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autonomia do delito de lavagem de dinheiro em relação ... - Fempar

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FEMPAR – FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ<br />

STELLA MARIS PIEGEL<br />

A AUTONOMIA DO DELITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO EM RELAÇÃO AO<br />

CRIME ANTECEDENTE<br />

CURITIBA<br />

2010


STELLA MARIS PIEGEL<br />

A AUTONOMIA DO DELITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO EM RELAÇÃO AO<br />

CRIME ANTECEDENTE<br />

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong><br />

Especialista <strong>em</strong> Ministério Público – Esta<strong>do</strong> D<strong>em</strong>ocrático <strong>de</strong> Direito, na<br />

área <strong>de</strong> concentração <strong>em</strong> Direito Penal Econômico, Fundação Escola <strong>do</strong><br />

Ministério Público – FEMPAR, Faculda<strong>de</strong>s Integradas <strong>do</strong> Brasil –<br />

UniBrasil.<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Prof. Dr. Fábio André Guaragni<br />

CURITIBA<br />

2010


STELLA MARIS PIEGEL<br />

A AUTONOMIA DO DELITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO EM RELAÇÃO AO<br />

CRIME ANTECEDENTE<br />

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> Especialista no curso<br />

<strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Ministério Público – Esta<strong>do</strong> D<strong>em</strong>ocrático <strong>de</strong> Direito, Fundação Escola<br />

<strong>do</strong> Ministério Público <strong>do</strong> Paraná – FEMPAR, Faculda<strong>de</strong>s Integradas <strong>do</strong> Brasil – UniBrasil,<br />

examinada pelo Professor Orienta<strong>do</strong>r Fábio André Guaragni.<br />

________________________________________________<br />

Prof. Dr.Fábio André Guaragni<br />

Curitiba, 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.


DEDICATÓRIA<br />

Aos meus ama<strong>do</strong>s pais, Marystela e Roberto<br />

que <strong>de</strong> forma paciente estiveram ao meu la<strong>do</strong><br />

tanto nos momentos <strong>de</strong> alegria como nos<br />

momentos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntes<br />

da minha vocação.<br />

Ao meu irmão Cristian, que esteve s<strong>em</strong>pre<br />

ao meu la<strong>do</strong>, oferecen<strong>do</strong> um apoio<br />

constante e pleno <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>.


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao meu orienta<strong>do</strong>r e Mestre<br />

Fábio André Guaragni, pela<br />

valiosa contribuição na<br />

elaboração <strong>de</strong>ste<br />

trabalho.<br />

Agra<strong>de</strong>ço também à querida<br />

Professora Márcia Leardini<br />

pelo incentivo e ajuda<br />

para a realização<br />

<strong>de</strong>ste trabalho.


SUMÁRIO<br />

RESUMO ...................................................................................................................08<br />

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................09<br />

1.DA LAVAGEM DE DINHEIRO................................................................................10<br />

1.1.CONCEITO...........................................................................................................10<br />

1.2.HISTÓRICO..........................................................................................................12<br />

1.3. ETAPAS...............................................................................................................17<br />

1.4. A LAVAGEM DE DINHEIRO E O CONTEXTO DE CRIME ORGANIZADO........21<br />

2. O TIPO PENAL NA LEI 9.613/98...........................................................................25<br />

2.1. BEM JUÍDICO TUTELADO..................................................................................25<br />

2.2.SUJEITOS DO CRIME..........................................................................................29<br />

2.2.1. SujeitoAtivo.......................................................................................................29<br />

2.2.2. Sujeito Passivo..................................................................................................30<br />

2.3. TIPICIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA...............................................................31<br />

2.31. Tipo Objetivo......................................................................................................31<br />

2.3.2. TipoSubjetivo....................................................................................................31<br />

2.4. OBJETO MATERIAL............................................................................................33<br />

2.5. CRIME ANTECEDENTE......................................................................................35<br />

3.AUTONOMIA DO DELITO DE LAVAGEM.............................................................38<br />

3.1. PROVAINDICIÁRIA.............................................................................................38<br />

3.2. DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA...................................................................41<br />

3.3. COMPETÊNCIA...................................................................................................42<br />

3.4. PROCEDIMENTO................................................................................................45<br />

4. CONCLUSÃO......................................................................................................................46<br />

REFERÊNCIAS....................................................................................................................48


RESUMO.<br />

O Brasil v<strong>em</strong> observan<strong>do</strong> o crescimento <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s crimes econômicos entre<br />

eles o <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro, o qual, nos últimos, v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> muito aborda<strong>do</strong>s. A<br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> acontece <strong>em</strong> três etapas a da colocação, ocultação e<br />

integração. A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> também é analisada nos seus aspectos penais,<br />

sen<strong>do</strong> os mais importantes e <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, o b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong>, os sujeitos <strong>do</strong><br />

crime, o objeto material, os tipos e o crime antece<strong>de</strong>nte. Em seguida há analise da<br />

<strong>autonomia</strong> <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao crime antece<strong>de</strong>nte,<br />

sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> alguns aspectos, tais como a prova indiciária, o procedimento a<br />

competência e a <strong>de</strong>núncia.


INTRODUÇÃO<br />

A questão da criminalida<strong>de</strong> há muito t<strong>em</strong>po merece a <strong>de</strong>vida atenção por<br />

parte <strong>do</strong> governo e das autorida<strong>de</strong>s competentes sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s maiores pontos o<br />

combate a esta criminalida<strong>de</strong>.<br />

Fala-se muito hoje <strong>em</strong> crimes organiza<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>ntre eles está o <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> Dinheiro, o qual é o ponto principal <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

A Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro v<strong>em</strong> a ser o processo, pelo qual o agente transforma<br />

recursos adquiri<strong>do</strong>s com ativida<strong>de</strong>s ilegais, <strong>em</strong> ativos com orig<strong>em</strong> aparent<strong>em</strong>ente<br />

legal.<br />

Por causa da natureza clan<strong>de</strong>stina da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, fica difícil estimar<br />

o volume total <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s lava<strong>do</strong>s que circulam internacionalmente. As técnicas <strong>de</strong><br />

análise disponíveis envolv<strong>em</strong> a mensuração <strong>do</strong> volume <strong>de</strong> comércio <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

ilegais.<br />

Os recursos da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> até chegar<strong>em</strong> a ser<strong>em</strong> ativos<br />

aparent<strong>em</strong>ente legais, passam por algumas etapas, tais como a colocação,<br />

ocultação e integração.<br />

No Brasil a primeira lei a tratar <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> foi a Lei<br />

9.613/98, a qual traz aspectos importantes os quais são indispensáveis tanto para<br />

análise quanto para a aplicação da Lei.<br />

A lei ainda traz o rol <strong>do</strong>s crimes antece<strong>de</strong>ntes, crimes estes vincula<strong>do</strong>s ao<br />

<strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, haven<strong>do</strong> uma acessorieda<strong>de</strong> material entre os <strong><strong>de</strong>lito</strong>s<br />

prévio e a <strong>lavag<strong>em</strong></strong>.<br />

Coma questão <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte o trabalho traça breves consi<strong>de</strong>rações<br />

sobre o princípio da <strong>autonomia</strong> <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> <strong>relação</strong> aos<br />

crimes antece<strong>de</strong>ntes.<br />

Analisa a questão da prova indiciária ser suficiente para ocorrer a <strong>de</strong>núncia<br />

<strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> capitais, admitin<strong>do</strong> esta prova indireta para caracterizar este<br />

crime s<strong>em</strong> enfraquecer as garantias <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> no processo penal.


1. DA LAVAGEM DE DINHEIRO<br />

1.1 CONCEITO<br />

A lei 9.613/1998, que trata da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, <strong>de</strong>fine como <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> seu artigo 1º, ocultar ou dissimular a natureza, orig<strong>em</strong>, localização,<br />

disposição, movimentação, ou proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens, direitos ou valores<br />

provenientes, direta ou indiretamente <strong>de</strong> crime:<br />

I – <strong>de</strong> tráfico ilícito <strong>de</strong> substâncias entorpecentes ou drogas afins;<br />

II – <strong>do</strong> terrorismo e seu financiamento;<br />

III – <strong>de</strong> contraban<strong>do</strong> ou tráfico <strong>de</strong> armas, munições ou material <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à<br />

sua produção;<br />

IV – da extorsão mediante seqüestro;<br />

V – contra a Administração pública, inclusive a exigência, para si ou para<br />

outr<strong>em</strong>, direta ou indiretamente, <strong>de</strong> qualquer vantag<strong>em</strong>, como condição ou<br />

preço para a prática ou omissão <strong>de</strong> atos administrativos;<br />

VI – contra o sist<strong>em</strong>a financeiro nacional;<br />

VII – pratica<strong>do</strong> por organização criminosa;<br />

VIII – pratica<strong>do</strong> por particular contra a administração pública estrangeira. 1<br />

A conceituação trazida pela lei, contu<strong>do</strong>, é vaga, já que, por meio <strong>de</strong>la, po<strong>de</strong>-<br />

se chegar, por ex<strong>em</strong>plo, à seguinte <strong>de</strong>finição: “qualquer ato pratica<strong>do</strong> por organização<br />

criminosa”. Nota-se que tal dispositivo se caracteriza como tipo penal <strong>de</strong>spi<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

conceito, vazio <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> jurídico.<br />

Po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finida a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> como méto<strong>do</strong> pelo qual o indivíduo<br />

ou uma organização criminosa processa os ganhos financeiros obti<strong>do</strong>s com ativida<strong>de</strong>s<br />

ilegais, porém buscan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixa - lá com aparência licita. 2<br />

A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> é o processo pelo qual o criminoso transforma recursos<br />

ganhos <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s ilegais <strong>em</strong> ativos com uma orig<strong>em</strong> aparent<strong>em</strong>ente legal. Essa<br />

prática geralmente envolve múltiplas transações, usadas para ocultar a orig<strong>em</strong> <strong>do</strong>s<br />

ativos financeiros e permitir que eles sejam utiliza<strong>do</strong>s s<strong>em</strong> comprometer os<br />

1 ANGHER, Anne Joyce. Va<strong>de</strong> Mecum, Acadêmico <strong>de</strong> Direito. 8. ed. São Paulo: Ri<strong>de</strong>el, 2009, p.1164.<br />

2 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. São Paulo: Atlas, 2006, p.7.


criminosos. A dissimulação é, portanto, a base para toda operação <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> que<br />

envolva <strong>dinheiro</strong> proveniente <strong>de</strong> um crime antece<strong>de</strong>nte. 3<br />

A Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inteligência Financeira <strong>do</strong> Brasil, COAF, <strong>de</strong>fine a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong> como um conjunto <strong>de</strong> operações comerciais ou financeiras que buscam a<br />

incorporação na economia <strong>de</strong> cada país <strong>do</strong>s recursos, bens e serviços que se<br />

originam <strong>de</strong> atos ilícitos. 4<br />

Para disfarçar os lucros s<strong>em</strong> comprometer os envolvi<strong>do</strong>s, a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong> realiza-se por meio <strong>de</strong> um processo dinâmico que requer o distanciamento<br />

<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sua orig<strong>em</strong>, evitan<strong>do</strong> uma associação direta com o crime; o disfarce <strong>de</strong><br />

suas varias movimentações para dificultar o rastreamento <strong>de</strong>sses recursos; a<br />

disponibilização <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> novamente para os criminosos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong><br />

suficient<strong>em</strong>ente movimenta<strong>do</strong> no ciclo <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> e possa ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> limpo. 5<br />

Os mecanismos mais utiliza<strong>do</strong>s no processo da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong><br />

envolv<strong>em</strong> teoricamente três etapas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que, com freqüência, ocorr<strong>em</strong><br />

simultaneamente; colocação; ocultação; integração. 6<br />

Por sua, vez os lava<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> concentram gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seus<br />

esforços na busca ou criação <strong>de</strong> justificativas, meios, coberturas e disfarces para que<br />

as operações <strong>de</strong>les não apareçam suspeitas e não sejam <strong>de</strong>stacadas, sobretu<strong>do</strong> na<br />

hora <strong>em</strong> que for<strong>em</strong> sujeitas a exposição e fraqueza que possam ocorrer. 7<br />

Exist<strong>em</strong> fatores comuns a todas as operações <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Três<br />

<strong>de</strong>stes fatores, que se i<strong>de</strong>ntificam <strong>em</strong> praticamente todas as operações, são:<br />

a) a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocultar a orig<strong>em</strong> e o verda<strong>de</strong>iro <strong>do</strong>no <strong>do</strong> capital;<br />

b) a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter s<strong>em</strong>pre o controle <strong>do</strong> capital;<br />

c) a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar rapidamente a forma <strong>do</strong> capital para po<strong>de</strong>r<br />

enxugar o gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> gera<strong>do</strong> da ativida<strong>de</strong> criminal <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. 8<br />

3 JOHNSTON, Al<strong>de</strong>m. O crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> analise. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 19.09.2009.<br />

4 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p.8.<br />

5 Prefeitura <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Dossiê <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 12.08.2009.<br />

6 I<strong>de</strong>m<br />

7 PARODI, Lorenzo. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> e seus perigos. Disponível <strong>em</strong>: <br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2009.


1.2 HISTÓRICO<br />

A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s ilícitas não é um fenômeno<br />

novo. Historicamente, os criminosos s<strong>em</strong>pre tentaram ocultar os frutos <strong>de</strong> suas<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>litivas, supon<strong>do</strong> logicamente que o <strong>de</strong>scobrimento <strong>de</strong> tais fun<strong>do</strong>s por<br />

parte das autorida<strong>de</strong>s conduziria, certamente, aos <strong><strong>de</strong>lito</strong>s que os geraram. 9<br />

Em uma perspectiva histórico evolutiva, a receptação é o primeiro <strong><strong>de</strong>lito</strong> cuja<br />

objetivida<strong>de</strong> jurídica se aproxima <strong>do</strong> que atualmente constitui escopo precípuo da<br />

incriminação da “<strong>lavag<strong>em</strong></strong>” <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, qual seja, impedir a utilização <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong><br />

crime. 10<br />

É o entendimento <strong>do</strong>utrinário que a receptação po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como o<br />

crime que acarreta a manutenção, consolidação ou perpetuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma situação<br />

patrimonial anormal, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um crime anterior pratica<strong>do</strong> por outr<strong>em</strong>. É um<br />

crime parasitário <strong>de</strong> outro crime. 11<br />

Hoje a questão assumiu um grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> que tornou obsoleta e<br />

acanhada uma proteção <strong>de</strong>sta natureza. Com efeito, as profundas mudanças<br />

ocorridas nas técnicas <strong>de</strong> aproveitamento <strong>do</strong>s produtos <strong>do</strong> crime (“<strong>lavag<strong>em</strong></strong>” <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong>), para além <strong>de</strong> assegurar<strong>em</strong> a própria reprodução e tornar<strong>em</strong> possível a<br />

ampliação e a perpetuação das ativida<strong>de</strong>s criminais, resultaram na presença<br />

massiva <strong>de</strong> capitais ilícitos nos sist<strong>em</strong>a financeiro e na economia nacionais,<br />

produzin<strong>do</strong> um elevadíssimo ônus adicional para toda comunida<strong>de</strong>, visível <strong>em</strong><br />

seqüelas <strong>de</strong>letérias. 12<br />

Segun<strong>do</strong> outra parte <strong>do</strong>s estudiosos o termo <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> nasceu na<br />

China <strong>de</strong> 3000 anos atrás, quan<strong>do</strong> mercantes a<strong>do</strong>tavam, para proteger os próprios<br />

patrimônios das garras <strong>do</strong>s governantes da época, técnicas muito parecidas às<br />

usadas hoje pelos lava<strong>do</strong>res. 13<br />

8<br />

I<strong>de</strong>m<br />

9<br />

CALLEGARI, André Luís. Direito Penal Econômico e Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. Porto Alegre: livraria <strong>do</strong><br />

advoga<strong>do</strong>, 2003. p 37.<br />

10<br />

MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. Anotações às disposições criminais da Lei 9.61398. São Paulo:<br />

Malheiros, 2004. p. 22.<br />

11 Ibi<strong>de</strong>m, p. 23.<br />

12 I<strong>de</strong>m<br />

13 PARODI, Lorenzo. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> e seus perigos. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2009


