Telefone celular e infância: alguns tensionamentos - Unirevista
Telefone celular e infância: alguns tensionamentos - Unirevista
Telefone celular e infância: alguns tensionamentos - Unirevista
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Telefone</strong> <strong>celular</strong> e <strong>infância</strong>: <strong>alguns</strong> <strong>tensionamentos</strong>!<br />
Lilian Ivana Born<br />
simplesmente, para não chamar a atenção das outras crianças. Um grupo de meninas estava numa rodinha<br />
muito concentradas, então resolvi ver o que estavam fazendo. Tinham um brinquedo, que rodava igual a um<br />
pião, perguntei que brinquedo era aquele e elas disseram: um pião do Astroboy! E já demonstraram para<br />
mim como se jogava. As meninas fizeram questão de dizer que o Astroboy e o espelho da Hello Kitty não<br />
foram comprados, pois eram brindes que elas ganharam ao comprar o MC Lanche Feliz 2 .<br />
Já em relação à Tecnologia, não vi muita coisa na 1ª e 2ª séries, a não ser um menino com uma máquina<br />
fotográfica tirando foto das meninas no recreio. Ele olhava para qualquer lado, tirava a foto e saía correndo.<br />
Então o chamei e perguntei se aquela máquina tinha filme, ele respondeu: é claro! Tirou uma foto minha e<br />
novamente saiu correndo; ficou atrás de uma parede me espionando, fiz de conta que não estava vendo-o,<br />
então ele tirou outra foto. Naquele momento pensei o porquê de tal atitude, pelo prazer da brincadeira?<br />
Tenho certeza de que não havia nenhum filme naquela máquina, pois o barulho era diferente.<br />
Todas essas observações relativas a objetos, ícones e artefatos que entram na escola, descritas acima, são<br />
discutidas por Momo (2005), em seu projeto de pesquisa Mídia e consumo na produção da <strong>infância</strong> pós-<br />
moderna que vai à escola. Segundo a autora:<br />
O tipo e o significado dos artefatos que vão para a escola tem sido modificado pelas condições<br />
culturais da contemporaneidade. O que vai para a escola é a “onda”, a moda do momento, em um<br />
mundo em que o que conta é o momento presente; o que as crianças levam para as escolas é o que<br />
consideram publicamente valioso. E o que é publicamente valioso (facilmente reconhecido e<br />
desejado) assim se constitui por meio da mídia (p. 68).<br />
No entanto, procuro lançar meu olhar para um outro artefato que também está presente na escola, o<br />
telefone <strong>celular</strong>.<br />
<strong>Telefone</strong> Celular: um simples objeto de consumo infantil? Não! Um pouco<br />
além disso...<br />
O telefone <strong>celular</strong> pode ser visto como a nova “mania” do momento. Ele está presente no shopping, na rua,<br />
na praça, no ônibus, na academia, na escola, na universidade, enfim, nos mais diversos ambientes e entre<br />
os mais variados públicos. São tantas as propagandas, os anúncios, as promoções, os apelos não só da<br />
mídia, mas do próprio grupo social ao qual pertencemos, que fica extremamente difícil não aderir a essa<br />
nova mania. Nesse jogo de sedução, não somente adultos e adolescentes são capturados, mas também as<br />
crianças; é sobre elas que lanço meu olhar.<br />
Mesmo não encontrando na escola estadual todos aqueles objetos e ícones da mídia televisiva que<br />
apareceram na escola particular, identifiquei algo em comum entre as duas escolas: crianças desfilando com<br />
<strong>celular</strong>es na hora do recreio. Vi diversas formas de interação: crianças sozinhas ou em grupos, jogando,<br />
conversando, trocando mensagens, baixando músicas e, inclusive, estabelecendo comparações/competições<br />
acerca de quem tinha o melhor modelo, os melhores jogos e os melhores e mais avançados serviços<br />
disponíveis no seu <strong>celular</strong>.<br />
2 Trata-se de um lanche especial vendido pela empresa McDonald´s para crianças. O lanche é acondicinado numa caixinha<br />
com alças e junto com ele sempre vem um brinquedo. Os brinquedos estão relacionados à campanha publicitária realizada<br />
pela empresa que muitas vezes se utiliza de filmes infantis ou de personagens de programas da mídia televisiva.<br />
UNIrevista - Vol. 1, n° 2 : (abril 2006)<br />
3