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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Depois de passar pela fase do “pau”, da tortura, no DOI-CODI do Rio e na OBAN de São<br />

Paulo, ele foi transferido para o DOPS, onde o vi pela primeira vez desde a<strong>que</strong>la manhã<br />

de abril do dia em <strong>que</strong> a PE o se<strong>que</strong>strou na porta do Correio da Manhã. Ainda estava<br />

muito machucado, com marcas de hematomas e feridas dos cho<strong>que</strong>s elétricos. Magro e<br />

abatido. Menciono as marcas físicas. Quase milagre o fato de ele estar vivo. Temos ciência<br />

de <strong>que</strong> os governos militares <strong>que</strong> tomaram o poder em 1º de abril de 1964, or<strong>que</strong>strados<br />

pelo governo estadunidense, cometiam todos os tipos de ilegalidade e atrocidades com<br />

supostos opositores do regime: se<strong>que</strong>stravam, mantinham presos, torturavam,<br />

assassinavam e executavam pessoas e, ainda, desapareciam com seus corpos.<br />

O general amigo <strong>que</strong> conseguiu o relaxamento da prisão para <strong>que</strong> ele respondesse ao<br />

processo em liberdade não podia garantir nada. Tínhamos <strong>que</strong> agir rápido. No dia<br />

seguinte à soltura, a PE foi procurá-lo, de novo, no Correio da Manhã, onde ele<br />

trabalhava como jornalista.<br />

“NÃO É VÁLIDO PARA CUBA” estava carimbado na página quatro da<strong>que</strong>le passaporte,<br />

com vigência até 25 de julho de 1975. Um amigo levou-o para mim em Buenos Aires<br />

onde estávamos, em agosto de 1973, eu e o Luiz Carlos. Morávamos em uma espécie de<br />

aparelho do ERP. Era um belo e enorme apartamento, no Centro, perto da Praça do<br />

Congresso, <strong>que</strong> servia de estúdio fotográfico. Nossos amigos eram publicitários. Certa<br />

vez, abrimos um armário e vimos dezenas de co<strong>que</strong>téis Molotov.<br />

Inverno. Muito frio. Adorei a<strong>que</strong>la linda cidade. Apesar da ótima hospitalidade e carinho<br />

dos argentinos, sentíamo-nos muito perdidos em Buenos Aires, recém saídos do Brasil.<br />

Ele, da prisão, tortura e do medo da morte. Tínhamos receio de sair na rua por causa de<br />

nossos documentos, especialmente, ele, por estar com identidade falsa.<br />

Finalmente, viajamos para o Chile, depois de receber notícias da<strong>que</strong>le país. O povo chileno<br />

era legalista e lá não aconteceria nenhum golpe, apregoavam. Primeiro, de Buenos Aires<br />

a Mendoza, de ônibus. De Mendoza a Santiago, viajamos de trem. Muito frio e, por causa<br />

das greves de transporte, jornada mais <strong>que</strong> longa onde me impressionou a imponência<br />

dos Andes, cordilheira masculina, com certeza. Andes. Másculo, colossal, alto, forte,<br />

quase sem vegetação, seco, duro, silencioso... lindo e assustador!<br />

Sem tempo hábil para acalmar as águas turbulentas turvas das emoções, mudanças<br />

muito rápidas e radicais na vida, mundo <strong>que</strong> ficou para trás, sem falar no perigo de<br />

morte. Ainda muito abalados com a prisão, torturas, saída do Brasil, curta permanência/<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - exÍlio 507

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