18/06/03 TURNO: Vespertino TIPO DA SESSÃO: Ordinári
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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA<br />
REVISÃO E RE<strong>DA</strong>ÇÃO<br />
<strong>SESSÃO</strong>: 119.1.52.O<br />
<strong>DA</strong>TA: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong><br />
<strong>TURNO</strong>: <strong>Vespertino</strong><br />
<strong>TIPO</strong> <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong>: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
LOCAL: Plenário Principal - CD<br />
INÍCIO: 14h<br />
TÉRMINO: 20h<strong>18</strong>min<br />
DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO<br />
Hora Fase Orador<br />
16:00 GE JOSÉ THOMAZ NONÔ<br />
<strong>18</strong>:20 GE PAES LANDIM<br />
<strong>18</strong>:28 GE BASSUMA<br />
20:08 GE FEU ROSA<br />
Observações:
CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />
Ata da 119ª Sessão, em <strong>18</strong> de junho de 20<strong>03</strong><br />
Presidência dos Srs. ...................................................................<br />
ÀS 14 HORAS COMPARECEM OS SRS.:<br />
João Paulo Cunha<br />
Inocêncio Oliveira<br />
Luiz Piauhylino<br />
Geddel Vieira Lima<br />
Severino Cavalcanti<br />
Nilton Capixaba<br />
Ciro Nogueira<br />
Gonzaga Patriota<br />
Wilson Santos<br />
Confúcio Moura<br />
João Caldas<br />
...................................................................<br />
...................................................................<br />
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...................................................................<br />
...................................................................<br />
...................................................................
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />
Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
I - ABERTURA <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong><br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Havendo número regimental,<br />
declaro aberta a sessão.<br />
trabalhos.<br />
Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos<br />
O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.<br />
II - LEITURA <strong>DA</strong> ATA<br />
O SR. ........................................................., servindo como 2° Secretário,<br />
procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual é, sem observações,<br />
aprovada.<br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Passa-se à leitura do expediente.<br />
O SR. ..........................................................., servindo como 1° Secretário,<br />
procede à leitura do seguinte<br />
III - EXPEDIENTE<br />
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passa-se ao<br />
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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Finda a leitura do expediente,<br />
IV - PEQUENO EXPEDIENTE<br />
Concedo a palavra ao Sr. Deputado Paulo Rubem Santiago.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PAULO RUBEM SANTIAGO (PT-PE. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nas últimas semanas temos acompanhado a<br />
repercussão em toda a imprensa escrita do País de aspecto bastante problemático<br />
da atual conjuntura econômica.<br />
Não me refiro à taxa de juros fixada pelo Banco Central, a chamada SELIC,<br />
responsável pela remuneração dos títulos públicos do Brasil. Trato especificamente<br />
da repercussão, que vem crescendo em toda a imprensa brasileira, do verdadeiro<br />
absurdo que hoje representam os juros cobrados por bancos privados e financeiras,<br />
os quais respondem, em grande parte, pela oferta de crédito ao consumo e às<br />
populações de baixa renda.<br />
Procuramos comparar de que forma a indústria, o comércio, os serviços e a<br />
agricultura fixam os seus preços, de que maneira o trabalho assalariado pretende<br />
sua remuneração. Confrontamos cada um desses agentes econômicos com os<br />
agentes econômicos que atuam na esfera financeira, mas isso não é possível. É<br />
absolutamente desigual o padrão de remuneração da oferta de crédito praticada<br />
pelas instituições privadas, espetacularmente por grande número de financeiras que<br />
estão por trás do balcão das lojas comerciais em todos os grandes centros<br />
comerciais urbanos e no interior deste País.<br />
Há poucas semanas, de posse de algumas dessas reportagens em minhas<br />
mãos, conversei com gerentes de lojas comerciais em Recife. Alguns comentaram<br />
que ficavam satisfeitos quando, ao abrir as lojas às 8h, começavam a receber os<br />
clientes. Mas gostariam que, em vez de chegarem lá assalariados, pessoas<br />
humildes que pagam duas vezes o valor de um eletrodoméstico e levam para casa<br />
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apenas um, houvesse uma política de crédito com juros regulados pelas leis<br />
brasileiras, orientados pelo Banco Central, para que não se permitissem taxas como<br />
as que já foram divulgadas recentemente, de até 320% ao ano.<br />
Dizia-nos um desses gerentes de loja comercial na Rua da Concórdia: “Eu<br />
gostaria que vendêssemos 2, 3 vezes mais, mas a nós nos preocupa que aqui<br />
venha o pequeno consumidor, uma família jovem, pessoas assalariadas que, não<br />
tendo renda disponível, se submetem a financiar em 24 meses 1 fogão, 1 geladeira,<br />
1 conjunto de móveis, bens eletrodomésticos, pagando 2 vezes o preço de um<br />
produto”.<br />
Não é a indústria brasileira que ganha com essa política econômica, nem o<br />
comprador, o gerente comercial ou a empresa que vende o eletrodoméstico, o móvel<br />
de sala, o sofá, enfim, os bens necessários à manutenção da família. Ganham os<br />
que especulam com a necessidade do crédito, os que aplicam preços inaceitáveis,<br />
comparando-se com os preços praticados pela indústria, pelo comércio, pela<br />
agricultura e pelo setor de serviços.<br />
Recentemente, na Subcomissão Especial que trata dos spreads bancários e<br />
dos juros praticados no País, vinculada à Comissão de Finanças e Tributação,<br />
fizemos uma comparação: imaginamos o plantador de algodão que trabalha de meia<br />
no sertão do Pajeú, em Pernambuco. Se ele, ao final da sua lavoura, incluir no preço<br />
do algodão o aluguel da terra, o custo da semente, do adubo, da água e da<br />
mão-de-obra, e cismar da cabeça, como dizemos lá, de acrescentar a possibilidade<br />
da seca no ano seguinte, a iminência da volta da praga do bicudo, que poderá<br />
prejudicar sua roça na lavoura seguinte, a velocidade do vento, a temperatura, a<br />
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umidade do ar, enfim, se ele especular dessa forma, como o fazem os bancos com<br />
taxas e spreads inaceitáveis, imaginemos por quanto não sairia o preço do algodão,<br />
do milho, do feijão, dos alimentos neste País.<br />
Queremos expressar nossa indignação. Não podemos admitir que num país<br />
em que a agricultura, a indústria, os serviços, o comércio têm margens tão pequenas<br />
de remuneração na venda de seus produtos e pelos seus serviços, o setor financeiro<br />
continue praticando taxas astronômicas, em alguns casos, como já me referi, de<br />
mais de 320% ao ano. Dessa forma, prejudica-se sensivelmente o crédito à<br />
população, criando-se situações absolutamente desiguais entre os que alugam um<br />
galpão, compram a matéria-prima, põem em atividade sua unidade produtiva, se<br />
especializam na prestação de serviços comerciais, o trabalhador assalariado, os<br />
pequenos agricultores e a empresa rural brasileira. Não há como comparar os<br />
ganhos desses segmentos quando formam seus preços com os absurdos ganhos do<br />
sistema financeiro.<br />
É preciso que na discussão da regulamentação do sistema financeiro, das<br />
taxas de juros e no reordenamento deste País tenhamos uma posição clara de não<br />
permitir a verdadeira usura exercida por essas instituições financeiras, que praticam<br />
juros cada vez mais altos, créditos cada vez mais asfixiantes, e auferem, ao final dos<br />
seus balanços, lucros astronômicos, sem comparação com a atividade econômica<br />
no Brasil.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. LUIZ PIAUHYLINO (PSDB-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, perdemos, em 25 de abril, o emérito professor e<br />
pesquisador José Luiz Barreira Filho, da Universidade Federal de Pernambuco,<br />
instituição a que prestou grande contribuição com o desenvolvimento de trabalho<br />
marcado pelo amor e pela dedicação.<br />
Vida dedicada à produção acadêmica — tanto como professor como,<br />
sobretudo, na área de pesquisa — tem seu início como aluno aprovado em primeiro<br />
lugar no vestibular da Escola de Engenharia de Pernambuco, aos <strong>18</strong> anos de idade.<br />
A Escola de Engenharia foi determinante na sua escolha e no amor pela carreira<br />
acadêmica.<br />
Vale ressaltar que a Faculdade de Engenharia de Pernambuco, fundada em<br />
<strong>18</strong>95, era não só um centro de ensino técnico, mas, sobretudo, um lugar formador<br />
de cidadãos. Reinava naquela “Escola” uma atmosfera mágica, com as<br />
transformações dos anos 60 e com a presença de grandes mestres. O jovem José<br />
Luiz Barreira caracteriza-se pela combinação de uma sólida base técnica e científica<br />
com uma utopia criadora de sonhos ousados e um forte engajamento com o avanço<br />
e desenvolvimento da sua comunidade e do seu País.<br />
Ainda como aluno, inicia suas atividades de ensino na função de monitor da<br />
disciplina de Circuitos Elétricos e Eletromagnetismo do Curso de Engenharia Elétrica<br />
da Escola de Engenharia, em 1966. E, como pesquisador, ainda durante o curso, foi<br />
bolsista do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no<br />
período de março a dezembro de 1966.<br />
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Nesse período, 1966, forma-se um grupo de futuros engenheiros, no qual se<br />
incluía o jovem Barreira, com o sonho de criar um Centro de Energia Nuclear no<br />
Nordeste. Eles conheciam a energia nuclear pelos ecos das explosões de Hiroshima<br />
e Nagasaki e também pelo ensino avançado de alguns docentes das cátedras de<br />
Física e de Matemática. Com o apoio de alguns professores da Faculdade de<br />
Engenharia, esse grupo de estudantes constituiu-se no núcleo inicial do<br />
Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Energia Nuclear<br />
(CENU), que se tornou um importante marco para os desdobramentos nessa área.<br />
V.Exa., Presidente Inocêncio Oliveira, que é atento incentivador da<br />
Universidade de Pernambuco, por muitas vezes, recebeu o Prof. Barreira e deu-lhe<br />
apoio para transformar seu sonho em realidade.<br />
Diploma-se aos 23 anos como aluno laureado de sua turma, confirmando<br />
assim uma vida acadêmica marcada pelo sucesso. Tornou-se especialista em Física<br />
pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o renomado ITA, em São José dos<br />
Campos, caracterizando-se pela apresentação de trabalhos que revelavam<br />
competência e zelo, alguns deles até hoje preservados.<br />
Em janeiro de 1968 foi admitido como professor do Departamento de Energia<br />
Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco e Subchefe do Departamento A do<br />
Instituto de Física daquela universidade, no período de dezembro de 1970 a junho<br />
de 1972. Foi membro de diversas bancas examinadoras em vestibulares, em cursos<br />
de mestrados e, de outubro de 1969 a novembro de 1975, foi Chefe da Dosimetria e<br />
Proteção Radiológica do Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal<br />
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de Pernambuco. O impacto desse trabalho foi imenso — atualmente milhares de<br />
clientes são atendidos.<br />
Continuou seu aperfeiçoamento profissional com a realização de diversos<br />
cursos, alguns, inclusive, no exterior, como, por exemplo, o Radiation Protection, no<br />
Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear,<br />
no Rio de Janeiro.<br />
Defendeu sua tese de mestrado — Determinação de Seções de Choques de<br />
Reações de Limiar dos Tipos (n,p), (n,alfa) e (n,2n), com Nêutrons de 14 MeV para<br />
Nuclídeos Ti, Zn e Zr — em outubro de 1982, obtendo o grau de Mestre em Ciências<br />
e Tecnologia Nuclear, pelo Departamento de Energia Nuclear da Universidade<br />
Federal de Pernambuco, tendo sido aprovado com distinção.<br />
De 1983 a 1986, foi Coordenador-Geral da Pós-Graduação da Pró-Reitoria de<br />
Pesquisa e Pós-Graduação, Coordenador do Curso de Mestrado em Ciências e<br />
Tecnologia Nuclear, Diretor do Centro de Tecnologia e Geociências, Chefe de<br />
Gabinete do Magnífico Reitor, Assessor do Magnífico Reitor e Vice-Reitor da<br />
Universidade Federal de Pernambuco.<br />
Como bem descreve Fernando Menezes Campello de Souza no Memorial de<br />
José Luiz Barreira, “a interdisciplinaridade, com forte interação nas áreas básicas, as<br />
engenharias e a área de saúde, a base científica, a dimensão internacional, o<br />
pioneirismo e o envolvimento do Prof. José Luiz Barreira Filho em todas as frentes<br />
no grande esforço de implantação fizeram com que se tornasse uma pessoa muito<br />
solicitada dentro da universidade. Forjara-se um líder”.<br />
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O Prof. Barreira era um lutador incansável, com profundo espírito humanista,<br />
generoso, de caráter íntegro e com grande amor e dedicação à universidade, que<br />
conhecia profundamente e onde era muito querido por todos: professores, alunos e<br />
funcionários.<br />
Os desafios em sua vida eram permanentes, o que se pode constatar pela<br />
sua luta pela implantação regional da Comissão Nacional de Energia Nuclear<br />
(CNEN). A ação do Centro Regional de Energia Nuclear visa quebrar a falta crônica<br />
de assistência, baseada nos benefícios das modernas tecnologias. Tem por objetivo<br />
produzir radiofármacos e radioisótopos, hoje utilizados numa escala muito reduzida<br />
nas clínicas e hospitais da região, comparativamente ao Sudeste do País.<br />
Atualmente, o Centro Regional de Energia Nuclear encontra-se em fase de<br />
construção, no campus da Universidade Federal de Pernambuco. É a realização de<br />
um sonho que envolve a ciência e as necessidades do cidadão comum, sobretudo<br />
do Nordeste. Era um sonho que o Prof. Barreira infelizmente não viu se concretizar.<br />
Realização que a universidade deve ao incansável professor.<br />
Em sua vida particular José Luiz Barreira foi muito dedicado à família, tendo<br />
sido pai e esposo amoroso.<br />
Foi também Presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, em<br />
Pernambuco, quando fui presidente do partido no meu Estado.<br />
Presto minha homenagem ao ser humano ímpar, homem de caráter íntegro,<br />
que deu enorme contribuição à Universidade Federal de Pernambuco, ao Estado de<br />
Pernambuco e ao Brasil.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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O SR. GERALDO RESENDE (PPS-MS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a Fundação Bill & Melinda Gates, no último dia<br />
29, anunciou que o Programa Brasileiro de AIDS foi selecionado por um júri de<br />
líderes internacionais em saúde pública para receber o Prêmio Gates de Saúde<br />
Global de 20<strong>03</strong>, no montante de US$ 1 milhão.<br />
O programa, considerado um modelo de combate ao HIV/AIDS, garante<br />
acesso gratuito ao tratamento anti-retroviral, com campanhas contundentes de<br />
prevenção.<br />
O prêmio financiará os grupos de base comunitária de atenção a órfãos e<br />
portadores do HIV.<br />
Não bastasse o prêmio, regozija-nos ser o Programa Brasileiro de AIDS<br />
coordenado pelo colega Dr. Paulo Roberto Teixeira, médico sanitarista formado pela<br />
Universidade Federal de São Paulo, sul-mato-grossense e douradense de coração,<br />
que declarou gratidão pelo reconhecimento do compromisso brasileiro com os<br />
direitos humanos básicos dos infectados e afetados pelo HIV/AIDS.<br />
Ora, Dr. Paulo Teixeira, gratos somos nós, pela sua dedicação abnegada e<br />
altruísta. Muito acima de cargos ou remunerações, seu trabalho extrapola a ação<br />
técnica e culmina com uma acentuada responsabilidade social desapegada e rara.<br />
Nascido em Álvares Machado, no interior de São Paulo, mas arraigado em<br />
Dourados, Mato Grosso do Sul, reputado como um dos maiores especialista em<br />
HIV/AIDS do mundo, com vasto currículo, o Dr. Paulo Teixeira, em 1996, chegou a<br />
assumir na ONU o cargo de Consultor Sênior do Programa Conjunto das Nações<br />
Unidas em AIDS para a América Latina e Caribe. Entre suas atribuições estavam o<br />
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planejamento estratégico de ações em HIV e AIDS e o apoio ao desenvolvimento<br />
dos grupos temáticos em países, que desempenhou com grande desenvoltura até<br />
2000.<br />
Porém, o que mais o orgulha foi seu decisivo papel na vitória da disputa<br />
comercial travada com os Estados Unidos no âmbito da Organização Mundial do<br />
Comércio. Os acordos fechados com Merck e Roche (laboratórios internacionais)<br />
reduziram os preços de medicamentos anti-retrovirais em até 60%; a Comissão de<br />
Direitos Humanos da ONU aprovou resolução proposta pelo Brasil sobre acesso a<br />
medicamentos no controle de pandemias como o HIV/AIDS; a Organização Mundial<br />
de Saúde aprovou resolução — baseada em proposta brasileira — em que os<br />
países se comprometem, entre outras coisas, a garantir acesso a tratamento<br />
anti-retroviral a todos os portadores do HIV/AIDS.<br />
É desse homem que estamos tratando.<br />
Hoje o Brasil fornece tratamento gratuito para HIV a aproximadamente 150 mil<br />
pessoas, com redução de 50% na mortalidade e de 60% a 80% nas infecções<br />
oportunistas, números que se refletiram na prevenção de quase 360 mil internações<br />
de 1997 até 2001, resultando em uma economia de mais de US$ 1 bilhão.<br />
Esse tratamento, agora premiado, enfatiza a prevenção ao HIV, faz<br />
aconselhamento e testagem, distribuição de preservativos, campanhas educativas e<br />
programas de tratamento. Por essas ações, foi citado como “o mais claro exemplo<br />
da sinergia potencial entre as iniciativas de prevenção e tratamento”, pelo Grupo de<br />
Trabalho de Prevenção Global ao HIV.<br />
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Para o Dr. William Foege, membro sênior da Fundação Bill & Melinda Gates e<br />
Presidente do Corpo de Diretores do Conselho Global de Saúde, o Brasil salva vidas<br />
e economiza recursos ao mesmo tempo, e isso deve servir de inspiração para os<br />
países ao redor do mundo.<br />
O Dr. Paulo Teixeira e o Ministro da Saúde foram agraciados com o Prêmio<br />
Gates, durante a 30ª Conferência Anual Internacional do Conselho Global de Saúde<br />
— Nosso futuro em território comum: saúde e ambiente.<br />
Como membro desta Casa de Leis e na qualidade de representante do povo<br />
de sua terra, Mato Grosso do Sul, Dourados, rendo-lhe, Dr. Paulo Roberto Teixeira,<br />
nossas homenagens e o mais profundo agradecimento. Parabéns!<br />
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O SR. ANDRÉ ZACHAROW (PDT-PR. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a economia brasileira vive momento de grande<br />
apreensão. Os empresários estão atônitos, principalmente por conta dos elevados<br />
custos financeiros praticados no País e da falta de horizonte seguro para o<br />
desenvolvimento de seus negócios.<br />
Aprovamos e apoiamos as declarações em defesa da classe empresarial<br />
feitas pelo Presidente da Associação Comercial do Paraná, Dr. Marcos Domakoski,<br />
em 4 de junho deste ano, em Salvador, Bahia. Da mesma forma, apoiamos o<br />
conteúdo de sua Carta nº 093, dirigida ao Exmo. Sr. José Alencar, Vice-Presidente<br />
da República, sobre o tema em foco.<br />
Solicito a V.Exa., Sr. Presidente, que autorize a publicação nos Anais da Casa<br />
do discurso e da carta do Dr. Marcos Domakoski, que acompanham meu discurso.<br />
Encerro meu pronunciamento com as palavras do eminente líder trabalhista<br />
brasileiro, o saudoso ex-Presidente Getúlio Vargas:<br />
Muito obrigado.<br />
“O Poder Público deve compenetrar-se de que é<br />
seu dever elementar assistir as fontes de produção. Não<br />
se pode baratear a vida sem aumentar a produção e não<br />
se pode aumentar a produção sem amparar o produtor.<br />
Onde está o interesse do produtor está o interesse do<br />
Brasil”.<br />
DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O ORADOR<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 714 A 714-F)<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. BENJAMIN MARANHÃO (PMDB-PB. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho à tribuna para manifestar minha<br />
preocupação com notícias veiculadas ontem na grande mídia nacional, as quais dão<br />
conta de que a Agência Nacional do Petróleo abrirá nos próximos dias licitações<br />
para prospecção de novas áreas de exploração de petróleo na região conhecida<br />
como Parque Nacional de Abrolhos.<br />
Esse parque foi criado por decreto presidencial no dia 6 de maio de 1983.<br />
Portanto, completou recentemente 20 anos de existência.<br />
Trata-se de área de preservação que merece toda a atenção do Brasil não só<br />
por constituir o maior banco de coral do Atlântico Sul brasileiro, mas também pelo<br />
fato de nela haver espécies ecologicamente endêmicas. Refiro-me aos corais, a<br />
pequenos moluscos, a peixes e, em especial, às baleias jubartes — a região é seu<br />
ponto de acasalamento e criação de filhotes no litoral brasileiro.<br />
O parque é de reconhecida utilidade pública e tem, pelos motivos já<br />
apresentados por mim, a importância de ser considerado um patrimônio não apenas<br />
nosso, mas de nossos filhos e netos.<br />
A área merece ser preservada, pois, além do que já foi dito, é fundamental do<br />
ponto de vista ecológico e da preservação da biodiversidade do País, a qual tem<br />
inclusive implicações financeiras.<br />
A preocupação a que me refiro diz respeito à forma como a ANP fez a<br />
licitação. O Parque Nacional de Abrolhos tem uma área total de cerca de 88 mil<br />
hectares.<br />
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A ANP quer fazer as novas prospeções de petróleo em área afastada apenas<br />
10 quilômetros da região de Abrolhos. Quem conhece a região, como eu conheço há<br />
mais de 10 anos, sabe que é pouco. A maior parte do Parque Nacional de Abrolhos<br />
fica a 70 quilômetros do litoral da Bahia, mais precisamente da cidade de Caravelas.<br />
Apesar dessa distância, ainda recebe poluição vinda do litoral, de fontes poluidoras<br />
em terra firme.<br />
Como o Ministério do Meio Ambiente pode permitir que a prospecção de<br />
petróleo, agressão tamanha a esse ecossistema único, seja feita a apenas 10<br />
quilômetros do parque? Quem não se lembra dos desastres ecológicos causados<br />
por diversos vazamentos de petróleo no Rio de Janeiro, especialmente na Baía da<br />
Guanabara, e das suas conseqüências sobre um ecossistema que não é tão<br />
sensível quando o do Parque Nacional Marinho de Abrolhos?<br />
Nossa preocupação também se reveste de importância ao vermos hoje<br />
reflexos de atitudes omissas do Ministério do Meio Ambiente, como o caso dos<br />
pneus recauchutados importados do Uruguai, em que se abriu uma verdadeira<br />
porteira para que o Brasil se torne a lata do lixo dos pneus reconstituídos da União<br />
Econômica Européia e dos Estados Unidos.<br />
Sr. Presidente, não podemos deixar de nos manifestar sobre o tema. Faço<br />
veemente apelo à Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no sentido de que, como<br />
defensora do meio ambiente — assim construiu toda a sua carreira política, desde<br />
sua humilde origem —, tome posição, para que isso não aconteça.<br />
É nosso dever de Parlamentar fazer com que os que não podem ser ouvidos<br />
— os peixes e os corais de Abrolhos, entre outros — tenham voz neste Parlamento.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Devemos levar esta manifestação ao Ministério do Meio Ambiente, para que<br />
não deixe vingar essa atitude, única e exclusivamente movida por interesses<br />
financeiros. O petróleo é importante para o desenvolvimento do País, mas é preciso<br />
sabermos o preço que teremos de pagar pela auto-suficiência desse produto.<br />
Sr. Presidente, esperamos que se tome outro rumo em relação a essa<br />
licitação internacional da Agência Nacional de Petróleo, que já tem data marcada.<br />
Aguardarmos que seja revista e que o Ministério do Meio Ambiente tome posição<br />
firme em relação à preservação do maior patrimônio do Brasil.<br />
Muito obrigado.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PAULO FEIJÓ (PSDB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é tomado por uma incontida satisfação que<br />
ocupo o plenário desta nobre Casa de Leis para apresentar minhas homenagens<br />
àquela que é uma das atrizes mais importantes do Brasil, a nossa querida Dercy<br />
Gonçalves, que em 23 de junho irá celebrar 96 anos de vida, de uma história rica<br />
formada por superações e aprendizagem, por conquistas e realizações,<br />
compreensão e amizade.<br />
Os laços que me unem à Gonçalves são muitos, e posso destacar como o<br />
mais forte o fato de sermos naturais da mesma cidade, a pequena Santa Maria<br />
Madalena, no interior do Estado do Rio de Janeiro, onde ainda reside parte de meus<br />
familiares, lugar onde preservo vários amigos, isso apesar de ter fixado residência,<br />
há mais de 15 anos, na cidade de Campos dos Goytacazes.<br />
A pequena cidade de Madalena tem um orgulho indisfarçável de sua filha<br />
mais ilustre, Dercy Gonçalves, por quem nutre um respeito inabalável, em função do<br />
caráter e da história de vida dessa grande mulher brasileira, dessa pessoa dotada<br />
de personalidade sempre destacada pela honestidade, pela coerência e<br />
simplicidade, típica de quem entende que viver não é complicado, somos nós que<br />
fazemos a vida assim.<br />
A vida de Dercy se confunde com a trajetória do teatro, do cinema e da<br />
televisão brasileira, e foi forjada com determinação, com a fibra e com o espírito<br />
guerreiro, ainda que imberbe, de uma jovem encantada com as artes cênicas, em<br />
uma cidade de pequeno porte, distante dos principais centros do País, como era<br />
Madalena nos idos da década de 20.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Sem rádio, jornais ou cinema, a pequena Madalena se alvoroçava com a<br />
chegada das trupes mambembes. Quando a companhia da atriz veterana Maria<br />
Castro desfilou pela cidade, a jovem Dercy descobriu sua vocação e buscou os<br />
recursos necessários, rifando o terno de um cliente de seu pai, um sério alfaiate,<br />
para acompanhar até a cidade de Macaé os artistas que sobre ela tanto fascínio<br />
exerceram.<br />
A grande Dercy começou sua carreira como cantora, constituindo dupla com<br />
Eugênio Pascoal, com quem percorreu como mambembes cidades do interior dos<br />
Estados de Minas Gerais e São Paulo, notabilizando-se com interpretações de<br />
Malandrinha e Serra da Mantiqueira. Na cidade do Rio, trabalhou na companhia<br />
Jardel Jércolis, contracenou com Jararaca e Ratinho e fez parte das revistas de<br />
Walter Pinto, onde estrelou grandes sucessos. Era o ano de 1932 e Dercy, muito<br />
jovem, já havia trabalhado com artistas importantes, como Duque Miranda e João<br />
Lino. Trabalhou com Jardel Jércolis e virou “estrela”.<br />
Explorando a veia cômica, Dercy fez mais de 50 filmes e montou outras 50<br />
peças de teatro, como Uma Certa Viúva, Coco My Darling, Dona Violante Miranda,<br />
além de adaptações apimentadas de clássicos como Uma Certa Lucrécia e Dama<br />
das Camélias. Na televisão brasileira comandou os programas Vovó Deville e Dercy<br />
Beaucoup, com atuações memoráveis na Rede Globo, em novelas como Deus nos<br />
Acuda.<br />
Fazendo o público rir sem a intenção de chocar, como argumenta a própria<br />
atriz, Dercy Gonçalves é um marco da dramaturgia brasileira, e um patrimônio vivo<br />
da história das artes do País, embora ela mesma abdique dessas condições,<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
buscando viver da mesma forma que sempre viveu, sem desejar contar o tempo,<br />
aproveitando de cada momento o seu instante mais especial, único.<br />
O Brasil não pode prescindir de pessoas como Dercy Gonçalves e é por isso,<br />
nobres colegas Parlamentares, que busco, ainda que humildemente, expor um<br />
pouco de sua trajetória, sua história de vida e dizer que me sinto grato de me<br />
considerar seu amigo, de poder estar ao seu lado e de contar com sua luz, sua<br />
energia.<br />
O que desejamos todos, eu, a cidade de Santa Maria Madalena e, acredito, o<br />
Brasil, é que esse exemplo de vida que é Dercy Gonçalves continue sempre em<br />
nossa companhia, com este vigor que é só seu, com esta dignidade moral que é a<br />
sua maior posse, iluminando um pouco de nossos caminhos com seu riso sincero,<br />
com sua crítica irônica, com sua verve e lucidez, que a idade não rouba, mas<br />
acrescenta em sabedoria.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. ROBERTO GOUVEIA (PT-SP. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, público que acompanha nossos trabalhos na<br />
tarde de hoje, no último domingo, participei do ato de abertura do 12ª ENONG —<br />
Encontro Nacional de ONG/AIDS, juntamente com mais de 800 delegados de todas<br />
as Unidades da Federação e a importantíssima presença dos 3 níveis de Governo: o<br />
Ministro da Saúde, representando o Governo Federal; o ex-Secretário de Saúde do<br />
Estado de São Paulo, Dr. José da Silva Guedes; o Dr. Arthur Kallichman,<br />
representando o atual Secretário Estadual da Saúde; e o Secretário Municipal de<br />
Saúde de São Paulo.<br />
De forma emocionante, foram apresentadas as qualidades do Programa de<br />
Atenção aos Portadores do Vírus HIV, de referência internacional.<br />
Estava também presente o Coordenador Paulo Roberto Teixeira, que viajaria<br />
para Washington com o objetivo de mostrar o que aprendemos com nosso<br />
programa.<br />
A Organização Mundial de Saúde tinha a previsão — é lógico que os números<br />
são apenas uma referência, mas faço questão de dizê-los — de que deveríamos<br />
chegar ao final dos anos 90 com cerca de 1 milhão e 500 mil portadores do vírus<br />
HIV. Conseguimos fechar a década com algo em torno de 700 mil, quase 1 milhão a<br />
menos.<br />
Um dos motivos do sucesso desse programa e de sua vitória tem sido a<br />
participação da sociedade civil e das organizações não-governamentais. Está<br />
acontecendo o 12º Encontro Anual de ONGs, o que comprova o ativismo da<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
sociedade civil organizada com os Poderes Públicos, particularmente na política<br />
pública de saúde.<br />
Para resolver os problemas do País, temos de contar com essa soma,<br />
parceria, cooperação, reforço da sociedade civil organizada, que, mais uma vez,<br />
vem se mostrando efetiva no controle da AIDS.<br />
Um dos pontos centrais do encontro, que iniciou no domingo e termina hoje,<br />
reforça, realimenta, renova o ativismo na área do controle do combate ao vírus HIV e<br />
das doenças sexualmente transmissíveis.<br />
Muito obrigado Sr. Presidente, Deputado Inocêncio Oliveira, Sras. e Srs.<br />
Deputados e público por acompanharem nossos trabalhos nesta tarde.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. JOÃO CORREIA (PMDB-AC. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados, hoje pela manhã, perto do meio-dia, acompanhei pela TV<br />
Câmara debate acalorado entre os Líderes do Governo, Deputado Aldo Rebelo, do<br />
PSDB, Deputado Jutahy Junior, e do PFL, sobre o comício do Presidente da<br />
República. Alguns consideram que S.Exa. tem a língua presa. Mas, às vezes, ela é<br />
solta demais. Que o digam os 300 picaretas da Câmara Federal.<br />
Sr. Presidente, vou fazer algumas confidências. Na condição de Deputado<br />
Federal, sou assinante do Jornal do Brasil, quase exclusivamente para me deleitar<br />
com a coluna de Dora Kramer, que considero fina no estilo e profunda no conteúdo.<br />
Mesmo quando defende o Governo Lula — e já o defendeu mais de uma vez —, ela<br />
o faz com refinamento. Por conseguinte, é inteiramente insuspeita. Por isso solicito<br />
que figure nos Anais da Câmara dos Deputados o texto do artigo O mito da boa<br />
articulação, que escreveu em sua coluna chamada Coisas da Política, na edição de<br />
14 de junho de 20<strong>03</strong> do JB, em que demonstra exatamente a perspectiva da<br />
empáfia dos titulares do Poder nesta Câmara.<br />
A jornalista aponta também, na mesma coluna, o lapso oficial cometido pela<br />
RADIOBRÁS ao não mencionar, em momento algum, a grande manifestação que<br />
reuniu servidores públicos do Brasil inteiro na Esplanada dos Ministérios.<br />
Afirmo também, agora na condição de ser humano e cidadão, que essa<br />
empáfia — que não cabe no texto de Dora Kramer, que não é apologética —<br />
manifesta-se, às vezes, em questões menores.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Sr. Presidente, dia 13 de junho fui ao Clube do Choro de Brasília, uma<br />
espécie de monumento desta Capital, quase como a Catedral ou este Congresso<br />
Nacional.<br />
É difícil conseguir ingresso para assistir a um show. Mas fui até lá com duas<br />
semanas de antecedência e consegui comprá-lo. Nesse mesmo dia eu tinha uma<br />
viagem marcada para 1 hora da manhã. O show, que estava previsto para começar<br />
às 21h30min, começou apenas às 22h40min, ou seja, 1 hora e 10 minutos depois.<br />
Comecei a ficar aflito porque poderia perder meu avião.<br />
Depois fiquei sabendo a razão do atraso do show: o ex-Senador e atual<br />
Presidente da PETROBRAS, Sr. José Eduardo Dutra, um dos patrocinadores do<br />
Clube do Choro, mandou a direção aguardar sua chegada para que só então, com a<br />
sua presença imperial, o show pudesse começar.<br />
Então, 1 hora e 10 minutos depois, o show começou. E S.Sa. não tinha um<br />
motivo importante para se atrasar. Não estava discutindo a Petroquímica, a OPEP,<br />
mas assistindo ao jogo do Botafogo, que, aliás, levou uma pisa do Ceará — coitado<br />
do Botafogo! —, dentro de casa, de 2 a 0.<br />
Ora, Sr. Presidente, isso pode parecer algo jocoso, mas é a verdade. A<br />
empáfia e a arrogância já começam a se apresentar neste prisma: “Não, espera aí,<br />
dá um tempo, deixa o monarca chegar, o rei chegar, para então começar o show”.<br />
Ora, Sr. Presidente, é um ato simples, mas me senti prejudicado, não como<br />
Deputado, mas como cidadão, como espectador daquela beleza. O clarinetista<br />
Paulo Sérgio Santos, excepcional músico carioca, veio para, juntamente com a prata<br />
da Casa, de excepcional qualidade, fazer um show no Clube do Choro de Brasília.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Tive que sair no bem-bom, no meio do show, porque o Sr. Eduardo Dutra,<br />
ex-Senador e atual Presidente da PETROBRAS, estava assistindo a um jogo, a uma<br />
pelada — coitado — do Botafogo, e, por isso, impediu-me de desfrutar, de usufruir<br />
toda a beleza daquele show.<br />
Estou registrando esse fato, Sr. Presidente, pelo seguinte: temo muito pela<br />
arrogância, pelos novos ricos, como diz brilhantemente Dora Kramer, daqueles que<br />
querem reafirmar o seu poder como se ainda não acreditassem no poder que têm.<br />
Diz a comentarista: “Como se inebriados pela conquista do poder, tivessem a<br />
necessidade de reafirmá-lo a toda hora feito dono do dinheiro novo”.<br />
Faço este registro e encareço ao Clube do Choro que, mesmo tendo como<br />
patrocinador importante o Sr. Eduardo Dutra, leve em conta que o dinheiro não é<br />
dele, mas, sim, do público, da PETROBRAS, que está patrocinando tão bem aquela<br />
Casa.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
ARTIGO A QUE SE REFERE O ORADOR<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 726 A 726-A)<br />
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O SR. EDSON EZEQUIEL (PSB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, utilizarei hoje o tempo de que disponho para<br />
fazer uma análise sobre a Área de Livre Comércio das Américas — ALCA.<br />
Naturalmente não tenho a pretensão de analisar o mérito da questão — tarefa<br />
impossível em face da premência de tempo e da profundidade e complexidade do<br />
tema.<br />
discussão.<br />
Entretanto, trata-se de importante e urgente pendência na pauta de<br />
Senão, vejamos, Sr. Presidente. O Brasil ocupa hoje a co-presidência do<br />
processo de negociação, em conjunto com os Estados Unidos da América. Isso<br />
significa que temos de conduzir a negociação com a responsabilidade de coordenar<br />
acordo que transcende a área comercial. Nessa negociação estão envolvidos 34<br />
países do continente, com suas diferentes culturas e grau de desenvolvimento<br />
econômico e social, bem como inegáveis conflitos nos seus reais interesses —<br />
questão de extrema complexidade.<br />
Portanto, utilizando a expressão recentemente empregada pelo Presidente<br />
Lula, diria que esta, sem dúvida, é uma questão que não comporta bravatas ou<br />
fugas, manobras simplesmente protelatórias. Não existe espaço para o simples<br />
refrão “Fora, ALCA”. Precisamos estar preparados para, na mesa de negociações,<br />
dizer claramente quais são as nossas prioridades — até porque não existe a tese<br />
radical ou o temor de que se trate apenas de anexação do Brasil aos Estados<br />
Unidos.<br />
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O risco de um processo que nos traga prejuízos comerciais ou sociais não<br />
aceitáveis, ou até mesmo a perda de parte da soberania nacional, como alguns<br />
pregam, não existe, só existiria se aceitássemos essa situação.<br />
Esse risco, porém, está fora da minha análise. Por quê? Porque temos um<br />
Governo em que confiamos e que saberá, com este Congresso, a quem cabe<br />
ratificar as negociações, defender os reais interesses do Brasil e do seu povo.<br />
Nesse aspecto, Sr. Presidente, saúdo a constituição, no dia de ontem, da<br />
Frente Parlamentar de Acompanhamento das Negociações da ALCA pela<br />
Soberania.<br />
A hipótese negativa existente é aquela em que, ao final do processo, o que<br />
nos for oferecido não seja aceitável em função do que nos for solicitado. Neste caso,<br />
sairíamos da negociação, mas com o argumento consistente de que procuramos<br />
viabilizar o acordo, não fugimos. Se esse não for possível, não será por nossa culpa.<br />
Diria mais: a vantagem do processo da ALCA é que tudo só entra em vigor<br />
depois de totalmente acordado entre as partes.<br />
Não acredito em uma ALCA sem o Brasil. Entretanto, sejamos realistas: os<br />
Estados Unidos da América são o maior mercado do mundo, bem como o nosso<br />
maior mercado. Portanto, sua participação nas decisões do mercado mundial é<br />
inevitável, conseqüentemente, um acordo, em termos adequados, é desejável,<br />
independentemente de nossas posições pessoais com concordância ou não quanto<br />
à política global dos Estados Unidos.<br />
Sabemos que os grupos de temas em negociação são complexos e amplos,<br />
passam por acesso a mercados, investimentos, serviços, compras governamentais,<br />
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solução de controvérsias, agricultura, subsídios, antidumping e medidas<br />
compensatórias, direitos de propriedade intelectual e políticas de concorrência.<br />
Por outro lado, Sr. Presidente, temos diplomatas e profissionais competentes.<br />
O que precisamos é fortalecer uma grande equipe multidisciplinar que, comandada<br />
pelas diretrizes do Governo, em estreita articulação com a sociedade organizada,<br />
possa analisar os diferentes aspectos da negociação e fornecer pareceres para<br />
tomadas de decisões.<br />
O Brasil e suas empresas possuem particular interesse em algumas áreas,<br />
como a de comércio agrícola, siderurgia e têxteis, entre outras. Os Estados Unidos e<br />
outros países naturalmente têm outras prioridades.<br />
O Brasil apresentou recentemente uma proposta, que aparentemente não foi<br />
absorvida pelos Estados Unidos, de negociação por bloco, MERCOSUL mais os<br />
Estados Unidos, a denominada Quatro Países mais Um.<br />
Os Estados Unidos, por sua vez, assinaram em 6 de junho próximo passado<br />
acordo de livre comércio com o Chile, que naturalmente precisará ser ratificado<br />
pelos 2 países. Esse fato terá influência em futuros acordos bilaterais, de blocos ou<br />
da ALCA como um todo. Portanto, precisamos estar atentos aos nichos de<br />
oportunidades no mundo em geral.<br />
Adicionalmente, antes de fecharmos qualquer acordo ou tratado mais amplo,<br />
precisamos lembrar as lições do passado e não descuidar da graduação das etapas<br />
do processo, do sincronismo das ações, das regulamentações que nortearão a<br />
futura operacionalidade e da assimetria de informações entre países de diferentes<br />
graus de conhecimento e desenvolvimento.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Falando especificamente da ALCA, Sr. Presidente, não podemos ter a ilusão<br />
de que em uma negociação como essa, seja possível ter vantagens só para o Brasil,<br />
ou a pretensão de ser mais espertos ou competentes que os Estados Unidos. Como<br />
todo acordo, tem de ser bom para todas as partes envolvidas.<br />
Para terminar, diria o seguinte: nossa grande chance e nosso enorme desafio<br />
é sensibilizar os Estados Unidos quanto ao fato de que um acordo que ofereça<br />
alguma vantagem para o Brasil, ou para o MERCOSUL, ou para os países<br />
emergentes do continente seria uma forma compensatória por perdas passadas e,<br />
muito mais que isso, um investimento verdadeiro dos Estados Unidos em uma<br />
América unida e mais forte.<br />
Era o que tinha a dizer na tarde de hoje, Sr. Presidente.<br />
Muito obrigado.<br />
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A SRA. ANN PONTES (PMDB-PA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos<br />
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, divulgada na semana passada, revelou<br />
que, dos 5.507 Municípios brasileiros, apenas 19 asseguram à sua população uma<br />
escolarização média que corresponda aos 8 anos do ensino fundamental (que vai da<br />
1ª à 8ª série), definidos como obrigatório pela nossa Constituição. Em outros 1.796<br />
Municípios, a escolaridade média da população é inferior a 4 séries concluídas.<br />
Essa pesquisa, intitulada Mapa do Analfabetismo no Brasil, que contou<br />
também com a análise de indicadores do IBGE e do Programa das Nações Unidas<br />
para o Desenvolvimento, mostra que o Brasil possui cerca de 16 milhões de<br />
analfabetos com 15 anos ou mais e 30 milhões dos chamados analfabetos<br />
funcionais, que possuem menos de 4 anos de estudo.<br />
No ranking do analfabetismo, o Brasil está atrás da Argentina, do Chile, da<br />
Costa Rica, de Trinidad e Tobago, do México e da Colômbia, ocupando o fim da fila<br />
no que se refere ao IDH — Índice de Desenvolvimento Humano das Nações<br />
Unidas.<br />
Essas gravíssimas revelações, tornadas públicas nessa pesquisa, mostram<br />
que o analfabetismo precisa ser combatido ou correremos o risco de não conseguir<br />
dar o salto para o futuro, e fazer com que o Brasil alcance um novo papel no cenário<br />
internacional e proporcione um tempo de justiça social para a sua população.<br />
No momento em que o País debate reformas importantes e difunde projetos<br />
de inclusão digital, deparamo-nos com uma realidade ainda mais precária, que nos<br />
obriga a repensar a condição do Brasil.<br />
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A pesquisa também revela que o analfabetismo reforça as desigualdades<br />
regionais e a exclusão social.<br />
Enquanto os 10 Municípios com melhores indicadores quanto ao grau de<br />
instrução estão no Sul e Sudeste, os piores estão no Norte e Nordeste. O Estado do<br />
Pará, com quase 800 mil analfabetos, ocupa o terceiro lugar na Região Norte.<br />
Nesta Casa, em nossa luta constante contra as desigualdades regionais,<br />
aproveito para reforçar a idéia, mais uma vez, de que realidades diferentes<br />
precisam de atenções diferenciadas.<br />
Da mesma forma, a taxa de analfabetismo está diretamente relacionada à<br />
renda familiar: nos domicílios que possuem renda superior a 10 salários mínimos, o<br />
índice é de 1,4%, enquanto nas famílias que possuem renda inferior a um salário<br />
mínimo o índice é de 29%.<br />
Outro grande vilão desse cenário é o trabalho infantil, que aparece como uma<br />
das causas do alto índice de analfabetismo que ainda se abate sobre o Brasil.<br />
Precisamos tornar realidade o dito de que “lugar de criança é na escola”.<br />
Sabemos, no entanto, que não basta dar alfabetização a todos, tampouco<br />
garantir apenas o ensino fundamental, como manda a Constituição, o que por si só<br />
já seria um projeto bastante ambicioso.<br />
Precisamos, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ter ensino público de<br />
qualidade, porque a alfabetização é apenas o início de uma longa jornada quando se<br />
trata de formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.<br />
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Zelar pela qualificação dos professores, garantindo-lhe boa remuneração,<br />
também deverá ser outra importante ação a ser adotada nesta guerra contra o<br />
analfabetismo.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o futuro do País está em jogo. Se<br />
uma ação enérgica não for tomada agora, talvez todos esses projetos, todas essas<br />
reformas sejam em vão.<br />
Não apenas o Executivo, através do Ministério da Educação, como também<br />
esta Casa precisam tomar rédea e consciência do seu papel nesta história.<br />
Por último, Sr. Presidente, gostaria que este pronunciamento fosse divulgado<br />
no programa A Voz do Brasil e no Jornal da Câmara.<br />
Muito obrigada.<br />
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O SR. JOÃO MAGNO (PT-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados, em primeiro lugar, gostaria de fazer uma breve correção nas<br />