Diversos estudiosos <strong>do</strong> t<strong>em</strong>a associaram da expressão <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong><br />

ao fenômeno ocorri<strong>do</strong> nos EUA por volta <strong>do</strong>s anos 20, quan<strong>do</strong> foi montada uma re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> lavan<strong>de</strong>rias para aparentar procedência licita <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> auferi<strong>do</strong> com ativida<strong>de</strong>s<br />

ilícitas. 14<br />

Al Calpone um <strong>do</strong>s personagens <strong>do</strong> cenário da década <strong>de</strong> 20, foi que alertou<br />

os criminosos para a relevância <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas técnicas <strong>de</strong> “<strong>lavag<strong>em</strong></strong>”<br />

<strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, ele assumiu o controle <strong>do</strong> crime organiza<strong>do</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago, no<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Illinois, no final da década <strong>de</strong> 20, enriquecen<strong>do</strong> <strong>em</strong> especial com a venda<br />

<strong>de</strong> bebidas ilegais. 15<br />

“O sucesso da <strong>de</strong>nominação a<strong>do</strong>tada é confirmada pela utilização da mesma<br />

<strong>em</strong> outros países, não se limitan<strong>do</strong> aos EUA, que, conforme menciona<strong>do</strong> acima,<br />

instituíram a expressão money lau<strong>de</strong>ring.” 16<br />

“Em alguns países, usa-se a expressão branqueamento <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> para<br />

exprimir a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong>, ou seja, a conversão <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> sujo <strong>em</strong> <strong>dinheiro</strong><br />

limpo, <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> ilegítimo <strong>em</strong> legitimo.” 17<br />

Ainda há qu<strong>em</strong> diga que o termo <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> <strong>de</strong>rive <strong>do</strong> fato que a<br />

operação <strong>de</strong> transformar <strong>dinheiro</strong> ilícito <strong>em</strong> <strong>dinheiro</strong> lícito, evoca o processo geral <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> que, simplesmente, é a transformação <strong>de</strong> algo sujo <strong>em</strong> algo limpo. 18<br />

O crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> iniciou a ser configura<strong>do</strong> internacionalmente<br />

só nos anos 80, no âmbito <strong>do</strong> combate aos narcotraficantes. O FATF-GAFI, um <strong>do</strong>s<br />

principais organismos internacionais <strong>de</strong> referencia no combate à <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>,<br />

e o principal agente <strong>de</strong> integração e coor<strong>de</strong>nação das políticas internacionais neste<br />

senti<strong>do</strong>, foi criada <strong>em</strong> 1989 por iniciativa <strong>do</strong>s países <strong>do</strong> G-7 e da União Européia 19 .<br />

No Brasil a primeira lei que tratou especificamente <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong> é <strong>de</strong> 1998 com a lei 9.613. No mesmo ano foi também cria<strong>do</strong> o COAF<br />

14<br />

GOMES, Alzeni Martins Nunes. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2009<br />

15<br />

MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit. p 28.<br />

16<br />

GOMES, Alzeni Martins Nunes. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2009.<br />

17<br />

PARODI, Lorenzo. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> e seus perigos. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2009<br />

18<br />

I<strong>de</strong>m<br />

19<br />

PARODI, Lorenzo. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> e seus perigos. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2009


(Conselho <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Financeiras), órgão <strong>do</strong> governo preposto<br />

especificamente ao combate à <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>.<br />

O governo editou a Lei 9613, <strong>de</strong> 03/03/98, <strong>em</strong> que tipificou os <strong><strong>de</strong>lito</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> e <strong>de</strong>terminou através <strong>do</strong> Decreto 2799, <strong>de</strong> 08/10/98, a criação <strong>do</strong><br />

Conselho <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong> Financeira, um órgão <strong>de</strong> inteligência cria<strong>do</strong> pelo<br />

Ministério da Fazenda com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disciplinar, aplicar penas administrativas,<br />

examinar e i<strong>de</strong>ntificar as ocorrências suspeitas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s ilícitas previstas na Lei<br />

9613 e preju7izos da competência <strong>de</strong> outros órgãos e entida<strong>de</strong>s, para, se for, o caso,<br />

<strong>de</strong>nunciar para o Ministério Publico 20 .<br />

O COAF segue o mo<strong>de</strong>lo das Unida<strong>de</strong>s Financeiras <strong>de</strong> Inteligência, que são<br />

órgãos que se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> como agencias nacionais, centrais, responsáveis por analisar e<br />

distribuir às autorida<strong>de</strong>s competentes as <strong>de</strong>nuncias sobre informações financeiras e<br />

presumi<strong>do</strong>s procedimentos criminais requeridas pela legislação e normas nacionais<br />

para impedir a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. 21<br />

Dentro das respectivas áreas <strong>de</strong> atuação como órgãos fiscaliza<strong>do</strong>res, o Banco<br />

Central <strong>do</strong> Brasil, Comissão <strong>de</strong> Valores Mobiliários, a Secretaria <strong>de</strong> Previdência<br />

Compl<strong>em</strong>entar, Superintendência <strong>de</strong> Seguros Priva<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> manter a vigilância<br />

para que o sist<strong>em</strong>a financeiro e merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais não sejam usa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> crimes <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong>. 22<br />

A nova legislação obriga uma efetiva ação preventiva, <strong>de</strong> forma que as<br />

Instituições sejam acompanhadas pela lei, crian<strong>do</strong> um canal institucional. A idéia da lei<br />

é obrigar que as diversas instituições que compõ<strong>em</strong> o sist<strong>em</strong>a financeiro e outras<br />

<strong>de</strong>tect<strong>em</strong> e analis<strong>em</strong> os clientes que se enquadram <strong>em</strong> uma série <strong>de</strong> situações<br />

suspeitas, por ex<strong>em</strong>plo, contas bancárias com altas movimentações <strong>de</strong> pequenos<br />

volumes <strong>de</strong> recursos ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s aos da<strong>do</strong>s cadastrais.<br />

Aos únicos normativos que dispunham sobre a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> clientes eram a Lei <strong>de</strong><br />

12/04/90, ainda <strong>em</strong> vigor, que veda a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> títulos e a captação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos ou<br />

aplicações ao porta<strong>do</strong>r e/ou nominativos, obrigan<strong>do</strong> que todas as operações financeiras<br />

sejam i<strong>de</strong>ntificadas. A resolução 227 <strong>de</strong> 1992, obrigava que todas as instituições financeiras<br />

i<strong>de</strong>ntificass<strong>em</strong> e informass<strong>em</strong> ao Banco Central <strong>do</strong> Brasil todas as movimentações acima <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>z mil dólares, a partia daí, outros normativos foram publica<strong>do</strong>s com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir<br />

20 SANTOS, Sérgio. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> a obrigação <strong>de</strong> informar. Disponível <strong>em</strong>:<br />

. Acesso <strong>em</strong>: 03.10.2009.<br />

21 I<strong>de</strong>m<br />

22 I<strong>de</strong>m


este <strong><strong>de</strong>lito</strong> como a Resolução 2025/93, que dispunha sobre novas normas relativas a abertura<br />

e movimentação <strong>de</strong> contas correntes. Através da resolução 2554/98, o Conselho Monetário<br />

Nacional consoli<strong>do</strong>u a impl<strong>em</strong>entação <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> controles internos, também trouxe<br />

regras com o objetivo <strong>de</strong> tratar <strong>do</strong>s riscos patrimoniais. Este conjunto a<strong>de</strong>quadamente<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> visa prevenir o uso <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a financeiro nos processos <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, mediante<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s princípios <strong>de</strong> avaliação, que faz parte <strong>do</strong> estabelecimento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />

compliance, ou seja, acor<strong>do</strong>s com as boas práticas e com dispositivos <strong>de</strong> controles internos. 23<br />

A aplicação da lei, no entanto não é tão simples, alguns procedimentos<br />

fundamentais e critérios subjetivos além das punições são muito altas para as<br />

<strong>em</strong>presas que não comunicar<strong>em</strong> e não tomar<strong>em</strong> nenhuma providência para se evitar<br />

a ocorrência da <strong>lavag<strong>em</strong></strong>. Conhecidas as operações, o probl<strong>em</strong>a, então, fica<br />

concentra<strong>do</strong> nas informações que permit<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciar os fatos que constitu<strong>em</strong><br />

indícios <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Foram <strong>de</strong>finidas que somente as transações<br />

acompanhadas <strong>de</strong> sérios indícios é que <strong>de</strong>veriam ser comunicadas. Ao utilizar a<br />

palavra indício significa indicação ou circunstância conhecida e ao relacionar-se com<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s fatos, faz com que se conclua existência <strong>de</strong> circunstâncias. A lei, ao<br />

<strong>de</strong>terminar que <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s fatos po<strong>de</strong>m configurar-se e <strong>de</strong>ixou a critério <strong>do</strong><br />

intérprete a avaliação <strong>de</strong>ssa condição, caben<strong>do</strong> a este comunicar <strong>em</strong> 24 horas, após a<br />

conclusão da análise que levou a comprovar a existência <strong>de</strong> indícios e hipóteses<br />

<strong>de</strong>scritas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. 24<br />

Outra discussão é a questão <strong>do</strong> sigilo bancário, no exercício das funções <strong>de</strong> superiores<br />

autorida<strong>de</strong>s competentes têm pleno acesso a todas as informações existentes, com a<br />

obrigação <strong>de</strong> guardar segre<strong>do</strong> e somente utiliza-los para fins <strong>de</strong> supervisão. O<br />

<strong>de</strong>scumprimento <strong>de</strong>sta po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar responsabilida<strong>de</strong> administrativa e penal. As<br />

instituições financeiras obrigadas a informar qualquer ocorrência consi<strong>de</strong>rada suspeita e a<br />

COAF, mediante o Decreto 2799/98, po<strong>de</strong>m solicitar essas informações ou mesmo requisitar<br />

<strong>do</strong>cumentos por intermédio <strong>do</strong> órgão <strong>de</strong> fiscalização competente. No entanto, a obrigação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas operações esbarra na proteção na proteção constitucional da inviolabilida<strong>de</strong> da<br />

vida por, da<strong>do</strong>s constantes no artigo 5.º, incisos X e XII, da Constituição da Republica. As<br />

informações também estão protegidas pelo sigilo bancário, conforme a Lei 4595/64, artigo 38,<br />

quan<strong>do</strong> a quebra <strong>de</strong> sigilo das operações ativas e passivas das instituições financeiras. Vale<br />

l<strong>em</strong>brar que a Constituição da Republica não po<strong>de</strong> respaldar praticas antijurídicas sen<strong>do</strong><br />

vedada a interpretação que pretenda utilizar a proteção constitucional como escu<strong>do</strong> para<br />

ação criminosa. 25<br />

Os crimes <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> previstos na Lei 9613/98 somente po<strong>de</strong>m<br />

existir na forma <strong>do</strong>losa. E somente se a instituição t<strong>em</strong> o conhecimento que o cliente<br />

23 SANTOS, Sérgio. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> a obrigação <strong>de</strong> informar. Disponível <strong>em</strong>:<br />

. Acesso <strong>em</strong>: 03.10.2009.<br />

24 I<strong>de</strong>m


t<strong>em</strong> a intenção <strong>de</strong> praticá-lo, é que <strong>de</strong>verá comunicar. Nos casos <strong>em</strong> que não há<br />

indícios, ou mesmo, quan<strong>do</strong> não se tratar <strong>de</strong> crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, a lei <strong>de</strong>termina essas<br />

comunicações <strong>de</strong> boa fé não acarretan<strong>do</strong> <strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong> civil e administrativa<br />

para qu<strong>em</strong> comunicou. 26<br />

A criação <strong>de</strong>sses mecanismos é a resposta brasileira a diversas iniciativas,<br />

representan<strong>do</strong> um gran<strong>de</strong> avanço no combate à <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, possibilitan<strong>do</strong> informações<br />

não só entre órgãos <strong>do</strong> governo, como também com autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros países e<br />

<strong>de</strong> organismos internacionais essas são tentativas concretas <strong>do</strong> governo para<br />

combater a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, cuja impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong>mandara algum t<strong>em</strong>po para<br />

adaptar asa novas obrigações e responsabilida<strong>de</strong>s. 27<br />

Antes disso houve marcos históricos para o Brasil, acor<strong>do</strong>s internacionais e<br />

trata<strong>do</strong>s que fora a estrutura para cooperação <strong>em</strong> assuntos <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>.<br />

Foi <strong>em</strong> uma Convenção, <strong>em</strong> Viena, <strong>em</strong> 1988, que foram a<strong>do</strong>tadas as<br />

primeiras medidas para o combate ao narcotráfico e <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Após a<br />

constatação <strong>de</strong> que os traficantes utilizavam o <strong>dinheiro</strong> obti<strong>do</strong> ilicitamente pelos<br />

ganhos <strong>de</strong>correntes da venda <strong>de</strong> substâncias entorpecentes, para incr<strong>em</strong>entar a<br />

“indústria <strong>do</strong> tráfico”, conclui-se que somente buscan<strong>do</strong> a punição <strong>de</strong>stes ganhos se<br />

po<strong>de</strong>ria chegar a um combate efetivo e eficiente. 28<br />

A Convenção além <strong>de</strong> acontecer para tratar <strong>do</strong> Trafico Ilícito <strong>de</strong> Entorpecente<br />

e <strong>de</strong> Substâncias Psicotrópicas, ainda elaborou as 40 recomendações sobre <strong>lavag<strong>em</strong></strong><br />

<strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> da Financial Action Task Force, ou grupo <strong>de</strong> Ação Financeira sobre<br />

Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro, <strong>de</strong> 1990. A elaboração pela comissão interamericana para o<br />

controle <strong>do</strong> abuso <strong>de</strong> drogas e aprovação pela Ass<strong>em</strong>bléia Geral da Organização <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Americanos <strong>do</strong> Regulamento Mo<strong>de</strong>lo sobre <strong><strong>de</strong>lito</strong>s <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> relaciona<strong>do</strong>s<br />

com o tráfico ilícito <strong>de</strong> drogas e outros <strong><strong>de</strong>lito</strong>s graves, 1992. O comunica<strong>do</strong> Ministerial<br />

da conferência da cúpula das Américas sobre os procedimentos <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> e<br />

instrumentos criminais, 1995 <strong>em</strong> Buenos Aires.<br />

A Convenção <strong>de</strong> Viena teve o propósito <strong>de</strong> gerar a conscientização <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> que, ten<strong>do</strong> a criminalida<strong>de</strong> organizada toman<strong>do</strong> forma <strong>em</strong>presarial<br />

25 SANTOS, Sérgio. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> a obrigação <strong>de</strong> informar. Disponível <strong>em</strong>:<br />

. Acesso <strong>em</strong>: 03.10.2009.<br />

26 I<strong>de</strong>m<br />

27 I<strong>de</strong>m


globalizada, seria necessário o seu combate através <strong>de</strong> uma cooperação internacional<br />

<strong>em</strong> <strong>relação</strong> às questões ligadas ao tráfico ilícito <strong>de</strong> entorpecentes. 29<br />

Ainda houve a Declaração Política e o plano <strong>de</strong> ação contra a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong>, a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s na sessão especial da ass<strong>em</strong>bléia geral das Nações Unidas sobre<br />

o probl<strong>em</strong>a mundial <strong>de</strong> drogas, 1998, Nova Iorque.<br />

1.3. ETAPAS<br />

Para disfarçar os lucros s<strong>em</strong> comprometer os envolvi<strong>do</strong>s, a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong> realiza-se por meio <strong>de</strong> um processo dinâmico que requer o distanciamento<br />

<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s d e sua orig<strong>em</strong>, evitan<strong>do</strong> uma associação direta <strong>de</strong>les com o crime; o<br />

disfarce <strong>de</strong> suas várias movimentações para dificultar o rastreamento <strong>de</strong>sses<br />

recursos; a disponibilização <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> novamente para os criminosos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />

si<strong>do</strong> suficient<strong>em</strong>ente movimenta<strong>do</strong> no ciclo <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> e po<strong>de</strong>r ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

“limpo”. 30<br />

A primeira etapa é a <strong>do</strong> “plac<strong>em</strong>ent” ou conversão ou conversão: ten<strong>do</strong> como momentos<br />

anteriores a captação <strong>de</strong> ativos oriun<strong>do</strong>s da prática <strong>de</strong> crimes e sua eventual concentração,<br />

nesta fase busca-se a escamoteação (ocultação) inicial da orig<strong>em</strong> ilícita, com a separação<br />

física entre os criminosos e os produtos <strong>de</strong> seus crimes. Esta é obtida através da imediata<br />

aplicação <strong>de</strong>stes ativos ilícitos no merca<strong>do</strong> formal para lograr sua conversão <strong>em</strong> ativos lícitos<br />

(e.g.: por intermédio das instituições financeiras tradicionais, com a efetivação <strong>de</strong> operações<br />

