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Telefone celular e infância: alguns tensionamentos - Unirevista

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<strong>Telefone</strong> <strong>celular</strong> e <strong>infância</strong>: <strong>alguns</strong> <strong>tensionamentos</strong>!<br />

Lilian Ivana Born<br />

Essa mobilização em torno do <strong>celular</strong> não é um fenômeno puramente tecnológico, mas<br />

principalmente cultural. Daí todo o discurso a respeito da necessidade de se adotar esse novo meio.<br />

É como se, ao não estar conectado nessa rede sem fios, o sujeito deixasse de registrar a sua<br />

presença no mundo. (p.4)<br />

Para Bauman (apud Moura & Mantovani, 2005),<br />

o <strong>celular</strong> confere aos sujeitos a ubiqüidade, gerando um estado de permanente conexão entre<br />

indivíduos em movimento. Portar um <strong>celular</strong> significa manter-se inserido em uma rede de potenciais<br />

interações. Ele agrega a idéia de família, de intimidade, de emergência e de trabalho. Nele o público<br />

e o privado se mesclam diluindo-se as fronteiras entre esses dois territórios. (p.4)<br />

Manter-se conectado às pessoas e com o mundo é uma preocupação que se mostra nitidamente visível nas<br />

falas e nas interações estabelecidas pelas crianças com o <strong>celular</strong> e pelas crianças em/com os seus grupos. A<br />

necessidade de se comunicar, de estar acessível, faz das crianças eternos consumidores de serviços,<br />

atitudes e valores, os quais emergem para dar um sentimento de pertencimento, de posse ou de identidade<br />

para quem os possui.<br />

As crianças vivem no mundo das visibilidades e, neste sentido, os objetos tecnológicos (<strong>celular</strong>, por exemplo)<br />

proporcionam prestígio para quem os possui. Segundo Sarlo (2000), “(...) os objetos nos significam: eles<br />

têm o poder de outorgar-nos <strong>alguns</strong> sentidos, e nós estamos dispostos a aceitá-los.” (p.28) E isso ocorre de<br />

tal forma que, para muitas crianças, não basta apenas adquirir um telefone <strong>celular</strong>, é preciso estar sempre<br />

ligado nas tendências e na moda, ou seja, comprando um outro mais sofisticado, personalizando com<br />

acessórios ou serviços mais modernos... Conforme Sarlo (2000), “os objetos criam um sentido para além de<br />

sua utilidade ou de sua beleza ou, melhor dizendo, sua utilidade e sua beleza são subprodutos desse sentido<br />

que vem da hierarquia mercantil.” (p.30)<br />

Esse mundo de visibilidades, de conectividades e relações atemporais, é aquele que Debord (1997)<br />

denomina de “sociedade do espetáculo”. Para este autor, “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas<br />

uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.” (p.14) Falando de/sobre imagens, Fischer (2001),<br />

em seu livro Televisão e Educação: pensar e fruir a TV, fala que:<br />

“Imagem é tudo” – esse é o conselho que ouvimos todos os dias: é preciso não apenas ser, mas<br />

“parecer ser”; e se não pudermos ser, que nos esforcemos para parecer, e isto até pode bastar,<br />

porque cultivar a imagem (de si mesmo, de um produto, de uma idéia) mostra-se como algo<br />

tremendamente produtivo. (p.28)<br />

Para Costa (2005), “a posse de tais mercadorias (imagens, símbolos, narrativas, sentimentos, condutas,<br />

objetos,...), detentores de grande visibilidade e atualidade no aparato midiático, oferece ao proprietário um<br />

sentimento de pertencer que o converte em membro de uma comunidade de significados compartilhados”<br />

(p.6). A sensação de pertencimento é, então, um dos privilégios proporcionados pelos artefatos encontrados<br />

nas escolas, entre eles, o telefone <strong>celular</strong>.<br />

UNIrevista - Vol. 1, n° 2 : (abril 2006)<br />

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