mito e tradição em mia couto: sobre o resgate da função do ... - Cielli
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Universi<strong>da</strong>de Estadual de Maringá – UEM<br />
Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350<br />
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se institui pressupon<strong>do</strong> uma co-participação, uma co-ordenação, um en-contro que<br />
resulta numa hibri<strong>da</strong>ção melódica de intuição e razão, de mistério e clareza, de gênese e<br />
ocaso. Observa<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> perspectiva de sua concretude enunciativa, e, assim sen<strong>do</strong>,<br />
de sua efetivação como linguag<strong>em</strong>, o <strong>mito</strong> é s<strong>em</strong>pre uma harmonização conceitual,<br />
portanto, a con-cepção de um nascer junto, de uma co-tonância de forças, uma<br />
orquestração de tons, de gêneros, uma para<strong>do</strong>xal paródia <strong>da</strong> pureza, uma expressão<br />
composicional híbri<strong>da</strong>.<br />
Na sua efetivação espaço-t<strong>em</strong>poral o <strong>mito</strong> se institui na composição de passa<strong>do</strong> e<br />
presente, presente e futuro ou mesmo passa<strong>do</strong> e futuro. Do ponto de vista espacial, o<br />
<strong>mito</strong> instaura-se enquanto uma estrutura bidimensional potencializa<strong>da</strong>, um espaço<br />
próprio de duplos, de fantasmas e perfis, ilusório e provisório, real e imagina<strong>do</strong>,<br />
pluripontea<strong>do</strong>, pluridimensional e poligonal.<br />
III – O <strong>resgate</strong> <strong>do</strong> ‘Mito’ <strong>em</strong> Mia Couto entendi<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> relação dialética<br />
entre os topoi enunciativos <strong>da</strong> ‘Tradição’ e ‘Moderni<strong>da</strong>de’<br />
O <strong>mito</strong> <strong>em</strong> Couto se mostra a partir <strong>do</strong> confronto de polari<strong>da</strong>des dinâmicas,<br />
s<strong>em</strong>oventes. É uma encenação de máscaras <strong>em</strong> movimento que se consubstancia numa<br />
narrativa de tonali<strong>da</strong>de <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente elegíaca que, como um ponto no centro de uma<br />
esfera, articula uma série de duplici<strong>da</strong>des antagônicas, dentre as quais o ‘passa<strong>do</strong>’ e o<br />
‘presente’ postos <strong>em</strong> movimento pelo narra<strong>do</strong>r. O páthos elegíaco <strong>da</strong> voz narrativa<br />
dirige o olhar <strong>do</strong> leitor por uma selva de imagens para<strong>do</strong>xais e de duplos que ora<br />
surg<strong>em</strong> como antitéticos ora mostram-se como compl<strong>em</strong>entares. O leitor é conduzi<strong>do</strong><br />
<strong>em</strong> direção ao clímax que, proposita<strong>da</strong>mente coloca<strong>do</strong> no fim <strong>do</strong> romance, des<strong>em</strong>boca<br />
numa t<strong>em</strong>ática de cunho existencial na qual o personag<strong>em</strong> principal vê-se impotente<br />
diante <strong>da</strong>s agruras perpetra<strong>da</strong>s pelo destino, agruras essas que se apresentam como<br />
consequência <strong>da</strong> guerra de libertação moçambicana.<br />
Via de regra, Couto compõe seus romances toman<strong>do</strong> por base el<strong>em</strong>entos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
romance fantástico, <strong>do</strong> romance epistolar, <strong>do</strong> romance psicológico e <strong>do</strong> romance<br />
policial, a partir de um tom fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong><strong>do</strong> pelo romance de formação. Se o objetivo,<br />
tal como na tragédia grega, é o de promover uma ‘educação estética <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s’, o