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18/06/03 TURNO: Vespertino TIPO DA SESSÃO: Ordinári

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA<br />

REVISÃO E RE<strong>DA</strong>ÇÃO<br />

<strong>SESSÃO</strong>: 119.1.52.O<br />

<strong>DA</strong>TA: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong><br />

<strong>TURNO</strong>: <strong>Vespertino</strong><br />

<strong>TIPO</strong> <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong>: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

LOCAL: Plenário Principal - CD<br />

INÍCIO: 14h<br />

TÉRMINO: 20h<strong>18</strong>min<br />

DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO<br />

Hora Fase Orador<br />

16:00 GE JOSÉ THOMAZ NONÔ<br />

<strong>18</strong>:20 GE PAES LANDIM<br />

<strong>18</strong>:28 GE BASSUMA<br />

20:08 GE FEU ROSA<br />

Observações:


CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />

Ata da 119ª Sessão, em <strong>18</strong> de junho de 20<strong>03</strong><br />

Presidência dos Srs. ...................................................................<br />

ÀS 14 HORAS COMPARECEM OS SRS.:<br />

João Paulo Cunha<br />

Inocêncio Oliveira<br />

Luiz Piauhylino<br />

Geddel Vieira Lima<br />

Severino Cavalcanti<br />

Nilton Capixaba<br />

Ciro Nogueira<br />

Gonzaga Patriota<br />

Wilson Santos<br />

Confúcio Moura<br />

João Caldas<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................


CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

I - ABERTURA <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Havendo número regimental,<br />

declaro aberta a sessão.<br />

trabalhos.<br />

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos<br />

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.<br />

II - LEITURA <strong>DA</strong> ATA<br />

O SR. ........................................................., servindo como 2° Secretário,<br />

procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual é, sem observações,<br />

aprovada.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Passa-se à leitura do expediente.<br />

O SR. ..........................................................., servindo como 1° Secretário,<br />

procede à leitura do seguinte<br />

III - EXPEDIENTE<br />

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passa-se ao<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Finda a leitura do expediente,<br />

IV - PEQUENO EXPEDIENTE<br />

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Paulo Rubem Santiago.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PAULO RUBEM SANTIAGO (PT-PE. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nas últimas semanas temos acompanhado a<br />

repercussão em toda a imprensa escrita do País de aspecto bastante problemático<br />

da atual conjuntura econômica.<br />

Não me refiro à taxa de juros fixada pelo Banco Central, a chamada SELIC,<br />

responsável pela remuneração dos títulos públicos do Brasil. Trato especificamente<br />

da repercussão, que vem crescendo em toda a imprensa brasileira, do verdadeiro<br />

absurdo que hoje representam os juros cobrados por bancos privados e financeiras,<br />

os quais respondem, em grande parte, pela oferta de crédito ao consumo e às<br />

populações de baixa renda.<br />

Procuramos comparar de que forma a indústria, o comércio, os serviços e a<br />

agricultura fixam os seus preços, de que maneira o trabalho assalariado pretende<br />

sua remuneração. Confrontamos cada um desses agentes econômicos com os<br />

agentes econômicos que atuam na esfera financeira, mas isso não é possível. É<br />

absolutamente desigual o padrão de remuneração da oferta de crédito praticada<br />

pelas instituições privadas, espetacularmente por grande número de financeiras que<br />

estão por trás do balcão das lojas comerciais em todos os grandes centros<br />

comerciais urbanos e no interior deste País.<br />

Há poucas semanas, de posse de algumas dessas reportagens em minhas<br />

mãos, conversei com gerentes de lojas comerciais em Recife. Alguns comentaram<br />

que ficavam satisfeitos quando, ao abrir as lojas às 8h, começavam a receber os<br />

clientes. Mas gostariam que, em vez de chegarem lá assalariados, pessoas<br />

humildes que pagam duas vezes o valor de um eletrodoméstico e levam para casa<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

apenas um, houvesse uma política de crédito com juros regulados pelas leis<br />

brasileiras, orientados pelo Banco Central, para que não se permitissem taxas como<br />

as que já foram divulgadas recentemente, de até 320% ao ano.<br />

Dizia-nos um desses gerentes de loja comercial na Rua da Concórdia: “Eu<br />

gostaria que vendêssemos 2, 3 vezes mais, mas a nós nos preocupa que aqui<br />

venha o pequeno consumidor, uma família jovem, pessoas assalariadas que, não<br />

tendo renda disponível, se submetem a financiar em 24 meses 1 fogão, 1 geladeira,<br />

1 conjunto de móveis, bens eletrodomésticos, pagando 2 vezes o preço de um<br />

produto”.<br />

Não é a indústria brasileira que ganha com essa política econômica, nem o<br />

comprador, o gerente comercial ou a empresa que vende o eletrodoméstico, o móvel<br />

de sala, o sofá, enfim, os bens necessários à manutenção da família. Ganham os<br />

que especulam com a necessidade do crédito, os que aplicam preços inaceitáveis,<br />

comparando-se com os preços praticados pela indústria, pelo comércio, pela<br />

agricultura e pelo setor de serviços.<br />

Recentemente, na Subcomissão Especial que trata dos spreads bancários e<br />

dos juros praticados no País, vinculada à Comissão de Finanças e Tributação,<br />

fizemos uma comparação: imaginamos o plantador de algodão que trabalha de meia<br />

no sertão do Pajeú, em Pernambuco. Se ele, ao final da sua lavoura, incluir no preço<br />

do algodão o aluguel da terra, o custo da semente, do adubo, da água e da<br />

mão-de-obra, e cismar da cabeça, como dizemos lá, de acrescentar a possibilidade<br />

da seca no ano seguinte, a iminência da volta da praga do bicudo, que poderá<br />

prejudicar sua roça na lavoura seguinte, a velocidade do vento, a temperatura, a<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

umidade do ar, enfim, se ele especular dessa forma, como o fazem os bancos com<br />

taxas e spreads inaceitáveis, imaginemos por quanto não sairia o preço do algodão,<br />

do milho, do feijão, dos alimentos neste País.<br />

Queremos expressar nossa indignação. Não podemos admitir que num país<br />

em que a agricultura, a indústria, os serviços, o comércio têm margens tão pequenas<br />

de remuneração na venda de seus produtos e pelos seus serviços, o setor financeiro<br />

continue praticando taxas astronômicas, em alguns casos, como já me referi, de<br />

mais de 320% ao ano. Dessa forma, prejudica-se sensivelmente o crédito à<br />

população, criando-se situações absolutamente desiguais entre os que alugam um<br />

galpão, compram a matéria-prima, põem em atividade sua unidade produtiva, se<br />

especializam na prestação de serviços comerciais, o trabalhador assalariado, os<br />

pequenos agricultores e a empresa rural brasileira. Não há como comparar os<br />

ganhos desses segmentos quando formam seus preços com os absurdos ganhos do<br />

sistema financeiro.<br />

É preciso que na discussão da regulamentação do sistema financeiro, das<br />

taxas de juros e no reordenamento deste País tenhamos uma posição clara de não<br />

permitir a verdadeira usura exercida por essas instituições financeiras, que praticam<br />

juros cada vez mais altos, créditos cada vez mais asfixiantes, e auferem, ao final dos<br />

seus balanços, lucros astronômicos, sem comparação com a atividade econômica<br />

no Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. LUIZ PIAUHYLINO (PSDB-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, perdemos, em 25 de abril, o emérito professor e<br />

pesquisador José Luiz Barreira Filho, da Universidade Federal de Pernambuco,<br />

instituição a que prestou grande contribuição com o desenvolvimento de trabalho<br />

marcado pelo amor e pela dedicação.<br />

Vida dedicada à produção acadêmica — tanto como professor como,<br />

sobretudo, na área de pesquisa — tem seu início como aluno aprovado em primeiro<br />

lugar no vestibular da Escola de Engenharia de Pernambuco, aos <strong>18</strong> anos de idade.<br />