palavras um tanto veementes e, ao mesmo tempo, fora do racional e do bom senso<br />
há alguns minutos aqui proferidas por um Deputado do Acre, contra a autoridade<br />
moral e política do Presidente da PETROBRAS, José Eduardo Dutra.<br />
S.Exa. se pauta em fofocas de jornais para vir à tribuna — tribuna que merece<br />
dos Parlamentares posicionamentos, pronunciamentos mais criteriosos, mais<br />
lúcidos para poder contribuir com o debate nacional — tentar adjetivar a autoridade<br />
do Governo Lula sem nenhum fundamento sério.<br />
Portanto, não merece a atenção do povo brasileiro esse tipo de infâmia que<br />
se levanta contra as autoridades deste Governo, legitimamente constituído pelo voto<br />
e que está corrigindo as bandalheiras do passado. Certamente, esse Deputado<br />
compartilhou de algumas delas, porque à frente da verdadeira oposição nunca<br />
esteve.<br />
Sr. Presidente, nesta oportunidade, quero dizer que ainda bem que o<br />
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva desenvolveu, com sua capacidade de líder do<br />
Brasil, o que chama a atenção de muitos países, o atributo da boa convivência. E<br />
neste momento já se levanta do sepulcro aquele que presidiu o País por 8 anos e<br />
agora tenta incriminar o atual Governo por tomar medidas sérias, responsáveis,<br />
patrióticas, que ele próprio não teve capacidade e coragem para tomar,<br />
especialmente no que se refere às reformas.<br />
O Brasil está cansado desse tipo de figuras políticas que se aproveitam de<br />
alguns momentos para se acovardarem. Suas atitudes demonstram que não querem<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
admitir a verdade. Na realidade, eles criaram, com seus atos, nos 8 anos do<br />
Governo passado, as grandes dificuldades que o povo brasileiro está enfrentando.<br />
Portanto, a manifestação do Sr. Fernando Henrique Cardoso certamente está<br />
sendo vista pelo povo brasileiro como uma atitude desesperada dos que já perderam<br />
o bonde da história. O Governo Lula tem enfrentado muitas vezes esse tipo de<br />
situação. De acordo com sua intuição — que é muito própria desta liderança —,<br />
S.Exa. reage com equilíbrio, com firmeza e da maneira necessária. Não pensem que<br />
temos medo de fazer qualquer enfrentamento em defesa de medidas sérias e<br />
necessárias que deveriam ter sido tomadas, mas nunca foram, como a reforma<br />
tributária e a da Previdência.<br />
Assim como nós, o povo brasileiro, em sua simplicidade e sabedoria, sabe<br />
muito bem que este País ficou parado durante 20 anos, que o processo de<br />
privatização realizado durante o Governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso foi<br />
escabroso e levou este País a uma dívida externa perversa. Por isso, o povo<br />
reconhece a autoridade do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o aprova — façam<br />
uma pesquisa hoje no Brasil para verificar o nível dessa aprovação—, sabe da sua<br />
lealdade e da sua sinceridade no trato dos interesses nacionais, o que não<br />
aconteceu com Fernando Henrique Cardoso, que vendeu este País a preço de nada.<br />
Se for feita uma CPI sobre as privatizações feitas durante o seu Governo, veremos<br />
com que esse Presidente compactuou. E agora ele vem tentar algum tipo de<br />
controvérsia nas reformas legítimas que o Presidente Lula conscientemente vem<br />
implementando com a aliança soberana do povo brasileiro. Se as reformas de<br />
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alguma maneira prejudicam a um ou a outro setor, nós, da bancada de apoio ao<br />
Governo, tentamos negociar com esses setores de forma equilibrada e decente.<br />
O ex-Presidente FHC fez o que fez com o nosso País e se mantinha calado,<br />
em silêncio. Agora, aos 5 meses do novo Governo, levanta-se como um fantasma do<br />
sepulcro. Entendo que as posições de S.Exa. não vão causar nenhum impacto no<br />
povo brasileiro, não vão tirar dele a convicção de que acertaram ao dar nas urnas<br />
apoio ao novo Governo e também agora a sua Liderança, que quer conduzir o Brasil<br />
para fora do buraco em que principalmente o Governo Fernando Henrique Cardoso<br />
o meteu.<br />
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O SR. MAURÍCIO RANDS (PT-PE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente<br />
Inocêncio Oliveira, Sras. e Srs. Deputados, a oração do ilustre Deputado João<br />
Magno, que me antecedeu na tribuna, volta-se contra as críticas formuladas pelo<br />
Governo anterior, em pleno período eleitoral, que alegava que, se Governo do PT<br />
viesse a ser escolhido pelo povo brasileiro, não teria competência para administrar o<br />
País e a nossa economia se aproximaria à da Argentina.<br />
A realidade está aí, Sr. Presidente. Em 5 meses de Governo, o Presidente<br />
Lula está colocando o Brasil nos trilhos e começa a implementar no País novo<br />
projeto para combater a desigualdade, a exclusão social e fazer justiça a este povo<br />
que há 500 anos é massacrado por um regime social iníquo.<br />
Agora, Sr. Presidente, na minha querida Recife, o Prefeito João Paulo, do PT,<br />
acaba de dar demonstração de competência administrativa e de responsabilidade na<br />
condução da coisa pública.<br />
Há mais de 10 anos Recife vinha tendo um problema insuperável, o<br />
transporte alternativo. O desemprego, a situação social do povo daquela cidade fez<br />
com que trabalhar no transporte alternativo talvez fosse o último recurso para muitas<br />
pessoas tangidas do mercado formal de trabalho. Essa solução fez com que o<br />
trânsito em Recife se tornasse um caos e que a informalidade grassasse no<br />
transporte público. Com muita coragem, o Prefeito João Paulo e o Secretário Dilson<br />
Peixoto, com o apoio do Governo do Estado, estão propondo novo modelo para o<br />
transporte complementar: as Kombis e as vans vão receber concessões públicas,<br />
por meio de licitações, e serão regularizadas para poderem complementar o<br />
transporte convencional, feito por ônibus. As pessoas que trabalham nesse tipo de<br />
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transporte receberão apoio do Poder Público Municipal caso tenham de deixar esse<br />
serviço.<br />
Medidas severas foram tomadas pelo Prefeito João Paulo, desde a<br />
municipalização do trânsito da Capital até maior rigor no controle da qualidade do<br />
transporte público convencional das empresas de ônibus. Tudo isso demonstra a<br />
competência administrativa e a responsabilidade para com questão fundamental,<br />
que é o trânsito, numa grande cidade como Recife.<br />
Para finalizar, Sr. Presidente, quero manifestar o pesar que toma conta do<br />
povo de Pernambuco. Na semana passada, perdemos 3 grandes pernambucanos<br />
que marcaram a vida política e intelectual do Estado. Eles partiram desta para uma<br />
melhor.<br />
Refiro-me ao cientista político Roberto Aguiar, que, apesar da adversidade<br />
que lhe impôs o destino — ele era deficiente visual —, foi um dos pernambucanos<br />
que mais conquistas obteve na carreira acadêmica. Foi doutor pela University<br />
College, de Londres, diretor da FACEPE e coordenador do Programa Nacional de<br />
Direitos Humanos. Foi um dos grandes intelectuais de Pernambuco.<br />
Deixo registrado o profundo pesar de todo o povo do meu Estado pelo<br />
desaparecimento do querido e saudoso Roberto Aguiar.<br />
Na mesma semana, Pernambuco perdeu 2 outros grandes pernambucanos.<br />
Um deles, ex-Senador da República, representante do Estado no Congresso<br />
Nacional, Antônio Bezerra Baltar.<br />
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Exemplo de engenheiro e homem público, vanguardeiro na questão do<br />
desenvolvimento urbano, também deixa incompletável lacuna no cenário político e<br />
intelectual do Estado.<br />
Finalmente, meu voto de pesar, que toma conta de todos nós,<br />
pernambucanos, pelo desaparecimento do Dr. Públio Calado, Deputado Constituinte<br />
de 1946, grande sacerdote da Igreja Católica e intelectual pernambucano que deixa<br />
profundas saudades. Públio Calado deixa filhos, como Carlos Calado, que tem<br />
honrado a militância do Partido dos Trabalhadores e a classe dos advogados<br />
pernambucanos na luta inesgotável pela justiça social e pela construção de novos<br />
tempos para Pernambuco e para o Brasil.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. OSVALDO REIS (PMDB-TO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Deputado Inocêncio Oliveira, Sras. e Srs. Deputados, novamente venho<br />
a esta tribuna manifestar meu apoio às propostas apresentadas nas reformas<br />
tributária e previdenciária, pois elas representam o desejo de retomada do<br />
crescimento do País, de geração de renda e de criação de novos postos de trabalho<br />
para toda a população.<br />
Em conjunto com meu partido, nossa postura é de independência quanto a<br />
alguns pontos que ainda se caracterizam como divergentes e em debate pela<br />
população brasileira.<br />
O Presidente Lula, eleito com expressivo apoio popular, visualiza a<br />
necessidade de o Brasil crescer. Sua intenção é a de promover a desconcentração<br />
de renda, a geração de empregos e a redução da miséria.<br />
Aprovar a reforma da Previdência é fundamental para a saúde do País.<br />
O financiamento, que está quase atingindo a proporção de um contribuinte<br />
para um beneficiário, ameaça implodir todo o sistema.<br />
A intenção do Poder Executivo de unificar a previdência do setor público e<br />
privado, adotar um teto para os proventos e instituir a previdência complementar é<br />
bastante clara — e essas medidas não mais podem ser prorrogadas.<br />
Nosso pensamento, entretanto, é contrário àqueles pontos que ferem o<br />
princípio do direito adquirido, pois é condição primordial para o cidadão a<br />
preservação do princípio universal, respeitado em todo o mundo.<br />
As dívidas milionárias que o Instituto Nacional de Seguridade Social — INSS<br />
não consegue receber, o pagamento de benefícios e as renúncias previdenciárias<br />
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fazem com que o Governo deixe de arrecadar, só no ano de 20<strong>03</strong>,<br />
aproximadamente 11,8 bilhões de reais. A proposta de reforma precisa canalizar sua<br />
atenção para esses casos.<br />
Os grandes devedores têm de pagar suas dívidas parra com a Previdência, e<br />
a cobrança deve ser mais eficaz; é preciso combater os sonegadores, criar um<br />
programa de inclusão dos 40 milhões de brasileiros que estão na informalidade e<br />
não contribuem para com o INSS.<br />
As renúncias previdenciárias, por exemplo, beneficiam alguns setores da<br />
sociedade: empregadores rurais, entidades filantrópicas, pequenas e<br />
microempresas, empregadores domésticos, clubes de futebol e empresas<br />
exportadoras.<br />
As entidades filantrópicas gozam do privilégio de total renúncia previdenciária,<br />
pois prestam serviços de assistência social. Essas instituições, portanto, não<br />
recolhem a contribuição patronal destinada à Previdência.<br />
Os outros setores mencionados recebem tratamento diferenciado: contam<br />
com alíquotas mais baixas.<br />
Os empregadores rurais podem contar ou se beneficiar 2 vezes com as<br />
renúncias, uma vez que esse tipo de empresa não contribui sobre a folha de<br />
pagamento, mas, sim, sobre o valor dos produtos comercializados.<br />
Empresas e pessoas físicas devem atualmente a exorbitante quantia de 611<br />
bilhões de reais em tributos que não foram recolhidos aos cofres da União. O<br />
Governo tem a total convicção de que nunca verá boa parte desse dinheiro, cuja<br />
recuperação é missão praticamente impossível.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Somente os débitos de impostos e contribuições administrados pela Receita<br />
Federal somam 458 bilhões de reais.<br />
Diante desses fatos, Sr. Presidente, é evidente a necessidade de que sejam<br />
criadas resoluções proibitivas para esses grandes devedores, no sentido de impedir<br />
que eles consigam rolar suas dívidas. É igualmente necessário estabelecer critérios<br />
jurídicos para impedi-los de adquirir novos financiamentos, evitar que obtenham<br />
benesses e outros privilégios, acabar, enfim com esse tratamento diferenciado,<br />
como se os grandes devedores fossem especiais, pois devem e não pagam,<br />
enquanto o contribuinte é acossado dia a dia com a exorbitante cobrança de<br />
impostos.<br />
É preciso cobrar desses devedores, não deixar brechas na lei para que,<br />
habilmente, eles possam vir a usufruir dos recursos de defesa para o não-<br />
pagamento de suas dívidas.<br />
Cobrar de quem deve e acabar com as renúncias previdenciárias é condição<br />
básica de sustentação para o controle da dívida previdenciária no Brasil, apesar de<br />
sabermos que apenas essas medidas não chegam a resolver o problema e não<br />
excluem a necessidade da reforma.<br />
Não é somente tarefa da Casa, mas missão de todos os Parlamentares<br />
ampliar o debate com a sociedade sobre os temas tratados, com a finalidade<br />
precípua de levar o Brasil a caminhar rumo ao progresso e proporcionar à população<br />
vida mais digna em todos os sentidos.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Antes de o próximo orador fazer<br />
uso da palavra, informo ao Plenário que o Pequeno Expediente se encerraria às<br />
15h. Os oradores do Grande Expediente são os Deputados que tiveram seus<br />
pronunciamentos transferidos para a tarde de hoje.<br />
Ainda falarão no Pequeno Expediente os Srs. Deputados Luiz Carlos Hauly,<br />
Eduardo Valverde e Luciana Genro. Os demais Parlamentares terão oportunidade<br />
de dar seus pronunciamentos como lidos.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao nobre<br />
Deputado Luiz Carlos Hauly.<br />
O SR. LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, semana passada, o movimento dos funcionários<br />
públicos federais, estaduais e municipais tomou conta de Brasília. A discussão era<br />
sobre a reforma da Previdência, e, no plenário, sobre o aumento salarial de 1%,<br />
concedido pelo Governo do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.<br />
Estamos percebendo a enorme revolta dos funcionários públicos do País<br />
contra o Presidente Lula e o PT, o que não é bom.<br />
Ontem à noite, no Jornal Nacional, pude perceber a preocupação do<br />
Presidente Lula. Durante entrevista concedida em Pelotas, no Rio Grande do Sul,<br />
S.Exa. demonstrou enorme instabilidade emocional diante das responsabilidades.<br />
Hora é taxa de juros, outra, reforma da Previdência, reforma tributária, reforma<br />
política, ajustes das contas, compromissos do Governo, alto nível de desemprego,<br />
além das propostas que ainda não foram implementadas. S.Exa. não consegue<br />
conter o desemprego. Realmente, o Presidente da República não se encontra diante<br />
de uma boa situação e, como brasileiros, nós nos preocupamos também.<br />
Sou Deputado — hoje na Oposição — de postura firme e dura, e não poupo<br />
críticas quando precisam ser feitas. Quero demonstrar minha preocupação. Espero<br />
que S.Exa. retorne aos trilhos e coloque as coisas no eixo. Estamos aqui para<br />
contribuir com o País. Desejo, principalmente, a realização da reforma<br />
previdenciária, assim como o Brasil também, mas uma reforma que seja realizada<br />
dentro de um critério de justiça e que não fira direitos dos funcionários públicos.<br />
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Tenho uma proposta alternativa, completa e geradora de emprego e renda,<br />
infinitamente melhor que a proposta enviada pelo Governo e muito melhor do que a<br />
situação em que se encontra o sistema tributário brasileiro. É verdade que, nos<br />
últimos anos, nada foi feito.<br />
O que se fez foi agravar o sistema. E a situação proposta é de agravamento<br />
da situação também. Aliás, o Brasil não cresce de forma continuada e permanente,<br />
por várias razões. A principal delas é a questão tributária; a segunda, a taxa de<br />
juros; depois, o Custo Brasil.<br />
Sr. Presidente, o Brasil precisa realmente fazer uma reforma tributária. Não é<br />
somente o Presidente Lula que deseja essa reforma. S.Exa. vai ser beneficiário com<br />
o crescimento da economia do País. Se fizer a reforma tributária como estou<br />
propondo, fruto de estudo de muitos que passaram os últimos 15 anos neste<br />
Congresso Nacional, sempre ouvindo todos, faremos uma reforma tributária simples<br />
e colocaremos o Brasil bem próximo do sistema tributário americano e europeu. Aí,<br />
sim, o País vai crescer de forma sustentada. E o Governo Lula vai ser beneficiário,<br />
porque é ele que está no poder. A proposta que estamos fazendo para o Brasil visa<br />
à geração de empregos. Esta é a única saída para o Brasil. E com salário, com<br />
emprego, com riqueza, vêm mais impostos e aí a solução do problema social do<br />
País.<br />
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />
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A SRA. DRA. CLAIR (PT-PR. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputadas, quero parabenizar o Congresso Nacional, a<br />
Presidência desta Casa e o Colégio de Líderes pelo apoio à criação da Comissão<br />
Parlamentar de Inquérito destinada a apurar a remessa ilegal de divisas do País, em<br />
especial, os 30 bilhões desviados para o exterior entre os anos de 1996 e 1999, por<br />
meio do BANESTADO, antigo Banco do Estado do Paraná, privatizado em outubro<br />
de 2000.<br />
As irregularidades verificadas no mencionado caso são muitas. Estamos<br />
falando, repito, de cerca de 30 bilhões de dólares — possivelmente até mais —<br />
relativos à lavagem de dinheiro por meio de contas CC-5, de não-residentes no País,<br />
geralmente abertas em nome de casas de câmbio paraguaias. Após passarem pela<br />
fronteira brasileira, os recursos eram enviados para contas de doleiros abertas na<br />
agência do BANESTADO em Nova Iorque e distribuídos a outras contas existentes<br />
em paraísos fiscais. Essas contas podem ter ligações com narcotraficantes,<br />
contrabandistas e sonegadores de impostos.<br />
Esse tipo de conta costuma ter nome de fantasia ou pertencer a empresas<br />
com ações ao portador, sede virtual em paraísos fiscais e sem registros sobre seus<br />
proprietários — são as chamadas offshore —, o que deve ser apurado pelas<br />
autoridades e pelo Parlamento brasileiros.<br />
Há muitas investigações a serem feitas. Estamos tentando pôr o Brasil em um<br />
novo rumo, identificar e mostrar as irregularidades, para que elas não mais<br />
aconteçam. A violência hoje existente no País também é oriunda das operações que<br />
financiam o narcotráfico. De outro lado, se diminuirmos ainda que minimamente a<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
corrupção no Brasil, já estaremos dando grande passo rumo ao desenvolvimento do<br />
País e à melhora da vida da população, pois sobrará recursos para a educação, a<br />
saúde, a habitação.<br />
Nos últimos dias os jornais noticiaram que a direção do BANESTADO em<br />
Curitiba sabia das operações da agência de Nova Iorque. Um ex-gerente da agência<br />
de Nova Iorque afirmou que relatórios sobre as operações eram enviados<br />
diariamente para a sede do banco e que o pessoal que trabalhava nos Estados<br />
Unidos tinha total dependência operacional e administrativa da matriz. Há, porém,<br />
quem diga que o acompanhamento cotidiano da agência de Nova Iorque não existia.<br />
Essas contradições devem ser apuradas.<br />
Por isso a importância dessa CPI para ajudar a esclarecer os fatos e avaliar<br />
os prejuízos ocasionados ao país. Temos de dar uma satisfação à população acerca<br />
do que acontece no Brasil. Imaginem 30 bilhões de dólares investidos no Brasil em<br />
obras de grande alcance social, que resultado haveria para toda a sociedade!<br />
O Parlamento pode ajudar a realizar as investigações sobre a remessa ilegal<br />
de divisas do País e não deve ficar omisso diante desse fato de grande interesse<br />
social. Daí por que saúdo a independência do Presidente desta Casa, Deputado<br />
João Paulo Cunha.<br />
Desejo contribuir com meu trabalho para tal investigação e oferecer à<br />
sociedade e ao Governo medidas para punir os responsáveis, além de apresentar<br />
outras providências saneadoras para coibir a prática de atos que visem à remessa<br />
ilegal de divisas do País e, se possível, esclarecer o vínculo dessas operações<br />
financeiras com o narcotráfico.<br />
Muito obrigada, Sr. Presidente.<br />
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O SR. EDUARDO VALVERDE (PT-RO. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, comunico neste momento a provável tragédia<br />
que poderá ocorrer no sul da Bahia se for cumprida a ordem judicial dada pelo Juiz<br />
Federal Pedro Hollyday, que concedeu liminar à ação cautelar impetrada pelos<br />
pretensos proprietários de determinada localidade. Consoante laudo antropológico<br />
da FUNAI, aquelas terras são o local de origem dos povos pataxós.<br />
Tal imbróglio se dá em função de ação instaurada por fazendeiros há 20<br />
anos, que hoje se encontra parada no Supremo Tribunal Federal, na mão do<br />
Ministro Nelson Jobim, que protelou ainda mais a decisão que definiria se o laudo<br />
antropológico feito pela FUNAI estava correto.<br />
Pedimos à Polícia Federal que adie a execução da medida, para que o<br />
recurso impetrado pela Advocacia-Geral da União e pela FUNAI seja reavaliado pelo<br />
Supremo Tribunal Federal, que irá julgar se a decisão do juiz local está amparada<br />
pela lei.<br />
Apelo para a Polícia Federal no sentido de adiar o cumprimento da citada<br />
ordem judicial, a fim de que o Supremo Tribunal Federal avalie com cuidado os<br />
recursos impetrados pela AGU e de que seja recuperado o direito original do povo<br />
pataxó, que tem no sul da Bahia o seu lar e o seu hábitat natural.<br />
Sr. Presidente, repito: solicito ao Governo Federal, à Polícia Federal e ao<br />
Ministro da Justiça o adiamento da execução da liminar até que os recursos<br />
impetrados pela Advocacia-Geral da União sejam reavaliados, a fim de cassar de<br />
forma definitiva a liminar. Das 11 liminares concedidas pelo juiz local, 5 foram<br />
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cassadas, o que demonstra a precariedade da base legal de que aquele juiz tem-se<br />
valido para ordenar os despejos.<br />
Peço à Câmara dos Deputados que fique atenta ao fato, porque, se for<br />
cumprida a liminar da forma como está redigida, tal ação poderá resultar em morte<br />
sangrenta no sul da Bahia.<br />
Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a tolerância pelo tempo excedido, e peço a<br />
todos que compõem a Frente Parlamentar em Defesa da Causa Indígena que se<br />
mobilizem, para que não se pratique esse covarde ato, contrário aos interesses dos<br />
povos indígenas.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Esta Presidência informa que,<br />
entre a intervenção do primeiro orador do Grande Expediente, que vai viajar para<br />
seu Estado, fará um intervalo, a fim de passar a palavra, por 3 minutos, à Deputada<br />
Luciana Genro e aos Deputados Augusto Nardes, José Thomaz Nonô e Luiz Couto.<br />
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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao Sr.<br />
Deputado Mauro Benevides.<br />
O SR. MAURO BENEVIDES (PMDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, uma das mais prósperas comunas da região do<br />
Cariri, a cidade Crato, iniciou o cumprimento de vasta programação para assinalar o<br />
transcurso dos 239 anos de sua criação, evento que merece o maior realce, uma<br />
vez que encarna luta permanente em favor do desenvolvimento socioeconômico do<br />
nosso Estado.<br />
A 540 quilômetros de nossa Capital, Crato tornou-se, pelo valor de sua gente,<br />
pólo de irradiação cultural do interior cearense, contribuindo, significativamente, para<br />
engrandecer o Nordeste, defendendo as nossas causas mais justas e legítimas.<br />
Como berço natal do Padre Cícero Romão Batista, aquela urbes é sede de<br />
uma diocese, integrante de nossa província eclesiástica, estando à frente de seus<br />
destinos Dom Fernando Panico, que antecedeu na Cúria prelados do porte de Dom<br />
Francisco de Assis Pires, Dom Vicente de Araújo Matos e Dom Newton Gurgel —<br />
todos com inestimáveis serviços prestados à coletividade cristã do vale caririense.<br />
Ressalte-se que ali a Universidade Regional do Cariri — URCA tornou-se<br />
esteio de nossa vida acadêmica, formando sucessivas gerações para enfrentar os<br />
desafios de um competitivo mercado de trabalho.<br />
Como chefe da municipalidade encontra-se o Prefeito Walter Peixoto,<br />
reconduzido ao cargo em razão do prestígio que desfruta entre os seus<br />
jurisdicionados.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Mais recuadamente, o gestor máximo daquela edilidade foi o competente<br />
médico Humberto Macário de Brito, transformado em autêntica legenda de dignidade<br />
e dinamismo, qualidades que pôs à mostra também no plano estadual, quando da<br />
profícua administração do saudoso Governador Virgílio Távora, exercendo funções<br />
de inquestionável relevo.<br />
Durante a última campanha eleitoral, participei de comícios e reuniões ao lado<br />
de Humberto Macário e de seu filho George, que desponta com amplas<br />
possibilidades de manter íntegra a imagem de seu pai, aureolada por notáveis<br />
empreendimentos em favor do povo cratense.<br />
As várias emissoras sediadas naquela urbes estão divulgando a extensa<br />
programação dos 239º aniversário, motivando todos os segmentos sociais para<br />
abrilhantarem as inúmeras promoções, ontem principiados numa concorrida sessão<br />
no Palácio Alexandre Arrais, sede da Prefeitura local.<br />
No próximo sábado, data exata da auspiciosa efeméride, as comemorações<br />
assumirão maior dimensão e abrangência, com presença das mais expressivas<br />
lideranças políticas, empresariais e comunitárias.<br />
Saúdo, Sr. Presidente, o 239º aniversário de Crato, homenageando todos<br />
quantos, ao longo destes mais de 2 séculos, construíram a grandeza de um dos<br />
mais tradicionais Municípios do Ceará, que soube se impor à admiração e ao<br />
respeito de todos os nossos irmãos do Nordeste.<br />
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O SR. WASHINGTON LUIZ (PT-MA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, estou confiante e acredito na capacidade do Governo Lula para virar a<br />
triste página das obras inacabadas que marcaram os governos anteriores.<br />
Refiro-me, Sr. Presidente, a um projeto de fundamental importância para o<br />
combate à fome e às desigualdades no Brasil, em especial no Maranhão, na região<br />
do Baixo Parnaíba, em que são registrados graves indicadores de pobreza.<br />
Participei, na semana passada, do seminário Projeto Tabuleiro:<br />
desenvolvimento ou desesperança, realizado no Município de Magalhães de<br />
Almeida, à beira do Rio Parnaíba, que nos avizinha do Estado do Piauí.<br />
O evento teve a participação do Poder Público Municipal e Estadual (através<br />
da Gerência Regional), de representantes de trabalhadores rurais, de associações e<br />
da Cáritas Brasileira para avaliar a situação do Projeto de Irrigação Tabuleiros de<br />
São Bernardo, localizado nos Municípios de Magalhães de Almeida e Araioses.<br />
O foco do projeto é a produção de frutas e hortaliças pelo sistema de irrigação<br />
em uma área de 25 mil hectares, com capacidade de geração de 13.980 empregos<br />
diretos e benefícios indiretos a 55.300 habitantes dos Municípios envolvidos,<br />
podendo viabilizar renda mensal familiar de até 5 salários mínimos.<br />
E quero registrar, Sr. Presidente, que o referido projeto está situado na área<br />
de abrangência do Município de Araioses, onde é registrado um dos piores quadros<br />
de pobreza do Brasil. O Município de Araioses, no Maranhão, Sr. Presidente, Sras. e<br />
Srs. Deputados, tem um Índice de Desenvolvimento Humano — IDH de 0,486.<br />
Ocorre, Sr. Presidente, que o Projeto Tabuleiros foi iniciado desde 1987, pelo<br />
extinto Ministério da Irrigação. Até 1999 foram empregados recursos da União na<br />
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ordem de R$ 30.019.828,00 (trinta milhões, dezenove mil, oitocentos e vinte e oito<br />
reais) que correspondem a 47% das obras. E para desesperança das organizações<br />
que compõem o projeto, as obras estão paralisadas desde 1999 e vêm sendo<br />
“empurradas” de Ministério a Ministério sem que haja qualquer solução para o<br />
problema.<br />
O descaso e a irresponsabilidade do Governo anterior, em duas gestões,<br />
levaram à desesperança milhares de famílias de uma das regiões mais pobres do<br />
País, fato denunciado pela mídia nacional como mais um capítulo nefasto das obras<br />
inacabadas.<br />
Agora, Sr. Presidente, é reacesa a chama da esperança da organização dos<br />
produtores responsável pela administração, operação e manutenção do projeto<br />
Tabuleiros de São Bernardo.<br />
É com esta motivação que venho à tribuna trazer as reivindicações dos<br />
companheiros de Magalhães de Almeida, de Araioses, de São Bernardo e de toda a<br />
região do Baixo Parnaíba, somando esforços às organizações sindicais, à Cáritas no<br />
Maranhão e a todos os segmentos interessados em revitalizar o Projeto Tabuleiros,<br />
que objetiva fornecer plena capacidade produtiva à área de 25 mil hectares voltada<br />
para a cultura de frutas e hortaliças.<br />
Destaco que apesar de todas as dificuldades, mesmo sem o sistema de<br />
irrigação, os agricultores do projeto têm cultivado em condição de sequeiro, em<br />
média, 250 hectares por ano.<br />
Mas isso é insignificante diante da magnitude da área de 25 mil hectares e da<br />
capacidade produtiva do projeto.<br />
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A região dispõe de todas as condições para alavancar a produção de frutas e<br />
hortaliças em grande escala, atendendo, num primeiro momento, à demanda do<br />
Programa Fome Zero.<br />
Mas a produção deve ser voltada também para o mercado externo, nacional e<br />
internacional, inserindo o Maranhão no contexto do agronegócio de fruticultura<br />
irrigada.<br />
Beneficiada pela proximidade da fonte hídrica do Rio Parnaíba, a área é<br />
perfeitamente adequada para o cultivo a que se propõe.<br />
Sras. e Srs. Deputados, hoje grande parte das frutas e hortaliças<br />
comercializadas no Maranhão são oriundas de outros Estados, enquanto<br />
desperdiçamos enorme potencial produtivo.<br />
Além disso, Sr. Presidente, o Projeto Tabuleiros de São Bernardo pressupõe<br />
um modelo de desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente correto,<br />
diferentemente da monocultura de soja que está causando sérios impactos<br />
ambientais na região do Baixo Parnaíba.<br />
O que falta, Sr. Presidente, para que o Projeto Tabuleiros possa produzir?<br />
Ao contrário dos governos anteriores, em que faltava vontade política, no<br />
Governo Lula percebemos grande motivação para incentivar a agricultura familiar e<br />
os pequenos proprietários, bem como parcerias com o setor empresarial produtivo.<br />
É por isso que trago a esta tribuna o pleito dos gestores do Projeto<br />
Tabuleiros, para que seja feita a regularização fundiária, com a titulação dos lotes<br />
aos irrigantes; que sejam criadas as condições para proporcionar assistência técnica<br />
e qualificação dos envolvidos no projeto; que possamos, através do Governo<br />
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Federal, alocar os recursos necessários à segunda etapa do projeto, através do<br />
Banco do Brasil e do Banco do Nordeste, principais agentes financeiros do Projeto<br />
Tabuleiros.<br />
Assim, o Governo Federal, em parceria com os gestores locais, vai possibilitar<br />
a infra-estrutura necessária para a revitalização dessa iniciativa tão importante para<br />
o combate à fome e para a geração de negócios para o Maranhão.<br />
Faço esse pleito para que o Governo Lula, que tem sido tão sensível e<br />
atuante em relação à produção agrícola, revitalize o Projeto Tabuleiros de São<br />
Bernardo. Assim, estaremos transformando desesperança em desenvolvimento!<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. ANTONIO NOGUEIRA (PT-AP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a atitude do Conselho de Ensino, Pesquisa e<br />
Extensão da UnB, ao aprovar a adoção de cotas para negros, é uma das mais<br />
louváveis decisões para o mundo acadêmico. A medida coloca a UnB como a<br />
primeira universidade federal do Brasil a adotar o sistema de cotas para negros.<br />
Assim, a Universidade de Brasília, tal como as universidades estaduais da<br />
Bahia e do Rio de Janeiro, a partir do vestibular de 2004, estará aplicando a<br />
experiência notável de procurar-se corrigir uma das maiores disparidades existentes<br />
no contexto nacional, a quase absoluta exclusão de negros nas universidades, onde<br />
essa representação é de apenas 3%.<br />
A discriminação racial no nosso País tem marcas deixadas por cerca de 300<br />
anos de escravidão negra mediante um esquema de tráfico de seres humanos, um<br />
mecanismo de abolição da escravatura sem levar em conta a necessidade da<br />
instituição de medidas reparadoras das injustiças cometidas, como a lei de terras de<br />
<strong>18</strong>50, que impedia o acesso dos negros a terra.<br />
No campo penal, até 1989 o crime de racismo era tipificado apenas como<br />
uma contravenção. Graças a Deus, demos um passo importante, mudando a<br />
legislação e qualificando-o como crime inafiançável e imprescritível, e quem o<br />
comete fica sujeito à pena de reclusão.<br />
E isso se deve especialmente ao grande trabalho de conscientização<br />
realizado pelos movimentos negros ao longo dos anos — de denúncia e de<br />
propostas. Agora se colhem lentamente, mas com firmeza, os resultados positivos<br />
da tarefa.<br />
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E daí, Sr. Presidente, nobres pares, a existência da Fundação Palmares, os<br />
Programas de Ação Afirmativa dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário, da<br />
Justiça, da Cultura, do Supremo Tribunal Federal — STF e do Tribunal Superior do<br />
Trabalho — TST, além da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial e a<br />
atitude do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nomear o magistrado Joaquim<br />
Benedito Barbosa Gomes, um negro, para ocupar uma das cadeiras na Suprema<br />
Corte do País.<br />
Finalizo, Sr. Presidente, dizendo que levo a decisão da UnB para apreciação<br />
da Universidade Federal do Amapá — UNIFAP e farei de tudo para convencê-los<br />
que é de extrema importância tomar tal medida.<br />
Porém, faço a seguinte ressalva: garantir o acesso dos negros é o primeiro<br />
passo, mas assegurar-lhes a permanência e o sucesso é o desafio seguinte.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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O SR. ZÉ LIMA (PP-PA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados, tenho examinado com atenção os diversos dispositivos da<br />
Proposta de Emenda à Constituição nº 41, de 20<strong>03</strong>, que busca alterar o Sistema<br />
Tributário Nacional, consubstanciando a chamada reforma tributária.<br />
Há muitos pontos inseridos no texto encaminhado pelo Poder Executivo que<br />
precisam ser modificados e aperfeiçoados, sob pena de termos um resultado<br />
bastante desfavorável em relação aos seus objetivos e que trarão mais problemas a<br />
Estados e Municípios, com isso comprometendo o próprio equilíbrio do sistema<br />
federativo.<br />
É fundamental que o Parlamento brasileiro, que debateu durante muitos anos<br />
a proposta anterior de reformulação do Sistema Tributário, encaminhada pelo Poder<br />
Executivo em 1995, sem que houvesse a deliberação sobre a matéria, realize agora<br />
um trabalho voltado para atender às justas reivindicações e necessidades de<br />
Estados e Municípios.<br />
Hoje analiso uma questão de grande interesse para os Municípios do sul do<br />
Pará, bem como de outros localizados próximos de usinas hidrelétricas. O texto<br />
constitucional vigente e a Proposta de Emenda nº 41, de 20<strong>03</strong>, provocam imensos<br />
prejuízos aos Municípios detentores de áreas alagadas com a construção de uma<br />
hidrelétrica. A razão é bastante simples: ao se estabelecer o valor agregado para a<br />
incidência do ICMS relativamente à energia gerada pelas usinas hidrelétricas, só se<br />
leva em conta o valor do processo operacional de geração daquela energia, não se<br />
considerando a participação dos demais Municípios na realização do<br />
empreendimento.<br />
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Ora, Sr. Presidente, os Municípios com terras alagadas a partir da construção<br />
da barragem necessária ao funcionamento da usina concedem uma grande<br />
participação para os resultados daquele investimento. E ao não receberem a devida<br />
retribuição acabam suportando um ônus por demais injusto, pois deixam de utilizar<br />
terras férteis que poderiam produzir cada vez mais, graças aos avanços<br />
tecnológicos hoje à disposição da agropecuária.<br />
O exemplo da Usina de Tucuruí, no meu Estado, o Pará, é bastante<br />
significativo. Vários Municípios estão nessa situação, com extensas áreas de suas<br />
terras alagadas desde a realização das obras. Novo Repartimento, do qual fui<br />
Prefeito, com muita honra, e sou representante nesta Casa, possui mais de 44% da<br />
área total alagada com a execução do projeto da hidrelétrica. E há outros<br />
Municípios, embora com participação menor na constituição da barragem, como<br />
Breu Branco, Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá e Nova Ipixuna.<br />
No entanto, de acordo com a legislação atual, somente a Tucuruí, que dispõe<br />
de 17,2% da área total alagada, é distribuído o retorno correspondente ao ICMS da<br />
energia produzida na região, exatamente por ser o Município sede da respectiva<br />
usina.<br />
Tal injustiça precisa ser reparada, pois Novo Repartimento e os demais<br />
Municípios que mencionei merecem receber parcelas relativas ao ICMS de forma<br />
compatível com a sua participação na viabilização daquela hidrelétrica. Seria até<br />
ocioso enfatizar que, sem o uso das terras dos referidos Municípios, não haveria<br />
como se realizar esse grande projeto de geração de energia em Tucuruí, que tanto<br />
tem beneficiado o Norte e as demais regiões do País.<br />
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O ilustre Deputado Mussa Demes, então Relator da PEC nº 175, de 1995, que<br />
estabelecia a reforma tributária e recentemente retirada pelo Poder Executivo,<br />
concluíra em seu parecer por uma emenda que resolvesse a pendência ainda<br />
vigente, de modo que os Municípios integrantes do complexo gerador da usina, e<br />
não apenas o de sua sede, passariam a receber parcelas do ICMS incidente sobre a<br />
energia ali produzida.<br />
Estou muito esperançoso diante do compromisso firmado pelo Deputado<br />
Mussa Demes, agora Presidente da Comissão Especial que analisa a reforma<br />
tributária nos termos da PEC nº 41, de 20<strong>03</strong>, e também pelo atual Relator da<br />
matéria, Deputado Virgílio Guimarães, que deverá propor em seu parecer, a ser<br />
apresentado nos próximos dias, a necessária emenda ao texto original.<br />
Estou certo de que essa luta, pela qual tenho-me empenhado na defesa de<br />
Novo Repartimento e de todos os Municípios do sul do Pará, incluindo-se<br />
obviamente Tucuruí, haverá de ser vitoriosa nesta Casa e, depois, no Senado<br />
Federal, por expressar isonomia e justiça para com aquelas comunidades que não<br />
estão recebendo o que deveriam pelo muito que contribuem para a geração de<br />
energia elétrica à região e ao País.<br />
Sr. Presidente, gostaria que fosse autorizada a divulgação deste<br />
pronunciamento no programa A Voz do Brasil.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em belíssimo e importante artigo, publicado no<br />
jornal Folha de S. Paulo, em 15 de junho próximo, o teólogo e escritor Leonardo Boff<br />
alertou para a grave crise de valores com o conseqüente obscurecimento do<br />
horizonte ético que acomete a contemporaneidade.<br />
No fundo, diz que o obscurecimento do horizonte ético provoca “uma<br />
insegurança muito grande na vida e uma permanente tensão nas relações sociais,<br />
agravada pela lógica dominante da economia e do mercado, que se rege pela<br />
competição, e não pela cooperação...”.<br />
Serve a lição do Mestre Boff, entre outras tantas finalidades, para refletirmos<br />
sobre a condição dos idosos, sobretudo os idosos pobres e os desassistidos neste<br />
nosso imenso e contrastante Brasil.<br />
Em muitas das vezes, idosos são aqueles esquecidos pelos filhos, netos,<br />
Estado, direito etc. Isolados são os muitos que, anos a fio, labutaram pela<br />
sobrevivência sua e dos que os têm em abandono e esquecimento. Idosos são<br />
aqueles tantos — meras estatísticas!! — no limiar desta existência.<br />
Em que pese essa realidade cruel, é de se considerar as iniciativas dos<br />
movimentos de terceira e/ou melhor idade, que, mesmo com as adversidades e as<br />
indiferenças, vêm atuando no sentido de pautar uma agenda que coloque na ordem<br />
do dia as reivindicações desses milhões de brasileiros.<br />
Entre tantas aspirações legítimas e fundamentais, exigem os idosos que, de<br />
imediato, seja instalado o Conselho Nacional do Idoso, conforme previsto na Lei nº<br />
8.842, de 1994, e que, como tal, seja acolhido institucionalmente pela Secretaria<br />
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Nacional dos Direitos Humanos. Outra demanda não menos importante refere-se à<br />
exigência de aprovação urgente e na íntegra do Projeto de Lei nº 3.561, de 1997,<br />
que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.<br />
Tais providências ensejariam uma mudança qualitativa na relação do Estado<br />
e da sociedade para com as gerações atuais e futuras de idosos da nossa Pátria.<br />
Volto ao artigo de Leonardo Boff, que, coincidentemente, se intitula Como<br />
fundar a ética hoje?, para conclamar esta Câmara dos Deputados a cumprir sua<br />
obrigação ética de criar as condições para a estruturação de “valores fundamentais<br />
ligados à vida, ao seu cuidado, ao trabalho, às relações cooperativas e à cultura da<br />
não violência e pela paz”.<br />
Por isso, urge apressarmos as providências formais para assegurar as<br />
condições legítimas e inadiáveis, no sentido de proporcionar dignidade aos nossos<br />
irmãos brasileiros idosos.<br />
Finalmente, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, invoco vossas<br />
respeitosas atenção e sensibilidade para citar trecho de uma reflexão da atual<br />
Campanha da Fraternidade, da CNBB, cujo tema é Fraternidade e Pessoas Idosas:<br />
“Se meu andar é hesitante e minhas mãos<br />
trêmulas, ampara-me.<br />
Se minha audição não é boa e tenho de me<br />
esforçar para ouvir o que você está dizendo, procure<br />
entender-me.<br />
Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento<br />
escasso, ajuda-me com paciência.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Se minha mão treme e derrubo comida na mesa ou<br />
no chão, por favor, não se irrite, tentei fazer o que pude.<br />
Se você me encontrar na rua, não faça de conta<br />
que não me viu. Pare para conversar comigo. Sinto-me<br />
só.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
Se você, na sua sensibilidade, me vir triste e só,<br />
simplesmente partilhe comigo um sorriso e seja solidário.<br />
Se lhe contei pela terceira vez a mesma história<br />
num só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me.<br />
carinho.<br />
abandone.<br />
Se me comporto como criança, cerque-me de<br />
Se estou doente e sendo um peso, não me<br />
Se estou com medo da morte e tento negá-la, por<br />
favor, ajude-me na preparação para o adeus.<br />
Todos nós, sejamos jovens ou crianças, um dia<br />
seremos idosos e daí poderemos colher os frutos<br />
plantados com nossas atitudes com os idosos de hoje.<br />
Que Deus nos conceda o dom da solidariedade e<br />
fraternidade”.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. GUILHERME MENEZES (PT-BA. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o meu pronunciamento reforça o discurso do<br />
Deputado Valverde com relação aos índios no sul da Bahia, que durante anos vêm<br />
sofrendo humilhações, assassinatos, espancamentos e, entre liminares e agravos,<br />
perseguições.<br />
Sr. Presidente, incorporo ao meu pronunciamento relação de medidas que<br />
serão tomadas a partir de reunião realizada hoje no Ministério da Justiça, a nós<br />
enviada pelo Sr. Cláudio Mourão.<br />
Outra vez os índios pataxós hã-hã-hãe, em Pau Brasil, sul da Bahia, estão<br />
ameaçados de ser retirados de terras que lhes pertencem como ocupantes<br />
primordiais. Mais uma vez ocorreu uma decisão de reintegração de posse de<br />
membros do Judiciário do sul da Bahia que não aceitam os índios como donos<br />
legítimos de terras que sempre ocuparam e das quais foram retirados por meio de<br />
pressões, espancamentos e mortes. Aquela nação indígena já perdeu 16 lideranças,<br />
assassinadas nos últimos anos.<br />
A Polícia Militar de Itabuna, tendo como comandante da operação um militar<br />
sabidamente truculento e inimigo dos índios, foi chamada para a desocupação, o<br />
que poderia levar a uma chacina. Felizmente, a Polícia Federal foi chamada para<br />
substituir a PM baiana, mas não é a solução para a questão.<br />
Os invasores das terras dos pataxós são fazendeiros poderosos do sul da<br />
Bahia, cujos jagunços, apesar das comprovadas violências contra os índios, nunca<br />
foram punidos, pois membros da polícia baiana e representantes do Judiciário da<br />
região são claramente favoráveis aos fazendeiros.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
A decisão final sobre a luta permanente dos pataxós está para julgamento no<br />
