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Osman Lins e a natureza como suporte para um discurso ... - Unesp

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II Colóquio da Pós-Graduação em Letras<br />

UNESP – Campus de Assis<br />

ISSN: 2178-3683<br />

www.assis.unesp.br/coloquioletras<br />

coloquiletras@yahoo.com.br<br />

OSMAN LINS E A NATUREZA COMO SUPORTE PARA UM DISCURSO DE<br />

SAGRAÇÃO DO HUMANO<br />

936<br />

Priscila Medeiros Varjal de Melo<br />

(Mestranda – UFPE/Recife – CNPq)<br />

RESUMO: Este trabalho tem <strong>como</strong> objeto de estudo – na narrativa Retábulo de Santa Joana<br />

Carolina, do livro Nove, Novena (1966), de <strong>Osman</strong> <strong>Lins</strong> – a construção do “Eu” público desta<br />

personagem enquanto “caminho” de Sagração, através da Natureza de <strong>um</strong> H<strong>um</strong>ano em estado<br />

de extinção. A discussão aqui empreendida parte dos elementos do mundo físico e corporal da<br />

santa osmaniana, representados discursivamente tanto nos enunciados quanto nas imagens<br />

que compõem a estrutura hagiográfica desse conto.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Eu; <strong>natureza</strong>; <strong>discurso</strong>; h<strong>um</strong>ano; sagração.<br />

1. O “Eu” público de Joana Carolina se seus doze mistérios<br />

Certamente, pela dificuldade de mensurar a relação entre o homem e o divino<br />

– no caso específico do cristianismo o caminho parece ser o da prece – pode-se<br />

considerar que <strong>Osman</strong> <strong>Lins</strong> busca o ciclo de orações da “novena”, na intenção de<br />

representar essa relação que repete a metáfora real: O martírio de Cristo. O autor<br />

traça a jornada de penas e sofrimentos de Joana, no plano terreno, considerando que<br />

o homem é “incapaz de pensar o abstrato e, muitas vezes, de concebê-lo”.<br />

(VAUCHEZ, 1995, p.160). Por este motivo, a vivência religiosa cristã se dá muitas<br />

vezes no nível dos gestos e dos ritos, responsáveis por colocar o homem em contato<br />

com o mundo sobrenatural.<br />

1.1 Natividade<br />

Com o “primeiro mistério” do conto temos a fundação do Cosmos pela palavra<br />

osmaniana. O Caos sendo substituído pela organização que se dá no Retábulo pela<br />

ordenação dos elementos constitutivos do Universo e início do tempo, medido então<br />

pela “invisível balança”.


É em meio à instituição do Cosmos que se dá o nascimento de Joana<br />

Carolina, <strong>como</strong> se desde o início houvesse <strong>um</strong>a determinação divina a guiar o seu<br />

futuro.<br />

Joana é revelada pela voz da ama, que fez o parto de todos os filhos de sua<br />

mãe, Totônia: “Acompanhei, durante muitos anos, Joana Carolina e os seus. Lá estou,<br />

negra e moça, sopesando-a (tão leve!), sob o olhar grande de Totônia, que me<br />

pergunta: ‘É gente ou é homem?’” (1966, p. 72)<br />

Também pela boca da ama tomamos conhecimento neste mistério de <strong>como</strong><br />

entrará Joana, antes de tudo, em contato com os pecados capitais representados por<br />

seus próprios irmãos: “Suzana envenenada de luxúria, Filomena aduncando o nariz e<br />

as unhas na avareza, Lucina irada com todos, até contra mim. João Sebastião, errante<br />

mas sem calço nas ações, deve ser obra do pai, <strong>um</strong> seu reflexo. (p. 81)<br />

Os irmãos, que se encontram representados no retábulo da vida da santa<br />

osmaniana: “Aquelas quatro crianças que nos olham, perfiladas do outro lado da<br />

cama, guardando nos punhos fechados sobre o peito seus destinos sem brilho [...]”<br />

(p.72-3), incorporam cada qual o pecado que lhes norteia o destino.<br />

Este será parte do embate empreendido pela personagem em seu martírio,<br />

através do qual começamos a ter acesso às suas virtudes cardeais – Fortaleza,<br />

Justiça, Prudência e Temperança – que cultiva durante toda a vida. E às virtudes<br />

teologais, que também estão presentes durante sua trajetória: Fé, Esperança e<br />

Caridade.<br />

No segundo mistério, depois da fundação do Cosmos, a organização social<br />

começa a surgir com a instituição da casa, da habitação do homem, responsável por<br />

protegê-lo da vastidão do Universo. Dessa maneira, o homem começa a habitar a<br />

