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junta DOIS MIL - Associação de Fuzileiros

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Hotel no Malawi, on<strong>de</strong> viviam os oficiais portugueses<br />

te <strong>de</strong> apoio elevado da Marinha portuguesa<br />

e também, por militares do<br />

Exército português.<br />

Des.: Quer dizer que o Exército<br />

tinha alguns dos seus oficiais em<br />

serviço “clan<strong>de</strong>stino”?<br />

Cmdt. Preto: Sim. Houve sempre.<br />

Davam assessoria, comando. O<br />

exército dava mais assessoria, nós,<br />

na Marinha eram mos mais comando<br />

até porque actuávamos até na<br />

fiscalização. Claro que não fazíamos<br />

isto às claras. Agíamos pondo<br />

em acção os oficiais do Malawi que<br />

estavam sob a nossa alçada e que<br />

nós treinávamos.<br />

Des.: Os primeiros oficiais <strong>de</strong> Marinha<br />

chegaram a participar em sessões<br />

do Conselho <strong>de</strong> Ministros do<br />

Malawi?<br />

Cmdt. Preto: Chegaram. Em particular,<br />

o primeiro. E nós também realizávamos<br />

reuniões com os ministros<br />

e eu cheguei a estar ao lado do<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República (Hastings<br />

Banda). Numa cerimónia comemorativa<br />

da Declaração <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência<br />

do país eu fiquei sentado no<br />

Blantyre Stadium, ao lado do Presi<strong>de</strong>nte,<br />

numa posição em que Banda<br />

nos consi<strong>de</strong>rava como membros do<br />

seu próprio governo.<br />

Entrevista<br />

Des.: Ora, esta situação vai inverterse<br />

com o 25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1974. Na<br />

prática, vocês passaram <strong>de</strong> amigos<br />

para inimigos?<br />

Cmdt. Preto: Passamos não. Como<br />

houve a Revolução em Portugal e<br />

aqui (em Lisboa) ninguém sabia<br />

o que estava a suce<strong>de</strong>r connosco<br />

no Malawi. Desconheciam mesmo<br />

o que tinha sido negociado. Ora,<br />

o regime do Malawi, sustentava,<br />

realmente, que o caso estava nas<br />

nossas mãos. Temos <strong>de</strong> assinalar<br />

que do ponto <strong>de</strong> vista do governo<br />

<strong>de</strong> Banda, toda a agricultura, toda<br />

a indústria relevante, toda a re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> transportes marítimos girava<br />

à volta do lago. Era neste que navegavam<br />

os pequenos petroleiros<br />

que abasteciam a economia na região.<br />

Os gran<strong>de</strong>s transportes <strong>de</strong><br />

passageiros e um <strong>de</strong>les era já uma<br />

embarcação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte que<br />

inclusive movimentava as pessoas<br />

da Tanzânia para os vários locais,<br />

também se serviam do lago. Ora,<br />

quem controlava, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

militar-naval, esse lago, éramos<br />

nós. Como para Banda não havia<br />

da parte <strong>de</strong> Portugal (das novas autorida<strong>de</strong>s)<br />

qualquer informação sobre<br />

como se iria <strong>de</strong>senvolver o relacionamento,<br />

sentiram na obrigação<br />

<strong>de</strong> nos perguntar e aperceber-se<br />

qual seria a orientação futura.<br />

25<br />

Des.: Como não havia orientação,<br />

pren<strong>de</strong>ram-vos?<br />

Cmdt. Preto: Certo e tivemos <strong>de</strong><br />

ser nós a libertarmo-nos. Tenho <strong>de</strong><br />

precisar. Verda<strong>de</strong>iramente o único<br />

a ser preso fui eu. Houve duas<br />

ocasiões distintas. Numa primeira<br />

vez fui eu <strong>de</strong>tido porque o Presi<strong>de</strong>nte<br />

(Banda) quis realmente saber se<br />

Portugal iria entregar, formalmente,<br />

as lanchas, se as autorida<strong>de</strong>s<br />

portuguesas <strong>de</strong>sejavam continuar<br />

a parceria que fora estabelecida<br />

anteriormente. Porque, na realida<strong>de</strong>,<br />

havia uma parceria, já que<br />

o Malawi nos fornecia combustível<br />

para abastecimento das unida<strong>de</strong>s<br />

da região. Havia uma Lancha <strong>de</strong><br />

Desembarque, <strong>de</strong> nome Chipa, que<br />

estava pintada com as cores <strong>de</strong><br />

uma empresa nacional e transbordava<br />

combustíveis que, oficialmente,<br />

seriam <strong>de</strong>stinados a fins civis<br />

(tractores e alfaias agrícolas). Ora,<br />

do que me lembro, naquela área só<br />

havia um tractor e este era da Marinha.<br />

Na realida<strong>de</strong>, o abastecimento<br />

<strong>de</strong>stinava-se às unida<strong>de</strong>s militares,<br />

incluindo as lanchas portuguesas.<br />

Des.: Com a situação a complicarse,<br />

vocês foram retirados pela flotilha<br />

<strong>de</strong> lanchas <strong>de</strong> Metangula?<br />

Cmdt. Preto: Na primeira vez, não<br />

fomos retirados. Nessa ocasião eu<br />

fui levado para Blantyre. Estive durante<br />

um dia e meio <strong>de</strong>saparecido.<br />

Mas na ida para a capital consegui<br />

contactar com o embaixador João<br />

Proença que, naturalmente, me<br />

apoiou. E então resolvi o problema<br />

pelos próprios meios.<br />

A segunda vez, levei uma equipa<br />

muito gran<strong>de</strong> que era para a entrega<br />

das lanchas e logicamente<br />

aí a situação tornou-se mais difícil.<br />

Porque não podia resolver o problema<br />

(que envolvia orientações <strong>de</strong><br />

Estado para Estado) e procuramos<br />

solucionar o diferendo por meios<br />

diplomáticos. Entrou o embaixador,<br />

entrou o próprio comandante naval<br />

avançado, embora ele não estivesse<br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> | 2009

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