STF. Enquanto isso, a esperança é de que os magistrados do STJ e do TRF em<br />
Brasília derrubem as seguidas liminares que juízes do sul da Bahia concedem aos<br />
fazendeiros invasores e agressores.<br />
Obrigado, Sr. Presidente.<br />
RELAÇÃO A QUE SE REFERE O ORADOR<br />
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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINA 767)<br />
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O SR. PAULO BALTAZAR (PSB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, segundo estudos do Instituto Brasileiro de<br />
Planejamento Tributário — IBPT, hoje o brasileiro precisa trabalhar, no mínimo, duas<br />
vezes mais do que na década de 70, para honrar os seus compromissos com o<br />
Fisco.<br />
Os 2 meses e 16 dias de salário que o contribuinte gastava nos anos 70 para<br />
quitar os tributos se transformaram, no ano de 2002, em 4 meses e 13 dias. Nesse<br />
período, a carga tributária, em relação ao Produto Interno Bruto, avançou 68%, de<br />
20,89% foi para 35,07%.<br />
Essa é a herança que o Governo do Presidente Lula recebeu do Governo<br />
neoliberal de FHC, que se preocupou muito mais em arrecadar do que em gerar<br />
emprego e reduzir os índices de exclusão social, altíssimos no Brasil.<br />
O pior, Sr. Presidente, é que o aumento de arrecadação não se refletiu na<br />
melhoria dos serviços públicos, que continuam precários, segundo conclusão do<br />
próprio IBPT. Como resultado disso, Sras. e Srs. Deputados, além dos tributos, a<br />
renda do trabalhador está sendo achatada pela aquisição de serviços de saúde,<br />
segurança, previdência privada e educação, uma vez que as opções oferecidas pelo<br />
Estado não satisfazem as necessidades das famílias brasileiras.<br />
Segundo o resultado da pesquisa feita pelo IBPT, uma família de classe<br />
média, com salário mensal de 5 mil reais e 2 filhos, gasta 63% de sua renda com<br />
tributos e serviços que o Governo deveria oferecer, com qualidade, para a<br />
população. Dos 5 mil reais mensais, cerca de 300 reais vão para os planos de<br />
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saúde, mil reais para educação e 150 reais para segurança, o que significa que as<br />
famílias brasileiras estão cada vez mais reféns do Fisco.<br />
Temos, Sr. Presidente, uma das tributações mais pesadas do mundo, porque<br />
além dos 133 dias para pagar os impostos, o trabalhador gasta mais 98 dias do ano<br />
para ter acesso a serviços de qualidade no País. Na década de 70, esse tempo era<br />
quase 4 vezes menor: 25 dias. No total, o contribuinte de classe média gasta 231<br />
dias para pagar impostos e serviços.<br />
O grande desafio do atual Governo é desonerar a produção e as exportações<br />
e livrar a classe média da pesadíssima carga tributária que foi colocada sobre seus<br />
ombros ao longo dos últimos anos.<br />
A proposta de reforma tributária já está no Congresso e será objeto de<br />
discussão e votação nesta Casa. Não podemos permitir que a carga tributária seja<br />
aumentada, mas trabalhar com determinação e prudência para que, a curto e médio<br />
prazos, ela possa ser aliviada, e assim possamos gerar mais empregos, produzir e<br />
exportar mais e tirar esse peso insuportável dos ombros da classe média, que<br />
sempre paga a conta, como se fosse a única responsável por todas as crises e<br />
déficits da economia nacional.<br />
Acreditamos no Governo do Presidente Lula e temos a certeza de que, ao<br />
final do seu mandato, teremos um cenário totalmente diferente do atual e um País<br />
mais justo, com uma legislação tributária menos confiscatória e mais equilibrada.<br />
Quero ainda abordar outro assunto, Sr. Presidente.<br />
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O jornal O Globo, edição do dia 13 último, divulgou uma síntese elaborada<br />
pelo IBGE sobre os indicadores sociais de 2002, mostrando, mais uma vez, o perfil<br />
da discriminação no nosso País.<br />
Segundo o IBGE, negros e pardos com 12 anos ou mais de estudo ganham<br />
70% do salário dos brancos com igual nível de instrução. Essa diferença é ainda<br />
maior nas Regiões Metropolitanas de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e<br />
Curitiba.<br />
Essa é uma das faces da violência com que temos de conviver diariamente,<br />
com o constante agravamento da desigualdade e a marginalização de milhões de<br />
brasileiros.<br />
Não basta aumentar o número de anos de estudo, segundo um dos<br />
responsáveis pela pesquisa, porque a discriminação é mais forte. As desigualdades<br />
se mantêm mesmo ao se igualarem as condições básicas das pessoas.<br />
Somos oriundos do cruzamento de várias raças, principalmente de negros e<br />
índios, e não se explica e muito menos se justifica toda essa discriminação e<br />
preconceito.<br />
Persiste, Sr. Presidente, a desigualdade entre homens e mulheres. E,<br />
também nessa relação, o estudo só verificou o aumento da distância de renda entre<br />
os dois gêneros. A diferença salarial está presente em todas as faixas de instrução,<br />
mas os indicadores sociais de 2002 mostram que as mulheres que conseguiram<br />
chegar à universidade ganham 51,7% do que ganha um homem com a mesma<br />
instrução e que mais de 70% das trabalhadoras ganham até 2 salários mínimos.<br />
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Precisamos continuar a nossa luta para reverter esses indicadores e<br />
promover a igualdade de raça e de sexo, fazendo com que todos os brasileiros<br />
sejam tratados igualmente, sem qualquer tipo de discriminação.<br />
O Poder Executivo e o Congresso Nacional têm grande responsabilidade<br />
diante desse quadro. Precisamos encerrar esta Legislatura com índices sociais bem<br />
menos cruéis, para sentirmos que valeu a pena a nossa luta.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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O SR. JOÃO TOTA (PP-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados, o assunto que me traz a esta tribuna tem extrema<br />
importância para o bem-estar do homem: a pesquisa científica para o<br />
desenvolvimento da agricultura, que traz enormes benefícios para a humanidade em<br />
virtude do aumento da produção e o conseqüente combate à desnutrição.<br />
Numa época em que o Programa Fome Zero ganha as ruas, mobiliza a<br />
população e as instituições organizadas da sociedade, conquistando respaldo e<br />
apoio para o extermínio de um flagelo que afronta a cidadania nacional, nada mais<br />
oportuno que discutir tema que provoca os mais acalorados debates, com<br />
argumentos que precisam ser considerados dentro de parâmetros sérios e sob ótica<br />
estritamente científica. Refiro-me especificamente aos transgênicos, que possuem<br />
influência direta no meio ambiente e na saúde pública.<br />
Convém lembrar primeiramente que foi a utilização da biotecnologia a grande<br />
responsável pela safra recorde de soja nos campos gaúchos de mais de 9,1 milhões<br />
de toneladas. Quem plantou sementes transgênicas teve um aumento da<br />
produtividade de 15% a 20% em comparação aos produtores da soja convencional.<br />
É evidente que o clima auxiliou a conquista dessa safra modelo em todos os<br />
sentidos, mas é indiscutível que o uso de OGMs (Organismos Geneticamente<br />
Modificados) foi um verdadeiro divisor de águas para o campo, num dos locais onde<br />
a agricultura é sinônimo de pleno emprego, renda e circulação de riquezas.<br />
É válido ressaltar que atualmente é no campo onde o País vem colhendo os<br />
melhores frutos da economia, já que o chamado agronegócio garante a fixação do<br />
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homem na área rural, freando um êxodo que já faz parte da História brasileira e<br />
incha a periferia dos centros urbanos.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a utilização de transgênicos veio<br />
ainda contribuir para uma redução de cerca de 50% no uso de agrotóxicos, dado<br />
que reforça a conveniência desse tipo de produto, uma vez que evita em grande<br />
escala a utilização de químicas que podem ser absolutamente prejudiciais tanto para<br />
o solo como para o próprio organismo humano, perigo confesso para o meio<br />
ambiente e para a saúde da população.<br />
A soja transgênica carrega genes resistentes a alguns tipos de herbicidas e<br />
traz ainda a vantagem do uso de defensivos agrícolas biodegradáveis. Como é<br />
visível, além dos benefícios econômicos, as vantagens ambientais são indiscutíveis<br />
num mundo que cada vez mais se preocupa com o ecossistema, adequado manejo<br />
ambiental e equilíbrio ecológico. É fundamental enfatizar esse detalhe nas<br />
ponderações acerca da utilização dos transgênicos, pois a realidade palpável aponta<br />
uma série de condições favoráveis ao uso dos OGMs.<br />
Num gesto de extremo bom senso o Governo Federal, por meio de medida<br />
provisória, liberou a comercialização, até março de 2004, da soja transgênica<br />
plantada ilegalmente ano passado e elaborou projeto de lei, a tramitar em regime de<br />
urgência, que estabelece linhas mestras em relação ao plantio de espécies que<br />
contenham OGMs. Foi mantida, contudo a proibição do plantio de qualquer semente<br />
transgênica. É preciso dizer que algumas das variedades dessas sementes foram<br />
objeto de estudo e classificação da EMBRAPA, que utilizou seus melhores técnicos<br />
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e conhecimento científico para atingir excelência reconhecida mundialmente nesse<br />
setor.<br />
Além disso, é absolutamente indispensável que sejam oferecidas provas<br />
científicas irrefutáveis dos malefícios que o uso dos transgênicos possa representar<br />
para o ser humano, o que decididamente não ocorreu.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os defensores da utilização dos<br />
OGMs vão além: asseguram que os europeus devem mudar, a curto prazo, sua<br />
política agrícola. Hoje, apesar de a agricultura dos transgênicos estar suspensa na<br />
União Européia, o consumo destes alimentos é livre desde que apresentem no rótulo<br />
as especificações exigidas por lei. Quando ocorrer, no entanto, a mudança de<br />
posição e houver a abertura para os transgênicos em larga escala, o Brasil deverá<br />
estar preparado para assumir mercado de enormes proporções, ou simplesmente<br />
será ultrapassado pela concorrência argentina e norte-americana, que já aumentou<br />
suas exportações para a região em 50% ano passado. Ou, ainda pior, os<br />
agricultores brasileiros verão os próprios europeus plantando suas sementes<br />
modificadas.<br />
Por outro lado, existe forte e mobilizado grupo que defende o cultivo de<br />
sementes convencionais ou orgânicas para a produção de alimentos com<br />
segurança. Nota-se também a ação de movimentos sociais do meio rural e até<br />
Igrejas preocupadas com a saúde dos consumidores e com a ética na manipulação<br />
genética de seres vivos. Advogam até mesmo a soberania nacional para a produção<br />
de alimentos naturais sem qualquer interferência artificial ou manipulada.<br />
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Frente a posições tão díspares e visivelmente conflitantes, estimulado pelo<br />
meio político e pelo próprio Governo Federal, resta ao País a realização de debate<br />
amplo, aberto e democrático, para que o meio rural possa se definir em relação à<br />
conveniência ou não da quebra da proibição do plantio das sementes geneticamente<br />
modificadas. Sem esquecer que, à frente do Ministério do Meio Ambiente, hoje o<br />
Governo conta com uma mulher, a Senadora Marina Silva, que sempre estimulou a<br />
discussão e a troca de idéias e se curvou frente à decisão da maioria, democrata<br />
convicta que é.<br />
Nada mais oportuno nesse caso, portanto, que um grande debate nacional<br />
que venha a traçar rumos definitivos e benéficos para o País no que tange aos<br />
transgênicos.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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O SR. FERNANDO GONÇALVES (PTB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.)<br />
- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Governo do Rio de Janeiro está<br />
propondo uma lamentável alteração na Constituição Estadual, visando reduzir<br />
significativamente os recursos destinados à preservação do meio ambiente.<br />
É por demais preocupante tal proposta, Sr. Presidente, pois que o Estado<br />
vem sofrendo repetidas ações que atentam contra o meio ambiente, o que só pode<br />
ser evitado mediante um forte programa apoiado por recursos do Fundo de<br />
Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano previsto em nossa Constituição.<br />
A intenção da Governadora Rosinha Matheus, ao encaminhar a proposição à<br />
Assembléia Legislativa, é reduzir de 20% para 5% o total de recursos repassados<br />
àquele fundo, com base nos valores recebidos pelo Estado a título de royalties do<br />
petróleo.<br />
Ora, Sr. Presidente, trata-se de uma decisão muito grave da Governadora,<br />
pois, conforme eu mesmo apontei, em recente pronunciamento nesta tribuna, por<br />
ocasião do Dia do Meio Ambiente, é preciso intensificar o controle ambiental em<br />
nosso Estado, onde são muitas as formas de degradação ecológica, seja na Mata<br />
Atlântica, seja na Baía da Guanabara, como ainda na Lagoa Rodrigo de Freitas, em<br />
rios e ao longo do litoral fluminense.<br />
Sabemos todos das dificuldades financeiras por que passa o Estado do Rio<br />
de Janeiro, cuja administração enfrenta sérios problemas de caixa para cumprir<br />
compromissos correntes e inadiáveis. Mas não se pode conceber como solução a<br />
alternativa agora colocada pelo Governo do Estado, retirando recursos de área tão<br />
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importante como a preservação ambiental para serem utilizados na cobertura do<br />
déficit do Tesouro estadual.<br />
Uma das conseqüências inevitáveis, caso seja aprovada a emenda à<br />
Constituição do Rio de Janeiro, é a paralisação das obras do Emissário da Barra,<br />
orçadas em 70 milhões na primeira etapa e em 190 milhões de reais na segunda<br />
fase, com sérios prejuízos para o Estado, em face da necessidade de se fazer o<br />
devido saneamento naquela área — portanto, com risco de comprometimento da<br />
qualidade de vida da população.<br />
As obras de conservação do meio ambiente, Sr. Presidente, possuem como<br />
fonte de custeio apenas as verbas oriundas do referido Fundo, criado em 1986 e<br />
incluído na Constituição estadual em 1989. Assim sendo, faço um veemente apelo à<br />
consciência dos Deputados da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, no sentido<br />
de que não aprovem a proposta de redução dos recursos do Fundo Estadual de<br />
Conservação Ambiental — FECAM, medida que representaria um grande retrocesso<br />
nessa área tão importante para o futuro do nosso Estado.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
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O SR. JOSÉ RAJÃO (PSDB-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, tomei conhecimento de que foram estendidos<br />
aos ex-servidores militares e Corpo de Bombeiros dos ex-Territórios do Amapá e de<br />
Roraima o reajuste de 3,5%, concedido aos servidores públicos federais, e o<br />
percentual de 3,17%, de que trata o art. 8º da Medida Provisória n.º 2.225-45, de 4<br />
de setembro de 2001. Esses reajustes são percebidos desde janeiro de 2002.<br />
Ouvidas nossas corporações, o Corpo de Bombeiros Militar e a Polícia Militar<br />
do Distrito Federal, entendemos que os militares locais não podem ficar à margem<br />
desses reajustes.<br />
Acreditamos que os companheiros militares do Distrito Federal não podem ter<br />
tratamento, em termos de remuneração, diferente dos companheiros dos ex-<br />
Territórios, uma vez que a lei de remuneração é a mesma, tanto para os militares do<br />
Distrito Federal como para os militares dos ex-Territórios. Queremos, sim,<br />
tratamento isonômico e idêntico.<br />
O Governo Federal não pode discriminar os militares da Capital Federal.<br />
Aliás, pelo aspecto econômico-social, a Capital Federal tem indicativos mais caros<br />
que o restante do nosso País. Não restam dúvidas, então, de que posso pedir<br />
especial atenção da União, em especial à Subsecretaria de Planejamento,<br />
Orçamento e Administração do Ministério da Fazenda, para que reconheça os<br />
direitos dos militares do Distrito Federal, da mesma forma que os reconheceu aos<br />
militares do ex-Territórios.<br />
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O clamor dos militares locais tem chegado até este Parlamentar e não posso<br />
omitir-me, sobretudo quando são evidenciadas algumas razões em favor dos<br />
militares do Distrito Federal, tais como:<br />
1. A Lei n.º 10.486, de 4 de julho de 2002, que dispõe sobre a remuneração<br />
dos militares do Distrito Federal, é a mesma que alcança os militares da ativa,<br />
inativos e pensionistas dos ex-Territórios Federais do Amapá, Rondônia e Roraima;<br />
2. A exemplo dos militares dos ex-Territórios Federais, os militares do Distrito<br />
Federal também são custeados pelos cofres da União;<br />
3. A Emenda Constitucional n.º 19, de 5 de junho de 1998, no seu art. 31,<br />
colocou a obrigatoriedade de revisão da remuneração dos militares dos ex-<br />
Territórios, à semelhança da remuneração dos servidores públicos, e, por analogia,<br />
os militares do Distrito Federal não podem ficar de fora desta revisão remuneratória;<br />
4. Historicamente, apesar da separação geográfica, o Corpo de Bombeiros e<br />
a Polícia Militar dos ex-Territórios sempre utilizaram as leis remuneratórias de seus<br />
parceiros do Distrito Federal, vide a Lei n.º 5.9<strong>06</strong> e a Medida Provisória 2.2<strong>18</strong>, que<br />
veio a se transformar na atual Lei n.º 10.486, que dispõe sobre a remuneração dos<br />
militares do Distrito Federal.<br />
Depois da conquista dos direitos políticos e civis e ampliação dos direitos<br />
socioeconômicos, nossos companheiros militares da Capital Federal não podem ver<br />
reduzidas suas conquistas.<br />
Sr. Presidente, peço a V.Exa. a transcrição nos Anais do material anexado a<br />
este pronunciamento.<br />
Obrigado.<br />
MATERIAL A QUE SE REFERE O ORADOR<br />
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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 780 A 780-C)<br />
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O SR. ANSELMO (PT-RO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados, no último dia 8 de junho, a população católica do Estado de<br />
Rondônia e do noroeste de Mato Grosso comemorou os 25 anos de criação da<br />
Diocese de Ji-Paraná, ocasião em que foi realizada a 3ª Romaria das Comunidades<br />
Eclesiais de Base — CEBs. Venho a esta tribuna no dia de hoje para prestar uma<br />
justa homenagem aos religiosos, aos missionários leigos e os agentes das<br />
Comunidades Eclesiais de Base por essa grande vitória.<br />
Pelos anos 60, Sr. Presidente, aquela região recebia levas de migrantes, que<br />
se somavam aos milhares com os que lá já encontravam: os ribeirinhos, os<br />
seringueiros e os indígenas. Até a década de 60, todo o Estado de Rondônia e a<br />
parte noroeste de Mato Grosso pertencia à Prelazia de Porto Velho, que tinha como<br />
Bispo D. João Batista Costa, que desde os anos 40 tinha sido enviado para lá. Como<br />
Igreja, devemos muito a D. João Batista: graças à sua coragem, ao seu heroísmo, à<br />
sua doação e ao seu amor à vocação, muitas sementes aqui foram lançadas,<br />
nasceram, cresceram e produziram.<br />
Orientado pela política da época de integrar a imensa região amazônica ao<br />
restante do Brasil, de década em década, ia crescendo o número de migrantes que<br />
chegavam ao então Território Federal de Rondônia. Nas bagagens vinha um pouco<br />
de tudo: risos e lágrimas, cansaço e coragem, saudade e convicção, dúvidas e<br />
certezas. Mas no peito vinha o sonho alimentado pela fé, a reza do terço, da<br />
ladainha, dos ofícios e do culto dominical. Nas casas de família, nas sombras dos<br />
arvoredos e nas pequenas choupanas que iam sendo feitas grupos de famílias se<br />
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reuniam com freqüência nos domingos e nos aniversários. Foi assim que nasceram<br />
Comunidades Eclesiais de Base — CEBs.<br />
Em 1978, inicia-se a caminhada como Igreja Particular de Ji-Paraná, sendo<br />
Prelazia. O que antes era chamado de Vila de Rondônia passa a ser Sede da<br />
Prelazia de Ji-Paraná, tendo como primeiro bispo e pastor D. José Martins da Silva.<br />
Sr. Presidente, era uma época de muita esperança, de todas as partes do<br />
Brasil continuavam chegando migrantes em busca de lugar, de pão e de paz. A<br />
Igreja Católica foi se tornado, dia após dia, a principal referência para os<br />
recém-chegados, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, contando com<br />
a orientação de D. José Martins da Silva. Com esforço e pedidos de D. José, vieram<br />
muitos missionários e missionárias para assumir as paróquias e acompanhar os<br />
migrantes, animando-os na fé. Aqui, quero manifestar meu profundo agradecimento<br />
a todas as congregações religiosas, do passado e do presente, bem como aos<br />
diocesanos, que se doam no serviço de evangelização.<br />
Um importante instrumento de evangelização, nessa região, Sr. Presidente,<br />
foram os Enviados e Mensageiros da Boa Nova. Eram leigos, homens e mulheres<br />
simples, que com muita dedicação levavam ao povo um novo jeito de ser Igreja. Ao<br />
longo do caminho, a Igreja foi se encarnando na realidade, sentindo as dores do<br />
povo, ouvindo seus clamores e assumindo, profeticamente, o Evangelho de Jesus<br />
Cristo. Era chegada a hora de dar um passo a mais, organizar o povo em<br />
movimentos populares, nos sindicatos, nas associações e em partidos políticos.<br />
Com o crescimento de comunidades, pastorais, movimentos e organizações<br />
populares, em 1983, a Prelazia foi transformada em Diocese de Ji-Paraná. Agora<br />
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com um universo de centenas de comunidades, com milhares de Grupos de<br />
Reflexão, a Igreja ganha um rosto e uma identidade própria. E para dar<br />
continuidade, sustentação e vigor à caminhada, Deus enviou seu mensageiro e<br />
servo, nosso companheiro e pastor D. Antonio Possamai. Aqui vai nosso<br />
reconhecimento a esses pioneiros da fé, à sua fidelidade e à sua dedicação<br />
incansáveis na condução desse rebanho, por seu amor à Igreja, à qual servem com<br />
muito carinho, pela maneira sábia de orientar a caminhada pastoral, pelo seu<br />
profetismo, no anúncio do Reino e na denúncia da injustiça, da corrupção e tantas<br />
formas de violência que fazem os pobres sofrer.<br />
Uma Igreja de pobres para os pobres, que vive à luz do Evangelho, causa<br />
incômodo e desconforto aos poderosos, latifundiários e corruptos. Essa é a melhor<br />
definição para a Igreja forjada naquela região brasileira, Sr. Presidente. Daí vem o<br />
sabor amargo da perseguição. Para dar testemunho da verdade alguns homens e<br />
mulheres se ofereceram de forma concreta e direta, sem voltar atrás, isto é, deram a<br />
vida, por garantir e defender as áreas indígenas, por garantir e defender o direito à<br />
propriedade e dignidade para os trabalhadores rurais e preço justo na hora da<br />
colheita, por emprego e salário justo, pela garantia do direito à saúde e à educação<br />
de qualidade, na cidade e no campo.<br />
É hora de nos comprometermos mais e acreditarmos na organização. E foi<br />
nessa luta de organização e presença junto aos explorados que Padre Ezequiel<br />
Ramin foi tombado pela brutalidade dos que quiseram calar sua voz. Mas a sua voz<br />
continua forte por meio das comunidades de base. Quiseram matar seus sonhos,<br />
mas o seu sonho é o sonho de todos nós e das nossas comunidades.<br />
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Trago presente, nesta tribuna, em nossos pensamentos, a lembrança de<br />
tantos companheiros e companheiras (homens e mulheres) que foram tombados<br />
neste chão que é terra prometida. Lembrem-se romeiros e romeiras: este chão em<br />
que pisamos é sagrado porque é obra do Criador e depois foi regado com suor,<br />
lágrimas e sangue de trabalhadores, trabalhadoras e profetas do nosso tempo.<br />
A Diocese esteve presente em grandes lutas e manifestações, dentro e fora<br />
dela, entre as quais podemos destacar: o Congresso Eucarístico Diocesano, em<br />
1985; a Romaria de Nossa Senhora Aparecida; as 6 Romarias da Terra, do Estado<br />
de Rondônia; as Semanas Sociais Brasileiras; o Grito dos Excluídos; o plebiscito<br />
popular pelo não pagamento da dívida externa e o plebiscito contra a ALCA. O<br />
Projeto Toda a Diocese em Mutirão é o mais recente exemplo que marcará o<br />
compromisso de todos nós nessa festa dos 25 anos. Vamos selar, hoje, este pacto,<br />
por ser um dia de festa, memória e compromisso. Essa é uma das razões pelas<br />
quais ninguém pode sair daqui do mesmo jeito que chegou. Vamos sair carregados<br />
de uma bagagem nova e que há de se renovar a cada dia.<br />
Teve destaque, também, o grande Movimento dos Atingidos por Barragens de<br />
Rondônia — MABRO, que surgiu para defender as áreas de agricultura e Indígenas.<br />
Era preciso tomarmos consciência de que havia outras alternativas de energia para<br />
Rondônia, sem que os pequenos fossem despejados. Trazemos presente a luta da<br />
Comissão Pastoral da Terra — CPT, do Centro de Estudos e Pastoral dos Migrantes<br />
— CEPAMI, dos sindicatos e dos movimentos populares.<br />
Nossa história é marcadamente cristã. O alicerce da Diocese em seus 25<br />
anos e de agora em diante foram e serão nossos grupos de reflexão e nossas<br />
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />
Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Comunidades Eclesiais de Base — CEBs. As CEBs, iluminadas pela Palavra de<br />
Deus, foram encarregadas de instruir o povo na luta por um sindicato forte, de<br />
trabalhadores e trabalhadoras rurais; de nos organizarmos em associações de<br />
classe e em partidos políticos; de lutarmos por reforma agrária sem dar lugar aos<br />
latifundiários; de segurarmos a terra como dom de Deus; de lutarmos por saúde<br />
pública e educação. Daí, fomos crescendo com consciência política e cristã. Digo<br />
nós, Sr. Presidente, porque eu também sou fruto desse movimento religioso e<br />
político, minha formação como homem político, comprometido com as causas<br />
populares, com a organização dos trabalhadores e com o combate às injustiças, foi<br />
forjada no exercício prático das pastorais sociais da Igreja Católica, nos Grupos de<br />
Reflexão e na Comunidade Eclesial de Base.<br />
A grande vitalidade das CEBs, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, veio<br />
dos Mensageiros da Boa Nova, que tinham como objetivo conhecer e animar as<br />
comunidades. Em algumas Paróquias esse movimento está de pé e continua a<br />
contribuir muito na caminhada.<br />
As Escolas Família Agrícola — EFAs têm como missão formar os filhos e<br />
filhas das famílias de agricultores. É um sistema diferenciado do tradicional que o<br />
Estado oferece. As EFAs se preocupam com a formação humana,<br />
técnico-profissional e integral do educando, bem como em envolver a família e a<br />
comunidade no processo. Tudo isso para que as famílias permaneçam na terra.<br />
Esta terra, habitada hoje por milhares de migrantes, tinha dono. Quando aqui<br />
chegamos encontramos os nativos, indígenas, seringueiros, ribeirinhos e<br />
garimpeiros. Mas os verdadeiros donos das terras são os indígenas. Na época, do<br />
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início da colonização da Amazônia, a população indígena do Brasil era estimada em<br />
330 mil pessoas. Hoje, contamos com 10.683 pessoas em Rondônia. Os Grupos de<br />
Apoio aos Povos Indígenas — GAPIs foram a base da Pastoral. Eram grupos de<br />
pessoas que trabalhavam na sensibilização da sociedade, como voluntários, e<br />
também davam sua contribuição nas áreas, sendo presença de apoio.<br />
Para dar uma resposta mais concreta e direta aos anseios do povo foram<br />
surgindo os movimentos populares, sendo coordenados e animados por lideranças<br />
comunitárias que foram crescendo no Evangelho e praticando-o. Fruto desse<br />
engajamento cristão, social e político, surgiu primeiro o Movimento dos<br />
Trabalhadores Rurais Sem Terra — MST, que fez e continua fazendo história. De<br />
ocupação em ocupação, de acampamento em acampamento, o povo foi<br />
conquistando sua terra. Hoje, existem no Estado 7 acampamentos com um total de<br />
1.200 famílias acampadas e 8 assentamentos com aproximadamente 2.500 famílias<br />
assentadas. O movimento abre espaço para outras discussões como: a luta contra<br />
os transgênicos, contra o pagamento da dívida externa e contra a ALCA.<br />
Promovendo e participando de grandes manifestações e marchas, fiéis ao lema que<br />
mais que lema é missão: ocupar, resistir e produzir, sonhando grande, que um dia<br />
não haja espaço para o latifúndio nem em Rondônia, nem no Brasil. Sonhando,<br />
enfim, com a América Latina livre.<br />
Todas estas conquistas não vieram de graça, Sr. Presidente, houve, sim,<br />
muitas manchas de sangue em nossa história. Sangue de mulheres e homens, de<br />
jovens e crianças que se ofereceram para que se apressasse o dia da libertação.<br />
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Nos anos 80, o povo começa a se cansar de esperar por melhorias, sobretudo<br />
na roça. Não havia política agrícola que contemplasse os pequenos, a falta de<br />
estradas, de saúde e de escolas para seus filhos foi o motivo que levou a grande<br />
maioria a vender ou deixar suas terras e migrar para as cidades. Assim, cresceu<br />
assustadoramente o fenômeno chamado êxodo rural. Naquele tempo, já havia<br />
crianças e adolescentes disputando espaços de sobrevivência nas ruas. Preocupado<br />
com essa situação, D. Antonio implantou na Diocese o Projeto Padre Ezequiel, para<br />
despertar e apoiar iniciativas e alternativas concretas que trouxessem de volta a<br />
esperança do povo. Para isso, ele contou com a contribuição de agentes e<br />
lideranças pastorais.<br />
O Projeto Padre Ezequiel está hoje com 15 anos de atuação na Diocese de<br />
Ji-Paraná e desenvolve ações em 4 setores específicos: Pastoral da Saúde —<br />
missão: atuar no tratamento preventivo e curativo, através da medicina alternativa e<br />
popular; Pastoral do Menor — missão: atuar junto aos Conselhos dos Direitos e<br />
Tutelares, no cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, priorizando a<br />
formação integral da pessoa humana; Setor Agrícola — missão: contribuir com a<br />
afirmação da agricultura familiar, atuando na construção da agricultura sustentável,<br />
tendo como eixos assessoria, formação, capacitação e acompanhamento às<br />
associações, tendo como um dos instrumentos a Escola de Capacitação de<br />
Agricultores(as), construindo um modelo culturalmente adaptado, economicamente<br />
viável e ecologicamente sustentável; Setor Alfabetização de Jovens e Adultos —<br />
missão: desenvolver a construção do saber para o exercício da cidadania. Estamos<br />
nos aproximando do seu Quadro Vivo, que nos mostra um resumo desses 15 anos.<br />
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O Projeto tem o nome do nosso primeiro mártir, o Padre Ezequiel, como<br />
homenagem e gratidão por sua vida doada pelos excluídos e, mais do que isso, para<br />
reafirmar o nosso compromisso, como Igreja, com a causa dos empobrecidos e<br />
marginalizados.<br />
São essas as minhas palavras, Sr. Presidente.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Passa-se ao<br />
V - GRANDE EXPEDIENTE<br />
Concedo a palavra ao Sr. Deputado Carlos Melles, por 25 minutos.<br />
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O SR. CARLOS MELLES (PFL-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados, uso o espaço do Grande Expediente hoje para fazer uma<br />
profunda reflexão sobre a crise da economia cafeeira, fazendo aqui uma<br />
homenagem ao ex-Governador e Chanceler Abreu Sodré, que, há 11 anos, fez um<br />
brilhante discurso sobre o general estar de pijama, fazendo alusão ao café.<br />
Quem despreza os ensinamentos da História corre o deliberado risco de<br />
cometer os erros do passado.<br />
Vivemos hoje as conseqüências de erros que se têm repetido ao longo de<br />
décadas e de séculos. Erros pelos quais, mais uma vez, o Brasil e o mundo<br />
enfrentam uma nova velha crise do café, um produto que não tem só significado<br />
econômico, mas também tem uma parte humana e social.<br />
Nos últimos 3 anos, o preço do café chegou ao seu mais baixo valor dos<br />
últimos 30 anos. Nos últimos 5 anos, o Brasil perdeu 4 bilhões de dólares na<br />
exportação de café. Em termos mundiais, esse período representa perda de 20<br />
bilhões de dólares para os países produtores.<br />
Essa é uma crise que afeta de forma dramática justamente os mais pobres.<br />
São 25 milhões de pequenos agricultores ao redor do mundo, e com eles seus<br />
agregados, perdendo fonte de renda; famílias dispondo de suas terras e, com elas, a<br />
sua única fonte de sobrevivência. São terras pequenas: 70% do café produzido no<br />
mundo vêm de propriedades rurais com menos de 10 hectares.<br />
A face dolorosamente humana de uma crise com o café são milhões de<br />
crianças retiradas das escolas, milhões de pessoas sem acesso a assistência<br />
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médica e a medicamentos, enfim, milhões de pessoas das quais se tira a esperança<br />
e que se jogam ao desespero.<br />
A fome e a pobreza crescem, e, com ela, a violência e as migrações<br />
desordenadas. A miséria cria alternativa de renda nas drogas, alimenta o<br />
narcotráfico e realimenta a violência, o crime organizado e a corrupção.<br />
Em alguns países, como o Peru, a Colômbia e a Bolívia, a coca volta a ser<br />
cultivada em torno dos pés de café, que deveriam substituir a droga. Em regiões da<br />
Ásia, ocorre a volta do cultivo da papoula para a heroína, e não mais o café, incapaz<br />
de gerar renda para seus produtores.<br />
Uma crise como a atual, com um produto do significado econômico, social e<br />
político como é o café, aumenta a insegurança de todos. Faz um mundo mais<br />
ameaçador, perigoso, desigual e menos fraterno.<br />
Portanto, quando o café entra em crise, não é só o cafezinho dos ricos que<br />
fica mais caro e com menor quantidade. Além do café amargo, nações inteiras<br />
experimentam a desestruturação de suas economias.<br />
Produtores com fome, comerciantes falidos e Governos que, sem sua receita<br />
de exportação gerada pelo café, cortam gastos em educação, em saúde e ficam<br />
sem ter como saldar suas dívidas ou importar. Sobem os juros, deprime-se o<br />
mercado, reduz-se o crescimento.<br />
O café responde por mais de 50% de receitas de exportação na Etiópia,<br />
quase 80% de ingressos no Burundi. No segundo país mais pobre da América<br />
Central, a Nicarágua, o café responde por 7% da renda nacional, e na Guatemala<br />
7% da população dependem do produto. No entanto, assim como na África ou no<br />
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Vietnã, os preços não estão cobrindo os custos de produção. Testemunhamos o<br />
mesmo aqui no Brasil.<br />
Enquanto o mundo fica mais pobre e mais se concentram riquezas nos países<br />
desenvolvidos, mais padecem os países em desenvolvimento, potências<br />
intermediárias como o Brasil. Perdemos mercado para nossos produtos de maior<br />
valor agregado e vemos acirrada a concorrência sobre os nossos produtos básicos,<br />
as commodities.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, as commodities, quando produzidas<br />
pelos ricos, não sofrem oscilações, são protegidas pelos seus governos, via<br />
subsídios, via barreiras, via financiamento. As commodities que eles não produzem<br />
são escravizadas pelas leis do mercado.<br />
O café, por sua vez, é um produto muito especial de commodity. Não se<br />
caracteriza como perecível e pode ser estocado por muito templo. Favorece, assim,<br />
o comércio especulativo. Um pequeno número de megaempresas domina o<br />
mercado comprador, impondo preços aviltados aos produtores. Num segundo<br />
passo, dominam também o mercado vendedor. Detentores dos estoques, impõem<br />
preços elevados aos consumidores, auferindo elevadas margens de lucro.<br />
Esse fenômenos faz com que a questão do café seja estrutural, e não<br />
conjuntural. Nas safras cheias, de mercado superabastecido, as grandes<br />
torrefadoras pagam pouco e continuam vendendo caro. Ao mesmo tempo em que<br />
sufocam os produtores, não baixam o preço aos consumidores, o que poderia<br />
favorecer o aumento do consumo e a criação do hábito do café. E, nas fases de<br />
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escassez, elevam os preços aos consumidores, não permitindo a recuperação de<br />
margens pelos produtores.<br />
Caracteriza-se, assim, um mercado imperfeito, que, por isso mesmo, não<br />
pode ser deixado totalmente livre. Há que se ter algum tipo de interferência nesse<br />
mercado. Para que seja justo, o mercado do café tem que ser minimamente<br />
administrado.<br />
Essa situação não é uma abstração teórica sobre oligopólio e oligopsônio.<br />
Tem nome, sobrenome e endereço. Cada uma das quatro maiores empresas de<br />
café do mundo — Kraft Foods, Nestlé, Procter & Gamble e Sara Lee — abocanha<br />
cerca de 1 bilhão de dólares de renda no café. Elas exibem lucros de 17% a 30%<br />
sobre o processamento e a comercialização do produto.<br />
Em 1991, na ponta do consumo, o café correspondia a 30 bilhões de dólares.<br />
Desse total, 10 a 11 bilhões de dólares voltavam aos países produtores. Ou seja, os<br />
produtores ficavam com 30% da renda e os países consumidores, com suas<br />
empresas comercializando e processando, ficavam com 70%.<br />
Dez anos depois, em 2001, num curto espaço de tempo, o mundo já<br />
consumia na ponta final 70 bilhões de dólares em café. No entanto, apenas 8%<br />
dessa riqueza eram repartidos entre os países produtores, enquanto países<br />
consumidores e suas empresas se apoderavam de 92% da riqueza gerada pela<br />
cafeicultura.<br />
As estimativas são de que o produtor se apropria de apenas 1% do valor de<br />
uma xícara de café tomada nos Estados Unidos. Façam as contas: somente do café<br />
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solúvel fabricado pela Nestlé são consumidas 3.900 xícaras por segundo — só 1%<br />
para o produtor.<br />
Nos supermercados, a matéria-prima tem uma participação um pouco maior:<br />
aproximadamente 16% do preço final. E, ao final das contas, o agricultor não se<br />
apropria de mais do que 8% do valor final do café que produziu.<br />
No Brasil, embora continuemos dominando mais de um quarto das<br />
exportações mundial, o café já não tem o mesmo peso de outrora, quando gerava<br />
dois terços de nossas receitas cambiais. Mesmo assim, o café tem contribuído com<br />
a média anual de mais de 2 bilhões de dólares para o nosso saldo comercial nos<br />
últimos 10 anos. Representando entre 3% e 5% da nossa economia, ele está<br />
presente em mais de 1.700 Municípios, em 300 mil propriedades — a grande<br />
maioria delas de pequenos produtores, como já disse —, e emprega 7 milhões de<br />
pessoas direta e indiretamente.<br />
Não nos esqueçamos das lições da história. O café faz parte da civilização<br />
brasileira desde a sua entrada no norte brasileiro, contrabandeado por Francisco<br />
Palheta e plantado na Província do Grão-Pará e Maranhão. Em <strong>18</strong>31, já na<br />
paisagem do Rio de Janeiro, resgatou a dívida externa e impediu a falência do<br />
Estado brasileiro. Em <strong>18</strong>49 e <strong>18</strong>50, atingimos 40% da produção mundial.<br />
Desde então, o café enfrenta crises cíclicas. Na virada do século XIX para o<br />
século XX, em 19<strong>06</strong>, foi preciso criar o Convênio de Taubaté. Passou por uma de<br />
suas fases de ouro no final dos anos 20, precisando ser queimado nos anos 30,<br />
quando se assistiu à erradicação dos cafezais — que voltaram a ser erradicados<br />
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entre 1964 e 1967. Estamos iniciando o século XXI novamente em crise. Uma crise<br />
controlada pelos compradores externos, na ausência da ação do Estado.<br />
Voltemos à história para entendermos a importância socioeconômica do café.<br />
Do Rio de Janeiro, onde continuou a gerar rendas, divisas e empregos, o café<br />
penetrou o território nacional. Subiu a Serra do Mar e entrou em Minas, entendeu-se<br />
pelo Vale do Paraíba e tomou conta de São Paulo, seguindo em direção a Ribeirão<br />
Preto, oeste do Estado, até atingir o Paraná.<br />
Por toda essa extensão de terras, o café foi o responsável pela criação de<br />
cidades e organização de sociedades, puxou estradas de ferro, pavimentou<br />
estradas, levou o progresso, industrializou o País. Proporcionou melhoria da<br />
qualidade de vida e promoveu distribuição de renda. Basta ver o exemplo de<br />
quantos imigrantes, principalmente italianos, vieram para o Brasil tendo como único<br />
capital a força de trabalho e, em poucos anos, transformaram-se eles próprios em<br />
proprietários e produtores — de café, naturalmente.<br />
O progresso proporcionado pelo café não é passageiro, mas uma riqueza<br />
gregária que permanece, que viabilizou um comércio pujante e a indústria regional<br />
do café.<br />
É uma saga que não pára. Depois da grande geada do Paraná, em 1975, o<br />
café voltou à minha Minas Gerais, hoje seu maior produtor. Mas já se deslocou para<br />
Rondônia. E também é a maior e mais promissora cultura e riqueza do sertão da<br />
Bahia, onde consolida cidades em torno dos cafezais, indústrias, comércio e gera<br />
algo sempre fundamental: empregos.<br />
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Quando o preço do café deixa de cobrir os custos ou oferece margem<br />
irrisória, 1.700 Municípios, que têm sua maior fonte de renda e de emprego no café,<br />
e mais de 7 milhões de brasileiros são afetados diretamente e, com eles,<br />
fornecedores de insumos, fabricantes e vendedores de máquinas, tecidos, comida,<br />
remédios. E o Brasil, assim, amplia sua fragilidade cambial.<br />
Quando o café perde preço e mercado, ocorre reforma agrária às avessas. Os<br />
pequenos produtores vendem suas terras e migram para os bolsões de pobreza que<br />
circundam as cidades, pressionando por mais assistência, caindo nas garras da<br />
violência, favorecendo a prostituição e a desagregação social. Tornam-se tão<br />
vítimas quanto algozes. Jogam-se no ralo bilhões de reais aplicados em reforma<br />
agrária.<br />
Ouço, com prazer, o nobre Deputado Mauro Benevides.<br />
O Sr. Mauro Benevides - Deputado Carlos Melles, V.Exa. faz realmente<br />
diagnose perfeita da situação da cafeicultura no País e, naturalmente, das<br />
repercussões no mundo inteiro, em função do que significava o café em nossa pauta<br />
de exportações. Há poucos instantes, V.Exa. se queixava, creio que por conhecer o<br />
problema, da falta de ação governamental que possa estimular a permanência do<br />
café na posição privilegiada que sempre desfrutou. Eu recordo, nobre Deputado e<br />
Ministro Carlos Melles, que, há alguns anos, funcionava um órgão específico para o<br />
café, o Instituto Brasileiro do Café. Para ser mais preciso, até me lembro de uns dos<br />
seus últimos presidentes, o Senador Nelson Maculan. Naquele instante, acredito que<br />
havia forma intensiva de garantir a posição do café no mercado internacional, mas, a<br />
julgar por esse relato minucioso, preciso que V.Exa. se propôs a fazer na tarde de<br />
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hoje, chegamos a uma constatação extremamente desestimulante. E digo mais a<br />
V.Exa.: no meu Estado, houve a tentativa de transformar a Serra da Ibiapaba em<br />
celeiro de plantadores de café. Mas essa experiência, lamentavelmente, não logrou<br />
êxito. E nós, cearenses, estamos frustrados, porque nos vales mais próximos do<br />
território cearense não se conseguiu realmente garantir o plantio e a colheita do café<br />
nos percentuais que tinham sido almejados. Portanto, minhas congratulações por<br />
este pronunciamento abalizado, que mostra que V.Exa. conhece efetivamente a<br />
questão do café em nosso País.<br />
O SR. CARLOS MELLES - Muito obrigado, Deputado e Governador Mauro<br />
Benevides. Fico honrado com o aparte de V.Exa.<br />
Como o café perde preço e mercado, ocorre, como disse, uma fragilização da<br />
economia brasileira.<br />
Srs. Deputados, Sras. Deputadas — cada vez mais presentes na vida política<br />
nacional, sempre mais sensíveis às questões sociais e, por isso mesmo, mais<br />
atentas ao fato de que a mulher é a mais afetada por esse tipo de crise, de que são<br />
as mulheres as primeiras a dobrar o turno de trabalho, as primeiras a abrir mão do<br />
alimento e do remédio em benefício dos filhos —, se dramatizo aqui a situação<br />
dolorosa dos pequenos produtores; se aponto a frustração dos esforços dos médios<br />
e grandes produtores; se alerto para a fragilização do Brasil em conseqüência da<br />
crise do café, é para chamar a atenção para um problema que é de todos nós.<br />
É para demonstrar que o café não deveria ser um problema, mas sim solução<br />
na redução de miséria, na geração de emprego, na fixação do homem no campo e<br />
na redução da fragilidade externa do Brasil.<br />
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É para chamar a atenção do Governo para a responsabilidade do Estado em<br />
relação à cafeicultura. Desde que transformado em riqueza, o café tem sido<br />
defendido pelos Estados produtores.<br />
A França, como outros colonizadores, coibiu rigorosamente a saída de<br />
sementes e mudas de suas colônias. Reconhecia o valor dessa rubiácea.<br />
O Império e, depois, a República no Brasil interferiram com vigor no setor<br />
