />
responder ao mesmo t<strong>em</strong>po a estas três perguntas. Além disso, nenhum dos estudos pode<br />
responder com precisão a primeira pergunta referente ao alargamento da cobertura porque<br />
ainda não se fez nenhuma avaliação nacionalmente representativa que compare os não<br />
beneficiários qualificados e os beneficiários do programa. A avaliação da cobertura do<br />
programa t<strong>em</strong> sido feita com frequência de uma maneira ad-hoc: o número de indigentes foi<br />
calculado por alto com base no estudo feito por Green (1991, 1993), e pressupôs-se que todas<br />
as pessoas inscritas no programa do GAPVU satisfaziam os critérios de elegibilidade.<br />
Portanto, supôs-se que a cobertura tinha melhorado unicamente com base no número de<br />
famílias beneficiárias inscritas no programa (Schubert, 1993, 1995), s<strong>em</strong> ter <strong>em</strong> consideração<br />
se todos os indigentes elegíveis tinham sido identificados. Porém, vários estudos<br />
perguntaram-se se os beneficiários inscritos satisfaziam os requisitos de elegibilidade<br />
(Schubert (1995), Datt et al. (1996), Bazo (1998)).<br />
Várias avaliações qualitativas, servindo-se de informantes b<strong>em</strong> esclarecidos, de<br />
grupos beneficiados e de visitas a localidades, focaram sobretudo aspectos gerais<br />
administrativos do programa e a importância do subsídio para os beneficiários. Ainda não foi<br />
feito um estudo <strong>em</strong> profundidade sobre a administração do INAS. Embora muitas vezes<br />
sejam surpreendent<strong>em</strong>ente penetrantes, especialmente quando vistos <strong>em</strong> retrospectiva, estes<br />
relatórios são visivelmente de carácter impressionista. É evidente, a julgar pela série de<br />
avaliações realizadas e pelas entrevistas feitas aos informantes-chave, da autoria de Schubert<br />
(1991, 1993, 1995) e Rogers (1994), e pela análise dos dados do inquérito estruturado<br />
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<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
(UAP/MPF 1995, Datt 1996, Bazo 1998), que os beneficiários do subsídio de alimentos<br />
consideraram um componente essencial das suas estratégias de sustento alimentar,<br />
particularmente durante os primeiros anos do programa. Os beneficiários tiveram que fazer<br />
esforços consideráveis para se inscrever<strong>em</strong> no programa e para receber<strong>em</strong> os benefícios<br />
mensais.<br />
Um inquérito estruturado de 1996, realizado pela Unidade de Alívio à <strong>Pobreza</strong>,<br />
deveria ter avaliado o impacto do INAS na pobreza, na segurança alimentar, na desnutrição,<br />
mas os dados transversais recolhidos apenas se referiam aos beneficiários do programa,<br />
impossibilitando assim uma conclusão definitiva sobre o des<strong>em</strong>penho do direccionamento<br />
(targetting) no programa (Datt et al., 1996, Garrett et al., 1996). Porém, este estudo mostrou<br />
que 65 por cento dos beneficiários do GAPVU eram pobres, e que s<strong>em</strong> o subsídio de<br />
alimentos do GAPVU 71 por cento da população dos beneficiários teriam sido pobres. Além<br />
disso, o programa de subsídio de alimentos contribuía <strong>em</strong> 13% para as despesas mensais per<br />
capita das famílias participantes no programa, o que não era uma quantia insignificante. O<br />
estudo concluiu, pois, que o programa de subsídio de alimentos do GAPVU constituía uma<br />
contribuição significativa para aliviar a pobreza dos beneficiários. Mas não pôde saber-se se<br />
os grupos alvos pelo GAPVU eram apropriados ou se os mecanismos de selecção foram além<br />
de uma selecção feita aleatoriamente. N<strong>em</strong> se pôde saber se os participantes do programa<br />
estavam <strong>em</strong> melhores condições que os não-participantes <strong>em</strong> circunstâncias s<strong>em</strong>elhantes, <strong>em</strong><br />
termos de libertação da pobreza e de redução da insegurança alimentar e da desnutrição.<br />
Embora tenha sido limitado pela pequenez da amostra e por ter focado somente os<br />
beneficiários da terceira idade, o estudo de Bazo de 1998 é a única avaliação genuína<br />
existente sobre o impacto do INAS no consumo de bens alimentares. Baseando o seu<br />
inquérito numa simples visita de 24 horas sobre o consumo de bens alimentares, não se<br />
descobriu uma diferença significativa no número médio de consumo de calorias per capita<br />
consumidas por 41 pessoas da terceira idade beneficiárias do programa (1.403 kcal) e por 40<br />
pessoas da terceira idade não-beneficiárias (1.453 kcal) (Tabela 3). Este baixo nível de<br />
consumo diário de calorias está muito abaixo do consumo recomendado de 2.200 kcal per<br />
capita. Os agregados familiares de pessoas da terceira idade apenas gastavam diariamente<br />
6.700 MT ($0,58 USD) per capita na alimentação. Baseado no cabaz típica de alimentos não-<br />
diversificados consumidos por estes agregados familiares, que custa 4,75 MT por caloria, o<br />
magro subsídio mensal de 32.000 MT apenas dava para fornecer 225 calorias por dia por<br />
pessoa (supondo que todo o subsídio era gasto <strong>em</strong> alimentação, o que <strong>em</strong> geral não acontece).<br />
Vê-se claramente que, <strong>em</strong> fins de 1997, o subsídio não tinha um impacto significativo<br />
nos níveis de alimentos consumidos. Por outro lado, o programa parecia ter outros efeitos. Os<br />
participantes compravam a maioria dos alimentos no mercado, <strong>em</strong> vez de depender dos<br />
donativos de terceiros, e mostravam que dependiam menos da esmola como meio de<br />
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<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
sobrevivência. Mais de metade dos beneficiários utilizava ocasionalmente o subsídio para<br />
participar <strong>em</strong> programas de crédito de pequena escala (xitique), <strong>em</strong> comparação com a<br />
participação mínima no xitique por parte dos não-beneficiários (Bazo, 1998). Assim, o<br />
subsídio de alimentos servia como uma estratégia compl<strong>em</strong>entar de sobrevivência, mas não<br />
garantia um nível adequado de consumo de calorias por parte dos agregados familiares de<br />
pessoas indigentes da terceira idade. À vista de um subsídio de níveis tão baixos, não havia<br />
efeitos desincentivos negativos <strong>em</strong> termos de apóio social reduzido por parte de outros<br />
m<strong>em</strong>bros da comunidade (Bazo, 1998), Quive (1998).<br />
7.5. Os pontos fortes e os pontos fracos do programa<br />
Os 7 anos de experiência de <strong>Moçambique</strong> com um programa de transferência de<br />
dinheiro nas zonas urbanas constitu<strong>em</strong> uma oportunidade única para determinar se um país<br />
extr<strong>em</strong>amente pobre pode impl<strong>em</strong>entar com êxito programas de transferência de dinheiro<br />
para proteger os seus cidadãos mais vulneráveis. Desde a independência, o governo t<strong>em</strong>-se<br />
<strong>em</strong>penhado decididamente no melhoramento do nível de vida dos seus habitantes, um esforço<br />
seriamente prejudicado pelos anos de conflito armado. Pod<strong>em</strong>os perguntar-nos por que é que<br />
os consultores políticos encorajaram o governo de início a adoptar um programa de<br />
transferência de dinheiro, orientado para um sector da população, um programa para o qual,<br />
de acordo com Subbarão et al. (1996), não havia experiência prévia para a região da África<br />
Sub-sahariana. Porém, o forte apóio político inicial dado pelo governo ao programa reflectia a<br />
necessidade de providenciar uma alternativa ao desacreditado sist<strong>em</strong>a de racionamento e um<br />
reconhecimento profundo da gravidade do probl<strong>em</strong>a da pobreza urbana. Uma vez lançado o<br />
programa, surgiu a pressão para mostrar resultados positivos, especialmente <strong>em</strong> vista da<br />
desastrosa experiência da maior parte das outras iniciativas financiadas pelo SDA (Walker e<br />
Dava, 1994). Nesta secção, vamos resumir as lições-chave aprendidas com a experiência de<br />
<strong>Moçambique</strong> até à data, assim como as implicações destas lições para a criação,<br />
administração e viabilidade de programas de transferência de dinheiro nos países pobres de<br />
recursos que se vier<strong>em</strong> a apresentar.<br />
7.5.1. Lições aprendidas: Implicações para a criação e administração de programas de<br />
transferência de dinheiro<br />
Exist<strong>em</strong> quatro áreas importantes a ter <strong>em</strong> conta pelos criadores de um programa de<br />
transferência de dinheiro: técnicas, administrativas, financeiras e políticas. A experiência de<br />
<strong>Moçambique</strong> fornece lições importantes <strong>em</strong> todas essas áreas, muitas das quais pod<strong>em</strong> ser<br />
aplicadas a outros países. A lições-chave de cada uma dessas áreas são apresentadas a seguir.<br />
396
7.5.1.1 Lições técnicas:<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
É necessário formular políticas tomando <strong>em</strong> consideração as capacidades<br />
administrativas. Em virtude da experiência limitada e de técnicos, os países <strong>em</strong><br />
desenvolvimento estão particularmente inclinados a adoptar programas criados noutros<br />
países. Além disso, certas instituições, tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o<br />
Banco Mundial, promov<strong>em</strong> com frequência um conjunto padronizado de recomendações<br />
políticas baseadas <strong>em</strong> experiências b<strong>em</strong> sucedidas noutros países cuja limitação de recursos<br />
poderá ser completamente diferente. É evidente, no caso de <strong>Moçambique</strong>, que não se prestou<br />
atenção suficiente, durante a fase inicial da criação do programa de subsídio de alimentos, à<br />
capacidade do país na impl<strong>em</strong>entação do programa a nível nacional, assim como aos<br />
mecanismos realistas para sustentar um programa dessa natureza.<br />
É necessário que os regulamentos sejam claros, simples e relativamente estáveis.<br />
Quando os recursos humanos são limitados, é essencial não sobrecarregá-los com complexos<br />
processos administrativos. Enquanto o projecto original se apresentava claro e lógico no<br />
papel, na prática era d<strong>em</strong>asiado complexo para ser impl<strong>em</strong>entado. Devido à falta de<br />
programas alternativos de serviços sociais, o programa de subsídio de alimentos incluía<br />
d<strong>em</strong>asiados grupos de candidatos ao programa, com requisitos de elegibilidade diferentes.<br />
Enquanto os critérios de elegibilidade eram consistentes, durante a existência do programa, os<br />
processos de inscrição eram complexos. Cada categoria de beneficiário tinha que satisfazer<br />
um conjunto de critérios diferentes, estando alguns sujeitos a verificação por parte das<br />
autoridades médicas, e outros não. Enquanto os processos de inscrição baseados <strong>em</strong> critérios<br />
avaliáveis deram provas de ser de mais fácil utilização do que os baseados na análise dos<br />
rendimentos, a inclusão da desnutrição como instrumento de avaliação originou por vezes a<br />
confusão dos objectivos do programa (vejam-se Schubert (1993a), Ginja e McDonald (1995)<br />
como ex<strong>em</strong>plos para procurar mostrar o impacto da redução do subsídio de desnutrição). T<strong>em</strong><br />
sido extr<strong>em</strong>amente difícil fazer cumprir os critérios de elegibilidade de rendimento baseados<br />
no cálculo do rendimento mensal per capita, porque era tão baixo, a ponto de não fazer<br />
sentido e, por conseguinte, não ser possível fazê-lo cumprir. A utilização de uma simples lista<br />
de indicadores tipicamente relacionados com o rendimento (características d<strong>em</strong>ográficas,<br />
estado de <strong>em</strong>prego, bens possuídos) é preferível à tentativa de quantificar os níveis de<br />
rendimento. Em países onde existe infra-estrutura de serviços sociais, deveria ter-se também<br />
<strong>em</strong> consideração a recurso o pessoal que já conheça os probl<strong>em</strong>as da comunidade para ajudar<br />
a identificar os participantes do programa, <strong>em</strong> vez de se criar uma entidade separada<br />
administrada por pessoas, muitas vezes, s<strong>em</strong> conhecimento dos probl<strong>em</strong>as relacionados com<br />
o b<strong>em</strong>-estar social (assistentes sociais), e, portanto, incapazes de poder<strong>em</strong> executar esse<br />
programa com êxito.<br />
É fundamental sujeitar o programa a um teste-piloto adequado. O teste-piloto deverá<br />
397
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
servir como uma oportunidade para impl<strong>em</strong>entar, avaliar, modificar e re-impl<strong>em</strong>entar de<br />
modo a garantir que os processos administrativos logísticos funcionam b<strong>em</strong>, antes de lançar<br />
o programa a nível nacional. O alargamento do programa deverá ser feito <strong>em</strong> fases, a fim de<br />
reduzir os obstáculos e permitir que uma capacidade adequada de solidez se processe<br />
concomitant<strong>em</strong>ente. No caso de <strong>Moçambique</strong>, houve uma fase-piloto e comités técnicos e<br />
consultores fizeram alterações substanciais na elaboração do programa, baseados na<br />
experiência-piloto. Porém, a primeira reorganização fundamental realizada <strong>em</strong> 1991 não teve<br />
<strong>em</strong> conta os probl<strong>em</strong>as fundamentais da complexidade do projecto e a falta de capacidade<br />
administrativa para impl<strong>em</strong>entar com êxito esse projecto. Devido ao declínio de apóio<br />
político, o programa curvou-se à pressão dos que queriam ver aumentar dramaticamente o<br />
número de beneficiários, numa altura <strong>em</strong> que o programa devia ainda ater-se a garantir um<br />
número suficiente de funcionários e <strong>em</strong> treinar devidamente esses funcionários.<br />
É também necessário reconhecer devidamente que espécie de assistência técnica é<br />
apropriada e até que ponto é indispensável, quando se impl<strong>em</strong>entam novos programas,<br />