Terra em meio a <strong>um</strong>a relação de dever e responsabilidade, pois habitar “não é <strong>um</strong><br />

estado transitório; ao contrário, implica a imbricação, em longo prazo, dos seres<br />

h<strong>um</strong>anos em <strong>um</strong>a paisagem de memória, ancestralidade e morte, de ritual, de vida e<br />

trabalho”. (GARRAD, 2006, p. 155)<br />

É importante observar que a “casa”, embora não signifique <strong>para</strong> a sociedade<br />

atual <strong>um</strong>a fundação sagrada, e sim <strong>um</strong> lugar transitório, de passagem, teve <strong>um</strong>a<br />

conotação religiosa muito forte <strong>para</strong> os homens antigos, pois “a habitação não era <strong>um</strong><br />

objeto, <strong>um</strong>a máquina <strong>para</strong> habitar; era o Universo que o homem construiu <strong>para</strong> si<br />

imitando a Criação exemplar dos deuses, a cosmogonia”. (ELIADE, 2008, p. 54)<br />

Neste mistério, já com onze anos, a personagem aparece através do<br />

testemunho do segundo tesoureiro, carregando escorpiões que não lhe fazem mal<br />

937


alg<strong>um</strong>, <strong>como</strong> se tivesse o dom de se fazer entender por aqueles animais. Tendo-os em<br />

tão alto valor, os julga ricos <strong>para</strong> serem doados à Irmandade das Almas, <strong>como</strong> dízimo;<br />

por este motivo os enfia pela Caixa das Almas, sendo surpreendida: “(Joana) olha<br />

<strong>para</strong> mim com as mãos espalmadas, nada sabendo explicar sobre o porquê do seu ato<br />

e espantada com as nossas opas verdes”. (p.74)<br />

Esta cena dará espaço ao primeiro questionamento acerca da experiência<br />

mística de Joana – se é divina ou maligna sua inclinação – <strong>um</strong>a vez que a<br />

manifestação do sobrenatural (geralmente na infância) sempre desperta espanto e<br />

temor, antes de conformar-se em santidade ou heresia. Tão logo se quedam sozinhos,<br />

o presidente da Irmandade e o segundo tesoureiro começam a discutir acerca de<br />

<strong>como</strong> a menina brinca com aqueles animais peçonhentos, chamando a atenção <strong>para</strong><br />

esta experiência com o desconhecido: “Ficamos discutindo, acreditando em partes<br />

com o demônio, pois o aceitamos bem mais facilmente que aos anjos”. (p.76)<br />

A “casa” também será símbolo do martírio da personagem. Assim é que o<br />

herdeiro do engenho, insatisfeito por não receber os favores sexuais que espera de<br />

Joana, tenta desestabilizá-la com a troca constante de casa, procura destituir-lhe de<br />

identidade com o lugar.<br />

Nas sociedades mais antigas, a casa tinha <strong>um</strong>a dimensão religiosa, sagrada,<br />

de <strong>um</strong> espaço específico <strong>para</strong> guardar o homem, demarcar seu lugar no Universo.<br />

Diversas são as literaturas que exploram a possibilidade do homem vir a habitar a<br />

Terra em <strong>um</strong>a relação de dever e responsabilidade.<br />

É no terceiro mistério que surge a “praça”, o espaço social, lugar dos debates<br />

políticos que aconteciam na cidade. E também <strong>um</strong> ponto de encontro, onde havia <strong>um</strong>a<br />

Igreja e as famílias conversavam acerca dos assuntos da semana. Era o espaço<br />

expandido da casa.<br />

Neste mistério, a “imagem da Sta. Joana” aparece em todas as suas cores, é<br />

quando mais se assemelha a <strong>um</strong>a religiosa: “Joana, descalça, vestida de branco, os<br />

cabelos ouro esvoaçando, traz sobre o peito a imagem emoldurada de São<br />

Sebastião”. [...] “Por trás, n<strong>um</strong>a fila torta, cantando em altas vozes, com velas acesas,<br />

muitas mulheres”. (p. 76).<br />

Eis que tem início sua peregrinação, com o milagre divino que lhe dá<br />

novamente a vida, depois da doença que lhe tomou o corpo, encontrando a cura<br />

quando já estava “meio cega, ausente das coisas, febril, as pernas mortas”. (p. 77)<br />

A imagem de Joana encontra-se aí “triplamente il<strong>um</strong>inada – pelo sol da tarde,<br />

pelas chamas das velas, pelo meu êxtase” (p. 77), diz o testemunho do marido da<br />

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santa osmaniana, Jerônimo José. Esta personagem vê a futura esposa, nesta cena,<br />

<strong>como</strong> <strong>um</strong>a santa. Pois, ainda adolescente, já carregava em si <strong>um</strong>a luz estranha e a<br />

marca do sofrimento que tomaria dos que a acompanham em seu percurso.<br />

A palavra “êxtase”, utilizada por Jerônimo <strong>para</strong> descrever sua sensação ao<br />

ver Joana Carolina, é utilizada na mística cristã <strong>para</strong> tratar de <strong>um</strong>a experiência divina.<br />

