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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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E como estavam as condições objetivas? Isto é, as condições de trabalho continuam<br />

muito adversas? A carestia cresceu demais? Por aí... Mais: o revolucionário não deveria<br />

tomar o lugar do povo, como faziam os rebeldes da Vontade Popular... vontade ... eles<br />

eram puro voluntarismo...<br />

Esse voluntarismo deitou raízes também no Brasil. Basta lembrar a canção do Vandré:<br />

“<strong>que</strong>m sabe faz a hora, não espera acontecer”. Carajos! Até a onça espera a hora de o<br />

veado beber água para lhe pular nas costas. Aliás, passada a ditadura, o Gabeira, candidato<br />

a governador do Rio de Janeiro veio com a fatídica frase: “é só <strong>que</strong>rer”. Que é isso<br />

companheiro? Conselho de livrinho de auto-ajuda?<br />

Nossos “narodini<strong>que</strong>s” (aportuguesei mesmo) ignoravam o <strong>que</strong> fosse a realidade material<br />

e política da classe operária. Classe operária? Ela é importante, sim, mas a guerrilha seria<br />

rural, como na China. E onde está o campesinato? Na Serra do Caparaó, segundo os<br />

brizolistas, onde passam os va<strong>que</strong>iros da transumância, se me permitem a comparação<br />

com a Serra da Canastra. Lá não deu certo.<br />

Vamos para a Amazônia, com o PC do B, atrás dos conflitos de terra <strong>que</strong> proliferam por<br />

lá. A campanha de cerco e aniquilamento destruiu a experiência. Afora o Osvaldão, atleta<br />

do Flamengo, <strong>que</strong> foi para o sul do Pará e virou padrinho de uma porção de crianças<br />

(onde ficou o materialismo, o ateísmo?... comunista brasileiro mistura tudo!) ninguém<br />

estava inserido no contexto – criamos uma bela expressão! - caiu todo mundo, antes de<br />

ser deflagrada a luta armada.<br />

E nós, da DI, Dissidência do Partido Comunista? Eu nunca fui stalinista, já entrei pela<br />

dissidência, antes era mero simpatizante. Eu era, e ainda sou morador de Niterói. Aliás,<br />

Wladimir chegou no aeroporto, na volta do exílio, e gritou: “Niterói!” Os jornalistas<br />

pensaram <strong>que</strong> ele <strong>que</strong>ria ir para Niterói e eu era o taxista. Expli<strong>que</strong>i <strong>que</strong> apenas, gritou<br />

por mim... Viu-me por trás da multidãozinha <strong>que</strong> se formou para recebê-lo no saguão do<br />

aeroporto. Só o Pipico me chamava assim. Os demais companheiros já me tinham<br />

batizado de JB. JB do CACO, apelido <strong>que</strong> eu gosto de lembrar até hoje.<br />

Glória Márcia, uma moça fina, estudiosa, a <strong>que</strong>m pedimos para redigir um esboço de<br />

reforma do currículo de Direito, só por isso, foi presa e torturada na Aeronáutica ou<br />

Marinha, CISA ou CENIMAR. Quando saiu do inferno, voltou à Faculdade Nacional de<br />

Direito da Universidade do Brasil, atual UFRJ. Contou-me <strong>que</strong> insistiram muito com ela<br />

para dizer qual era o meu nome. E ela disse <strong>que</strong> não sabia. Só me conhecia por JB.<br />

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