cafeeiro, como fonte de renda e financiador das nossas importações, sobretudo da<br />
nossa industrialização.<br />
Os produtores, isoladamente, não têm as condições necessárias e<br />
indispensáveis para atuar na arena internacional, onde se travam as grandes<br />
batalhas do café.<br />
É preciso e indispensável a participação ativa do Estado, não mais de forma<br />
autocrática, meramente arrecadatória e regulatória, mas como representação<br />
nacional de toda a cadeia produtiva, como harmonizador de interesses conflitantes<br />
dentro do próprio território nacional, para que o setor como um todo tenha<br />
representação única e eficaz nos fóruns internacionais.<br />
É preciso ação do Estado junto às instituições multilaterais, como o Fundo<br />
Monetário Internacional e o Banco Mundial, para que estes não imponham políticas<br />
imediatistas aos países mais pobres. O FMI e o Banco Mundial não podem continuar<br />
forçando os países pobres e devedores à abertura indiscriminada de seus<br />
mercados, nem ao exagerado esforço de exportação de commodities,<br />
desequilibrando ainda mais o mercado.<br />
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Essas instituições, controladas pelos mesmos países compradores, têm que<br />
parar de estimular, de forma indiscriminada e inadequada, o plantio de café pelos<br />
países em dificuldades cambiais. Esse estímulo, em 4 ou 5 anos, terá criado<br />
superoferta de café no mercado, aviltando os preços e fazendo com que os mais<br />
pobres dos agricultores desses países, já com alto índice de miseráveis, não<br />
consigam cobrir sequer os custos de sua produção. Ficam sem renda para produzir<br />
o café e sem renda para erradicar o mesmo café ou diversificar sua produção.<br />
Somente com apoio institucional explícito e estratégico da representação<br />
diplomática da Nação é que se conseguirá a reestruturação do mercado, hoje<br />
superabastecido — a produção tem crescido à taxa anual de 2%, enquanto o<br />
consumo não cresce a mais do que 1% ou 1,5%. Atualmente, produz-se 8% mais<br />
café do que se consome.<br />
Somente o esforço de Estado nacional, em negociações comerciais e<br />
diplomáticas, poderá reconquistar um mercado minimamente administrado. Único<br />
modo de impedir ou, pelo menos, minimizar as crises cíclicas do café.<br />
Concedo aparte ao nobre Deputado Zonta.<br />
O Sr. Zonta - Nobre Deputado Carlos Melles, quero cumprimentar V.Exa.<br />
pelo tema oportuno que traz a esta Casa, com todos os dados sobre essa atividade<br />
que já foi âncora do desenvolvimento socioeconômico do País, mas que, pelos<br />
dados apresentados, hoje se transforma num problema de exclusão no meio rural,<br />
especialmente das pequenas propriedades de produção do ciclo do café. V.Exa.,<br />
que é do ramo, cooperativista de primeira linha, sabe muito bem e aborda com<br />
profundidade a necessidade do apoio formal do Governo, do apoio institucional, que<br />
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nós queremos neste momento reforçar, para fazer com que, na organização desses<br />
pequenos plantadores de café, se possa ter a possibilidade de competir com o<br />
monopólio e muitas vezes o oligopólio de alguns empreendimentos que absorvem<br />
totalmente essa posição, excluindo essas pessoas dessa área e do emprego.<br />
V.Exa., no final, toca num ponto fundamental. O Brasil tem de continuar sendo<br />
agressivo no mercado internacional do café. Por isso, os acordos devem ser<br />
acompanhados por especialistas ou por adidos agrícolas com conhecimento. Essa é<br />
a contribuição que deixo neste momento, cumprimentando-o por este<br />
pronunciamento que aborda esse problema tão aflitivo e importante para o País,<br />
mas que acreditamos ter solução.<br />
O SR. CARLOS MELLES - Muito obrigado a V.Exa., Deputado Zonta,<br />
ex-Deputado Estadual, competente e eficiente Secretário de Agricultura de Santa<br />
Catarina, nosso grande companheiro, que vem agora enriquecer nossa bancada e a<br />
Câmara dos Deputados.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Brasil tem a responsabilidade,<br />
perante os brasileiros e os demais países produtores, de assumir a liderança na<br />
formulação e na gestão dos negócios de café. Como maior produtor e segundo<br />
maior consumidor, tem a capacidade de formar preços. Como líder em produção e<br />
produtividade, já conquistando importantes nichos de qualidade, o Brasil tem não só<br />
a oportunidade, mas o dever de assumir o seu papel.<br />
Hoje há amplo consenso, consubstanciado em recente reunião na sede da<br />
Organização Internacional do Café, em Londres. Produtores e representantes do<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
alto escalão do Banco Mundial, de torrefadores e de empresas comerciais entendem<br />
que o mercado de café é imperfeito e demanda intervenção.<br />
É nessas negociações que se poderá fazer com que produtores marginais e<br />
nações como os Estados Unidos — maior consumidor do mundo — voltem a<br />
participar de organizações e de fóruns que permitam a redução do desequilíbrio do<br />
mercado de café.<br />
Sras. e Srs. Deputados, o Brasil precisa deixar a inércia, vencer a apatia, o<br />
medo e definir uma política à altura da realidade do setor. Os demais países<br />
produtores do mundo estão à espera. Há mesmo grande perplexidade com o<br />
descaso do Brasil frente à crise do café.<br />
Diante das repercussões sociais e econômicas do café, o Governo não pode<br />
eximir-se de suas responsabilidades. Essa é uma realidade que se impõe. E não é<br />
só a opinião do político, do produtor e do representante de classe que aponta nesse<br />
sentido. Os maiores especialistas no assunto compartilham dessa visão. Aliás, visão<br />
que 11 anos atrás era expressa pelo saudoso cafeicultor, Governador de São Paulo<br />
e nosso ex-Ministro das Relações Exteriores Abreu Sodré, também ex-Presidente de<br />
honra do Conselho Nacional do Café.<br />
Opinião atualizada e repetida, recentemente, por ninguém menos que o<br />
Secretário-Geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e<br />
Desenvolvimento — UNCTAD, o nosso embaixador brasileiro Rubens Ricupero. O<br />
Governo, disse recentemente Ricupero, precisa “acordar” para a importância do<br />
comércio internacional, pois essa é a única saída hoje para o Brasil crescer e<br />
financiar o seu desenvolvimento.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Em artigo recente, o embaixador Rubens Ricupero perguntava se há futuro<br />
para o café e lembrava a reunião de fevereiro, em Genebra, dos principais atores do<br />
mercado. Dessa reunião promovida pela UNCTAD e o Instituto Internacional de<br />
Desenvolvimento Sustentável do Canadá surgiram sugestões úteis, mas de impacto<br />
limitado. Cita Ricupero a iniciativa do “comércio eqüitativo”, que favorece o café de<br />
pequenos produtores, mas não atinge mais do que 3% da produção, situação similar<br />
à do café orgânico. Também apontou como de aplicação duvidosa o uso do seguro<br />
de risco ou hedge para amenizar as flutuações. E colocou em dúvida a<br />
rentabilização da qualidade quando o que se vê, cada vez mais, é o café pior, mais<br />
barato, ser cada vez mais usado na mistura.<br />
O fato de o Brasil estar com sua produção de café recuperada não pode servir<br />
de desculpa para a apatia. Quando, em 1987, o Brasil produziu cerca de 47 milhões<br />
de sacas, contra demanda agregada de 80 milhões, o Governo de então teve a<br />
coragem de elaborar uma política à altura do desafio. Comprou café, estoques que<br />
foram depois devolvidos ao mercado na segunda metade da década dos anos 90,<br />
com alto retorno aos cofres da União. Estamos produzindo hoje os mesmos 47<br />
milhões de sacas, só que a demanda agregada subiu para 113 milhões, fazendo<br />
com que o desafio seja substancialmente menos complexo. Só que sem coragem e<br />
determinação os desafios viram barreiras intransponíveis.<br />
Não se pode negar, no entanto, que tem havido progresso nesse sentido, nos<br />
últimos anos, depois do desastre de 1990, quando o Governo abandonou<br />
completamente o setor, logo depois da quebra do sistema de mercado administrado.<br />
Substituído pelo livre mercado, este se mostrou predatório, pois é totalmente<br />
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desequilibrado. De um lado, potências econômicas, de outro, países pobres<br />
produtores sem poder de barganha.<br />
Tendo em vista a importância socioeconômica da cadeia produtiva do café, os<br />
vários setores que compõem a cadeia se mobilizaram em torno de Comissão<br />
Especial criada nesta Casa. Presidida por mim e relatada pelo Deputado Silas<br />
Brasileiro, essa Comissão aprovou recomendação que foi aceita pelo Governo, que<br />
em 1996 criou o Conselho Deliberativo da Política do Café — CDPC, vinculado ao<br />
Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, atual Ministério do Desenvolvimento,<br />
Indústria e Comércio.<br />
A iniciativa, no entanto, frustrou-se, seja pela descontinuidade, devido às<br />
sucessões ministeriais, seja por não ter maior independência e autonomia, seja por<br />
não ter gestão efetiva do FUNCAFÉ — Fundo de Defesa da Economia Cafeeira. No<br />
entanto, pode estar nesse mecanismo o início da solução para a questão do café.<br />
Nessas tratativas, Sras. e Srs. Deputados, os produtores têm sido<br />
representados com dedicação, eficiência e legítima representatividade pela<br />
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil — CNA e pelo Conselho Nacional<br />
do Café — CNC.<br />
A CNA tem dado seu apoio a este importante segmento da agricultura,<br />
abrindo seus espaços em Brasília e emprestando seu peso político às nossas<br />
reivindicações. Da mesma forma, o CNC, do qual fui um dos fundadores e tenho a<br />
satisfação de ser presidente de honra, continua congregando a cadeia produtiva do<br />
café, em busca da estabilidade e rentabilidade do setor.<br />
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Finalizando, Sr. Presidente, insisto em que o Brasil e o Governo brasileiro<br />
precisam adotar firmemente a atitude de defesa do café, postura que tem o apoio de<br />
seus parceiros internacionais. Os países produtores já cobram o Brasil nesse<br />
sentido.<br />
Estamos explorando o sangue e o suor do trabalhador e exportando o<br />
patrimônio do produtor brasileiro. Estamos, ainda, contribuindo para que os outros<br />
países empobreçam cada vez mais, na expectativa da responsabilidade e da<br />
liderança do Brasil no café.<br />
O Brasil não pode fugir dessa luta, pois que é uma luta justa. Concluo, Sr.<br />
Presidente, deixando aqui o desafio para que o Governo brasileiro, de olho nas<br />
lições da história, com a sensibilidade para reconhecer que o café significa<br />
empregos e renda, com a prudência dos que têm consciência de que a globalização<br />
é uma grande guerra comercial, cumpra o seu papel.<br />
Deixo também uma dúvida ou cobrança: permanecerá a cafeicultura e<br />
cafeicultores lutando sozinhos em defesa do Brasil, sem a participação ativa do<br />
Governo?<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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minutos.<br />
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A SRA. LUCIANA GENRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra, por 3<br />
A SRA. LUCIANA GENRO (PT-RS. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) -<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, dois temas importantes trazem-me a esta<br />
tribuna. Em primeiro lugar, quero registrar ofício que recebemos do Sindicato<br />
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES), que nos relata<br />
que na plenária do último dia 14 de junho, com a presença de mais de 336<br />
delegados de entidades de servidores públicos federais de todo o Brasil, foi<br />
deliberada a deflagração de greve por tempo indeterminado a partir do dia 8 de julho<br />
de 20<strong>03</strong>. A paralisação tem como objetivo reivindicar ao Governo Federal a retirada<br />
de tramitação da PEC nº 40, que trata da reforma da previdência, ou ao Congresso<br />
Nacional a derrota da proposta.<br />
O ANDES nos aponta a necessidade de que se faça uma auditoria nas contas<br />
da Previdência, para que a reforma não acabe com direitos dos servidores, mas sim<br />
ataque os privilégios da alta cúpula dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e<br />
expanda para os trabalhadores da iniciativa privada os benefícios do servidor<br />
público. Os aposentados pelo INSS estão sendo massacrados por um modelo de<br />
aposentadoria em grande medida produzido pelo Governo Fernando Henrique, que<br />
introduziu aumento da idade mínima, fator previdenciário e desvinculação do<br />
reajuste do aposentado com o do salário mínimo.<br />
social.<br />
O ANDES quer uma verdadeira reforma da previdência, que promova justiça<br />
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O segundo tema que me preocupa é a ameaça de demissão que paira sobre<br />
os funcionários das empresas de aviação VARIG, Rio Sul e Nordeste em<br />
decorrência da fusão com a TAM. Seriam mais de 6 mil demissões, com custo<br />
estimado de mais de 600 milhões de reais, um valor muito maior do que o<br />
necessário para a recuperação da empresa gaúcha. Estamos, insisto, diante da<br />
possibilidade concreta de demissão do conjunto dos funcionários dessas<br />
companhias, que depois serão recontratados por salários mais baixos e terão de<br />
aceitar piores condições de trabalho.<br />
Estamos também na iminência de um calote nos créditos do Governo e dos<br />
trabalhadores, isto é, dos seus fundos de pensão. É um escândalo o que se poderá<br />
consumar com essa fusão.<br />
Não queremos a quebra da VARIG nem da TAM. A sociedade brasileira e o<br />
Governo precisam conhecer o projeto elaborado pela Associação dos Pilotos da<br />
VARIG — APIVAR, uma plano de reestruturação ampla para ser debatido, uma<br />
outra alternativa, que não submete os trabalhadores a risco de demissão e não<br />
coloca a VARIG na péssima condição de detentora de apenas 5% do capital da nova<br />
empresa, um claro privilégio aos acionistas e à TAM, que sairão do processo de<br />
fusão em muito melhores condições do que estão hoje.<br />
Sabemos que a TAM se encontra, assim como a VARIG, em sérias<br />
dificuldades financeiras.<br />
Sr. Presidente, esperamos que o plano de reestruturação ampla proposto pela<br />
APIVAR seja debatido nesta Casa e pelo Governo, para que se encontre uma saída<br />
que contemple os interesses da VARIG, da TAM e de seus funcionários,<br />
responsáveis maiores pela eficiência das duas companhias.<br />
Obrigada.<br />
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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra à nobre<br />
Deputada Janete Capiberibe, para uma Comunicação de Liderança, pelo PSB.<br />
S.Exa. dispõe de 3 minutos na tribuna.<br />
A SRA. JANETE CAPIBERIBE (PSB-AP. Como Líder. Pronuncia o seguinte<br />
discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, apresentamos na Câmara<br />
Federal, no último dia 11 de junho, uma proposta de emenda à Constituição que<br />
insere novos parágrafos ao art. 212, para instituir o Fundo Nacional da Educação<br />
Infantil e fundos municipais para atendimento de crianças com até 3 anos, e dá nova<br />
redação ao art. 239 da Constituição Federal.<br />
A PEC nº 92, de 20<strong>03</strong>, tem o objetivo de garantir recursos para assegurar às<br />
crianças na primeira infância o atendimento em instituições educacionais<br />
apropriadas para essa idade.<br />
Observando os dados do último censo demográfico, realizado pelo IBGE em<br />
2000, verificamos que há aproximadamente 20 milhões de crianças no Brasil —<br />
entre área urbana e rural — entre 0 e 6 anos e pouco mais de 6 milhões de<br />
matrículas na educação infantil (MEC/INEP-2002). Em nossa proposta queremos<br />
garantir vagas para crianças de 0 a 3 anos, pois entendemos que a primeira fase da<br />
vida é determinante para todo o seu futuro.<br />
O Estado é responsável por garantir a essas crianças o acesso à educação e,<br />
por conseqüência, dar a elas qualidade de vida. Esse direito está garantido na<br />
Constituição Federal, no Capítulo dos Direitos Sociais, em seu art. 7º, inciso XXV,<br />
onde se lê que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais “a assistência gratuita<br />
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aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em creches e<br />
pré-escolas”.<br />
art. 208:<br />
Além disso, no Capítulo da Educação, da Cultura e do Desporto, estabelece o<br />
“Art. 208. O dever do Estado com a educação será<br />
efetivado mediante a garantia de:<br />
..................................................................................<br />
IV - atendimento em creche e pré-escola às<br />
crianças de zero a seis anos de idade”.<br />
Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA, no Capítulo IV,<br />
estabelece que crianças de 0 a 6 anos devem ser atendidas em creche e pré-escola,<br />
e nós sabemos que criança, de acordo com essa lei, é prioridade absoluta.<br />
Nossa proposta, assegurando educação às crianças, beneficia toda a família.<br />
As mães poderão exercer suas atividades profissionais ocupando seu espaço no<br />
mercado de trabalho sem serem obrigadas a deixar seus filhos em situação de<br />
vulnerabilidade; não será necessário contar com favor de familiares ou pagar alguém<br />
não qualificado para ocupar-se da criança; e ainda afasta o risco de maus tratos e<br />
violência a estas crianças.<br />
É importante deixar claro que as famílias não serão obrigadas a matricular<br />
seus filhos nas instituições que oferecem educação de 0 a 3 anos. Esta é uma<br />
opção que elas devem fazer e que o Estado deve garantir. Vale ressaltar que a<br />
iniciativa privada terá seu espaço garantido, mesmo após a aprovação e<br />
regulamentação da PEC em questão.<br />
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Bem, no que se refere à inserção de novos parágrafos no art. 212 da<br />
Constituição Federal — que define que “a União aplicará, anualmente, nunca menos<br />
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco por cento,<br />
no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de<br />
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” —, propomos que os<br />
Municípios instituirão fundos específicos para a manutenção e o desenvolvimento da<br />
educação infantil com o objetivo de assegurar o atendimento às crianças de até 3<br />
anos de idade e que estes fundos serão constituídos, entre outros recursos, por não<br />
menos de 25% dos impostos municipais e, ainda, que o Fundo Nacional de<br />
Desenvolvimento da Educação Infantil completará os recursos municipais.<br />
O FUNAEI foi pensado para aglutinar recursos de diversas fontes para<br />
suplementar os Municípios no financiamento de suas creches.<br />
Assim, teríamos que cada Município — fundo municipal — passaria a contar<br />
com 25% da receita do IPTU — Imposto Predial e Territorial Urbano, do ISS —<br />
Imposto sobre Serviços, do ITBI — Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis e<br />
do IRRF-SM — Imposto de Renda Retido na Fonte de Servidores Municipais para,<br />
obrigatoriamente, investir em creches ou instituições equivalentes que<br />
matriculassem crianças com até três anos.<br />
Já as receitas oriundas das transferências de impostos federais e estaduais<br />
— FPM, IPI-Exportação, ITR, ICMS e IPVA — continuariam regidas pelas regras<br />
atuais: 60% obrigatoriamente para o ensino fundamental e 40% para as duas<br />
primeiras etapas da educação básica, incluindo toda a educação infantil e o ensino<br />
fundamental de jovens e adultos.<br />
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Teríamos ainda que o FUNAEI seria essencialmente constituído por uma<br />
porcentagem da receita bruta do IR — Imposto de Renda, do IPI e por outra que<br />
incide na arrecadação social que alimenta o Fundo de Amparo ao Trabalhador —<br />
FAT (PIS) cuja soma fosse suficiente para a complementação do financiamento das<br />
creches nos Municípios.<br />
Exemplificando, em termos de recursos, no caso de 20<strong>03</strong>, 1% do IR geraria<br />
aproximadamente 650 milhões de reais e 6% do PIS alcançaria cerca de 770<br />
milhões de reais, o que resultaria na disponibilidade para as creches de 1.420<br />
milhões de reais no FUNAEI. O FAT é um fundo que tem apresentado superávits,<br />
em média, de 5 bilhões de reais nos últimos cinco anos. Seu patrimônio total<br />
aproxima-se dos 80 bilhões de reais e seu rendimento nos últimos anos superou os<br />
7 bilhões de reais anuais.<br />
Se o FUNAEI já estivesse em vigor em 20<strong>03</strong>, contaria com recursos do IR e<br />
IPI de, respectivamente, 670 milhões de reais e 217 milhões de reais. Com isso, a<br />
complementação federal atingiria 1,71 bilhão de reais com previsão de 1,86 bilhão<br />
de reais para 2004. Temos, ainda, os recursos dos Municípios estimados em 7 a 8<br />
bilhões de reais anuais. Somando-se tudo teríamos um total de 9 a 10 bilhões de<br />
reais para gastos com creches, montante que praticamente triplica as despesas<br />
atuais — menos de 3 bilhões.<br />
Dessa forma, utilizar recursos do PIS, por intermédio da retirada de uma<br />
pequena parcela do FAT, para a educação em creches é atender a objetivos gerais<br />
de trabalhadores, pois seus filhos de 0 a 3 anos estariam sendo atendidos no<br />
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período inicial de seu desenvolvimento com garantia de alimentação e educação,<br />
enquanto os pais participam do mercado de trabalho.<br />
Importante ressaltar que esta PEC não irá alterar a contribuição do cidadão;<br />
ele não passará a pagar mais impostos, pois os recursos necessários para<br />
educação infantil de 0 a 3 anos serão retirados de porcentagem dos impostos já<br />
cobrados.<br />
A educação infantil deve ser tratada com seriedade, pois é o início da<br />
socialização da criança e sua inserção cidadã no mundo.<br />
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O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
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DISCURSO DO SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ QUE,<br />
ENTREGUE À REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE<br />
PUBLICADO.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao Sr.<br />
Deputado Gilberto Nascimento. S.Exa. disporá de 25 minutos na tribuna.<br />
O SR. GILBERTO NASCIMENTO (PSB-SP. Sem revisão do orador.) – Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo a tribuna esta tarde para discorrer sobre<br />
assunto do qual todo mundo já fala.<br />
Ontem, estava vendo programa de televisão em que um jornalista foi a uma<br />
feira livre questionar as pessoas sobre juros. Observei que as mulheres que<br />
estavam fazendo compras na feira já estavam falando em spread e em SELIC;<br />
estavam preocupadas, queriam que os juros baixassem. É uma situação que a<br />
população já não suporta mais.<br />
Tenho esperança de que este seja um bom Governo, que encurte as<br />
distâncias sociais. Na Câmara dos Deputados, temos aprovado matérias de<br />
iniciativa do Governo e estamos dispostos a ajudá-lo naquilo que for possível para<br />
melhorar as condições do povo. Acredito que o Governo foi eleito com esse objetivo.<br />
Todos estamos dispostos a ajudar o País.<br />
O jornal Folha de S.Paulo desta semana traz matéria com a seguinte<br />
manchete: Lucro do BankBoston cresce 410% em 20<strong>03</strong>.<br />
Vou ler a matéria:<br />
“O BankBoston foi a instituição financeira que<br />
apresentou o maior crescimento no lucro nos três<br />
primeiros meses deste ano, entre os 50 maiores bancos<br />
do país. O resultado saltou de R$ 31,8 milhões de janeiro<br />
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É lamentável!<br />
Continua a matéria:<br />
a março de 2002 para R$ 162,4 milhões neste primeiro<br />
trimestre, um crescimento de 410% no período.<br />
Os dados do primeiro trimestre dos 50 maiores<br />
bancos constam no site do Banco Central, e o estudo com<br />
a comparação do desempenho das instituições foi<br />
elaborado pelo economista Alberto Borges Matias,<br />
professor da faculdade de economia da USP de Ribeirão<br />
Preto.<br />
‘O BankBoston foi o maior beneficiário com a<br />
política econômica do governo’, afirmou Matias”.<br />
“No ranking, em segundo lugar vem a Nossa<br />
Caixa,” — que é um banco oficial — “com um pulo de<br />
140% no resultado do primeiro trimestre deste ano em<br />
relação ao mesmo período de 2002”.<br />
Observem que o BankBoston aumentou seu lucro em 410%, enquanto o<br />
banco brasileiro mais próximo, a Nossa Caixa, de São Paulo, teve variação de<br />
140%. Portanto, não estamos falando da diferença de 340% para 410%, mas de<br />
410% para 140%.<br />
Prossegue a matéria:<br />
“O aumento no lucro do Itaú (3º colocado) foi de<br />
132%, e o do BRADESCO (7º), de 20%.<br />
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O vice-presidente de finanças do BankBoston, Alex<br />
Zornig, afirmou que o resultado do banco no primeiro<br />
trimestre se deve, em grande parte, à desvalorização do<br />
dólar. O banco acreditou na queda do dólar neste início<br />
de ano e ganhou”.<br />
É um banco inteligente, um banco que acredita e adivinha.<br />
Continua:<br />
“Segundo Zornig, do total de US$ 1,2 bilhão de<br />
capital do banco, US$ 300 milhões estão aplicados em<br />
operações reais, que proporcionam ganhos quando a<br />
moeda brasileira se valoriza, como ocorreu no início do<br />
ano. ‘Como estávamos “vendidos” (apostavam na queda<br />
da moeda) em dólar, tivemos lucro’, disse.<br />
Assim como a grande maioria dos bancos, o<br />
BankBoston também se beneficiou bastante da alta dos<br />
juros. O banco obteve uma rentabilidade de 43% nas<br />
aplicações em títulos e valores mobiliários e de 27%<br />
sobre o crédito. ‘O valor do mercado de título melhorou<br />
bastante’, afirmou Zornig. Com a alta dos juros do<br />
primeiro trimestre, os bancos registraram ganhos<br />
expressivos com a aplicação em títulos públicos, que<br />
rendem os juros fixados pelo BC”.<br />
Sr. Presidente, com essa situação, observamos que o País está parado.<br />
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Não faço críticas ao Governo. Temos de tentar desenvolver o Brasil.<br />
Precisamo-nos juntar para fazer o País crescer.<br />
Infelizmente, constatamos que enquanto os bancos têm lucros absurdos —<br />
repito que o lucro do BankBoston aumentou 410% no trimestre passado —,<br />
empresas que deles tomam dinheiro emprestado estão falindo; enquanto os bancos<br />
crescem, as empresas quebram; enquanto os bancos têm altos lucros, as pessoas<br />
ficam sem dinheiro no bolso e, conseqüentemente, o consumo diminui.<br />
Há poucos dias, vi a propaganda de uma empresa que oferece dinheiro a<br />
funcionários públicos. Ela dizia: “Se você está sem dinheiro, se está em dificuldades,<br />
se está com alguma dívida, nos telefone”. Cheguei a consultar algumas pessoas que<br />
tomaram dinheiro emprestado e, logo depois, também li no jornal Folha de S.Paulo<br />
matéria muito interessante sobre o assunto, a qual mostrava que os funcionários que<br />
tomam dinheiro emprestado dessas empresas pagam — pasmem, Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados —, no crédito pessoal, mais de 1.000% de juros ao ano.<br />
Não é por acaso que há poucos dias o Ministro Guido Mantega, numa reunião<br />
em que falava sobre o Plano Plurianual no Senado Federal — eu estava presente —<br />
afirmou ser um verdadeiro assalto à mão armada o que os bancos estão fazendo.<br />
Porém, é mais do que assalto à mão armada: eles estão matando pessoas.<br />
O desequilíbrio da sociedade tem acontecido porque as empresas estão<br />
quebrando, as pessoas estão perdendo o emprego e os jovens não têm o direito de<br />
sonhar, porque, infelizmente, não conseguem seu primeiro emprego. Isso tem<br />
acontecido por culpa da economia desacertada em que ainda estamos vivendo, na<br />
qual os bancos têm tantos lucros.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Fiz um arrazoado para mostrar que um banco empresta 100 reais a outro com<br />
a expectativa de receber 126,50 reais, pois a taxa SELIC atualmente é de 26,5% ao<br />
ano. No entanto, ao emprestar 126 reais a uma indústria que precisa de capital de<br />
giro, o custo do dinheiro fica mais alto.<br />
Vejam a composição dos custos da atividade bancária: 37% do que o banco<br />
recebe são para garantir seu lucro; 28% para pagar tributos; 19,2% para cobrir<br />
custos administrativos; e 15,8% para cobrir prejuízos com calotes, inadimplência. Ou<br />
seja, o banco empresta dinheiro a uma taxa de juros mais alta porque acha que não<br />
vai receber o valor aplicado. Então, por que não aplica taxa menor de juros? Assim,<br />
provavelmente reduziria a inadimplência, e a taxa a ela relativa talvez pudesse cair<br />
de 15,8% para 10%.<br />
Qual o resultado das altas taxas praticadas pelos bancos? A indústria cobra<br />
mais; os comércios atacadista e varejista cobram mais; o consumidor, desprotegido,<br />
paga a conta e cai o seu poder de compra; os estoques não circulam e inicia-se o<br />
processo recessivo.<br />
Chega a ser ridículo o percentual da oferta de crédito em relação ao PIB<br />
brasileiro — cerca de 23% —, principalmente se comparado ao de outros países:<br />
51% no Uruguai, 81% no Canadá, 90,7% na França, 128% no Japão e 144% nos<br />
Estados Unidos, todos nossos parceiros no mercado mundial.<br />
O que quero dizer com isso? Que num determinado momento, se não houver<br />
crédito, giro de dinheiro no mercado com preços compatíveis com o que o brasileiro<br />
pode pagar, infelizmente não haverá desenvolvimento.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
A burocracia, as altas taxas de juros e as elevadas tarifas bancárias são os<br />
principais problemas para a obtenção de empréstimos. As exigências, como excesso<br />
de documentação, necessidade de fiador, de imóvel e de dinheiro em conta para dar<br />
em garantia são fatores que dificultam o acesso aos bancos. Banco só gosta de<br />
quem tem dinheiro. Banqueiro não gosta de quem não tem dinheiro, de quem não<br />
pode pagar. Banqueiro quer dinheiro.<br />
Srs. Deputados, quando o funcionário público de todos as esferas —<br />
municipal, estadual e federal — precisa de crédito, o coitado encontra dificuldades.<br />
Quando procura o auxílio do banco, tem que se sujeitar às regras que lhe são<br />
impostas, pois seu cartão e cheque especial já estão estourados e o gerente liga<br />
para ele todos os dias para cobrar-lhe que quite seu débito. Para fazer face aos<br />
juros cobrados, a fim de que, pelo menos, seu nome não seja mandado para uma<br />
carteira de inadimplentes, recorre a uma dessas financeiras — talvez sua única<br />
saída —, a quem praticamente vende a sua alma, porque tem de mostrar seu<br />
holerite para conseguir algum dinheiro.<br />
Nos Estados Unidos, 82 de cada 100 dólares que circulam na economia são<br />
frutos de empréstimos, feitos a juros baixíssimos e com longo prazo de devolução.<br />
No Brasil, falta liqüidez: apenas 27 de cada 100 reais são empregados em<br />
financiamentos para a iniciativa privada, com juros altos e prazos curtos.<br />
Vejam V.Exas. que se o volume de crédito fosse ampliado, haveria mais<br />
dinheiro disponível e mais concorrência entre os bancos, o que beneficiaria os<br />
tomadores de empréstimos, pois as taxas de juros seriam pressionadas para baixo.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
No Brasil, 25 milhões de pessoas que não têm conta bancária integram a<br />
população economicamente ativa de 80 milhões de brasileiros. É necessário<br />
adotar-se com urgência uma decisão política de gradual redução da SELIC, a taxa<br />
básica dos juros estabelecida pelo Banco Central.<br />
Como a taxa SELIC é de 26,5% — dizem que vai ser reduzida hoje —,<br />
descontado o índice de inflação de 10% ao ano, conclui-se que os juros reais são de<br />
16%. O Brasil é campeão mundial de juros altos. Na Argentina, a taxa anual de juros<br />
é de 15,57%; no Chile, 9,31%; no México, 8,49%; na Tailândia, 6,55%; na Coréia do<br />
Sul, 6,35%; nos países de Primeiro Mundo, varia de 1% a 2% ao ano.<br />
O sistema bancário nacional está revelando todos os sintomas da construção<br />
de um monopólio, pois, entre 1994 e 2001, 7 ou 8 bancos tiveram praticamente total<br />
controle da atividade financeira do País. O número de instituições bancárias no<br />
Brasil caiu de 264 para <strong>18</strong>2, e os bancos de varejo logo serão reduzidos a 8 ou 10.<br />
Isso é um desrespeito ao Brasil. Ele precisa crescer. Vinte por cento da<br />
mão-de-obra do País está desempregada, por culpa dessa taxa tão alta que os<br />
bancos, infelizmente, cobram. Em conseqüência disso, as empresas e a sociedade<br />
em geral não têm condições de pagar.<br />
Concedo aparte ao Deputado Babá.<br />
O Sr. Babá - Deputado Gilberto Nascimento, agradeço a V.Exa. a concessão<br />
deste aparte. Hoje houve redução da taxa de juros em 0,5%. A taxa SELIC foi<br />
reduzida no fantástico percentual de meio ponto, o que não resolve o problema, pois<br />
é insignificante a diminuição. Entendemos que o Governo precisa mudar sua<br />
política, que privilegia os banqueiros, principalmente o BankBoston — é assustador<br />
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o crescimento de seus lucros neste início de mandato do atual Presidente e chega a<br />
ser inclusive comprometedor, porque Henrique Meirelles foi Presidente desse banco<br />
durante muitos anos. Deveria ter vindo para esta Casa uma reforma tributária que<br />
verdadeiramente punisse os grandes bancos, que cobram taxas altíssimas dos<br />
trabalhadores, e as grandes fortunas. Como V.Exa. disse, de 1994 a 2001 os lucros<br />
dos bancos aumentaram <strong>18</strong>0%, seu patrimônio líquido cresceu 70% e seus impostos<br />
foram reduzidos em 50%. Não dá para aceitar essa política! Nós a vemos com<br />
preocupação, porque ela gera desemprego. Tanto é assim que nos 5 primeiros<br />
meses do ano, o Governo Lula, ao passo que pagou mais de 45 bilhões de juros aos<br />
banqueiros, aplicou apenas 1% da verba destinada a investimentos no País. A<br />
política atualmente adotada é recessiva. O Governo não pode apenas reduzir a taxa<br />
de juros em 0,5%; tem que romper com a política do Fundo Monetário Internacional,<br />
que desgraçou a economia da Argentina e de vários países e que no Brasil foi<br />
firmemente atacada pelo atual Presidente durante o Governo Fernando Henrique<br />
Cardoso. Se não sinalizarmos com uma mudança clara, não vai haver como fazer<br />
mudanças neste País. A mudança que se pretende é na reforma previdenciária, que<br />
vai atacar direito dos trabalhadores para cumprir uma meta de superávit, outro<br />
problema, porque passou de 3,75% para 4,25%. Isso tem de ser reduzido<br />
drasticamente, porque a meta de superávit alta provoca o endividamento brutal e o<br />
pagamento de altas taxas de juros e ao mesmo tempo tira dinheiro da área de<br />
investimento, que vai parar nos bolsos dos banqueiros. Esse é o debate a ser feito,<br />
como V.Exa. apresentou. Sou favorável a que os bancos, os verdadeiros<br />
rapinadores do País, sejam taxados violentamente em impostos, para que não tirem<br />
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da população, que já não tem como sobreviver devido a essa taxa altíssima de juros<br />
cobrada tanto da empresa quanto do trabalhador de baixa renda que procuram as<br />
financeiras. Quem recebe salário mínimo paga às financeiras juros altíssimos. Isso<br />
atinge duramente os servidores públicos.<br />
O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobre Deputado Babá, agradeço o aparte<br />
a V.Exa. Logicamente não nos estamos manifestando aqui na linha de rompimento<br />
com o Fundo Monetário. Enfim, acredito muito nos Ministros Antonio Palocci e Guido<br />
Mantega. Neste momento fica meu protesto exatamente por não termos visto ainda<br />
nenhuma tendência para pressionar os bancos a baixarem suas taxas. O que<br />
observamos é que o grande problema são os spreads.<br />
Tenho dados que dizem que ao escolher um banco, todo cuidado é pouco,<br />
porque as tarifas cobradas chegam à diferença de 17.000%. Abertura de contas,<br />
manutenção de contas ativas, confecção de ficha cadastral, renovação de ficha<br />
cadastral — veja o que se paga a um banco —, concessão e renovação de cheque<br />
especial, cartão de conta comum, talão de cheques de vinte folhas, cheques<br />
devolvidos sem fundo, cheque administrativo, saque 24 horas, extração em terminal<br />
eletrônico, ordem de pagamento, cobrança de cheque na compensação, entre<br />
outros, cobrem cerca de 80% da folha salarial dos bancários. Os 20% restantes vêm<br />
do fabuloso spread, a diferença entre a captação de cliente e a aplicação do<br />
tomador.<br />
Vejam, senhores: da renda de uma família brasileira de classe média — esse<br />
dado é interessante, Coronel Alves —, 40% vão para alimentação, moradia,<br />
transporte, saúde, educação, lazer e outras despesas essenciais e 60% vão para<br />
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gastos com tributos e juros. Este valor poderia ser menor para que as pessoas<br />
tivessem mais dinheiro para consumir.<br />
Ouço, por 1 minuto, o Deputado Rubinelli. Faltam somente 6 ou 7 minutos<br />
para terminar meu tempo e ainda quero concluir este assunto e entrar em outro.<br />
O Sr. Rubinelli - Nobre Deputado Gilberto Nascimento, parabenizo-o pela<br />
maneira excelente como tem exercido seu mandato não só pelo Brasil, mas também<br />
por São Paulo. V.Exa. tem engrandecido nosso Estado com o grande trabalho que<br />
vem fazendo, especialmente em defesa dos trabalhadores, que muitas vezes são<br />
roubados pelas taxas bancárias, conforme foi muito bem explicado no seu<br />
pronunciamento. Realmente é preciso que não só V.Exa. mas todos os Deputados<br />
imediatamente comecem a analisar o problema do elevado número de cobranças<br />
por parte do sistema bancário e a forma às vezes desumana como trata os<br />
correntistas. Os bancos funcionam como verdadeiros vampiros que atacam e sugam<br />
dos trabalhadores o pouco dinheiro que têm. Além do abuso, um dos poucos<br />
infratores do setor que a Justiça brasileira iria colocar atrás das grades, Salvatore<br />
Cacciola, fugiu para a Itália. Infelizmente, no Brasil, os banqueiros fazem o que<br />
querem, com a complacência dos Poderes constituídos. V.Exa. está de parabéns<br />
pelo discurso e pelas críticas proferidas.<br />
O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobre Deputado Rubinelli, precisamo-nos<br />
juntar ao Governo de um país que tem 3 safras por ano, 170 milhões de habitantes e<br />
um povo trabalhador. Devemos dizer ao Presidente da República e aos Srs.<br />
Ministros que precisamos ver essa mudança e que, para isso, podem contar com a<br />
Câmara Federal, com cada um dos Srs. Deputados.<br />
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Não podemos ver alguns banqueiros tomarem nosso dinheiro e o levarem<br />
para o exterior enquanto as indústrias perdem sua capacidade de produção e,<br />
conseqüentemente, geram desemprego, o que favorece o total desacerto social. É<br />
contra isso que precisamos protestar.<br />
Ouço, por um minuto, o Coronel Alves, porque, infelizmente, o tempo aqui<br />
passa muito rapidamente.<br />
O Sr. Coronel Alves - Deputado Gilberto Nascimento, V.Exa. se soma à voz<br />
do PL, que já foi inclusive expressa pelo nosso Vice-Presidente da República, a<br />
respeito do absurdo dos juros. Não vou mais externar-me, respeitando o tempo que<br />
ainda lhe resta, para não atropelar o mecanismo da sessão. Os dados que V.Exa.<br />
traz são tão transparentes que não há o que se questionar. Meio por cento é<br />
insignificante, e sabemos que só interessa aos banqueiros. Os empresários que<br />
querem e devem promover empregos estão à míngua, como está o povo brasileiro.<br />
Temos grande esperança de que este Governo realmente baixe os juros.<br />
O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Muito obrigado, Deputado Coronel Alves.<br />
Ouço, por 30 segundos, o Deputado Zico Bronzeado.<br />
O Sr. Zico Bronzeado - Deputado Gilberto Nascimento, é com prazer que me<br />
manifesto para parabenizá-lo, porque temas com tal magnitude poucos chegam a<br />
esta tribuna para abordar. A informação que temos é que hoje 0,5% já foi tirado<br />
daqueles alarmantes juros que estão consumindo a esperança da maioria dos<br />
pequenos, médios e grandes empresários. O Governo está no caminho certo.<br />
O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobre Deputado Zico Bronzeado,<br />
sabemos do esforço gigante que o Governo tem feito nessa direção. É claro que<br />
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entendemos que uma queda de 0,5% é uma sinalização que se dá ao mercado. Mas<br />
esperamos que o Governo pressione os bancos, porque o grande problema não é só<br />
a taxa SELIC, mas o spread, esta diferença tão grande entre o momento em que<br />
captam e emprestam o dinheiro. Essa é a nossa briga, que vai continuar por muito<br />
tempo nesta Casa, contra os banqueiros, aqueles que infelizmente acabam levando<br />
todo o lucro desta Nação.<br />
Ouço, com prazer, o aparte do nobre Deputado Darcísio Perondi.<br />
O Sr. Darcísio Perondi - Deputado Gilberto Nascimento, parabéns pela<br />
coragem, clareza e inteligência com que fala sobre os juros. Agora a costureira que<br />
vai a uma loja comprar uma máquina de costura, o taxista que vai comprar um carro,<br />
todos os empregados do Brasil, enfim, quem produz está de parabéns: o Governo<br />
reduziu os juros em 0,5%. Uma vergonha! Faltou coragem e determinação para<br />
dizer a quem produz que iria baixar a taxa SELIC. É uma lástima que o Governo<br />
brasileiro não tenha atendido ao clamor da produção, de quem quer investir e<br />
empregar. V.Exa. foi ao coração. Os banqueiros brasileiros estão assaltando mais<br />
do que nunca quem investe, quem emprega, quem tem cheque. É um estupro ao<br />
brasileiro o juro e o lucro dos banqueiros nacionais, em relação aos quais o<br />
Ministério da Fazenda e o Banco Central ficam cegos. Parabéns, Deputado Gilberto<br />
Nascimento.<br />
O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobres Deputados, gostaria ainda de<br />
comentar um assunto lamentável que estamos vendo nos jornais. Inclusive, estou<br />
tentando marcar uma audiência com o Ministro da Saúde, porque entendo que isso<br />
não é projeto do Governo, provavelmente não é do Ministro da Saúde. Talvez<br />
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alguém do meio campo do Governo, infelizmente, venha tomando atitudes como<br />
essa.<br />
Há poucos dias, dizíamos desta tribuna que o Ministério da Saúde, através de<br />
um setor do Ministério, estava distribuindo em São Paulo cachimbos para que<br />
menores pudessem fumar crack. E diziam que tinham que dar o cachimbo porque,<br />
se não dessem, o menor iria ter que comprar de alguém ou usar um o do outro.<br />
Agora, estamos lendo em uma manchete que vão ser distribuídos<br />
preservativos nas escolas. Uma das hipóteses é instalar em algumas escolas<br />
máquinas de fornecimento de preservativos. Isso é incentivo ao sexo precoce. Numa<br />
escola com crianças com 12, 13 ou 14 anos, na medida em que forem distribuídos<br />
preservativos, haverá um incentivo ao sexo precoce. Não creio que esse seja um<br />
programa de Governo. Provavelmente, algum órgão do Ministério da Saúde esteja<br />
fazendo isso sem orientação do próprio Governo.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, muito obrigado. Um bom final de<br />
semana a todos os senhores. Que Deus os abençoe; que tenham uma feliz viagem<br />
e que semana que vem voltemos pagando um pouco menos juros para os<br />
banqueiros internacionais.<br />
Durante o discurso do Sr. Gilberto Nascimento, o<br />
Sr. Inocêncio Oliveira, 1º Vice-Presidente, deixa a cadeira<br />
da presidência, que é ocupada pelo Sr. João Caldas, 4º<br />
Suplente.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Jackson Barreto, para uma Comunicação de Liderança, pelo PTB. S.Exa. disporá de<br />
5 minutos.<br />
O SR. JACKSON BARRETO (PTB-SE. Como Líder. Sem revisão do orador.)<br />
- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ouvimos atentamente no plenário desta<br />
Casa pronunciamento de um Parlamentar que fez críticas a respeito do<br />
comportamento do nosso conterrâneo e ex-Senador da República, Sr. José Eduardo<br />
Dutra, atual presidente da PETROBRAS.<br />
O Congresso Nacional conhece a trajetória do ex-Senador José Eduardo<br />
Dutra, sabe da sua competência, ética, honestidade e fidelidade aos princípios do<br />
seu partido, o Partido dos Trabalhadores.<br />
Gostaria imensamente de ouvir, nesta Casa, uma discussão a respeito do<br />
comportamento do presidente da PETROBRAS, Sr. José Eduardo Dutra, no que se<br />
refere ao crescimento da empresa, à respeitabilidade, à credibilidade, à força das<br />
suas ações e ampliação dos seus trabalhos, porque, cada vez mais, há descoberta<br />
de novos poços de petróleo, o que tem fortalecido a nossa PETROBRAS.<br />
Tenho certeza absoluta de que essas mesmas vozes que hoje criticam o<br />
Presidente José Eduardo Dutra não se levantaram quando esta Casa, apoiando a<br />
política neoliberal do Sr. Fernando Henrique Cardoso, achou por bem quebrar o<br />
monopólio estatal do petróleo, previsto na Lei nº 2.004, de 1953.<br />
Neste momento, quero solidarizar-me com o Presidente da PETROBRAS, Sr.<br />
José Eduardo Dutra, ao mesmo tempo em que parabenizo S.Sa. pelo grandioso<br />
trabalho que realiza à frente da nossa grande empresa.<br />
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O crescimento da PETROBRAS vem sendo ressaltado pelas informações<br />
transmitidas pela grande imprensa. São grandes os lucros obtidos pela empresa,<br />
que atualmente atua em quase todo o mundo e tem presença marcante na vida do<br />