A Escola de Engenharia foi determinante na sua escolha e no amor pela carreira<br />

acadêmica.<br />

Vale ressaltar que a Faculdade de Engenharia de Pernambuco, fundada em<br />

<strong>18</strong>95, era não só um centro de ensino técnico, mas, sobretudo, um lugar formador<br />

de cidadãos. Reinava naquela “Escola” uma atmosfera mágica, com as<br />

transformações dos anos 60 e com a presença de grandes mestres. O jovem José<br />

Luiz Barreira caracteriza-se pela combinação de uma sólida base técnica e científica<br />

com uma utopia criadora de sonhos ousados e um forte engajamento com o avanço<br />

e desenvolvimento da sua comunidade e do seu País.<br />

Ainda como aluno, inicia suas atividades de ensino na função de monitor da<br />

disciplina de Circuitos Elétricos e Eletromagnetismo do Curso de Engenharia Elétrica<br />

da Escola de Engenharia, em 1966. E, como pesquisador, ainda durante o curso, foi<br />

bolsista do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no<br />

período de março a dezembro de 1966.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Nesse período, 1966, forma-se um grupo de futuros engenheiros, no qual se<br />

incluía o jovem Barreira, com o sonho de criar um Centro de Energia Nuclear no<br />

Nordeste. Eles conheciam a energia nuclear pelos ecos das explosões de Hiroshima<br />

e Nagasaki e também pelo ensino avançado de alguns docentes das cátedras de<br />

Física e de Matemática. Com o apoio de alguns professores da Faculdade de<br />

Engenharia, esse grupo de estudantes constituiu-se no núcleo inicial do<br />

Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Energia Nuclear<br />

(CENU), que se tornou um importante marco para os desdobramentos nessa área.<br />

V.Exa., Presidente Inocêncio Oliveira, que é atento incentivador da<br />

Universidade de Pernambuco, por muitas vezes, recebeu o Prof. Barreira e deu-lhe<br />

apoio para transformar seu sonho em realidade.<br />

Diploma-se aos 23 anos como aluno laureado de sua turma, confirmando<br />

assim uma vida acadêmica marcada pelo sucesso. Tornou-se especialista em Física<br />

pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o renomado ITA, em São José dos<br />

Campos, caracterizando-se pela apresentação de trabalhos que revelavam<br />

competência e zelo, alguns deles até hoje preservados.<br />

Em janeiro de 1968 foi admitido como professor do Departamento de Energia<br />

Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco e Subchefe do Departamento A do<br />

Instituto de Física daquela universidade, no período de dezembro de 1970 a junho<br />

de 1972. Foi membro de diversas bancas examinadoras em vestibulares, em cursos<br />

de mestrados e, de outubro de 1969 a novembro de 1975, foi Chefe da Dosimetria e<br />

Proteção Radiológica do Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

de Pernambuco. O impacto desse trabalho foi imenso — atualmente milhares de<br />

clientes são atendidos.<br />

Continuou seu aperfeiçoamento profissional com a realização de diversos<br />

cursos, alguns, inclusive, no exterior, como, por exemplo, o Radiation Protection, no<br />

Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear,<br />

no Rio de Janeiro.<br />

Defendeu sua tese de mestrado — Determinação de Seções de Choques de<br />

Reações de Limiar dos Tipos (n,p), (n,alfa) e (n,2n), com Nêutrons de 14 MeV para<br />

Nuclídeos Ti, Zn e Zr — em outubro de 1982, obtendo o grau de Mestre em Ciências<br />

e Tecnologia Nuclear, pelo Departamento de Energia Nuclear da Universidade<br />

Federal de Pernambuco, tendo sido aprovado com distinção.<br />

De 1983 a 1986, foi Coordenador-Geral da Pós-Graduação da Pró-Reitoria de<br />

Pesquisa e Pós-Graduação, Coordenador do Curso de Mestrado em Ciências e<br />

Tecnologia Nuclear, Diretor do Centro de Tecnologia e Geociências, Chefe de<br />

Gabinete do Magnífico Reitor, Assessor do Magnífico Reitor e Vice-Reitor da<br />

Universidade Federal de Pernambuco.<br />

Como bem descreve Fernando Menezes Campello de Souza no Memorial de<br />

José Luiz Barreira, “a interdisciplinaridade, com forte interação nas áreas básicas, as<br />

engenharias e a área de saúde, a base científica, a dimensão internacional, o<br />

pioneirismo e o envolvimento do Prof. José Luiz Barreira Filho em todas as frentes<br />

no grande esforço de implantação fizeram com que se tornasse uma pessoa muito<br />

solicitada dentro da universidade. Forjara-se um líder”.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O Prof. Barreira era um lutador incansável, com profundo espírito humanista,<br />

generoso, de caráter íntegro e com grande amor e dedicação à universidade, que<br />

conhecia profundamente e onde era muito querido por todos: professores, alunos e<br />

funcionários.<br />

Os desafios em sua vida eram permanentes, o que se pode constatar pela<br />

sua luta pela implantação regional da Comissão Nacional de Energia Nuclear<br />

(CNEN). A ação do Centro Regional de Energia Nuclear visa quebrar a falta crônica<br />

de assistência, baseada nos benefícios das modernas tecnologias. Tem por objetivo<br />

produzir radiofármacos e radioisótopos, hoje utilizados numa escala muito reduzida<br />

nas clínicas e hospitais da região, comparativamente ao Sudeste do País.<br />

Atualmente, o Centro Regional de Energia Nuclear encontra-se em fase de<br />

construção, no campus da Universidade Federal de Pernambuco. É a realização de<br />

um sonho que envolve a ciência e as necessidades do cidadão comum, sobretudo<br />

do Nordeste. Era um sonho que o Prof. Barreira infelizmente não viu se concretizar.<br />

Realização que a universidade deve ao incansável professor.<br />

Em sua vida particular José Luiz Barreira foi muito dedicado à família, tendo<br />

sido pai e esposo amoroso.<br />

Foi também Presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, em<br />

Pernambuco, quando fui presidente do partido no meu Estado.<br />

Presto minha homenagem ao ser humano ímpar, homem de caráter íntegro,<br />

que deu enorme contribuição à Universidade Federal de Pernambuco, ao Estado de<br />

Pernambuco e ao Brasil.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. GERALDO RESENDE (PPS-MS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a Fundação Bill & Melinda Gates, no último dia<br />

29, anunciou que o Programa Brasileiro de AIDS foi selecionado por um júri de<br />

líderes internacionais em saúde pública para receber o Prêmio Gates de Saúde<br />

Global de 20<strong>03</strong>, no montante de US$ 1 milhão.<br />

O programa, considerado um modelo de combate ao HIV/AIDS, garante<br />

acesso gratuito ao tratamento anti-retroviral, com campanhas contundentes de<br />

prevenção.<br />

O prêmio financiará os grupos de base comunitária de atenção a órfãos e<br />

portadores do HIV.<br />

Não bastasse o prêmio, regozija-nos ser o Programa Brasileiro de AIDS<br />

coordenado pelo colega Dr. Paulo Roberto Teixeira, médico sanitarista formado pela<br />