para os quais não existe experiência s<strong>em</strong>elhante dentro do país. A primeira avaliação do<br />
programa de subsídio de alimentos na sua fase inicial, <strong>em</strong> profundidade, (Schubert, 1990)<br />
propôs um aumento de assistência técnica, a fim de melhorar a sua capacidade administrativa.<br />
Praticamente, cada avaliação, durante a existência do programa, assim como os m<strong>em</strong>bros do<br />
comité técnico consultivo, levantou a questão da insuficiência da capacidade administrativa,<br />
como sendo esse o ponto mais fraco do programa. Porém, a assistência técnica permanente, a<br />
cargo da Equipa Consultiva de Berlim (a companhia consultiva de Schubert) consistiu <strong>em</strong><br />
frequentes visitas múltiplas ao país para prestar assessoria quanto ao projecto e inspeccionar a<br />
impl<strong>em</strong>entação dos processos, sendo o treinamento e o melhoramento da capacidade<br />
ministrados por meio de curtos s<strong>em</strong>inários. Apenas se encontrava <strong>em</strong> campo uma pessoa com<br />
funções de apóio técnico (financiada pela UNICEF), durante a fase-piloto completa. Não<br />
havia assistência técnica externa diária, a nível provincial, para ajudar a testar e a<br />
impl<strong>em</strong>entar os processos. Dada a escassez de funcionários públicos profissionais,<br />
devidamente qualificados, por causa da herança colonial de <strong>Moçambique</strong>, e dada a escassez,<br />
agravada pela guerra, e dada a falta de experiência com este tipo de programa, dentro da<br />
região, <strong>em</strong> retrospectiva esta deverá ter sido uma falha básica no projecto original do<br />
programa de subsídio de alimentos, resultando numa expansão extr<strong>em</strong>amente lenta do<br />
programa durante a fase-piloto. Além disso, o desejo de manter os custos administrativos tão<br />
baixos quanto possível e a preocupação <strong>em</strong> mostrar que o programa de subsídio de alimentos<br />
era um programa exclusivamente moçambicano acentuaram esta tendência para não fazer<br />
face, de uma forma adequada, à deficiente capacidade administrativa do programa, durante os<br />
primeiros cinco anos da sua existência. É essencial que o pessoal administrativo, devidamente<br />
398
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
treinado, esteja no seu posto antes de os programas de transferência de dinheiro sejam<br />
adoptados <strong>em</strong> todo o país.<br />
7.5.1.2 Lições administrativas:<br />
Uma boa administração é essencial, mas não é gratuita. Baixos custos<br />
administrativos, como uma percentag<strong>em</strong> da operação total, não são automaticamente um sinal<br />
de uma administração eficaz do programa. Os programas de transferência de dinheiro<br />
destinados a pessoas têm custos significativos para verificar a satisfação dos requisitos de<br />
elegibilidade e reduzir os desvios (leakages). Baixos custos administrativos poderão indicar<br />
que os processos de verificação não estão a ser impl<strong>em</strong>entados. A estrutura administrativa<br />
deverá estar suficient<strong>em</strong>ente descentralizada para permitir que as decisões sejam tomadas de<br />
uma forma at<strong>em</strong>pada e para melhorar os mecanismos de supervisão a baixos níveis,<br />
responsabilizando os funcionários locais pela sua execução na respectiva zona.<br />
Deverá haver cuidado <strong>em</strong> adoptar metas numéricas como objectivos<br />
fundamentais de avaliação. Igual importância deverá dar-se também a uma verificação<br />
apropriada e ao controle financeiro. A fisionomia do programa foi significativamente<br />
influenciada por factores externos. Estes “factores” contribuíram para a criação de uma<br />
estrutura de incentivos baseada na inscrição no programa de tantos beneficiários quanto<br />
possível. Uma vez que o número dos beneficiários aumentava, os baixos custos<br />
administrativos por beneficiário podiam ser referidos como reflexos de uma administração<br />
eficaz do programa.<br />
É necessário, desde o início, estabelecer um sist<strong>em</strong>a de supervisão e de avaliação,<br />
ligado às avaliações de funcionamento e às operações do programa. É necessário servir-se<br />
de uma variedade de metodologias de avaliação para se aperceber melhor dos pontos fortes e<br />
dos pontos fracos do programa de transferência de dinheiro. As metodologias aplicadas à<br />
avaliação do programa poderão fornecer excelentes descrições sobre a importância e o uso<br />
dos programas de transferência de dinheiro a beneficiários. Porém, neste caso, uma<br />
dependência d<strong>em</strong>asiado grande das avaliações pertinentes, durante os primeiros 5 anos do<br />
programa, veio a mostrar-se inadequada para detectar os desvios e a falta de honestidade entre<br />
os informantes-chave e a falta de prestação de serviços. Os beneficiários do programa, <strong>em</strong><br />
entrevistas de grupo, dificilmente fornecerão informação negativa que possa vir a prejudicar<br />
seriamente a sua recepção do subsídio. Para programas de transferência de dinheiro <strong>em</strong> larga<br />
escala, os processos de avaliação deverão incluir agregados familiares beneficiários,<br />
escolhidos à sorte, a partir de listas de participantes actuais e de um número igual de<br />
agregados familiares não participantes. É também importantíssimo planear estudos de<br />
administração <strong>em</strong> profundidade, examinando a eficácia da sua estrutura e dos seus processos,<br />
assim como realizar auditorias financeiras regulares.<br />
399
7.5.1.3 Lições financeiras e políticas:<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
É importantíssimo resistir às pressões políticas internas e externas, a fim de<br />
garantir a viabilidade financeira e a saúde do programa. Dev<strong>em</strong>os estar cientes de que os<br />
programas de assistência social funcionam num ambiente político e têm melhor probabilidade<br />
de êxito quando têm um apóio multi-sectorial. Um governo com recursos limitados poderá<br />
sentir-se altamente relutante a investir num programa de redes de protecção para os pobres<br />
quando esses mesmos fundos podiam ser utilizados para solidificar outros serviços sociais<br />
que podiam ter melhores resultados numa produtividade futura (como, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />
educação formal). Além disso, s<strong>em</strong>pre exist<strong>em</strong> tensões entre a necessidade de rigor fiscal<br />
(particularmente para obedecer aos condicionalismos impostos por doadores multilaterais) e a<br />
grande pressão para desenvolver o sector social.<br />
Deverá haver um grande apóio político por parte dos ministérios-chave para<br />
garantir a viabilidade financeira do programa. Schubert reconheceu os altos custos<br />
envolvidos na cobertura dos 60.000 agregados familiares cont<strong>em</strong>plados pelo programa. Em<br />
1993, ele notou que "o programa recebeu s<strong>em</strong>pre o apóio firme do Presidente da República e<br />
do Conselho de Ministros da República de <strong>Moçambique</strong>. Esta forte determinação política era<br />
e é essencial para a existência e para o êxito do programa" (Schubert, 1993a, p. 26). A falta de<br />
apóio político actualmente ao subsídio de alimentos <strong>em</strong> 1997 está a manifestar-se num<br />
estrangulamento financeiro. Desde que se descobriu a crise de corrupção, ainda não se tomou<br />
a decisão de aumentar o valor do subsídio de alimentos, apesar de várias avaliações haver<strong>em</strong><br />
documentado a descida do poder de compra do subsídio de alimentos. É evidente que a falta<br />
de acção é também uma decisão política. Politicamente é mais fácil deixar que o programa<br />
morra de morte lenta do que eliminar de súbito todos os beneficiários do programa.<br />
A carga financeira do programa de subsídio de alimentos pode ser reduzida, até certo<br />
ponto, através de uma melhor utilização do custo actual de uma informação viva. Até à data,<br />
um quantia única da subsídio de alimentos t<strong>em</strong> sido utilizado para todo o país, mas como se<br />
mostra claramente no Capítulo 1 desta avaliação, o custo de vida, particularmente o custo dos<br />
produtos básicos alimentares, varia muito entre as três regiões principais do país. Ora os<br />
níveis do "subsídio" deveriam ter <strong>em</strong> consideração as diferenças dos preços regionais no<br />
custo dos produtos alimentares essenciais e dos outros produtos não alimentares.<br />
O facto de subsídio de alimentos não acompanhar actualmente o custo de vida reflecte<br />
também o fraco poder político dos pobres e dos que advogam a sua causa. Critérios<br />
independentes para aumentar o valor do subsídio de alimentos poderão ser preferíveis à<br />
tentativa de ligar os aumentos no subsídio de alimentos para outras questões politicamente<br />
agudas, como os aumentos do salário mínimo. Os aumentos do salário mínimo afectam uma<br />
vasta proporção da população tanto do sector público como do sector privado. Portanto, não é<br />
surpreendente que os aumentos do salário mínimo muitas vezes não acompanh<strong>em</strong> a taxa de<br />
400
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
inflação (Pires, 1997). De um ponto de vista técnico, uma alternativa viável seria acoplar o<br />
valor do subsídio de alimentos ao custo médio nacional ou regional de calorias do produto<br />
alimentar mais popular a nível urbano (como, por ex<strong>em</strong>plo, a farinha de milho), com base nos<br />
dados actuais do custo de vida. Do ponto de vista político, sejam quais for<strong>em</strong> os critérios<br />
adoptados, não é provável que o valor do subsídio de alimentos aumente s<strong>em</strong> uma pressão<br />
significativa por parte de grupos de interesse.<br />
A este respeito, o Ministério de Acção Social e outras agências não<br />
governamentais (ONGs), responsáveis pelo b<strong>em</strong>-estar dos pobres, deverão pensar nos<br />
meios inovadores suficientes para fortalecer a capacidade dos pobres das zonas urbanas<br />
de tornar-se um poder de pressão eficaz. O envolvimento crescente de assistentes sociais<br />
devidamente treinados, para compl<strong>em</strong>entar os funcionários actuais do programa de subsídio<br />
de alimentos, de orientação administrativa, poderá contribuir para tornar mais transparente<br />
a prestação de serviços e contribuir para levar as comunidades a cuidar dos pobres<br />
existentes no seu seio. Além disso, os assistentes sociais e as ONGs podiam ajudar a garantir<br />
que os beneficiários recebam benefícios adequados, usando os meios de comunicação social e<br />
outras técnicas de pressão, de forma a garantir que a lei respeitante aos aumentos<br />
proporcionais ao salário mínimo seja cumprida e de forma a garantir o apóio político.<br />
Neste contexto, está-se para ver se o Fundo Social estabelecido pelo INAS, como<br />
meio de atrair doadores adicionais para todo o conjunto de programas de assistência social, de<br />
que o programa de subsídio de alimentos é apenas uma das componentes, é uma abordag<strong>em</strong><br />
mais viável para um financiamento a longo prazo do que depender unicamente do orçamento<br />
do governo. Deverá haver um grande <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> conseguir apóio financeiro de <strong>em</strong>presas<br />
privadas, assim como de doadores internacionais, e <strong>em</strong> conseguir também apóio<br />
administrativo adicional de instituições religiosas locais e de organizações não<br />
governamentais, para ajudar<strong>em</strong> a melhorar a impl<strong>em</strong>entação deste programa.<br />
Em conclusão, as lições aprendidas a partir do estudo do caso de <strong>Moçambique</strong><br />
apontam para quatro áreas críticas que é necessário impl<strong>em</strong>entar a fim de garantir o êxito do<br />
programa a longo prazo:<br />
1. Áreas técnicas: Chave para o êxito é um programa devidamente orientado para os<br />
m<strong>em</strong>bros mais indigentes da sociedade que estão fisicamente incapacitados para trabalhar.<br />
O programa deverá ser b<strong>em</strong> planeado para atingir os grupos alvos, tomando <strong>em</strong> consideração<br />
as prováveis limitações <strong>em</strong> termos de capacidade humana e financeira disponíveis nos países<br />
pobres de recursos. As operações deverão incluir a capacidade de actuação dos funcionários,<br />
tanto a nível local como a nível central; controle e supervisão adequados, incluindo auditorias<br />
ocasionais completas, e o estabelecimento de mecanismos burocráticos de informação. A<br />
estrutura organizativa deverá ser suficient<strong>em</strong>ente descentralizada para permitir o<br />
funcionamento de actividades de rotina. S<strong>em</strong>pre que possível, deverão estabelecer-se<br />
401
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
parcerias com outros programas sociais existentes.<br />
2. Áreas administrativas: Deverão contratar-se funcionários qualificados <strong>em</strong> número<br />
suficiente para garantir a impl<strong>em</strong>entação apropriada dos processos de verificação e<br />
supervisão. É essencial a computarização e o apóio técnico e logístico adequado (veículos,<br />
comunicações).<br />
3. Áreas financeiras: Deverão garantir-se recursos financeiros substanciais, de uma<br />
forma sustentável (por ex<strong>em</strong>plo, ligados à ajuda alimentar comercial a longo prazo, a<br />
impostos sobre bens de luxo ou de valor acrescido). Deverá também tirar-se partido da Lei do<br />
Mecenato, recent<strong>em</strong>ente aprovada (1997), a qual permite às instituições e <strong>em</strong>presas privadas<br />
beneficiar de incentivos fiscais, devido a contribuições financeiras feitas a programas sociais.<br />
4. Áreas políticas: As forças políticas deverão encarar o programa de subsídio de<br />
alimentos como um componente importante da rede de protecção social global para os<br />
pobres. Deverão comprometer-se a resistir à tendência de preferir uma cobertura mais vasta, a<br />
níveis inadequados de subsídio, à prestação de assistência financeira adequada a grupos de<br />
beneficiários menores e melhor identificados. Deverá haver programas concomitantes para<br />