Do ponto de vista cristão, significa o contato espiritual com a “verdadeira verdade”. O<br />

êxtase leva a alma a <strong>um</strong> estado independente do corpo, em que os olhos do espírito<br />

são os que veem. Nesta passagem, os pensamentos mundanos desaparecem, dando<br />

lugar à contemplação sublime.<br />

Enquanto Jerônimo passa pelo êxtase que lhe proporciona comungar da<br />

visão maravilhosa que experimenta, não deixa de testemunhar aquilo que seus olhos<br />

presenciam, a luz “tripla” que emoldura a personagem, antes que comecem o<br />

sofrimento e as depredações que vivencia em seu martírio.<br />

Com o quarto mistério, temos o início da vida matrimonial de Joana, não por<br />

acaso impulsionada pelo elemento da Natureza que <strong>Osman</strong> denomina o “Atiçador de<br />

incêndios”: “O ar”. O testemunho é de seu filho, Álvaro, que relata a vivência com o<br />

pai; as privações por que passa a família; a bexiga que ataca de <strong>um</strong>a vez só todos os<br />

filhos e a pobreza: “Faz <strong>um</strong>a semana que (Joana) não dorme, velando noite e dia à<br />

nossa cabeceira e sem ter onde pedir socorro” (p. 79).<br />

A educação dos filhos é feita junto à dos animais da casa, através da<br />

observação do pai em sua relação com a Natureza: “Nosso pai gostava de animais.<br />

Ensinou <strong>um</strong> galo-de-campina a montar no dorso de <strong>um</strong>a cabra chamada Gedáblia,<br />

esporeando-a com silvos breves” (p. 78)<br />

Eis a delicada apresentação dos ensinamentos de Jerônimo, que fornece a<br />

imagem sensível de <strong>um</strong> galo de campina aprendendo a montar, utilizando <strong>para</strong><br />

esporear, a cabra Gedáblia, seus “silvos breves”.<br />

O personagem h<strong>um</strong>aniza os animais, dando nome próprio à cabra e<br />

consciência do poder de seu canto ao pássaro. Esta relação mostra ainda que na<br />

Natureza os animais estão propensos à educação tanto quanto o homem; a cabra,<br />

mesmo sendo de maior porte, é guiada pelo pássaro sem nenh<strong>um</strong>a estranheza. Álvaro<br />

então conclui seu aprendizado: “Eu e Nô apanharemos essa inclinação e, de certo<br />

modo, por causa disto é que, daqui a anos, quando nossa mãe, ele já morto, estiver<br />

penando no Engenho Serra Grande, partiremos no mundo [...] Depois a tiraremos do<br />

engenho, de volta <strong>para</strong> a cidade” (p. 78).<br />

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É no quinto mistério que será iniciada a diáspora de Álvaro e Nô, com a<br />

aparição da “água”, enquanto elemento natural, certamente conformada ao mito da<br />

“queda”, na Gênese bíblica, depois da qual vem o grande dilúvio. O homem do <strong>para</strong>íso<br />

cristão convivia com os animais e a Natureza sem necessidade de submetê-los às<br />

suas forças. Depois da “queda”, vê o Senhor que a corrupção do gênero h<strong>um</strong>ano era<br />

generalizada, decidindo-se por mandar à Terra <strong>um</strong> dilúvio que destruísse o homem, na<br />

intenção de acabar com o mal, tomando a água <strong>como</strong> fonte de purificação.<br />

A cena que atualiza esse episódio bíblico é a da expulsão dos filhos de Joana<br />

do Engenho, por serem encontrados pelo dono do laranjal roubando seus frutos <strong>para</strong><br />

saciarem a fome: “O senhor do engenho nos surpreenderá dentro do seu pomar. Nos<br />

pássaros impl<strong>um</strong>es em nossas mãos verá laranjas, irá queixa-se irado à nossa mãe.<br />

Então ela nos mandará embora, procuraremos emprego e <strong>um</strong> dia viremos buscá-la,<br />

orgulhosos de nós”. (p. 79). O movimento é o mesmo, tal <strong>como</strong> o Senhor expulsa do<br />

<strong>para</strong>íso Adão e Eva, por comerem do fruto proibido, Álvaro e Nô também são postos<br />

<strong>para</strong> fora da propriedade, na qual a mãe trabalha, repetindo a “queda”.<br />