Universidade Federal de São Paulo, sul-mato-grossense e douradense de coração,<br />

que declarou gratidão pelo reconhecimento do compromisso brasileiro com os<br />

direitos humanos básicos dos infectados e afetados pelo HIV/AIDS.<br />

Ora, Dr. Paulo Teixeira, gratos somos nós, pela sua dedicação abnegada e<br />

altruísta. Muito acima de cargos ou remunerações, seu trabalho extrapola a ação<br />

técnica e culmina com uma acentuada responsabilidade social desapegada e rara.<br />

Nascido em Álvares Machado, no interior de São Paulo, mas arraigado em<br />

Dourados, Mato Grosso do Sul, reputado como um dos maiores especialista em<br />

HIV/AIDS do mundo, com vasto currículo, o Dr. Paulo Teixeira, em 1996, chegou a<br />

assumir na ONU o cargo de Consultor Sênior do Programa Conjunto das Nações<br />

Unidas em AIDS para a América Latina e Caribe. Entre suas atribuições estavam o<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

planejamento estratégico de ações em HIV e AIDS e o apoio ao desenvolvimento<br />

dos grupos temáticos em países, que desempenhou com grande desenvoltura até<br />

2000.<br />

Porém, o que mais o orgulha foi seu decisivo papel na vitória da disputa<br />

comercial travada com os Estados Unidos no âmbito da Organização Mundial do<br />

Comércio. Os acordos fechados com Merck e Roche (laboratórios internacionais)<br />

reduziram os preços de medicamentos anti-retrovirais em até 60%; a Comissão de<br />

Direitos Humanos da ONU aprovou resolução proposta pelo Brasil sobre acesso a<br />

medicamentos no controle de pandemias como o HIV/AIDS; a Organização Mundial<br />

de Saúde aprovou resolução — baseada em proposta brasileira — em que os<br />

países se comprometem, entre outras coisas, a garantir acesso a tratamento<br />

anti-retroviral a todos os portadores do HIV/AIDS.<br />

É desse homem que estamos tratando.<br />

Hoje o Brasil fornece tratamento gratuito para HIV a aproximadamente 150 mil<br />

pessoas, com redução de 50% na mortalidade e de 60% a 80% nas infecções<br />

oportunistas, números que se refletiram na prevenção de quase 360 mil internações<br />

de 1997 até 2001, resultando em uma economia de mais de US$ 1 bilhão.<br />

Esse tratamento, agora premiado, enfatiza a prevenção ao HIV, faz<br />

aconselhamento e testagem, distribuição de preservativos, campanhas educativas e<br />

programas de tratamento. Por essas ações, foi citado como “o mais claro exemplo<br />

da sinergia potencial entre as iniciativas de prevenção e tratamento”, pelo Grupo de<br />

Trabalho de Prevenção Global ao HIV.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Para o Dr. William Foege, membro sênior da Fundação Bill & Melinda Gates e<br />

Presidente do Corpo de Diretores do Conselho Global de Saúde, o Brasil salva vidas<br />

e economiza recursos ao mesmo tempo, e isso deve servir de inspiração para os<br />

países ao redor do mundo.<br />

O Dr. Paulo Teixeira e o Ministro da Saúde foram agraciados com o Prêmio<br />

Gates, durante a 30ª Conferência Anual Internacional do Conselho Global de Saúde<br />

— Nosso futuro em território comum: saúde e ambiente.<br />

Como membro desta Casa de Leis e na qualidade de representante do povo<br />

de sua terra, Mato Grosso do Sul, Dourados, rendo-lhe, Dr. Paulo Roberto Teixeira,<br />

nossas homenagens e o mais profundo agradecimento. Parabéns!<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ANDRÉ ZACHAROW (PDT-PR. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a economia brasileira vive momento de grande<br />

apreensão. Os empresários estão atônitos, principalmente por conta dos elevados<br />

custos financeiros praticados no País e da falta de horizonte seguro para o<br />

desenvolvimento de seus negócios.<br />

Aprovamos e apoiamos as declarações em defesa da classe empresarial<br />

feitas pelo Presidente da Associação Comercial do Paraná, Dr. Marcos Domakoski,<br />

em 4 de junho deste ano, em Salvador, Bahia. Da mesma forma, apoiamos o<br />

conteúdo de sua Carta nº 093, dirigida ao Exmo. Sr. José Alencar, Vice-Presidente<br />

da República, sobre o tema em foco.<br />

Solicito a V.Exa., Sr. Presidente, que autorize a publicação nos Anais da Casa<br />

do discurso e da carta do Dr. Marcos Domakoski, que acompanham meu discurso.<br />

Encerro meu pronunciamento com as palavras do eminente líder trabalhista<br />

brasileiro, o saudoso ex-Presidente Getúlio Vargas:<br />

Muito obrigado.<br />

“O Poder Público deve compenetrar-se de que é<br />

seu dever elementar assistir as fontes de produção. Não<br />

se pode baratear a vida sem aumentar a produção e não<br />

se pode aumentar a produção sem amparar o produtor.<br />

Onde está o interesse do produtor está o interesse do<br />

Brasil”.<br />

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 714 A 714-F)<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. BENJAMIN MARANHÃO (PMDB-PB. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho à tribuna para manifestar minha<br />

preocupação com notícias veiculadas ontem na grande mídia nacional, as quais dão<br />

conta de que a Agência Nacional do Petróleo abrirá nos próximos dias licitações<br />

para prospecção de novas áreas de exploração de petróleo na região conhecida<br />

como Parque Nacional de Abrolhos.<br />

Esse parque foi criado por decreto presidencial no dia 6 de maio de 1983.<br />

Portanto, completou recentemente 20 anos de existência.<br />

Trata-se de área de preservação que merece toda a atenção do Brasil não só<br />

por constituir o maior banco de coral do Atlântico Sul brasileiro, mas também pelo<br />

fato de nela haver espécies ecologicamente endêmicas. Refiro-me aos corais, a<br />

pequenos moluscos, a peixes e, em especial, às baleias jubartes — a região é seu<br />

ponto de acasalamento e criação de filhotes no litoral brasileiro.<br />

O parque é de reconhecida utilidade pública e tem, pelos motivos já<br />

apresentados por mim, a importância de ser considerado um patrimônio não apenas<br />

nosso, mas de nossos filhos e netos.<br />

A área merece ser preservada, pois, além do que já foi dito, é fundamental do<br />

ponto de vista ecológico e da preservação da biodiversidade do País, a qual tem<br />

inclusive implicações financeiras.<br />

A preocupação a que me refiro diz respeito à forma como a ANP fez a<br />

licitação. O Parque Nacional de Abrolhos tem uma área total de cerca de 88 mil<br />

hectares.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

A ANP quer fazer as novas prospeções de petróleo em área afastada apenas<br />

10 quilômetros da região de Abrolhos. Quem conhece a região, como eu conheço há<br />

mais de 10 anos, sabe que é pouco. A maior parte do Parque Nacional de Abrolhos<br />

fica a 70 quilômetros do litoral da Bahia, mais precisamente da cidade de Caravelas.<br />