nosso País nas áreas social, cultural e científica. Tudo isso vem acontecendo sob o<br />
comando do ex-Senador José Eduardo Dutra, que presta grande serviço à Nação.<br />
Sr. Presidente, gostaria de ver a discussão em torno do nome do Sr. José<br />
Eduardo Dutra relacionada ao seu trabalho como Parlamentar brilhante, eficiente,<br />
competente e guerreiro. Hoje, S.Sa. traduz sua ética e compromisso com o Brasil e<br />
com o Governo Lula à frente da PETROBRAS.<br />
Quero dizer àqueles que nesta Casa fazem críticas ao Presidente José<br />
Eduardo Dutra que levem em consideração o respeito que este País tem não<br />
somente à PETROBRAS, mas também à pessoa do seu Presidente, pela sua vida<br />
marcante no Congresso Nacional.<br />
Ao Sr. José Eduardo Dutra, Presidente da PETROBRAS, declaro não apenas<br />
nosso apoio, mas nossa confiança no seu trabalho e na sua dignidade.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concordo em gênero, número e grau<br />
com o pronunciamento de V.Exa., nobre Deputado Jackson Barreto.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Osório Adriano.<br />
O SR. OSÓRIO ADRIANO (PFL-DF. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desta tribuna temos denunciado a equivocada<br />
política econômica adotada pelo atual Governo nestes primeiros meses de mandato<br />
— política esta, aliás, conservadora, pois, na realidade, segue as mesmas diretrizes,<br />
e até mais acerbamente, de Governos anteriores, não obstante suas continuadas<br />
promessas de mudanças.<br />
O Brasil, é claro, até tem recebido elogios de seus credores e de outros<br />
países; aqui, porém, os protestos são cada vez maiores. É notório, inclusive, que na<br />
gestão passada os técnicos não tinham o rigor da inflexibilidade presente na<br />
condução da política monetária e a ajustavam a eventuais oscilações dos fatores<br />
financeiros nacionais e internacionais.<br />
O resultado dessa diretriz inflexível aí está aos nossos olhos, confirmados<br />
pelos dados estatísticos mais recentes, divulgados pela Fundação Getúlio Vargas,<br />
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE e por outras instituições<br />
de pesquisa, que demonstram a perigosa tendência que tomou a nossa economia.<br />
Corremos até o risco de que o País pare. E quem disse isso, Sr. Presidente,<br />
foi alguém com grande bagagem e enorme experiência na área empresarial: o Sr.<br />
José Alencar, Vice-Presidente do Brasil.<br />
A ampla abrangência dos dados divulgados dia-a-dia não permite a realização<br />
de análise aprofundada nos poucos minutos deste pronunciamento. Considero,<br />
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entretanto, importante ressaltar alguns aspectos essenciais para o preciso<br />
diagnóstico da situação que atravessamos.<br />
O que ocorre de forma preponderante em todo o nosso panorama econômico,<br />
Sr. Presidente, é a queda da produção industrial, que, em abril, chegou ao índice<br />
negativo de 4,2%, com conseqüências que já se tornam desastrosas. Isso porque há<br />
falta de consumo. Não há financiamento, não há nada.<br />
Destaque-se que a queda ainda maior, de 13,6% dos bens de consumo<br />
duráveis e de 10,6% dos não-duráveis, reflete o grave declínio do poder aquisitivo<br />
da população e da capacidade financeira das empresas, hoje sem capital giro e sem<br />
recursos para aplicar na manutenção e ampliação de suas estruturas, aliás, sequer<br />
no aproveitamento de sua capacidade produtiva, já altamente ociosa.<br />
A conseqüência disso todos nós conhecemos: a redução das jornadas de<br />
trabalho, a antecipação de férias coletivas, o fechamento de fábricas e a demissão<br />
de trabalhadores.<br />
Se ainda se constatou um pequeno aumento de 2,5% nos últimos 12 meses<br />
no setor industrial, este foi conseqüência preponderante do crescimento da<br />
produção de bens destinados a exportação, operação beneficiada pelo câmbio. E,<br />
se não fosse isso, estaríamos mergulhados em verdadeiro caos.<br />
A deflação já está batendo às nossas portas. Em abril, o Índice Geral de<br />
Preços de Mercado — IGP-M, acusou o valor negativo de 0,47%, até então o índice<br />
mais baixo desde o ano de 1994.<br />
Hoje, Sr. Presidente e nobres Deputados, tivemos a infeliz constatação, por<br />
intermédio de dados divulgados pela imprensa relativos ao mês de maio, de uma<br />
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deflação histórica, que chega a 0,66% negativos, segundo o Índice Geral de Preço<br />
de Mercado, situação já verdadeiramente alarmante, mas que parece não<br />
sensibilizar os proeminentes técnicos do Governo.<br />
Todos sabemos que a inflação em nível incontrolável desorganiza o sistema<br />
econômico e corrói o patrimônio social e, por conseqüência, que a estabilidade do<br />
valor moeda é condição básica do próprio desenvolvimento sustentável e<br />
harmonioso. No entanto, Sr. Presidente, não estamos mais atravessando, no<br />
momento, nenhum processo de inflação galopante. Ao contrário, os indicadores<br />
convergem para situação de razoável controle, não obstante ainda seja preciso<br />
admitir equilibrada cautela.<br />
O que não se justifica são as descabidas medidas de contenção na área<br />
monetária, alternativa que somente beneficia os negócios financeiros, os bancos, e<br />
promove maior escalada do endividamento público, enquanto, por outro lado, exclui<br />
toda possibilidade de desenvolvimento econômico.<br />
O resultado social negativo é ainda mais sério em razão dos milhões de<br />
desempregados já existentes no País, contingente que dia-a-dia se avoluma. Há<br />
preocupação do Governo e — por que não dizer? — de todos nós com a área social;<br />
mas, com o País parado, não teremos como socorrer os que necessitam.<br />
No Brasil, ao que se estima, são mais de 16 milhões os desempregados. Nos<br />
grandes centros metropolitanos, como São Paulo, somam-se mais de 1 milhão e 265<br />
mil desempregados. Em outras cidades, como Brasília, proliferam favelas e núcleos<br />
populacionais marginalizados, que se afundam na ociosidade e, muitas vezes, são<br />
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obrigados a aceitar condições subumanas de trabalho na informalidade ou a se<br />
encaminharem para a mendicância ou para o tráfico de drogas e o crime.<br />
Mesmo para aqueles que ainda têm emprego, a situação não é boa, em face<br />
dos baixos salários ou das precárias condições de trabalho, da carestia, da<br />
dificuldade de transporte, do custo da alimentação, da falta de assistência médica e<br />
de recursos para a educação dos filhos e para o lazer da família.<br />
Sr. Presidente, caros colegas Deputados, a situação com que nos<br />
defrontamos passou da fase de simples estagnação para, de fato, entrar em<br />
processo de recessão econômica. Urgem, portanto, medidas imediatas para evitar o<br />
incontrolável agravamento desse processo recessivo.<br />
Diante da contínua queda da produção industrial e, principalmente, da<br />
demanda, chegando à deflação, não é possível permanecermos estáticos.<br />
Concedo, com prazer, aparte ao nobre Deputado Darcísio Perondi.<br />
O Sr. Darcísio Perondi - Deputado Osório Adriano, o discurso de V.Exa. não<br />
vem do livro, da teoria ou do jornal; é o discurso de um empresário, que emprega,<br />
que luta, que produz e paga seus impostos. Trata-se de discurso sério, consistente e<br />
de conteúdo. Que o Sr. Ministro da Fazenda, médico, e o Sr. Presidente da<br />
República, que disse na campanha que cortaria, no dia seguinte à posse, 50% dos<br />
juros, leiam com atenção, mergulhem no seu discurso. Trata-se do discurso de<br />
empresário e enfoca o núcleo do Poder, que precisa dizer “não” aos banqueiros,<br />
sendo fiel às suas promessas de campanha; precisa dizer “não” ao Fundo<br />
Monetário, correspondendo aos 56 milhões de brasileiros que nele votou. Acima de<br />
tudo, é preciso que o Governo gere emprego, produção, investimento e tenha<br />
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coragem para enfrentar o assalto que os bancos estão fazendo no Brasil — não<br />
apenas bancos privados, mas bancos oficiais também. O Brasil hoje está de luto. O<br />
Brasil da produção, o Brasil do emprego, o Brasil do empresário está de luto:<br />
reduziram apenas 0,5% a taxa de juros. Parabéns, Deputado Osório Adriano!<br />
O SR. OSÓRIO ADRIANO - Obrigado, nobre Deputado Darcísio Perondi.<br />
Realmente é um discurso de críticas pesadas, mas é a realidade do País hoje.<br />
Agradeço a V.Exa. o aparte.<br />
Não podemos, Sr. Presidente, concordar com a continuidade da política do<br />
Governo em manter juros altíssimos, que chegaram ao patamar de 26,5% da taxa<br />
SELIC, renitentemente mantida pelo Banco Central, ou de elevar os limites dos<br />
depósitos compulsórios bancários, restringindo ainda mais as linhas de<br />
financiamento e de crédito para os setores produtivos.<br />
É lógico que os banqueiros preferem emprestar dinheiro ao Governo e não à<br />
iniciativa privada. Não se justifica a fremente busca de superávits primários para<br />
liberar recursos em favor do pagamento de juros da dívida pública, enquanto os<br />
investimentos necessários ao nosso desenvolvimento são postergados.<br />
A continuar a insistência governamental em relação a essa política,<br />
correremos sério risco de projetar para o País o caos econômico e social. Não<br />
queremos ser pessimistas, apregoando incertezas negativas porquanto sempre<br />
acreditamos no potencial de nosso País para superar qualquer crise, seja ela<br />
oriunda de fatores internos ou externos. Mas temos de ser realistas e nos precaver<br />
quanto a qualquer fato que possa conduzir a Nação ao retrocesso de suas<br />
conquistas tão duramente alcançadas.<br />
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O Governo insiste nessa política recessiva, que conduz o povo a sacrifícios<br />
cada vez maiores.<br />
Onde estão os 10 milhões de empregos prometidos? Quando se iniciará a<br />
retomada do desenvolvimento? Não é com migalhas de doações para combater a<br />
fome que podem ser compensadas socialmente as malévolas conseqüências do<br />
retrocesso econômico que se instala. O País precisa que recursos financeiros<br />
circulem, precisa de investimentos, de crédito, de incentivos aos setores produtivos.<br />
Se a política do Governo promove o contrário, como evitar o descalabro<br />
econômico, seja no âmbito interno, seja frente aos grupos econômicos financeiros<br />
externos? O que vamos fazer? Como conseguir a façanha de vencer a<br />
competitividade que se desenvolve em todas as nações do mundo, se destroçamos<br />
o potencial de produtividade e rentabilidade de nossas empresas com elevados<br />
tributos e altas taxas de juros? Jamais o conseguiremos se não promovermos o<br />
nosso próprio desenvolvimento, se não proporcionarmos investimentos contínuos.<br />
Como conseguir essa façanha, se liquidamos a política de incentivos aos setores<br />
produtivos, à indústria, à agropecuária, que tão bravamente tem ajudado o País a<br />
crescer, se decretamos o achatamento do poder aquisitivo do povo?<br />
É difícil aceitar a continuidade desta situação e permanecer inerte diante dos<br />
fatos consumados.<br />
Nós, o Poder Legislativo, temos erguido a voz para alertar o Governo quanto<br />
aos verdadeiros rumos que devem ser trilhados para salvaguardar a possibilidade de<br />
progresso para o País. Somos representantes do povo. As nossas mensagens têm<br />
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de ser ouvidas por todos os Poderes constituídos, e não somente pelos membros<br />
desta Casa. A Nação espera medidas concretas para reverter esse quadro.<br />
Nós, Parlamentares, faremos a nossa parte e cumpriremos nossas<br />
responsabilidades, especialmente neste momento em que se propõem reformas,<br />
tendo em vista a recondução do País ao seu rumo certo.<br />
Sr. Presidente, tomamos conhecimento hoje de que o COPOM decidiu baixar<br />
os juros em 0,5%. Isso não é nada, parece brincadeira! Só se salva o gesto, a<br />
intenção, porque, na realidade, nada mudou. Quando se baixam os juros em outros<br />
países de 2% para 1,5%, significa 25%. Aqui baixaram apenas 0,5%. O significado<br />
dessa redução é apenas simbólico, como no caso do aumento de 1% do salário dos<br />
servidores públicos.<br />
Na prática, esse aumento não representa nada: quem ganha 500 reais,<br />
passará a receber 505 reais. É lamentável a postura do atual Governo! Esperamos<br />
que o País suporte a situação.<br />
Ouço, com prazer, o Deputado Wasny de Roure.<br />
O Sr. Wasny de Roure - Deputado Osório Adriano, faço este aparte ao<br />
discurso de V.Exa. para contribuir com o debate aqui travado. Na realidade, o<br />
COPOM discute tecnicamente a taxa de juros. Sabemos que a taxa de juros é o<br />
preço da moeda. Nesse processo, existe algo extremamente delicado, além da<br />
inflação. O atual Governo recebeu dolorosa herança: uma dívida interna na casa dos<br />
900 bilhões de reais, algo inusitado, histórico. Naturalmente, sendo o principal<br />
demandador de moeda do mercado, o Estado exerce papel decisivo na definição do<br />
preço da moeda, como já afirmei, da taxa de juro. A herança recebida tem um<br />
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responsável; ela não nasceu do dia para noite. A dívida é enorme. O COPOM tomou<br />
hoje acertada decisão, porque temos de recuperar as perdas. Foi muito difícil, mas,<br />
em curto espaço de tempo, o Governo conseguiu reverter a taxa de inflação, quando<br />
já se perdia o seu controle no início do ano. Portanto, a decisão do COPOM tem de<br />
ser analisada nas suas conseqüências, ainda que, lamento, o grande prejudicado<br />
seja o povo e o grande aproveitador, os banqueiros. Isso, sim, é spread bancário: a<br />
taxa de lucro, a taxa de administração. Não se trata apenas dos tributos que se<br />
incorporam ou da decisão do COPOM. As taxas de juros brasileiras são<br />
estratosféricas porque estratosférico é o índice de lucratividade que os bancos<br />
exigem do povo brasileiro.<br />
O SR. OSÓRIO ADRIANO – Deputado Wasny de Roure, nobre representante<br />
do Distrito Federal, agradeço a V.Exa. o aparte e lhe digo que a inflexibilidade deste<br />
Governo em relação à política econômica adotada está indo além do que devia. O<br />
Governo passado adotava a mesma política, mas tinha flexibilidade.<br />
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Leandro Vilela.<br />
O SR. LEANDRO VILELA (PMDB-GO. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, muito tem sido dito a respeito da grande missão<br />
do Congresso Nacional na votação das reformas, mas a Câmara tem outro<br />
compromisso inadiável com o Brasil, configurado num projeto que precisa ser<br />
urgentemente votado e aprovado por esta Casa. Trata-se do projeto de lei que cria o<br />
seguro rural, um dos mais modernos instrumentos de política agrícola, praticado em<br />
todos os grandes países produtores de grãos, menos no Brasil.<br />
O seguro rural é um instrumento que protege o produtor dos caprichos da<br />
natureza, dos riscos climáticos, de pragas e doenças, enfim, de fenômenos que<br />
fogem ao seu controle. Ao dar segurança ao produtor numa atividade tão suscetível<br />
a riscos, o seguro rural funciona como um incentivador da produção e um indutor de<br />
novas tecnologias, na medida em que facilita o acesso a novos créditos.<br />
O elevado nível de comprometimento do patrimônio dos produtores rurais<br />
dificulta-lhes o acesso a novos créditos. A garantia dada pelo seguro rural remove<br />
essas barreiras, possibilitando novos financiamentos. Estudos preliminares mostram<br />
que, já no primeiro ano após a sua implantação, a área plantada segurada no Brasil<br />
deve aumentar de 3% para 15%, passando de 1,6 milhão para 8 milhões de<br />
hectares.<br />
Todos os importantes países agroexportadores do mundo que competem com<br />
o Brasil no mercado internacional dispõem de um sistema de seguro extremamente<br />
desenvolvido e com forte participação oficial. Os Estados Unidos, por exemplo,<br />
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mantêm o programa por intermédio de uma agência governamental que num<br />
período de 6 anos efetuou gastos de 8,2 bilhões de dólares, cerca de 1,4 bilhão por<br />
ano.<br />
Na Europa existem vários modelos de seguro agrícola. O mais desenvolvido<br />
está na Espanha, que também dispõe de uma agência governamental. A Espanha<br />
gasta anualmente 500 milhões de euros com seu programa de seguro agrícola. O<br />
mesmo sistema é executado com sucesso pelo México, um país de grande<br />
similaridade econômica com o Brasil.<br />
Há cerca de 15 dias, em viagem à cidade do México, tive a oportunidade de<br />
conhecer de perto o programa mexicano. Também participaram da viagem os<br />
Deputados Moacir Micheletto e Luis Carlos Heinze, o ex-Ministro da Agricultura<br />
Alysson Paulinelli e o Dr. Emiliano Pereira Botelho, Presidente da CAMPO. Foi uma<br />
experiência importante, que nos deixou convencidos da necessidade de o Brasil<br />
implantar seu próprio modelo de seguro rural. A partir daí, com certeza o País<br />
colherá um grande aumento na produção de grãos.<br />
O momento é oportuno para a aprovação dessa matéria. Na semana<br />
passada, o Presidente Lula afirmou que a implantação do seguro rural é prioridade<br />
do seu Governo. Da mesma forma, o Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues,<br />
vem repetindo com insistência que é preciso implantar o projeto ainda este ano.<br />
O interesse do Governo e do Ministro ficou evidenciado na criação de um<br />
grupo de trabalho que já começou a estudar a regulamentação da lei. Esse grupo é<br />
formado por representantes dos Ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento<br />
Agrário e da Fazenda, além da Federação Nacional das Empresas de Seguros<br />
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Privados, da Brasil Resseguros S.A., da Superintendência de Seguros Privados e da<br />
Federação Brasileira de Bancos. O trabalho desse grupo garantirá que o projeto,<br />
assim que for aprovado na Câmara, imediatamente comece a ser implementado.<br />
O interesse demonstrado pelo Governo é fundamental para o sucesso do<br />
seguro rural. A experiência internacional mostra que, para que o projeto seja<br />
eficiente, é fundamental a participação do Governo. A atividade rural possui certas<br />
peculiaridades que impõem um custo operacional excessivamente alto às<br />
seguradoras privadas, o que inviabilizará o negócio, se não houver subsídios<br />
oficiais.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, todos os ventos sopram em favor<br />
da implantação do seguro rural no Brasil. Esse moderno instrumento vai suprir uma<br />
lacuna existente na política agrícola brasileira. O andamento do projeto está agora<br />
em nossas mãos. É preciso haver urgência em sua tramitação. Precisamos votá-lo<br />
ainda este ano e, aprovado, implantá-lo a partir de 2004.<br />
Com a implantação do seguro rural, os produtores brasileiros vão igualar-se<br />
aos seus principais concorrentes internacionais. Com mais segurança e mais crédito,<br />
poderão investir em novas tecnologias. Com isso, não há dúvida de que<br />
aumentaremos nossa produção, o que trará expressivos ganhos para a economia<br />
brasileira, com reflexos altamente positivos na área social, já que a agricultura é uma<br />
das atividades que mais empregam no País.<br />
As últimas estatísticas mostram que tem sido exatamente o agronegócio o<br />
grande sustentáculo da economia brasileira. Criar mecanismos para incentivar esse<br />
setor é quase um imperativo para que o Brasil possa voltar a crescer com índices<br />
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expressivos. Temos agora a grande oportunidade de dar nossa contribuição a esse<br />
processo, aprovando rapidamente a lei que cria o seguro agrícola.<br />
Aproveito a oportunidade para fazer referência a assunto comentado pelos<br />
colegas que nos antecederam. Os juros praticados em nosso País realmente estão<br />
sufocando não só produtores, empresários, comerciantes e industriais, mas a<br />
sociedade brasileira como um todo. É chegado o momento de o Brasil voltar a<br />
crescer, e a passos largos. É hora de revermos a taxa dos juros, de o Governo voltar<br />
toda a sua atenção para o problema da redução dessas taxas. O que os bancos<br />
pagam pelas aplicações é muito pouco, é irrisório. Mas, quando se toma um<br />
empréstimo dos bancos, os juros são altíssimos. O lucro dos banqueiros é altíssimo.<br />
É necessário que o País volte a se desenvolver, e o Governo tem de voltar sua<br />
atenção para a sociedade.<br />
Ouço, com prazer, o nobre Deputado Neucimar Fraga.<br />
O Sr. Neucimar Fraga - Deputado Leandro Vilela, parabenizo V.Exa. pelo<br />
belíssimo e importante discurso que faz nesta tarde. Pelo que passa a agricultura<br />
brasileira, sempre massacrada, como sabemos, é bom termos na Casa<br />
Parlamentares comprometidos com o setor, pessoas que se preocupam, que têm<br />
sensibilidade e responsabilidade para com o assunto. Sabemos que a agricultura é<br />
realmente o mecanismo que impulsiona a economia, e também a solução para os<br />
grandes problemas que enfrentamos, como o da fome que assola o Brasil. Este<br />
país, com 54 milhões de pessoas passando fome, é o único lugar do mundo em que<br />
o agricultor tira da terra 3 colheitas por ano. Ou seja, o Governo Federal precisa<br />
investir na agricultura e garantir aos agricultores brasileiros um preço mínimo para os<br />
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produtos agrícolas, pelo menos para alguns itens. É preciso também garantir o<br />
escoamento da safra e o acesso à tecnologia de ponta. O fato de saber que na Casa<br />
há Parlamentares comprometidos com esse setor deixa-nos muito felizes.<br />
Parabenizamos V.Exa. por seu discurso.<br />
O SR. LEANDRO VILELA - Muito obrigado, Deputado Neucimar Fraga.<br />
Concedo aparte ao nobre Deputado Moacir Micheletto.<br />
O Sr. Moacir Micheletto - Deputado, nesta tarde venho aparteá-lo com muita<br />
alegria, visto que V.Exa. faz, com grande sensibilidade, a defesa de um projeto de<br />
suma importância para a agricultura brasileira. Tenho certeza absoluta de que o dia<br />
em que esta Casa aprovar o projeto do Executivo, cujo Relator é o eminente<br />
Deputado Luis Carlos Heinze, o Brasil vai tornar-se um país diferente. A história da<br />
agricultura brasileira vai dividir-se em duas fases: a de antes e a de depois do<br />
seguro agrícola. Não é possível que um país como o Brasil, líder na produção de<br />
alimentos, não faça seguro agrícola. A agricultura carrega o Brasil nas costas e gera<br />
superávit na balança comercial. Vários países do mundo praticam o seguro agrícola.<br />
Como V.Exa. relatou, há alguns dias um grupo de Deputados, numa missão da qual<br />
V.Exa. participou, esteve no México em visita oficial. Essa visita foi liderada pelo ex-<br />
Ministro da Agricultura Alysson Paulinelli, que continua sendo Ministro do País, e<br />
contou também com a companhia do Presidente da CAMPO, Emiliano Botelho, que<br />
se encontra hoje na Casa. Vimos que lá o seguro agrícola não chega a 3% do custo<br />
da produção, e 99% dos agricultores daquele país utilizam esse extraordinário<br />
mecanismo para a garantia da sua produção. Portanto, congratulo-me com V.Exa.<br />
por tratar desse assunto em seu discurso. Se Deus quiser, o seguro agrícola, uma<br />
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promessa do Presidente da República no lançamento do Plano de Safra e também<br />
um compromisso do Ministério da Agricultura, agora sob a direção do eminente<br />
Ministro Dr. Roberto Rodrigues, será aprovado por esta Casa ainda este ano.<br />
Repito: o Brasil será diferente depois do seguro agrícola.<br />
Micheletto.<br />
O SR. LEANDRO VILELA - Agradeço-lhe o aparte, Deputado Moacir<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, reafirmo o compromisso, que<br />
espero seja de todos os Parlamentares desta Casa, de contribuir, com a aprovação<br />
da lei, para a implantação do seguro rural no País, a fim de que possamos dar mais<br />
segurança ao produtor rural, além de colaborar para o aumento da produção e para<br />
a geração de emprego e riquezas no País.<br />
Ouço, com prazer, o Deputado Darcísio Perondi.<br />
O Sr. Darcísio Perondi - Deputado Leandro Vilela, brilhante liderança de<br />
Goiás, jovem que no seu primeiro mandato desponta com um ótimo trabalho na<br />
Casa, na Comissão da Agricultura, parabéns pelo seu discurso sobre o projeto do<br />
seguro agrícola. De fato, a agricultura dará mais um salto com a implantação do<br />
seguro agrícola. Na semana passada, vimos com muita alegria que o atual Governo<br />
manteve o PRONAF, programa implantado pelo Presidente Fernando Henrique<br />
Cardoso. Deu continuidade, ainda, ao MODERFROTA, que fixa o juro em 8,75%<br />
para a agricultura de extensão, programa também do Governo anterior. Com o<br />
seguro agrícola, o PRONAF, o MODERFROTA e a aprovação de uma equilibrada e<br />
serena lei de biotecnologia, nenhum país do mundo vai segurar a expansão da<br />
agricultura brasileira, que já assusta os Estados Unidos e a Europa, os grandes<br />
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mercadores do mundo. O Brasil crescerá como o país da agricultura que é, gerando<br />
riqueza no campo e emprego na cidade. Parabéns, Deputado Leandro Vilela.<br />
O SR. LEANDRO VILELA - Muito obrigado, Deputado Darcísio Perondi.<br />
Sras. e Srs. Parlamentares, a criação do seguro rural está em nossas mãos.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. NEUCIMAR FRAGA (PL-ES. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />
discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vivemos em contexto de<br />
modesta atividade econômica, juros elevados e renda real em queda, as estatísticas<br />
de inadimplência têm atraído especial atenção de analistas, de investidores, da<br />
mídia, da população em geral, e hoje gostaria que atraíssem a atenção desta Casa.<br />
Um levantamento da SERASA, empresa do Brasil em análises<br />
econômico-financeiras para apoiar decisões de crédito e negócios, revelou que o<br />
volume de cheques devolvidos por falta de fundos, em relação ao total de<br />
compensados, em março de 20<strong>03</strong>, foi de 16,7 cheques devolvidos a cada mil<br />
compensados, com alta de 3,1% em relação ao mesmo mês do ano passado,<br />
quando foram registrados 16,2 cheques devolvidos a cada mil compensados. No<br />
mês de maio deste ano, esse percentual representa 3,27 milhões de cheques sem<br />
fundos.<br />
O estudo aponta aumento de 2% no volume de cheques sem fundos também<br />
na comparação primeiro trimestre 20<strong>03</strong>/2002. Nos primeiros três meses de 20<strong>03</strong>,<br />
foram 15,1 cheques devolvidos a cada mil compensados, contra 14,8 no mesmo<br />
período do ano passado. Segundo a SERASA, os números de março, comparação<br />
mensal e trimestral, são os maiores já registrados desde 1991, ano em que foi criado<br />
o índice.<br />
Os juros altos, o continuado processo de queda da renda pessoal e a não<br />
recomposição dos salários, na mesma razão da evolução dos preços, levam o<br />
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cheque, por sua liquidez — é o segundo meio de pagamento mais utilizado no País,<br />
vem depois do dinheiro —, a assumir o papel de quase moeda na economia.<br />
Neste início de 20<strong>03</strong>, na comparação do primeiro bimestre em relação ao<br />
mesmo período de 2002, foi verificada uma variação de 1,4%. Apesar de pequeno,<br />
nunca deve ser entendido como irrelevante qualquer crescimento na inadimplência,<br />
pois não resulta em benefício de ninguém, muito pelo contrário, dificulta e encarece<br />
o crédito no exercício de suas funções primordiais.<br />
Temos ainda no País, em todas as regiões, uma situação peculiar, em que o<br />
comércio varejista, pressionado pela necessidade de gerar caixa ante as<br />
representativas taxas de juros, que impedem a captação de capital de giro, utiliza a<br />
modalidade de cheque pré-datado para financiar seus clientes. Com isso, é comum<br />
em todas as cidades brasileiras encontrarmos comerciantes com as gavetas cheias<br />
de cheque sem fundo.<br />
Devemos ter em mente que o cheque, na forma de ordem de pagamento à<br />
vista, é muito eficiente, mas na modalidade de pré-datado possui características de<br />
venda a prazo e, por esta razão, envolve riscos em seu recebimento que requerem a<br />
criação urgente, pelo Banco Central, que é o agente regulador do sistema financeiro,<br />
de mecanismos que forcem as instituições financeiras a serem responsáveis pelo<br />
cheque até determinado valor, pelo menos 100 reais por folha, porque os bancos<br />
não cobrem o valor dos cheques e são os varejistas que ficam com o prejuízo e têm<br />
que procurar o emitente para tentar receber o dinheiro de outra maneira. O banco<br />
tem de respeitar a data que foi escrita pelo consumidor no cheque. Mais absurdo<br />
ainda é o banco incluir o nome do cliente na SERASA por causa de um cheque<br />
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pré-datado depositado antes do prazo. Está tramitando nesta Casa o Projeto de Lei<br />
nº 360, de 20<strong>03</strong>, de minha autoria, que obriga os bancos a reconhecerem a data<br />
expressa no corpo do cheque, mesmo que seja ela para data futura.<br />
Outra idéia seria a criação do cadastro nacional de controle de cheques<br />
pré-datados, em que o receptor realizaria o cadastramento no momento em que<br />
recebesse o cheque pré-datado de seu cliente, podendo assim ser consultado o<br />
numero de cheques pré-datados que uma pessoa já distribuiu no mercado.<br />
Mas, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, por que não se busca uma<br />
solução para o problema? A resposta é simples, está estampada no lucro<br />
exorbitante que os nossos bancos têm alcançado nos últimos anos. Eles são os<br />
maiores beneficiados na devolução de um cheque.<br />
Os bancos tiveram receita próxima de 220 milhões de reais com a emissão de<br />
cheques sem fundo nos 4 primeiros meses do ano. O dinheiro corresponde às tarifas<br />
cobradas por eles pelos cheques devolvidos por inadimplência. Os ganhos<br />
potenciais crescem ainda mais e podem atingir 420 milhões de reais e mais de 1<br />
bilhão de reais no ano quando são incluídas as tarifas cobradas pela exclusão do<br />
nome da pessoa do cadastro de inadimplentes do Banco Central (CCF). A receita<br />
média dos bancos para cada cheque devolvido 3 vezes é de 17 reais e 54 centavos,<br />
mas pode subir para 33 reais e 6 centavos se for considerada a exclusão do CCF,<br />
que deve ocorrer no futuro, quando o inadimplente saldar suas dívidas. Além da<br />
tarifa bancária, o Banco Central cobra 0,35 centavos por devolução e também 6<br />
reais e 82 centavos para retirar os registros de inadimplência do cadastro. Quem<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
passa cheque sem fundo, além da dor de cabeça, tem que pagar multa de pelo<br />
menos 40 reais e 58 centavos por folha de cheque para conseguir limpar o nome.<br />
Os dados divulgados pela SERASA — Centralização dos Serviços dos<br />
Bancos S.A. mostram que, na média do ano, para cada mil cheques emitidos, 14,7<br />
foram devolvidos 2 vezes por falta de fundos. Isso significa que cerca de 12,7<br />
milhões de cheques não foram saldados desde o início de 2002.<br />
É tão escandalosa a situação atual, que a sustação ou oposição ao<br />
pagamento é uma ordem imediata através dos terminais de saque. Nem todos os<br />
bancos exigem a comprovação do motivo da sustação, seja por roubo ou extravio,<br />
acompanhada de ocorrência policial, ou cancelamento de negócios. Ocorre, nobres<br />
colegas, que é facultativo ao emitente de cheque sem fundos, alegando extravio,<br />
apresentar ao banco uma declaração de anuência emitida por suposto credor e<br />
obter o cancelamento desse registro, ficando assim liberado para obter talões de<br />
cheques e continuar efetuando compras sem qualquer incômodo.<br />
Por que essa facilidade? Porque este serviço de sustação é cobrado<br />
conforme tabela do banco.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, neste momento em que tanto se<br />
discute a regulamentação do sistema financeiro, é importante notar que a<br />
inadimplência é o segundo componente de maior peso individual na formação da<br />
taxa de juros.<br />
Uma economia dinâmica é caracterizada pela diversidade de meios de<br />
pagamento. O cheque pré-datado faz parte da cultura brasileira e não é o principal<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
causador da inadimplência total, porém, sua operacionalização exige o uso de<br />
avançadas ferramentas de crédito para controle desse mecanismo.<br />
Infelizmente, não podemos viver sem nos relacionar com tais instituições. A<br />
prática do depósito de salários em bancos também nos obriga a consumir seus<br />
serviços. Todos sabemos que, com bancos, é preciso estar sempre alerta, o custo<br />
maior da inadimplência por cheques sem fundo pesa no caixa das empresas e não<br />
no das instituições financeiras.<br />
Com todos esses problemas, o povo sai perdendo e as instituições financeira<br />
saem lucrando.<br />
Que Deus abençoe esta Casa!<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. REGINALDO LOPES - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. REGINALDO LOPES (PT-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) -<br />
Sr. Presidente, informo que hoje, às 19h, em Goiânia, começa o 48º Congresso da<br />
UNE. Trata-se de importante entidade, cujo papel foi fundamental para a<br />
redemocratização do País.<br />
Sr. Presidente, aproveito esta oportunidade para solicitar a transcrição do<br />
release em que destaco minha participação na Exposição Nacional SIFE Brasil e em<br />
que relato qual será a minha participação no 48º Congresso da UNE.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Está feito o registro.<br />
RELEASE A QUE SE REFERE O ORADOR<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINA 850)<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. ORLANDO DESCONSI - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. ORLANDO DESCONSI (PT-RS. Pela ordem. Sem revisão do orador.) -<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, no que se refere à política de inclusão de<br />
pessoas que hoje estão fora do regime previdenciário, conversamos há pouco com o<br />
Relator da reforma da Previdência, Deputado José Pimentel, sobre a inserção dos<br />
trabalhadores domésticos na lógica de reduzir o valor da contribuição de 20% para<br />
10%, em que o trabalhador pagaria 2% e o empregador 10%. O Relator se mostrou<br />
simpático. Hoje são 1 milhão e 780 mil pessoas que estão nessa situação e apenas<br />
25% com carteira assinada.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Está feito o registro.<br />
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O SR. MARCELINO FRAGA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. MARCELINO FRAGA (PMDB-ES. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />
discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna enfatizar o<br />
trabalho da Companhia Siderúrgica de Tubarão — CST, empresa que obtém<br />
faturamento anual da ordem de US$ 983,5 milhões, produção recorde de 5 milhões<br />
de toneladas de aço líquido, segunda produtora brasileira de aço bruto em 2002<br />
(17% da produção nacional), sétima maior exportadora do Brasil (vendas de US$<br />
829 milhões).<br />
Além disso, a CST é responsável por 20% do volume global comercializado,<br />
vendas totais de 4,65 milhões de toneladas em 2002. Desde o início da operação,<br />
em 1983, acumula mais de 62 milhões de toneladas comercializadas, sendo 91%<br />
destinadas ao exterior. Carteira de clientes com cerca de 60 companhias (20<br />
países). Sistema de Garantia da Qualidade com Certificado ISO 9001/2000. Sistema<br />
de Gestão Ambiental com Certificado ISO 14.001.<br />
Ostenta um dos mais baixos custos de produção de aço do mundo, com<br />
excelência operacional e localização estratégica. Produz placas 100% via<br />
lingotamento contínuo desde 1998. Produção diversificada desde 2002, com entrada<br />
em operação do Laminador de Tiras a Quente, com capacidade de produção de 2,0<br />
milhões de toneladas/ano, com foco no mercado interno. Consolida-se como<br />
fornecedora preferencial de semi-acabados de aço de qualidade (placas e bobinas a<br />
quente) para a exigente indústria automotiva. Apresenta indicadores entre os<br />
melhores do mundo nas áreas de meio ambiente (ênfase no desenvolvimento<br />
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sustentável) e segurança no trabalho. Auto-suficiente em energia elétrica (gera, a<br />
partir do aproveitamento de gases do processo produtivo, 100% da energia<br />
necessária à sua produção).<br />
Recentemente, a Yaskawa, empresa japonesa do setor elétrico, assinou<br />
contrato com a CST no valor de R$6,5 milhões, para fornecer 7 pontes rolantes para<br />
a locomoção de bobinas e outros itens do novo laminador da CST inaugurado no fim<br />
do ano passado.<br />
A CST, maior produtora mundial de placas de aço, investiu US$450 milhões<br />
no Laminador de Tiras a Quente (LTQ). Essa unidade alcançará a plena capacidade<br />
instalada de produção de 2 milhões de toneladas de bobinas a quente por ano, em<br />
2005. Até agosto deste ano será entregue a última ponte rolante da CST.<br />
Destaco ainda que, com a aprovação, em 22 de abril, pelo Conselho de<br />
Administração, da execução do plano de expansão da produção de placas de aço<br />
para 7,5 milhões de toneladas/ano, a Companhia dá continuidade a seu<br />
planejamento estratégico e inicia uma nova fase de investimentos. O novo<br />
investimento permitirá à CST manter sua liderança como fornecedora preferencial de<br />
semi-acabados de qualidade para a indústria siderúrgica mundial.<br />
Sr. Presidente, mais uma vez, congratulo-me com essa importante<br />
Companhia pelo trabalho que presta ao nosso País e ao mundo.<br />
Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que autorize a divulgação deste<br />
pronunciamento em todos os meios de comunicação da Casa.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Em continuidade ao Grande Expediente,<br />
concedo a palavra à Deputada Mariângela Duarte, do PT de São Paulo. S.Exa. tem<br />
até 25 minutos para o seu pronunciamento.<br />
A SRA. MARIÂNGELA DUARTE (PT-SP. Sem revisão da oradora.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta é a primeira vez que me manifesto no<br />
Grande Expediente.<br />
Sr. Presidente, fiquei assustada com as reportagens sobre o programa de<br />
pesca e aqüicultura e sobre o lançamento da Conferência Nacional de Pesca e<br />
Aqüicultura pelo Presidente Lula e pelo Ministro Fritsch, no Palácio do Planalto, na<br />
última sexta-feira. É impressionante o fato de que neste País, com seus 8,5 mil<br />
quilômetros de extensão, que abrangem uma zona econômica exclusiva de mais de<br />
3,5 milhões de quilômetros quadrados, correspondendo a quase metade do<br />
território, com uma área extensa que pode ser utilizada para a pesca e a aqüicultura,<br />
além dos mais de 2 milhões de hectares de terras alagadas, ainda se considere que<br />
pesca e aqüicultura mereçam políticas menores. Ora, se vamos cuidar de segurança<br />
alimentar, preocupação maior de qualquer sociedade, como não considerar<br />
essencial o alimento produzido nessas atividades, num país como o nosso?<br />
Represento neste Parlamento, com muito orgulho, a região caiçara de São<br />
Paulo, o litoral do Estado. Este País, com seu imenso potencial para a pesca e a<br />
aqüicultura, aproveita seus recursos hídricos numa atividade de exploração natural,<br />
sem qualquer sofisticação. Esse setor está abandonado há mais de 20 anos. Já<br />
tivemos no Brasil um determinado banco de crédito para a pesca, ocasião em que<br />
produzíamos 70% do que se produz hoje. E para quem conhece e defende o<br />
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agronegócio, saibam a tilápia alcança no mercado externo o preço de 6 dólares o<br />
quilo. Não há produto, nem mesmo o frango, que alcance esse preço. Portanto, Sr.<br />
Presidente, estou indignada com a repercussão canhestra das medidas adotadas<br />
pelo Governo. Disseram que o Presidente liberou 1,5 milhão de reais, o que já seria<br />
uma verba considerável. Não é verdade. As ações não se resumem a isso. Portanto,<br />
para esclarecimento desta Nação, solicito que seja transcrito aos Anais da Casa,<br />
como parte integrante do meu pronunciamento, o anúncio feito pelo Palácio do<br />
Planalto, na sexta-feira, sobre a nova política de pesca e aqüicultura. Trata-se da<br />
estruturação de programas para esse setor vital para a segurança alimentar do<br />
povo, para garantir-lhe um nível adequado de ingestão de proteínas, contribuindo<br />
para o aumento da capacidade de funcionamento do cérebro das crianças<br />
brasileiras. Sem dúvida essa política terá sucesso.<br />
Sr. Presidente, em primeiro lugar, cabe indagar: por que não se deu destaque<br />
ao programa Pescando Letras, desenvolvido em parceria da Secretaria Especial de<br />
Aqüicultura e Pesca com o Ministério da Educação? Esse programa vai tirar da<br />
cegueira e do escuro do analfabetismo 65 mil pessoas, a fim de resgatar a cidadania<br />
da população caiçara brasileira, e não foi divulgado. Como se explica isso? Por que<br />
um projeto para a educação dos pescadores do nosso litoral e do interior do País<br />
não é valorizado? Então, alfabetizar 65 mil pessoas que atuam nessa área não é<br />
importante?<br />
Em segundo lugar, Sr. Presidente, cumpre ressaltar que recursos no valor de<br />
1,5 bilhão de reais do BNDES, oriundos do Fundo de Marinha Mercante, serão<br />
destinados à construção de embarcações adequadas à pesca oceânica, e quero<br />
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alertar, principalmente a quem não lida com a pesca mas por oportunismo já está<br />
movimentando-se para entrar nesse rol, para o fato de que o Governo e os tempos<br />
são outros. No Governo Lula, com o companheiro José Fritsch à frente dessa<br />
Secretaria, não teremos aventureiros candidatando-se ao dinheiro da pesca<br />
oceânica.<br />
Em terceiro lugar, saliento que serão destinados, inicialmente, 800 milhões de<br />
reais para ampliar e modernizar a pesca e a aqüicultura no Norte e no Nordeste por<br />
meio do Acordo de Cooperação entre o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia,<br />
com aportes dos Fundos Constitucionais das respectivas Regiões. É preciso deixar<br />
claro para todo o povo brasileiro o alcance dessa medida.<br />
Ainda na mesma direção, estaremos firmando, no papel de Governo,<br />
convênios com a FAO, a Fundação Banco do Brasil e a CODEVASF para o<br />
desenvolvimento da aqüicultura do semi-árido brasileiro. Não bastasse isso, com<br />
esse mesmo foco, voltado para o pescador artesanal, nosso Governo decidiu liberar<br />
55 milhões de reais para financiamentos do PRONAF/Pesca, e encaminhará a esta<br />
Casa, em regime de urgência, projeto de lei que reduz de 3 anos para apenas 12<br />
meses o tempo de carteira exigido para o acesso do pescador familiar artesanal ao<br />
seguro-desemprego nos períodos do defeso.<br />
Finalmente, nosso Governo anunciou que decidiu equalizar os preços do óleo<br />
diesel marítimo para a frota pesqueira nacional. Com essa medida, vamos reduzir<br />
em 20%, em média, os preços de um item que representa quase a metade dos<br />
custos de produção.<br />
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Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, concluo a primeira parte<br />
deste meu pronunciamento dizendo que, numa meta tímida, vamos avançar na<br />
produção brasileira de pescados, passando de 859 mil para 1,5 milhão de toneladas<br />
em apenas 2 ou 3 anos, e ainda geraremos emprego e renda numa atividade que é<br />
essencial para a alimentação do povo brasileiro. E nenhum órgão da imprensa<br />
apresentou esses dados.<br />
Esse setor foi abandonado pelos sucessivos Governos do País por 20 anos.<br />
Ora, desde quando o IBAMA é órgão para cuidar da pesca? Agora os Estados terão<br />
de correr para remediar essa situação. Os Municípios litorâneos e os que possuem<br />
grandes espelhos d’água terão de cuidar da pesca e da aqüicultura. Portanto, Sr.<br />
Presidente, após esse vácuo, esse desleixo, esse abandono que durou 20 anos, um<br />
verdadeiro crime, nosso Governo agora presta integral atenção à pesca e à<br />
aqüicultura.<br />
Concedo, com prazer, o aparte ao meu colega de bancada, o nobre Deputado<br />
Wasny de Roure.<br />
O Sr. Wasny de Roure - Deputada Mariângela Duarte, parabenizo V.Exa. e<br />
registro meus cumprimentos pela determinação com que vem conduzindo seu<br />
mandato nesta Casa, em defesa do interesse público, respondendo assim à<br />
expectativa da nossa sociedade. Tenho observado seu empenho, enormemente<br />
qualificado, na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Já<br />
há algum tempo observo seu denodo com relação à pesca. Observo também o<br />
acúmulo de experiência que V.Exa. tem nessa área, não apenas por vir de Santos,<br />
uma cidade à beira-mar, mas sobretudo por defender um segmento que, como<br />
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V.Exa. disse há pouco, está abandonado, sucateado, negligenciado que foi por<br />
aproximadamente 20 anos. O Brasil tem uma extensa região costeira, portanto uma<br />
enorme população que trabalha na pesca, que cuida da pesca, sem mencionar a<br />
população pesqueira interiorana, em face da qualidade das nossas águas doces,<br />
dos nossos rios. Havia uma total ausência de políticas para esse setor fundamental<br />
para a nossa economia. Resolver essa questão era crucial, não apenas pelo<br />
montante de recursos envolvidos e pela capacidade econômica desse setor, mas<br />
pela necessidade de geração de renda em um País que tem sido negligente com<br />