fazer face às necessidades das pessoas capacitadas para trabalhar, a fim de evitar efeitos<br />
desincentivadores e garantir o crescimento económico global para melhorar a capacidade da<br />
população no sentido de a habilitar a prestar assistência aos seus m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis.<br />
7.5.2 Os programas de transferência de dinheiro como parte de uma estratégia de<br />
combate à pobreza<br />
Embora não disponhamos de estudos para confirmar o impacto deste programa<br />
particular de subsídio de alimentos na pobreza de <strong>Moçambique</strong>, é evidente que um programa<br />
de transferência de dinheiro poderá ser um el<strong>em</strong>ento eficaz de uma estratégia global de<br />
assistência social. Num país <strong>em</strong>pobrecido, <strong>em</strong>penhado unicamente <strong>em</strong> pôr <strong>em</strong> ord<strong>em</strong> as<br />
políticas governativas e as prioridades, com uma miríade de pedidos, mas com poucos<br />
recursos governamentais, qual é o papel dos programas de assistência social? E onde, se é que<br />
é possível, dev<strong>em</strong> entrar os programas de transferência de dinheiro nas estratégias de combate<br />
à pobreza?<br />
As redes de protecção social destinam-se principalmente a identificar e a ajudar os que<br />
não beneficiam do crescimento económico (tais como os deficientes físicos ou os que não<br />
pod<strong>em</strong> trabalhar), ou os que precisam de assistência t<strong>em</strong>porária. Especialmente <strong>em</strong> países<br />
como <strong>Moçambique</strong>, <strong>em</strong> que a pobreza é grande e os recursos financeiros do governo são<br />
limitados, deverão procurar-se outros mecanismos, para além da assistência social, para<br />
arrancar da pobreza a maioria dos que nela viv<strong>em</strong>. Os programas de assistência social, de<br />
grandes dimensões, tais como a transferência de dinheiro ou a segurança social, não são<br />
de forma alguma fiscalmente e politicamente viáveis <strong>em</strong> países pobres de recursos.<br />
402
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Mas um programa de transferência de dinheiro t<strong>em</strong> o seu lugar. O programa de<br />
transferência de dinheiro é um meio especialmente apropriado para prover rendimento<br />
adicional aos que não trabalham, tais como as pessoas da terceira idade e os diminuídos<br />
físicos, privados de qualquer outra assistência e impossibilitados de beneficiar do crescimento<br />
económico; ou talvez aos que se encontram t<strong>em</strong>porariamente impossibilitados de trabalhar,<br />
tais como as mulheres grávidas desnutridas. Embora o programa de transferência de dinheiro<br />
exija uma capacidade administrativa significativa e uma base de informação relativamente<br />
avançada para identificar e atingir a população candidata a esse programa, a verdade é que<br />
esse programa é um dos melhores meios para prestar assistência às pessoas que não pod<strong>em</strong><br />
trabalhar, que não dispõ<strong>em</strong> de outras fontes de apóio financeiro, e que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> zonas <strong>em</strong><br />
que são inadequadas a capacidade da instituição e a infra-estrutura para pôr <strong>em</strong> prática<br />
eficazmente o programa de transferência de dinheiro. A inclusão de grupos alvos que pod<strong>em</strong><br />
trabalhar diminui a probabilidade de alcançar o objectivo fundamental do programa, que é<br />
auxiliar os que não pod<strong>em</strong> trabalhar e não têm outras fontes adequadas de rendimento. Isto<br />
aplica-se sobretudo às zonas urbanas onde a coesão social poderá ser mais fraca do que nas<br />
zonas rurais e onde poucos indivíduos têm acesso aos recursos, tais como a terra e a água, que<br />
poderão servir como um el<strong>em</strong>ento de segurança natural.<br />
Mas dev<strong>em</strong>os reconhecer as limitações à sua eficácia. Por ex<strong>em</strong>plo, um programa de<br />
transferência de dinheiro poderá não ser o meio mais eficaz para reduzir a desnutrição dos<br />
m<strong>em</strong>bros mais vulneráveis de um agregado familiar. Uma menor proporção de transferência<br />
de dinheiro que a desejada poderá ser gasta <strong>em</strong> alimentos ou <strong>em</strong> cuidados de saúde para a<br />
criança ou para a mulher grávida ou para a mãe que amamenta os filhos, mitigando assim o<br />
efeito do transferência de dinheiro na desnutrição. O transferência de dinheiro poderá também<br />
ser utilizada <strong>em</strong> produtos que beneficiam mais outros m<strong>em</strong>bros do agregado familiar do que o<br />
indivíduo designado, ou a desnutrição das mães ou das crianças poderá dever-se<br />
principalmente às condições ambientais ou à falta de conhecimento sobre práticas de<br />
alimentação e higiene que esse transferência de dinheiro não poderá corrigir ou<br />
contrabalançar facilmente.<br />
O melhoramento do nível de vida do agregado familiar, no seu conjunto, redunda<br />
também, naturalmente, <strong>em</strong> benefício da criança, mas poderá não ser a intervenção mais<br />
económica, se o objectivo principal for a redução da desnutrição. Após considerações<br />
ulteriores, os Governos poderão chegar à conclusão de que outros programas são mais<br />
eficazes para melhorar o estado de segurança alimentar e de nutrição das crianças e das mães.<br />
Mesmo quando o rendimento é um obstáculo significativo para melhorar a nutrição, outros<br />
programas, tais como os programas de supl<strong>em</strong>entação direita ou de educação sobre nutrição,<br />
poderão ser ainda meios mais eficazes para melhorar o estado de nutrição. Em Guat<strong>em</strong>ala,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, concluiu-se que um supl<strong>em</strong>ento directo nutricional dado à mulher durante a<br />
403
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
gravidez reduziu <strong>em</strong> metade o probl<strong>em</strong>a do peso insuficiente de nascimento das crianças.<br />
Resultados preliminares para <strong>Moçambique</strong> indicam que ministrar às mães um pouco de<br />
educação formal poderá melhorar significativamente o estado nutricional da criança (Garrett e<br />
Ruel, 1998).<br />
Além disso, o transferência de dinheiro directa aos agregados familiares <strong>em</strong> que há<br />
indivíduos com capacidade para trabalhar, poderá também contribuir para a falta de incentivo<br />
por parte dos que procuram trabalho. Embora este probl<strong>em</strong>a seja minimizado quando o<br />
transferência de dinheiro é relativamente reduzido, outros programas, tais como a distribuição<br />
de comida ou de dinheiro <strong>em</strong> troca de trabalho, são mais apropriados para providenciar<br />
rendimento ao agregado familiar.<br />
Dados os recursos limitados e a fraca capacidade administrativa, parece razoável que<br />
limitar o alcance do programa de transferência de dinheiro nas zonas urbanas ao que ele t<strong>em</strong><br />
de bom, e esforçar-se por garantir níveis permanentes de financiamento significativo para<br />
esse programa, redundará no êxito do programa. Naturalmente que o programa de<br />
transferência de dinheiro deverá ser também visto <strong>em</strong> termos da maneira como se encaixa no<br />
programa mais vasto de crescimento económico e da adopção de medidas para aliviar a<br />
pobreza. Mais especificamente, com o t<strong>em</strong>po, esse programa deverá vir a fazer parte de uma<br />
rede de programas de assistência social, programas que <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> estão apenas <strong>em</strong> fase<br />
de gestação. Esta rede poderá incluir programas especificamente destinados a grupos de<br />
pessoas vulneráveis, tais como as mulheres grávidas, as crianças desnutridas, os jovens e os<br />
des<strong>em</strong>pregados, assim como programas especiais destinados aos deficientes físicos que ainda<br />
estão fisicamente capacitados para trabalhar, permitindo-lhes assim auferir algum rendimento<br />
das suas próprias actividades ou integrar-se totalmente na força de trabalho. Estes programas<br />
deverão integrar e deverão ser coordenados com outros programas do Governo e das<br />
comunidades, de organizações religiosas e de organizações não governamentais. Nesta<br />
fase, porém, os recursos são limitados. Um programa como este parece ser o mínimo que<br />
um governo pode oferecer à sua sociedade: um programa que preste apóio a nível de<br />
subsistência somente àquelas pessoas verdadeiramente indigentes que não dispõ<strong>em</strong> de<br />
outros meios de subsistência.<br />
7.6 Conclusão<br />
Poderá um programa de transferência de dinheiro nas zonas urbanas ser viável<br />
<strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> e <strong>em</strong> países s<strong>em</strong>elhantes a <strong>Moçambique</strong>? A resposta é afirmativa, mas<br />
condicionada. Os programas de subsídio alimentos têm certamente um papel a des<strong>em</strong>penhar<br />
<strong>em</strong> termos de um plano global de assistência social, e a experiência de <strong>Moçambique</strong> parece<br />
indicar que mesmo um governo com recursos limitados pode impl<strong>em</strong>entar esse tipo de<br />
programa, pelo menos nas zonas urbanas. Como se notou anteriormente, os programas de<br />
404
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
assistência social deverão prestar uma grande atenção às necessidades técnicas,<br />
administrativas, financeiras e políticas, se quiser<strong>em</strong> ter êxito. É necessário dar o devido<br />
reconhecimento à necessidade da informação significativa que estes tipos de programas<br />
requer<strong>em</strong> para permitir identificar devidamente e inscrever os grupos elegíveis para estes<br />
benefícios. Os custos administrativos não são insignificantes se houver controle financeiro.<br />
Parece que se fez face a muitas das falhas do projecto na sua tentativa original, com o<br />
melhoramento do processo de identificação e dos mecanismos de prestação dos respectivos<br />
serviços. Se houver apóio financeiro e político suficiente do governo por detrás destas<br />
mudanças, é provável que surjam relações de colaboração com os doadores. Porém, exist<strong>em</strong><br />
três medidas-chave que é necessário ter <strong>em</strong> conta para melhorar o apóio político, dentro e fora<br />
do governo, ao programa de subsídio alimentos, confirmando assim que o processo de<br />
reestruturação é viável: a) deverá fazer-se uma revisão total da administração dos novos<br />
processos, incluindo o esclarecimento sobre qual dos ministérios deverá chefiar as delegações<br />
a nível provincial: Ministério de Acção Social ou Ministério de Plano e Finanças; b) os<br />
critérios de elegibilidade deverão ser revistos, com a eliminação do critério ineficaz do<br />
rendimento e com a consideração dada à elegibilidade das pessoas indigentes, incapacitadas<br />
para trabalhar, que estão a viver com uma pessoa <strong>em</strong> idade economicamente activa, se essa<br />
pessoa estiver des<strong>em</strong>pregada no sector formal; e c) uma discussão inter-ministerial sobre qual<br />
deverá ser o nível apropriado de subsídio e sobre os mecanismos potenciais para a<br />
continuidade do financiamento.<br />
Mesmo que um programa de transferência de dinheiro esteja a funcionar b<strong>em</strong>,<br />
será que esse programa t<strong>em</strong> algum impacto? Em muitos programas de transferência de<br />
dinheiro, exist<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as de distribuição do dinheiro pelos agregados familiares. Porém,<br />
quando os grupos dos que têm menos capacidade para participar no mundo do trabalho - as<br />
pessoas indigentes da terceira idade, os incapacitados físicos, os doentes crónicos - os quais<br />
tend<strong>em</strong> a pertencer a agregados familiares desprovidos de adultos economicamente activos, é<br />
provável que o programa de transferência de dinheiro beneficie directamente os beneficiários.<br />
A fim de ter impacto no nível real de consumo de calorias, o programa de transferência de<br />
dinheiro deverá estar relacionado com o custo equivalente de um número estabelecido de<br />
calorias suficientes para fazer subir os níveis de consumo de calorias acima das necessidades<br />
mínimas, tomando <strong>em</strong> consideração o facto de que os agregados familiares têm necessidades<br />
concretas de outros bens, para além dos alimentares.<br />
Outro efeito colateral potencial do programa que poderia reduzir o impacto total do<br />
dinheiro recebido é que a assistência privada a indivíduos que receb<strong>em</strong> assistência pública<br />
venha a ser reduzida. Embora dados qualitativos indiqu<strong>em</strong> que não é esse o caso para<br />
<strong>Moçambique</strong> (Schubert, 1995; Bazo, 1998; Quive, 1998), isto poderá ser devido ao valor<br />
reduzido do valor de subsídio de alimentos. Evidência recente do programa de pensão de<br />
405
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
velhice na África do Sul, que dá um valor da pensão duas vezes acima do rendimento médio<br />
per capita, mostra uma redução significativa nas r<strong>em</strong>essas aos recipientes da pensão, variando<br />
entre 20 a 30 centavos por cada Rand recebido (Jensen, 1997). Porém, por causa dos efeitos<br />
da guerra nos programas sociais, não é provável que os beneficiários da subsídio de alimentos<br />
de <strong>Moçambique</strong>, devidamente qualificados, estejam a receber, n<strong>em</strong> de longe, aos níveis<br />
aproximados da assistência privada dos pensionistas da África do Sul.<br />
Será que os programas de transferência de dinheiro implicam custos administrativos<br />
mais altos e maiores encargos publicitários que outros programas de assistência social, como<br />
alguns analistas suger<strong>em</strong>? Se esse é o caso, são estas cargas tão elevadas que anulam os<br />
benefícios do programa? Não dispomos de dados sólidos para <strong>Moçambique</strong>, mas é possível<br />
que os programas de transferência de dinheiro exijam maior informação e melhor controle<br />
financeiro do que, por ex<strong>em</strong>plo, os subsídios de alimentos. Poderá haver formas de reduzir a<br />
