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Dissertação inteira - Repositório Institucional da UFSC

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transbor<strong>da</strong>m aquele sistema. Queremos deixar registrado que, além de<br />

não perfilharmos o entendimento de que a antropologia possa ser<br />

compreendi<strong>da</strong> como um sistema científico fechado, impermeável a<br />

outros modos de compreensão do mundo, não cremos tampouco que<br />

tematizações várias referi<strong>da</strong>s ao homem passem ao largo <strong>da</strong><br />

antropologia só porque são também educação, filosofia ou política. Não<br />

só a antropologia deve cerrar fileiras para estu<strong>da</strong>r o próprio homem ao<br />

construir seu conhecimento, como também sempre existem fun<strong>da</strong>mentos<br />

antropológicos nas discursivi<strong>da</strong>des humanas. É desse modo que<br />

entendemos que a via de acesso de Paulo Freire à questão antropológica<br />

é a ético-axiológica. E desse modo, igualmente, estamos diante <strong>da</strong> razão<br />

moderna que dividiu a reali<strong>da</strong>de e compartimentou-a em áreas do<br />

conhecimento (contradição que nós mesmos assumimos neste texto) e<br />

que deixa sua crítica perplexa: o que diferencia as ciências humanas<br />

específicas? Qual a diferença entre antropologia, psicologia, filosofia e<br />

sociologia? Não será uma diferença forja<strong>da</strong> e que, sem a<br />

interdisciplinari<strong>da</strong>de como ação de vasos comunicantes, faz <strong>da</strong>s ciências<br />

específicas recortes inúteis <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de quando se tenta ver o todo?<br />

Enfim, questionamos aqui a concepção de objeto <strong>da</strong> ciência, para não<br />

dizer que radicalizamos mais a ponto de questionar a própria ciência (o<br />

que não faremos aqui para evitar trilharmos caminhos que não nos são<br />

permitido pisar).<br />

Vejamos então a via ético-axiológica de Paulo Freire para a<br />

antropologia. Primeiramente, enten<strong>da</strong>mos o que o homem é em oposição<br />

aos animais. Aqui, Freire diz serem os homens seres de relação, ao<br />

contrário dos animais que seriam seres de contato. Os homens se<br />

relacionam com os outros homens e também com o mundo; já os<br />

animais apenas estão no mundo. O homem também está no mundo, bem<br />

como se relaciona pelo mundo, num sentido transcendente, com o<br />

diferencial de se encontrar com o mundo. As relações do homem se<br />

caracterizam pela reflexão, pela ação e por sua temporali<strong>da</strong>de. Por sua<br />

vez, os contatos do animal se distinguem por serem mecânicos,<br />

inconseqüentes e atemporais. Portanto, as relações são reflexivas e<br />

conseqüentes, ao passo que os contatos animais são meramente reflexos<br />

e inconseqüentes. Outra ordem de diferenciações reside no fato de que<br />

“o homem integra-se e não se acomo<strong>da</strong>. Existe, contudo, uma a<strong>da</strong>ptação<br />

ativa” e é por isso que “quanto mais o homem é rebelde e indócil, tanto<br />

mais é criador”. 473<br />

473 FREIRE, P. Educação e mu<strong>da</strong>nça, p. 32.

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