sua população carente. O Presidente Lula foi extremamente sábio. É mais um fato<br />
para se registrar, marcando a real diferença deste Governo em relação ao anterior:<br />
Lula foi capaz de resgatar e qualificar a pesca brasileira, dando-lhe tal status que o<br />
setor conta agora com um Ministério, ou seja, com a garantia de políticas públicas<br />
que potencializem a economia pesqueira. Parabéns, Deputada Mariângela Duarte.<br />
Continue dedicando-se a essa área, a exemplo de outros Parlamentares, como a<br />
Deputada Selma Schons. Com certeza seu trabalho será de extrema valia para a<br />
economia brasileira, sobretudo para essa população que vive no anonimato e<br />
precisa de vozes que clamem por seus interesses, que façam a defesa desses<br />
trabalhadores da pesca em nosso País.<br />
A SRA. MARIÂNGELA DUARTE - Agradeço o aparte ao Deputado Wasny de<br />
Roure, Parlamentar brasiliense que dá muito valor à pesca e à aqüicultura.<br />
Ouço com prazer o nobre Deputado Nicias Ribeiro.<br />
O Sr. Nicias Ribeiro - Deputada Mariângela Duarte, V.Exa. é de Santos, do<br />
Estado de São Paulo; eu venho de um país chamado Pará, lá de cima, do Norte. No<br />
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meu Estado, na minha região amazônica, tão falada, com tantos defensores — até<br />
demais —, temos a maior bacia hidrográfica deste planeta. Até a Bíblia Sagrada, no<br />
Gênesis, fala da sabedoria do povo egípcio no aproveitamento das várzeas do<br />
grande Rio Nilo, que os egípcios chamam de "mãe Nilo", porque, com suas<br />
enchentes periódicas, de 6 em 6 meses ele fertiliza aquelas várzeas, tornando-as<br />
cada vez mais ricas e produtivas, graças ao húmus que espalha. No Brasil temos um<br />
rio chamado Amazonas, maior que o Nilo, tanto em extensão como em volume de<br />
água, com várzeas dos dois lados e cheio de ilhas. O húmus do Amazonas é mais<br />
rico que o do Nilo. Como sabemos, o húmus é constituído pela decomposição<br />
orgânica. Mas saiba V.Exa. que esse húmus amazônico não é aproveitado há 20<br />
anos. Desde que o Brasil foi descoberto, nesses 500 anos de História oficial do País,<br />
com 100 anos de República e quase 200 anos de independência, lamentavelmente<br />
nenhum Governo até hoje se dedicou a fazer um grande projeto de aproveitamento<br />
das várzeas do Amazonas. Veja bem, se as várzeas do Amazonas são mais ricas<br />
que as do Nilo, onde há enchentes de 6 em 6 meses, imagine V.Exa. o potencial de<br />
produtividade das várzeas da Ilha de Marajó, que são fertilizadas de 6 em 6 horas<br />
pelo húmus do Rio Amazonas. Fico feliz por ouvir V.Exa. e perceber seu entusiasmo<br />
pelo apoio que o Presidente Lula presta à pesca, que sempre foi abandonada neste<br />
País, e faço coro com V.Exa., esperando que o atual Governo e especialmente o<br />
Ministério da Agricultura lembrem que no Pará e em toda a Amazônia há várzeas<br />
riquíssimas, prontas para produzir os alimentos de que o Presidente Lula precisa<br />
para matar a fome da população carente deste País. Parabéns a V.Exa. pelo<br />
discurso.<br />
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A SRA. MARIÂNGELA DUARTE - Agradeço o aparte a V.Exa., Deputado<br />
Nicias Ribeiro, legítimo representante do Amazonas. Para o segundo assunto de<br />
que vou tratar, peço muita atenção a V.Exa., dada a enormidade da importância de<br />
um projeto de lei que apresentei a esta Casa sobre a biodiversidade, que diz<br />
respeito também à Amazônia. Solicito também a atenção dos demais Deputados<br />
para esse projeto, que versa sobre biologia molecular e faz a defesa dos biomas<br />
nacionais. Examinando o assunto, constatei que não temos legislação que<br />
contemple essa área, além de decretos federais; então, elaborei o projeto, cuja<br />
justificativa passo a ler aqui:<br />
"Em defesa da Mata Atlântica<br />
Há tempos a exploração desordenada da Mata Atlântica<br />
tem sido preocupação desta Deputada, especialmente porque o<br />
domínio dessa região estende-se por 1,2 milhão de quilômetros<br />
quadrados, ao longo da costa brasileira do Rio Grande do Norte<br />
ao Rio Grande do Sul, avançando para o interior, principalmente<br />
nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.<br />
Considerada a quinta área mais ameaçada e rica em<br />
espécies do mundo, essa região apresenta-se como um mosaico<br />
diversificado de ecossistemas, com estruturas e composições<br />
florísticas diferenciadas, em virtude da diversidade de solo e<br />
relevo e das características da ampla área de ocorrência,<br />
aproximadamente 7,3% de sua cobertura florestal original.<br />
Estudos apontam a existência de 1.361 espécies da fauna<br />
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brasileira, com 261 espécies de mamíferos, 620 de aves, 200 de<br />
répteis e 280 de anfíbios, sendo que 567 dessas espécies só<br />
ocorrem nesse bioma, segundo informações retiradas do portal<br />
Ambiente Brasil.<br />
Possui ainda cerca de 20 mil espécies de plantas<br />
vasculares, das quais 8 mil também só ocorrem na Floresta<br />
Atlântica. No sul da Bahia foi identificada a maior diversidade<br />
botânica do mundo de plantas lenhosas, ou seja, foram<br />
registradas 454 espécies em um único hectare, destacando-se<br />
como ecossistema ameaçado a floresta de araucárias,<br />
distribuída por cerca de 400 mil quilômetros quadrados.<br />
Apesar de considerada, por pesquisadores, uma das<br />
maiores biodiversidades do País e do mundo, o que resta da<br />
Mata Atlântica é praticamente desconhecido de nossa<br />
população. Na região litorânea, por exemplo, prevalece o<br />
interesse apenas pelo gozo das belas praias; o turismo<br />
prospera, graças a Deus; no entanto, não se atenta para o<br />
potencial da biodiversidade, e nega-se, dessa forma, um<br />
fabuloso banco genético de possibilidades para uma gama de<br />
atividades, especialmente a indústria farmacêutica de<br />
medicamentos naturais e a biogenética.<br />
O estudo da biodiversidade tende a ser um dos principais<br />
ramos científicos responsáveis pela transformação do futuro,<br />
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mundialmente, e por isso há grande disputa pela exploração de<br />
biorregiões por empresas multinacionais e estrangeira".<br />
Importante destacar que 50% da Mata Atlântica — do que resta, ou seja,<br />
7,5% — preservada encontra-se no Vale do Ribeira, região que considero irmã da<br />
que represento, o Vale da Baixada Santista. Cinqüenta por cento da reserva da Mata<br />
Atlântica intocada encontra-se na região mais pobre do Estado mais rico do Brasil,<br />
uma das regiões mais esquecidas do Estado de São Paulo. Ali a população<br />
sobrevive em condições de pobreza, numa região riquíssima quanto à<br />
biodiversidade. Destaco que o nosso projeto ressalta o valor do Vale do Ribeira,<br />
uma das mais esquecidas regiões do Estado de São Paulo, que, ademais, possui o<br />
Complexo Lagamar, de imensa riqueza como ecossistema costeiro e marítimo, do<br />
mesmo modo que os pesquisadores apontam o Vale do Ribeira e Bertioga, no litoral<br />
de São Paulo, como regiões que apresentam as maiores reservas de biodiversidade<br />
do País, talvez do planeta.<br />
"Apesar de o Brasil despontar, na América Latina, como<br />
um grande expoente em biotecnologia, sobretudo pela sua vasta<br />
biodiversidade, de acordo com manifestação de pesquisadores<br />
da EMBRAPA, não possui uma política séria, voltada ao manejo<br />
sustentável dos seus recursos florestais e à inclusão das<br />
populações locais, como denunciam inúmeras organizações<br />
não-governamentais.<br />
Preocupada, inicialmente, com a implantação de um<br />
Centro de Biotecnologia da Mata Atlântica, nos moldes do<br />
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recém-inaugurado Centro de Biotecnologia da Amazônia, que<br />
integra o Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para Uso<br />
Sustentável da Biodiversidade da Amazônia — PROBEM,<br />
instituído pelo Decreto Federal nº 4.284, de 2002, protocolei, no<br />
plenário desta Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 614,<br />
de 20<strong>03</strong>, estabelecendo as diretrizes do Programa Brasileiro de<br />
Ecologia Molecular para Uso Sustentável da Biodiversidade da<br />
Mata Atlântica, da zona costeira e marítima, da Amazônia e de<br />
outros biomas nacionais, como o cerrado, no intuito de que a<br />
implementação e a manutenção de programa da envergadura do<br />
PROBEM se faça com a segurança jurídica da lei.<br />
Lutaremos para que, a exemplo do Centro de<br />
Biotecnologia da Amazônia, que abre um leque de perspectivas<br />
de negócios relacionados ao aproveitamento da biodiversidade<br />
da região, apontando para a formação de um pólo de<br />
bioindústrias em médio prazo, seja implantado o Centro de<br />
Biotecnologia da nossa Mata Atlântica, interligado a uma rede<br />
nacional de laboratórios e grupos de pesquisadores, ao lado da<br />
conservação e do desenvolvimento sustentável, com fomento e<br />
difusão do conhecimento científico, que incorpore as populações<br />
locais e garanta, ainda, a promoção da capacitação tecnológica<br />
das empresas regionais em biotecnologia e o desenvolvimento<br />
de bioprodutos, além da articulação dos canais de<br />
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financiamento, especialmente através dos fundos setoriais de<br />
ciência de tecnologia, a formação de empresas de base<br />
tecnológica, o crescimento das empresas existentes e a atração<br />
de novas empresas para o setor de recursos naturais, bem como<br />
a contribuição para a formação de recursos humanos.<br />
Essa é uma contribuição inicial para as discussões sobre<br />
esse tema de cunho estratégico para o País, e este projeto de lei<br />
representa um vigoroso sinalizador de estruturação legal para<br />
aglutinar as forças que ainda teimam em lutar pelos benefícios<br />
advindos do uso sustentável da biodiversidade, cabendo frisar<br />
que as únicas formas de se enfrentar a ambição estrangeira, que<br />
percebe a riqueza dos bancos de genes do Brasil, são as<br />
mobilizações políticas e populares, de forma que não podemos<br />
admitir que se ignore a necessidade de implantação de centros<br />
de estudo e pesquisa com estrutura e investimentos, já que não<br />
há tradição de nossas empresas em pesquisa, e as<br />
Universidades não dão conta desse processo, a fim de que se<br />
afaste de vez a negligência e a omissão do País, que insiste em<br />
investir apenas 0,80% do PIB nacional em pesquisa."<br />
Ouço com prazer o aparte do Deputado Valdenor Guedes.<br />
O Sr. Valdenor Guedes - Deputada Mariângela, aproveito a oportunidade<br />
para cumprimentá-la e parabenizá-la por tão brilhante pronunciamento, que<br />
apresenta, acima de tudo, sugestões para projetos que serão desenvolvidos não só<br />
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na Amazônia, mas em todo o Brasil. Venho lá do Estado do Amapá, que está acima<br />
do Estado do Pará, lá onde começa o Brasil. Também fazemos parte da nossa<br />
Amazônia. E V.Exa. defende um setor vital, que importa não somente à Amazônia,<br />
mas a todo o Brasil: a pesca, que, como disse o nobre Deputado que me antecedeu,<br />
passou do status de Secretaria para o de Ministério. Logicamente, nós que<br />
convivemos neste País com água doce e salgada, com nossos imensos rios,<br />
sabemos que nossa população — principalmente aqueles que fazem da pesca seu<br />
meio de vida — precisa de mais estrutura, Deputada. O Brasil, nessa área, precisa<br />
de grandes investimentos, para que possa tornar-se um país exportador. Vemos<br />
pequenos países que não têm um décimo da produção de pesca do Brasil e são<br />
exportadores, com um PIB elevado em relação à pesca. O IBAMA já fez um grande<br />
trabalho em termos de fiscalização. Com o Ministério teremos uma maior<br />
participação nessa área, além da atuação do IBAMA, cuja presença desde já<br />
agradecemos, mas queremos que seja revista, no que se refere à produção de<br />
pescado no Brasil. Por exemplo, no Amapá há hoje uma superpopulação de jacarés,<br />
que estão tomando conta dos rios da Amazônia. Não há como eliminá-los. O IBAMA<br />
proíbe que se faça isso. Deputada, parabéns pelo seu brilhante pronunciamento.<br />
A SRA. MARIÂNGELA DUARTE - Agradeço ao Deputado Valdenor Guedes,<br />
aliás, aos dois Deputados que me apartearam, ambos da Amazônia, defensores da<br />
pesca e da biodiversidade.<br />
Sr. Presidente, para concluir, quero fazer um registro estarrecedor: em 1996,<br />
a Assembléia Legislativa do Acre instalou uma CPI para investigar o roubo de<br />
espécimes da Amazônia brasileira, um crime contra a nossa biodiversidade, e<br />
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constatou-se que num único ano levaram 560 mil quilos de sementes para serem<br />
patenteadas em outros países. Isto é, roubam nossos recursos naturais e utilizam-<br />
nos como insumos para a fabricação de medicamentos que depois nos vendem a<br />
preços estratosféricos.<br />
Agradeço a V.Exa. e aos nobres pares, especialmente aos queridos<br />
Deputados da Amazônia. Estaremos todos envolvidos nesse projeto da pesca, da<br />
aqüicultura e da defesa da nossa biodiversidade, dos nossos diversos biomas, para<br />
que este País saia da situação de atraso científico e tecnológico em que se<br />
encontra.<br />
ANÚNCIO A QUE SE REFERE A ORADORA<br />
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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINA 867)<br />
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O SR. WASNY DE ROURE - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. WASNY DE ROURE (PT-DF. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />
discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nenhum homem ou mulher de<br />
bem deste País pode aceitar que dezenas de pessoas de várias partes do Brasil<br />
continuem sendo vítimas de remédios contaminados. Causam-nos revolta notícias<br />
diárias dando conta de que dois medicamentos são responsáveis pela morte de 23<br />
pessoas e da cegueira total ou parcial de pelo menos outras 13.<br />
As mortes teriam sendo provocadas pelo medicamento Celobar, que é<br />
utilizado para facilitar a realização de exames radiológicos. Praticamente não há<br />
mais dúvidas de que, para economizar 100 dólares — o equivalente a trezentos<br />
reais — o Laboratório Enila falsificou o medicamento, contaminando-o com<br />
carbonato de bário, substância tóxica usada em veneno para ratos. A Fundação<br />
Oswaldo Cruz já divulgou laudo comprovando a contaminação.<br />
Como se não bastasse, dois colírios, o Methyl Lens Hypac 2%, do Laboratório<br />
Lenssurgical Oftalmologia e o Oftvisc, do laboratório Oftvision, são suspeitos de ter<br />
causado cegueira em 13 pessoas. Esses colírios são utilizados na cicatrização de<br />
cirurgias de cataratas.<br />
O que é gravíssimo, Sr. Presidente, é que, segundo noticia a imprensa, o<br />
Laboratório Lenssurgical não tinha licença da Agência Nacional de Vigilância<br />
Sanitária para fabricar o colírio. Pior: esse colírio estava interditado pela ANVISA.<br />
Uma constatação que nos assusta ainda mais é que, segundo publicou o<br />
jornal Correio Braziliense, com base em revelações feitas pela Gerência-Geral de<br />
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Inspeção de Medicamentos da ANVISA, as instituições públicas responsáveis pela<br />
fiscalização da produção de remédios não têm estrutura para fazer vistorias<br />
periódicas nas indústrias. Pelo menos 20% de todos os laboratórios e farmácias de<br />
manipulação do Brasil não são fiscalizados anualmente pelos órgãos de vigilância<br />
sanitária estaduais.<br />
Não podemos continuar assistindo passivamente à morte de tantas pessoas,<br />
à destruição de tantas vidas e lares. Algo de muito errado acontece quando um pai<br />
ou uma mãe de família, ou ainda uma criança ou adolescente se dirige a um hospital<br />
para fazer um exame de raio X e morre logo em seguida, ou quando um adulto fica<br />
cego após uma simples cirurgia de catarata.<br />
Quero somar minha indignação à de todo o povo brasileiro e cobrar das<br />
autoridades públicas iniciativas concretas para que os culpados sejam duramente<br />
punidos e os danos causados aos pacientes sejam reparados. Que a indignação do<br />
Ministro da Saúde se concretize em punição exemplar para os criminosos, que a<br />
ANVISA demonstre maior empenho no exercício do seu papel fiscalizador da<br />
qualidade do medicamento comercializado para a sociedade brasileira e, além disso,<br />
que o Poder Público encontre meios estruturais e preventivos para que tragédias<br />
como essa não ocorram mais em nosso País, sob pena de descrédito e<br />
desmoralização internacional, em um momento em que o mundo voltou a acreditar<br />
no Brasil.<br />
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O SR. ZEQUINHA MARINHO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. ZEQUINHA MARINHO (PTB-PA. Pela ordem. Sem revisão do orador.)<br />
- Sr. Presidente, meu pronunciamento versa sobre a passagem dos 92 anos da<br />
Igreja Evangélica Assembléia de Deus no Brasil. Fundada exatamente em <strong>18</strong> de<br />
junho de 1911, essa Igreja saiu de Belém do Pará para o Brasil e para o mundo.<br />
Hoje temos uma grande instituição religiosa evangélica, que espalha, de forma<br />
extraordinária, a mensagem transformadora do Evangelho, a paz e a educação<br />
religiosa.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é com extraordinária alegria que<br />
venho a esta tribuna para comunicar a este douto Plenário o aniversário de uma das<br />
instituições mais respeitadas do País: a Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Não<br />
posso deixar passar despercebida esta data, pois, além de com orgulho fazer parte<br />
dessa Igreja, a maioria dos votos que obtive nas últimas eleições foram-me<br />
concedidos pelo povo evangélico do meu Estado do Pará, em especial da<br />
Assembléia de Deus, e se aqui estamos como Parlamentar agradecemos àqueles<br />
servos de Deus.<br />
Devo informar-lhes, Sras. e Srs. Deputados, que a Assembléia de Deus no<br />
Brasil foi organizada exatamente na Capital do Estado que represento, como já<br />
disse, em <strong>18</strong> de junho de 1911, por dois missionários ainda bem jovens, mas cheios<br />
do Espírito Santo, chamados Gunnar Vingren e Daniel Berg. A eles se somaram<br />
alguns cristãos que estavam, nessa ocasião, desligando-se da Igreja Batista em<br />
Belém. Hoje, portanto, completam-se 92 anos de bênçãos para esta Nação.<br />
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Convém ressaltar que, ao longo dessa trajetória, foram muitos os desafios<br />
enfrentados pelos pioneiros assembleianos, que ainda hoje lutam para que a chama<br />
pentecostal continue acesa como algo imprescindível na vida do povo de Deus.<br />
Jamais se poderá negar, Sr. Presidente, a importância da Igreja Evangélica<br />
Assembléia de Deus no Brasil, que de forma decisiva tem dado sua contribuição<br />
para a redução dos grandes problemas enfrentados pela população brasileira, entre<br />
eles o elevado índice de violência, que tem sido constantemente combatido pela<br />
pregação da palavra de Deus. Assim sendo, essa Igreja tem cumprido seu papel<br />
como sociedade religiosa, pois presta relevantes serviços ao nosso País, não só<br />
com a evangelização, mas com o efetivo atendimento social, principalmente nas<br />
áreas da educação e da saúde.<br />
Atualmente, são aproximadamente 20 milhões de fiéis espalhados pelos 4<br />
cantos do País, disseminando as Boas Novas do Senhor Jesus aos cidadãos<br />
brasileiros.<br />
No meu Estado do Pará, com enorme dimensões territoriais, a Assembléia de<br />
Deus está presente nos lugares mais difíceis, com mais de 500 igrejas sedes e<br />
cerca de 7 mil templos à disposição da população paraense, atendida por<br />
abnegados pastores, sob o comando do Presidente da Convenção de Ministros e<br />
Igrejas Evangélicas Assembléia de Deus no Pará, o Reverendo Gilberto Marques de<br />
Souza, que tem sido incansável na obra de Deus.<br />
Na cidade de Belém, capital do Estado do Pará, conhecida como o berço do<br />
movimento pentecostal no Brasil, onde se está comemorando a festa dos 92 anos,<br />
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além do majestoso Templo Central, ainda existem 400 Congregações a serviço do<br />
Reino de Deus.<br />
Portanto, Sras. e Srs. Deputados, requeiro, na forma regimental, que sejam<br />
registradas nos Anais desta Casa Legislativa minhas congratulações a todos os que<br />
fazem a Assembléia de Deus no Brasil, na data em que comemoram os 92 anos de<br />
Pentecostes na Evangelização.<br />
Muito obrigado.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Nicias Ribeiro, para uma Comunicação de Liderança, pelo PSDB.<br />
O SR. NICIAS RIBEIRO (PSDB-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) -<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ontem toda a Nação assistiu ao<br />
pronunciamento do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cidade de Pelotas, no<br />
Rio Grande do Sul.<br />
Mais uma vez S.Exa. — e ontem de maneira muito mais enfática — decidiu<br />
fazer comparações um tanto quanto esdrúxulas, como, por exemplo, magistrados<br />
com canavieiros, professores com tiradores de cana.<br />
Em primeiro lugar, solidarizo-me com a Magistratura nacional pela forma<br />
desairosa com que tem sido tratada pelo Presidente da República, Sr. Luiz Inácio<br />
Lula da Silva.<br />
Em segundo lugar, congratulo-me com o ilustre Presidente do Supremo<br />
Tribunal Federal, Ministro Maurício Corrêa, pelo pronunciamento sobre a discussão<br />
dos anseios da classe que coordena a respeito da reforma da Previdência Social,<br />
que se anuncia nesta Casa e no Brasil.<br />
Sr. Presidente, Rui Barbosa, em seu discurso Oração aos Moços, discutiu a<br />
regra da igualdade. Mostrou aquele causídico que não se pode tratar desiguais<br />
como se fossem iguais. Tratar desiguais com igualdade, segundo Rui Barbosa, é<br />
desigualdade flagrante e não igualdade real.<br />
O meu partido e eu entendemos que o Brasil precisa das reformas da<br />
Previdência Social e tributária. Não posso admitir que, à guisa de se discutir ou de<br />
se reformar a Previdência Social, se busque a solução para o déficit público.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Não é possível que tratem atividades absolutamente desiguais como se todos<br />
integrassem conjunto orgânico igual. Por esta razão, solidarizo-me e congratulo-me<br />
com o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa. Inquieta-me o<br />
momento em que a Magistratura nacional não tiver a segurança de aposentadoria<br />
tranqüila e que nos preocupemos com o dia-a-dia dos senhores magistrados.<br />
Em qualquer Justiça do País, não podemos correr o risco de constituir<br />
Magistratura medíocre, despreparada intelectualmente e, como se disse no encontro<br />
dos Promotores de Justiça, realizado no Pará, que haja a contratação de pessoas<br />
que aceitem negociar para sobreviver.<br />
Desejo a construção de uma Magistratura comprometida com o futuro do<br />
País. Por isso, usei da tribuna para me congratular com tal Magistratura, na<br />
expectativa de que, na discussão da reforma da Previdência, possamos dar a César<br />
o que é de César, e a Deus o que é de Deus, dar tratamento específico aos<br />
magistrados, porque entendemos que eles integram carreira de Estado.<br />
Por fim, não poderia deixar de comentar o pronunciamento do Presidente<br />
Lula, em resposta àquilo que entendeu ser talvez uma agressão do ex-Presidente<br />
Fernando Henrique Cardoso sobre o estado em que recebeu esta Nação.<br />
O Governo anuncia o superávit primário. Estamos festejando a supersafra<br />
agrícola deste ano. Todavia, é importante sabermos que se essa safra está sendo<br />
colhida em 20<strong>03</strong> deve-se ao fato de os grãos terem sido plantados em 2002 e 2001.<br />
Portanto, não se planta hoje — usando a expressão do próprio Presidente — para<br />
se colher amanhã. Plantou-se ontem exatamente para que o Presidente Lula<br />
pudesse hoje colher e, com a grande exportação de produtos agrícolas, melhorar a<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
balança comercial brasileira e aumentar o tão festejado superávit primário,<br />
fantástico, que tem atendido às metas previstas pelo Fundo Monetário Internacional.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nesta oportunidade registro também<br />
minha inquietação com outra declaração do Presidente Lula. Em dias anteriores,<br />
preocupou-se em abrir, segundo S.Exa., a caixa-preta do Poder Judiciário deste<br />
País. Reitero que, ontem, mais uma vez, não tratou bem a Magistratura brasileira.<br />
Entendo que deve haver, em nome da manutenção da democracia, um<br />
perfeito equilíbrio de comportamento entre o Chefe do Poder Executivo e os<br />
representantes dos demais Poderes que integram a União.<br />
Agradeço à Mesa a atenção e a oportunidade.<br />
Que Deus continue ajudando o Brasil!<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
A SRA. FÁTIMA BEZERRA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) – Tem V.Exa. a palavra.<br />
A SRA. FÁTIMA BEZERRA (PT-RN. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) -<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero fazer dois breves comunicados.<br />
Primeiro gostaria de parabenizar esta Casa e o Senado Federal pela instalação da<br />
CPI do BANESTADO. Setores da imprensa vinham fazendo sérias acusações ao<br />
nosso Governo, insinuando que ele não tinha interesse nessa Comissão, por isso<br />
estaria dificultando sua criação. Hoje a CPI foi finalmente instalada e, com certeza,<br />
atuará com toda a seriedade e transparência, fazendo as devidas apurações. O<br />
resultado dos seus trabalhos será encaminhado ao Ministério Público e à Justiça, a<br />
quem cabe efetivamente julgar as denúncias.<br />
No outro comunicado breve, Sr. Presidente, quero reiterar a importância do<br />
programa de fiscalização patrocinado desde abril pela Controladoria-Geral da União.<br />
No primeiro momento, somente 5 Municípios seriam fiscalizados; no mês passado<br />
esse número subiu para 26; e hoje, com o terceiro sorteio, já são 50 Municípios,<br />
entre os quais dois do meu Estado, Angicos e Taipu.<br />
O programa tem significado extraordinário. Como tem dito o próprio Ministro<br />
Waldir Pires, não se pretende fiscalizar os Prefeitos em si. Os fiscais da<br />
Controladoria irão analisar em cada um dos Municípios selecionados a aplicação de<br />
recursos federais feita por órgãos da Administração Federal ou, por meio de<br />
repasse, sob qualquer forma, por órgãos das administrações dos Estados e dos<br />
Municípios ou quaisquer outras entidades legalmente habilitadas. Esses recursos<br />
são do povo, são patrimônio público.<br />
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Sr. Presidente, congratulo-me com o Governo Lula e com o Ministro Waldir<br />
Pires, que, atendendo a reivindicações da bancada do PT e de vários outros<br />
Parlamentares, aumentou o número de Municípios a serem fiscalizados, dando<br />
prosseguimento a um programa que, sem dúvida nenhuma, tem caráter didático,<br />
pois significa o Governo atuando e mostrando que não aceita a corrupção.<br />
Tolerância zero!<br />
Finalmente, agradeço ao Deputado Zico Bronzeado a generosidade da<br />
espera. Sei que o pessoal da sua região está ansioso por ouvi-lo. Não tenho dúvida<br />
de que seu pronunciamento será brilhante.<br />
Muito obrigada, Sr. Presidente.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Dando continuidade ao Grande<br />
Expediente, concedo a palavra ao Deputado Zico Bronzeado, do PT.<br />
O SR. ZICO BRONZEADO (PT-AC. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputados, meu pronunciamento trata da minha Amazônia,<br />
especialmente do meu Estado, o Acre, mas antes quero registrar parte de discurso<br />
em que elogiei o Presidente Lula e que mereceu do Jornal da Câmara o seguinte<br />
comentário:<br />
“Deputado elogia ousadia das mudanças. (...)<br />
Deputado Zico Bronzeado disse que a construção de uma<br />
sociedade justa requer regras estáveis e duradouras,<br />
sustentáveis no tempo e nas finanças públicas. ‘Governos<br />
medíocres pensam em sua própria duração, apostam na<br />
popularidade fácil e no discurso momentâneo. Só os<br />
grandes governos é que ousam pensar a longo prazo e<br />
estabelecem políticas além de suas próprias<br />
provisoriedades, a exemplo do Governo Lula’, ressaltou”.<br />
Sr. Presidente, o Governo Lula está planejando a governabilidade do Brasil.<br />
Apenas 5 meses se passaram, e foi um tempo dedicado ao planejamento. Não se<br />
admite que um Governo que passou 8 anos aprovando nesta Casa tudo o que<br />
queria critique uma administração que tem hoje mais de 60% de popularidade e já<br />
deu sinais visíveis de que o Brasil está no caminho certo.<br />
Nesse sentido, cito 3 indicativos que o povo pode acompanhar todos os dias<br />
na televisão e no rádio: o Risco Brasil alcançou seu menor índice, isto é, seu maior<br />
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grau de confiança, ficando abaixo dos 700 pontos; o dólar despencou, agradando<br />
tantos aos pequenos quanto aos grandes investidores; e não se fala mais em<br />
inflação, só em deflação.<br />
Segundo o Deputado Darcísio Perondi, o primeiro tijolo do muro que dividia as<br />
duas Chinas foi assentado hoje, quando o Banco Central baixou em meio ponto<br />
percentual a taxa SELIC. Para começar, já é um número significativo. O Governo<br />
anterior não adotou nenhuma medida que lhe desse credibilidade junto ao povo.<br />
Sr. Presidente, o Brasil tem 500 anos. Não se transforma uma economia, não<br />
se geram milhões e milhões de empregos em apenas 5 meses. Mas o povo<br />
brasileiro jamais vai esquecer que o Governo Fernando Henrique teve, durante 8<br />
anos, a oportunidade de melhorar o Brasil. Com 8 anos, Deputado Darcísio Perondi,<br />
um menino já começa a debater problemas com seus pais, já pergunta por que o<br />
dólar chegou a quase 4 reais, por que a inflação é o kamikaze desta Nação. Não<br />
pode um Governo que teve nesta Casa a maior bancada de apoio de todos os<br />
tempos criticar o que, em apenas 5 meses, fez o Governo Lula.<br />
Deixo, portanto, registrada a minha insatisfação com os comentários feitos<br />
pelo ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o Governo Lula, que já<br />
recebeu o maior elogio com que poderia sonhar: o do próprio povo.<br />
Mas faço justiça ao ex-Presidente, que ajudou o Acre ao liberar recursos para<br />
a malha viária do Estado e permitiu que tirássemos do isolamento o Município de<br />
Assis Brasil, distante 110 quilômetros da minha cidade, Brasiléia. Vamos elogiar<br />
aquilo que é bom, mas não podemos admitir que o ex-Presidente Fernando<br />
Henrique, depois de passar belas férias na França, condene o que fez em 5 meses o<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
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nosso Presidente Lula, que, mais do que ninguém, tem conhecimento dos<br />
problemas do País e já demonstra que é possível governar com transparência e<br />
compromisso com o futuro.<br />
Sr. Presidente, sou da Amazônia. Meu Estado, o Acre, foi um dos mais<br />
discriminados pelo Governo passado, apesar da enorme potencialidade de suas<br />
florestas.<br />
Após conceder o aparte ao Deputado Bassuma, meu colega de partido, vou<br />
abordar tema de fundamental importância para o crescimento da Amazônia.<br />
O Sr. Bassuma - Deputado Zico Bronzeado, vamos ficar atentos ao<br />
pronunciamento de V.Exa. sobre o Acre, importante Estado da Nação que tem a<br />
maior reserva de biodiversidade do planeta. V.Exa. referiu-se ao início do nosso<br />
Governo — somos Deputados Federais do mesmo partido. Tenho dito na Bahia, em<br />
todas as audiências e debates de que tenho participado, quando eventualmente há<br />
alguma crítica como essa ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que talvez o maior<br />
mérito de S.Exa. seja exatamente suportar as pressões feitas de forma precipitada.<br />
Este País começará a crescer muito em breve, e permanentemente. Não será como<br />
no passado, com bolhas que duram algum tempo e são seguidas por longos<br />
períodos de recessão. Elogio V.Exa. pelo pronunciamento. Estamos confiantes em<br />
que este Governo mudará a história do País.<br />
O SR. ZICO BRONZEADO - Agradeço a V.Exa. o aparte, nobre Deputado.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os desafios hoje colocados para o<br />
desenvolvimento da Amazônia representam uma pauta que deve estar sendo<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
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discutida não somente pelos Estados que compõem a nossa vasta região, mas, sim,<br />
em termos de um projeto para o País.<br />
É nesse sentido que chamo a atenção das Sras. e Srs. Deputados para falar<br />
de algumas experiências que estão sendo desenvolvidas no Estado do Acre, com o<br />
intuito de construir um modelo de sustentabilidade para toda a Amazônia e de<br />
demonstrar o potencial estratégico que nossa região pode adquirir para o Brasil<br />
frente ao mundo.<br />
Podemos hoje dizer que os resultados positivos que temos alcançado em<br />
algumas ações de políticas públicas para o desenvolvimento local devem-se, em<br />
grande parte, ao caráter endógeno dos modelos assumidos, em que a floresta se<br />
torna a base para criar empregos e gerar renda para o Estado.<br />
Sendo assim, gostaria, primeiramente, de elogiar a atitude do Presidente Lula<br />
de levar ao Acre, há cerca de um mês, 9 de seus Ministros para se reunirem com<br />
Governadores e lideranças da Amazônia, num esforço para projetar o<br />
desenvolvimento a partir das demandas da região.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não resta dúvida de que tal postura<br />
do nosso Presidente foi um marco inovador na maneira de se desenharem as<br />
políticas regionais, de forma a integrá-las em uma ampla política nacional.<br />
Nós, amazônidas, somos um povo da floresta, que nela vive e dela tira seu<br />
sustento. Porém, historicamente, a maioria dos projetos para a Amazônia foram<br />
quase sempre orientados de fora para dentro, importando modelos e incentivando<br />
atividades econômicas totalmente alheias à nossa identidade.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O resultado concreto de tais modelos é visível não somente pelos indicadores<br />
socioeconômicos nefastos, mas também pelos desmatamentos mostrados nas<br />
imagens de satélite.<br />
O PIB da imensa Região Norte corresponde apenas a 4,6% do PIB brasileiro.<br />
A renda per capita é de 3.907 reais, estando 40% abaixo da média nacional. E todos<br />
os anos vem desaparecendo na Amazônia uma área de floresta de 10 mil km²,<br />
correspondente à área da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Estado do Acre,<br />
onde vivem mais de 1.500 famílias extrativistas.<br />
A floresta na Amazônia vem sendo derrubada para resolver o dilema da<br />
busca da matéria-prima para outras regiões e para fortalecer as exportações de<br />
grãos plantados em solos outrora cobertos pela mata.<br />
Como se sabe, o Brasil é o maior produtor e o maior consumidor de madeira<br />
tropical do mundo: 95% da produção de madeira da Amazônia é feita de forma<br />
predatória e 85% de toda a produção é consumida dentro do próprio País,<br />
principalmente pela Região Sudeste.<br />
Mas a população local, como demonstram os indicadores citados, não tem<br />
sido devidamente beneficiada. Em toda a Amazônia Legal, que corresponde a 57%<br />
do território nacional, já foram desmatados mais de 15% das áreas de floresta,<br />
segundo dados do IBGE de 1996, e a região pouco se desenvolveu.<br />
Não temos energia nem infra-estrutura de transportes. Somos altamente<br />
dependentes de repasses do Governo Federal. Não temos acesso amplo a crédito<br />
nem a tecnologias para explorar nossos recursos de forma sustentável. Não temos<br />
tratamento tributário diferenciado.<br />
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Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, não podemos continuar a colocar a nossa<br />
floresta no chão. Portanto, a necessidade de reversão desse processo faz-se<br />
urgente.<br />
É um paradoxo a atual condição periférica da Amazônia em relação à sua<br />
posição estratégica para o País, dada a magnitude da importância que sua floresta<br />
representa para o mundo.<br />
Ali temos a maior reserva de biodiversidade do planeta, concentramos 35%<br />
do que resta das florestas tropicais mundiais e 20% de toda a água doce da Terra. A<br />
Floresta Amazônica cumpre papel importantíssimo para a minimização dos efeitos<br />
da mudança climática. A nossa Amazônia presta serviços ambientais ao mundo<br />
todo.<br />
Mas enquanto não se resolvem as discussões internacionais sobre o<br />
pagamento pelos serviços ambientais e a implantação de instrumentos como o<br />
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, por exemplo, podemos nos antecipar e<br />
estruturar um desenho produtivo que sustente o nosso desenvolvimento a partir de<br />
nossas vocações naturais.<br />
Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, devemos, urgentemente,<br />
repensar os modelos e orientar a economia na Amazônia para o setor florestal.<br />
Precisamos criar condições de incentivo ao manejo da floresta e à implantação local<br />
de uma indústria compradora de matéria-prima florestal capaz de dinamizar toda a<br />
cadeia produtiva, gerando emprego e trabalho decente, criando renda e aumentando<br />
a autonomia da região.<br />
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Sr. Presidente, quero relatar exatamente algumas experiências de arranjo<br />
produtivo de base florestal que vêm sendo construídas no Acre, como, por exemplo,<br />
no Município de Xapuri, terra de nosso grande líder Chico Mendes. Nesse Município<br />
de forte tradição na luta pela defesa da floresta e de seus povos, e onde o<br />
Presidente Lula esteve, no mês passado, para se encontrar com seus antigos<br />
companheiros, os desafios foram encarados como oportunidades. Os diferenciais<br />
locais foram reconhecidos como vantagens para a implantação de uma iniciativa<br />
pioneira de política pública para o desenvolvimento local e regional e, o que é ainda<br />
mais oportuno, em consonância com as propostas do Ministério da Integração de<br />
implantação de arranjos produtivos para alavancar o desenvolvimento local e<br />
sustentável da região.<br />
O Município reúne, assim como toda a região em que se localiza, importantes<br />
elementos de diferenciação: abundância e diversidade de recursos naturais, capital<br />
social e saber tradicional sobre o uso da floresta, além da vontade política<br />
governamental, tanto local como estadual.<br />
A implantação dessa experiência-piloto para estruturar um sistema produtivo<br />
que abrange desde a produção de matéria-prima, através do manejo florestal<br />
comunitário, até a industrialização localizada na zona urbana, tem sido responsável<br />
por uma grande dinamização da atividade econômica local.<br />
A diversificação econômica, com a introdução de mais um componente no<br />
sistema produtivo extrativista, no caso, a produção sustentável de madeira,<br />
juntamente com a promoção da industrialização e da certificação socioambiental,<br />
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gerou, até agora, um aumento de 470% na renda familiar no Seringal Cachoeira,<br />
além de vários empregos na cidade.<br />
Sr. Presidente, estamos criando competências locais e coletivas<br />
fundamentadas no saber tradicional e na capacidade de organização comunitária.<br />
Estamos gerando modelos não excludentes, empregos, distribuindo renda,<br />
promovendo o intercâmbio com o saber científico e a interação institucional.<br />
Estamos, atualmente, difundindo essa experiência-piloto ainda no âmbito do<br />
Município, mas temos certeza de seu potencial de replicabilidade para todas as<br />
comunidades florestais da Amazônia.<br />
Isso sem falar nas políticas do Governo do Acre para o manejo empresarial<br />
nas Florestas Estaduais de Produção e, também, na criação dos Assentamentos<br />
Florestais e na proposta para a reforma agrária na Amazônia defendida pela nossa<br />
bancada e pelo Governo Lula.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, este é o modelo que defendemos<br />
para a Amazônia: a floresta como base para criar empregos, gerar renda para o<br />
Estado, promover a economia e o desenvolvimento regional.<br />
Todo o potencial de nossa floresta, utilizado de forma sustentável e<br />
agregadora, representa não somente o desenvolvimento da região, mas uma<br />
estratégia produtiva para o País. Os novos produtos sustentáveis, como madeira,<br />
cosméticos, óleos, sementes, frutas, fibras, fármacos e outros, incorporam o valor<br />
dos serviços ambientais mantidos com a conservação da floresta.<br />
Não somente o mercado interno está crescendo para os produtos florestais,<br />
mas também o mercado internacional, pois exige hoje a certificação socioambiental.<br />
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De toda a área de floresta certificada no Brasil pelo FSC, cerca de 1,2 milhão<br />
de hectares, somente 25% correspondem a operações de manejo na floresta<br />
amazônica; o restante são as florestas plantadas de eucalipto e pinho do Sul do<br />
País, ligadas à indústria exportadora.<br />
No Brasil, somente para a madeira já existem 133 empresas com a<br />
certificação FSC para a cadeia de custódia. São indústrias compradoras de madeira<br />
certificada. Seus produtos vão de lápis e casas pré-fabricadas, passando pela<br />
produção de carvão vegetal e lenha, até a prestação de serviços, como secagem de<br />
madeira.<br />
Sr. Presidente, é esse o tipo de indústria que precisamos estimular na<br />
Amazônia. Sua instalação junto às áreas de produção sustentável de matéria-prima<br />
diminui não somente os custos das empresas, mas também os gastos do País com<br />
petróleo e subsídios ao óleo diesel. Por exemplo: na cadeia de produção de madeira<br />
serrada, produzida na Amazônia e consumida no Sul do País, 89% de todo o<br />
consumo de energia é gasto na fase de distribuição do produto. O frete representa<br />
33% do custo total da madeira colocada nesses mercados.<br />
Ouço, com prazer, o aparte do nobre Deputado Valdenor Guedes, importante<br />
para a discussão sobre a nova fase de desenvolvimento da nossa região.<br />
O Sr. Valdenor Guedes - Deputado Zico Bronzeado, tenho o prazer e a<br />
satisfação de participar deste seu brilhante pronunciamento não apenas como<br />
ouvinte, mas também como aparteante. V.Exa. faz discurso que há mais de 10 anos<br />
não se ouvia nesta Casa. Muito se ouve falar em desenvolvimento sustentável,<br />
inclusive em meu Estado, o Amapá. V.Exa. apresenta o assunto de maneira simples,<br />
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mas com muita propriedade. Diversas pessoas começam a perguntar o que é<br />
desenvolvimento sustentável. São muitas as definições, mas posso dizer que<br />
desenvolvimento sustentável é aquele que proporciona ao homem melhor qualidade<br />
de vida, com respeito, acima de tudo, à capacidade produtiva dos ecossistemas nos<br />
quais vive. Isso, Deputado, faz com que projetos como o desenvolvido no Acre<br />
possam ser imitados, especialmente pelo Ministério do Meio Ambiente. A Ministra<br />
Marina Silva, que com grande competência dirige aquele Ministério, vai apresentar<br />
dentro de poucos dias um grande plano de desenvolvimento sustentável para o<br />
País. Antes disso, teremos a honra de conversar com S.Exa. e pedir-lhe que não<br />
privilegie somente as florestas e os rios, mas, acima de tudo, o homem. Ele deve<br />
estar no centro de todas as coisas. Para que possamos preservar a natureza e ao<br />
mesmo tempo obter o desenvolvimento sustentável, não podemos repetir o que se<br />
faz no Amapá, cujo território está quase todo comprometido: 4,4 milhões de hectares<br />
foram destinados a reservas indígenas, reservas biológicas, estações ecológicas e<br />
outros parques. Além disso, 3,8 milhões de hectares foram reservados para o<br />
Parque Nacional das Montanhas de Tumucumaque. Portanto, 58% das terras do<br />
Amapá são destinadas a parques e outras reservas, de modo que não há condições<br />
de ele se desenvolver. É um crime, uma afronta ao nosso Estado! Será, Deputado<br />
Zico Bronzeado, Sras. e Srs. Deputados, que para preservarmos a Amazônia temos<br />
de delimitá-la e criar áreas que são verdadeiros cenários fotográficos, dos quais se<br />
fazem cartões postais? Não queremos isso na Amazônia! Queremos projetos como<br />
o que V.Exa. hoje apresenta neste plenário, a fim de promover o verdadeiro<br />
desenvolvimento da região. Parabéns, nobre Deputado Zico Bronzeado, pelo<br />
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brilhante pronunciamento. Somente agora fiquei sabendo o que é realmente um<br />
projeto de desenvolvimento sustentável: é aquele que leva indústrias, gera<br />
empregos e divisas para os habitantes e estimula a economia da região.<br />
O SR. ZICO BRONZEADO - Agradeço ao nobre Deputado Valdenor Guedes<br />
o aparte, que incorporo ao meu pronunciamento.<br />
um aparte?<br />
O Sr. Carlos Abicalil - Nobre Deputado Zico Bronzeado, permite-me V.Exa.<br />
O SR. ZICO BRONZEADO - Com muito prazer, ouço o aparte de V.Exa.<br />
O Sr. Carlos Abicalil - Nobre Deputado Zico Bronzeado, também quero<br />
apartear V.Exa. na qualidade de membro da bancada amazônica. Em meu Estado<br />
de Mato Grosso, temos a felicidade de ter três biomas: o cerrado, o pantanal e a<br />
floresta. Quero divergir do nobre colega que me antecedeu. V.Exa., Deputado Zico<br />
Bronzeado, mostra que é possível promover o desenvolvimento sustentável em<br />
áreas de preservação, com populações originais e tradicionais, aliado à inclusão<br />