O testemunho do quinto mistério é o da mãe de Joana, Totônia. Esta, narra<br />

<strong>como</strong> conheceu Jerônimo José e sua impressão inicial sobre aquele homem que<br />

parecia destinado à morte precoce. Em seu testemunho aparece <strong>um</strong>a interrupção<br />

intrigante. Uma espécie de “confessor”, possivelmente com alto poder, questiona suas<br />

atitudes: “Mas por que pões, Totônia, em origens tão vagas, as deficiências de teus<br />

filhos?”, <strong>como</strong> se julgasse o <strong>discurso</strong> da personagem prontamente ao tomar-lhe o<br />

testemunho: “Por que hão de nascer n<strong>um</strong>a tendência de carne, sobre a qual no fim de<br />

contas ninguém tem governo, e não no teu modo habitual de agir, na tua falta de<br />

pulso, aqueles erros tão graves?” (p. 81-2).<br />

Era com<strong>um</strong> a figura do confessor por trás dos relatos <strong>para</strong> as causas dos<br />

santos. Os religiosos procuravam se inteirar completamente dessa experiência<br />

mística, controlá-la, investigando, no caso das santas, suas mais íntimas sensações,<br />

cobrando-lhes seus relatos, primeiramente orais e, em seguida, escritos. Estes<br />

doc<strong>um</strong>entos serviam depois de exemplo às demais religiosas que levavam <strong>um</strong>a vida<br />

ascética.<br />

O modelo de santidade criado por <strong>Osman</strong> <strong>Lins</strong> não sugere <strong>um</strong>a relação do<br />

tipo religiosa tradicional, <strong>como</strong> a dos santos católicos. A sua narrativa se dá em <strong>um</strong><br />

momento histórico sedento de exemplos de virtudes universais e em <strong>um</strong> espaço<br />

fortemente marcado pelas relações sociais capitalistas. Dessa maneira, interessa-nos<br />

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as características específicas da legenda desta santa nordestina, suas semelhanças e<br />

analogias em relação a hagiografias da tradição cristã.<br />

No modelo osmaniano podemos destacar o aspecto misterioso que ass<strong>um</strong>e a<br />

Natureza – em <strong>um</strong>a época na qual se encontra destituída da sua função divina –, em<br />

meio ao homem que passa a ser denominado de ser social, construído por seu próprio<br />

trabalho, independente da providência dos deuses celestes <strong>para</strong> plantar ou colher<br />

seus frutos, que agora se tornam mercadorias. A “passagem” do homem natural ao ser<br />

social, no Retábulo, começa com o sexto mistério.<br />

Neste mistério, o testemunho é do herdeiro do Engenho Serra Grande, que se<br />

identifica com o próprio diabo em sua descrição: “Barba pontuda, abas do chapéu<br />

levantadas de <strong>um</strong> lado e de outro da cabeça a modo de chifres. Aterrador, <strong>um</strong> mau”.<br />

(p.85). Diante dessa alegoria, o <strong>discurso</strong> logo aponta <strong>para</strong> o rastro de destruição<br />

deixado pelo h<strong>um</strong>ano, que já não depende da Natureza, mas que a submete por<br />

“majestade”, tanto quanto aos seus semelhantes, dominando todas as relações<br />

sociais, através do poder de manipulação das riquezas materiais.<br />

O que desperta o interesse do personagem em Joana é algo que falta a si<br />

mesmo – as virtudes morais –, por isso será o perseguidor sexual de Joana; mesmo<br />

passados setes anos de sofrimentos e perdas, diz que “vinha, de dentro dela, <strong>um</strong>a<br />

serenidade <strong>como</strong> a que descobrimos nas imagens de santo, as mais grosseiras” (p.<br />

86).<br />

Sabe-se que os modelos de santidade não são estanques, vêm mudando<br />

desde o começo da Idade Média, se aproximando dos homens e de seus conflitos<br />

pessoais e sociais, deixando de ser “distantes”, <strong>para</strong> se aproximarem cada vez mais<br />

do homem moderno. Já no século XII, aparece o modelo de santo “próximo”, que<br />

permite a identificação com o burguês, que então se constitui enquanto classe<br />

socioeconômica. O santo começa a levar <strong>um</strong>a vida bem similar à do resto da<br />

cristandade, pode trabalhar <strong>como</strong> mercador, casar-se, ser frade mendicante etc., ou<br />

seja, encaixa-se em <strong>um</strong> modelo mais suscetível de ser imitado pela sociedade.<br />

(FORTES, 2008, p. 82)<br />

De acordo com Vauchez, antes do séc. XII, os santos pareciam<br />

misteriosamente predestinados <strong>para</strong> a santidade, concentrando-se em manifestar sua<br />

eleição <strong>para</strong> com Deus. Porém, houve <strong>um</strong>a mudança nas décadas seguintes, onde os<br />

hagiógrafos tentavam demonstrar que o poder dos santos estava subordinado a <strong>um</strong>a<br />

existência ascética e à prática da caridade, não dependia apenas do “dom” dado por<br />

Deus, era possível também através da “busca”. Mais tarde, os hagiógrafos começaram<br />