<strong>de</strong> swap etc.; através da troca <strong>de</strong> notas <strong>de</strong> pequeno valor ou por outras <strong>de</strong> maior<br />

<strong>de</strong>nominação, reduzin<strong>do</strong> o montante físico <strong>de</strong> papel-moeda; mediante a utilização <strong>de</strong><br />

intermediários financeiros atípicos, com a conversão <strong>em</strong> moeda estrangeira através <strong>de</strong><br />

“<strong>do</strong>leiros”; através da utilização <strong>de</strong> “mulas” para o transporte <strong>de</strong> divisas para o exterior;<br />

r<strong>em</strong>eten<strong>do</strong> estes lucros para fora <strong>do</strong> país, através <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos ou transferências eletrônicas<br />

<strong>em</strong> “paraísos fiscais”; ou, ainda, diretamente no sist<strong>em</strong>a econômico, com a aquisição <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong>rias legítimas, inclusive, via “importação” <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias que são superfaturadas ou<br />

inexistentes, para lograr a r<strong>em</strong>essa <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> para o exterior, até mesmo mediante<br />

pagamentos <strong>de</strong> faturas <strong>de</strong> cartões <strong>de</strong> créditos internacionais credita<strong>do</strong>s para <strong>em</strong>presas <strong>de</strong><br />

fachada). 31<br />

28 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit,. p.15.<br />

29 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit.,. p.15.<br />

30 SENNA, Adriane Giannetti Nelson <strong>de</strong>. Cartilha sobre <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Ministério da Fazenda Conselho<br />

<strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Financeiras. São Paulo: 1999. p. 1.<br />

31 MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p.37.


O artigo primeiro da Lei 9.613, <strong>em</strong> seu inciso I estabelece como <strong><strong>de</strong>lito</strong> a<br />

conversão <strong>do</strong>s ativos ilícitos <strong>em</strong> lícitos. Essa po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada a operação mais<br />

freqüente nesse tipo <strong>de</strong> crime. A utilização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> no<br />

sist<strong>em</strong>a financeiro s<strong>em</strong> um controle eficiente s<strong>em</strong>pre foi méto<strong>do</strong> <strong>em</strong>prega<strong>do</strong> para a<br />

transformação <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> sujo <strong>em</strong> limpo. Mas n<strong>em</strong> toda conversão <strong>em</strong> ativos lícitos<br />

tipificará a conduta <strong>do</strong> crime previsto no artigo primeiro, parágrafo primeiro, inciso I, da<br />

Lei <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong>. Não existirá o crime previsto no inciso I com a simples utilização <strong>do</strong>s<br />

bens, direitos ou valores provenientes <strong>do</strong>s crimes antece<strong>de</strong>ntes, pois o tipo exige que<br />

o agente tenha a consciência da orig<strong>em</strong> ilegal e que a conversão <strong>em</strong> ativos lícitos seja<br />

com o objetivo <strong>de</strong> ocultar ou dissimular a utilização <strong>do</strong> produto <strong>do</strong> crime prece<strong>de</strong>nte. 32<br />

criminosa:<br />

“Exist<strong>em</strong> basicamente duas opções após obter o <strong>dinheiro</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong><br />

a) aplicar diretamente no sist<strong>em</strong>a financeiro;<br />

b) transferir para outro local”. 33<br />

“É nesta fase que os criminosos procuram livrar-se materialmente das<br />

importantes somas <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> que geraram suas ativida<strong>de</strong>s ilícitas.” 34<br />

Ainda a respeito dia o autor Marcelo Batlouni Mendroni:<br />

“Utilizam-se as ativida<strong>de</strong>s comerciais e as instituições financeiras, tanto<br />

bancárias, como não bancárias, para introduzir montantes <strong>em</strong> espécie geralmente<br />

dividi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> pequenas somas, no circuito financeiro legal. O agente criminoso<br />

movimenta o <strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> países com regras mais permissivas e um sist<strong>em</strong>a mais<br />

liberal.” 35<br />

Como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a financeiro t<strong>em</strong>os os paraísos fiscais,<br />

que são países que proporcionam incentivos fiscais aos investi<strong>do</strong>res, isentan<strong>do</strong> ou<br />

diminuin<strong>do</strong> a carga <strong>de</strong> tributos por um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

Assinala Aránguez Sánchez que as operações <strong>de</strong> engenharia financeira supõ<strong>em</strong> um <strong>de</strong>safio<br />

para as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectar<strong>em</strong> a comissão <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong>s econômicos fundamentalmente pelo<br />

enorme volume <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> financeiro e sua complexida<strong>de</strong>, que exige um profun<strong>do</strong><br />

32<br />

CALLEGARI, André Luís. Direito Penal Econômico e Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. Porto Alegre: livraria <strong>do</strong><br />

advoga<strong>do</strong>, 2003. p. 122/123.<br />

33<br />

MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p. 58.<br />

34 Ibi<strong>de</strong>m, p.7.<br />

35 Ib i<strong>de</strong>m, p. 58.


conhecimento da realida<strong>de</strong> econômica e a regulação jurídica <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> das finanças. Outros<br />

fatores <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a financeiro também favorec<strong>em</strong> a <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, como o segre<strong>do</strong> bancário ou a<br />

disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regulamentações que regulam as entida<strong>de</strong>s situadas <strong>em</strong> vários países. 36<br />

Essa primeira fase correspon<strong>de</strong> à colocação bens provenientes <strong>de</strong> crime o<br />

qual ocorre através <strong>de</strong> operações, objetivan<strong>do</strong> ocultar sua orig<strong>em</strong>, o criminoso procura<br />

movimentar o <strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> países com regras mais permissivas e naquelas que<br />

possu<strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a financeiro liberal.<br />

A dificulda<strong>de</strong> para colocar gran<strong>de</strong>s quantias <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> s<strong>em</strong> levantar<br />

suspeitas sobre a sua orig<strong>em</strong> é gran<strong>de</strong> por isso os criminosos utilizam vários<br />

procedimentos.<br />

O segun<strong>do</strong> momento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong>signa-se por “layering”, dissimulação ou ocultação: os<br />

gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> inseri<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> financeiro na etapa anterior, para<br />

disfarçar sua orig<strong>em</strong> ilícita e para dificultar a reconstrução pelas agências estatais <strong>de</strong> controle<br />

e repressão da trilha <strong>do</strong> papel (paper trail), <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser incluídas <strong>em</strong> incontáveis estratos,<br />

diss<strong>em</strong>ina<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> operações e transações financeiras variadas e sucessivas, no país<br />

e no exterior, envolven<strong>do</strong> multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contas bancárias <strong>de</strong> diversas <strong>em</strong>presas nacionais<br />

e internacionais, com estruturas societárias diferenciadas e sujeitas a regime jurídicos os<br />

mais varia<strong>do</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, preten<strong>de</strong>-se com a dissimulação estruturar uma nova orig<strong>em</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> sujo, aparent<strong>em</strong>ente legítima. Esta etapa consubstancia a “<strong>lavag<strong>em</strong></strong>” <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong><br />

propriamente dita, qual seja, t<strong>em</strong> por meta <strong>do</strong>tar ativos etiologicamente ilícitos <strong>de</strong> um disfarce<br />

<strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong>. 37<br />

O artigo 1º da Lei 9.613 menciona <strong>do</strong>is verbos fundamentais: “ocultar” e<br />

“dissimular” a natureza, orig<strong>em</strong>, localização, movimento ou proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s bens,<br />

direitos e valores provenientes <strong>do</strong>s crimes antece<strong>de</strong>ntes enumera<strong>do</strong>s na Lei. No<br />

senti<strong>do</strong> gramatical o termo “ocultar” significa “não <strong>de</strong>ixar ver”, “encobrir”, “escon<strong>de</strong>r”,<br />

ou também “escon<strong>de</strong>r fraudulentamente”. O senti<strong>do</strong> da ocultação exposta no tipo pelo<br />

legisla<strong>do</strong>r brasileiro não é muito distinto <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> gramatical, já que a previsão como<br />

<strong><strong>de</strong>lito</strong> busca justamente evitar o ocultamento <strong>do</strong>s bens que tenham orig<strong>em</strong> nos crimes<br />

antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>scritos pelo legisla<strong>do</strong>r. A <strong>do</strong>utrina assinala que ocultar é o fato <strong>de</strong><br />

escon<strong>de</strong>r, tornar algo inacessível a outras pessoas, o que não muda muito o senti<strong>do</strong><br />

gramatical. 38<br />

36 CALLEGARI, André Luís. Op. Cit.,.p. 48.<br />

37 MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p. 39.<br />

38 CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 119/120.


“O agente <strong>de</strong>sassocia o <strong>dinheiro</strong> <strong>de</strong> sua orig<strong>em</strong>, passan<strong>do</strong> por uma serie <strong>de</strong><br />

transformações, conversões e movimentações diversas. Quanto mais operações,<br />

tanto mais difícil a sua conexão com ilegalida<strong>de</strong> e tanto mais difícil a sua prova.” 39<br />

Segun<strong>do</strong> o autor André Luíz Callegari essa fase é a fase <strong>de</strong> mascaramento ou<br />

<strong>de</strong> escurecimento diz ainda o <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>r:<br />

autorida<strong>de</strong>s.<br />

A função <strong>de</strong>sta fase é a <strong>de</strong> ocultar a orig<strong>em</strong> <strong>do</strong>s produtos ilícitos mediante a realização <strong>de</strong><br />

numerosas transações financeiras. Se os lava<strong>do</strong>res têm êxito na fase <strong>de</strong> colocação, tratarão<br />

agora <strong>de</strong> tornar mais difícil e complicada a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong>s bens mediante a realização <strong>de</strong><br />

múltiplas transações que, como camadas, irão se amontoan<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>pois da outra.<br />

Dificultan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>scobrimento <strong>de</strong> suas origens. 40<br />

As finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas transações é tornar difícil a <strong>de</strong>scoberta pelas<br />

A etapa final é a chamada “integration”, ou integração, que se caracteriza pelo <strong>em</strong>prego <strong>do</strong>s<br />

ativos criminosos no sist<strong>em</strong>a produtivo, por intermédio da criação, aquisição e/ou<br />

investimento <strong>em</strong> negócios lícitos ou pela simples compra <strong>de</strong> bens. É freqüente que os lucros<br />

<strong>de</strong>correntes da atuação <strong>de</strong> tais <strong>em</strong>presas sejam reinvesti<strong>do</strong>s lucros <strong>de</strong>correntes da atuação<br />

<strong>de</strong> tais <strong>em</strong>presas sejam reinvesti<strong>do</strong>s <strong>em</strong> esqu<strong>em</strong>as criminosos (nos mesmos que geraram os<br />

ativos ilícitos e/ ou <strong>em</strong> novo “<strong>em</strong>preendimentos”) e/ou pass<strong>em</strong> a “esquentar” (rectius:<br />

legitimar) o afluxo <strong>de</strong> novos volumes <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> “sujo”, agora disfarça<strong>do</strong>s “lucros <strong>do</strong><br />

negócio”, <strong>dinheiro</strong> “limpo”, ou ainda que forneçam ao criminoso uma fonte “legítima” para<br />

justificar seus rendimentos, caracterizan<strong>do</strong> um verda<strong>de</strong>iro ciclo econômico. 41<br />

“As organizações criminosas buscam investir <strong>em</strong> <strong>em</strong>preendimentos que<br />

facilit<strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> tais socieda<strong>de</strong>s prestar<strong>em</strong> serviços entre si. Uma<br />

vez formada a ca<strong>de</strong>ia, torna-se cada vez mais fácil legitimar o <strong>dinheiro</strong> ilegal.” 42<br />

“O agente cria justificações ou explicações aparent<strong>em</strong>ente legítimas para os<br />

recursos lava<strong>do</strong>s e os aplica abertamente na economia legítima sob forma <strong>de</strong><br />

investimentos ou compra <strong>de</strong> ativos.” 43<br />

Consumada a etapa <strong>de</strong> mascaramento, os lava<strong>do</strong>res necessitam proporcionar<br />

uma explicação aparent<strong>em</strong>ente legítima para sua riqueza, logo, os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

39 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p. 60<br />

40 CALLEGARI, André Luís. Op. Cit.,.p. 56.<br />

41 MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p. 39/40.<br />

42 SENNA, Adriane Giannetti Nelson. Cartilha sobre <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Ministério da Fazenda Conselho <strong>de</strong><br />

Controle <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Financeiras. São Paulo, 1999, p 2.<br />

43 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit.,.p. 61.


integração introduz<strong>em</strong> os produtos lava<strong>do</strong>s na economia <strong>de</strong> maneira que apareçam<br />

como investimentos normais, créditos ou investimentos <strong>de</strong> poupança. 44<br />

Essa é, portanto a fase final para a transformação <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong> sujo <strong>em</strong><br />

aparent<strong>em</strong>ente limpo.<br />

Segun<strong>do</strong> Marcelo Mendroni “é extr<strong>em</strong>amente difícil para as autorida<strong>de</strong>s<br />

conseguir <strong>de</strong>tectar os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ilícita nesta fase <strong>do</strong> procedimento da <strong>lavag<strong>em</strong></strong>,<br />

pois já passaram por outras duas etapas e a esta altura estarão com aparência<br />

significant<strong>em</strong>ente limpa.” 45<br />

A integração é a terceira fase da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, na qual ocorre a<br />

reversão ao merca<strong>do</strong>, ou seja, os ativos serão incorpora<strong>do</strong>s formalmente ao sist<strong>em</strong>a<br />

econômico.<br />

1.4. A LAVAGEM DE DINHEIROE O CONTEXTO DE CRIME ORGANIZADO<br />

As organizações criminosas <strong>de</strong>spertam a atenção <strong>do</strong> público <strong>em</strong> geral, dada a<br />

curiosida<strong>de</strong> que as pessoas têm <strong>de</strong> conhecer seus integrantes, suas ativida<strong>de</strong>s,<br />

sua estrutura e o po<strong>de</strong>r que possu<strong>em</strong>. 46<br />

Crime organiza<strong>do</strong> t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ter associação ilícita, t<strong>em</strong> que ter potencial ofensivo,<br />

e essa expressão crime organiza<strong>do</strong> alcançam também os crimes resultantes da<br />

associação nas suas diversas modalida<strong>de</strong>s. Caiu na moda chamar-se crime<br />

organiza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> as Nações Unidas a<strong>do</strong>tam <strong>de</strong>linqüência transacional<br />

organizada. 47<br />

As características <strong>do</strong> crime organiza<strong>do</strong> são: fins lucrativos, controle e ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> coman<strong>do</strong>.<br />

O crime organiza<strong>do</strong> surgiu principalmente nos Esta<strong>do</strong>s uni<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> foi<br />

criada, <strong>em</strong>bora muito gente <strong>de</strong>sconheça, a Cosa Nostra. Comandada pelo<br />

gangster Lucky Luciano, imigrante italiano que se estabeleceu <strong>em</strong> Nova Iorque, a<br />

44<br />

CALLEGARI, André Luís.Op. Cit.,. p. 59.<br />

45<br />

MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op.Cit.,. p. 61.<br />

46<br />

PITOMBO, Antônio Sérgio <strong>de</strong> Moraes. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. A tipicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte. São Paulo:<br />

Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 2003. p. 2.<br />

47<br />

SANTOS, Getulio Bezerra. A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> no contexto <strong>do</strong> crime organiza<strong>do</strong> – mecanismo <strong>de</strong><br />

enfrentamento. S<strong>em</strong>inário Internacional sobre <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Brasília 2000. vol. 17. p. 142.


organização criminosa expandiu seus negócios ilegais durante o perío<strong>do</strong> da<br />

chamada lei Seca. Posteriormente, a Máfia Siciliana a<strong>do</strong>ta também o nome <strong>de</strong><br />

Cosa Nostra. A partir daí, o crime organiza<strong>do</strong> começa a se estabelecer <strong>em</strong><br />

diversos países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com características comuns no que se refere a<br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> oriun<strong>do</strong> das práticas ilegais e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, altamente<br />

rentáveis. Um levantamento realiza<strong>do</strong> no ano <strong>de</strong> 1998 pela ONU revelou que o<br />

crime organiza<strong>do</strong> é responsável por movimentar o equivalente a 400 bilhões <strong>de</strong><br />

dólares por ano, o equivalente a 5% <strong>do</strong> Produto Interno Bruto – mundial. 48<br />

A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> a partir <strong>de</strong>sse contexto passa a ser consi<strong>de</strong>rada crime, inicialmente na<br />