Apesar dessa distância, ainda recebe poluição vinda do litoral, de fontes poluidoras<br />

em terra firme.<br />

Como o Ministério do Meio Ambiente pode permitir que a prospecção de<br />

petróleo, agressão tamanha a esse ecossistema único, seja feita a apenas 10<br />

quilômetros do parque? Quem não se lembra dos desastres ecológicos causados<br />

por diversos vazamentos de petróleo no Rio de Janeiro, especialmente na Baía da<br />

Guanabara, e das suas conseqüências sobre um ecossistema que não é tão<br />

sensível quando o do Parque Nacional Marinho de Abrolhos?<br />

Nossa preocupação também se reveste de importância ao vermos hoje<br />

reflexos de atitudes omissas do Ministério do Meio Ambiente, como o caso dos<br />

pneus recauchutados importados do Uruguai, em que se abriu uma verdadeira<br />

porteira para que o Brasil se torne a lata do lixo dos pneus reconstituídos da União<br />

Econômica Européia e dos Estados Unidos.<br />

Sr. Presidente, não podemos deixar de nos manifestar sobre o tema. Faço<br />

veemente apelo à Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no sentido de que, como<br />

defensora do meio ambiente — assim construiu toda a sua carreira política, desde<br />

sua humilde origem —, tome posição, para que isso não aconteça.<br />

É nosso dever de Parlamentar fazer com que os que não podem ser ouvidos<br />

— os peixes e os corais de Abrolhos, entre outros — tenham voz neste Parlamento.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Devemos levar esta manifestação ao Ministério do Meio Ambiente, para que<br />

não deixe vingar essa atitude, única e exclusivamente movida por interesses<br />

financeiros. O petróleo é importante para o desenvolvimento do País, mas é preciso<br />

sabermos o preço que teremos de pagar pela auto-suficiência desse produto.<br />

Sr. Presidente, esperamos que se tome outro rumo em relação a essa<br />

licitação internacional da Agência Nacional de Petróleo, que já tem data marcada.<br />

Aguardarmos que seja revista e que o Ministério do Meio Ambiente tome posição<br />

firme em relação à preservação do maior patrimônio do Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PAULO FEIJÓ (PSDB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é tomado por uma incontida satisfação que<br />

ocupo o plenário desta nobre Casa de Leis para apresentar minhas homenagens<br />

àquela que é uma das atrizes mais importantes do Brasil, a nossa querida Dercy<br />

Gonçalves, que em 23 de junho irá celebrar 96 anos de vida, de uma história rica<br />

formada por superações e aprendizagem, por conquistas e realizações,<br />

compreensão e amizade.<br />

Os laços que me unem à Gonçalves são muitos, e posso destacar como o<br />

mais forte o fato de sermos naturais da mesma cidade, a pequena Santa Maria<br />

Madalena, no interior do Estado do Rio de Janeiro, onde ainda reside parte de meus<br />

familiares, lugar onde preservo vários amigos, isso apesar de ter fixado residência,<br />

há mais de 15 anos, na cidade de Campos dos Goytacazes.<br />

A pequena cidade de Madalena tem um orgulho indisfarçável de sua filha<br />

mais ilustre, Dercy Gonçalves, por quem nutre um respeito inabalável, em função do<br />

caráter e da história de vida dessa grande mulher brasileira, dessa pessoa dotada<br />

de personalidade sempre destacada pela honestidade, pela coerência e<br />

simplicidade, típica de quem entende que viver não é complicado, somos nós que<br />

fazemos a vida assim.<br />

A vida de Dercy se confunde com a trajetória do teatro, do cinema e da<br />

televisão brasileira, e foi forjada com determinação, com a fibra e com o espírito<br />

guerreiro, ainda que imberbe, de uma jovem encantada com as artes cênicas, em<br />

uma cidade de pequeno porte, distante dos principais centros do País, como era<br />

Madalena nos idos da década de 20.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Sem rádio, jornais ou cinema, a pequena Madalena se alvoroçava com a<br />

chegada das trupes mambembes. Quando a companhia da atriz veterana Maria<br />

Castro desfilou pela cidade, a jovem Dercy descobriu sua vocação e buscou os<br />

recursos necessários, rifando o terno de um cliente de seu pai, um sério alfaiate,<br />

para acompanhar até a cidade de Macaé os artistas que sobre ela tanto fascínio<br />

exerceram.<br />

A grande Dercy começou sua carreira como cantora, constituindo dupla com<br />

Eugênio Pascoal, com quem percorreu como mambembes cidades do interior dos<br />

Estados de Minas Gerais e São Paulo, notabilizando-se com interpretações de<br />

Malandrinha e Serra da Mantiqueira. Na cidade do Rio, trabalhou na companhia<br />

Jardel Jércolis, contracenou com Jararaca e Ratinho e fez parte das revistas de<br />

Walter Pinto, onde estrelou grandes sucessos. Era o ano de 1932 e Dercy, muito<br />

jovem, já havia trabalhado com artistas importantes, como Duque Miranda e João<br />

Lino. Trabalhou com Jardel Jércolis e virou “estrela”.<br />

Explorando a veia cômica, Dercy fez mais de 50 filmes e montou outras 50<br />

peças de teatro, como Uma Certa Viúva, Coco My Darling, Dona Violante Miranda,<br />

além de adaptações apimentadas de clássicos como Uma Certa Lucrécia e Dama<br />

das Camélias. Na televisão brasileira comandou os programas Vovó Deville e Dercy<br />

Beaucoup, com atuações memoráveis na Rede Globo, em novelas como Deus nos<br />

Acuda.<br />

Fazendo o público rir sem a intenção de chocar, como argumenta a própria<br />

atriz, Dercy Gonçalves é um marco da dramaturgia brasileira, e um patrimônio vivo<br />

da história das artes do País, embora ela mesma abdique dessas condições,<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

buscando viver da mesma forma que sempre viveu, sem desejar contar o tempo,<br />

aproveitando de cada momento o seu instante mais especial, único.<br />

O Brasil não pode prescindir de pessoas como Dercy Gonçalves e é por isso,<br />

nobres colegas Parlamentares, que busco, ainda que humildemente, expor um<br />

pouco de sua trajetória, sua história de vida e dizer que me sinto grato de me<br />

considerar seu amigo, de poder estar ao seu lado e de contar com sua luz, sua<br />

energia.<br />

O que desejamos todos, eu, a cidade de Santa Maria Madalena e, acredito, o<br />

Brasil, é que esse exemplo de vida que é Dercy Gonçalves continue sempre em<br />

nossa companhia, com este vigor que é só seu, com esta dignidade moral que é a<br />

sua maior posse, iluminando um pouco de nossos caminhos com seu riso sincero,<br />

com sua crítica irônica, com sua verve e lucidez, que a idade não rouba, mas<br />

acrescenta em sabedoria.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ROBERTO GOUVEIA (PT-SP. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, público que acompanha nossos trabalhos na<br />

tarde de hoje, no último domingo, participei do ato de abertura do 12ª ENONG —<br />

Encontro Nacional de ONG/AIDS, juntamente com mais de 800 delegados de todas<br />

as Unidades da Federação e a importantíssima presença dos 3 níveis de Governo: o<br />

Ministro da Saúde, representando o Governo Federal; o ex-Secretário de Saúde do<br />

Estado de São Paulo, Dr. José da Silva Guedes; o Dr. Arthur Kallichman,<br />

representando o atual Secretário Estadual da Saúde; e o Secretário Municipal de<br />

