Lourenço Filho - AYRTON BECALLE
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intensa e ocupação de postos de poder, nos níveis estadual, municipal<br />
e federal. Com efeito, no decorrer dos anos, ocupou-se de<br />
variados misteres, o que levou Luís Correia de Melo, no Dicionário<br />
de autores paulistas (1954), a caracterizá-lo como “pedagogo, sociólogo,<br />
crítico, ensaísta, biógrafo, cronista, historiador, jornalista”.<br />
Mas isso não é tudo. À caracterização generosa de Correia de<br />
Melo, poderíamos acrescentar outros ângulos de apreciação: o militante<br />
da Liga Nacionalista de São Paulo, o organizador da Psicologia<br />
como campo científico, o autor de literatura didática, o administrador<br />
público, o intelectual-cientista, o reformador social, e, naturalmente, o<br />
professor em escola primária, escola normal e universidade.<br />
Todos esses ângulos, porém, não bastam para apreciação cabal<br />
desse intelectual que, ao lado de outros, desempenhou papel<br />
fundamental na reorientação dos rumos da educação, no decorrer<br />
do século XX brasileiro. De modo que talvez fosse melhor situálo<br />
como um dos expoentes da “geração de 1920”, geração construtora,<br />
sumamente empenhada na invenção de outro sistema de<br />
expressão e de vida para, assim, superar os impasses próprios de<br />
uma formação social saturada de tensões e conflitos. Ao optarem<br />
pela educação pública como via privilegiada para a construção de<br />
um Brasil moderno, os intelectuais dessa geração deixaram forte<br />
marca na cultura brasileira.<br />
Nessa década, está em plena maturidade a geração nascida com a República.<br />
Nessa década, vem a manifestar-se aqui, por mil e uma influências,<br />
o grande drama que foi a Primeira Guerra Mundial. Até mesmo<br />
por novos aspectos econômicos resultantes de improvisado surto<br />
industrial. Nessa década, agitam-se novas ideias na literatura, nas artes<br />
e na filosofia. Nela, comemorou-se o Centenário da Independência,<br />
fato que refletiu no espírito público e nos intelectuais, com uma polarização<br />
de sentimentos e ideias ligadas ao próprio sentido do verbo<br />
“depender” e “não depender”. Nela, pela primeira vez, lançava-se o<br />
governo federal a um empreendimento de fins sociais e políticos muito<br />
consideráveis – o de combate às secas no Nordeste. Nela, enfim, duas<br />
revoltas sangrentas sacodem o país, preparando a revolução de senti-<br />
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