Al<strong>em</strong>anha, <strong>em</strong> 1987, que publica a primeira legislação a respeito, seguin<strong>do</strong>-se a Inglaterra,<br />

Itália e Canadá. Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s criam a sua lei sobre o assunto <strong>em</strong> 1986. Mas foi apenas<br />

após a realização da Convenção <strong>de</strong> Viena, <strong>em</strong> 1988, que se estabelece que cada Nação<br />

<strong>de</strong>ve ter legislação tipifican<strong>do</strong> a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. NO Brasil a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> passa<br />

a ser conhecida como crime apenas no ano <strong>de</strong> 1998. 49<br />

Não é possível imaginar uma organização criminosa que não pratique a<br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> obti<strong>do</strong> ilicitamente, como forma <strong>de</strong> viabilizar a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

crimes, s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> maneira mais aprimorada. 50<br />

As organizações criminosas operam s<strong>em</strong>pre sobre o eixo <strong>dinheiro</strong>-po<strong>de</strong>r. O <strong>dinheiro</strong> atrai o<br />

po<strong>de</strong>r e vice-versa. Assim po<strong>de</strong>-se dizer que toda organização criminosa precisa<br />

necessariamente praticar a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, mas o inverso não é s<strong>em</strong>pre verda<strong>de</strong>iro,<br />

pois n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre qu<strong>em</strong> lava <strong>dinheiro</strong> pertence a uma organização criminosa. É possível<br />

imaginar um único funcionário público que recebe alto valor ato <strong>de</strong> corrupção e pratica algum<br />

ato <strong>de</strong> ocultação ou dissimulação, o que significa que, s<strong>em</strong> pertencer a organização<br />

criminosa qualquer, praticou o crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. 51<br />

Das Nações Unidas v<strong>em</strong> a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> que <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> é o processo<br />

<strong>de</strong> pegar o <strong>dinheiro</strong> sujo e coloca-lo numa ativida<strong>de</strong> legal. Existe uma <strong>de</strong>finição,<br />

mais simples, mais prática e compreensível, afirman<strong>do</strong> que <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> é<br />

o processo <strong>de</strong> aplicação <strong>do</strong>s lucros obti<strong>do</strong>s nas diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> crime<br />

48 MAIEROVITCH, Walter. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro e Crime Organiza<strong>do</strong> no curso <strong>do</strong> Direito Penal<br />

Econômico. Disponível <strong>em</strong>: Acesso <strong>em</strong>: 20.01.2010.<br />

49 I<strong>de</strong>m<br />

50 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit.,. p. 09.<br />

51 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit.,. p. 10.


organiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s legais. O <strong>dinheiro</strong> retorna, <strong>de</strong>pois, para alimentar a<br />

ativida<strong>de</strong> criminosa. 52<br />

A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> t<strong>em</strong> como objetivo dar aparência legal a um <strong>dinheiro</strong><br />

sujo, gera<strong>do</strong> <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> criminosa e usufruir <strong>de</strong>le, fazer com que esse chegue lá<br />

na frente esquecen<strong>do</strong>-se que é sujo.<br />

Não existe ainda uma <strong>do</strong>utrina assentada sobre <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Há<br />

escolas européias e americanas que tratam <strong>de</strong>sse assunto.<br />

O COAF, que é a agência oficial <strong>do</strong> Brasil, está cuidan<strong>do</strong> <strong>de</strong> toda<br />

regulamentação e certamente, <strong>de</strong>pois, vai estabelecer uma <strong>do</strong>utrina a respeito.<br />

Hoje são várias as tendências da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. T<strong>em</strong>os uma categoria<br />

criminosa <strong>em</strong>ergente que cuida da <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre as pessoas mais<br />

ferozes, são as mais competentes. Existe, também, uma tendência à<br />

transnacionalida<strong>de</strong>, para fugir <strong>do</strong> controle da legislação <strong>do</strong> nosso país. Por isso<br />

existe um consenso internacional, agências internacionais como as Nações<br />

Unidas, por ex<strong>em</strong>plo, que recomendam leis mo<strong>de</strong>lo padronizadas, para que<br />

quan<strong>do</strong> um indivíduo saia da malha <strong>de</strong> um país caia na malha <strong>de</strong> outro, porque há<br />

uma uniformização <strong>de</strong> procedimentos, e isso é uma gran<strong>de</strong> vantag<strong>em</strong>. 53<br />

Sobre a transnacionalida<strong>de</strong> diz o Juiz Walter Maierovitch:<br />

“Organizações transnacionais são diferentes <strong>de</strong> quadrilhas ou ban<strong>do</strong>s, que<br />

são associações <strong>de</strong>linqüências comuns. As transnacionais são aquelas que<br />

objetivam que ten<strong>de</strong>m o controle social, essas organizações representam um<br />

sist<strong>em</strong>a extra-institucional <strong>de</strong> controle social, que ten<strong>de</strong> a sobrepor-se à autorida<strong>de</strong><br />

constituída.” 54<br />

Na Bélgica, uma pesquisa conclui que uma transferência <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> <strong>de</strong>mora<br />

seis segun<strong>do</strong>s e, <strong>em</strong> media, uma carta rogatória <strong>de</strong>mora seis meses para ser<br />

respondida. Existe também, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se requerer um quadro<br />

especializa<strong>do</strong>. Do mesmo mo<strong>do</strong> que eles precisam <strong>de</strong> pessoas especializadas<br />

para lavar <strong>dinheiro</strong>, também precisamos para achar o <strong>dinheiro</strong> lava<strong>do</strong>. Essa<br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> cria uma concorrência <strong>de</strong>sleal. Primeiro, o Esta<strong>do</strong> fica <strong>de</strong>sorganiza<strong>do</strong>, o<br />

52 SANTOS, Getulio Bezerra. A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> no contexto <strong>do</strong> crime organiza<strong>do</strong> – mecanismo <strong>de</strong><br />

enfrentamento. S<strong>em</strong>inário Internacional sobre <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Brasília 2000. vol. 17. p. 143.<br />

53 I<strong>de</strong>m


<strong>dinheiro</strong> fica flutuante, quebra bolsas, quebra continentes, <strong>de</strong>sorganiza a economia<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, geran<strong>do</strong> uma concorrência <strong>de</strong>sleal com as <strong>em</strong>presas legítimas, que<br />

lutam com dificulda<strong>de</strong> para se manter no merca<strong>do</strong>. 55<br />

Existe também, a síndrome <strong>do</strong> sigilo. O senhor ministro Nelson Jobim, afirmou, que no Brasil,<br />

os sigilos bancários não são exacerba<strong>do</strong>s, é sacraliza<strong>do</strong>. O sigilo protege mais ativida<strong>de</strong><br />

criminosa <strong>do</strong> que o cidadão. Dentro <strong>de</strong> uma agencia como a COAF preten<strong>de</strong>-se que não haja<br />

sigilo entre as agências que faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong>sse Conselho. Quer<strong>em</strong>os que, uma vez que seja<br />

necessário produzir provas, a autorida<strong>de</strong> competente, da área administrativa ou policial, vá ao<br />

Po<strong>de</strong>r Judiciário e, se este enten<strong>de</strong>r, abrir a conta, a ativida<strong>de</strong>, a operação. Esse processo<br />

t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> adapta<strong>do</strong> por países capitalistas e, soberbamente, ainda estamos relutan<strong>do</strong>. 56<br />

A legislação que t<strong>em</strong>os aqui, hoje, tipificou a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> como um<br />

crime, permite a inversão <strong>do</strong> ônus da prova, obriga o agente financeiro a<br />

comunicar operações suspeitas, responsabiliza o agente, i<strong>de</strong>ntifica o cliente e<br />

também obriga a manutenção <strong>de</strong> registros. 57<br />

54<br />

MAIEROVITCH, Walter. Crime Organiza<strong>do</strong> Transnacional. S<strong>em</strong>inário Internacional sobre Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

Dinheiro. Brasília 2000. vol. 17. p.108.<br />

55<br />

SANTOS, Getulio Bezerra. A <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> no contexto <strong>do</strong> crime organiza<strong>do</strong> – mecanismo <strong>de</strong><br />

enfrentamento. S<strong>em</strong>inário Internacional sobre <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Brasília 2000. vol. 17. p. 143.<br />

56<br />

I<strong>de</strong>m<br />

57 Ibi<strong>de</strong>m, p. 145.


2. O TIPO PENAL NA LEI 9.613/98.<br />

2.1 BEM JURÍDICO TUTELADO<br />

Dev<strong>em</strong>os averiguar <strong>em</strong> que consiste este conceito central da teoria <strong>do</strong> tipo,<br />

Isto é, o que é o b<strong>em</strong> jurídico. Se tivéss<strong>em</strong>os que dar uma <strong>de</strong>finição a ele, diríamos<br />

que o b<strong>em</strong> jurídico penalmente tutela<strong>do</strong> é a <strong>relação</strong> <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

indivíduo com um objeto, protegida pelo Esta<strong>do</strong>, que revela seu interesse mediante<br />

a tipificação penal <strong>de</strong> condutas que o afetam. 58<br />

Como toda <strong>de</strong>finição, peca por tautologia se prescindimos <strong>de</strong> sua explicação.<br />

Costuma-se dizer que os bens jurídicos são, por ex<strong>em</strong>plo, a vida, a honra e etc. na<br />

realida<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora não seja incorreto afirmar que a honra é um b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong>,<br />

isto não passa <strong>de</strong> uma abreviatura, porque o b<strong>em</strong> jurídico não é propriamente a<br />

honra, e sim o direito a dispor da própria honra como o b<strong>em</strong> jurídico não é a<br />

proprieda<strong>de</strong>, e sim o direito <strong>de</strong> dispor <strong>do</strong>s próprios direitos patrimoniais. 59<br />

O “ente” que a or<strong>de</strong>m jurídica tutela contra certas condutas que o afetam não<br />

é a coisa <strong>em</strong> si mesma, e sim a <strong>relação</strong> <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> titular da coisa. Dito<br />

<strong>de</strong> forma mais simples, os bens jurídicos são os direitos que t<strong>em</strong>os a dispor <strong>de</strong><br />

certos objetos. Quan<strong>do</strong> uma conduta nos impe<strong>de</strong> ou perturba a disposição <strong>de</strong>sses<br />

objetos, esta conduta afeta o b<strong>em</strong> jurídico, e algumas <strong>de</strong>stas condutas estão<br />

proibidas pela norma que gera o tipo penal. 60<br />

O b<strong>em</strong> jurídico cumpre duas funções, que são duas razões fundamentais<br />

pelas quais não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>le prescindir: a) uma função garanti<strong>do</strong>ra, que <strong>em</strong>erge <strong>do</strong><br />

princípio republicano; b) uma função teleológica sist<strong>em</strong>ática, que da senti<strong>do</strong> à<br />

proibição manifestada <strong>do</strong> tipo e a limita. Ambas as funções são necessárias para<br />

58 ZAFFARONI. Eugenio Raúl. Manual <strong>de</strong> Direito Penal. Parte geral. São Paulo: Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 2002.<br />

p. 461.<br />

59 Ibi<strong>de</strong>m, p. 462<br />

60 I<strong>de</strong>m


que o direito penal se mantenha <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites da racionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s atos <strong>de</strong><br />

governo, impostos pelo principio republicano (art. 1. º da CF). 61<br />

Para sabermos o tipo penal, precisamos i<strong>de</strong>ntificar o b<strong>em</strong> jurídico.<br />

Impõe-se ao legisla<strong>do</strong>r selecionar na realida<strong>de</strong>, somente aqueles<br />

comportamentos, freqüentes e intoleráveis, que causam intensa ameaça a um<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> valor essencial, princípio da intervenção mínima. 62<br />

A <strong>relação</strong> entre o b<strong>em</strong> jurídico e a Constituição, <strong>de</strong>flui da correspondência <strong>de</strong><br />

senti<strong>do</strong> entre ambos, que <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m jurídico-constitucional constituir o quadro<br />

obrigatório <strong>de</strong> referência e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, o critério regulativo da ativida<strong>de</strong><br />

punitiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. 63<br />

O caráter vinculante entre Constituição e lei penal é <strong>de</strong> natureza dinâmica, porque tanto uma<br />

quanto a outra resguardam valores, e, portanto se submet<strong>em</strong> às variações <strong>do</strong> meio e <strong>do</strong><br />

t<strong>em</strong>po, nos quais se encontram inseridas. Porém a historicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tais valores, não significa,<br />

<strong>em</strong> hipótese alguma, aban<strong>do</strong>nar-lhes o senti<strong>do</strong> ético universaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> proteção ao hom<strong>em</strong> e<br />

respectivos direitos. 64<br />

A <strong>relação</strong> entre o b<strong>em</strong> jurídico e a Constituição, <strong>de</strong>flui da correspondência <strong>de</strong><br />

senti<strong>do</strong> entre ambos, que <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m jurídico-constitucional constituir o quadro<br />

obrigatório <strong>de</strong> referência e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, o critério regulativo da ativida<strong>de</strong><br />

punitiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. 65<br />

Encontramos na <strong>do</strong>utrina três correntes quanto ao b<strong>em</strong> jurídico: o mesmo<br />

b<strong>em</strong> jurídico protegi<strong>do</strong> pelo crime antece<strong>de</strong>nte; a administração da justiça; e a or<strong>de</strong>m<br />

econômica.<br />

Mas há alguns autores que interpretam o b<strong>em</strong> jurídico atingi<strong>do</strong> pelo <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> como pluriofensivos, mesclan<strong>do</strong> uns com os outros. 66<br />

“Consi<strong>de</strong>ra-se a melhor interpretação aquela que enten<strong>de</strong> que os crimes <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> ofen<strong>de</strong>m ao mesmo t<strong>em</strong>po, a administração da justiça e a<br />

or<strong>de</strong>m socioeconômica” 67<br />

61 Ibi<strong>de</strong>m, p. 463.<br />

62 PITOMBO, Antônio Sérgio <strong>de</strong> Moraes. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. A tipicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte. São Paulo:<br />

Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 2003. p. 66.<br />

63 I<strong>de</strong>m<br />

64 Ibi<strong>de</strong>m, p. 70.<br />

65 Ibi<strong>de</strong>m, p. 69.<br />

66 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p. 61.<br />

67 I<strong>de</strong>m


A administração da justiça ten<strong>do</strong> como característica penal <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s<br />

crimes parasitários, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da existência <strong>de</strong> outro antece<strong>de</strong>nte. 68<br />

O b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong> será a administração da justiça na medida <strong>em</strong> que<br />

visa supl<strong>em</strong>entar a eficiência na apuração e punição das infrações penais que<br />

reconhecidamente pelo legisla<strong>do</strong>r, abala a soberania a or<strong>de</strong>m pública e não<br />

consegu<strong>em</strong> encontrar, por si só, a resposta a<strong>de</strong>quada da própria administração <strong>de</strong><br />

justiça com vistas à <strong>de</strong>fesa da socieda<strong>de</strong>. 69<br />

Outros autores ainda <strong>de</strong>stacam a respeito que a administração da justiça<br />

seria afetada pela ocultação ou dissimulação <strong>de</strong> bens, provenientes <strong>de</strong> crime,<br />

portanto, afirma-se que essa não significa a exclusiva atuação da jurisdição, mas no<br />

senti<strong>do</strong> genérico e abrangente quaisquer manifestações da Justiça no atingimento<br />

<strong>de</strong> suas metas e finalida<strong>de</strong>s. 70<br />

Boa parte da <strong>do</strong>utrina afirma que o b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong> e a or<strong>de</strong>m<br />

socioeconômica.<br />

O <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>r Marcelo Mendroni diz a respeito:<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>, a quantida<strong>de</strong> astronômica <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> lava<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> inteiro, <strong>de</strong> se admitir<br />

que o impacto na or<strong>de</strong>m socioeconômica é brutal, <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os níveis, <strong>em</strong>presas regulares<br />

per<strong>de</strong>m a concorrência, porque aquelas que utilizam fun<strong>do</strong>s provenientes das ações<br />

criminosas consegu<strong>em</strong> Ter capital suficiente para provocar outros <strong><strong>de</strong>lito</strong>s, com outras na<br />

mesmas condições e situações etc. o quebramento <strong>de</strong>ssas <strong>em</strong>presas gera <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego,<br />

possibilita o Domínio <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, atacan<strong>do</strong> diretamente as leis naturais da economia, como a<br />

livre concorrência e a oferta e procura. No mais das vezes, acaba geran<strong>do</strong> inflação na<br />

mediada <strong>em</strong> que esta <strong>em</strong>presa <strong>do</strong>minante estabelece monopólios e fixa os preços <strong>do</strong>s<br />

produtos, livr<strong>em</strong>ente, mas a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> também promove o incr<strong>em</strong>ento da própria<br />

