13.05.2013 Views

mito e tradição em mia couto: sobre o resgate da função do ... - Cielli

mito e tradição em mia couto: sobre o resgate da função do ... - Cielli

mito e tradição em mia couto: sobre o resgate da função do ... - Cielli

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Universi<strong>da</strong>de Estadual de Maringá – UEM<br />

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350<br />

_________________________________________________________________________________________________________<br />

‘alma’ 7<br />

(kataV quvmon) <strong>da</strong>quele que a enuncia. Isso confere ao substantivo ‘<strong>mito</strong>’, <strong>em</strong><br />

primeiro lugar, a tarefa de servir de veículo para a expressão de um desejo, de um afeto,<br />

cuja orig<strong>em</strong> se encontra naquele que o expressa, ao contrário <strong>do</strong> que acontece quan<strong>do</strong> se<br />

interpreta ‘<strong>mito</strong>’ simplesmente como ‘épos’, no qual a estória que se conta não possui<br />

explicitamente esse compromisso com a expressão de uma vontade explícita, de um<br />

desejo originário que se enuncie claramente no discurso.<br />

Aquele que ordena quer algo: o cumprimento <strong>da</strong> ord<strong>em</strong>. Aquele que aconselha<br />

deseja que seu dizer, por força de sua experiência ou de seu saber, seja aceito e<br />

cumpri<strong>do</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, aquele que recebe a ord<strong>em</strong> precisa saber acolher esse dizer<br />

<strong>em</strong> sua alma, precisa aceitar o conteú<strong>do</strong> que está sen<strong>do</strong> veicula<strong>do</strong> pela fala e o faz na<br />

medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que reconhece a autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quele que o pronuncia, que reconhece,<br />

portanto, uma superiori<strong>da</strong>de qualquer, seja ela com relação ao saber, à posição social, ao<br />

gênero ou à posição dentro <strong>da</strong> hierarquia de uma família.<br />

No senti<strong>do</strong> aqui coloca<strong>do</strong> por Homero, <strong>mito</strong> é o discurso que põe <strong>em</strong> jogo essa<br />

relação de duplici<strong>da</strong>de existente entre o falante e o ouvinte e que, ao enunciar seu<br />

conteú<strong>do</strong> explicita a relação hierárquica existente entre o falante e o ouvinte. A<br />

depender dessa hierarquia a ‘fala’ ou ‘discurso’ mítico pod<strong>em</strong> tomar conotações<br />

diferentes, ou seja, a depender <strong>da</strong> posição <strong>do</strong> falante com relação ao ouvinte ‘<strong>mito</strong>’ pode<br />

ser traduzi<strong>do</strong> como ‘ameaça’, como ‘ord<strong>em</strong>’, como ‘conselho’, ou mesmo como<br />

‘pedi<strong>do</strong>’, ‘súplica’, ‘d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>’. O termo <strong>mito</strong>, portanto, <strong>em</strong> Homero, não é unívoco, pois<br />

a posição a partir <strong>da</strong> qual o discurso se articula confere uma nova nuance na<br />

hermenêutica gramatical à palavra.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> se entendermos o <strong>mito</strong> como ord<strong>em</strong>, como man<strong>da</strong>mento, como<br />

coman<strong>do</strong>, ele parece estar teleologicamente marca<strong>do</strong> desde a orig<strong>em</strong> como uma espécie<br />

de discurso de autori<strong>da</strong>de com fins práticos que, <strong>do</strong> ponto de vista de sua execução<br />

literária, se consubstancia na expressão de um dizer na forma de um ‘coman<strong>do</strong>’, de uma<br />

‘ord<strong>em</strong>’ ou de um ‘conselho’ advin<strong>do</strong> de Deus, de um herói, de um profeta, de um juiz<br />

ou de um general ou mesmo de um ente familiar que se veja numa posição social que<br />

lhe permita exercer algum tipo de autori<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> fala.<br />

7 Esse uso <strong>do</strong> <strong>mito</strong> no senti<strong>do</strong> de <strong>da</strong>r uma ord<strong>em</strong> também está registra<strong>do</strong> no dicionário de Benseler. Cf.<br />

verbete que trata <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> médio mu~qevomai BENSELER, 1994, p. 525.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!