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a ser instruídos <strong>para</strong> “certificar” a vida santa, de acordo com as normas de<br />

discernimento exigidas pelo papado, ou seja, com as devidas investigações, por causa<br />

da grande demanda.<br />

Entretanto, a troca do “dom” pela “busca” assemelha-se à operada entre a Fé<br />

e a Ciência, <strong>um</strong>a vez que ambos os <strong>para</strong>digmas partem do plano místico <strong>para</strong> o<br />

racional. O homem já não procura as razões no mito, mas em sua própria capacidade,<br />

através do trabalho, de repetir sempre a cosmogonia correspondente à transformação<br />

do Caos em Cosmos, com a ordenação do material disperso no Universo.<br />

O h<strong>um</strong>ano se põe através do trabalho e, afastando-se da Natureza, constrói<br />

sua casa, a praça, o templo, as ferramentas de trabalho e as próprias armas; aprende<br />

as maneiras de utilizar os componentes da Natureza em bens de cons<strong>um</strong>o, unindo<br />

elementos aparentemente “rebeldes”, dando-lhes <strong>um</strong>a ordem, tal <strong>como</strong> a estabelecida<br />

na criação do Cosmos.<br />

Encontramos essa relação do homem com a criação, por meio da matéria-<br />

prima de objetos que sirvam às suas necessidades, no sétimo mistério.<br />

O homem constrói seu mundo por meio do trabalho, estabelecendo relações<br />

com a sociedade e com os objetos de que necessita <strong>para</strong> sobreviver. Embora tenha<br />

este poder, os materiais já não estão dispostos na Natureza à sua disposição.<br />

Portanto, <strong>como</strong> testemunha Laura, filha de Joana, a falta ainda norteia a vida de<br />

muitos, a necessidade absoluta, a privação material: “Tudo era pela metade. Meia<br />

laranja, meio pão, meia banana, meio copo de leite, meio ovo, <strong>um</strong> sapato no pé e<br />

outro guardado” (p. 89)<br />

O relato desta personagem constrói a fragilidade do “eu” individual de Joana<br />

e, ao mesmo tempo, convoca-lhe as virtudes <strong>para</strong> vivificar seu “eu” geral. Explica o<br />

teórico Juan Arana (s/d. p. 76), “que há <strong>um</strong>a dialética que une o “eu” eterno ao “eu”<br />

temporal, em que este fundamenta e aquele justifica”.<br />

A santidade de Joana constrói-se a partir dos diversos testemunhos a favor<br />

de sua Canonização. O hagiógrafo torna a personagem o “centro” <strong>para</strong> o qual<br />

convergem as várias vozes responsáveis pela reconstrução de sua imagem depois da<br />

morte. Assim, a composição de seu “eu” geral caridoso e desprendido materialmente<br />

tem <strong>um</strong> propósito explícito: circunscrever sua santidade no momento histórico atual,<br />

pois a hagiografia não mantém correspondência com o “eu” particular, fictício, artificial<br />

e passageiro do santo. Uma vez que o “eu” público é que se eterniza, ganha a<br />

imortalidade, faz parte do mistério do mundo e está nas cifras secretas, nos símbolos,<br />

inacessível à razão h<strong>um</strong>ana, à simples compreensão.<br />

942


O “eu” geral é quem servirá de exemplo à população. Este “eu”, no caso da<br />

santa osmaniana, recebe desde o início de sua existência os dons de Deus, não é<br />

construído por <strong>um</strong>a vivência ascética, a personagem não busca a santidade, <strong>como</strong><br />

tantas vezes ocorre no processo de santificação; seu desafio está no exercício de<br />

suas virtudes em meio à sociedade capitalista vigente.<br />

1.2 Epifanias<br />

Aqui começam as il<strong>um</strong>inações da personagem; seus momentos de maior<br />

comunhão com o divino. Quando, a partir de suas simples ações, o sagrado se<br />

manifesta. É no mistério oitavo também que aparece o Modo de Produção.<br />

Aqui é desnudada a relação que mantêm os senhores de Engenho com seus<br />

empregados, sobretudo a troca de favores sexuais por bens de cons<strong>um</strong>o. Nele são<br />

apresentados os elementos necessários tanto ao cultivo da terra, os instr<strong>um</strong>entos<br />

utilizados <strong>para</strong> esse serviço, até os trabalhadores que o executam e os patrões que<br />

regem toda a relação de mando nos Engenhos de cana-de-açúcar.<br />

Neste mistério, temos <strong>um</strong>a situação nebulosa, <strong>um</strong>a dúvida sustentada até o<br />

fim da narrativa quanto à troca feita entre o herdeiro do Engenho e Joana, na capela,<br />

quando foi estabelecido o preço que pagaria Joana <strong>para</strong> que lhe fosse emprestado o<br />

carro de bois: “As palavras do homem, o preço sem medida. Como podia ter coragem<br />

de fazer tão brutal exigência na frente dos santos? De Joana, aguardei os protestos,<br />

os gritos de cólera” (p. 96-7).<br />

O testemunho é novamente da ama, negra que esteve durante toda a vida de<br />

Totônia, cuidando dos seus filhos. Com a morte desta, a família precisa de <strong>um</strong> carro<br />

de bois <strong>para</strong> levá-la até a casa onde nasceu, pois falece em visita a Joana, no<br />