<strong>em</strong>presa criminosa, aperfeiçoan<strong>do</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, as formas <strong>de</strong> tráfico e venda <strong>de</strong><br />

entorpecentes, dificultan<strong>do</strong> a ação, geran<strong>do</strong> mal irreparável ã saú<strong>de</strong> pública da socieda<strong>de</strong>. 71<br />

Então seria correto consi<strong>de</strong>rar que o b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong> seria tanto a<br />

administração pública quanto a or<strong>de</strong>m socioeconômica.<br />

Roberto Podval <strong>em</strong> profun<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>em</strong> torno <strong>do</strong> b<strong>em</strong> jurídico que seria<br />

protegi<strong>do</strong> pela legislação criminaliza<strong>do</strong>ra da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, chegou asa<br />

seguintes conclusões:<br />

68 I<strong>de</strong>m<br />

69 I<strong>de</strong>m<br />

70 PITOMBO, Antônio Sérgio A. <strong>de</strong> Moraes. Op. Cit., p. 74.<br />

71 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p 61.


a) or<strong>de</strong>m sócio econômica não é b<strong>em</strong> jurídico, mas esfera da vida<br />

coletiva apta a merecer tutela penal através da proteção <strong>do</strong>s valores<br />

que a compõ<strong>em</strong>;<br />

b) n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> fere a or<strong>de</strong>m sócio econômica,<br />

pois há crime, ainda que o resulta<strong>do</strong>, para tal or<strong>de</strong>m, seja positivo;<br />

c) a circulação <strong>do</strong>s bens no merca<strong>do</strong> também não po<strong>de</strong> ser o b<strong>em</strong><br />

tutela<strong>do</strong>, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> analise futurista sobre eventual abalo<br />

econômico gera<strong>do</strong> pela <strong>lavag<strong>em</strong></strong>;<br />

d) o crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> difere <strong>do</strong> da receptação, porque, na<br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong>, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre há interesse patrimonial, caracterizan<strong>do</strong>-se,<br />

antes, como um plus à receptação;<br />

e) O b<strong>em</strong> tutela<strong>do</strong> seria a administração da justiça. Afinal, os autores<br />

da <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, visan<strong>do</strong> proteger os responsáveis pelo crime<br />

antece<strong>de</strong>nte, acabam obstruin<strong>do</strong> a justiça, impossibilitan<strong>do</strong> a<br />

punição <strong>do</strong>s culpa<strong>do</strong>s. 72<br />

Para o autor João Carlos Castellar, o qual se aprofun<strong>do</strong>u no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

diversos bens jurídicos que a <strong>do</strong>utrina traz. 73<br />

Além da or<strong>de</strong>m socioeconômica e da administração da justiça ele traz na sua<br />

obra a livre concorrência e a livre circulação <strong>de</strong> bens no merca<strong>do</strong>.<br />

Entre os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a posição <strong>de</strong> que o crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> visa proteger a livre<br />

circulação <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> se encontra Muños Con<strong>de</strong>. Anota este autor espanhol que el<br />

blanqueamento <strong>de</strong>be ser castiga<strong>do</strong> no sólo porque favorece el qnriquecimento <strong>de</strong> los que han<br />

cometi<strong>do</strong> un previo <strong><strong>de</strong>lito</strong> grave y, por tanto, induce a su comisión como forma <strong>de</strong> obtención<br />

<strong>de</strong> un lucro, sino porque afecta diretamente al funcionamento <strong>de</strong> la economía <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> y al<br />

control <strong>de</strong>l mismo ya <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el origen o fuente <strong>de</strong>l ingresso por parte <strong>de</strong>l Esta<strong>do</strong> a través <strong>de</strong> su<br />

actvidad tributaria. 74<br />

Roberto Podval contra argumenta esta tese registran<strong>do</strong> tal proposta, contu<strong>do</strong>,<br />

é necessário que se fizesse um juízo <strong>de</strong> adivinhação, necessariamente ia se partir<br />

72<br />

GOMES, Alzeni Martins Nunes. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2009<br />

73<br />

CASTELLAR, João Carlos. Lavag<strong>em</strong> De Dinheiro. A questão <strong>do</strong> b<strong>em</strong> jurídico. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revan, 2004.<br />

p. 176.<br />

74 Ibi<strong>de</strong>m, p. 169


da pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que o <strong>dinheiro</strong> fruto da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> irá efetivamente alterar a<br />

circulação <strong>do</strong>s bens no merca<strong>do</strong>. 75<br />

Para argumentar que a livre concorrência se constitui no b<strong>em</strong> jurídico imediato merece<strong>do</strong>r da<br />

proteção penal no crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, sustenta-se que os ativos ilícitos objeto<br />

<strong>de</strong>sse <strong><strong>de</strong>lito</strong> teriam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distorcer o funcionamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, prejudican<strong>do</strong> a<br />

livre competição entre os que nele atuam, por este, segun<strong>do</strong> Blanco Cor<strong>de</strong>ro, “um principio<br />

rector <strong>de</strong> toda la economia <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>”, perfazen<strong>do</strong>-se num el<strong>em</strong>ento consubstancial al<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> orgnización econômica <strong>de</strong> nuesta socieda<strong>de</strong>. 76<br />

Conclui o autor que não há propriamente um b<strong>em</strong> jurídico merece<strong>do</strong>r da tutela<br />

<strong>do</strong> Direito Penal na incriminação da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Na realida<strong>de</strong>, lançan<strong>do</strong>-<br />

se mão <strong>de</strong> uma legislação urdida sob signo da <strong>em</strong>ergência penal, o que busca<br />

com a criminalização <strong>de</strong>sta conduta, tanto aqui como <strong>em</strong> outros países, é o<br />

apo<strong>de</strong>ramento, através <strong>do</strong> instituto jurídico <strong>do</strong> confisco, <strong>do</strong>s fundamentos que<br />

transitam nas operações financeiras internacionais, cuja orig<strong>em</strong> não está <strong>em</strong><br />

nenhum <strong>do</strong>s grupos econômicos obedientes às regras estatuídas pelos mesmos<br />

organismos internacionais.<br />

João Carlos Castellar compl<strong>em</strong>enta ainda “que as operações econômico-<br />

financeiras, que hoje são consi<strong>de</strong>radas como sen<strong>do</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, po<strong>de</strong>m<br />

encontrar vestimenta típica <strong>em</strong> dispositivos já existentes na lei penal, tais como a<br />

receptação ou favorecimento real, dispensan<strong>do</strong>-se to<strong>do</strong> o somatório <strong>de</strong> regras<br />

<strong>em</strong>ergenciais que flexibilizam as garantias individuais <strong>de</strong> natureza processual<br />

penal e constitucional, caben<strong>do</strong> ao Direito Administrativo, por outro la<strong>do</strong>, através<br />

<strong>do</strong>s setores que exerc<strong>em</strong> a vigilância e a fiscalização nesse tipo <strong>de</strong> operação, a<br />

criação <strong>de</strong> mecanismos capazes <strong>de</strong> fazer valer as regras <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro,<br />

observan<strong>do</strong>-se, inclusive, que já faz<strong>em</strong> com bastante rigor.” 77<br />

2.2.SUJEITOS DO CRIME<br />

2.2.1. Sujeito Ativo.<br />

75 Ibi<strong>de</strong>m, p. 176.<br />

76 CASTELLAR, João Carlos. Lavag<strong>em</strong> De Dinheiro. Op. Cit., p.176.<br />

77 Ibi<strong>de</strong>m, p. 195.


Qualquer pessoa, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser um terceiro ou o próprio agente da infração<br />

prévia, pois quan<strong>do</strong> o agente da infração antece<strong>de</strong>nte introduz ativo ao merca<strong>do</strong>,<br />

afeta o correto funcionamento <strong>de</strong>ste e o seu acesso regular, além da Administração<br />

da Justiça, bens jurídicos não necessariamente coinci<strong>de</strong>ntes com os <strong><strong>de</strong>lito</strong>s<br />

antece<strong>de</strong>ntes. 78<br />

O agente criminoso, sujeito ativo, po<strong>de</strong> ser qualquer pessoa que realize quaisquer das<br />

condutas previstas no caput <strong>do</strong> artigo 1.º, b<strong>em</strong> como nos seus parágrafos 2.º e 3.º. há vezes<br />

<strong>em</strong> que qu<strong>em</strong> pratica o crime é o mesmo autor <strong>do</strong> crime prece<strong>de</strong>nte, processan<strong>do</strong> ele<br />

mesmo, os ganhos ilícitos. Trata-se <strong>de</strong> crime <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da configuração <strong>do</strong> anterior mas<br />

autônomo com condutas e punição distintas e previstas.<br />

Po<strong>de</strong> se r o autor <strong>do</strong>s <strong><strong>de</strong>lito</strong>s <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> outra pessoa, que não aquela que<br />

praticou o crime antece<strong>de</strong>nte, como na hipótese <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>, conhecen<strong>do</strong> a procedência ilícita<br />

<strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong>, mas assumin<strong>do</strong> o risco, promova <strong>em</strong> nome daquele, o processamento <strong>do</strong>s ativos,<br />

passan<strong>do</strong>-o por alguma ou por todas as fases que integram os estágios da <strong>lavag<strong>em</strong></strong>. 79<br />

Ainda sobre o sujeito ativo afirma André Luís Callegari:<br />

O legisla<strong>do</strong>r não dispôs uma restrição <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao sujeito ativo e, tampouco, exigiu <strong>de</strong>ste<br />

alguma qualificação, o que possibilita que o <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> seja realiza<strong>do</strong> por qualquer<br />

pessoa. Se examinarmos o art. 1.º da Lei 9.613/1998, chega-se à conclusão <strong>de</strong> que qualquer<br />

pessoa po<strong>de</strong> ser sujeito ativo <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, já que o legisla<strong>do</strong>r brasileiro<br />

não estabeleceu nenhuma restrição nesse ponto, por essa razão, po<strong>de</strong>-se concluir que o<br />

legisla<strong>do</strong>r não excluiu <strong>do</strong> circulo <strong>de</strong> possíveis sujeitos ativos aquelas pessoas que tenham<br />

participa<strong>do</strong> como autores ou participes no <strong><strong>de</strong>lito</strong> prévio que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> aos bens jurídicos<br />

objetos <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong>. Entretanto, ainda que a <strong>do</strong>utrina brasileira não tenha se manifesta<strong>do</strong><br />

sobre o t<strong>em</strong>a, não nos parece aplicável aos casos <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> as consi<strong>de</strong>rações <strong>do</strong>utrinárias<br />

referentes à receptação. 80<br />

Quanto ao sujeito ativo diz Marcelo Mendroni, “é a socieda<strong>de</strong> ou a<br />

comunida<strong>de</strong> local, pelo abalo das estruturas econômicas e sociais, além da<br />

segurança e da soberania <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s.” 81<br />

2.2.2. Sujeito Passivo.<br />

O sujeito passivo no <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> é a socieda<strong>de</strong> ou a<br />

comunida<strong>de</strong> local.<br />

78 SANCTIS, Fausto Martin <strong>de</strong>. Combate à Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. São Paulo: Millenium, 2008. p.34.<br />

79 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p. .32.<br />

80 CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 97/98.<br />

81 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit. p. .33.


Ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista a objetivida<strong>de</strong> jurídica estabelecida para o tipo, o sujeito<br />

passivo principal é o Esta<strong>do</strong>, ao qual cabe monopólio da administração da justiça.<br />

Consoante a natureza <strong>do</strong> crime prece<strong>de</strong>nte mediatamente po<strong>de</strong>rão existir outros<br />

lesa<strong>do</strong>s (e.g. o extorqui<strong>do</strong> que teve o numerário da<strong>do</strong> <strong>em</strong> resgate utiliza<strong>do</strong> na<br />

“<strong>lavag<strong>em</strong></strong>”). 82<br />

2.3. TIPICIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA<br />

2.3.1. Tipo Objetivo.<br />

A <strong>de</strong>nominação “tipo objetivo” não exprime a idéia <strong>de</strong> alheio ao subjetivo, mas<br />

significa que exist<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos objetiva<strong>do</strong>s.<br />

“Constitui-se o tipo objetivo na representação externa <strong>do</strong> tipo subjetivo.<br />

Compreen<strong>de</strong> a caracterização no mun<strong>do</strong> exterior da conduta <strong>de</strong>lituosa, prevista com<br />

características <strong>de</strong>scritivas e normativas.” 83<br />

Sujeito ativo; ação típica e resulta<strong>do</strong>, uni<strong>do</strong>s por nexo causal, pertenc<strong>em</strong> ao<br />

tipo objetivo, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser examina<strong>do</strong>s, levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta os el<strong>em</strong>entos<br />

específicos <strong>de</strong> cada <strong><strong>de</strong>lito</strong>, os quais <strong>de</strong>talham e particularizam o comportamento<br />

criminoso. 84<br />

2.3.2. Tipo Subjetivo.<br />

A concepção <strong>de</strong> tipo subjetivo serve, para facilitar o estu<strong>do</strong> da teoria <strong>do</strong> crime,<br />

<strong>em</strong> particular na análise <strong>do</strong>s tipos <strong>do</strong>losos. De fato, assimilar o tipo como estrutura<br />

normativa, <strong>de</strong>corrente da valoração da realida<strong>de</strong>, faz com que nele se incluam<br />

fenômenos anímicos <strong>do</strong> agente. 85<br />

Deixan<strong>do</strong> um pouco <strong>de</strong> la<strong>do</strong> os chama<strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos subjetivos <strong>do</strong> tipo<br />

distintos <strong>do</strong> <strong>do</strong>lo, que po<strong>de</strong>m ou não ser<strong>em</strong> exigi<strong>do</strong>s pelos tipos penais, o <strong>do</strong>lo é o<br />

82<br />

MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p. 90.<br />

83<br />

PITOMBO, Antônio Sérgio <strong>de</strong> Moraes. Op. Cit., p. 100.<br />

84<br />

I<strong>de</strong>m<br />

85<br />

MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre.Op. Cit., p. 79.


el<strong>em</strong>ento nuclear e primordial <strong>do</strong> tipo subjetivo e, freqüent<strong>em</strong>ente, o único<br />

componente <strong>do</strong> tipo subjetivo. 86<br />

Repetimos uma vez mais, que o <strong>do</strong>lo é o querer <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> típico, a vonta<strong>de</strong><br />

realiza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> tipo objetivo. O nosso código fala <strong>em</strong> <strong>do</strong>lo no seguinte senti<strong>do</strong>:<br />

“quan<strong>do</strong> o agente quis o resulta<strong>do</strong>” (art. 18, I). 87<br />

O <strong>do</strong>lo é uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada que, como qualquer vonta<strong>de</strong>, pressupõe<br />

um conhecimento <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>.<br />

O reconhecimento que o <strong>do</strong>lo é uma vonta<strong>de</strong> individualizada <strong>em</strong> um tipo,<br />

obriga-nos a reconhecer <strong>em</strong> sua estrutura os <strong>do</strong>is aspectos <strong>em</strong> que consiste: o <strong>do</strong><br />

conhecimento pressuposto ao querer e o próprio querer. Isto dá lugar aos <strong>do</strong>is<br />

aspectos que o <strong>do</strong>lo compreen<strong>de</strong>:<br />

a) o aspecto <strong>de</strong> conhecimento ou aspecto cognoscitivo <strong>do</strong> <strong>do</strong>lo; e<br />

b) o aspecto <strong>do</strong> querer ou aspecto volitivo <strong>do</strong> <strong>do</strong>lo. 88<br />

Somente aceita a modalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>losa, admitin<strong>do</strong> o <strong>do</strong>lo direto <strong>de</strong> primeiro grau, <strong>do</strong>lo direto <strong>de</strong><br />

segun<strong>do</strong> grau (conseqüências necessárias) e o <strong>do</strong>lo eventual. Basta que se saiba ou<br />

suponha saber que a fonte <strong>do</strong>s bens é uma inbfração penal (art. 1, caput, e seu parágrafo, 2,<br />

inciso I), não sen<strong>do</strong> necessário que conheça exatamente a <strong>de</strong>scrição da modalida<strong>de</strong> típica,<br />

n<strong>em</strong> que tenha conhecimento <strong>de</strong> que se trate exatamente <strong>de</strong> um fato culpável e punível,<br />

requeren<strong>do</strong> ciência que se cuida <strong>de</strong> um injusto penal, bastan<strong>do</strong> se tratar <strong>de</strong> fato ilícito-típico<br />

