13.05.2013 Views

Versão PDF - CDI - Uneb

Versão PDF - CDI - Uneb

Versão PDF - CDI - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O “terreiro” contém dois espaços com características e funções diferentes: a)<br />

um espaço que qualificamos de “urbano”, compreendemos as construções de<br />

uso público e privado; b) um espaço virgem, que compreende as árvores e<br />

uma fonte, considerado como mato, equivalente à floresta africana...<br />

(SANTOS, J., 2002, p. 217).<br />

Nos estudos de Marco Aurélio Luz (1995), encontramos a descrição da estrutura<br />

topográfica do império Nagô, tal como Mãe Aninha recriou no Ilê Axé Opô Afonj., Neste<br />

espaço, tudo se transcorre em torno do afin, o palácio real, onde se faz o culto a Xangô que<br />

agrega o culto do panteão 6 Nagô. Não nos deteremos a descrever este espaço, visto que ele se<br />

encontra em outro momento desta abordagem, mas o sentido de “mata” que buscamos se<br />

relaciona a esta estrutura.<br />

Em todo o espaço do império Nagô, existe uma relação de acesso permitido ou<br />

negado, por exemplo, na floresta, que fica no fundo do afin, não existe acesso permitido<br />

livremente, é o lugar de resguardo do sobrenatural, logo a “mata” é o lugar do mistério, do<br />

que é invisível, o orun. Esta forma foi por Mãe Aninha preservada no Ilê Opô Afonjá.<br />

Vale ressaltar no conjunto dessas elaborações que:<br />

Mãe Aninha, a Iyá Oba Biyi, marca que a potência exuberante de sua<br />

existência, procurou expressar as várias possibilidades de constituição do<br />

ethos negro no Brasil, numa época cheia de mudanças profundas na<br />

sociedade oficial.<br />

Incluam-se aí a luta pela independência, fim da escravidão, racismo,<br />

genocídio, e exploração da força de trabalho. Há na existência de Iyá Oba-<br />

Biyi, uma tendência radical de afirmação sócio-existencial da identidade<br />

negra, através da implantação e expansão do continuum civilizatório africano<br />

no Brasil. Nesse exemplo tenaz de vida, vimos que a comunidade-terreiro, é<br />

o centro irradiador de valores da tradição, de onde se desdobram formas de<br />

atuação frente à sociedade neo-colonial imposta.(LUZ, N., 2000, p. 217).<br />

Por isso, quando se fala em arkhé africana é importante também destacar a<br />

participação do culto aos ancestrais fundadores da cultura na África. Quando os africanos<br />

chegaram ao Brasil trouxeram consigo a maneira de cultuar seus mortos, Mãe Aninha teve<br />

este cuidado de recriar o lugar do culto aos ancestrais: “O culto aos ancestrais marca<br />

acentuadamente a continuidade transatlântica do processo civilizatório negro.” (LUZ, M.A.,<br />

1995, p.110). Esta foi uma forma de preservar a memória social e de marcar a presença<br />

6 O culto a Xangô compreende o culto aos orixás: Oduduá, Oxalá, Exu, Ogum, Oxossi, Oxum, Iemanjá, Oiá,<br />

Obá, Nanã, Obaluaiê, Oxumaré e outros. Xangô é título dos reis de Oyó, capital do reino Nagô, é também o<br />

princípio do fogo, da justiça e da expansão ininterrupta de vida.<br />

47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!