carga administrativa por meio do estabelecimento de sist<strong>em</strong>as de informação baseados <strong>em</strong><br />
métodos apropriados e que não exijam tanto t<strong>em</strong>po; por meio da coordenação da informação<br />
recolhida e usada por outras agências do governo; ou partilhando a administração, incluindo a<br />
promoção do programa e a identificação e legitimação do beneficiário, <strong>em</strong> parceria com<br />
outras organizações a nível comunitário. Porém, provou-se que os subsídios de alimentos não<br />
são viáveis por causa das elevadas sobrecargas dos orçamentos governamentais e dos custos<br />
adicionais, devido os desvios e às distorções causadas pelos mercados locais. Deverão fazer-<br />
se mais estudos para avaliar o impacto e o custo dos recém-criados programas de trabalho<br />
r<strong>em</strong>unerado monetariamente <strong>em</strong> comparação com os programas de transferência de dinheiro<br />
existentes nas zonas urbanas. Porém, mesmo que se conclua que são mais eficazes, muitos<br />
dos beneficiários incluídos no corrente programa de transferência de dinheiro não têm<br />
capacidade física para participar nos programas de trabalho r<strong>em</strong>unerado monetariamente.<br />
Poderia o governo iniciar este programa às zonas rurais? Em países como<br />
<strong>Moçambique</strong>, com infra-estruturas rurais limitadas e com altos custos de transporte e<br />
comunicações, é provável que o benefício por custo de aplicação por beneficiário não<br />
compense. Além disso, o subsídio pode afectar as relações sociais existentes nas zonas rurais.<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, nalgumas zonas rurais, as comunidades têm opiniões b<strong>em</strong> definidas sobre<br />
qu<strong>em</strong>, entre as pessoas vulneráveis, merece, na realidade, assistência externa, e os programas<br />
de transferência de dinheiro poderão ter como resultado que os beneficiários recebam<br />
assistência reduzida ou poderão contribuir para o ressentimento por parte de outros m<strong>em</strong>bros<br />
da comunidade (Dava et al., 1998). Se introduzisse um programa de transferência de dinheiro<br />
para determinado sector da população, deveria ter-se <strong>em</strong> conta o estabelecimento<br />
concomitante de programas compl<strong>em</strong>entares que permitiss<strong>em</strong> a participação de m<strong>em</strong>bros da<br />
comunidade não cobertos pelos programas de transferência de dinheiro.<br />
Em conclusão, os governos são uma representação dos valores da sociedade que os<br />
406
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
elegeu para a representar e têm a obrigação inerente de proteger os seus m<strong>em</strong>bros mais<br />
vulneráveis. Existe uma necessidade gritante de reconstruir o capital social nas sociedades<br />
devastadas pela guerra, servindo o governo de modelo no restabelecimento da assistência<br />
social. Num período de crescimento económico significativo, o aumento de confiança entre<br />
os cidadãos e o restabelecimento de capital social são críticos na reabilitação de um sector<br />
social <strong>em</strong> que os m<strong>em</strong>bros da sociedade se tornam participantes activos. O governo é a única<br />
instituição capaz de coordenar programas nacionais desta envergadura, mesmo quando deve<br />
depender de outros parceiros (organizações não-governamentais, instituições religiosas,<br />
<strong>em</strong>presas privadas) para uma logística substancial e para apóio financeiro.<br />
O programa de subsídio alimentos nas zonas urbanas de <strong>Moçambique</strong> encontra-se<br />
numa conjuntura crítica. Os mecanismos administrativos foram revistos para fazer face a<br />
muitas das falhas que tinha. Porém, os níveis actuais de valor da subsídio encontram-se a<br />
níveis tão baixos que têm pouco impacto no b<strong>em</strong>-estar das pessoas mais vulneráveis. Os<br />
centros urbanos de <strong>Moçambique</strong> têm uma população extr<strong>em</strong>amente pobre, a qual vai<br />
sobrevivendo a níveis de consumo de calorias abaixo dos minimamente aceitáveis. Para que o<br />
programa tenha impacto, deverá ser apoiado política e financeiramente e deverá haver<br />
suficiente apóio financeiro para fazer a diferença entre a população pobre que está a procurar<br />
proteger. É necessário aumentar suficient<strong>em</strong>ente o valor da subsídio para que tenha um<br />
impacto nos níveis de consumo de um grupo b<strong>em</strong> determinado de pessoas indigentes<br />
incapazes de trabalhar (as pessoas da terceira idade). Ao mesmo t<strong>em</strong>po, o subsídio não deverá<br />
ser tão alta que possa vir a causar uma baixa significativa na ajuda que os beneficiários<br />
indigentes receb<strong>em</strong> de outros e deverá ter <strong>em</strong> conta os recursos limitados do governo.<br />
Recomenda-se um subsídio alimentos per capita suficiente para comprar um terço das<br />
calorias necessárias (aproximadamente 750 kcal), com base no custo das calorias para uma<br />
dieta b<strong>em</strong> equilibrada nas regiões (norte, central e sul) ou nas províncias, a um nível que<br />
tenha o potencial de melhorar substancialmente o b<strong>em</strong>-estar dos recipientes, a um custo<br />
razoável, com mínimos efeitos desincentivadores.<br />
Seja qual for o nível do novo valor do subsídio, o governo terá que desenvolver novos<br />
mecanismos para um financiamento sustentado, possivelmente através da introdução de<br />
impostos sobre artigos de luxo, assim como terá que procurar parceiros a fim de poder apoiar<br />
financeira e administrativamente esta nova aventura. O INAS já está a tentar obter apóio para<br />
o programa de subsídio de alimentos, assim como para outros programas propostos, com vista<br />
à redução da pobreza. O programa de subsídio de alimentos nas zonas urbanas deverá ser<br />
visto como um componente na estratégia global destinada a reduzir e a aliviar a pobreza.<br />
407
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
408
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
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412
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Criação do Gabinete de Apoio à População Vulnerável (GAPVU) através de uma Resolução Interna do Conselho de Ministros: Junho 1990<br />
Schubert Avaliação do desenho 4 categorias previstos: Os migrantes recentes, O direccionamento O montante previsto (7500 O esqu<strong>em</strong>a é sólido A capacidade institucional é<br />
(08/1990) e plano de idosos, deficientes, frequent<strong>em</strong>ente os mais (seleccionar só os MT mensal por um conceptualmente; T<strong>em</strong> o muita limitada para preparar e<br />
impl<strong>em</strong>entação do crianças desnutridas, pobres, estão excluídos agregados familiares agregado familiar com uma acordo forte do governo. impl<strong>em</strong>entar este esqu<strong>em</strong>a.<br />
Programa mulheres grávidas do programa qualificados) é o pessoa) pode comprar 1150 Podia aliviar os probl<strong>em</strong>as de Necessidade de assistência<br />
desnutridas el<strong>em</strong>ento mais difícil kcal por dia (dieta segurança alimentar que técnica para melhorar a<br />
do programa balançada) ou 8300 kcal (só afectam15% da população capacidade administrativa<br />
milho amarelo) urbana que é o mais pobre.<br />
GAPVU- Avaliação da Primeira Iniciação com dois Sugeriam datas para Recomendou mais treno de<br />
Ministério Fase Experimental da grupos alvo: crianças expandir o programa aos representantes dos bairros e<br />
das Impl<strong>em</strong>entação do desnutridas e mulheres outros capitais dos permanentes sobre os<br />
Finanças GAPVU; Informantes grávidas desnutridas; provinciais; expandir mecanismos de verificação;<br />
(03/1991) chaves e análise Sugeriam parâmetros para cobrir idosos e Treino dos enfermeiros sobre<br />
qualitativa nutricionais, aumento deficientes <strong>em</strong> Outubro alterações nos critérios;<br />
do subsídio e 1991; Supl<strong>em</strong>ento "Pensar <strong>em</strong> alternativas que<br />
alargamento do prazo monetário de 20% às oferecess<strong>em</strong> postos de trabalho<br />
limite de residência de enfermeiras para motivá- de modo a libertá-los<br />
1989 à 1990 las gradualmente da dependência”<br />
413
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Schubert Avaliação e 5 categorias propostas: Muito baixa. Apenas Não houve desvios Subsídio é 2300 MT per Mínimo. Por cause de falta Eficiência de esqu<strong>em</strong>a muito<br />
(08/1991) Reorganização do crianças desnutridas; 0,6% de grupo alvo significativos por capita ($1 USD). Despesas de cobertura, a esqu<strong>em</strong>a baixa: Altos custos<br />
GAPVU depois de 8 mulheres grávidas já atingido. Por ex<strong>em</strong>plo, cause de aplicação médias mensais: 17000 começou perder a vontade administrativos por recipientes<br />
meses de incluídas; só 60 pessoas <strong>em</strong> rigorosa dos critérios MT/capita. Aumento de política por causa de falta de<br />
funcionamento idosos; deficientes e Maputo. de eligibilidade calorias na dieta per adulto cobertura;<br />
(Maio 1991); mulheres chefes com equivalente por dia: 180 Ainda probl<strong>em</strong>a de capacidade<br />
inquérito das despesas >5 crianças ainda não Kcal. Antes de receber o limitada de gestadores de<br />
dos 19 agregados foram incorporadas na subsídio: 1150 kcal por GAPVU: Só 2 das 14 unidades<br />
familiares esqu<strong>em</strong>a; adulto equivalente por dia. têm pessoas qualificadas<br />
beneficiários Julho- Requisitos tão rigorosos Para assegurar segurança como chefes.<br />
Agosto 1991) (p.e. 50% das pessoas alimentar mínima é preciso<br />
identificadas nas fornecer 450 kcal por dia o<br />
clínicas nunca que requere 6000 MT per<br />
completaram o processo capita por mês. O subsídio<br />
de candidatura); actual é d<strong>em</strong>asiado baixo<br />
Abolir o critério de para assegurar a<br />
rendimento para as sobrevivência<br />
crianças desnutridas e<br />
para as mulheres<br />
grávidas<br />
414<br />
Primeira Reorganização do GAPVU: Junho-Set<strong>em</strong>bro 1991<br />
Schubert Proposta para as De Janeiro de 1992 <strong>em</strong> Melhorou. Atingiu 15% Para ser eficaz e efectivo, ”Só GAPVU (comparada aos<br />
(10/1992) Redes de Protecção de diante: começou a do agregados familiares precisa de transferências outros programas existentes<br />
Baixo Custo baseada incorporar os idosos e urbanos destitutos. A mensais de forma a levantar de redes de protecção no<br />
<strong>em</strong> os deficientes físicos expansão nas capitais o nível dos agregados país) t<strong>em</strong> tido um impacto na<br />
dados secundários: como beneficiários provinciais é mais rápida familiares indigentes acima redução da pobreza”<br />
Inquéritos às famílias que <strong>em</strong> Maputo e da linha de destituição<br />
(1988/89: Tete e Matola. De Abril de<br />
Maputo) 1992 <strong>em</strong> diante: o<br />
FSD/Cornell Maputo programa existe nas<br />
1990/91 todas as províncias
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Schubert Crianças cujas mães Considerar o Assegurar a sobrevivência Apesar das mulheres grávidas Falta precária de pessoal ao<br />
(02/1993) se encontravam prolongamento da de agregados familiares desnutridas receberam o nível da administração; dispõe<br />
desnutridas graves duração dos indigentes e t<strong>em</strong> um primeiro pagamento 1-2 apenas de três gestores<br />
durante a gravidez: pagamentos ao grupo impacto importante sobre a meses antes do parto, parece qualificados para preencher 5<br />
comparação de alvo de mulheres condição alimentar de ter um impacto positivo no postos vagos <strong>em</strong> 1992;<br />
66 Agregado familiars grávidas até que os crianças peso de natalidade e na taxa 1992: custos administrativos<br />
beneficiários vs. 52 filhos atingiss<strong>em</strong> os 2 de mortalidade infantil. abrang<strong>em</strong> 13% do orçamento<br />
AFs não-beneficiários anos de idade total;<br />
Decreto, Regulamento e Estatuto do GAPVU, feito pelo Conselho de Ministros: Set<strong>em</strong>bro 1993<br />
Schubert Avaliação de Gestão Adiar a introdução de Excelente. Em Set<strong>em</strong>bro Qualidade do É o único programa social de Pagamentos realizados<br />
(10/ 1993) do Programa: agregados familiares 1993 houve 54.844 direccionamento grande cobertura nas zonas regularmente e s<strong>em</strong> atrasos;<br />
Entrevistas a chefiadas por mulheres, beneficiários, perto da satisfatória: 70% dos urbanas que realmente atinge Programa <strong>em</strong> perigo por causa<br />
informantes-chaves doentes crónicas até a meta de 60.000 <strong>em</strong> 13 beneficiários são os mais pobres; da negligência administrativa<br />
solução dos probl<strong>em</strong>as cidades indigentes; 20% <strong>em</strong> O trabalhos realizado pelo e negligência financeira: A<br />
administrativos pobreza absoluta GAPVU durante os últimos 2 capacidade administrativa é<br />
mas não <strong>em</strong> anos foi excelentes insuficiente. Supervisão e<br />
indigência controlo nas cidades não são<br />
suficient<strong>em</strong>ente intensivos;<br />
Custos administrativos: 5% do<br />
orçamento total<br />
415<br />
Segunda Reorganização do GAPVU: Fim do 1993
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Rogers Entrevistas com Programa ainda não A participação (medida Uma estimativa Sugeri-se que um estudo “GAPVU é único nos A sustentabilidade do<br />
(12/1994) informantes chaves e inclui agregados como a percentag<strong>em</strong> de qualitativa fala de quantitativo deve comparar programas de redes de programa depende da<br />
alguns participantes; familiares chefiados população) varia muito 30-40% dos nível de consumo (usando 3 protecção urbana que é disponibilidade do orçamento<br />
Revisão da literatura pelas mulheres com entre as cidades; agregados familiares; dias não-consecutivo de realmente operacional e está do estado<br />
mais de 5 crianças e Maputo/Matola mais recolha de dados sobre a atingir números<br />
doentes crónicos; baixo de que as cidades O desvio é maior quantidades realmente significativos de A aplicação dos critérios de<br />
Maior razão para mais pequenas; Limites nos agregados consumidos) para beneficiários.” elegibilidade é subjectiva; O<br />