(bens originários ou supostamente originários – probabilida<strong>de</strong>/<strong>do</strong>lo eventual duma infração<br />

antece<strong>de</strong>nte). 89<br />

André Luiz Callegari, ao se aprofundar no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> erro <strong>do</strong> tipo no crime <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, consta que, como tal consciência é el<strong>em</strong>ento normativo <strong>do</strong><br />

tipo, se o sujeito <strong>de</strong>sconhece ou ignora que o <strong>dinheiro</strong> ou b<strong>em</strong> proce<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s<br />

<strong><strong>de</strong>lito</strong>s enumera<strong>do</strong>s como crime antece<strong>de</strong>nte, atuara <strong>em</strong> erro <strong>de</strong> tipo, sen<strong>do</strong><br />

irrelevantes a culpabilida<strong>de</strong> ou a punibilida<strong>de</strong>. 90<br />

Sobre o <strong>do</strong>lo direto o autor André Luis Callegari diz:<br />

O artigo 1.º da Lei 9.613/98 <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao tipo subjetivo utiliza as expressões “ocultar” e<br />

dissimular” com referência à orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>litiva <strong>do</strong>s bens. O tipo expressamente menciona “<br />

ocultar ou dissimular a natureza, orig<strong>em</strong>, localização, disposição, movimentação ou<br />

86<br />

ZAFFARONI, Eugênio Raul. Op. Cit., p. 482.<br />

87<br />

I<strong>de</strong>m<br />

88<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 490<br />

89<br />

SANCTIS, Fausto Martin <strong>de</strong>. Op. Cit., p.49<br />

90<br />

GOMES, Alzeni Martins Nunes. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 20.09.2005.


proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, <strong>do</strong>s seguintes<br />

crimes. 91<br />

Analisan<strong>do</strong> a lei brasileira observamos que to<strong>do</strong>s os crimes são <strong>do</strong>losos, não<br />

há no que se falar <strong>em</strong> modalida<strong>de</strong> culposa, pois não há previsão expressa pelo<br />

legisla<strong>do</strong>r.<br />

Portanto <strong>de</strong>ve saber que ocultan<strong>do</strong> ou dissimulan<strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong>, bens ou valores<br />

cuja procedência esteja relacionada com os crimes previstos na Lei <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> o autor concorrerá para a pratica <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> capitais.<br />

Só existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> se o autor dissimula a natureza,<br />

orig<strong>em</strong>, localização, disposição <strong>do</strong>s bens, quan<strong>do</strong> saiba que estes provêm <strong>do</strong>s<br />

crimes antece<strong>de</strong>ntes previstos na Lei. O <strong>do</strong>lo <strong>de</strong>ve estar dirigi<strong>do</strong> a esta conduta, ou<br />

seja, o autor atua porque conhece a orig<strong>em</strong> criminosa <strong>do</strong>s bens e porque quer lhes<br />

dar aparência <strong>de</strong> licitu<strong>de</strong>. 92<br />

2.4 OBJETO MATERIAL<br />

Segun<strong>do</strong> Alfonso Reyes Echandía, “objeto material es aquello sobre lo cual<br />

se concreta <strong>em</strong> interés jurídico que El legisla<strong>do</strong>r preten<strong>de</strong> tutelar <strong>em</strong> cada tipo y al<br />

cual se refiere La acción o omisión <strong>de</strong>l agente”. 93<br />

O objeto material da conduta no <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> são bens,<br />

direitos e valores, que provêm <strong>de</strong> infrações penais, não importan<strong>do</strong> se originários <strong>de</strong><br />

um crime patrimonial, propriamente dito, isto é, caso se trate <strong>do</strong> próprio b<strong>em</strong>,<br />

furta<strong>do</strong>, rouba<strong>do</strong> ou apropria<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong> haver, mesmo que os ativos sejam<br />

indiretamente obti<strong>do</strong>s ou substituí<strong>do</strong>s. 94<br />

Nesse lanço, o interesse volta-se à conduta típica da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, na<br />

qual se i<strong>de</strong>ntificam três formas básicas <strong>de</strong> cometimento <strong>do</strong> crime, conforme o artigo<br />

1.º da Lei 9.613/98; a) ativida<strong>de</strong> finalista <strong>de</strong> ocultar ou dissimular bens <strong>de</strong><br />

proveniência criminosa; b) conduta dirigida a converter, adquirir ou transferir tais<br />

91<br />

CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 163.<br />

92<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 165.<br />

93<br />

REYES ESCHANDÍA, Alfonso. Tipicidad. Ed 6. Bogotá: T<strong>em</strong>is, 199. p. 82.<br />

94<br />

SANCTIS, Fausto Martin <strong>de</strong>. Op. Cit., p.75.


ens, com o fim <strong>de</strong> ocultá-los ou dissimulá-los; e c) utilização <strong>de</strong> bens, na ativida<strong>de</strong><br />

econômica ou financeira, sabidamente ilícitos. 95<br />

O tipo objetivo, analisa<strong>do</strong>, explicita o objeto material <strong>do</strong> ilícito através <strong>do</strong>s<br />

el<strong>em</strong>entos normativos, 96 bens, direitos e valores provenientes, direta ou<br />

indiretamente <strong>do</strong> crime. 97<br />

O autor Marcelo Batlouni Mendroni sobre esse três gêneros:<br />

Bens: os ativos <strong>de</strong> qualquer tipo, corpóreos ou incorpóreos, moveis ou imóveis, tangíveis ou<br />

intangíveis, e os <strong>do</strong>cumentos ou instrumentos jurídicos que atest<strong>em</strong> a proprieda<strong>de</strong> ou outros<br />

direitos sobre os referi<strong>do</strong>s ativos;<br />

Direitos: equivalente a créditos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que possível a sua instrumentalização, a partir <strong>de</strong> uma<br />

conduta, para sua ocultação ou dissimulação. Po<strong>de</strong>m-se citar, como ex<strong>em</strong>plos, o cheque, os<br />

títulos <strong>de</strong> crédito tradicionais e etc;<br />

Valores: para os termos da lei, a terminologia tanto significa <strong>dinheiro</strong>, <strong>de</strong> qualquer moeda,<br />

como papel moeda ou <strong>em</strong> traveler cheque, que possui o mesmo valor nominal e potencial <strong>de</strong><br />

troca por merca<strong>do</strong>rias que o <strong>dinheiro</strong>; como também uma quantida<strong>de</strong> abstratamente atribuída<br />

a um b<strong>em</strong> , como, por ex<strong>em</strong>plo, a dissimulação <strong>do</strong> real valor <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> imobiliária. 98<br />

Ora resta <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que os bens englobam os outros <strong>do</strong>is objetos <strong>de</strong> ação,<br />

direitos e valores, enuncia<strong>do</strong>s no tipo legal da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. 99<br />

Mais <strong>do</strong> que isso, a segurança jurídica faz a<strong>do</strong>tar bens como síntese <strong>do</strong><br />

el<strong>em</strong>ento normativo da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, com vistas à valoração <strong>do</strong> vocábulo,<br />

conforme o senti<strong>do</strong> da<strong>do</strong> pelo próprio or<strong>de</strong>namento jurídico (art. 79 a 103 <strong>do</strong> CC). 100<br />

“O objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta<br />

criminosa. A <strong>do</strong>utrina brasileira não <strong>de</strong>u um tratamento especial a respeito <strong>do</strong> objeto<br />

material da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>.” 101<br />

2.5 CRIME ANTECEDENTE<br />

“Observa-se que a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> vincula-se, <strong>de</strong> maneira intrínseca, ao<br />

prévio cometimento <strong>de</strong> infração penal. Em verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> já ter aconteci<strong>do</strong><br />

crime anterior.” 102<br />

95<br />

PITOMBO, Antônio Sérgio <strong>de</strong> Moraes. Op. Cit., p. 102.<br />

96<br />

MAIA, Ro<strong>do</strong>lfoTigre. Op. Cit., p. 64.<br />

97<br />

|I<strong>de</strong>m<br />

98<br />

MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p. 38 e 39.<br />

99<br />

PITOMBO, Antônio Sérgio <strong>de</strong> Moraes. Op. Cit., p. 105.<br />

100<br />

I<strong>de</strong>m<br />

101<br />

CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 28.


Embora existam opiniões contrárias, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que o autor <strong>do</strong> crime<br />

antece<strong>de</strong>nte, que venha ser ou possa ser puni<strong>do</strong> pela sua prática, não po<strong>de</strong>rá sê-lo<br />

pela prática <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, enten<strong>de</strong>mos que há evi<strong>de</strong>nte<br />

caracterização e viabilida<strong>de</strong>. 103<br />

De acor<strong>do</strong> com o artigo 2.º inciso II da Lei 9.61398 que diz:<br />

“II – in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong> processo e julgamento <strong>do</strong>s crimes antece<strong>de</strong>ntes referi<strong>do</strong>s<br />

no artigo anterior, ainda que pratica<strong>do</strong>s <strong>em</strong> outro país.”<br />

O agente po<strong>de</strong> ser processa<strong>do</strong> e puni<strong>do</strong> pelo crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> processo ou julgamento <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte,<br />

ainda que pratica<strong>do</strong>s <strong>em</strong> outro país. 104<br />

Francesco Carrara enten<strong>de</strong> a respeito <strong>do</strong>s <strong><strong>de</strong>lito</strong>s anterior e posterior que:<br />

La fórmula <strong><strong>de</strong>lito</strong> acessorio supone, en cambio, <strong>do</strong>s hechos <strong>de</strong>lictuosos distintos y separa<strong>do</strong>s<br />

si<strong>em</strong>pre por condiciones jur[idicas, y casi si<strong>em</strong>pre tambiém por condiciones <strong>de</strong> ti<strong>em</strong>po y <strong>de</strong><br />

lugar. Supone un primer <strong><strong>de</strong>lito</strong> perfecto o como <strong><strong>de</strong>lito</strong> intenta<strong>do</strong>. Y supone una nueva fase <strong>de</strong><br />

acción igualmente <strong>de</strong>lictiva, pero que se distingue <strong>de</strong> la primera las m[as <strong>de</strong> las veces por un<br />

objeto jurídico distinto. El primero será el <strong><strong>de</strong>lito</strong> principal, y el segun<strong>do</strong> será el <strong><strong>de</strong>lito</strong><br />

accesorio. 105<br />

Há entre os crimes antece<strong>de</strong>ntes e a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, uma <strong>relação</strong> <strong>de</strong><br />

acessorieda<strong>de</strong> material. Afinal, s<strong>em</strong> a ocorrência <strong>do</strong> crime anterior, é impossível<br />

originar-se o objeto <strong>de</strong> ação da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> e via <strong>de</strong> regra tipificá-la. 106<br />

Sobre o crime antece<strong>de</strong>nte explica o autor André Luís Callegari:<br />

A lei faz menção expressa aos <strong><strong>de</strong>lito</strong>s prece<strong>de</strong>ntes que po<strong>de</strong>m dar orig<strong>em</strong> ao <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. O legisla<strong>do</strong>r brasileiro acolhe o sist<strong>em</strong>a restrito, segun<strong>do</strong> o qual o <strong><strong>de</strong>lito</strong><br />

prévio está expressamente previsto na lei, que dizer, o legisla<strong>do</strong>r <strong>de</strong>cidiu, por razões <strong>de</strong><br />

política criminal, incluir um grupo <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong>s concretos como idôneos para gerar os bens<br />

objeto material <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, pois os <strong><strong>de</strong>lito</strong>s prévios que po<strong>de</strong>m gerar o objeto<br />

material <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> são somente os que vêm <strong>de</strong>scritos na Lei, é dizer, mesmo que<br />

outros <strong><strong>de</strong>lito</strong>s sejam graves e possam gerar o objeto material para o <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong><br />

ficariam impunes <strong>em</strong> <strong>relação</strong> a esse <strong><strong>de</strong>lito</strong>. 107<br />

102 PITOMBO, Antônio Sergio <strong>de</strong> Moraes. Op. Cit., p. 109.<br />

103 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. Cit., p. 35.<br />

104 I<strong>de</strong>m<br />

105 PITOMBO, ANTÔNIO SÉRGIO DE MORAS. Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dinheiro. A tipicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte.<br />

São Paulo: Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 2003, p. 110; apud (CARRARA, Francesco R<strong>em</strong>iniscencias <strong>de</strong> cátedra y<br />

foro. Trad. Guerrero. Bogotá: T<strong>em</strong>is, 1998. P. 277-295).<br />

106 Ibi<strong>de</strong>m, p. 110.<br />

107 CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 137.


É importante saber quais são os <strong><strong>de</strong>lito</strong>s prévios, pois constitu<strong>em</strong> o<br />

pressuposto indispensável que serve <strong>de</strong> nexo com o objeto sobre o qual vão cair as<br />

condutas constitutivas <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> e, não existin<strong>do</strong> este nexo, não<br />

haverá objeto material idôneo para a comissão <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>.<br />

Portanto, s<strong>em</strong>pre será necessário recorrer à Lei <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> para saber se o objeto<br />

material é proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s <strong><strong>de</strong>lito</strong>s prévios que possibilita a comissão <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong>. 108<br />

Os <strong><strong>de</strong>lito</strong>s prévios estão conti<strong>do</strong>s no artigo 1.º incisos da Lei 9.613/98 que diz:<br />

(...) I – <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> substâncias entorpecentes ou drogas afins;<br />

II – <strong>de</strong> terrorismo;<br />

III – <strong>de</strong> contraban<strong>do</strong> ou trafico <strong>de</strong> armas, munições ou material <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à sua<br />

produção;<br />

IV - <strong>de</strong> extorsão mediante seqüestro;<br />

V - contra Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outr<strong>em</strong>,<br />

direta ou indiretamente, <strong>de</strong> qualquer vantag<strong>em</strong>, como condição ou preço para a<br />

prática ou omissão <strong>de</strong> atos administrativos;<br />

VI – contra o sist<strong>em</strong>a financeiro nacional;<br />

VII – pratica<strong>do</strong> por organização criminosa;<br />

VIII – pratica<strong>do</strong> por particular contra administração pública estrangeira.(...)”<br />

T<strong>em</strong>os q ressaltar o inciso VII <strong>do</strong> artigo 1.º da Lei, pois cabe na prática <strong>de</strong><br />

organização criminosa os crimes resultantes <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> quadrilha ou ban<strong>do</strong>.<br />

A inclusão <strong>de</strong>ste inciso amplia <strong>de</strong>smesuradamente o leque <strong>do</strong>s crimes<br />

antece<strong>de</strong>ntes, na medida <strong>em</strong> que o lamentável conceito <strong>de</strong> organização criminosa<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por nossa legislação, exige como substrato mínimo tão somente a<br />

existência <strong>de</strong> uma quadrilha e o cometimento <strong>de</strong> um crime, qualquer crime fica<br />

evi<strong>de</strong>nte que esta não era a intenção <strong>do</strong>s autores <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> lei, o projeto não<br />

inclui, nos crimes antece<strong>de</strong>ntes, aqueles <strong><strong>de</strong>lito</strong>s que não representam agregação, ao<br />

patrimônio <strong>do</strong> agente, <strong>de</strong> novos bens, direitos ou valores como é o caso da lei <strong>de</strong><br />

sonegação fiscal. Assim, para além da vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r, o fato é que, se os<br />

<strong><strong>de</strong>lito</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tributária for<strong>em</strong> cometi<strong>do</strong>s por organização criminosa, po<strong>de</strong>rá estar<br />

caracterizada a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. 109<br />

Há alguns pontos importantes ainda a ser<strong>em</strong> observa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao crime<br />

antece<strong>de</strong>nte, com o grau <strong>de</strong> execução <strong>do</strong> injusto anterior que <strong>de</strong>ve ser analisa<strong>do</strong>,<br />

108 Ibi<strong>de</strong>m, p. 138.<br />

109 MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p. 79.


mediante confronto entre a <strong>de</strong>scrição típica da tentativa e as notas características da<br />

ação concreta, contidas na <strong>de</strong>finição legal <strong>do</strong> crime prévio. 110<br />

Outro ponto a ser esclareci<strong>do</strong> quanto aos crimes <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> é a<br />

<strong>autonomia</strong> <strong>de</strong>ste <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao crime antece<strong>de</strong>nte.<br />

O legisla<strong>do</strong>r enten<strong>de</strong>u ser suficiente para o recebimento da <strong>de</strong>núncia <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> indícios da ocorrência <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte.<br />

V<strong>em</strong> enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a <strong>do</strong>utrina e jurisprudência nacional e estrangeira que a<br />

con<strong>de</strong>nação pelo crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> não exige a con<strong>de</strong>nação pelo crime<br />

antece<strong>de</strong>nte. 111<br />

Portanto, bastam provas indiciárias <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte para haver<br />

con<strong>de</strong>nação no <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>.<br />

110 PITOMBO, Antônio Sérgio A. De Moraes. Op. Cit., p. 119.<br />

111 MORO, Sergio Fernan<strong>do</strong>. Autonomia <strong>do</strong> Crime <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> e Prova Indiciária. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 19.11.2009.