social e à proteção ambiental — esse é um seriíssimo problema que precisamos<br />
enfrentar. Por último, quero compartilhar da indignação de V.Exa. em relação aos<br />
comentários feitos pelo ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso — chefe do<br />
desgoverno passado. Tais críticas nos servem de alento porque, se toda a<br />
irritabilidade demonstrada pelo ex-Presidente representa a oposição ao Governo<br />
Lula, ela apenas mostra que estamos no caminho correto e devemos mantê-lo no<br />
sentido de garantir, ao lado da credibilidade externa, a sustentabilidade, a autonomia<br />
e a soberania brasileiras. Dessa forma, os próximos 4 anos trarão o resgate da<br />
cidadania e da produção, a valorização do trabalho, do empreendimento e sobretudo<br />
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da auto-estima do povo brasileiro, que é capaz de sobreviver com independência e<br />
dignidade. Parabéns a V.Exa. pelo pronunciamento. Tenho convicção de que os<br />
exemplos de desenvolvimento sustentável que aponta neste momento claramente<br />
representam as mudanças que faremos nos próximos anos.<br />
O SR. ZICO BRONZEADO - Muito obrigado, Deputado. Incorporo, com muito<br />
prazer, o aparte de V.Exa. ao meu pronunciamento.<br />
Ouço o Deputado Nicias Ribeiro.<br />
O Sr. Nicias Ribeiro - Nobre colega, ainda há pouco me apresentei. Também<br />
sou da Amazônia, caboclo da Ilha de Marajó. O ilustre Deputado de Mato Grosso,<br />
que me antecedeu, festeja o trabalho de convivência e de preservação do meio<br />
ambiente. No meu Estado, lamentavelmente, a preservação me parece exagerada:<br />
parques, florestas nacionais e reservas extrativistas foram criados aos montes pelo<br />
ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso — nenhum criou tantos quanto ele, não<br />
só no Pará, mas em toda a Amazônia. Ainda há pouco, o Deputado Valdenor<br />
Guedes falava exatamente da criação, no Amapá, do Parque de Tumucumaque, que<br />
dividiu o Estado quase ao meio. Há algo que me preocupa. Sou caboclo do interior<br />
da Ilha de Marajó, Deputado Zico Bronzeado, e desde menino conheço o azeite de<br />
andiroba, que passava na perna para tirar a dor quando a machucava jogando bola.<br />
Quando me cortava, o golpe sarava imediatamente se eu passasse óleo de copaíba<br />
— para quem não sabe, esse óleo tem grande poder cicatrizante. No Estado de<br />
V.Exa., o Acre, há muita castanha-do-pará, cujo nome está sendo mudado, parece-<br />
me, para castanha-do-brasil. No meu Estado, e acho que também no seu, há<br />
cupuaçu e bacuri, frutas que conhecemos desde meninos. Neste ano, descobri —<br />
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qual não foi meu espanto! — que ninguém mais pode usar o nome cupuaçu, porque<br />
está registrado como propriedade industrial de uma empresa do Japão. O mesmo<br />
acontece com a andiroba e a copaíba, na França. Então, quero somar minhas<br />
palavras às de V.Exa. Talvez não concorde com a tese que defende, mas estou ao<br />
lado de V.Exa. na defesa da respeitabilidade da Amazônia. Acima de tudo, é preciso<br />
evitar saques em nossa região, que se leve para fora o que é nosso e se registrem<br />
nossos frutos em outros países, para aplicá-los na medicina e em outras atividades<br />
profissionais. Peço perdão à Mesa e particularmente a V.Exa. por ter talvez<br />
exagerado no meu aparte e ter exaurido o tempo de V.Exa. Parabéns pelo discurso<br />
que pronuncia nesta Casa.<br />
Ribeiro.<br />
O SR. ZICO BRONZEADO - Agradeço a V.Exa. o aparte, Deputado Nicias<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Deputado Zico Bronzeado, peço a<br />
V.Exa. que conclua seu pronunciamento.<br />
O SR. ZICO BRONZEADO - Sr. Presidente, reconheço que o tempo é de<br />
grande valor para esta Casa. No entanto, sem o aparte dos ilustres colegas, este<br />
discurso não teria a dimensão que eu e o povo da Amazônia queremos lhe dar.<br />
Prossigo, Sr. Presidente.<br />
Caso sejam mantidos os modelos atuais de exploração predatória e<br />
transporte sem beneficiamento, pode vir a ocorrer um aumento de 72% no consumo<br />
de combustível para o transporte de madeira no Brasil.<br />
Isso significa enormes e novos gastos para o País, principalmente devido ao<br />
subsídio ao óleo diesel. Esse custo adicional poderá ser evitado por meio de<br />
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políticas de incentivo ao manejo florestal e ao beneficiamento de produtos na própria<br />
Amazônia.<br />
Sr. Presidente, os arranjos produtivos de base florestal na Amazônia são,<br />
portanto, uma estratégia que beneficia amplamente não somente a região mas o<br />
País como um todo e, também, o restante do mundo.<br />
Até mesmo os setores que tradicionalmente converteram a floresta, como a<br />
pecuária e a agricultura extensiva, poderão ser beneficiados com o equilíbrio<br />
climático garantido pela floresta que ainda resta em pé.<br />
A Amazônia reúne condições iniciais maduras para desenvolver uma forte<br />
economia de base florestal, mas muitas lacunas estruturais deverão ser preenchidas<br />
para que o Brasil possa usufruir de todo o potencial que a região nos reserva.<br />
O exercício da transversalidade, de que fala a Ministra do Meio Ambiente,<br />
deverá ser posto em prática por todos nós. Para consolidar nossa competência,<br />
precisaremos abrir portas junto à esfera institucional; criar mecanismos de incentivos<br />
tributários, de crédito e de apoio à comercialização para os produtos sustentáveis;<br />
abrir novas frentes para a pesquisa tecnológica e para a formação especializada; e<br />
incrementar a nossa infra-estrutura.<br />
Será necessário ampliar o diálogo e integrar as ações entre as várias esferas<br />
de governo, como INCRA, IBAMA, BASA, A<strong>DA</strong>, SUFRAMA, EMBRAPA e outros<br />
órgãos. Também com o empresariado, com os movimentos sociais, os sindicatos, as<br />
cooperativas e as ONGs, assim como os institutos de pesquisa e as universidades.<br />
O debate sobre a Amazônia, seus desafios e oportunidades deve ser mantido<br />
na pauta de todos os setores e instituições como base para a implementação de<br />
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uma política ampla para a região, que valorize suas vocações naturais e incorpore<br />
as variáveis da conservação ambiental, da valorização da cultura e do saber local,<br />
do acúmulo de capital social, da geração de empregos e do uso de tecnologias<br />
limpas e apropriadas.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na quinta-feira passada, em seminário<br />
proposto por mim e realizado pela Comissão de Economia, Indústria, Comércio e<br />
Turismo desta Casa, tivemos a oportunidade de conhecer e debater as experiências<br />
de manejo florestal comunitário em curso no Estado do Acre, como modelo para o<br />
desenvolvimento da Amazônia.<br />
Naquele mesmo dia, juntamente com as Deputadas Perpétua Almeida e<br />
Vanessa Grazziotin, apresentamos emenda à proposta de reforma tributária em<br />
tramitação na Casa. A emenda, apoiada pela bancada da Amazônia, prevê<br />
tratamento tributário diferenciado aos produtos e serviços que façam uso sustentável<br />
da biodiversidade e dos recursos naturais renováveis das áreas do patrimônio<br />
nacional.<br />
Entendemos, Sr. Presidente, a necessidade de tratamento tributário<br />
favorecido como forma de minimizar os custos da sustentabilidade, cujos benefícios<br />
serão disseminados amplamente e de forma igualitária para todos. Os modelos de<br />
produção e de práticas de uso da terra até hoje incentivadas na Amazônia, ao<br />
contrário, concentram benefícios e disseminam os custos para o resto do País.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, temos neste momento a oportunidade<br />
de dar nossa contribuição concreta para o desenvolvimento sustentável do País, de<br />
valorizar o patrimônio que herdamos e de enriquecê-lo para as futuras gerações.<br />
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Agradeço ao Acre a oportunidade de aqui representá-lo nesta nova<br />
concepção de desenvolvimento para toda a Amazônia.<br />
Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que meu pronunciamento seja transcrito na<br />
íntegra nos Anais, divulgado em todos os meios de comunicação da Casa e no<br />
programa A Voz do Brasil.<br />
Muito obrigado.<br />
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />
Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Paes Landim, para uma Comunicação de Liderança pelo PFL, que disporá de até 8<br />
minutos.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE À<br />
REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Em continuidade ao Grande Expediente,<br />
concedo a palavra ao Deputado Bassuma, do PT da Bahia, que disporá de até 25<br />
minutos.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
DISCURSO DO SR. DEPUTADO BASSUMA QUE, ENTREGUE À<br />
REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Durante o discurso do Sr. Bassuma, assumem<br />
sucessivamente a Presidência os Srs. Reginaldo<br />
Germano, § 2º do art. <strong>18</strong> do Regimento interno, e João<br />
Caldas, 4º Suplente de Secretário.<br />
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O SR. VICENTINHO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) – Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. VICENTINHO (PT-SP. Pela ordem. Pronuncia o seguinte discurso.) Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os dados contidos na Síntese de Indicadores<br />
Sociais 2002, da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),<br />
divulgada há poucos dias, comprovam o abismo racial existente no Brasil,<br />
mostrando, em resumo, um dado que nos alarma: a população negra (e parda), com<br />
mais de 12 anos de estudo, ganha 70% do que recebem os brancos com a mesma<br />
instrução.<br />
Não podemos fugir de uma realidade cruel e perversa: a discriminação racial<br />
está muito presente em nosso País, entranhada em grande parte da população. Isso<br />
faz com que o caminho dos negros seja cada vez mais difícil. Portas ainda são<br />
fechadas por conta de um preconceito que magoa e fere. Sim, magoa e fere. Mas,<br />
paradoxalmente, somos capazes de reunir essa mesma mágoa, essa mesma dor, e<br />
fazer de ambas força e energia para as nossas lutas, nossa união, nossa disposição<br />
em impedir que a cor da pele seja diferencial discriminatório em qualquer das<br />
atividades do ser humano: a profissional, a social, a cultural, a política etc.<br />
O mesmo relatório do IBGE apresentou outros dados: a diferença salarial é<br />
ainda maior nas regiões metropolitanas de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e<br />
Curitiba.<br />
E há mais: entre as pessoas com menos escolaridade (até 4 anos de estudo),<br />
a situação não é muito diferente. Negros (e pardos) ganham 65,2% dos rendimentos<br />
dos brancos com a mesma escolaridade.<br />
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Um dos responsáveis pela pesquisa, o cientista social José Luiz Petrucelli,<br />
disse à imprensa: “Não basta aumentar o número de anos de estudo, pois a<br />
discriminação é mais forte. As desigualdades se mantêm mesmo ao serem<br />
igualadas as condições básicas das pessoas”.<br />
Um dado da pesquisa nos deixa ainda mais perplexos. De acordo com o<br />
cientista social José Luiz Petrucelli, as desigualdades são mais gritantes na região<br />
metropolitana de Salvador. Negros (e pardos) na capital baiana representam 82% da<br />
população empregada. O rendimento médio mensal dos trabalhadores brancos na<br />
região da Grande Salvador é o 2º maior do Brasil: R$1.233. Negros (e pardos)<br />
ganham em média apenas 34% desse valor: R$421. Em todo o Brasil, negros (e<br />
pardos) ganham, em média, R$376, pouco menos da metade do que recebem os<br />
brancos (R$757).<br />
O cientista social foi enfático e incisivo ao afirmar, analisando os números de<br />
Salvador: “A região metropolitana de Salvador mostra o modelo de sociedade de<br />
elite branca”.<br />
Aqui no Distrito Federal, comprova o IBGE, os brancos têm a melhor média<br />
mensal de rendimentos do País: R$1.414. E está aqui no Distrito Federal a menor<br />
distância entre os trabalhadores: negros (e pardos) recebem, em média, no Distrito<br />
Federal, R$737, uma diferença de 52%. Na região metropolitana de São Paulo, os<br />
negros (e pardos) ganham, em média, R$556, metade dos rendimentos dos<br />
brancos: R$1.089.<br />
Outro assunto, Sr. Presidente. Acompanhado da Vereadora Claudete Alves,<br />
da cidade de São Paulo, e do Deputado Estadual Tiãozinho, representante de<br />
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Campinas na Assembléia Legislativa de São Paulo, participei, no último domingo, de<br />
uma bela festa popular. Aconteceu no Bairro da Penha, Zona Leste da cidade de<br />
São Paulo, mesmo bairro no qual morava o músico Itamar Assumpção, a quem<br />
desejo homenagear. Itamar Assumpção, que tinha fortes ligações com a região do<br />
ABC, foi sepultado na minha cidade, em São Bernardo, que recebeu assim o corpo<br />
de um dos mais importantes músicos dos últimos anos. Seu comportamento,<br />
equivocadamente considerado por muitos como anti-social, na verdade era um grito<br />
de alerta contra a sociedade do lucro, da ganância, da usura e da falta de<br />
fraternidade entre os seres humanos. Ele nunca, mesmo nos momentos de maior<br />
fama, nunca se afastou do povo, dos pobres, dos moradores do Bairro da Penha.<br />
Também por isso era tão querido.<br />
Na festa do último domingo, que comemorava as obras de reforma da Igreja<br />
Nossa Senhora do Rosário, na Penha, diversas manifestações religiosas e<br />
populares aconteceram. Centenas de pessoas apreciaram, com alegria, a Congada<br />
de São Bernardo, cujo presidente é Mestre Ditinho, apresentações de viola caipira,<br />
Folia de Reis e desfile de estandartes das Veneráveis Ordens e Irmandades, entre<br />
outras manifestações religiosas e culturais, que fazem parte da vida do povo, mas<br />
que são sistematicamente deixadas de lado pelos meios de comunicação,<br />
preocupados com o lucro fácil que vem do lixo cultural do exterior, que nada tem a<br />
ver conosco, com a nossa realidade, com a vida de alegria do nosso povo mais<br />
simples e humilde.<br />
Ao final daquela bela manhã de domingo, participamos de uma inesquecível<br />
missa afro. Danças, oferendas, cores, cantos e orações fizeram um conjunto pleno<br />
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de harmonia, uma comunhão perfeita com o outro e com o Deus da vida, da fartura,<br />
da esperança e do amor.<br />
Momento único foi reverenciar a entrada da imagem de Nossa Senhora do<br />
Rosário, que veio até o altar pelo meio da praça, trazida em um belo ritual de dança<br />
por uma das participantes. É emocionante ver homens e mulheres, brancos e<br />
negros, reverenciando, beijando, pedindo e agradecendo à santa negra, humilde e<br />
simples, bela e divina.<br />
Sr. Presidente, gostaria de homenagear ainda, aproveitando este momento,<br />
um desenhista e ilustrador, um grande artista gráfico que se chama Maurício<br />
Pestana. Ele recebeu, na noite de sexta-feira, 6 de junho, o título de Cidadão<br />
Paulistano, uma iniciativa da mesma amiga e companheira, a Vereadora Claudete<br />
Alves.<br />
Apenas a título de registro, e de repúdio, relato o que aconteceu à nossa<br />
Vereadora há poucas semanas. Claudete é negra, e sentiu a dor da humilhação pela<br />
qual passam centenas de negros em nosso País. Acompanhada de um motorista,<br />
ela foi ao aeroporto de Congonhas. Foram então abordados por dois policiais, que<br />
pediram a ambos que se identificassem. Ela mostrou a carteira de vereadora, mas o<br />
policial disse que era falsa. Até tudo ficar definido, Claudete se viu às voltas com<br />
uma acusação leviana. E decidiu processar os policiais.<br />
Pois bem. Vamos voltar a falar de fatos alegres. Claudete decidiu dar o título<br />
ao artista Maurício Pestana. Também negro, Maurício nasceu em Santo André, e é<br />
desses artistas ligados ao povo, à luta dos trabalhadores, à defesa dos que não têm<br />
voz e lutam para conquistá-la. Tem livros publicados, ilustra cartilhas da CUT, do<br />
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Movimento Negro e está sempre disponível. Seu traço chega a todos os cantos, às<br />
fábricas do ABC, e seu humor já ajudou a mudar muitas consciências.<br />
O salão nobre da Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo estava<br />
lotado. Maurício merece: seu traço, como bem definiu Suely Carneiro, da entidade<br />
Geledés, é o verdadeiro “humor negro”!<br />
Tudo isso nos faz ratificar uma certeza: o Brasil que queremos, o mundo que<br />
queremos, não é dividido entre brancos e negros, vermelhos e amarelos. Na<br />
verdade, não é dividido. Nele deveriam habitar todos os que desejam viver com<br />
justiça, paz e liberdade.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) – Concedo a palavra ao Deputado<br />
Casara, do PSDB, que dispõe de 25 minutos.<br />
O SR. CASARA (PSDB-RO. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras.<br />
e Srs. Deputados, uso o período do Grande Expediente para falar sobre<br />
desenvolvimento sustentável, sobre o Estado de Rondônia e, acima de tudo, sobre a<br />
relação da ecologia com a economia, setores que, muitas vezes, geram tantos<br />
conflitos, mas que poderiam produzir muitas soluções, como geração de postos de<br />
serviços, distribuição de renda e proteção à biodiversidade.<br />
Quero fazer um breve passeio sobre a questão do ambientalismo em todo o<br />
Planeta, partindo da Europa, seguindo pelos Estados Unidos e Brasil, e<br />
aprofundando o tema com enfoque em Rondônia, que, diga-se de passagem, é um<br />
dos primeiros Estados brasileiros a ter zoneamento socioambiental, ou zoneamento<br />
sócio-ecológico-econômico — excelente instrumento de planejamento e de políticas.<br />
Sr. Presidente, com o crescimento da população mundial, precisou-se<br />
compatibilizar essa ocorrência com as necessidades emergenciais do homem. Tal<br />
acomodação, Sr. Presidente, levou o mundo à grande reflexão.<br />
Temos como marcos iniciais na relação meio ambiente/economia,<br />
principalmente a Revolução Industrial na Europa. Em Londres, os produtores rurais,<br />
em menor quantidade, começavam a discutir esse polêmico problema. No entanto,<br />
os produtores rurais não foram suficientes para enfrentar todos os discursos e todas<br />
as estratégias montadas pelos economistas e pelos desenvolvimentistas,<br />
impulsionados pela consolidação da industrialização no Velho Continente.<br />
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O movimento saiu da Europa e passou para os Estados Unidos. Em face dos<br />
impactos exagerados da industrialização e da necessária proteção ao meio<br />
ambiente, os Estados Unidos se viram obrigados a rever seu modelo ambiental,<br />
calcado em cima do preservacionismo e do conservacionismo. Tal preservacionismo<br />
conduziu à criação das unidades de conservação dos parques nacionais. Aquele<br />
país contribuiu decisivamente na consolidação dos seus parques nacionais, e, ao<br />
longo de alguns anos, exerceu influência sobre toda a América Latina e o Caribe.<br />
Foi o início de um discurso mais inovador e promissor, o conservacionista.<br />
Mas esse discurso não evoluiu, em face do expansionismo da fase industrial<br />
ocorrida nos Estados Unidos e de todo o trabalho realizado no pós-guerra.<br />
Enfraqueceu-se brutalmente o trabalho da conservação, o que deu espaço para o<br />
entendimento de que os recursos naturais eram inesgotáveis. Com isso, imprimiu-se<br />
um ritmo acelerado de crescimento econômico e deixou-se de lado os cuidados<br />
necessários com a proteção ambiental.<br />
Tudo isso levou a uma reflexão, na década de 1970, ocasionada também por<br />
problemas gerados na Europa e no Japão, principalmente com a contaminação dos<br />
mares por metais pesados provenientes das indústrias, pelo efeito estufa e pelo<br />
rompimento da camada de ozônio.<br />
Durante a Conferência de Estocolmo, passamos a ter um novo modelo em<br />
discussão, que denominamos de desenvolvimento sustentável, assunto sobre o qual<br />
quero discorrer, Sr. Presidente.<br />
O termo desenvolvimento sustentável tornou-se conhecido mundialmente a<br />
partir da divulgação pelas Nações Unidas dos documentos Nosso Futuro Comum e<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Estratégia Mundial para Conservação, que têm como elementos essenciais a<br />
manutenção dos processos vitais dos ecossistemas na exploração dos recursos<br />
naturais e o objetivo de proporcionar bem-estar às gerações presentes e futuras.<br />
Como podemos observar, pela própria definição do termo, o grande problema<br />
é estabelecer conteúdos mais precisos para o desenvolvimento sustentável do ponto<br />
de vista prático.<br />
Questões complexas envolvendo a ordem econômica e social e os recursos<br />
naturais deverão ser equacionadas e solucionadas com o objetivo de atender às<br />
necessidades humanas e, ao mesmo tempo, buscar a manutenção e a reposição<br />
dos estoques naturais, de forma racional, possibilitando ao mercado absorver os<br />
custos da proteção ambiental.<br />
O grande desafio para a sociedade moderna e seus agentes políticos é,<br />
portanto, planejar o desenvolvimento de seu grupo social dentro dos parâmetros de<br />
desenvolvimento sustentável, em que o cuidado com o meio ambiente é uma<br />
necessidade vital.<br />
Medidas como o estabelecimento de diretrizes claras para a integração das<br />
políticas setoriais temáticas, que compõem o complexo pool de atividades<br />
econômicas que se utilizam de recursos naturais, são de vital importância para o<br />
desenvolvimento sustentável, como é importante a sustentabilidade para a vida,<br />
assim como para a obtenção da matéria-prima que move as indústrias, que, por sua<br />
vez, move a circulação dos produtos do mercado, que geram postos de trabalho e<br />
renda para o povo.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Sr. Presidente, temos um divisor de águas muito claro a partir de 1500,<br />
quando o grande discurso que permeava o mundo e as grandes navegações era o<br />
expansionismo e o territorialismo como poder.<br />
Hoje, face à globalização dos mercados e outros instrumentos, temos que<br />
pensar na produtividade e na sustentabilidade, para que possamos criar<br />
competitividade e fortalecer nossos instrumentos e definir nossos lucros dentro do<br />
modelo da economia global.<br />
O Brasil, Sr. Presidente, a partir da década de 1990, participa exemplarmente<br />
do consenso de que os problemas ambientais impõem interpretação responsável, e<br />
vem agindo localmente e pensando globalmente através de uma política nacional de<br />
desenvolvimento sustentável, que tem obtido a cada ano resultados muito positivos<br />
em relação ao desenvolvimento humano e à preservação do meio ambiente.<br />
Sr. Presidente, a proteção do meio ambiente exige um conjunto de atividades<br />
e de proteção ambiental pela União, pelos Estados e pelos Municípios. Somente<br />
assim será possível uma efetiva proteção e coordenação do desenvolvimento<br />
sustentável. Hoje ela constitui um dos principais compromissos do Governo<br />
brasileiro.<br />
Quero, dentro deste tema, Sr. Presidente, destacando minha abordagem<br />
entre as questões ambiental e econômica, falar um pouco, principalmente sobre as<br />
políticas temáticas e setoriais que compõem a grande estrutura da política de meio<br />
ambiente. Na realidade, temos a política de meio ambiente como uma matricial que<br />
precisa necessariamente de instrumentos, de sustentação, para que possamos<br />
implementar uma efetiva política de meio ambiente para o País. Sem trabalharmos<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
esses instrumentos, jamais vamos construir uma política de meio ambiente para o<br />
nosso Brasil.<br />
Quero dar um enfoque, efetivamente, à política de floresta, política esta que<br />
tem o seu embasamento no manejo florestal, na relação de crédito, na assistência<br />
técnica, na extensão rural, na pesquisa, no reflorestamento e em outros<br />
instrumentos extremamente importantes.<br />
Quero mostrar que, no instrumento do manejo florestal, encontramos a melhor<br />
possibilidade de conciliar e harmonizar a atividade econômica com a atividade de<br />
proteção ambiental. É nessa atividade que conseguiremos proteger nossos grandes<br />
biomas e nossos grandes ecossistemas, tirando a matéria-prima da floresta para<br />
aquecer o setor industrial florestal madeireiro, gerando emprego e renda,<br />
fortalecendo o parque moveleiro e o parque de artesanatos e de artefatos. Para isso,<br />
precisamos conciliar esses 2 extremos entre a ecologia e a economia. É<br />
fundamental que, acima de tudo, tenhamos crédito para que essas questões sejam<br />
realizadas. É preciso dar continuidade a todo o processo de desburocratização dos<br />
planos de manejo, a fim de que efetivamente consolidemos uma política florestal<br />
para a Amazônia e para o resto do País.<br />
Dito isso, Sr. Presidente, entendo que essa relação de crédito vai muito bem<br />
e, de forma apropriada, os demais setores da economia do País, da Amazônia, do<br />
meu Estado, Rondônia. É necessário que esses créditos também cheguem para<br />
apoiar efetivamente o melhor instrumento de política florestal — o manejo florestal<br />
—, seja o crédito para a elaboração dos planos de manejo, de forma<br />
desburocratizada, seja o crédito que prestará assistência técnico-florestal no campo<br />
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e promoverá a reciclagem da mão-de-obra, a fim de reduzir os impactos da estação<br />
florestal no campo.<br />
Acima de tudo, Sr. Presidente, temos de ter crédito para apoiar o setor<br />
industrial florestal madeireiro, a fim de que se verticalize seu parque industrial e<br />
possamos melhorar cada vez mais a eficiência no aproveitamento dessa matéria-<br />
prima e, com isso, exercer menor esforço nas florestas nativas da longevidade de<br />
aproveitamento dessa matéria-prima, criar sustentabilidade ao processo e, ao<br />
mesmo tempo, promover maior geração de emprego e de renda para nossa<br />
população.<br />
Sr. Presidente, não é diferente a questão da pesca. Temos de criar uma<br />
política de pesca integrada e lincada à política de meio ambiente; do contrário, o<br />
cidadão vai continuar sendo sacrificado, pagando 2 contas ao mesmo tempo. Temos<br />
de vincular sempre essas políticas setoriais e temáticas, que se utilizam de recursos<br />
naturais, a uma política matricial — a política de meio ambiente. Precisamos agir<br />
com racionalidade, respeitando-se os prejuízos imputados hoje à sociedade e, com<br />
isso, pagarmos apenas os custos operacionais e deixarmos de lado os custos de<br />
recuperação.<br />
Sr. Presidente, quero referir-me mais especialmente à política de pesca.<br />
Precisamos, rapidamente, fortalecer todo o serviço de monitoramento, controle e<br />
proteção das 200 milhas marítimas, em razão da rapinagem que promovem frotas<br />
estrangeiras na costa brasileira. E aqui quero adentrar à pesca de águas interiores,<br />
principalmente na Amazônia. Temos que definir com clareza os instrumentos de<br />
política desse setor que temos de trabalhar.<br />
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Mais uma vez, esse setor carece do instrumento de crédito para que<br />
possamos instrumentalizar toda a parte industrial, apoiar o custeio e, acima de tudo,<br />
criar um programa sustentável de apoio social aos pescadores, que começam a<br />
deixar essa atividade.<br />
O Sr. Coronel Alves - Concede-me V.Exa. um aparte?<br />
O SR. CASARA - Ouço V.Exa. com prazer.<br />
O Sr. Coronel Alves - Deputado como eu, oriundo da região amazônica,<br />
muita preocupação tem V.Exa. com o desenvolvimento da nossa área. V.Exa. traz a<br />
esta Casa grande contribuição, dizendo que nós, na Amazônia, não somos contra o<br />
desenvolvimento. Queremos que essa região fique desenvolvida. E, se assim for,<br />
com certeza, Deputado Casara, será a região mais rica e mais produtiva do Brasil. O<br />
que não queremos para lá são os megaprojetos que não venham ao encontro da<br />
necessidade principalmente do povo que lá habita. Por isso, V.Exa., técnico que tem<br />
anos de vivência na área do desenvolvimento sustentado, traz em sua fala grande<br />
contribuição para nós, Parlamentares, e para todos aqueles que estão nos<br />
assistindo. A preocupação visa principalmente ao homem; também ao<br />
desenvolvimento sustentado, mas em especial ao homem. É isso que nós, da<br />
Amazônia, temos para oferecer como contribuição. Primeiro, a valorização da vida<br />
— acima de todas, a melhor das valorizações. Queremos, sim, desenvolvimento da<br />
pesca, da agricultura, da agropecuária, mas, acima de tudo, um desenvolvimento<br />
sustentável que dê condições ao povo da floresta, como você, eu e muitos que lá<br />
estão, ter sua qualidade de vida melhorada. Portanto, V.Exa. está de parabéns pelo<br />
tema que traz à tribuna. Nós, que estamos ouvindo suas palavras, vamos sair daqui<br />
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premiados com o conhecimento que V.Exa. está a compartilhar conosco. Parabéns<br />
pelo tema!<br />
O SR. CASARA - Agradeço a V.Exa., Deputado Coronel Alves, o aparte e o<br />
incorporo ao meu pronunciamento.<br />
Entendo que não teremos proteção ambiental e fortalecimento do movimento<br />
conservacionista, se nos distanciarmos e continuarmos agindo como a história já<br />
nos mostrou: ambientalistas de um lado e desenvolvimentistas de outro. Precisamos<br />
da conciliação e do diálogo. Vivemos num regime democrático; devemos conversar<br />
e discutir. Mas, acima de tudo, precisamos estabelecer alianças em prol da<br />
população brasileira, notadamente das regiões amazônica e rondoniense.<br />
Falava eu, Sr. Presidente, sobre a política de pesca. Temos uma quantidade<br />
imensurável de recursos naturais e precisamos deles. Devemos fortalecer os<br />
instrumentos de políticas, promover a modernização dessas frotas e, acima de tudo,<br />
a reciclagem. E, quando falo em pesca na Amazônia, de águas interiores, refiro-me<br />
à pesca amadora e esportiva, que deverão necessariamente ser melhor observadas<br />
pelos órgãos de assistência técnica, para que possamos, usando essa mesma<br />
quantidade de recursos naturais, promover uma geração de postos de serviço maior<br />
e, ao mesmo tempo, criar sustentabilidade para esse processo. E isso é de<br />
fundamental importância.<br />
Quero reprisar minha vontade de ter encaminhado, nesta Casa, maior<br />
preocupação para com os pescadores, principalmente com aqueles que não têm<br />
assistência social e, por isso, se distanciam da sua vida útil de trabalho.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Quero também destacar toda a potencialidade que há nas nossas unidades<br />
de conservação, nos parques nacionais, nas estações ecológicas, nas reservas<br />
biológicas, nas florestas nacionais, nas reservas extrativistas e nas de<br />
desenvolvimento sustentável. Essa categoria surgiu na Amazônia e de tal maneira<br />
conciliou homem e natureza.<br />
É exatamente nessa nova lógica que queremos discutir política ambiental<br />
para a Amazônia, para o Brasil; política que concilie homem e natureza e procure,<br />
de forma racional, utilizar esses recursos naturais em favor do homem.<br />
Nas unidades de conservação, há necessidade de fortalecer a pesquisa, a<br />
assistência técnica, a educação ambiental e também identificar atividades<br />
econômicas que tragam benefícios ao homem, como o turismo ecológico em<br />
algumas localidades, como os parques nacionais, estaduais e municipais; o manejo<br />
florestal das florestas nacionais, estaduais e municipais; a pesca esportiva nos rios<br />
que compõem as florestas nacionais; as reservas extrativistas; os parques<br />
nacionais, estaduais e municipais.<br />
Essa conciliação entre proteção e desenvolvimento vai garantir e perpetuar<br />
toda a proteção à nossa biodiversidade.<br />
Sr. Presidente, lembro que no Estado de Rondônia temos um fantástico<br />
instrumento: o zoneamento ecológico econômico. Esse instrumento irá permitir que<br />
se desencadeie entre o Governo Federal e o Governo do Estado de Rondônia um<br />
grande programa de reflorestamento que vá conciliar a atividade florestal madeireira<br />
com as atividades da agricultura e da pecuária. O programa deverá ter papel<br />
importantíssimo, do ponto de vista da redução do desmatamento, acima de tudo da<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
verticalização das atividades econômicas de pecuária, agricultura e do setor<br />
florestal, porque a atividade vai incorporar a tecnologia e, com isso, certamente<br />
vamos produzir mais por área, ter produtividade melhor, e, o mais importante na<br />
relação, vamos conferir sustentabilidade ao processo.<br />
Amazônia.<br />
Estamos criando um novo momento, gerando uma nova oportunidade para a<br />
Faço referência também à política de fauna, sobre a qual me pronunciei neste<br />
plenário; ao criminoso tráfico de animais silvestres que promove evasão de várias<br />
espécies do País. Precisamos de medidas consistentes para reduzir o tráfico e de<br />
alternativas econômicas que se utilizem dos recursos faunísticos, como a atividade<br />
de turismo ecológico, do manejo, da produção de proteína para o povo, mediante<br />
essa política setorial.<br />
Não podemos deixar mais a política de fauna à margem das grandes<br />
discussões, da centralização da política ambiental brasileira.<br />
Também quero falar sobre a política mineral deste País. Precisamos, com<br />
urgência, consolidar uma real política de desenvolvimento mineral para o Brasil.<br />
Hoje temos a possibilidade de criar estruturas menores como as cooperativas e<br />
associações, para dividir e fazer com que as bases produzam de melhor forma e que<br />
haja melhor distribuição da renda. Hoje não o fazemos por falta de uma efetiva<br />
política mineral ou por falta do seu fortalecimento.<br />
Sr. Presidente, falarei agora de um assunto polêmico, que nos causa certos<br />
arrepios: a saída de materiais genéticos de nosso País. Temos pelo menos 5<br />
grandes biomas no Brasil: a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga, o Cerrado e a Mata<br />
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Atlântica. Todos eles detêm um pool de biodiversidade de material genético que<br />
mexe com a economia de qualquer continente. Precisamos, com uma certa<br />
urgência, criar meios nesta Casa para que os órgãos de preservação ambiental e de<br />
assistência técnica criem os instrumentos de proteção, monitoramento, controle e<br />
fiscalização, mas, acima de tudo, instrumentos econômicos que apóiem essas<br />
comunidades que são vítimas dos processos criminosos de extração clandestina dos<br />
recursos genéticos de nosso País.<br />
Precisamos, acima de tudo, criar e fortalecer uma rede de instituições de<br />
pesquisa para que, de forma pragmática, ao invés de permitirmos que materiais<br />
genéticos sejam daqui levados para serem pesquisados e que todos os seus<br />
códigos sejam desdobrados fora do País, façamos com que os pesquisadores<br />
internacionais possam dar sua contribuição nos laboratórios brasileiros.<br />
Com isso, Sr. Presidente, quero falar do necessário fortalecimento do<br />
laboratório de biotecnologia centralizado na Amazônia Ocidental, na cidade de<br />
Manaus.<br />
Quero também externar minha preocupação com o conhecimento gerado por<br />
nossa biodiversidade, com o saber tradicional das nossas populações tradicionais,<br />
que está sendo surrupiado. Muitas vezes, pessoas travestidas ingressam em nosso<br />
País, desrespeitam, patenteiam projetos. Mais uma vez, deixamos as nossas<br />
populações tradicionais, as populações indígenas, ribeirinhas, os quilombolas à<br />
margem desse processo.<br />
DISCURSO ENCAMINHADO PELO ORADOR<br />
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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, com o desenvolvimento humano e o<br />
crescimento populacional, o homem passou a atuar na capacidade do sistema<br />
natural em responder às tensões impostas pelos seres humanos ao meio ambiente.<br />
Sendo que dois fatos marcaram significativamente a importância e a velocidade das<br />
alterações provocadas pelo homem ao meio ambiente: a descoberta do fogo em<br />
passado remoto, e, modernamente, a Revolução Industrial, que mudou radicalmente<br />
o relacionamento entre o homem e o planeta que o sustenta.<br />
No início da Revolução Industrial, Sr. Presidente, quando Londres e outras<br />
cidades européias eram atingidas pela poluição atmosférica decorrente da queima<br />
de carvão, começou a aparecer a consciência desse fenômeno, cujos principais<br />
representantes desse incipiente movimento ambientalista eram, em sua maioria,<br />
latifundiários que procuravam defender a natureza bucólica de suas próprias terras,<br />
o que não foi suficiente para sensibilizar os economistas da época, que apostavam<br />
na industrialização, como forma de realização de riqueza e desenvolvimento com a<br />
acumulação de capital através do trabalho.<br />
A pequena população da Inglaterra na época da Revolução Industrial e a<br />
poluição relativamente simples causada pela industrialização não indicavam<br />
problemas ambientais que representassem ameaça à atividade econômica; além do<br />
que, havia as enormes quantidades de terra e recursos naturais a serem explorados<br />
no Novo Mundo.<br />
No início deste século, os Estados Unidos da América, Sras. e Srs.<br />
Deputados, já sob o impacto da industrialização, começaram a rever o seu modelo<br />
ambientalista, que possuía duas correntes; a preservacionista, que tinha por objetivo<br />
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assegurar tanto quanto possível as belezas naturais do país; e a conservacionista,<br />
que era direcionada a um gerenciamento inteligente das terras e à utilização<br />
criteriosa dos recursos naturais do país, de modo a gerar uma fonte de riqueza<br />
permanente para os americanos.<br />
O preservacionismo motivou a criação dos parque nacionais americanos, e<br />
outras unidades assemelhadas no mundo todo, com resultados bastante positivos.<br />
Entretanto, o mesmo êxito não foi logrado na prática pelo conservacionismo, devido<br />
à grande expansão da atividade econômica mundial após a Segunda Guerra<br />
Mundial, especialmente para os países do Hemisfério Norte, onde ficou claramente<br />
exposto o equívoco de que os recursos naturais eram inesgotáveis, assim como a<br />
capacidade de recuperação da natureza frente aos rejeitos resultantes do progresso<br />
material.<br />
Os graves problemas ambientais ocorridos nos Estados Unidos da América e<br />
em outros países industrializados, na segunda metade deste século, promoveram a<br />
partir do final dos anos 60 e na década de 70, um período marcado por um forte<br />
movimento ambientalista em todo o mundo.<br />
Uma série de graves acidentes ambientais, que em muitos casos<br />
transcendiam às fronteiras nacionais, como o do petroleiro “Torrey Canyon”, que em<br />
1967 contaminou a costa britânica, e a doença de Minamata, na baía japonesa, em<br />
1968, causado por deposição de metais pesados, assim como os efeitos nocivos<br />
para o meio ambiente por causa da poluição espalhada por todo o mundo pela<br />
manufatura moderna, que trouxe o efeito estufa e o aquecimento global, o buraco na<br />
camada de ozônio, a perda de 20 milhões de hectares de florestas por ano e 25<br />
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bilhões de toneladas de húmus por efeito da erosão e desertificação, além do uso<br />
indiscriminado do DDT, estimularam a Organização das Nações Unidas a promover,<br />
em 1972, uma Conferência sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo.<br />
Este novo conceito entendeu que a melhoria da qualidade ambiental dos<br />
países em desenvolvimento dependeria da obtenção de melhores condições de<br />
saúde, educação, nutrição e habitação apenas alcançáveis mediante o<br />
desenvolvimento econômico, devendo, portanto, as considerações ambientais serem<br />
incorporadas ao processo de desenvolvimento integral.<br />
Esta abordagem sobre o desenvolvimento humano significava que os meios e<br />
fins do crescimento econômico deveriam ser equacionados com os meios e fins do<br />
desenvolvimento psicossocial, cultural e ambiental, abrindo assim o discurso sobre a<br />
idéia de sustentabilidade planetária, que tomaria forma na expressão<br />
“desenvolvimento sustentável”.<br />
O termo “desenvolvimento sustentável”, Sr. Presidente, tornou-se conhecido<br />
mundialmente a partir da divulgação pela ONU dos documentos “Nosso Futuro<br />
Comum” e “Estratégia Mundial para a Conservação”, que têm como elementos<br />
essenciais a manutenção dos processos vitais dos ecossistemas na exploração dos<br />
recursos naturais e o objetivo de proporcionar bem-estar às gerações presentes e<br />
futuras.<br />
Como podemos observar pela própria definição do termo, o grande problema<br />
é estabelecer conteúdos mais precisos para o desenvolvimento sustentável, do<br />
ponto de vista prático.<br />
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Questões complexas envolvendo a ordem econômica e social e os recursos<br />
naturais deverão ser equacionadas e solucionadas, com o objetivo de atender às<br />
necessidades humanas, ao mesmo tempo buscando a manutenção e a reposição<br />
dos estoque naturais de uma forma racional, e possibilitando ao mercado absorver<br />
os custos da proteção ambiental.<br />
O equilíbrio entre a satisfação das necessidades humanas e o uso racional<br />
dos estoque naturais é atualmente o grande desafio da humanidade, que, através<br />
dos movimentos ecológicos trouxe para os mais importantes foros de discussão de<br />
todo o mundo, a preservação da natureza, que, muitas vezes, transcende aos limites<br />
geopolíticos, pois questões como a qualidade do ar, poluição de mares e rios, chuva<br />
ácida e outras mazelas da era industrial que afetam a todos em uma dimensão<br />
global.<br />
O grande desafio para a sociedade moderna e seus agentes políticos é<br />
portanto, planejar o desenvolvimento de seu grupo social dentro de parâmetros do<br />
desenvolvimento sustentável, em que o cuidado com o meio ambiente é uma<br />
necessidade vital.<br />
Medidas como estabelecimento de diretrizes claras sobre a integração das<br />
políticas setoriais ou temáticas que compõem o complexo pool de atividades<br />
econômicas que se utilizam de recursos naturais, são de vital importância, Sr.<br />
Presidente, para o desenvolvimento sustentável, como é importante a<br />
sustentabilidade para a vida, assim como para a obtenção de matéria-prima que<br />
move as indústrias, que, por sua vez, promovem a circulação de produtos no<br />
mercado, que gera postos de trabalho e renda para o povo.<br />
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Por volta de 1500, Sr. Presidente, o mundo vivia o momento do<br />
expansionismo, da territorialidade, e tinham nessas variáveis seus instrumentos de<br />
poder. Hoje, face à globalização dos mercados e outros instrumentos, temos que<br />
pensar na produtividade, na sustentabilidade para que possamos criar<br />
competitividade e, assim, fortalecer nossos instrumentos e definir nossos lucros<br />
dentro do modelo da economia global.<br />
Por isso, Sras. e Srs. Deputados, quero salientar a importância das políticas<br />
temáticas e setoriais que se apresentam como instrumentos de Política Ambiental,<br />
observado as peculiaridades regionais, o bioma brasileiro e todos os nossos<br />
ecossistema.<br />
A base de uma correta política do meio ambiente está com seus alicerces<br />
sobre alguns instrumentos dos quais citamos 4 temas como fundamentais:<br />
• a floresta, que necessita de crédito para o plantio e exploração, bem como<br />
de toda a economia extensiva oriunda de sua exploração; a assistência técnica, sem<br />
a qual corre-se o grave risco da utilização de métodos improdutivos e predatórios; o<br />
manejo, que é a forma de utilizar-se os recursos florestais com um mínimo de<br />
agressão ao meio ambiente, colocando-se em prática as determinações do<br />
desenvolvimento sustentável; e a pesquisa, que necessita de investimentos<br />
permanentes, para buscar novos métodos e a tecnologia necessária à manutenção<br />
do uso dos recursos florestais, dentro dos limites impostos pela sustentabilidade;<br />
• a pesca, que é mal explorada no País, devido à falta de crédito, de uma<br />
política que contemple toda a extensão do setor pesqueiro, de uma política nacional<br />
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de assistência técnica e de pesquisa para o setor, da promoção de eventos no setor,<br />
como por exemplo, a pesca esportiva;<br />
• a fauna, que vem sendo vilipendiada por traficantes de animais silvestres,<br />
precisa de proteção, ou seja, de recursos materiais e humanos, de controle nas<br />
estradas, rios, fronteiras, portos e aeroportos e pesquisa, além de uma política de<br />
desenvolvimento sustentável para esse setor;<br />
• e as minas, que precisam de política definida, de ordenamento, trazendo<br />
assim melhorias em todos os sistemas que se utilizam dos recursos naturais.<br />
Transcorridas 3 décadas desde a Conferência de Estocolmo, modificou-se<br />
consideravelmente a percepção do mundo em relação aos problemas ambientais,<br />
conforme atestam as iniciativas internacionais, com a realizada no Rio de Janeiro,<br />
em 1992, conhecida como Rio-92, onde foram assumidos vários compromissos<br />
pelos países participantes, destacando-se a “Agenda 21”, assinada por 170 países,<br />
estabelecendo um plano abrangente de ação destinado a promover o<br />
desenvolvimento sustentável, em escala planetária. Nos 40 capítulos que compõem<br />
o documento são propostas ações para resolver problemas cruciais relacionados à<br />