recursar os aplicantes: quanto ao número de familiares com determinar se haver impacto conhecimento do programa ,<br />
existência duma outra participantes novos crianças desnutridas no nível de consumo. O enfoque da política de esp. pelas mães de crianças<br />
fonte de rendimento na admitidos por mês; 90% porque o estado redução da pobreza deveria desnutridas, é limitado<br />
família. Sugere-se que de aplicantes de económico não é um concentrar-se nas zonas<br />
as pessoas que têm mulheres grávidas e critério enforçado rurais. Se alguma esforça Necessidade de ligar mais com<br />
machambas não dev<strong>em</strong> crianças desnutridas são neste grupo alvo. deveria ser feita nas zonas outras organizações para<br />
receber o subsídio. aceitas vs. 60-70% de urbanas, o GAPVU parece identificar os grupos alvos<br />
idosos e deficientes. ser a maior abordag<strong>em</strong>. apropriados para as<br />
intervenções<br />
Ginja e Dados secundários 12/94: 71.672 É difícil determinar o O aumento do número das 1994: O subsídio absorveu<br />
McDonald beneficiários; 48% potencial impacto crianças desnutridas poderá 5,8% do orçamento de<br />
(2/1995) idosos, nutricional devido à falta de indicar o crescimento das funcionamento civil, o que<br />
38% crianças acompanhamento taxas de desnutrição corresponde a um terço do<br />
desnutridas; sist<strong>em</strong>ático orçamento para a saúde;<br />
É difícil determinar o A administração atravessou<br />
grau de cobertura à falta um período de crise na gestão<br />
de avaliação sist<strong>em</strong>ática e no controle financeiro. Foi<br />
superada com a substituição<br />
do corpo directivo e com um<br />
maior controle fiscal.<br />
416
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Schubert Entrevistas Precisa de aplicar mais A qualidade da selecção Admite-se que o Não houve informação Na opinião dos agregados O custo-eficiência é excelente:<br />
(5/1995) participatorias <strong>em</strong> rigorosamente o critério dos grupos alvos é grau de corrupção e específica. 60% do familiares pobres e só 3,2% do orçamento total foi<br />
grupos de morar s<strong>em</strong> pessoa de razoável, mas poderá ser irregularidades é pagamento (subsídio) foi indigentes, o GAPVU é a sua gasto com a administração ;<br />
idade, incluindo as melhorada. Precisa de muito difícil utilizado para a compra do única esperança; A maioria, A prática de os Directores<br />
mulheres mais jovenes incluir como grupos investigar mas pensa milho. esp. os idosos e os deficientes Províncias de Finança<br />
de homens idosos; alvo: mulheres chefiadas que irregularidades e precisa de ajuda para servir<strong>em</strong> de Delegados<br />
Investigar as fontes de de agregados familiares corrupção são sobreviver (responsáveis pelos<br />
rendimento agrícola e com mais de 5 crianças e relativamente b<strong>em</strong> pagamentos do GAPVU)<br />
não-agrícola durante as doentes crónicos controladas. assegurou pagamentos<br />
visitas de verificação. incapazes de trabalhar regulares e uma boa<br />
Deve rá verificar-se a contabilidade.<br />
eligibilidade dos idosos<br />
e deficientes todos os<br />
anos.<br />
UAP/MPF Resultados Muitos agregados A falta de Os participantes não estão a Espera 2-3 meses para<br />
(9/1995) preliminares; apenas familiares com pessoas cooperação no receber muito apoio dos processar uma aplicação. 30%<br />
65% responderam; idosas tiveram adultos estudo pelo pessoal parentes ou de outras dos agregados familiares<br />
Estudo quantitativo de <strong>em</strong> idade provincial do organizações (só um enfrentaram interrupções nos<br />
628 agregados economicamente activa, GAPVU foi uma quinto). Para todos os pagamentos mensais.<br />
familiares: crianças <strong>em</strong> violação dos indicação de desvios outros, GAPVU é a<br />
desnutridas, idosos, e critérios de enormes principal fonte de Lacuna significativa entre o<br />
mulheres grávidas elegibilidade. (beneficiários rendimento, esp. para os pagamento estipulado e o<br />
imaginários nas idosos dinheiro dado aos<br />
listas oficiais) e dos beneficiários<br />
probl<strong>em</strong>as com os<br />
pagamentos parciais<br />
417
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Datt et al. Inquérito a 626 O critério de A cobertura é 30% das É difícil avaliar, pelo facto A composição de beneficiários<br />
(1996) Agregados familiares; eligibilidade <strong>em</strong> base ao impressionante: 16% transferências são de o grupo de não- varia consideravelmente entre<br />
Análise quantitativo rendimento (24.000 MT dos agregados familiares desvios aos não- beneficiários não ter sido as cidades, reflectindo<br />
(Maio-Agosto 1995) per capita por mês) é urbanos; Quase 50% dos pobres; menos incluído no estudo; O diferenças na capacidade<br />
tão baixo (¼ de linha da agregados familiares desvios no grupo de subsídio contribui 13%de administrativa<br />
pobreza) que não é chefiado pela mulher; crianças desnutridas despesas mensais per<br />
possível fazer cumprir ; Como 85% da população (os critérios de capita; Contribui a redução<br />
Houve idosos a viver é rural, precisa de selecção eram da incidência da pobreza<br />
<strong>em</strong> agregados políticas específicas para baseados nas (71% s<strong>em</strong> subsídio contra<br />
familiares com outras reduzir a pobreza nas medidas 65% com subsídio)<br />
pessoas <strong>em</strong> idade zonas rurais nutricionais) de que<br />
economicamente activa idosos (a selecção<br />
eras baseado no<br />
rendimento)<br />
Garrett et Baseado no análise O critério de Precisa-se duma Alguns beneficiários O desenho do estudo não Exige-se um inquérito mais<br />
al. quantitativo de 626 rendimento não é estratégia para melhorar não são pagos a permitiu uma avaliação compreensivo de eficácia das<br />
(9/1996) agregados familiares utilizado porque não é a comunicação sobre a quantia devida operações do GAPVU. Há<br />
realista. Os critérios existência do programa. probl<strong>em</strong>as com as interrupções<br />
para a selecção de Só deve incluir os idosos do pagamento<br />
mulheres grávidas são e deficientes; não é a<br />
imprecisos e adiam a melhor maneira de<br />
sua incrição no reduzir efectivamente a<br />
programa. desnutrição<br />
UAP/UPP Baseado na análise O critério de Definir metas de 30% das subsídio de Incluindo pessoas Reforçar a capacidade <strong>em</strong><br />
/MPF quantitativa de 626 rendimento deve ser cobertura e estimar<strong>em</strong>-se alimentos vai para as potencialmente activos para o termos meios materiais e<br />
(2/1997) agregados familiares revisto a um nível mais os seus custos; pessoas acima da trabalho (por ex<strong>em</strong>plo, humanos; Os baixos custos<br />
realístico Os grupos alvos dev<strong>em</strong> linha de pobreza mulheres com crianças operacionais (2,1%) reflect<strong>em</strong><br />
ser revistos: O programa desnutridas) poderá levar à a fraca capacidade<br />
deverá apenas beneficiar redução dos incentivos para o institucional. Reduzir-se o<br />
beneficiar os grupos trabalho. t<strong>em</strong>po de espera para se<br />
sociais incapacitados efectuar o pagamento; Manterpara<br />
o trabalho (os se uma comunicação<br />
idosos, os deficientes) permanente com os<br />
beneficiários, a fim de<br />
informá-los sobre as alterações<br />
no programa<br />
418
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Tovela Inquérito a 839 O grau elevado: Mais de Alguns têm outras O subsídio fornece 462,3 Não produz qualquer Os beneficiários não possu<strong>em</strong><br />
(3/1997) beneficiários; 90.000 de 120.000 fontes de kcal por dia; não produz alteração substancial nos o conhecimento mínimo dos<br />
análise qualitativa agregados familiares rendimento, mas o qualquer melhoramento na padrões da vida seus direitos sociais<br />
indigentes (1996); pagamento aos alimentação básica. fundamentais<br />
A cobertura incompleta inelegíveis não são<br />
<strong>em</strong> Maputo e Matola graves<br />
sugere aumento ao<br />
60.000 MT por mês<br />
como critério do<br />
rendimento<br />
Decreto de Criação do Instituto Nacional da Acção Social (INAS): 10 de Set<strong>em</strong>bro 1997<br />
Bazo Inquérito a 41 idosos Deveria reavaliar-se o Não foi investigada Ainda exist<strong>em</strong> A diferença no consumo Os participantes depend<strong>em</strong> Falta de pagamentos regulares<br />
(7/1998) participantes e a critério de rendimento-- algumas pessoas médio entre participantes e menos da esmola e outro durante a re-estruturação do<br />
40 idosos não- não é aplicável; Houve não-qualificadas no os não participantes é tipos de estratégias de programa<br />
participantes (que idosos indigentes com programa, mas o significativa. O nível sobrevivência de que os nãosatisfaz<strong>em</strong><br />
or critérios <strong>em</strong> idade número dessas médio de consumo é 1400 participantes indigentes;<br />
de elegibilidade); economicamente activa pessoas não é kcal por pessoa por dia que Alguns participantes<br />
Análise quantitativa preocupante é abaixo do nível mínimo participam mais <strong>em</strong><br />
para ficar saudável; O nível programas de crédito rotativo<br />
do subsídio deveria estar (xitique), com base no<br />
associado ao poder de subsídio de alimentos<br />
compra de um número<br />
determinado de das calorias<br />
419
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 1. Sumário das Conclusões e Recomendações de Avaliações do Programa de Subsídio de alimentos<br />
Autor e Objectivo do Critérios de Cobertura Desvios Impacto no Nível de Outro Impacto Gestão/<br />
Ano do Estudo/Fonte de Elegibilidade Consumo Administração<br />
Estudo Informação<br />
Quive Entrevistas colectivas A maioria dos Não foi investigada Exercício de re- O subsídio chega somente 69% vida melhorou com o O melhoramento do sist<strong>em</strong>a do<br />
(8/1998) (7-10 pessoas); participantes não estruturação (prova dois dias <strong>em</strong> média; durante programa; 38% situação pagamentos; os permanentes e<br />
Realizaram-se 246 conhec<strong>em</strong> b<strong>em</strong> os da vida) mostrou que o resto do t<strong>em</strong>po os material melhorou; ”Não há enfermeiros um vencimento<br />
entrevistas s<strong>em</strong>i- critérios de só 33% dos beneficiários deverão dúvidas que esta ajuda regular (300000 MT<br />
estruturadas a elegibilidade ; beneficiários do defender-se como puder<strong>em</strong> financeira do Estado t<strong>em</strong> um mensalmente); Verificação das<br />
participantes dificuldadede medir GAPVU estavam efeito positivo na vida dos listas dos beneficiários entre o<br />
rendimento mensal, qualificados. Estes beneficiários. Este programa permanente e as delegações<br />
principalmente o continuaram no contribui fort<strong>em</strong>ente no para evitar corrupção;<br />
rendimento dos não- INAS. desenvolvimento do tecido Muitos beneficiários só<br />
assalariados; O viver social e de certo modo receb<strong>em</strong> o mínimo (32000<br />
sozinho não é um contribui para manter a MT) quando têm o direito a<br />
critério realístico: estabilidade social, evitando mais. A falta de colaboração<br />
Como é que poderá assim que algumas com outros programas<br />
sobreviver uma pessoa populações carentes fiqu<strong>em</strong> (ex<strong>em</strong>plo, caixa escolar);<br />
com capacidade física totalmente desintegradas Atraso no processamento de<br />
limitada s<strong>em</strong> a ajuda de socialmente”. Alguns utilizou inscrições cria tensões entre<br />
outra pessoa? o subsídio para fabricar permanentes e os aplicantes<br />
bébidas a vender ou fazer<br />
pequenos negócios;<br />
oportunidades de interacção<br />
social entre pessoas isoladas;<br />
Acesso gratuito aos<br />
transportes públicos urbanos<br />
MICAS Revisão de Política de São d<strong>em</strong>asiado Redução do número dos Para ter impacto: o subsídio Ministério do Plano e Finanças<br />
(7/1998) Rede Formal de restritivos: beneficiários a fim de deve subir para 50% do deve criar condições materiais<br />
Protecção Social: Uso de equipas aumentar o valor do salário mínimo para um e financeiras para a<br />
Relatórios Publicados; multidisciplinares para subsídio aos agregado familiar com uma capacitação do MICAS;<br />
dados secundários identificar os beneficiários pessoa Introduzir taxas nos produtos<br />
beneficiários qualificados; deve incluir de luxo, cujas receitas reverterpotenciais;<br />
Os só pessoas incapacitadas se-iam para o financiamento<br />
resultados do perfil da para o trabalho: idosos de Rede;<br />
pobreza poderão ajudar desamparados, crianças Falta de divulgação de<br />
a estabelecer os desamparadas, informação sobre o programa<br />
critérios de deficientes, doentes<br />
elegibilidade crónicos (pobreza<br />
crónica não-estrutural)<br />
420
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 2. Comparação de Composição de Beneficiários da Subsídio de alimentos<br />
(Subsídio dos Alimentos)<br />
Durante a Fase de Expansão do GAPVU e Depois da Criação do INAS<br />
Agosto 1995 (GAPVU) Dez<strong>em</strong>bro 1997 (INAS) Alteração<br />
no<br />
Número<br />
dos<br />
Categoria Número Percenta- Número Percentados<br />
g<strong>em</strong> do dos g<strong>em</strong> do<br />
Benefi- Total Benefi- Total<br />
ciários ciários<br />
421<br />
Beneficiários(Percentag<strong>em</strong>)<br />
Grupo Alvo:<br />
Idosos 35.541 51,5 25.254 78,2 -28,9<br />
Deficientes 2.927 4,2 2.022 6,3 -30,9<br />
Mulheres Grávidas 4.529 6,6 453 1,4 -90,0<br />
Mulheres com Crianças 25.968 37,6 3.253 10,1 -87,5<br />
Desnutridas<br />
Doentes Crónicas 55 0,2<br />
Mulheres-Chefes com 1.254 3,9<br />
>5 crianças<br />
Localização:<br />
Maputo 5.855 8,5 4.175 12,9 -28,7<br />
Matola 5.414 7,8 5.478 17,0 + 1,2<br />
Inhambane 2.936 4,3 1.412 4,4 -51.9<br />
Xai-Xai 2.333 3,4 1.120 3,5 -52.0<br />
Maxixe 3.549 5,1 2.293 7,1 -35,4<br />
Beira 3.334 4,8 3.192 9,9 - 4,3<br />
Chimoio 6.075 8,8 3.007 9,3 -50,5<br />
Tete 11.164 16,2 2.523 7,8 -77,4<br />
Lichinga 4.441 6,4 2.344 7,3 -47,2<br />
P<strong>em</strong>ba 2.853 4,1 915 2,8 -67,9<br />
Nampula 6.250 9,1 3.107 9,6 -50,3<br />
Quelimane 3.403 4,9 906 2,8 -73,4<br />
Nacala 11.378 16,5 1.819 5,6 -84,0<br />
TOTAL 68.985 100% 32.291 100% -53,2<br />
Fontes: Agosto 1995 (GAPVU, 1995); Dez<strong>em</strong>bro 1997 (INAS, 1997).
