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mito e tradição em mia couto: sobre o resgate da função do ... - Cielli

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Universi<strong>da</strong>de Estadual de Maringá – UEM<br />

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350<br />

_________________________________________________________________________________________________________<br />

<strong>do</strong>s sonhos <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r-personag<strong>em</strong>. Tal como a ‘terra’ <strong>em</strong> Um Rio Chama<strong>do</strong> T<strong>em</strong>po<br />

uma Casa Chama<strong>da</strong> Terra, o ‘mar’ aqui é a ‘metáfora’ de pátria, <strong>da</strong> ‘nação’, <strong>da</strong> <strong>tradição</strong><br />

perdi<strong>da</strong>, orig<strong>em</strong> maior <strong>do</strong> telurismo <strong>do</strong> personag<strong>em</strong>.<br />

Surge então a razão <strong>do</strong> crime que está sen<strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>. Vasto Excelêncio,<br />

personag<strong>em</strong>-símbolo <strong>da</strong> <strong>tradição</strong> patriarcal, que se rendeu à corrupção e ao poder ao<br />

vender os mantimentos e r<strong>em</strong>édios destina<strong>do</strong>s ao abastecimento <strong>do</strong> próprio asilo que<br />

chefiava, abusa <strong>da</strong> própria filha e bate na própria mulher “aquela mulher que [...] não<br />

era uma simples pessoa. Ela era to<strong>da</strong>s as mulheres, to<strong>do</strong>s os homens que foram<br />

derrota<strong>do</strong>s pela vi<strong>da</strong>” (COUTO, 2007, p. 53). Desfilam a partir de então personagens<br />

diversos que por razões diversas desejam assassiná-lo: o treslouca<strong>do</strong> Navaia Caetano, o<br />

português naturaliza<strong>do</strong> Domingos Mourão e a feiticeira e filha de Excelêncio Nãozinha.<br />

Surge então a ver<strong>da</strong>deira causa <strong>do</strong> assassinato enuncia<strong>da</strong> pela enfermeira <strong>do</strong> asilo,<br />

Marta: “O ver<strong>da</strong>deiro crime que está a ser cometi<strong>do</strong> aqui é que estão a matar o<br />

antigamente... Estão a matar as raízes que permit<strong>em</strong> que fiqu<strong>em</strong>os iguais ao senhor...[...]<br />

Gente s<strong>em</strong> história, gente que existe por imitação” (COUTO, 2007, p. 57). Até que se<br />

descobre que a ver<strong>da</strong>deira razão é “um golpe de esta<strong>do</strong> [...] um golpe contra o<br />

antigamente” (COUTO, 2007, p. 98) origina<strong>do</strong> pelo culpa<strong>do</strong> maior de to<strong>do</strong>s os abusos<br />

“O culpa<strong>do</strong> [...] não é uma pessoa. É a guerra” (COUTO, 2007, p. 121). A ord<strong>em</strong>,<br />

portanto, que ecoa no interior de ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s personagens para consumar a morte de<br />

Excelêncio pode ser resumi<strong>da</strong> no seguinte man<strong>da</strong>mento: “Há de guar<strong>da</strong>r esse passa<strong>do</strong><br />

senão o país fica s<strong>em</strong> chão” (COUTO, 2007, p. 98). Consuma o crime aquele que regula<br />

suas ações no contexto <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> no tom desse man<strong>da</strong>mento,<br />

aquele que, portanto, deixa o som <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> ecoar dentro de si impelin<strong>do</strong>-o a agir <strong>em</strong><br />

nome <strong>da</strong> salvação de uma <strong>tradição</strong> perdi<strong>da</strong>.<br />

Em Antes de nascer o mun<strong>do</strong> é o personag<strong>em</strong> Silvestre Vitalício, construção<br />

metafórica <strong>da</strong> própria natureza “eu sou uma árvore, explicava-se ele” (COUTO, 2009, p.<br />

30), que se apresenta como o guardião <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong> a terra e <strong>sobre</strong> as pessoas que<br />

nela habitam. Silvestre é “o sabe<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des, o solitário adivinha<strong>do</strong>r de presságios”<br />

(COUTO, 2009, p.29), a expressão <strong>do</strong> poder patriarcal, <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong> a terra e<br />

<strong>sobre</strong> a família que se encontra desnortea<strong>da</strong> no mun<strong>do</strong> moderno “meu pai tinha perdi<strong>do</strong><br />

os Nortes”, pois havia se torna<strong>do</strong> uma “árvore s<strong>em</strong> as raízes naturais” (COUTO, 2009,

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