3. AUTONOMIA DO DELITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO.<br />

3.1 PROVA INDICIÁRIA<br />

O artigo 2º, inciso II da Lei <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, estabelece o princípio da<br />

<strong>autonomia</strong> <strong>do</strong> processo e julgamento <strong>do</strong> crime.<br />

No Brasil, o probl<strong>em</strong>a que se coloca a respeito <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> prévio é que o<br />

legisla<strong>do</strong>r não exige a sua para que <strong>de</strong> inicie o processo e julgamento <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong>, isso por disposição expressa no artigo 2º, §1º, da Lei 9.613/98, que<br />

estabelece que: “A <strong>de</strong>núncia será instruída com indícios suficientes da existência <strong>do</strong><br />

crime antece<strong>de</strong>nte, sen<strong>do</strong> puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que<br />

<strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> ou isento <strong>de</strong> pena o autor daquele crime. 112<br />

Qualquer crime po<strong>de</strong> ser prova<strong>do</strong> exclusivamente por meio d prova indireta.<br />

No Direito Penal Brasileiro, vige o princípio <strong>do</strong> livre convencimento fundamenta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

juiz, conforte o artigo 157 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Processo Penal, o que afasta qualquer<br />

sist<strong>em</strong>a prévio <strong>de</strong> tarifação <strong>do</strong> valor probatório das provas. O conjunto probatório,<br />

quer forma<strong>do</strong> por provas diretas ou indiretas, ou exclusivamente por uma <strong>de</strong>las,<br />

<strong>de</strong>ve ser robusto o suficiente para alcançar o standard <strong>de</strong> prova próprio <strong>do</strong> processo<br />

penal, <strong>de</strong> que a responsabilida<strong>de</strong> criminal <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser provada, acima <strong>de</strong><br />

qualquer dúvida. 113<br />

O legisla<strong>do</strong>r no artigo 2º, §1º, da Lei 9.613/98, quis diminuir as exigências,<br />

quanto á prova da existência <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte, para o recebimento da<br />

<strong>de</strong>núncia. Inovou ao enten<strong>de</strong>r suficientes os indícios da ocorrência <strong>do</strong> fato anterior.<br />

114<br />

Os indícios <strong>do</strong> crime anterior não são os suficientes para a con<strong>de</strong>nação <strong>do</strong><br />

sujeito pelo <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Como o legisla<strong>do</strong>r brasileiro exigiu a<br />

existência suficiente <strong>de</strong> indícios <strong>do</strong>s “crimes” antece<strong>de</strong>nte, o fato <strong>de</strong>ve ser típico e<br />

antijurídico. Po<strong>de</strong> que ocorra <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao <strong><strong>de</strong>lito</strong> antece<strong>de</strong>nte a exclusão da<br />

112<br />

CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 145.<br />

113<br />

MORO, Sergio Fernan<strong>do</strong>. Autonomia <strong>do</strong> Crime <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> e Prova Indiciária. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 19.11.2009.<br />

114<br />

PITOMBO, Antônio Sérgio A. De Moraes. Op. Cit., p. 128.


tipicida<strong>de</strong> e antijuridicida<strong>de</strong>, o que acarretará a inocorrência <strong>do</strong> crime prece<strong>de</strong>nte.<br />

Portento, se não há crime antece<strong>de</strong>nte, não se po<strong>de</strong> aplicar o disposto no artigo 2º,<br />

§1º, da Lei 9.613/98. 115<br />

Nessas condições, é certo que o termo “indícios” foi <strong>em</strong>prega<strong>do</strong> no referi<strong>do</strong><br />

dispositivo legal no senti<strong>do</strong> técnico, ou seja, como equivalente a prova indireta, mas<br />

sim no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma carga probatória que não precisa ser categórica ou plena, á<br />

s<strong>em</strong>elhança <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego <strong>do</strong> mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> dispositivos como o artigo 126 e o<br />

artigo 312 Código <strong>de</strong> Processo Penal. 116<br />

Para solucionar essa polêmica, um setor da <strong>do</strong>utrina espanhola utiliza a<br />

jurisprudência da receptação, assinalan<strong>do</strong> que nestes casos não é necessária uma<br />

sentença con<strong>de</strong>natória com <strong>relação</strong> ao <strong><strong>de</strong>lito</strong> prévio, mas se exige, pelo menos, um<br />

fato minimamente circunstancia<strong>do</strong>. Entretanto, é necessário que o juiz responsável<br />

pelo julgamento <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> consi<strong>de</strong>re provada a existência <strong>de</strong> um fato<br />

<strong>de</strong>litivo prévio, ou seja, é necessário saber com precisão qual é o fato criminoso que<br />

originou os bens. Assim, não se requer uma sentença con<strong>de</strong>natória <strong>do</strong> crime<br />

antece<strong>de</strong>nte, mas a receptação <strong>de</strong>ve estar plenamente creditada <strong>em</strong> sua realida<strong>de</strong> e<br />

<strong>em</strong> sua natureza jurídica, s<strong>em</strong> que baste para isso a mera constância <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias,<br />

ocupação <strong>de</strong> bens e outras diligências policiais ou sumárias. Por se tratar <strong>de</strong> um<br />

el<strong>em</strong>ento constitutivo <strong>do</strong> tipo, faz-se necessário que as provas <strong>de</strong>stinadas a acredita-<br />

lo se tenham pratica<strong>do</strong> com as garantias constitucionais e processuais que as<br />

torn<strong>em</strong> aptas para <strong>de</strong>svirtuar a presunção da inocência. Portanto ao menos é<br />

necessário que fique prova<strong>do</strong> que os bens procedam <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s <strong><strong>de</strong>lito</strong>s previstos na<br />

Lei <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong>. 117<br />

T<strong>em</strong>-se entendi<strong>do</strong> no Direito Compara<strong>do</strong>, que a prova indiciária é fundamental<br />

no processo por crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>, inclusive quanto à prova <strong>de</strong> que o<br />

objeto da <strong>lavag<strong>em</strong></strong> é produto <strong>de</strong> crime antece<strong>de</strong>nte. 118<br />

115<br />

CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 146.<br />

116<br />

MORO, Sergio Fernan<strong>do</strong>. Autonomia <strong>do</strong> Crime <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> e Prova Indiciária. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 19.11.2009.<br />

117<br />

CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 147.<br />

118<br />

MORO, Sergio Fernan<strong>do</strong>. Autonomia <strong>do</strong> Crime <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> e Prova Indiciária. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 19.11.2009.


A jurisprudência brasileira confere o mesmo tratamento à receptação, isto é,<br />

não exige a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma sentença penal con<strong>de</strong>natória que afirme a<br />

ocorrência <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte, mas é indispensável a prova <strong>de</strong> sua ocorrência. 119<br />

O fato é que o crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> frequent<strong>em</strong>ente se reveste <strong>de</strong><br />

certa complexida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> difícil revelá-lo e prová-lo. O usual será dispor apenas da<br />

prova indireta <strong>de</strong> seus el<strong>em</strong>entos, inclusive quanto à orig<strong>em</strong> criminosa <strong>do</strong>s bens,<br />

direitos e valores envolvi<strong>do</strong>s. Admitir a valida<strong>de</strong> da prova indireta para a<br />

caracterização <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> não é algo diferente <strong>do</strong> que ocorre <strong>em</strong> <strong>relação</strong> a<br />

qualquer outro crime. Isso não significa, por outro la<strong>do</strong>, um enfraquecimento das<br />

garantias <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> no processo penal, pois a prova, ainda que indireta, <strong>de</strong>ve ser<br />

suficient<strong>em</strong>ente convincente para satisfazer o standard da prova, acima <strong>de</strong> qualquer<br />

dúvida razoável. 120<br />

Portanto, po<strong>de</strong>-se concluir que das regras <strong>do</strong> artigo 2º, §1º, da Lei 9.613/98,<br />

que o processo por crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao crime<br />

antece<strong>de</strong>nte; não é necessário provar to<strong>do</strong>s os el<strong>em</strong>entos e circunstâncias <strong>do</strong> crime<br />

antece<strong>de</strong>nte no processo por crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, mas apenas que o objeto <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong><br />

orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> crime t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> crime antece<strong>de</strong>nte; que to<strong>do</strong>s os el<strong>em</strong>entos <strong>do</strong><br />

<strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> inclusive a orig<strong>em</strong> criminosa <strong>do</strong>s bens e valores, po<strong>de</strong>m ser<br />

prova<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> prova indiciária, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que convincente para afastar qualquer<br />

dúvida razoável, e ainda a conexão instrumental entre crime antece<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> não implica, necessariamente, unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> processo e julgamento. 121<br />

3.2 DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA<br />

A notitia criminis <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> afirmações realizadas <strong>em</strong> <strong>de</strong>núncia ou missiva<br />

anônima que retrata a perpetração <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong>s financeiros e <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

Dinheiro. 122<br />

Porém a <strong>de</strong>núncia anônima por si só não basta para sustentar uma medida<br />

cautelar <strong>em</strong> juízo. Caberá <strong>de</strong>ssa maneira aos órgãos envolvi<strong>do</strong>s na apuração <strong>do</strong><br />

119 CALLEGARI, André Luís. Op. Cit., p. 147<br />

120 MORO, Sergio Fernan<strong>do</strong>. Autonomia <strong>do</strong> Crime <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> e Prova Indiciária. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 19.11.2009.<br />

121 I<strong>de</strong>m


<strong><strong>de</strong>lito</strong> comprovar ao menos parte das informações trazidas a fim <strong>de</strong> satisfazer a um<br />

imperativo inafastável consubstancia<strong>do</strong> na necessida<strong>de</strong> ético-jurídica <strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

prevalecer, no processo penal, a verda<strong>de</strong> real, ainda que essa apuração tenha se<br />

inicia<strong>do</strong> por tal meio. 123<br />

Conforme disposto na lei, a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong>ver ser instruída com indícios<br />

suficientes da existência <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte. Propõe-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

efetiva observância aos seguintes <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos:<br />

indícios – trata-se da real probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concorrência <strong>de</strong> um fato <strong>de</strong>lituoso. Não se<br />

restring<strong>em</strong>. Assim, a meras suspeitas, mas ao convencimento <strong>do</strong> órgão acusatório;<br />

existência <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte – refere-se ao suporte probatório <strong>do</strong> crime (tipicida<strong>de</strong>,<br />

antijuridicida<strong>de</strong> e culpabilida<strong>de</strong>, afastada esta pela 2ª parte <strong>do</strong> parágrafo 1.º), não se<br />

contentan<strong>do</strong> com a materialida<strong>de</strong>, apenas;<br />

justa causa – figura como instrumento <strong>de</strong> tutela da dignida<strong>de</strong>, uma vez que esta já é atingida<br />

pela mera instauração <strong>do</strong> processo. A verificação <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>ve fundamentar o oferecimento da<br />

<strong>de</strong>núncia ou o arquivamento <strong>do</strong> inquérito e, na primeira hipótese, o recebimento ou a rejeição<br />

da <strong>de</strong>núncia pelo órgão julga<strong>do</strong>r. 124<br />

É preciso que se examine a justa causa da ação, que se revela <strong>em</strong> tais<br />

indícios. Não haven<strong>do</strong> justa causa, leia-se, uma base probatória mínima e<br />

razoável, impõe-se a rejeição da <strong>de</strong>núncia. Se o <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> bens é um<br />

crime <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>, porque pressupõe a existência <strong>de</strong> outro prece<strong>de</strong>nte, nada mais<br />

lógico que exigir a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ilícita <strong>de</strong> tais bens. Observe-se porém,<br />

que não são quaisquer indícios que já justificam o surgimento <strong>do</strong> processo. 125<br />

Dinheiro:<br />

A <strong>de</strong>núncia é tratada no artigo 2.º parágrafo 1.º da Lei <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

(...) A <strong>de</strong>núncia será instituída com indícios suficientes da existência <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte,<br />

sen<strong>do</strong> puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> ou isento <strong>de</strong> pena o<br />

autor daquele crime(...).<br />

Portanto, para o recebimento da <strong>de</strong>núncia, basta a “prova indiciária”, ou seja,<br />

ainda não categórica, <strong>do</strong> crime antece<strong>de</strong>nte e, a b<strong>em</strong> da verda<strong>de</strong>, <strong>do</strong> próprio crime<br />

122<br />

SANCTIS, Fausto Martin <strong>de</strong>. Op. Cit., p.123.<br />

123<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 124<br />

124<br />

SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da Competência nos <strong><strong>de</strong>lito</strong>s <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Disponível <strong>em</strong>:<br />

. Acesso <strong>em</strong>: 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006.<br />

125<br />

CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra <strong>de</strong>; GOMES, Luiz Flávio. Lei <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Capitais. São<br />

Paulo: Revista <strong>do</strong>s Tribunais. 2006.p. 356.


<strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong>, como é a regra geral para recebimento da <strong>de</strong>núncia <strong>em</strong> qualquer<br />

processo criminal. 126<br />

3.3 COMPETÊNCIA<br />

A competência da Justiça Comum Estadual é fixada, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral, por<br />

exclusão, portanto tu<strong>do</strong> que não seja <strong>de</strong> competência das Justiças Especiais e da<br />

Justiça fe<strong>de</strong>ral é <strong>de</strong> competência Estadual. 127<br />

Analisan<strong>do</strong> alei 9613/98, perceb<strong>em</strong>os uma literalida<strong>de</strong> no seu artigo 2.º, inciso<br />

III, on<strong>de</strong> t<strong>em</strong>-se a impressão <strong>de</strong> que a competência, <strong>em</strong> regra é estadual. Mas se<br />

levarmos <strong>em</strong> conta que o b<strong>em</strong> jurídico protegi<strong>do</strong> é a segurança da or<strong>de</strong>m<br />

econômico-financeira, não seria competência da justiça estadual.<br />

“(...) Artigo 2.º, III – são da competência da Justiça Fe<strong>de</strong>ral:<br />

a)quan<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong>s contra o sist<strong>em</strong>a financeiro e a or<strong>de</strong>m econômico-financeira, ou <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> bens, serviços ou interesses da União, ou <strong>de</strong> suas entida<strong>de</strong>s autárquicas ou<br />

<strong>em</strong>presas públicas<br />

b) quan<strong>do</strong> o crime antece<strong>de</strong>nte for <strong>de</strong> competência da justiça Fe<strong>de</strong>ral (...)”<br />

A primeira parte da letra “a” fixa a competência fe<strong>de</strong>ral para as situações<br />

fáticas <strong>em</strong> que, para além <strong>de</strong> colidir<strong>em</strong> com a usual objetivida<strong>de</strong> jurídica da<br />

administração da justiça, os crimes <strong>de</strong> “<strong>lavag<strong>em</strong></strong>” <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> cometi<strong>do</strong>s<br />

especialmente atingir<strong>em</strong> os bens jurídicos “sist<strong>em</strong>a financeiro” e “or<strong>de</strong>m econômico-<br />

financeira”. 128<br />

A segunda parte <strong>de</strong>sta alínea “a” reproduz com ligeiras supressões o<br />

constante <strong>do</strong> art. 109, IV, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral e giza as hipóteses fe<strong>de</strong>rais<br />

mediante a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s entes jurídicos titulares <strong>do</strong>s bens jurídicos vulnera<strong>do</strong>s.<br />

Nestes casos, enten<strong>de</strong>-se que os crimes da competência da Justiça Fe<strong>de</strong>ral são os<br />

cometi<strong>do</strong>s contra bens, serviços e interesses da União, se suas autarquias ou<br />

<strong>em</strong>presas públicas, e atingin<strong>do</strong>-os diretamente e não apenas os atingin<strong>do</strong><br />

reflexamente. 129<br />

126 MORO, Sergio Fernan<strong>do</strong>. Autonomia <strong>do</strong> Crime <strong>de</strong> Lavag<strong>em</strong> e Prova Indiciária. Disponível <strong>em</strong>:<br />

Acesso <strong>em</strong>: 19.11.2009.<br />

127 MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p. 113.<br />

128 Ibi<strong>de</strong>m, p. 113/114.<br />

129 Ibi<strong>de</strong>m, p. 115.


São da competência da justiça fe<strong>de</strong>ral, com efeito, por expressa disposição,<br />