Engenho Serra Grande. Este favor será cobrado pelo herdeiro do Engenho da maneira<br />

que cost<strong>um</strong>avam esses poderosos, donos de terras, negociarem os favores que<br />

prestavam. A negra mostra-se indignada ao ouvir do homem a torpe proposta dirigida<br />

a Joana com a naturalidade de quem cobra <strong>um</strong> serviço ao empregado: “Pensar que<br />

quase lhe beijei as unhas, sem saber que ele trazia no gibão as bestas da maldade,<br />

com seus cascos ferrados, seus chifres pontudos!” (p. 95).<br />

Não se sabe ao certo se foi ou não paga por Joana a dívida. Entretanto, o<br />

carro de bois levou o corpo de sua mãe com todos os apetrechos próprios a <strong>um</strong><br />

enterro. Assim, a resposta implícita é que Joana cedeu aos desejos do homem que lhe<br />

assediou o corpo durante grande parte da vida, <strong>para</strong> que sua mãe pudesse descansar<br />

943


onde queria. Com esta cena não podemos afirmar se houve ou não epifania, <strong>como</strong> se<br />

o dom da il<strong>um</strong>inação divina ainda não estivesse aqui completamente desenvolvido.<br />

Entretanto, no começo da hagiografia temos a criação da primeira<br />

cosmogonia, a transformação do Caos em Cosmos, que corresponde ao nascimento<br />

de Joana, já predestinada a <strong>um</strong>a vida santa. E agora, no nono mistério, vemos o<br />

mundo sendo criado pela segunda vez, quando se faz linguagem, através da palavra,<br />

que tem o poder de dar vida ao nomear <strong>um</strong>a coisa, ordenando novamente o material<br />

disperso no Caos.<br />

Eis que neste mistério encontramos seguramente <strong>um</strong>a manifestação epifânica<br />

da personagem, termo entendido aqui <strong>como</strong> <strong>um</strong>a súbita sensação de il<strong>um</strong>inação de<br />

<strong>natureza</strong> divina, quase sobrenatural. Esse momento de “claridade” ocorre pelo menos<br />

duas vezes no conto, correspondente às cenas em que cerra o banco onde a criança<br />

dorme e quando convence o grande Senhor de Engenho a não matar os noivos<br />

fugitivos, fazendo a população acreditar-lhe santa.<br />

Aos santos é dado, geralmente, o “dom” das experiências epifânicas. O<br />

testemunho neste mistério é o dos noivos, Miguel e Cristina, que buscam em fuga a<br />

proteção de Joana. É quando acontece seu primeiro milagre, a intervenção junto ao<br />

Senhor de Engenho, pai da noiva fugitiva, pela qual intercede. A querela se dá por<br />

causa da propriedade privada; o que está em jogo são os bens que serão perdidos se<br />

Cristina casar-se com <strong>um</strong> homem sem posses. Neste ponto, a intervenção de Joana é<br />

social, política até, posto que modifica a situação dos noivos, através de seu <strong>discurso</strong>,<br />

trazendo à superfície os bons sentimentos do proprietário, fazendo com que se<br />

sobressaiam ao valor dado ao dinheiro na sociedade atual.<br />

Tanto consegue desenlaçar favoravelmente esta questão, que o grande<br />

Antônio Dias, viúvo, dono de três Engenhos, lhe manda, através de vários portadores,<br />

<strong>um</strong> pedido formal de casamento, sem nem mesmo a conhecer, e sim por ter se<br />

impressionado grandemente com suas virtudes, de certa forma, extintas nesta<br />

sociedade atual. Eis o que Joana responde: “[...] Na verdade, havendo-me consagrado<br />

ao meu esposo pela vida inteira, a ele permaneço fiel. Assim, muito me honra a sua<br />

proposta, amável e generosa. Ela significa, se eu a aceitasse, amparo e estabilidade<br />

<strong>para</strong> o resto dos meus dias. Mas, então, o que seria de minha alma?” (p. 105).<br />

Essa preocupação moral no <strong>discurso</strong> que empreende testifica sua forte<br />

ligação doutrinal com o cristianismo, que se utiliza deste preceito <strong>como</strong> regra<br />

norteadora da conduta cristã recomendável. A sta. Joana abdica sempre dos<br />

benefícios que o dinheiro pode lhe trazer, mesmo que a estes se associe <strong>um</strong>a causa<br />