Saúde de São Paulo.<br />

De forma emocionante, foram apresentadas as qualidades do Programa de<br />

Atenção aos Portadores do Vírus HIV, de referência internacional.<br />

Estava também presente o Coordenador Paulo Roberto Teixeira, que viajaria<br />

para Washington com o objetivo de mostrar o que aprendemos com nosso<br />

programa.<br />

A Organização Mundial de Saúde tinha a previsão — é lógico que os números<br />

são apenas uma referência, mas faço questão de dizê-los — de que deveríamos<br />

chegar ao final dos anos 90 com cerca de 1 milhão e 500 mil portadores do vírus<br />

HIV. Conseguimos fechar a década com algo em torno de 700 mil, quase 1 milhão a<br />

menos.<br />

Um dos motivos do sucesso desse programa e de sua vitória tem sido a<br />

participação da sociedade civil e das organizações não-governamentais. Está<br />

acontecendo o 12º Encontro Anual de ONGs, o que comprova o ativismo da<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

sociedade civil organizada com os Poderes Públicos, particularmente na política<br />

pública de saúde.<br />

Para resolver os problemas do País, temos de contar com essa soma,<br />

parceria, cooperação, reforço da sociedade civil organizada, que, mais uma vez,<br />

vem se mostrando efetiva no controle da AIDS.<br />

Um dos pontos centrais do encontro, que iniciou no domingo e termina hoje,<br />

reforça, realimenta, renova o ativismo na área do controle do combate ao vírus HIV e<br />

das doenças sexualmente transmissíveis.<br />

Muito obrigado Sr. Presidente, Deputado Inocêncio Oliveira, Sras. e Srs.<br />

Deputados e público por acompanharem nossos trabalhos nesta tarde.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. JOÃO CORREIA (PMDB-AC. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, hoje pela manhã, perto do meio-dia, acompanhei pela TV<br />

Câmara debate acalorado entre os Líderes do Governo, Deputado Aldo Rebelo, do<br />

PSDB, Deputado Jutahy Junior, e do PFL, sobre o comício do Presidente da<br />

República. Alguns consideram que S.Exa. tem a língua presa. Mas, às vezes, ela é<br />

solta demais. Que o digam os 300 picaretas da Câmara Federal.<br />

Sr. Presidente, vou fazer algumas confidências. Na condição de Deputado<br />

Federal, sou assinante do Jornal do Brasil, quase exclusivamente para me deleitar<br />

com a coluna de Dora Kramer, que considero fina no estilo e profunda no conteúdo.<br />

Mesmo quando defende o Governo Lula — e já o defendeu mais de uma vez —, ela<br />

o faz com refinamento. Por conseguinte, é inteiramente insuspeita. Por isso solicito<br />

que figure nos Anais da Câmara dos Deputados o texto do artigo O mito da boa<br />

articulação, que escreveu em sua coluna chamada Coisas da Política, na edição de<br />

14 de junho de 20<strong>03</strong> do JB, em que demonstra exatamente a perspectiva da<br />

empáfia dos titulares do Poder nesta Câmara.<br />

A jornalista aponta também, na mesma coluna, o lapso oficial cometido pela<br />

RADIOBRÁS ao não mencionar, em momento algum, a grande manifestação que<br />

reuniu servidores públicos do Brasil inteiro na Esplanada dos Ministérios.<br />

Afirmo também, agora na condição de ser humano e cidadão, que essa<br />

empáfia — que não cabe no texto de Dora Kramer, que não é apologética —<br />

manifesta-se, às vezes, em questões menores.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Sr. Presidente, dia 13 de junho fui ao Clube do Choro de Brasília, uma<br />

espécie de monumento desta Capital, quase como a Catedral ou este Congresso<br />

Nacional.<br />

É difícil conseguir ingresso para assistir a um show. Mas fui até lá com duas<br />

semanas de antecedência e consegui comprá-lo. Nesse mesmo dia eu tinha uma<br />

viagem marcada para 1 hora da manhã. O show, que estava previsto para começar<br />

às 21h30min, começou apenas às 22h40min, ou seja, 1 hora e 10 minutos depois.<br />

Comecei a ficar aflito porque poderia perder meu avião.<br />

Depois fiquei sabendo a razão do atraso do show: o ex-Senador e atual<br />

Presidente da PETROBRAS, Sr. José Eduardo Dutra, um dos patrocinadores do<br />

Clube do Choro, mandou a direção aguardar sua chegada para que só então, com a<br />

sua presença imperial, o show pudesse começar.<br />

Então, 1 hora e 10 minutos depois, o show começou. E S.Sa. não tinha um<br />

motivo importante para se atrasar. Não estava discutindo a Petroquímica, a OPEP,<br />

mas assistindo ao jogo do Botafogo, que, aliás, levou uma pisa do Ceará — coitado<br />

do Botafogo! —, dentro de casa, de 2 a 0.<br />

Ora, Sr. Presidente, isso pode parecer algo jocoso, mas é a verdade. A<br />

empáfia e a arrogância já começam a se apresentar neste prisma: “Não, espera aí,<br />

dá um tempo, deixa o monarca chegar, o rei chegar, para então começar o show”.<br />

Ora, Sr. Presidente, é um ato simples, mas me senti prejudicado, não como<br />

Deputado, mas como cidadão, como espectador daquela beleza. O clarinetista<br />

Paulo Sérgio Santos, excepcional músico carioca, veio para, juntamente com a prata<br />

da Casa, de excepcional qualidade, fazer um show no Clube do Choro de Brasília.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Tive que sair no bem-bom, no meio do show, porque o Sr. Eduardo Dutra,<br />

ex-Senador e atual Presidente da PETROBRAS, estava assistindo a um jogo, a uma<br />

pelada — coitado — do Botafogo, e, por isso, impediu-me de desfrutar, de usufruir<br />

toda a beleza daquele show.<br />

Estou registrando esse fato, Sr. Presidente, pelo seguinte: temo muito pela<br />

arrogância, pelos novos ricos, como diz brilhantemente Dora Kramer, daqueles que<br />

querem reafirmar o seu poder como se ainda não acreditassem no poder que têm.<br />

Diz a comentarista: “Como se inebriados pela conquista do poder, tivessem a<br />

necessidade de reafirmá-lo a toda hora feito dono do dinheiro novo”.<br />

Faço este registro e encareço ao Clube do Choro que, mesmo tendo como<br />

patrocinador importante o Sr. Eduardo Dutra, leve em conta que o dinheiro não é<br />

dele, mas, sim, do público, da PETROBRAS, que está patrocinando tão bem aquela<br />

Casa.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

ARTIGO A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 726 A 726-A)<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. EDSON EZEQUIEL (PSB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, utilizarei hoje o tempo de que disponho para<br />

fazer uma análise sobre a Área de Livre Comércio das Américas — ALCA.<br />

Naturalmente não tenho a pretensão de analisar o mérito da questão — tarefa<br />

impossível em face da premência de tempo e da profundidade e complexidade do<br />

tema.<br />

discussão.<br />

Entretanto, trata-se de importante e urgente pendência na pauta de<br />

Senão, vejamos, Sr. Presidente. O Brasil ocupa hoje a co-presidência do<br />

processo de negociação, em conjunto com os Estados Unidos da América. Isso<br />

significa que temos de conduzir a negociação com a responsabilidade de coordenar<br />

acordo que transcende a área comercial. Nessa negociação estão envolvidos 34<br />

países do continente, com suas diferentes culturas e grau de desenvolvimento<br />

econômico e social, bem como inegáveis conflitos nos seus reais interesses —<br />

questão de extrema complexidade.<br />

Portanto, utilizando a expressão recentemente empregada pelo Presidente<br />

Lula, diria que esta, sem dúvida, é uma questão que não comporta bravatas ou<br />

fugas, manobras simplesmente protelatórias. Não existe espaço para o simples<br />

refrão “Fora, ALCA”. Precisamos estar preparados para, na mesa de negociações,<br />

dizer claramente quais são as nossas prioridades — até porque não existe a tese<br />

radical ou o temor de que se trate apenas de anexação do Brasil aos Estados<br />