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Tabela 3. Comparação de Valor Total de Consumo (<strong>em</strong> Meticais) e Total de Calorias Consumidos<br />
Por 41 Idosos Participantes no GAPVU e 40 Não-Participantes nas Últimas 24 Horas (Dez<strong>em</strong>bro<br />
1997), Por Agregado Familiar, Per Capita, e Por Adulto Equivalente<br />
Quartis 1 Média Desvio<br />
25 50 75 Padrão<br />
Valor <strong>em</strong> Meticais: Participantes 6615 9500 15425 13203 10662<br />
Por Agregado Familiar Não-Participantes 6750 11050 16170 12757 9136<br />
Per Capita Participantes 3664 6750 8990 6667 3593<br />
Não-Participantes 4226 5900 7631 6863 4996<br />
Por Adulto Equivalente Participantes 4321 8238 10786 7985 4510<br />
Não-Participantes 5588 7373 9660 8748 6286<br />
Calorias Consumidas: Participantes 1499 2885 5602 3822 2906<br />
Por Agregado Familiar Não-Participantes 2049 3389 4950 3700 2234<br />
Per Capita Participantes 886 1367 1920 1403 650<br />
Não-Participantes 1091 1424 1924 1453 502<br />
Por Adulto Equivalente Participantes 1083 1683 2372 1761 821<br />
Não-Participantes 1566 1864 2228 1858 634<br />
1<br />
Não existe uma diferença significativa entre a média de participantes e não-participantes, segundo os<br />
resultados de testes de t.<br />
Fonte: Bazo (1998).<br />
422
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Figura 1. Organigrama do<br />
Gabinete de Apoio à População Vulnerável<br />
(GAPVU) 1991-1993<br />
Unid ad e da Execução<br />
de Programas<br />
Unid ade de Estabelecim ento<br />
e Sup ervisão dos Program as<br />
Nas 10 Cidades<br />
Delegado<br />
Xai-Xai<br />
Delegado<br />
In hambane<br />
Delegado<br />
Quelimane<br />
Delegado<br />
Nampula Cidade<br />
Delegado<br />
Beira<br />
Delegado<br />
Tet e Cid ade<br />
Delegado<br />
Lichinga<br />
Delegado<br />
P<strong>em</strong>ba<br />
Delegado<br />
Chimoio<br />
Delegado<br />
M aputo/ Mato la<br />
Fo nte: Schu bert (199 3b)<br />
Secretaria de Estado de Acção Social<br />
423<br />
DIR ECTOR DO<br />
GAPVU<br />
Unid ad e de<br />
Desenvolvim ento<br />
de Novo s P rogramas<br />
Unid ad e de<br />
Adm inistração<br />
e Finanças
Director Adjunto e<br />
Supervisor dos Programas do<br />
GAPVU no Sul de<br />
<strong>Moçambique</strong><br />
Delegação do<br />
GAPVU <strong>em</strong><br />
7 Cidades<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Figura 2. Organigrama do<br />
Gabinete de Apoio à População Vulnerável<br />
(GAPVU) 1994-1996<br />
Fonte: Schubert (1993b)<br />
Director<br />
Chefe do<br />
Departamento de<br />
Supervisão dos<br />
Programas no Norte<br />
de <strong>Moçambique</strong><br />
Delegação do<br />
GAPVU <strong>em</strong><br />
7 Cidades<br />
424<br />
Chefe do<br />
Departamento de<br />
Administração e<br />
Finanças
Depto. de<br />
Programas<br />
Figura 3. Organigrama do<br />
Instituto Nacional de Acção Social<br />
(INAS) Set<strong>em</strong>bro 1998<br />
MINISTÉRIO DE COORDINAÇÃO DE ACÇÃO SOCIAL<br />
Repartição de<br />
Programas e<br />
Projectos<br />
Repartição de<br />
Apoio Social<br />
Repartição de<br />
Informação e<br />
Estatística<br />
INSITUTO NAC IO NA L D E A CÇÃ O S O C I A L<br />
(IN AS)<br />
D IR E CTO R N AC IO NA L<br />
E d ua rd o Cla ud io Borges<br />
Directo r A dju nto<br />
Du arte Joa quim<br />
Con selho<br />
Con su ltivo<br />
Depto. de<br />
Cooperação e<br />
Planificação<br />
Repartição de<br />
Planificação<br />
Repartição de<br />
Cooperação<br />
Fonte: INAS (1998)<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Gabinete Jurídico<br />
Acess ore s<br />
Nú cleo d e<br />
Supervisão<br />
Delegações<br />
Subdelegações<br />
425<br />
Gab inete do D irector<br />
Depto. de<br />
Promoção e<br />
Desenvolvimento<br />
Repartição de<br />
Formação<br />
Centro de<br />
Documentação<br />
Gabinete de Relações<br />
Públicas<br />
Secretariado<br />
Depto. de<br />
Administração,<br />
Finanças e<br />
Pessoal<br />
Repartição de<br />
Finanças<br />
Secção de<br />
Contabilidade<br />
Secção de<br />
Património<br />
Repartição de<br />
Gestão de<br />
Pessoal<br />
Secretária<br />
Geral
Meticais<br />
400000<br />
350000<br />
300000<br />
250000<br />
200000<br />
150000<br />
100000<br />
50000<br />
0<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Figura 4. Evolução do Valor de Subsídio de<br />
Alimentos <strong>em</strong> Relação ao Salário Mínimo<br />
(Meticais Nominais)<br />
Salário Mínimo<br />
Subsídio (Transferência)<br />
90/09<br />
91/01<br />
91/05<br />
91/09<br />
92/01<br />
92/05<br />
92/09<br />
93/01<br />
93/05<br />
93/09<br />
94/01<br />
94/05<br />
94/07<br />
426<br />
94/11<br />
Year/Month<br />
32000<br />
95/03<br />
95/07<br />
95/11<br />
96/03<br />
96/07<br />
96/11<br />
97/03<br />
97/07<br />
97/11<br />
98/03<br />
98/07
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Capítulo 8<br />
<strong>Pobreza</strong> e <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: Síntese, Avaliação, e<br />
Implicações para as Políticas<br />
Sudhanshu Handa<br />
Gaurav Datt
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Índice<br />
8.1 A moldura ...................................................... 429<br />
8.2 <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: síntese e avaliação .......................... 430<br />
8.2.1 Parte I: <strong>Pobreza</strong> ............................................ 430<br />
8.2.2 Parte II: Segurança alimentar, nutrição, saúde e educação<br />
8.2.3 Parte III: Redes de Segurança Informais e Formais ............... 434<br />
8.3 Implicações políticas e investigação futura .............................. 435
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Qualquer tentativa séria de combate à pobreza t<strong>em</strong> como componente fundamental uma<br />
sólida base <strong>em</strong>pírica que estabeleça os factos sobre o estado das condições de vida e b<strong>em</strong>-estar.<br />
No caso de <strong>Moçambique</strong>, um país que <strong>em</strong>ergiu recent<strong>em</strong>ente de uma prolongada guerra civil que<br />
seguiu a luta pela independência, este fundamento está <strong>em</strong> falta. Devido à migração originada<br />
pela guerra e o período sucedeu esta guerra, não houveram grandes oportunidades para se superar<br />
esta lacuna. Mas, com os recentes esforços do Governo Moçambicano na recolha dos dados<br />
económicos e sociais para o desenvolvimento da economia, esta situação mudou de forma<br />
radical. Este relatório faz uso da oportunidade concedida por esta melhoria na recolha de<br />
informação, <strong>em</strong> particular do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre As Condições<br />
de Vida (MIAF) <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> de 1996-97, para iniciar a tarefa de construir uma base<br />
<strong>em</strong>pírica que permita a monitorização da pobreza e a análise de políticas <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>. Este<br />
relatório assinala um primeiro passo significativo deste processo. Neste capítulo, tentamos<br />
sintetizar e avaliar as principais informações que foram apresentadas ao longo do relatório, de<br />
forma a identificar as áreas prioritárias, quer <strong>em</strong> termos de políticas, como <strong>em</strong> investigação futura<br />
que possa ajudar a orientar essas políticas.<br />
8.1 A moldura<br />
Uma grande parte deste relatório é dedicada à construção de linhas de pobreza absolutas<br />
baseadas numa medição abrangente do consumo do agregado familiar, à estimação das medidas<br />
de pobreza e identificação das características dos grupos que se encontram abaixo dessas linhas<br />
de pobreza. O consumo (ou rendimento), que tenha sido medido de forma consistente é, de<br />
forma discutível, a única medida completa do b<strong>em</strong>-estar, que possa estar b<strong>em</strong> fundamentada na<br />
teoria económica e que possa ser estimada pelos dados recolhidos (tais como os dados do MIAF).<br />
Por esse motivo, o foco central deste relatório t<strong>em</strong> sido a medição e análise da pobreza com base<br />
no consumo.<br />
Mas é <strong>em</strong> geral aceite pelos economistas que uma boa nutrição e saúde, escolarização,<br />
acesso a água potável e um ambiente de vida seguro são no seu todo, aspectos vitais para o b<strong>em</strong>-<br />
estar individual e portanto dev<strong>em</strong> então ser considerados como metas a alcançar. Este relatório<br />
reconhece a importante dimensão do b<strong>em</strong>-estar individual não baseada no consumo, e também<br />
providencia evidência <strong>em</strong>pírica sobre os determinantes de nutrição e segurança alimenter<br />
(capítulo 4) e de educação (capítulo 5).<br />
Um aspecto importante destas duas dimensões do b<strong>em</strong> estar (uma associada ao consumo<br />
e outra não associada ao consumo) é a sua interacção. Desta forma, enquanto que é verdade que<br />
uma boa saúde e educação influenciam directamente o b<strong>em</strong>-estar através da elevação da<br />
qualidade de vida e da capacidade de participação na sociedade, também é verdade que uma boa<br />
saúde e educação aumentam a capacidade produtiva, o que se traduz num maior rendimento ou<br />
consumo, mesmo a curto prazo. De facto as simulações de políticas apresentadas no capítulo 3<br />
mostram que o maior determinante da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> é o capital humano do agregado<br />
429
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
familiar, medido <strong>em</strong> termos de nível educacional ou de instrução completado. Por ex<strong>em</strong>plo, se<br />
cada agregado familiar tiver pelo menos um m<strong>em</strong>bro com instrução primária, o índice de pobreza<br />
decresceria <strong>em</strong> cerca de 19 por cento ao nível nacional.<br />
Mas o relacionamento entre os aspectos do b<strong>em</strong>-estar associados ao consumo e os não<br />
associados ao consumo e binívoco. Os agregados familiares e indivíduos com rendimento ou<br />
consumo mais elevado estão <strong>em</strong> melhores condições para assegurar o seu próprio b<strong>em</strong>-estar não<br />
monetário, assim como o das suas familias e das suas crianças. Este último ponto é extr<strong>em</strong>amente<br />
importante para a transferência da pobreza entre as diferentes gerações e consequent<strong>em</strong>ente dos<br />
futuros índices de pobreza. Em <strong>Moçambique</strong>, o consumo do agregado familiar é uma das<br />
determinantes mais importantes para o estado nutricional das crianças (capítulo 4) e para o<br />
ingresso das crianças à escola nas zonas urbanas (capítulo5). Por isso as crianças das familias<br />
mais ricas t<strong>em</strong> níveis mais elevados de capital humano (b<strong>em</strong>-estar não monetário) o que aumenta<br />
o seu consumo futuro (b<strong>em</strong>-estar monetário).<br />
Um ataque completo à pobreza deve então reconhecer estas duas importantes dimensões<br />
da pobreza, assim como a sua interacção. Rendimentos mais elevados dos agregados familiares<br />
contribu<strong>em</strong> para a diminuição da pobreza no momento actual, mas também no futuro através do<br />
aumento do capital humano das crianças. Da mesma forma o investimento na saúde, nutrição,<br />
educação e saneamento contribu<strong>em</strong> para o aumento do b<strong>em</strong>-estar não monetário actual e também<br />
reduz<strong>em</strong> a pobreza de amanhã através do aumento da produtividade. A importância relativa que<br />
deve ser dada a estas dois tipos de iniciativa de combate à pobreza vai variar <strong>em</strong> função do país<br />
assim como dev<strong>em</strong> variar as intervenções específicas dentro de cada iniciativa.<br />
8.2 <strong>B<strong>em</strong></strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: síntese e avaliação<br />
8.2.1 Parte I: <strong>Pobreza</strong><br />
A primeira parte deste relatório apresenta o primeiro conjunto de linhas de pobreza<br />
nacionais para <strong>Moçambique</strong>, e com base nestas linhas fornece uma descrição completa ou<br />
“perfil” dos pobres e não pobres, assim como a análise dos determinantes da pobreza. Usando<br />
a abordag<strong>em</strong> dos “custos das necessidades básicas”, estima-se que 69 por cento da população se<br />
encontra abaixo da linha de pobreza, sendo a pobreza maior nas zonas rurais (71 por cento) que<br />
nas zonas urbanas (62 por cento). Das estimativas de pobreza apresentadas nos primeiros dois<br />
capítulos surg<strong>em</strong> alguns pontos chave.<br />
Primeiro, existe uma variação considerável nos índices de pobreza ao longo do país. Para<br />