944


honesta, <strong>como</strong> o pedido de casamento que ora recebe, resultado de sua intervenção<br />

desinteressada.<br />

Este mistério mostra o poder das palavras de Joana que chegam aos ouvidos<br />

do Senhor de Engenho: “Os que haviam sido nossos perseguidores, eram agora<br />

amigos, nossos guardiões, e repetiam entre si, com <strong>um</strong> espanto que a madrugada<br />

engrandecia, as palavras de Joana” (p. 104). Há, nesta cena do Retábulo, a<br />

substituição da “presença” pela “palavra”, tal <strong>como</strong> a expressão metonímica da<br />

linguagem, segundo Frye (2004, p. 30), quanto as palavras “‘estão no lugar’ de<br />

pensamentos, e são a expressão exterior de <strong>um</strong>a realidade interior. [...] Pensamentos<br />

indicam a existência de <strong>um</strong>a ordem transcendental que se situa ‘acima’; apenas o<br />

pensamento pode se comunicar com essa ordem e apenas as palavras conseguem<br />

expressá-la”.<br />

No décimo mistério ocorre a segunda epifania da personagem. O testemunho,<br />

dessa vez, é polifônico. A comunidade se une <strong>para</strong> comentar se fora realmente <strong>um</strong><br />

milagre o fato de Joana ter cerrado as pernas do banco e salvado o menino Jonas. As<br />

informações são controversas, mas logo se ajustam com o “confessor”, que aparece<br />

desde o quinto mistério, responsável por organizar a versão Oficial do <strong>discurso</strong><br />

produzido sobre Joana, com parênteses explicativos que simulam a verdade pela<br />

precisão dos detalhes: “(Foram quatro tiros, distando mais ou menos <strong>um</strong> palmo entre<br />

si, exatamente na altura em que estaria o menino, se não fosse a interferência de<br />

Joana.)” (p. 109)<br />

É já próximo à morte que Joana tem essa il<strong>um</strong>inação. O elemento natural<br />

“terra” aparece <strong>para</strong> compor o ciclo de vida da personagem.<br />

Neste momento da narrativa, Joana está prestes a se despedir do mundo, o<br />

elemento “terra” anuncia seu retorno ao seio materno, ao ventre da mãe que lhe<br />

fornece o arsenal de despedida do mundo físico. De acordo com o teórico das<br />

religiões, Mircea Eliade (2008, p. 100), não se deve desprezar que <strong>para</strong> “o homem<br />

religioso, o ‘sobrenatural’ está indissoluvelmente ligado ao ‘natural’; a Natureza<br />

sempre exprime algo que a transcende”.<br />

Na passagem deste elemento <strong>para</strong> o último dos elementos, o “fogo”,<br />

encontramos Joana no “final de seu inverno”, pronta <strong>para</strong> se despedir da vida, ritual<br />

que pode ser encarado <strong>como</strong> <strong>um</strong>a iniciação “ao êxtase místico, ao conhecimento<br />

absoluto, à fé (no judaísmo-cristianismo), que equivale a <strong>um</strong>a passagem de <strong>um</strong> modo<br />

de ser a outro e opera <strong>um</strong>a verdadeira mutação ontológica. (ELIADE, 2008, p. 148)<br />

945


Este mistério simboliza o elemento responsável pela “fundação do mundo”; é<br />

precisamente neste momento que <strong>Osman</strong> erige <strong>para</strong> sua personagem <strong>um</strong> altar de fogo<br />

– a única maneira de validar a posse de <strong>um</strong> território – que equivale a <strong>um</strong>a<br />

cosmogonia. (idem, p. 34, grifos nossos). A ereção de <strong>um</strong> altar <strong>para</strong> a Santa Joana<br />

Carolina significa <strong>um</strong>a consagração, ou melhor, <strong>um</strong>a cosmização do espaço que<br />

ocupará a partir de então.<br />

O testemunho desta consagração, <strong>como</strong> deve ser, é <strong>um</strong>a autoridade<br />

eclesiástica, <strong>um</strong> Padre, que confessa Joana Carolina no leito de morte, momento em<br />

que a personagem procura encontrar suas faltas, <strong>para</strong> ter então de que se desculpar<br />

com o religioso: “Também devo ter feito injustiças. Devo ter feito. Já não me lembro<br />

quase nada. Nem do mal que fiz, nem do que sofri. Tudo agora é quase de <strong>um</strong>a cor”.<br />

(p. 111)<br />

E ainda, <strong>como</strong> é próprio a tais cerimônias cristãs, o <strong>discurso</strong> tradicional de<br />

comiseração e perdão termina em latim: “Dentro de mim, enquanto me afastava de<br />

cabeça alta, Joana era <strong>um</strong>a chama. Populus, qui ambulabat in tenebris, vidit lucem<br />

magmam” (p. 113).<br />

1.3 Queda<br />

No último mistério, que começa com o símbolo do infinito, já não há<br />

demarcação entre ornamento e narração, tudo se funde no ritual de retorno à terra,<br />

empreendido por Joana Carolina, que toma parte junto ao Universo.<br />

O ciclo crístico vivido pela personagem Joana – exposta a julgamentos<br />

constantes, provas e castigos advindos, do ponto de vista cristão, do “pecado original”<br />

