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mito e tradição em mia couto: sobre o resgate da função do ... - Cielli

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Universi<strong>da</strong>de Estadual de Maringá – UEM<br />

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350<br />

_________________________________________________________________________________________________________<br />

ocorrências <strong>do</strong> uso de ‘<strong>mito</strong>’ tanto no exercício de funções verbais quanto nominais. A<br />

primeira dificul<strong>da</strong>de que se coloca, portanto, é a de definir com precisão quais são as<br />

ações designa<strong>da</strong>s pelos verbos que se relacionam diretamente com a palavra ‘<strong>mito</strong>’ a<br />

partir <strong>do</strong>s escritos de Homero, já que as possibili<strong>da</strong>des s<strong>em</strong>ânticas parec<strong>em</strong> ser<br />

inúmeras. Para os objetivos <strong>do</strong> presente trabalho interessam-me apontar e ex<strong>em</strong>plificar<br />

apenas <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s quatro grupos s<strong>em</strong>ânticos relaciona<strong>do</strong>s com o conceito de ‘<strong>mito</strong>’ a<br />

partir <strong>da</strong> leitura <strong>da</strong> Odisséia homérica.<br />

Os diversos usos <strong>do</strong> verbo muqevw apontam para um campo s<strong>em</strong>ântico no qual se<br />

inser<strong>em</strong> quatro grupos de ações distintas: a) ‘falar’, ‘dizer’, ‘contar’, ‘pronunciar’,<br />

‘discursar’, ‘anunciar’; b) ‘ordenar’, ‘coman<strong>da</strong>r’ e ‘aconselhar’; c) ‘pedir’, ‘suplicar’, e,<br />

por fim, d) ‘planejar’, ‘confabular’, ‘tramar’. O substantivo ‘<strong>mito</strong>’ relaciona<strong>do</strong> com<br />

essas ações apresenta-se como expressão <strong>do</strong> aspecto conclusivo e permansivo <strong>da</strong> ação<br />

de um desses verbos inicia<strong>da</strong> no passa<strong>do</strong>. Por consequência disso, as cargas s<strong>em</strong>ânticas<br />

desse lex<strong>em</strong>a encontram-se <strong>em</strong> relação direta com as ações designa<strong>da</strong>s pelo uso <strong>do</strong>s<br />

verbos que lhes serve de base. Dessa maneira, segun<strong>do</strong> a carga s<strong>em</strong>ântica, pode-se<br />

traduzir o lex<strong>em</strong>a ‘<strong>mito</strong>’ como a) a ‘fala’, o ‘relato’, o ‘discurso’, o ‘anúncio’; b) a<br />

‘ord<strong>em</strong>’, a ‘ameaça’, o ‘coman<strong>do</strong>’, o ‘pedi<strong>do</strong>’ e o ‘conselho’, c) a ‘súplica’, o ‘pedi<strong>do</strong>’<br />

e, por fim d) a ‘trama’, o ‘plano’. Analis<strong>em</strong>os os <strong>do</strong>is primeiros grupos s<strong>em</strong>ânticos.<br />

No verso 422 <strong>do</strong> livro 18 <strong>da</strong> Odisséia, ‘<strong>mito</strong>’ aparece nesse senti<strong>do</strong> de ‘fala’, de um<br />

‘discurso pronuncia<strong>do</strong> oralmente’. “Assim ele falou e seu discurso (mython) agra<strong>do</strong>u a<br />

to<strong>do</strong>s.” 1 A tradução <strong>do</strong> acusativo μῦθον por ‘fala’ aponta para o uso no senti<strong>do</strong> de<br />

‘pronunciar um discurso’, ‘enunciar uma fala’, já que nessa sentença, ‘<strong>mito</strong>’ encontra-se<br />

numa relação de equivalência com o pretérito perfeito <strong>do</strong> verbo fhmiv (falar, dizer) 2<br />

. Há<br />

1<br />

ὣς φάτο, τοῖσι δὲ πᾶσιν ἑαδότα μῦθον ἔειπε. Hom. Od. 18, 422. To<strong>da</strong>s as traduções <strong>do</strong> grego utiliza<strong>da</strong>s<br />

nesse artigo são de minha responsabili<strong>da</strong>de. As citações <strong>do</strong> texto grego de Homero indicam o título <strong>da</strong><br />

obra abrevia<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> número <strong>do</strong> canto e <strong>do</strong> verso a que se faz referência.<br />

2 Aqui parece se esclarecer a razão pela qual se traduziu a palavra grega ‘<strong>mito</strong>’ para o termo latino<br />

‘fabula’. ‘Fabula’ r<strong>em</strong>onta ao étimo in<strong>do</strong>-europeu *bha 2 , que significa originariamente não só ‘fazer<br />

aparecer’, ‘iluminar’, mas também ‘falar’, ‘dizer’. Entendi<strong>do</strong>s os processos de lenização <strong>da</strong> consoante ‘b’<br />

para ‘f’, de alteração <strong>da</strong> metafônica <strong>da</strong> vogal (alteamento) e de epêntese <strong>da</strong> nasal na raiz, não é difícil<br />

observar que esse étimo in<strong>do</strong>-europeu encontra-se na base <strong>da</strong>s palavras gregas fhmiv “eu falo” ou mesmo<br />

de favskw “eu esclareço, eu afirmo, eu acredito”. A equivalência <strong>da</strong> ação de ‘falar’ nas suas variantes<br />

gregas verbais com a palavra latina ‘fabula’ no senti<strong>do</strong> de ‘dizer’ colocam o conceito de ‘<strong>mito</strong>’ como seu<br />

equivalente s<strong>em</strong>ântico. Cf. verbete ‘fabula’ <strong>em</strong> WALDE & HOFMANN, 1938, v. 1, p. 437.

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