além das óbvias diferenças entre as zonas rurais e urbanas, a região central t<strong>em</strong> o índice de<br />
pobreza mais elevado (74 por cento) e as provincias de Sofala (88 por cento), Tete (82 por cento)<br />
e Inhambane (82 por cento) apresentam os índices de pobreza mais elevados. Todavia, porque<br />
estas provincias são menos densamente povoadas, apenas 28,2 por cento dos pobres viv<strong>em</strong> nestas<br />
três provincias, enquanto que as provincias de Nampula e Zambézia, que t<strong>em</strong> uma densidade<br />
430
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
populacional mais elevada contém 39,3 por cento dos pobres, apesar de estas duas últimas<br />
provincias apresentar<strong>em</strong> menores índices de pobreza. Desta forma, enquanto que as provincias<br />
destruídaspela guerra como Sofala, Tete e Inhambane dev<strong>em</strong> ter prioridade <strong>em</strong> termos de<br />
atribuição de recursos na marg<strong>em</strong> para a redução da pobreza, as provincias densamente povoadas<br />
de Nampula e Zambézia, pelo seu tamanho relativamente grande, continuarão a salientar-se por<br />
uma atribuição optima do orçamento total para redução da pobreza.<br />
Um outro assunto <strong>em</strong>ergindo nestes dois capítulos é que, dado o elevado indíce geral da<br />
pobreza na zona rural de <strong>Moçambique</strong>, não existe grande diferença entres as características dos<br />
pobres e não pobres nas áreas rurais. De facto, <strong>em</strong> muitos dos casos, as diferenças entre as zonas<br />
rurais e urbanas tend<strong>em</strong> a ser muito maiores que as diferenças entre pobres e não pobres dentro<br />
das zonas rurais. Por ex<strong>em</strong>plo, o estado de desnutrição de longo prazo (desnutrição crónica ou<br />
atrofiamento) dos muito pobres nas zonas rurais é melhor que aquele dos não pobres das zonas<br />
rurais. De forma similar, a taxa de vacinação completa para as crianças muito pobres na zona<br />
urbana é maior que para as crianças não pobres nas zonas rurais. No caso da educação, ambas<br />
diferenças regionais e de género tend<strong>em</strong> a ser significativamente maiores que as diferenças entre<br />
os pobres e não pobres. A consideração de ambas informações implica que as estratégias de<br />
redução da pobreza dev<strong>em</strong> focar <strong>em</strong> primeiro lugar, e antes de mais nada, as populações rurais,<br />
principlalmente naquelas regiões onde a pobreza é mais generalizada, tal como foi mencionado<br />
anteriormente.<br />
Uma questão final que importa enfatizar é o uso bastante baixo de insumos agrícolas<br />
melhorados num país onde quase 90 por cento da população se dedica à agricultura. Quatro por<br />
cento dos agregados familiares referiram que usavam a irrigação e dois por cento usavam<br />
fertilizantes. Estas baixas percentagens, combinadas com uma taxa de afalbetização f<strong>em</strong>inina de<br />
apenas 15 por cento nas zonas rurais, onde as mulheres desenvolv<strong>em</strong> a maior parte do trabalho<br />
agrícola, realçam o desafio incrível que <strong>Moçambique</strong> enfrenta para aumentar a produtividade do<br />
sector agrícola.<br />
As simulações analíticas de políticas apresentadas no capítulo 3 salientam os<br />
componentes chave de uma estratégia b<strong>em</strong> sucedida para a redução da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
O primeiro el<strong>em</strong>ento desta estratégia deve ser a educação: nos modelos de simulação<br />
apresentados no capítulo 3, a instrução primária dos adultos <strong>em</strong> geral e a instrução primária das<br />
mulheres adultas <strong>em</strong> particular, t<strong>em</strong> o maior impacto na redução da pobreza <strong>em</strong> todas as<br />
simulações consideradas. Assegurando que cada agregado familiar tenha pelo menos um adulto<br />
do sexo f<strong>em</strong>inino com a instrução primária contribui-se para uma redução da pobreza que é<br />
estimada <strong>em</strong> 23 por cento, enquanto que ao assegurar que um adulto de qualquer sexo tenha a<br />
instrução primária contribui-se para uma redução da pobreza <strong>em</strong> 19 por cento. A educação das<br />
mulheres adultas é também muito importante para o b<strong>em</strong>-estar não monetário (ver 8.2.2).<br />
Tal como foi discutido no capítulo 3, a segunda componente da estratégia de redução da<br />
pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> deve ser um crescimento económico abrangente. Porque os<br />
431
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
rendimentos per capita <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> são extr<strong>em</strong>amente baixos, com medidas de caracter<br />
sómente restributivo apenas se pode conseguir uma ligeira redução da pobreza. No entanto,<br />
mesmo um pequeno aumento de dois por cento na taxa de crescimento anual do consumo real<br />
per capita pode contribuir para reduzir a incidência da pobreza <strong>em</strong> 7 por cento até o ano 2003.<br />
Se as taxas de crescimento actuais puder<strong>em</strong> ser mantidas, a incidência de pobreza poderia ser<br />
reduzida <strong>em</strong> 30 ou 40 por cento no mesmo período de t<strong>em</strong>po.<br />
Finalmente, um padrão de crescimento sectorial que incidisse na indústria e nos sectores<br />
de prestação de serviços por um lado, e no aumento da produtividade agrícola por outro, também<br />
teria um enorme impacto na redução da pobreza. Das simulações de políticas apresentadas no<br />
capítulo 3, parece que o aumento da atribuição de terras no sector agrícola não é suficiente para<br />
um país onde a terra é abundante como é o caso de <strong>Moçambique</strong>. Em vez disso deveriam ser<br />
introduzidos insumos que permitam o aumento da produtividade, tais como os fertilizantes,<br />
s<strong>em</strong>entes melhoradas e irrigação, combinados com a infraestrutura necessária e o serviço de<br />
extensão para apoiar a adopção destes insumos modernos.<br />
8.2.2 Parte II: Segurança alimentar, nutrição, saúde e educação<br />
De acordo com a noção de que o b<strong>em</strong>-estar humano é multidimensional, a segunda parte<br />
deste relatório debruça-se sobre os aspectos não associados ao consumo e não monetários do<br />
b<strong>em</strong>-estar, tais como: segurança alimentar, nutrição, saúde e educação. O Capítulo 4 sobre as<br />
determinantes de segurança alimentar e nutrição apresenta pelo menos dois assuntos que foram<br />
abordados <strong>em</strong> capítulos anteriores. O primeiro é a situação precária da região central de<br />
<strong>Moçambique</strong>, onde 40 por cento da população encontra-se <strong>em</strong> condições de insegurança<br />
alimentar e onde viv<strong>em</strong> 50 por cento das crianças <strong>em</strong> situação de malnutrição crónica. O segundo<br />
é o enorme contraste nas condições de vida entre as regiões rurais e urbanas. Por ex<strong>em</strong>plo, apenas<br />
12 por cento da população rural t<strong>em</strong> acesso a água canalizada e 31 por cento possui uma latrina<br />
<strong>em</strong> casa, enquanto que nas áreas urbanas t<strong>em</strong>os respectivamente 66 e 68 por cento. Vinte por<br />
cento da população rural t<strong>em</strong> um centro ou posto de saúde na sua aldeia e provávelmente como<br />
consequência, 60 por cento das crianças nasc<strong>em</strong> de partos realizados <strong>em</strong> casa mas nas áreas<br />
urbanas apenas 16 por cento dos partos são realizados <strong>em</strong> casa.<br />
Existe uma apreensão importante nesta informação porque apesar da maioria da<br />
população <strong>em</strong> situação de insegurança alimentar e malnutrição se encontrar nas zonas rurais (com<br />
maior concentração na região central), nas zonas urbanas as taxas de prevalência de insegurança<br />
alimentar são na realidade mais elevadas e a disponibilidade calórica média é de facto inferior.<br />
Esta diferença entre o perfil da pobreza com base no consumo e os perfis de segurança alimentar<br />
e nutrição sugere que outros factores para além do rendimento ou consumo são provávelmente<br />
mais importantes na estratégia de segurança alimentar e nutrição.<br />
Um assunto final relevante do capítulo 4, são os resultados da interacção entre o b<strong>em</strong><br />
estar associado ao consumo e o b<strong>em</strong>-estar não associado ao consumo. Na análise multivariada<br />
432
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
apresentada no capítulo 4, o consumo total do agregado familiar é uma das determinantes mais<br />
significativas <strong>em</strong> termos estatísticos, para estes resultados. Por esse motivo o b<strong>em</strong>-estar<br />
monetário está fort<strong>em</strong>ente relacionado com a nutrição e segurança alimentar. Todavia os factores<br />
não monetários também são importantes. Quanto ao estado nutricional das crianças mais<br />
pequenas, o impacto quantitativo da educação da mãe é relevante e significativo, e no caso das<br />
crianças mais velhas nas zonas urbanas, a fonte de água t<strong>em</strong> uma influência significativa .<br />
Dado o papel crítico da educação na estratégia de redução da pobreza, o capítulo 5 aborda<br />
as múltiplas funções que a educação des<strong>em</strong>penha no aumento do consumo e das outras<br />
dimensões do b<strong>em</strong>-estar. Os resultados indicam que a influência da educação dos adultos na<br />
saúde, estado nutricional e educação das crianças é extr<strong>em</strong>amente importante, sendo o impacto<br />
da educação das mulheres nas zonas rurais bastante elevado. Por ex<strong>em</strong>plo, nas zonas rurais, a<br />
instrução da mãe aumenta a altura-para-idade <strong>em</strong> 0,174 desvios padrões, comparado com 0,087<br />
nas zonas urbanas e aumenta a probabilidade de uma criança receber todas as suas vacinas <strong>em</strong><br />
17 por cento, comparado com as zonas urbanas onde apenas aumenta <strong>em</strong> 3 por cento. O facto de<br />
ter uma mulher adulta com instrução primária no agregado familiar aumenta a probabilidade do<br />
ingresso actual da criança na escola <strong>em</strong> 15 por cento (10 por cento nas zonas urbanas) e aumenta<br />
a probabilidade da criança alguma vez ter frequentado a escola <strong>em</strong> 14 por cento (10 por cento nas<br />
zonas urbanas). Dada a importância da educação da mulher na determinação de tantos aspectos<br />
do b<strong>em</strong>-estar familiar, um esforço especial para educar as meninas, principalmente nas zonas<br />
rurais, onde é maior a descriminação <strong>em</strong> termos de género na educação, é uma medida que trará<br />
grandes compensações no futuro.<br />
O rendimento (estimado pelo consumo) não é uma determinante importante no ingresso<br />
à escola primária nas zonas rurais mas é importante nas zonas urbanas. Esta constatação está de<br />
acordo com os resultados dos perfis de pobreza apresentados no capítulo 2, que indicavam que<br />
muitas das características que diferenciavam os pobres dos não pobres nas zonas urbanas (tais<br />
como a instrução, saúde, etc.) não distinguiam os pobres dos não pobres nas zonas rurais.<br />
A forte correlação entre a educação parental e a escolaridade das crianças entre as<br />
diferentes gerações, apresenta um desafio especial para a redução da pobreza, considerada a<br />
importância da educação dos adultos no aumento do consumo do agregado familiar (capítulo 3).<br />
Tal correlação forte limita a capacidade de mobilidade social das crianças pobres (cujos pais são<br />
menos educados), e significa que dev<strong>em</strong> ser encontradas formas especiais para aumentar o<br />
ingresso à escola das crianças pobres no futuro próximo.<br />
8.2.3 Parte III: Redes de Segurança Informais e Formais<br />
Os agregados familiares e indivíduos dev<strong>em</strong> ter alguns mecanismos de sobrevivência<br />
para fazer face às dificuldades e crises, sejam eles <strong>em</strong> forma de redes sociais informais entre<br />
parentes ou comunidade, ou redes de segurança formais estabelecidas pelo estado. Os dois<br />
últimos capítulos distanciam-se um pouco da abordag<strong>em</strong> que usa de forma intensiva os dados<br />
433
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
quantitativos, no seu tratamento das questões de redes de segurança formais e informais, e como<br />
é que estes redes aseguram o b<strong>em</strong>-estar dos indivíduos <strong>em</strong> dificuldade.<br />
Na conclusão do capítulo 6, a África Sub-Sahariana é descrita como uma região na qual<br />