Unidos.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O risco de um processo que nos traga prejuízos comerciais ou sociais não<br />

aceitáveis, ou até mesmo a perda de parte da soberania nacional, como alguns<br />

pregam, não existe, só existiria se aceitássemos essa situação.<br />

Esse risco, porém, está fora da minha análise. Por quê? Porque temos um<br />

Governo em que confiamos e que saberá, com este Congresso, a quem cabe<br />

ratificar as negociações, defender os reais interesses do Brasil e do seu povo.<br />

Nesse aspecto, Sr. Presidente, saúdo a constituição, no dia de ontem, da<br />

Frente Parlamentar de Acompanhamento das Negociações da ALCA pela<br />

Soberania.<br />

A hipótese negativa existente é aquela em que, ao final do processo, o que<br />

nos for oferecido não seja aceitável em função do que nos for solicitado. Neste caso,<br />

sairíamos da negociação, mas com o argumento consistente de que procuramos<br />

viabilizar o acordo, não fugimos. Se esse não for possível, não será por nossa culpa.<br />

Diria mais: a vantagem do processo da ALCA é que tudo só entra em vigor<br />

depois de totalmente acordado entre as partes.<br />

Não acredito em uma ALCA sem o Brasil. Entretanto, sejamos realistas: os<br />

Estados Unidos da América são o maior mercado do mundo, bem como o nosso<br />

maior mercado. Portanto, sua participação nas decisões do mercado mundial é<br />

inevitável, conseqüentemente, um acordo, em termos adequados, é desejável,<br />

independentemente de nossas posições pessoais com concordância ou não quanto<br />

à política global dos Estados Unidos.<br />

Sabemos que os grupos de temas em negociação são complexos e amplos,<br />

passam por acesso a mercados, investimentos, serviços, compras governamentais,<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

solução de controvérsias, agricultura, subsídios, antidumping e medidas<br />

compensatórias, direitos de propriedade intelectual e políticas de concorrência.<br />

Por outro lado, Sr. Presidente, temos diplomatas e profissionais competentes.<br />

O que precisamos é fortalecer uma grande equipe multidisciplinar que, comandada<br />

pelas diretrizes do Governo, em estreita articulação com a sociedade organizada,<br />

possa analisar os diferentes aspectos da negociação e fornecer pareceres para<br />

tomadas de decisões.<br />

O Brasil e suas empresas possuem particular interesse em algumas áreas,<br />

como a de comércio agrícola, siderurgia e têxteis, entre outras. Os Estados Unidos e<br />

outros países naturalmente têm outras prioridades.<br />

O Brasil apresentou recentemente uma proposta, que aparentemente não foi<br />

absorvida pelos Estados Unidos, de negociação por bloco, MERCOSUL mais os<br />

Estados Unidos, a denominada Quatro Países mais Um.<br />

Os Estados Unidos, por sua vez, assinaram em 6 de junho próximo passado<br />

acordo de livre comércio com o Chile, que naturalmente precisará ser ratificado<br />

pelos 2 países. Esse fato terá influência em futuros acordos bilaterais, de blocos ou<br />

da ALCA como um todo. Portanto, precisamos estar atentos aos nichos de<br />

oportunidades no mundo em geral.<br />

Adicionalmente, antes de fecharmos qualquer acordo ou tratado mais amplo,<br />

precisamos lembrar as lições do passado e não descuidar da graduação das etapas<br />

do processo, do sincronismo das ações, das regulamentações que nortearão a<br />

futura operacionalidade e da assimetria de informações entre países de diferentes<br />

graus de conhecimento e desenvolvimento.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Falando especificamente da ALCA, Sr. Presidente, não podemos ter a ilusão<br />

de que em uma negociação como essa, seja possível ter vantagens só para o Brasil,<br />

ou a pretensão de ser mais espertos ou competentes que os Estados Unidos. Como<br />

todo acordo, tem de ser bom para todas as partes envolvidas.<br />

Para terminar, diria o seguinte: nossa grande chance e nosso enorme desafio<br />

é sensibilizar os Estados Unidos quanto ao fato de que um acordo que ofereça<br />

alguma vantagem para o Brasil, ou para o MERCOSUL, ou para os países<br />

emergentes do continente seria uma forma compensatória por perdas passadas e,<br />

muito mais que isso, um investimento verdadeiro dos Estados Unidos em uma<br />

América unida e mais forte.<br />

Era o que tinha a dizer na tarde de hoje, Sr. Presidente.<br />

Muito obrigado.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

A SRA. ANN PONTES (PMDB-PA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos<br />

e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, divulgada na semana passada, revelou<br />

que, dos 5.507 Municípios brasileiros, apenas 19 asseguram à sua população uma<br />

escolarização média que corresponda aos 8 anos do ensino fundamental (que vai da<br />

1ª à 8ª série), definidos como obrigatório pela nossa Constituição. Em outros 1.796<br />

Municípios, a escolaridade média da população é inferior a 4 séries concluídas.<br />

Essa pesquisa, intitulada Mapa do Analfabetismo no Brasil, que contou<br />

também com a análise de indicadores do IBGE e do Programa das Nações Unidas<br />

para o Desenvolvimento, mostra que o Brasil possui cerca de 16 milhões de<br />

analfabetos com 15 anos ou mais e 30 milhões dos chamados analfabetos<br />

funcionais, que possuem menos de 4 anos de estudo.<br />

No ranking do analfabetismo, o Brasil está atrás da Argentina, do Chile, da<br />

Costa Rica, de Trinidad e Tobago, do México e da Colômbia, ocupando o fim da fila<br />

no que se refere ao IDH — Índice de Desenvolvimento Humano das Nações<br />

Unidas.<br />

Essas gravíssimas revelações, tornadas públicas nessa pesquisa, mostram<br />

que o analfabetismo precisa ser combatido ou correremos o risco de não conseguir<br />

dar o salto para o futuro, e fazer com que o Brasil alcance um novo papel no cenário<br />

internacional e proporcione um tempo de justiça social para a sua população.<br />

No momento em que o País debate reformas importantes e difunde projetos<br />

de inclusão digital, deparamo-nos com uma realidade ainda mais precária, que nos<br />

obriga a repensar a condição do Brasil.<br />

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A pesquisa também revela que o analfabetismo reforça as desigualdades<br />

regionais e a exclusão social.<br />

Enquanto os 10 Municípios com melhores indicadores quanto ao grau de<br />

instrução estão no Sul e Sudeste, os piores estão no Norte e Nordeste. O Estado do<br />

Pará, com quase 800 mil analfabetos, ocupa o terceiro lugar na Região Norte.<br />

Nesta Casa, em nossa luta constante contra as desigualdades regionais,<br />

aproveito para reforçar a idéia, mais uma vez, de que realidades diferentes<br />

precisam de atenções diferenciadas.<br />

Da mesma forma, a taxa de analfabetismo está diretamente relacionada à<br />

renda familiar: nos domicílios que possuem renda superior a 10 salários mínimos, o<br />

