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Dissertação inteira - Repositório Institucional da UFSC

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335<br />

ain<strong>da</strong> que não sufocante, às contradições de classes. Os próprios autores<br />

do “Manifesto comunista” são mais do que claros ao afirmarem que<br />

“nossa época – a época burguesa – caracteriza-se, contudo, por ter<br />

simplificado os antagonismos de classe”. 590 Tal simplificação diz<br />

respeito à contraposição entre burguesia e proletariado, mas se há uma<br />

simplificação é porque houvera antes uma complexa conformação de<br />

classes. Marx e Engels, ain<strong>da</strong>, qualificam sua discussão por tornarem-na<br />

histórica. E se é de história que se fala, só historicamente se pode agir e<br />

pensar. Inclusive, é reitera<strong>da</strong>mente constata<strong>da</strong> a existência de outras<br />

classes para além de proletariado e burguesia, como as classes médias e<br />

o lúmpen-proletariado ou ain<strong>da</strong> “os restos <strong>da</strong> monarquia absoluta, os<br />

proprietários de terra, os burgueses não industriais, os pequenoburgueses”,<br />

591 mas “de to<strong>da</strong>s as classes que hoje se contrapõem à<br />

burguesia, só o proletariado se constitui uma classe ver<strong>da</strong>deiramente<br />

revolucionária. To<strong>da</strong>s as demais se arruínam e desaparecem com a<br />

grande indústria; o proletariado, ao contrário, é seu produto mais<br />

autêntico”. 592 E é nesse contexto que os movimentos populares devem<br />

ser entendidos, conforme uma relação, em última análise, que recruta o<br />

povo – os populares – a se oporem às classes dominantes, assim como o<br />

proletariado era recrutado de to<strong>da</strong>s as demais classes.<br />

A outra dimensão, que complemente a relação entre movimentos<br />

populares e classe, refere-se a sua necessária organização. Camacho<br />

aduz que “os movimentos sociais não têm que ser necessariamente<br />

organizados”, 593 o que não é válido para os movimentos populares, para<br />

os quais a organização é elemento constitutivo, consoante o que acima<br />

foi citado. Mas a simples organização não é suficiente para<br />

desembaraçar este nó conceitual, sendo importante a advertência de que<br />

“os movimentos sociais têm duas grandes manifestações: por um lado,<br />

590 MARX, K.; ENGELS, F. “Manifesto do Partido Comunista”, p. 8.<br />

591 MARX, K.; ENGELS, F. “Manifesto do Partido Comunista”, p. 16. Outra passagem reitera<br />

esse quadro: “os pequenos empreendedores tradicionais – os pequenos industriais,<br />

comerciantes e os que vivem de ren<strong>da</strong>, os artesãos e agricultores – decaem no proletariado;<br />

uns, cujo pequeno capital não é suficiente para permitir que adotem os processos <strong>da</strong> grande<br />

indústria, sucumbem frente à concorrência com os grandes capitalistas; outros porque sua<br />

habili<strong>da</strong>de é desvaloriza<strong>da</strong> pelos novos métodos de produção. Assim, o proletariado é<br />

recrutado em to<strong>da</strong>s as classes sociais”. MARX, K.; ENGELS, F. “Manifesto do Partido<br />

Comunista”, p. 15.<br />

592 MARX, K.; ENGELS, F. “Manifesto do Partido Comunista”, p. 18 (grifamos).<br />

593 CAMACHO, D. “Movimentos sociais: algumas discussões conceituais”, p. 217.

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