as valiosas instituições e estruturas comunitárias garant<strong>em</strong> a segurança social que não é dada pelo<br />
estado. O capítulo 6 usa um inquérito s<strong>em</strong>i-estruturado, feito <strong>em</strong> duas provincias de <strong>Moçambique</strong><br />
e na cidade de Maputo, para se conhecer a evolução do papel das redes de segurança informais<br />
no assegurar do b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> três grupos vulneráveis: os idosos, as mulheres com crianças<br />
pequenas e os deficientes.<br />
Com base nos resultados deste inquérito, o capítulo 6 conta uma história de um país cuja<br />
estrutura social foi destruída por 20 anos de guerra. O resultado foi a perda de confiança entre<br />
os m<strong>em</strong>bros da comunidade e actualmente, o convío entre as pessoas tende a ser baseados <strong>em</strong><br />
aspectos monetários <strong>em</strong> vez de ser<strong>em</strong> <strong>em</strong> géneros, ou de haver puramente um intercâmbio social.<br />
Os idosos foram o grupo populacional mais atingido pela guerra porque o respeito social que eles<br />
possuiam dependia do facto de eles possuir<strong>em</strong> animais, principalmente gado, e este gado foi<br />
perdido durante a guerra. A perda deste importante b<strong>em</strong> contribuiu para a perda de estatuto dos<br />
idosos, principalmente aos olhos dos jovens, que tradicionalmente são o grupo mais disponível<br />
para prestar auxílio aos idosos.<br />
Todavia, desde que terminou a guerra civil, as redes comunitárias informais t<strong>em</strong> vindo<br />
lentamente a fortalecer-se. Uma sugestão política intrigante é que a melhoria da infraestrutura,<br />
tal como as vias de acesso, telecomunicações e serviços bancários, poderá ajudar as familias a<br />
se reunir<strong>em</strong> mais fácilmente, e permitirá facilitar o envio de dinheiro efectuado pelas pessoas que<br />
migram <strong>em</strong> busca de trabalho para as suas familias, principalmente para os pais idosos.<br />
O capítulo 7 descreve a evolução do programa moçambicano de transferência de dinheiro<br />
do INAS (o antigo GAPVU), o único deste tipo na África Sub-Sahariana. Este capítulo levanta<br />
uma questão crucial: qual o papel de um programa de transferência de dinheiro num país com<br />
dificuldades financeiras, como é o caso de <strong>Moçambique</strong>? Ainda neste capítulo sugere-se que<br />
existe uma função para este tipo de programa, mas que ele deve ser orientado estritamente à<br />
população estruturalmente pobre, àqueles que seriam excluídos dos benefícios de um<br />
desenvolvimento económico abrangente. No caso de <strong>Moçambique</strong>, este grupo incluiria os idosos<br />
e aqueles que foram prejudicados pela guerra. A filosolia que suporta tal tipo de programa seria<br />
aquela que um programa destes não é um substituto para os outros el<strong>em</strong>entos de uma estratégia<br />
de redução da pobreza (ver o ponto 8.3), mas t<strong>em</strong> o objectivo de dar um apoio ao nível de<br />
subsistência àqueles que, por razões tal como a incapacidade fisica, não t<strong>em</strong> possibilidade de<br />
beneficiar de outros programas ou estão, por outro lado, muito vulneráveis aos choques<br />
económicos.<br />
O capítulo 7 também mostra a importância da capacidade técnica de administrar um<br />
programa deste tipo, e sugere que sejam necessários certos custos administrativos para assegurar<br />
o sucesso de um programa de transferência monetária. No caso do INAS, a falta de capacidade<br />
434
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
técnica na administração, <strong>em</strong> conjunto com a excessiva preocupação de manter os custos baixos,<br />
foram os responáveis pelo elevado nível de fraude que foi eventualmente descoberto.<br />
Considerando o lado positivo da questão, o INAS, sendo o único programa do género na região,<br />
mostra mais uma vez o <strong>em</strong>penho do governo moçambicano no alívio da pobreza.<br />
8.3 Implicações políticas e investigação futura<br />
A posição previlegiada deste relatório como a primeira avaliação de base completa da<br />
pobreza a nível nacional significa que esta é uma excelente (e única) fonte de informação de base<br />
sobre os pobres e suas caracteristicas. No entanto, esta valiosa contribuição t<strong>em</strong> até certo ponto,<br />
limitado este relatório à apresentação de uma visão geral da pobreza e do padrão de vida do país,<br />
<strong>em</strong> vez de focar de forma mais detalhada <strong>em</strong> estudos sectorias mais detalhados e simulações<br />
políticas que poderiam fornecer recomendações politicas mais específicas. A próxima série de<br />
trabalhos de investigação terá a vantag<strong>em</strong> de fazer uso deste relatório como fonte de referência,<br />
podendo desta forma ser mais flexível <strong>em</strong> termos de estudos sectoriais e da análise de políticas<br />
específicas que são procuradas. Apesar destas limitantes, os resultados deste relatório dão claras<br />
indicações sobre quais dev<strong>em</strong> ser os componentes chave de uma estratégia de redução da pobreza<br />
geral <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>, assim como da necessária investigação futura para enquadrar<br />
intervenções dirigidas específicas, dentro deste contexo geral de políticas.<br />
Uma importante descoberta deste trabalho é a variação regional no padrão de vida, um<br />
resultado inteiramente consistente com a dimensão bastante vasta de <strong>Moçambique</strong> e sua<br />
diversidade ecológica. Uma estratégia de redução da pobreza deve considerar a distribuição<br />
geográfica e as variações da pobreza. Por ex<strong>em</strong>plo, as provincias centrais de Sofala e Tete, onde<br />
80 por cento da população se encontra <strong>em</strong> situação de completa privação, merec<strong>em</strong> maior<br />
prioridade nos esforços de redução da pobreza. Mas as provincias por si só não são pequenas<br />
individualidades, e provávelmente contém considerável heterogeneidade, de forma que o<br />
próximo passo <strong>em</strong> termos de investigação, deve ser a construção de um perfil de pobreza regional<br />
(provincial) para identificar os distritos e grupos específicos que merec<strong>em</strong> especial atenção.<br />
O segundo el<strong>em</strong>ento da estratégia de redução da pobreza deve ser uma expansão das<br />
oportunidades educacionais. Dentro desta iniciativa geral exist<strong>em</strong> dois objectivos específicos que<br />
dev<strong>em</strong> ser prioritários. Dados os benefícios sociais e financeiros da educação das mulheres no<br />
agregado familiar, e a grande diferença entre o número de crianças de ambos os sexos na escola<br />
nas zonas rurais, o aumento do ingresso das meninas e consequente o nível educacional obtido<br />
nas zonas rurais merece atenção imediata. Isto requer mais que a simples construção de escolas<br />
primárias e secundárias, mas uma acção a nível da comunidade que modifique a atitude<br />
prevalecente <strong>em</strong> relação à educação das meninas, e a oferta inovativa de serviços que reduz<strong>em</strong><br />
o custo de oportunidade da escolaridade das meninas, que normalmente precisam de trabalhar<br />
<strong>em</strong> casa ou na machamba. Em termos de investigação futura, está planificada uma avaliação<br />
profunda dos outros factores de fornecimento ou oferta de serviços, para identificar os factores<br />
435
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
que a nível escolar são mais importantes no ingresso à escola e sobre como a intervenção do<br />
governo pode ser eficiente nesta área. A segunda áera de prioridade dentro da educação pode ser<br />
também as campanhas de afalbetização de adultos, pricipalmente orientadas para as mulheres<br />
jovens que abandonaram a escola. O trabalho analítico apresentado neste relatório mostra<br />
claramente os benefícios múltiplos que estas intervenções poderiam representar para o agregado<br />
familiar e para a sociedade <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
O terceiro pilar da estratégia de redução da pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong> deve ser o<br />
crescimento económico generalizado. Todavia, para assegurar que os pobres benefici<strong>em</strong> do<br />
crecimento económico de forma mais que proporcional, ou pelo menos proporcionalmente, deve-<br />
se priorizar as estratégias de crescimento do sector agrícola, onde trabalha a vasta maioria dos<br />
moçambicanos. O potencial do crescimento económico para a redução da pobreza não deve ser<br />
subestimado. Por ex<strong>em</strong>plo, um crescimento anual real per capita de 7,7 por cento, conforme foi<br />
estimado <strong>em</strong> algumas das projecções oficiais actuais, ao longo dos próximos cinco anos t<strong>em</strong> o<br />
potencial para reduzir a incidência da pobreza <strong>em</strong> aproximadamente 40 por cento, caso não<br />
pior<strong>em</strong> as desigualdades relativas.<br />
Dentro do sector agrícola, o trabalho analítico apresentado no capítulo 3 indica que a<br />
simples expansão da área cultivada não é suficiente para reduzir a pobreza. O uso de insumos que<br />
aument<strong>em</strong> a produtividade, juntamente com a expansão da área cultivada terão um importante<br />
efeito interactivo na redução da pobereza. Em <strong>Moçambique</strong> exist<strong>em</strong> pelo menos três desafios<br />
principais para aumentar a produtividade: 1) um nível de instrução das mulheres adultas de 15<br />
por cento que limita a vontade de adoptar e aprender as novas tecnologias; 2) o actual baixo nível<br />
de uso de fertilizantes (dois por cento), de s<strong>em</strong>entes melhoradas e irrigação o que se traduz num<br />
grande investimento inicial para iniciar este tipo de programas; 3) a grande dimensão e<br />
diversidade agro-ecológica do país que impossibilita que haja uma única estratégia nacional <strong>em</strong><br />
termos de tipo de insumos e serviços de extensão que dev<strong>em</strong> ser oferecidos.<br />
Outro el<strong>em</strong>ento importante para a estratégia de redução da pobreza, identificada neste<br />
relatório é a melhoria das infraestruturas económicas nas zonas rurais. Tal como indicam os<br />
resultados do capítulo 3, um estabelecimento geral das vias de acesso, mercados, bancos, e<br />
serviços de comunicação e extensão para as aldeias moçambicanas pode contribuir <strong>em</strong> longa<br />
medida para o alívio da pobreza.<br />
Estão programados dois estudos <strong>em</strong> termos de investigação futura, que permitirão<br />
identificar o tipo de intervenções que aument<strong>em</strong> a produtividade e reduzam a pobreza. O<br />
primeiro incorporará informação mais detalhada sobre as características agrícolas, incluíndo as<br />
medidas de aumento da produtividade, dentro do trabalho analítico sobre os determinantes de<br />
pobreza apresentados no capítulo 3. O segundo é um estudo sectorial detalhado sobre a<br />
agricultura combinando diferentes fontes de dados, incluíndo o Inquérito Agrícola aos Agregados<br />
(TIA96), o MIAF 1996-97 e o Recenceamento Agrícola.<br />
436
<strong>Pobreza</strong> e b<strong>em</strong>-estar <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>: 1996-97<br />
Para terminar, é importante reiterar que, este relatório, por extenso e exaustivo que<br />
pareça, é apenas um passo inicial na longa jornada <strong>em</strong> direcção à redução da pobreza <strong>em</strong><br />
<strong>Moçambique</strong>. Ele fornece importante informação de base sobre o estado das condições de vida<br />
e os capítulos analíticos apresentam indicações claras sobre as componentes necessárias para a<br />
campanha de redução da pobreza. Mas, muitas das implicações políticas apresentam uma enorme<br />
variedade. Do lado da investigação, a estratégia geral aqui proposta necessita de uma sustentação<br />
da análise sectorial quantitativa para identificar com precisão opções políticas mais específicas,<br />
e s<strong>em</strong>pre que possível, os custos envolvidos. Do ponto de vista político, o governo moçambicano,<br />
através da incumbência deste relatório mostrou o seu <strong>em</strong>penho para entender as condições de<br />
vida no país e a sua vontade de procurar resolver o probl<strong>em</strong>a da pobreza. As accções concretas<br />
exigirão não só os recursos financeiros mas também a cooperação e participação de todos os<br />
interessados <strong>em</strong> irradicar a pobreza <strong>em</strong> <strong>Moçambique</strong>.<br />
437