índice é de 1,4%, enquanto nas famílias que possuem renda inferior a um salário<br />

mínimo o índice é de 29%.<br />

Outro grande vilão desse cenário é o trabalho infantil, que aparece como uma<br />

das causas do alto índice de analfabetismo que ainda se abate sobre o Brasil.<br />

Precisamos tornar realidade o dito de que “lugar de criança é na escola”.<br />

Sabemos, no entanto, que não basta dar alfabetização a todos, tampouco<br />

garantir apenas o ensino fundamental, como manda a Constituição, o que por si só<br />

já seria um projeto bastante ambicioso.<br />

Precisamos, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ter ensino público de<br />

qualidade, porque a alfabetização é apenas o início de uma longa jornada quando se<br />

trata de formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Zelar pela qualificação dos professores, garantindo-lhe boa remuneração,<br />

também deverá ser outra importante ação a ser adotada nesta guerra contra o<br />

analfabetismo.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o futuro do País está em jogo. Se<br />

uma ação enérgica não for tomada agora, talvez todos esses projetos, todas essas<br />

reformas sejam em vão.<br />

Não apenas o Executivo, através do Ministério da Educação, como também<br />

esta Casa precisam tomar rédea e consciência do seu papel nesta história.<br />

Por último, Sr. Presidente, gostaria que este pronunciamento fosse divulgado<br />

no programa A Voz do Brasil e no Jornal da Câmara.<br />

Muito obrigada.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. JOÃO MAGNO (PT-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, em primeiro lugar, gostaria de fazer uma breve correção nas<br />

palavras um tanto veementes e, ao mesmo tempo, fora do racional e do bom senso<br />

há alguns minutos aqui proferidas por um Deputado do Acre, contra a autoridade<br />

moral e política do Presidente da PETROBRAS, José Eduardo Dutra.<br />

S.Exa. se pauta em fofocas de jornais para vir à tribuna — tribuna que merece<br />

dos Parlamentares posicionamentos, pronunciamentos mais criteriosos, mais<br />

lúcidos para poder contribuir com o debate nacional — tentar adjetivar a autoridade<br />

do Governo Lula sem nenhum fundamento sério.<br />

Portanto, não merece a atenção do povo brasileiro esse tipo de infâmia que<br />

se levanta contra as autoridades deste Governo, legitimamente constituído pelo voto<br />

e que está corrigindo as bandalheiras do passado. Certamente, esse Deputado<br />

compartilhou de algumas delas, porque à frente da verdadeira oposição nunca<br />

esteve.<br />

Sr. Presidente, nesta oportunidade, quero dizer que ainda bem que o<br />

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva desenvolveu, com sua capacidade de líder do<br />

Brasil, o que chama a atenção de muitos países, o atributo da boa convivência. E<br />

neste momento já se levanta do sepulcro aquele que presidiu o País por 8 anos e<br />

agora tenta incriminar o atual Governo por tomar medidas sérias, responsáveis,<br />

patrióticas, que ele próprio não teve capacidade e coragem para tomar,<br />

especialmente no que se refere às reformas.<br />

O Brasil está cansado desse tipo de figuras políticas que se aproveitam de<br />

alguns momentos para se acovardarem. Suas atitudes demonstram que não querem<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

admitir a verdade. Na realidade, eles criaram, com seus atos, nos 8 anos do<br />

Governo passado, as grandes dificuldades que o povo brasileiro está enfrentando.<br />

Portanto, a manifestação do Sr. Fernando Henrique Cardoso certamente está<br />

sendo vista pelo povo brasileiro como uma atitude desesperada dos que já perderam<br />

o bonde da história. O Governo Lula tem enfrentado muitas vezes esse tipo de<br />

situação. De acordo com sua intuição — que é muito própria desta liderança —,<br />

S.Exa. reage com equilíbrio, com firmeza e da maneira necessária. Não pensem que<br />

temos medo de fazer qualquer enfrentamento em defesa de medidas sérias e<br />

necessárias que deveriam ter sido tomadas, mas nunca foram, como a reforma<br />

tributária e a da Previdência.<br />

Assim como nós, o povo brasileiro, em sua simplicidade e sabedoria, sabe<br />

muito bem que este País ficou parado durante 20 anos, que o processo de<br />

privatização realizado durante o Governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso foi<br />

escabroso e levou este País a uma dívida externa perversa. Por isso, o povo<br />

reconhece a autoridade do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o aprova — façam<br />

uma pesquisa hoje no Brasil para verificar o nível dessa aprovação—, sabe da sua<br />

lealdade e da sua sinceridade no trato dos interesses nacionais, o que não<br />

aconteceu com Fernando Henrique Cardoso, que vendeu este País a preço de nada.<br />

Se for feita uma CPI sobre as privatizações feitas durante o seu Governo, veremos<br />

com que esse Presidente compactuou. E agora ele vem tentar algum tipo de<br />

controvérsia nas reformas legítimas que o Presidente Lula conscientemente vem<br />

implementando com a aliança soberana do povo brasileiro. Se as reformas de<br />

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alguma maneira prejudicam a um ou a outro setor, nós, da bancada de apoio ao<br />

Governo, tentamos negociar com esses setores de forma equilibrada e decente.<br />

O ex-Presidente FHC fez o que fez com o nosso País e se mantinha calado,<br />

em silêncio. Agora, aos 5 meses do novo Governo, levanta-se como um fantasma do<br />

sepulcro. Entendo que as posições de S.Exa. não vão causar nenhum impacto no<br />

povo brasileiro, não vão tirar dele a convicção de que acertaram ao dar nas urnas<br />

apoio ao novo Governo e também agora a sua Liderança, que quer conduzir o Brasil<br />

para fora do buraco em que principalmente o Governo Fernando Henrique Cardoso<br />

o meteu.<br />

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O SR. MAURÍCIO RANDS (PT-PE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente<br />

Inocêncio Oliveira, Sras. e Srs. Deputados, a oração do ilustre Deputado João<br />

Magno, que me antecedeu na tribuna, volta-se contra as críticas formuladas pelo<br />

Governo anterior, em pleno período eleitoral, que alegava que, se Governo do PT<br />

viesse a ser escolhido pelo povo brasileiro, não teria competência para administrar o<br />

País e a nossa economia se aproximaria à da Argentina.<br />

A realidade está aí, Sr. Presidente. Em 5 meses de Governo, o Presidente<br />

Lula está colocando o Brasil nos trilhos e começa a implementar no País novo<br />

projeto para combater a desigualdade, a exclusão social e fazer justiça a este povo<br />

que há 500 anos é massacrado por um regime social iníquo.<br />

Agora, Sr. Presidente, na minha querida Recife, o Prefeito João Paulo, do PT,<br />

acaba de dar demonstração de competência administrativa e de responsabilidade na<br />

condução da coisa pública.<br />

Há mais de 10 anos Recife vinha tendo um problema insuperável, o<br />

transporte alternativo. O desemprego, a situação social do povo daquela cidade fez<br />

com que trabalhar no transporte alternativo talvez fosse o último recurso para muitas<br />

pessoas tangidas do mercado formal de trabalho. Essa solução fez com que o<br />

trânsito em Recife se tornasse um caos e que a informalidade grassasse no<br />

transporte público. Com muita coragem, o Prefeito João Paulo e o Secretário Dilson<br />