– trilha em direção à reconquista da dimensão sagrada do homem, a reconciliação<br />

com Deus, após a desobediência e “queda” do <strong>para</strong>íso; a repetição do martírio através<br />

do ritual dessa personagem provoca a manifestação do sagrado.<br />

Essa atualização do ciclo crístico depende de <strong>um</strong> processo de reorientação<br />

mental que parte do mito em direção ao logos, pois o homem busca <strong>um</strong>a resposta<br />

<strong>para</strong> aqueles “fenômenos múltiplos e constantes que parecem ter <strong>um</strong>a existência<br />

autônoma, independente da existência h<strong>um</strong>ana”, <strong>como</strong> explica André Jolles (1930, p.<br />

110).<br />

A especulação sobre “<strong>um</strong>a verdade” da origem dos fenômenos múltiplos,<br />

ligados à ação dos elementos naturais (ar, água, terra e fogo) – componentes<br />

essenciais da criação do Cosmos, que fazem parte da construção das hierofanias<br />

946


presentes nos mistérios do Retábulo –, já é responsável por <strong>um</strong>a outra “fundação do<br />

mundo”, com explicações científicas e não mais místicas.<br />

Na reconstrução de toda <strong>um</strong>a trajetória cristológica percebemos a nostalgia<br />

da perda de algo que o homem jamais voltará a ter, ou seja, o “outro” que lhe falta.<br />

Dessa maneira, sendo o hagiógrafo <strong>um</strong>a espécie de “historiador místico”, está sob sua<br />

responsabilidade refazer o caminho trilhado por este “outro” que, do ponto de vista<br />

católico, é Cristo, na intenção de representar a grande ausência cristã.<br />

[...] o historiador “acalma” os mortos e luta contra a violência ao<br />

produzir <strong>um</strong>a razão das coisas (<strong>um</strong>a explicação) que supera sua<br />

desordem e certifica permanências; o místico luta ao fundar a<br />

existência sobre a relação mesma com aquele que lhe escapa. O<br />

primeiro se interessa na diferença <strong>como</strong> instr<strong>um</strong>ento de distinção em<br />

seu material; o segundo <strong>como</strong> <strong>um</strong>a ruptura que estabelece a questão<br />

do sujeito. (CERTEAU, 1993, p. 21) 1<br />

A criação do mundo se dá através de <strong>um</strong>a rotura entre duas dimensões, o<br />

Céu e a Terra, de onde surge a primeira hierofania cósmica. Esta hierofania marca<br />

profundamente os <strong>discurso</strong>s místicos, que tratam da ruptura entre <strong>um</strong> Ser maior e o<br />

homem, “caído” na terra, entregue à sua própria sorte. O homem religioso do Ocidente<br />

alimenta essa falta mística por toda a vida, na busca por <strong>um</strong>a unidade que acredita ter<br />

perdido com a “queda” bíblica.<br />

Tal mística está fundada em <strong>um</strong> começo que deve ocorrer sempre no<br />

presente, que precisa ser constantemente atualizado, <strong>para</strong> fundar <strong>um</strong> campo de<br />

manifestação específico, <strong>um</strong> espaço sagrado, de onde surge <strong>um</strong> conjunto de<br />

mensagens ou de mistérios que marcam sua identificação com a dimensão religiosa<br />

h<strong>um</strong>ana. Explica Michel de Certeau (1993, p. 25), que “a reinterpretação da tradição<br />

tem <strong>como</strong> característica <strong>um</strong> conjunto de processos que permitem tratar de outra<br />

maneira a linguagem; maneiras de atuar que vão organizando a invenção de <strong>um</strong> corpo<br />

místico” (grifos nossos).<br />

Dessa maneira, procuramos mostrar o caminho da construção do “Eu” geral<br />

da Santa osmaniana, expressando a participação da Natureza no seu processo de<br />

Canonização Literária, através dos mistérios e das alegorias que escondem atrás de si<br />

toda <strong>um</strong>a formulação mística que não volta atrás no tempo <strong>para</strong> comungar de crenças<br />

pagãs, nem tampouco se deixa guiar pelo Cristianismo <strong>como</strong> portador de <strong>um</strong>a verdade<br />

absoluta, mas avança por trilhos que levarão a <strong>um</strong> novo pacto <strong>para</strong> a verdadeira<br />

H<strong>um</strong>anização do homem.<br />

1 As citações do teórico Michel de Certeau são por nós traduzidas do espanhol.<br />

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