pobreza, condições de saúde humana, assentamentos humanos, poluição do ar e da<br />
água, desmatamento, desertificação, seca, redução da diversidade biológica,<br />
produção agrícola, recursos hídricos, resíduos e substâncias perigosas.<br />
A sociedade sustentável, Sras. e Srs. Deputados, pode parecer uma utopia do<br />
ponto de vista político-econômico; todavia, o estado crítico em que se encontra o<br />
planeta, tanto nos aspectos ambientais como socioeconômicos, exige o seu<br />
estabelecimento.<br />
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No contexto mundial, há sinais evidentes de mudanças importantes na<br />
estruturação da economia, resultante de um conjunto de inovações tecnológicas e<br />
de importantes arranjos institucionais globais, e de uma nova matriz tecnológica<br />
caracterizada pelo baixo consumo de matérias-primas e de energia.<br />
O Brasil, Sr. Presidente, que tem condições ímpares para inserir-se nesse<br />
novo paradigma tecnológico, no qual a diversidade e a qualidade são elementos<br />
altamente valorizados, pratica a política de que o crescimento econômico e a<br />
melhoria da qualidade de vida da população brasileira não podem estar<br />
subordinados, acriticamente, à manutenção de um meio ambiente mundial mais<br />
saudável e uma melhor gestão de recursos naturais do planeta. Embora tanto o<br />
Governo quanto a sociedade brasileira reconheçam a existência de sérios<br />
problemas ambientais, e que são os países mais industrializados os principais<br />
responsáveis pela gravidade do problema em escala mundial.<br />
O Brasil a partir da década de 90, participa exemplarmente do consenso de<br />
que os problemas ambientais impõem uma interpretação responsável, e desta forma<br />
vem agindo “localmente e pensando globalmente”, através de uma política nacional<br />
de desenvolvimento sustentável, que é aprimorada a cada ano, com resultados<br />
muito positivos em relação ao desenvolvimento humano e à preservação do meio<br />
ambiente.<br />
Esta nova conduta política encontrou no ex-presidente Fernando Henrique<br />
Cardoso um ardoroso defensor, que, ao conseguir implantar e manter uma política<br />
de estabilidade da moeda, dedicou-se à implantação de programas sociais que<br />
melhorassem, de forma definitiva, a qualidade de vida das populações mais carentes<br />
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do Brasil, e à criação de uma política econômica que estabelecesse as bases de um<br />
desenvolvimento econômico sustentável a longo prazo.<br />
A proteção ambiental exige ação conjunta de repressão aos crimes<br />
ambientais pela União, Estados e Municípios, pois somente assim será possível uma<br />
efetiva fiscalização e coordenação de um desenvolvimento sustentável, que hoje<br />
constitui um dos principais compromissos do Governo brasileiro.<br />
Para concluir, Sr. Presidente, para que o IBAMA cumpra sua missão de<br />
guardião do meio ambiente brasileiro, faz-se necessário o aumento substancial do<br />
corpo de funcionários da instituição, assim como o de recursos técnicos e materiais<br />
para a realização desta proteção; e um amplo programa de Educação Ambiental<br />
para a população sobre a legislação ambiental e quanto ao Desenvolvimento<br />
Sustentável.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao Deputado Sérgio<br />
Miranda, por 25 minutos.<br />
O SR. SÉRGIO MIRAN<strong>DA</strong> (PCdoB-MG. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, nobres colegas, há uma poesia, se não me engano de Geir Campos,<br />
que muito me impressionava. Eu a lia naqueles pequenos livros, nos Cadernos do<br />
Povo Brasileiro, do período pré-64. O poeta usava o seguinte argumento: “Queria<br />
ser claro de tal forma que, ao dizer ‘rosa’, todos soubessem o que sentir; mas eu<br />
queria ser claro de tal forma que, ao dizer ‘já’, todos soubessem como agir”.<br />
Quero buscar a clareza do poeta para tratar do tema “Previdência Social”,<br />
para falar da compreensão por parte dos cidadãos do nosso País das mudanças<br />
preconizadas pelo Governo por meio da Emenda Constitucional nº 40. Considero<br />
isso fundamental pelas conseqüências sociais. Podemos dizer que o sistema de<br />
proteção social se constrói a partir da Previdência, que foi a origem de toda a<br />
concepção de seguridade social. O caráter do Governo e sua política social, sem<br />
dúvida, serão determinados pelo tratamento dado à Previdência Social .<br />
Por isso, considero que a forma mais correta de entender esta questão é ser<br />
objetivo, até mesmo asséptico, cirúrgico, para que as pessoas, ao tomarem<br />
conhecimento da reforma, possam se posicionar.<br />
Começarei dizendo o que a reforma não é. Não é propriamente reforma da<br />
Previdência Social, já que esta representa o regime geral, que atende 20 milhões de<br />
brasileiros, com a despesa de 105 bilhões de reais para 20<strong>03</strong>.<br />
A reforma praticamente não cuida do regime geral nem da inclusão social, já<br />
que é o maior drama social do País. O que a Previdência Social fez pelos idosos<br />
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rurais poderia fazer pelos idosos urbanos, porque previdência não significa apenas<br />
proteção na aposentadoria e nas pensões, mas auxílio em acidente de trabalho, à<br />
natalidade e ao desemprego. Quantas milhões de mulheres, no Brasil, não têm<br />
nenhuma proteção quando vão dar à luz?<br />
A reforma não trata da inclusão social. Ao contrário. De certa forma, referenda<br />
as modificações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998, proposta<br />
pelo ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, porque avaliza, a<br />
partir daquelas alterações, que o sistema do regime geral está equilibrado<br />
financeiramente. Não trata do regime próprio dos militares, que praticamente será<br />
excluído. Trata apenas de poucos pontos.<br />
Não se trata de reforma do regime geral, mas do regime próprio dos<br />
servidores públicos civis da União, dos Estados e dos Municípios. Também não se<br />
trata da unificação dos regimes. Já vimos muitas pessoas pregarem um regime<br />
único para a previdência. Não unifica os regimes, mas apenas o teto, e diferencia as<br />
outras regras: do cálculo do benefício, do reajuste do benefício, das pensões, dos<br />
inativos. Há profundas diferenças entre os 2 regimes.<br />
Não se trata também de questão fiscal. A urgência da reforma é devido à<br />
suposta falência do regime previdenciário, caso não seja reformado. O próprio<br />
Ministro, em texto de sua lavra, divulgado pela UnB, é explícito: “Fazemos a reforma<br />
não porque o País vai quebrar se ela não ocorrer”. Não é também por questão de<br />
justiça. Ao contrário, está se cometendo enorme injustiça em relação aos servidores<br />
públicos civis, porque, durante uma transição, fruto da Emenda Constitucional nº 20,<br />
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se rompe esse contrato e se introduz nova transição profundamente perversa e cruel<br />
com os servidores.<br />
Num debate na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, um dos<br />
convidados utilizou uma frase que considero lapidar, porque é este o sentimento de<br />
mágoa de inúmeros servidores: “O Estado tem obrigação de agir de boa-fé”. Não se<br />
pode surpreender as pessoas. É preciso definir prazos, apresentar propostas que<br />
respeitem direitos adquiridos. Ou melhor, nem diria direitos adquiridos, porque os<br />
grandes apenados com essa reforma serão os servidores em processo de aquisição<br />
de direitos.<br />
Então, a reforma não é da Previdência, porque não trata do regime geral, não<br />
unifica os regimes. Ao contrário, diferencia-os mais e profundamente. Não é questão<br />
fiscal nem de justiça. O que é a reforma apresentada pela Emenda Constitucional nº<br />
40? É uma mudança estrutural do regime próprio dos servidores públicos civis, ao<br />
introduzir teto e complementação de fundo de pensão. Esta é a essência da reforma:<br />
criação de teto e de fundo de pensão, a partir do raciocínio, que a vida, os fatos e as<br />
evidências não comprovam, de que os fundos de pensão serão instrumento de<br />
formação de poupança nacional e de financiamento do nosso desenvolvimento.<br />
Para contra-argumentar essa questão, citarei trecho do livro divulgado pela<br />
própria Previdência Social, em que se diz claramente:<br />
“A introdução do mecanismo de capitalização em<br />
assuntos previdenciários não necessariamente levará ao<br />
aumento da poupança do País, tampouco à garantia de<br />
maior crescimento econômico”.<br />
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E cita autores divulgados pela própria Previdência, como o Sr. Nicholas Bhar:<br />
“Tomando-se a evidência como um todo, não há<br />
um indício forte de que uma mudança para capitalização<br />
aumenta a poupança em qualquer país, exceto nos<br />
Estados Unidos. E a evidência norte-americana é<br />
controversa.<br />
Argumenta-se também que a capitalização<br />
contribui indiretamente com o crescimento ao expandir e<br />
aprofundar os mercados de capital. No entanto, a<br />
magnitude do impacto da capitalização sobre crescimento<br />
é controversa. Apesar de haver alguns indícios empíricos<br />
de que a capitalização contribui para mais poupança nos<br />
Estados Unidos, não há o indício forte sobre os efeitos<br />
semelhantes em nenhum outro lugar”.<br />
Essas afirmações sobre fundos de pensão são feitas também por prata da<br />
casa. Leiamos o Prof. João Sayad. E também sobre eminências do próprio FMI,<br />
leiamos o Prof. Joseph Stiglitz, que, de forma cabal, definitiva, diz que é ilusão<br />
pensar que fundo de pensão gera poupança nacional.<br />
Com essa concepção, com essa alteração em profundidade, com a mudança<br />
instituindo teto e fundo de pensão, quer-se unir o setor público de servidores de nível<br />
superior ao regime de fundos de pensão. Tratava-se do único setor do mercado de<br />
trabalho excluído dos fundos de pensão, porque possuía a integralidade dos seus<br />
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proventos de aposentadoria e não necessitava recorrer aos fundos de pensão para<br />
assegurar velhice mais tranqüila.<br />
Ora, o que se pretende com a reforma é integrar esse setor dos servidores<br />
públicos de maior remuneração, de nível superior, ao regime de fundos de pensão,<br />
por meio da capitalização individual.<br />
A proposta tem duas conseqüências. A primeira é fiscal. Toda mudança de<br />
sistema previdenciário tem um custo, por causa do passivo representado pelos<br />
aposentados já existentes e pelo tempo de contribuição daqueles que estão na ativa<br />
e ainda não se aposentaram. Como cobrir esse custo? Daqui para frente a União, o<br />
Estado, o Município vão receber menos, porque a contribuição será sobre o teto e,<br />
além do mais, o ente terá de suportar o fundo de pensão, contribuindo, no mínimo,<br />
com os mesmos recursos que os servidores vão contribuir. Para compensar esse<br />
aumento de gastos, faz-se o quê? Introduzem-se regras profundamente rigorosas:<br />
contribuição dos inativos, cálculo do benefício pela média da vida laboral, redução<br />
das pensões e outras, que analisarei à frente.<br />
A segunda conseqüência é que, ao atingir profundamente o regime próprio de<br />
previdência dos servidores civis, atinge-se uma concepção de Estado, e isso é o<br />
mais grave.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a modernidade surgiu no Brasil a<br />
partir de Getúlio Vargas, com a Revolução de 30. A modernidade surgiu com a<br />
construção do Estado nacional, com a construção de instituições permanentes que<br />
pudessem garantir o nosso desenvolvimento. Getúlio criou o <strong>DA</strong>SP, em 1937, e o<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
IPASE, na década de 30, buscando consolidar uma burocracia estável,<br />
profissionalizada e competente para ser o instrumento do nosso desenvolvimento.<br />
Os estatutários dos Poderes Judiciário e Executivo tinham a garantia da<br />
integralidade desde a década de 30. Ora, a concepção ideológica que está<br />
subjacente a essa reforma é a de que o Estado é igual a uma empresa. Em Minas,<br />
por exemplo, se for tempo de crescimento, a pessoa trabalha na FIAT; recebe uma<br />
boa oferta e vai para a Belgo; depois, recebe outra melhor e vai para a Mannesman;<br />
depois pode voltar para a FIAT.<br />
Querem tratar o Estado Nacional da mesma forma. A função pública será<br />
exercida de acordo com as circunstâncias. Hoje estou no serviço público, amanhã<br />
saio. E haverá um incentivo à saída, porque as condições de aposentadoria do<br />
regime geral serão melhores do que as do setor público.<br />
É essa a concepção de Estado, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,<br />
cidadãos deste País, que está posta em causa. Se nós não reagirmos, não vamos<br />
ter um instrumento essencial para a defesa da soberania nacional. Existe Nação<br />
sem Estado nacional que garanta a soberania? Não. Existem políticas públicas<br />
universais sem Estado? Não. Existem instituições que garantam justiça,<br />
desenvolvimento, políticas públicas, elaboração e aplicação sem Estado? Não, Sr.<br />
Presidente! É por isso que o Poder Judiciário se revolta. O juiz terá condições de<br />
exercer o seu mandato público, se vai aposentar-se com 2.400 reais e uma<br />
aplicação financeira de um fundo de pensão? E se quebrar? É privado, não é<br />
público! Não tem responsabilidade pública pelo fundo de pensão. Não é de benefício<br />
definido. Tal fundo é de contribuição definida. Que garantia terá?<br />
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É contra essa concepção de desvalorização do papel do Estado nacional que<br />
eu quero que reflitamos de forma desapaixonada, objetiva. Pode-se construir esta<br />
Nação, impulsionar uma política de desenvolvimento, enfrentar os dramas sociais,<br />
elaborar e aplicar políticas universalistas com tal instabilidade da função pública?<br />
Na minha opinião, não.<br />
Sr. Presidente, quero dedicar-me essencialmente às mudanças propostas. O<br />
que é acessório na PEC nº 40, como a questão do teto e do subteto, vamos<br />
confessar, surge por causa de um erro desta Casa. A Emenda Constitucional nº 19,<br />
ao propor que o teto fosse regulado por uma lei de iniciativa comum dos Chefes dos<br />
três Poderes, não tinha noção de que isso não iria viabilizar-se — como não se<br />
viabilizou — nos últimos 4 anos.<br />
Então, se nos escoimarmos disso, o que é a reforma da Previdência? São<br />
alterações no art. 40, onde se definem regras permanentes para aposentadoria dos<br />
servidores públicos civis e uma nova transição.<br />
São poucos os artigos que deveríamos estudar. Basicamente, mantém-se a<br />
idade de 60 anos para quem começou a trabalhar depois de 1998, caso seja<br />
homem, e a de 55 anos para a mulher. Essa regra da idade não existe no regime<br />
geral, Sr. Presidente.<br />
Ouço comentários de que há pessoas aposentando-se aos 48 anos de idade.<br />
Como? Primeiro, se já era servidor antes de 1998, teria de cumprir um pedágio de<br />
20% do tempo que faltava para ter sua aposentadoria, ou de 40%, se quisesse se<br />
aposentar de forma proporcional. A média de aposentadoria para os homens, hoje,<br />
no serviço público civil da União é em torno de 58 anos.<br />
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Sr. Presidente, quais são as novas regras? Teto salarial de 2.400 reais, o<br />
mesmo teto do regime geral; fim da integralidade; cálculo da aposentadoria pela<br />
média — depois esclarecerei esse ponto; redução da pensão de até 70%; fim da<br />
paridade, que era uma forma de garantir ao aposentado do setor público a<br />
manutenção do valor integral do seu benefício; fundo de pensão sem regra<br />
específica.<br />
Cada um dos 27 Estados, cada um dos 5.500 Municípios pode criar o seu<br />
fundo de pensão baseado nas regras gerais das Leis Complementares nºs 108 e<br />
109. Não existe mais regra específica. Pergunta-se: naqueles Estados que têm<br />
fundo de pensão, como será a transição para o futuro fundo de pensão? Como será<br />
a contribuição, que deveria ter sido feita pelo ente, para as aposentadorias? Vão<br />
entrar na Justiça. Vamos viver uma grande contenda judicial sobre o tema. Salários<br />
de contribuição serão devidamente atualizados.<br />
Sr. Presidente, por que se incluiu na reforma que os benefícios de<br />
aposentadoria não poderão ser maiores do que os salários da ativa? Isso era<br />
compreensível quando havia integralidade. Por quê? Porque, se houver a correção<br />
dos salários de contribuição, sem dúvida se ultrapassará o salário da ativa, uma vez<br />
que há servidores que não receberam nesse período a correção da corrosão<br />
inflacionária. São essas as regras, além da contribuição dos inativos.<br />
Há também a nova transição, com redutor, no que diz respeito à idade, de 5%<br />
por ano a partir dos 60 anos. O abono atinge também os professores. Garante os<br />
direitos adquiridos, sim, mas direitos adquiridos congelados. Prestem atenção, Srs.<br />
Deputados. O que é o direito adquirido congelado? É o direito adquirido na época,<br />
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com as condições do momento em que o servidor o adquiriu. Se ele se aposenta<br />
proporcionalmente com 90% do salário, daqui a 2 anos vai continuar podendo se<br />
aposentar com os mesmos 90%. Mas, caso seja promovido, receberá a nova<br />
promoção, ou o direito adquirido vale para aquele salário que ele tinha quando<br />
adquiriu o direito?<br />
Srs. Deputados, vou apresentar a V.Exas. um pequeno trabalho que fiz e<br />
estou divulgando no meu sítio na Internet. Diz-se que o servidor público é<br />
privilegiado. Vamos comparar os dois regimes.<br />
No regime geral é proibida a contribuição de aposentados e pensionistas —<br />
art. 95, inciso II, da Constituição —, mesmo dos que ganham mais do que o teto.<br />
Aquelas “velhinhas de Santos” que motivaram o escândalo noticiado na TV Globo<br />
não vão contribuir com 11%, são do regime geral. Já no regime próprio dos<br />
servidores públicos a cobrança dos 11% incidirá sobre os benefícios de aposentados<br />
e pensionistas. Inclui-se aí algo que vai merecer contestação, porque se define para<br />
os atuais a cobrança a partir do limite de isenção do Imposto de Renda. Como? A<br />
contribuição é previdenciária e o Imposto de Renda é um tributo de caráter genérico.<br />
Como poderão ter a mesma base? Se amanhã quisermos aumentar o limite de<br />
isenção do Imposto de Renda, que está sendo corroído pela inflação, não<br />
poderemos fazê-lo porque Prefeitos e Governadores vão reclamar que perderão a<br />
arrecadação dos inativos.<br />
A pensão, no regime geral, equivale a 100%, de acordo com a Constituição;<br />
no regime próprio, a até 70%.<br />
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Cálculo do benefício. No regime geral, 80% das melhores contribuições a<br />
partir de junho de 1994; portanto, descartam-se as 20% piores. No regime próprio<br />
dos servidores públicos, Sr. Presidente, faz-se o cálculo de toda a vida laboral. É<br />
com isso que eu não me conformo, porque essa norma prejudica quem começou de<br />
baixo e mais cedo. O cidadão que trabalhava e estudava ao mesmo tempo, depois<br />
fez um concurso e mais outro para melhorar de nível, será prejudicado.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Deputado Sérgio Miranda, dada a<br />
relevância do pronunciamento de V.Exa., vou conceder-lhe o tempo que estaria<br />
reservado ao PCdoB nas Comunicações Parlamentares.<br />
O SR. SÉRGIO MIRAN<strong>DA</strong> – Por favor, Sr. Presidente.<br />
Observem V.Exas., Sras. e Srs. Deputados, que o trabalhador do regime<br />
geral alcançará 35 anos de média daqui a 25 ou 26 anos, mas querem impor ao<br />
servidor público 35 anos de média a partir de hoje, quando esses números não<br />
estão disponíveis. A lei vai tratar essa questão de forma aleatória, aposto, porque,<br />
como já dispunha a mensagem que regulou o fator previdenciário, o SERPRO só<br />
tem esses dados a partir de 1994.<br />
O fator previdenciário foi instituído por lei, após a reforma, quando caiu o<br />
limite de idade. Foi então definido o fator previdenciário — que julgo inconstitucional,<br />
mas o Supremo decidiu pela sua constitucionalidade —, uma fórmula que tem a<br />
seguinte característica: se é menor do que 1, serve como redutor para quem se<br />
aposenta com menos de 60 anos; se é maior do que 1, eleva o benefício para quem<br />
se aposenta com mais de 60 anos.<br />
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Eu fiz os 2 cálculos, Sr. Presidente, o do fator previdenciário e o do redutor de<br />
5%. É impressionante o resultado! Quem diria, os servidores públicos devem lutar<br />
pelo fator previdenciário, porque ele aumenta o seu benefício. Segundo apurei, o<br />
prejuízo do servidor que tem 53 anos é de 11,6% e do servidor que tem 65 anos, de<br />
32,5%. Essa é a diferença em relação ao fator previdenciário.<br />
Mais ainda. A aposentadoria proporcional se mantém no regime geral de<br />
previdência — 40% do tempo que falta para a idade de 53 anos —, mas acaba no<br />
regime próprio dos servidores.<br />
Pelo regime geral, conforme estabelece a Constituição, o piso para qualquer<br />
benefício é de 1 salário mínimo, seja ele pensão ou provento de aposentadoria. O<br />
regime próprio dos servidores — pasmem os senhores — não contempla essa regra,<br />
porque havia integralidade. Caindo a integralidade, não há garantia de piso de<br />
salário mínimo para aposentadoria e pensão. Isto é, se o servidor público ganha 300<br />
reais, ao retirarmos os 30%, ele receberá 210 reais; menos que 1 salário mínimo,<br />
portanto.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o regime geral não estipula idade,<br />
mantém a regra de 35 anos de contribuição para homem e 30 anos para mulher.<br />
Esta Casa mesma derrubou a exigência, em votação neste plenário. O regime<br />
próprio dos servidores estabelece idade.<br />
Estou levantando estas questões para que os cidadãos deste País analise a<br />
reforma. É muito importante entender o que está sendo proposto. O servidor público<br />
tem de fazer a sua conta, porque não existe mais aposentadoria pelo cargo. Somos<br />
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colegas, mas não vamos nos aposentar juntos. Um pode ter aposentadoria de “x”,<br />
outro de “x” sobre 2, porque o que vale é a vida laboral. A redução é enorme.<br />
Sras. e Srs. Deputados, vamos analisar todas essas questões de forma<br />
objetiva, cirúrgica, para garantirmos o Estado nacional e podermos nos justificar<br />
perante a sociedade.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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O SR. CARLOS MOTA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. CARLOS MOTA (PL-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não quis interromper o Deputado Sérgio<br />
Miranda, porque S.Exa. estava dando uma verdadeira aula sobre a proposta de<br />
reforma da Previdência. São irretorquíveis os comentários do nobre Deputado,<br />
dignos de ser divulgados para todo o País, porque refletem verdadeiramente o que<br />
se pretende com esta reforma.<br />
A grande reforma que a Previdência Social está merecendo é, de um lado, o<br />
incremento da cobrança da contribuição previdenciária; não existe contribuição mais<br />
sonegada do que a previdenciária; só a dívida ativa inscrita na Previdência é de 160<br />
bilhões de reais; e, de outro, a necessidade de haver mais cuidado com a concessão<br />
de benefícios, como, por exemplo, os por invalidez, excetuando aquela situação em<br />
que a pessoa quase moribunda chega à fila do INSS e ainda assim não é<br />
aposentada. O mais grave são as aposentadorias por invalidez indevidas. Há<br />
estimativa, em alguns Estados, de que de 20% a 25% das aposentadorias por<br />
invalidez são indevidas. E qual é o profissional que afere a justeza de uma<br />
aposentadoria por invalidez? O médico perito do INSS.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero reforçar as nobres palavras de<br />
alguns colegas Parlamentares que manifestaram nesta Casa a preocupação com a<br />
realidade vivida pelos médicos peritos da Previdência Social. Como já foi<br />
mencionado, a carreira passa por um processo de abandono e precisa de medidas<br />
urgentes por parte do Governo Federal. Sabemos que o setor de perícia médica é o<br />
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responsável pela concessão de aposentadoria e atende diretamente os usuários da<br />
Previdência Social. Aliás, suas atribuições superam os limites do INSS, onde cuidam<br />
das aposentadorias especiais, benefícios por incapacidade, nexo técnico de<br />
doenças ocupacionais, inspeções de ambientes de trabalho, assessoria à<br />
Procuradoria, entre outras. Fora do INSS, atuam na concessão e revisão dos<br />
benefícios sociais e, mesmo fora do MPAS, julgam os enquadramentos de doenças<br />
invalidantes para quitação de seguro habitacional e isenção de Imposto de Renda de<br />
Pessoa Física. Uma área, portanto, muito importante e vital para o perfeito<br />
andamento da instituição. Embora a Perícia Médica do INSS, juntamente com a<br />
Auditoria Fiscal e a Procuradoria, seja uma das funções estratégicas da Previdência<br />
Social, o setor enfrenta problemas com o quadro de pessoal defasado e<br />
desestruturado.<br />
Chamo novamente a atenção para a necessidade de elaboração de projeto<br />
de lei sobre regulamentação da carreira dos médicos peritos da Previdência Social,<br />
como forma de valorização e justiça, visto que ela foi excluída da Medida Provisória<br />
nº 46, de 2002, que estruturou as carreiras de Auditor Fiscal do Trabalho e Auditor<br />
da Receita Federal. A carreira dos médicos peritos do INSS deve ser qualificada<br />
como típica de Estado devido as suas especificidades. E como carreira típica, o<br />
serviço deve ser prestado unicamente por médicos peritos do INSS, concursados<br />
para tal cargo. O Governo não pode continuar permitindo a terceirização de perícias<br />
médicas. Lembro que a decisão pericial interfere diretamente em direitos<br />
fundamentais da cidadania e, como Procurador do INSS, preocupo-me<br />
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particularmente com o acesso ao trabalho e aos direitos previdenciários e<br />
trabalhistas com repercussões cíveis e até criminais.<br />
Por fim, enfatizo que o médico perito, sob a ótica dos usuários da Previdência,<br />
é o seu principal servidor. Não pode permanecer 26 anos sem concurso, com<br />
remuneração imprópria à sua dimensão e — volto a dizer — sem a regulamentação<br />
com suas especificidades de carreira própria do Estado. Após a regulamentação da<br />
carreira, o Governo Federal precisa imediatamente realizar concurso público para<br />
preencher o quadro de pessoal e suprir a demanda de milhares de usuários que<br />
diariamente dão entrada a processos de concessão de aposentadorias.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Coronel Alves, para uma Comunicação de Liderança, pelo PL.<br />
O SR. CORONEL ALVES (PL-AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero fazer o registro de algumas indicações<br />
que apresentei durante esta semana.<br />
É sabido que para uma das grandes categorias que contribuem para nossa<br />
sociedade, trabalhando no campo da segurança pública, muitas vezes falta algum<br />
apoio do Estado, do Município e até mesmo da União. O apoio a que estou dando<br />
enfoque agora é a moradia. Em vários Estados — a mídia está sempre a informar<br />
sobre isto —, o policial militar ou civil, todos os integrantes da segurança pública,<br />
aqueles que arriscam sua vida para promover a segurança da sociedade, estão<br />
residindo próximo da marginalidade. Muitas vezes, o policial não tem condições de<br />
mostrar seu uniforme depois de ser lavado ou sua carteira profissional, porque está<br />
morando ao lado da bandidagem.<br />
Como contribuição a essa matéria, fiz uma indicação aos Ministros da área —<br />
Ministro da Justiça e Ministro do Trabalho — para se proporcionar linha de crédito<br />
destinado à construção de casa própria para esses policiais.<br />
Sei que não é uma idéia nova, mas nós a estamos retomando.<br />
No Estado do Amapá ainda não tivemos a recepção dessa idéia. Por isso,<br />
apresentei essas indicações aos Ministros da área para conseguirem do Presidente<br />
da Caixa Econômica Federal linhas de crédito para construção de casas populares.<br />
O servidor da segurança pública, como o servidor público, é humilde. Ele não está<br />
pensando numa casa grande, mas num lugar em que possa, ao sair para o trabalho<br />
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para defender a sociedade e colocar em risco sua própria vida, deixar sua família<br />
com um pouquinho mais de tranqüilidade.<br />
Quero registrar essas minhas indicações para que essa categoria tão sofrida,<br />
que trabalha tanto pelo engrandecimento do País e pela proteção da sociedade,<br />
possa ter atendido um dos seus grandes anseios: uma morada digna.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Valdenor Guedes, para Comunicação de Liderança, pelo PP.<br />
O SR. VALDENOR GUEDES (PP-AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) -<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje, <strong>18</strong> de junho, se comemora o Dia do<br />
Químico. Aqui estou para prestar homenagem a todos os profissionais que<br />
trabalham voluntária e cientificamente e — por que não dizer? — no anonimato para<br />
toda a população brasileira.<br />
Se hoje estou com esta roupa e este sapato, é porque houve um trabalho<br />
realizado pelos químicos.<br />
Se hoje falo neste microfone, se nos alimentamos e ingerimos água límpida e<br />
transparente, devemos esse trabalho a esses profissionais que cuidam tão bem da<br />
água, para que tenhamos melhor qualidade de vida.<br />
Sr. Presidente, não poderia deixar de registrar que esses profissionais têm-se<br />
preocupado, acima de tudo, com o desenvolvimento da ciência em nosso País. Eles<br />
não fazem estardalhaço, não querem aparecer na mídia, mas dependemos, de uma<br />
maneira muito grande, do trabalho dos químicos. Quem não gosta de um<br />
refrigerante? Talvez algumas pessoas não possam beber refrigerante, mas é um<br />
trabalho desses profissionais. Aqueles que já passaram por uma escola aprenderam<br />
com seus professores que na Tabela Periódica há mais de 100 átomos espalhados<br />
pela natureza, que se unem entre si, formando moléculas, tecidos, fazendo parte de<br />
inúmeras substâncias que utilizamos diariamente. Se prestarmos atenção, veremos<br />
em nossas casas vários produtos químicos que usamos diariamente.<br />
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Hoje já me pronunciei nesta Casa, por exemplo, sobre o sabão que<br />
utilizamos. A união de um ácido graxo orgânico e uma base inorgânica dá como<br />
resultado um sal que se chama sabão. Tudo isso é realizado por esse grande<br />
profissional: o químico.<br />
Sr. Presidente, hoje falei com o Ministro da Justiça e ontem com a Ministra<br />
Benedita da Silva sobre prestar grande contribuição a este País e especialmente às<br />
nossas crianças. Há milhares de crianças cheirando inalantes, produtos químicos<br />
vendidos nos postos de combustíveis, nos supermercados, nas clínicas e nos<br />
hospitais. Existem também os cheiradores de cola de sapateiro, que nada mais é do<br />
que uma substância chamada tolueno, que serve para manter a consistência do<br />
produto.<br />
Nós, os químicos, estamos elaborando um projeto sobre a obrigatoriedade de<br />
as fábricas colocarem uma substância mascarante, enjoativa, a fim de que nossas<br />
crianças não continuem inalando essas substâncias que causam câncer, problemas<br />
no estômago, infecções nos rins e pâncreas e até problemas cardiovasculares.<br />
Sr. Presidente, é esta a contribuição dos químicos.<br />
Se as taquígrafas estão escrevendo, é porque um profissional da química fez<br />
excelente trabalho para que obtivéssemos o papel e a tinta.<br />
apoio.<br />
Quero parabenizar esses grandes profissionais, que merecem todo o nosso<br />
Peço ao Governo que invista mais em ciência e tecnologia para que este País<br />
tenha pesquisa, tecnologia e indústria para produzir e gerar mais empregos aos<br />
brasileiros.<br />
Muito obrigado.<br />
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O SR. REGINALDO GERMANO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. REGINALDO GERMANO (PFL-BA. Pela ordem. Sem revisão do<br />
orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo esta tribuna trazendo na<br />
mão esquerda a Constituição Federal e, infelizmente, na direita parecer vergonhoso<br />
do Procurador-Geral da República Geraldo Brindeiro, apelidado e reconhecido pela<br />
imprensa como engavetador, ou seja, aquele que engavetou, durante a maior parte<br />
do seu mandato como Procurador-Geral, o que era de interesse do Governo. Essa<br />
foi a fama que o Sr. Geraldo Brindeiro deixou.<br />
Além disso, Sr. Presidente, observo que havia dois pesos e duas medidas na<br />
atuação do Sr. Geraldo Brindeiro. Um Governador do PT, se não me engano de<br />
Mato Grosso, foi acionado na Justiça Eleitoral sob a acusação de ilegalidade na<br />
campanha eleitoral, e o processo contra ele foi engavetado; já no caso do<br />
Governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz — mesmo processo, mesma<br />
acusação, mesma situação —, foi pedida abertura de processo de cassação do<br />
mandato.<br />
Ao se despedir do Ministério Público Federal, o Sr. Geraldo Brindeiro diz que<br />
as cotas para negros e afro-descendentes adotadas nas universidades no Rio de<br />
Janeiro e na Bahia são ilegítimas.<br />
Sr. Presidente, gostaria de entender como o Sr. Geraldo Brindeiro, na<br />
qualidade de Procurador-Geral da República, conseguiu pegar este livro chamado<br />
Constituição do Brasil, que no art. 5º diz que todos são iguais perante a lei, e redigir<br />
um parecer no sentido de que as cotas são ilegítimas. Ora, este livro diz que somos<br />
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iguais perante a lei. No entanto, do universo de alunos que hoje cursam o 3º grau,<br />
do total de alunos de universidades, apenas 2% são negros.<br />
Não entendo a forma do Sr. Geraldo Brindeiro analisar a situação, embora<br />
possa até entender seu trabalho como engavetador, pois gostava de agradar quem<br />
estava no poder. Talvez estivesse querendo do Presidente Lula uma vaguinha em<br />
algum outro órgão do Governo.<br />
Tratarei ainda de outro assunto, Sr. Presidente. Quero dizer aos Deputados<br />
da Oposição, que não querem receber o dinheiro da convocação extraordinária, que<br />
o dinheiro que vou receber é limpo e justo, porque trabalharei e votarei a favor do<br />
povo brasileiro. Não vou votar contra o salário mínimo, como eles, que foram<br />
favoráveis ao salário mínimo de 240 reais e nos impediram de dar-lhe aumento<br />
maior — essa, sim, é uma forma feia de agir.<br />
Outro dinheiro muito feito aparece quando verificamos as contas do gabinete<br />
do Presidente da República. O gasto anual do gabinete do ex-Presidente Fernando<br />
Henrique Cardoso foi de 42 milhões e agora vai pular para 130 milhões, no gabinete<br />
do Presidente Lula. Esse, sim, é um dinheiro feio.<br />
O dinheiro que vou receber pela convocação extraordinária é limpo e justo.<br />
Não sou empresário; não tenho empresa; vivo da minha atividade parlamentar. Não<br />
vim para cá enviado por grupo de empresários para votar contra o trabalhador, para<br />
retirar seus direitos. Ao contrário. Vim para votar de acordo com a vontade do povo<br />
brasileiro. Por isso, meu salário é limpo e justo.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
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ordem.<br />
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />
Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. JOÃO MENDES DE JESUS - Sr. Presidente, peço a palavra pela<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. JOÃO MENDES DE JESUS (PDT-RJ. Pela ordem. Pronuncia o<br />
seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, aproveito a<br />
oportunidade para falar a esta Casa sobre dados constantes da Síntese de<br />
Indicadores Sociais 2002, divulgada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia<br />
e Estatística, que nos dá um retrato do Brasil e nos mostra a forma como vivem os<br />
brasileiros.<br />
Os dados colhidos pelo IBGE apontam que o traço mais marcante da nossa<br />
sociedade continua sendo a desigualdade social.<br />
Entre os pontos pesquisados, chamaram-me a atenção o número de idosos<br />
no País, que aumentou 29 vezes desde 1940, e a renda familiar per capita de 41,4%<br />
desses idosos, que é inferior a um salário mínimo.<br />
Na área da educação, a pesquisa fornece os seguintes resultados: os alunos<br />
da rede pública de ensino estão mais atrasados que os da rede particular, o que<br />
demonstra a falta de respeito com que os Governos anteriores tratavam o ensino<br />
público; pouco mais de um terço das crianças de 0 a 6 anos e dos jovens de <strong>18</strong> a 24<br />
anos freqüentam escola ou creche; apenas um quarto dos estudantes de <strong>18</strong> a 24<br />
anos freqüentam o ensino superior; e ainda é alto o índice de atraso escolar no<br />
grupo de alunos de 7 a 14 anos de idade.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, neste discurso dispensarei maior<br />
atenção às questões relacionadas ao modo de vida dos negros e apontadas pela<br />
Síntese de Indicadores Sociais.<br />
A pesquisa nos mostra que a busca pela melhoria de escolaridade da<br />
população negra e parda no Brasil não é suficiente para acabar com a desigualdade<br />
racial no mercado de trabalho. Os dados indicam ainda que negros e pardos têm<br />
renda média menor que a dos brancos, mesmo quando são comparados grupos<br />
com o mesmo nível de escolaridade.<br />
Os números do IBGE demonstram que quanto mais tempo uma pessoa<br />
estuda, maior é seu rendimento médio. Porém, esse acréscimo na renda acontece<br />
de maneira diferenciada para brancos e negros. Com 9 a 11 anos de estudo, a<br />
média de rendimento do cidadão negro ou pardo é de 3,10 reais para cada hora de<br />
trabalho. Mas, para os brancos, esse valor aumenta para 4,40 reais.<br />
A Síntese indica que os negros e pardos que conseguem chegar até a<br />
universidade e estudam pelo menos um ano no ensino superior ganham em média<br />
8,30 reais por cada hora de trabalho, contra 11,80 reais dos brancos.<br />
Para concluir, Sr. Presidente, o resultado da pesquisa sobre a discriminação<br />
sofrida ao longo dos anos aponta o fato de que, em 2001, 87,2% dos brasileiros que<br />
pertenciam ao segmento de 1% mais rico da população eram brancos. Entre os 10%<br />
mais pobres, 67,3% eram negros e pardos. No total, 53,4% se declararam brancos;<br />
5,6%, negros; e 40,4%, pardos. Portanto, nobres Parlamentares, as condições de<br />
vida dos cidadãos negros ainda continuam abaixo das usufruídas pelos brancos.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O estabelecimento de cotas, tema tão debatido nas universidades e órgãos<br />
públicos, é apenas o ponto de partida para a inclusão social das pessoas de pele<br />
negra. Essa inclusão deve ser feita com mais ênfase no início da vida escolar,<br />
especialmente no período de 0 a 6 anos. Dessa forma, daremos aos negros as<br />
mesmas condições dadas aos brancos e não precisaremos, no futuro, estabelecer<br />
regime de cotas para que entrem nas universidades.<br />
Para concluir, Sr. Presidente, quero enfatizar que os cidadãos afro-<br />
descendentes possuem a mesma capacidade intelectual dos cidadãos brancos. Só<br />
precisamos ter as mesmas oportunidades.<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
Muito obrigado.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. FEU ROSA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
DISCURSO DO SR. DEPUTADO FEU ROSA QUE, ENTREGUE À<br />
REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />
Elimar Máximo Damasceno, para uma Comunicação de Liderança, pelo PRONA.<br />
O SR. ELIMAR MÁXIMO <strong>DA</strong>MASCENO (PRONA-SP. Como representante.<br />
Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, antes de ler meu pronunciamento sobre o<br />
acadêmico Gustavo Barroso, apresento projeto de lei à Mesa que inscreve o nome<br />
do Marechal João Batista Mascarenhas de Morais no Livro dos Heróis da Pátria.<br />
O presente projeto de lei pretende instituir justa e oportuna homenagem a um<br />
dos personagens de nossa História, que, por sua atuação militar, principalmente na<br />
2ª Guerra Mundial, à frente da Força Expedicionária Brasileira, merece ter seu nome<br />
registrado no referido Livro.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna homenagear a<br />
memória de um dos mais admiráveis intelectuais da História do Brasil — o<br />
acadêmico cearense Gustavo Barroso, autor de vasta obra literária sobre os mais<br />
diversos temas, Diretor do Museu Histórico Nacional, a partir de 1922, e Patrono<br />
dos Dragões da Independência, regimento que monta guarda à Presidência da<br />
República e cujos belos uniformes foram por ele desenhados, após longa e<br />
minuciosa pesquisa histórica.<br />
Gustavo Barroso nasceu em dezembro de <strong>18</strong>88, em Fortaleza, capital<br />
cearense, e faleceu em dezembro de 1959, no Rio de Janeiro. Sua estréia na<br />
literatura deu-se muito cedo, aos 23 anos, quando publicou o livro Terra de Sol, sob<br />
o pseudônimo de João do Norte; ensaio poético sobre a natureza e os costumes do<br />
sertão cearense.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Gustavo Barroso foi advogado, professor, político, contista, folclorista,<br />
cronista, ensaísta e romancista. A vasta obra de Gustavo Barroso, de 128 livros,<br />
abrange história folclórica, crítica, erudição, filologia, ensaios, contos, crônicas,<br />
novelas regionais, pensamentos, memórias, viagens políticas e até dicionário.<br />
Com apenas 35 anos de idade, Gustavo Barroso foi eleito para a Academia<br />
Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 19, onde desempenhou intensa e<br />
relevante atividade até o fim da vida.<br />
Em 1923, como tesoureiro da instituição, comandou a adaptação do prédio do<br />
Petit Trianon, que o Governo francês oferecera ao Governo brasileiro para nele<br />
instalar a sede da Academia. Presidiu a instituição por 4 mandatos.<br />
Em janeiro de 1941 foi escolhido, a par de Afrânio Peixoto e Manoel Bandeira,<br />
para coordenar os estudos e pesquisas relativo ao folclore brasileiro.<br />
Em 1933, após ouvir a conferência do Chefe da Ação Integralista Brasileira,<br />
Plínio Salgado, Gustavo Barroso aderiu ao Integralismo, tornando-se seu mais<br />
importante doutrinador. No mesmo ano publicou o livro O Integralismo em Marcha, e,<br />
no ano seguinte, produziu a obra que daria ao Movimento Integralista seus mais<br />
sólidos fundamentos teóricos: Brasil, Colônia de Banqueiros. Nessa obra, Gustavo<br />
Barroso defende a tese ainda hoje polêmica de que o Brasil não é um país<br />
independente, uma vez que o brado retumbante de D. Pedro I resultou num<br />
compromisso com a dívida externa que a Inglaterra herdara de Portugal. Seríamos,<br />
pois, dependentes do imperialismo inglês, assim como hoje haveria dependência do<br />
capital internacional.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
Em 1937 publicou Integralismo e catolicismo; A maçonaria: seita judaica;<br />
Judaísmo, maçonaria e comunismo; e A sinagoga paulista. No ano seguinte,<br />
escreveu o livro Corporativismo, cristianismo e comunismo.<br />
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é lamentável que no nosso País não<br />
se tenha por hábito enobrecer a memória de nomes como Gustavo Barroso, que<br />
tanto contribuiu para a cultura e a política do País. Não faz sequer um século que ele<br />
nos deixou; fragmentos de sua atuação, como a criação do Museu Histórico<br />
Nacional, ocupa lugar de destaque no cenário nacional. Pergunte-se, porém, a<br />
qualquer cidadão bem formado sobre quem foi Gustavo Barroso e ele dificilmente<br />
saberá.<br />
Sr. Presidente, nobres colegas, ao ocupar um microfone do plenário desta<br />
Casa para falar algumas palavras sobre a vida e a obra de Gustavo Barroso,<br />
pretendi resgatar do esquecimento algo da trajetória deste extraordinário intelectual.<br />
Espero que minha modesta iniciativa contribua para tornar mais conhecida a<br />
participação deste cidadão invulgar na constituição do patrimônio simbólico nacional.<br />
Parabéns ao povo cearense!<br />
Era o que tinha a dizer.<br />
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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Antes de encerrar a presente sessão,<br />
registro meus votos de pesar pelo passamento do Deputado, colega e amigo Moisés<br />
Lipnik, que deixa grande lacuna na Casa.<br />
S.Exa. está sendo sepultado hoje, nos Estados Unidos. Rogamos a Deus que<br />
lhe dê o bom lugar que merece, pois tinha coração fraterno, era boa pessoa e bom<br />
companheiro. Deixou-nos prematuramente.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
VI - PROPOSIÇÕES<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Os Senhores Deputados que tenham<br />
proposições a apresentar queiram fazê-lo.<br />
APRESENTAM PROPOSIÇÕES OS SRS.:<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
VII - ENCERRAMENTO<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Nada mais havendo a tratar, vou<br />
encerrar a sessão.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Encerro a sessão, convocando para<br />
sexta-feira, dia 20 de junho, às 9h, sessão ordinária da Câmara dos Deputados.<br />
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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />
Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />
(Encerra-se a sessão às 20 horas e <strong>18</strong> minutos.)<br />
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