“os crimes que afet<strong>em</strong> interesse da União, se o crime prece<strong>de</strong>nte é da competência<br />

da mesma Justiça, se afetar o sist<strong>em</strong>a financeiro ou a or<strong>de</strong>m econômico-financeira”<br />

(inciso III). Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se como b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong> a or<strong>de</strong>m socioeconômica e<br />

o sist<strong>em</strong>a financeiro que é um b<strong>em</strong> jurídico supraindividual (ou coletivo), concluir-se-<br />

ia que to<strong>do</strong>s os <strong><strong>de</strong>lito</strong>s <strong>de</strong> “<strong>lavag<strong>em</strong></strong>” <strong>de</strong> capitais afetam tal or<strong>de</strong>m econômica-<br />

financeira. Logo, to<strong>do</strong>s seriam da competência da justiça fe<strong>de</strong>ral. Isso significa que o<br />

inquérito policia seria atribuição da política judiciária fe<strong>de</strong>ral. 130<br />

Conclui-se então, que a competência da justiça estadual será por sua vez,<br />

uma competência residual.<br />

A respeito da competência enten<strong>de</strong> a jurisprudência <strong>do</strong> Superior Tribunal <strong>de</strong><br />

Justiça:<br />

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. LAVAGEM DE DINHEIRO, SONEGAÇÃO FISCAL<br />

ETRÁFICO DE DROGAS. AÇÃO PENAL NA JUSTIÇA ESTADUAL. DECLINAÇÃO<br />

DECOMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. IMPETRAÇÃO DE HABEAS<br />

CORPUSCONTRA O JUIZ DE DIREITO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.<br />

QUESTÃOSUPERADA COM O JULGAMENTO DO CC N.º 57.838/MS.<br />

1. Após o julgamento <strong>do</strong> CC n.º 57.838/MS pela Eg. Terceira Seção, resta prejudica<strong>do</strong> o<br />

exame <strong>do</strong> presente conflito <strong>de</strong> competência, b<strong>em</strong> como <strong>do</strong> respectivo habeas corpus na<br />

instância a quo, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista o aproveitamento daquela <strong>de</strong>cisão que reconhece a<br />

competência <strong>do</strong> Juízo Fe<strong>de</strong>ral da 3ª Vara <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> - SJ/MS para processar e julgar<br />

os feitos conexos, cuja situação fática foi exaustivamente examinada naqueles autos.<br />

2. Conflito <strong>de</strong> competência julga<strong>do</strong> prejudica<strong>do</strong>, b<strong>em</strong> assim o habeas<br />

corpus a ele relaciona<strong>do</strong>. (STJ, CC 51139⁄SP – Relatora Ministra Laurira Vaz – Órgão<br />

Julga<strong>do</strong>r: terceira seção – 26.04.2006 – Publicação: 15.05.2006)<br />

O Conselho da Justiça Fe<strong>de</strong>ral, por meio da resolução nº. 314/2003,<br />

recomen<strong>do</strong>u aos Tribunais regionais Fe<strong>de</strong>rais que especializass<strong>em</strong> varas fe<strong>de</strong>rais<br />

criminais com a competência exclusiva ou concorrente para o processamento e<br />

julgamento <strong>de</strong> crimes contra o Sist<strong>em</strong>a Financeiro Nacional e <strong>de</strong> “<strong>lavag<strong>em</strong></strong>” ou<br />

ocultação <strong>de</strong> bens direitos e valores (art. 1º). 131<br />

Sobre este t<strong>em</strong>a é o entendimento <strong>do</strong> tribunal Regional Fe<strong>de</strong>ral da 3 Região:<br />

PENAL. PROCESSO PENAL. SISTEMA. FINANCEIRO.LAVAGEM DE CAPITAIS.<br />

COMPETÊNCIA.VARAS ESPECIALIZADAS.PROVIMENTO N.238 DO CONSELHO DA<br />

JUSTIÇA FEDERAL DA 3. REGIÃO. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE<br />

RESPEITANDO.NORMA QUE BUSCA SEU FUNDAMENTO DE VALIDADE NA<br />

RESOLUÇÃO N. 314 DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL E NO ARTIGO 12 DA LEI<br />

5.010/66. NORMAS CONTITUCIONAIS RELATIVAS A COMPETÊNCIA<br />

130 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra <strong>de</strong>; GOMES, Luiz Flávio. Op. Cit., p. 354.<br />

131 SANCTIS, Fausto Martin <strong>de</strong>. Op. Cit., p. 61.


RESPEITADAS.PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL PRESENTE.COMPETÊNCIA “RATIONE<br />

MATERIE” DE CARÁTER ABSOLUTO.INTERESSE PÚBLICO.RECURSODESPROVIDO.<br />

A competência “ratione matéria” é <strong>de</strong> caráter absoluto, assim entendida aquela on<strong>de</strong><br />

prepon<strong>de</strong>ra o interesse público. Neste caso o <strong>de</strong>srespeito a essa regra <strong>de</strong> competência<br />

geraria nulida<strong>de</strong> também absoluta. Acrescente-se que o interesse público, no caso, encontra<br />

amparo na vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res constituí<strong>do</strong>s <strong>em</strong> ver rápida e eficazmente combatida a<br />

nefasta prática <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> ‘<strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> capitais’, no intuito <strong>de</strong> reaver o <strong>dinheiro</strong> que aufer<strong>em</strong>,<br />

com a prática <strong>de</strong>lituosa, os agentes <strong>do</strong>s crimes antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>scritos na Lei 9.613/98 que<br />

cuida <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> ‘<strong>lavag<strong>em</strong></strong>’ ou ocultação <strong>de</strong> bens, direitos e valores e da prevenção da<br />

utilização <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a financeiro para o cometimento <strong>do</strong>s ilícitos ali previstos. (Rec <strong>em</strong><br />

Senti<strong>do</strong> estrito n. 3820 – PR. 2004.61.002148-8, 5. turma, rel. Dês, Fed. Ramza tartuce,<br />

DJU <strong>de</strong> 07.06.2005, p. 392).<br />

Na eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o b<strong>em</strong> jurídico protegi<strong>do</strong> não seja a or<strong>de</strong>m<br />

socioeconômica (é <strong>de</strong> se supor a existência <strong>de</strong> crimes <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> pequena<br />

monta que não chegam a colocar <strong>em</strong> risco o b<strong>em</strong> jurídico supraindividual), então<br />

<strong>de</strong>ve prevalecer a literalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> dispositivo: <strong>em</strong> regra a competência é da justiça<br />

estadual e excepcionalmente da justiça fe<strong>de</strong>ral. 132<br />

Quan<strong>do</strong> surgiu pela primeira vez o assunto sobre a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> os autores<br />

estavam certos <strong>de</strong> que o b<strong>em</strong> jurídico protegi<strong>do</strong> era s<strong>em</strong>pre o da or<strong>de</strong>m econômico-<br />

financeira, mas atualmente isso não po<strong>de</strong> mais ser afirma<strong>do</strong>.<br />

A competência hoje para apreciar o crime <strong>em</strong> questão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> cada<br />

caso concreto, e será <strong>de</strong>cidida essa competência com base no artigo 109 da<br />

Constituição da República se será estadual ou fe<strong>de</strong>ral.<br />

3.4 PROCEDIMENTO<br />

Em <strong>relação</strong> ao procedimento, que é o comum para os crimes puni<strong>do</strong>s com<br />

reclusão, <strong>do</strong> juiz singular, lamenta-se que parte respeitável da <strong>do</strong>utrina pátria t<strong>em</strong><br />

apregoa<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção da <strong>de</strong>fesa preliminar <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os tipos <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong>. 133<br />

O procedimento, por força <strong>do</strong> art. 2.º, inc. I será o comum para os crimes<br />

puni<strong>do</strong>s com reclusão, <strong>do</strong> juiz singular. Lamenta-se a não previsão da chamada<br />

<strong>de</strong>fesa preliminar. 134<br />

Artigo 2.º “ O processo e julgamento <strong>do</strong>s crimes previstos nesta Lei:<br />

132 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra <strong>de</strong>; GOMES, Luiz Flávio. Op. Cit., p. 354.<br />

133 SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da Competência nos <strong><strong>de</strong>lito</strong>s <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Disponível <strong>em</strong>:<br />

. Acesso <strong>em</strong>: 18.05. 2006.


I - obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> às disposições relativas ao procedimento comum <strong>do</strong>s crimes<br />

puni<strong>do</strong>s com reclusão, da competência <strong>do</strong> juiz singular;<br />

II – in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong> processo e julgamento <strong>do</strong>s crimes antece<strong>de</strong>ntes referi<strong>do</strong>s<br />

no artigo anterior, ainda que pratica<strong>do</strong>s <strong>em</strong> outro país. ” 135<br />

A separação <strong>do</strong>s processos v<strong>em</strong> disciplinada no inciso II, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser<br />

interpretada, com cautela, pois a questão prejudicial ostenta-se antece<strong>de</strong>nte lógico e<br />

necessário da prejudicada, cuja solução condiciona o teor <strong>do</strong> julgamento <strong>de</strong>sta,<br />

trazen<strong>do</strong> ainda consigo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se constituir <strong>em</strong> objeto <strong>de</strong> processo<br />

autônomo. 136<br />

“Esta questão po<strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong> processo autônomo, vin<strong>do</strong> a se tornar causa<br />

prejudicial. Em regra, entretanto, a competência submete-se às regras <strong>de</strong> conexão<br />

nos crimes acessórios.” 137<br />

O inciso II, <strong>em</strong> sua primeira parte, estabelece a <strong>autonomia</strong> processual da<br />

“<strong>lavag<strong>em</strong></strong>” <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong>. Assim, ainda que o crime antece<strong>de</strong>nte não tenha si<strong>do</strong> objeto<br />

<strong>de</strong> apuração e julgamento, por ignorada sua autoria ou qualquer outra razão, e<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que indiciadas suficient<strong>em</strong>ente sua existência material b<strong>em</strong> como sua<br />

vinculação ao objeto <strong>de</strong> “branqueamento”, será possível ao Ministério Público a<br />

propositura da respectiva ação penal pública. 138<br />

A parte final <strong>do</strong> dispositivo, também indissociavelmente relacionada à<br />

<strong>autonomia</strong> <strong>do</strong> crime estuda<strong>do</strong>, reconhece a possibilida<strong>de</strong> da ocorrência, <strong>em</strong> território<br />

nacional, da legitimação <strong>de</strong> ativos originários <strong>de</strong> crimes primários cometi<strong>do</strong>s no<br />

exterior. 139<br />

Portanto, qualquer que seja a nacionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s produtos <strong>do</strong> crime, o <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> po<strong>de</strong>rá afetar o sist<strong>em</strong>a financeiro e a or<strong>de</strong>m econômica nacionais. 140<br />

134 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra <strong>de</strong>; GOMES, Luiz Flávio. Op. Cit., p. 354.<br />

135<br />

MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p. 111.<br />

136<br />

PITOMBO, Antônio Sergio <strong>de</strong> Moraes. Op. Cit., p. 125.<br />

137<br />

I<strong>de</strong>m<br />

138<br />

MAIA, Ro<strong>do</strong>lfo Tigre. Op. Cit., p. 111.<br />

139<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 112.<br />

140<br />

I<strong>de</strong>m


4. CONCLUSÃO<br />

O <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> está entre os crimes que envolv<strong>em</strong> as<br />

organizações criminosas, sen<strong>do</strong> a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> um <strong>do</strong>s crimes mais comuns <strong>de</strong>ssas<br />

organizações.<br />

Como é usada <strong>em</strong> alguns países a expressão branqueamento que é a<br />

transformação <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> ilícito <strong>em</strong> <strong>dinheiro</strong> legítimo.<br />

De acor<strong>do</strong> com sua orig<strong>em</strong> histórica o termo <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> nasceu<br />

na China há trezentos anos atrás, on<strong>de</strong> os mercantes da época usavam formas<br />

s<strong>em</strong>elhantes para proteger patrimônios.<br />

Este crime começou a ser configura<strong>do</strong> internacionalmente na década <strong>de</strong> 80,<br />

na luta contra os narcotraficantes.<br />

O <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> capitais compreen<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> operações<br />

comerciais ou financeiras, qual busca a incorporação <strong>de</strong> bens ilícitos na economia<br />

<strong>de</strong> cada país. Recursos estes que serão lava<strong>do</strong>s para ter<strong>em</strong> aparência legal.<br />

Para a transformação <strong>do</strong>s recursos ilícitos <strong>em</strong> lícitos são utilizadas três fases<br />

para se lavar o <strong>dinheiro</strong>, a primeira é a da colocação, <strong>de</strong>pois v<strong>em</strong> a da ocultação e<br />

por último da integração.<br />

A colocação oculta a orig<strong>em</strong> <strong>do</strong> <strong>dinheiro</strong>, o criminoso procura movimentar o<br />

<strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> países que se caracterizam por ser<strong>em</strong> paraísos fiscais, ou seja, com<br />

regras permissivas e com um sist<strong>em</strong>a financeiro liberal e com sigilo bancário<br />

rigoroso.<br />

Depois da colocação v<strong>em</strong> a ocultação que t<strong>em</strong> por objetivo quebrar a ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> evidências, o criminoso busca movimentar o capital <strong>de</strong> forma eletrônica<br />

transferin<strong>do</strong> ativos para contas anônimas, <strong>em</strong> países ampara<strong>do</strong>s por sigilo bancário<br />

rigoroso.<br />

A terceira fase, a integração, on<strong>de</strong> os ativos são incorpora<strong>do</strong>s formalmente ao<br />

sist<strong>em</strong>a econômico, buscan<strong>do</strong> investir <strong>em</strong> <strong>em</strong>preendimentos que facilitam suas<br />

ativida<strong>de</strong>s.<br />

jurídico.<br />

Outro aspecto que <strong>de</strong>ve ser analisa<strong>do</strong> nos crimes <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> é o b<strong>em</strong>


O b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong> no crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> traz gran<strong>de</strong>s<br />

controvérsias na <strong>do</strong>utrina, por não trazer o b<strong>em</strong> jurídico na letra da lei.<br />

Para alguns autores o b<strong>em</strong> jurídico tutela<strong>do</strong> é a or<strong>de</strong>m socioeconômica,<br />

outros diz<strong>em</strong> que é a Administração da Justiça. Há ainda qu<strong>em</strong> diga que este crime<br />

é pluriofensivo, ou seja, ofen<strong>de</strong> as duas coisas.<br />

Há autores que vão além e traz<strong>em</strong> outros tipos <strong>de</strong> b<strong>em</strong> jurídicos tutela<strong>do</strong>s<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, a livre concorrência, como é trazida pelo autor João Carlos<br />

Castellar.<br />

Ainda cabe analisar, outros importantes aspectos <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong>, tais como <strong>de</strong>núncia, crimes antece<strong>de</strong>ntes e as provas indiciárias.<br />

Os crimes antece<strong>de</strong>ntes estão conti<strong>do</strong>s no artigo 1º da lei 9.613/98, aos quais<br />

a <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>dinheiro</strong> vincula-se <strong>de</strong> maneira intrínseca.<br />

Há qu<strong>em</strong> diga que o <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> prévio<br />

cometimento <strong>de</strong> infração penal, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> já ter aconteci<strong>do</strong> crime anterior.<br />

Porém para ocorrer processo e julgamento <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> o artigo 2º,<br />

inciso II da Lei, diz que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> crimes anteriores, bastan<strong>do</strong>, portanto para o<br />

recebimento da <strong>de</strong>núncia, provas indiciárias, ou seja, ainda não categóricas <strong>do</strong> crime<br />

antece<strong>de</strong>nte.<br />

Desta maneira, <strong>de</strong>staca-se o princípio da <strong>autonomia</strong> <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> <strong>lavag<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>dinheiro</strong> <strong>em</strong> <strong>relação</strong> ao crime antece<strong>de</strong>nte e sobre a prova <strong>de</strong> ambos os crime.<br />

A admissão da valida<strong>de</strong> da prova indireta para caracterizar o <strong><strong>de</strong>lito</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>lavag<strong>em</strong></strong> não implica no enfraquecimento das garantias <strong>do</strong> processo penal, pois<br />

<strong>de</strong>verá ser convincente.<br />

Ao final cabe <strong>de</strong>stacar questão da competência, a qual se conclui que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> cada caso concreto, e será <strong>de</strong>cidida essa competência com base no<br />

artigo 109 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>finirá se será estadual ou fe<strong>de</strong>ral.


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