Peixoto, com o apoio do Governo do Estado, estão propondo novo modelo para o<br />

transporte complementar: as Kombis e as vans vão receber concessões públicas,<br />

por meio de licitações, e serão regularizadas para poderem complementar o<br />

transporte convencional, feito por ônibus. As pessoas que trabalham nesse tipo de<br />

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transporte receberão apoio do Poder Público Municipal caso tenham de deixar esse<br />

serviço.<br />

Medidas severas foram tomadas pelo Prefeito João Paulo, desde a<br />

municipalização do trânsito da Capital até maior rigor no controle da qualidade do<br />

transporte público convencional das empresas de ônibus. Tudo isso demonstra a<br />

competência administrativa e a responsabilidade para com questão fundamental,<br />

que é o trânsito, numa grande cidade como Recife.<br />

Para finalizar, Sr. Presidente, quero manifestar o pesar que toma conta do<br />

povo de Pernambuco. Na semana passada, perdemos 3 grandes pernambucanos<br />

que marcaram a vida política e intelectual do Estado. Eles partiram desta para uma<br />

melhor.<br />

Refiro-me ao cientista político Roberto Aguiar, que, apesar da adversidade<br />

que lhe impôs o destino — ele era deficiente visual —, foi um dos pernambucanos<br />

que mais conquistas obteve na carreira acadêmica. Foi doutor pela University<br />

College, de Londres, diretor da FACEPE e coordenador do Programa Nacional de<br />

Direitos Humanos. Foi um dos grandes intelectuais de Pernambuco.<br />

Deixo registrado o profundo pesar de todo o povo do meu Estado pelo<br />

desaparecimento do querido e saudoso Roberto Aguiar.<br />

Na mesma semana, Pernambuco perdeu 2 outros grandes pernambucanos.<br />

Um deles, ex-Senador da República, representante do Estado no Congresso<br />

Nacional, Antônio Bezerra Baltar.<br />

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Exemplo de engenheiro e homem público, vanguardeiro na questão do<br />

desenvolvimento urbano, também deixa incompletável lacuna no cenário político e<br />

intelectual do Estado.<br />

Finalmente, meu voto de pesar, que toma conta de todos nós,<br />

pernambucanos, pelo desaparecimento do Dr. Públio Calado, Deputado Constituinte<br />

de 1946, grande sacerdote da Igreja Católica e intelectual pernambucano que deixa<br />

profundas saudades. Públio Calado deixa filhos, como Carlos Calado, que tem<br />

honrado a militância do Partido dos Trabalhadores e a classe dos advogados<br />

pernambucanos na luta inesgotável pela justiça social e pela construção de novos<br />

tempos para Pernambuco e para o Brasil.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. OSVALDO REIS (PMDB-TO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Deputado Inocêncio Oliveira, Sras. e Srs. Deputados, novamente venho<br />

a esta tribuna manifestar meu apoio às propostas apresentadas nas reformas<br />

tributária e previdenciária, pois elas representam o desejo de retomada do<br />

crescimento do País, de geração de renda e de criação de novos postos de trabalho<br />

para toda a população.<br />

Em conjunto com meu partido, nossa postura é de independência quanto a<br />

alguns pontos que ainda se caracterizam como divergentes e em debate pela<br />

população brasileira.<br />

O Presidente Lula, eleito com expressivo apoio popular, visualiza a<br />

necessidade de o Brasil crescer. Sua intenção é a de promover a desconcentração<br />

de renda, a geração de empregos e a redução da miséria.<br />

Aprovar a reforma da Previdência é fundamental para a saúde do País.<br />

O financiamento, que está quase atingindo a proporção de um contribuinte<br />

para um beneficiário, ameaça implodir todo o sistema.<br />

A intenção do Poder Executivo de unificar a previdência do setor público e<br />

privado, adotar um teto para os proventos e instituir a previdência complementar é<br />

bastante clara — e essas medidas não mais podem ser prorrogadas.<br />

Nosso pensamento, entretanto, é contrário àqueles pontos que ferem o<br />

princípio do direito adquirido, pois é condição primordial para o cidadão a<br />

preservação do princípio universal, respeitado em todo o mundo.<br />

As dívidas milionárias que o Instituto Nacional de Seguridade Social — INSS<br />

não consegue receber, o pagamento de benefícios e as renúncias previdenciárias<br />

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fazem com que o Governo deixe de arrecadar, só no ano de 20<strong>03</strong>,<br />

aproximadamente 11,8 bilhões de reais. A proposta de reforma precisa canalizar sua<br />

atenção para esses casos.<br />

Os grandes devedores têm de pagar suas dívidas parra com a Previdência, e<br />

a cobrança deve ser mais eficaz; é preciso combater os sonegadores, criar um<br />

programa de inclusão dos 40 milhões de brasileiros que estão na informalidade e<br />

não contribuem para com o INSS.<br />

As renúncias previdenciárias, por exemplo, beneficiam alguns setores da<br />

sociedade: empregadores rurais, entidades filantrópicas, pequenas e<br />

microempresas, empregadores domésticos, clubes de futebol e empresas<br />

exportadoras.<br />

As entidades filantrópicas gozam do privilégio de total renúncia previdenciária,<br />

pois prestam serviços de assistência social. Essas instituições, portanto, não<br />

recolhem a contribuição patronal destinada à Previdência.<br />

Os outros setores mencionados recebem tratamento diferenciado: contam<br />

com alíquotas mais baixas.<br />

Os empregadores rurais podem contar ou se beneficiar 2 vezes com as<br />

renúncias, uma vez que esse tipo de empresa não contribui sobre a folha de<br />

pagamento, mas, sim, sobre o valor dos produtos comercializados.<br />

Empresas e pessoas físicas devem atualmente a exorbitante quantia de 611<br />

bilhões de reais em tributos que não foram recolhidos aos cofres da União. O<br />

Governo tem a total convicção de que nunca verá boa parte desse dinheiro, cuja<br />

recuperação é missão praticamente impossível.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Somente os débitos de impostos e contribuições administrados pela Receita<br />

Federal somam 458 bilhões de reais.<br />

Diante desses fatos, Sr. Presidente, é evidente a necessidade de que sejam<br />

criadas resoluções proibitivas para esses grandes devedores, no sentido de impedir<br />

que eles consigam rolar suas dívidas. É igualmente necessário estabelecer critérios<br />

jurídicos para impedi-los de adquirir novos financiamentos, evitar que obtenham<br />

benesses e outros privilégios, acabar, enfim com esse tratamento diferenciado,<br />

como se os grandes devedores fossem especiais, pois devem e não pagam,<br />

enquanto o contribuinte é acossado dia a dia com a exorbitante cobrança de<br />

impostos.<br />

É preciso cobrar desses devedores, não deixar brechas na lei para que,<br />

habilmente, eles possam vir a usufruir dos recursos de defesa para o não-<br />

pagamento de suas dívidas.<br />

Cobrar de quem deve e acabar com as renúncias previdenciárias é condição<br />

básica de sustentação para o controle da dívida previdenciária no Brasil, apesar de<br />

sabermos que apenas essas medidas não chegam a resolver o problema e não<br />

excluem a necessidade da reforma.<br />

Não é somente tarefa da Casa, mas missão de todos os Parlamentares<br />

ampliar o debate com a sociedade sobre os temas tratados, com a finalidade<br />

precípua de levar o Brasil a caminhar rumo ao progresso e proporcionar à população<br />

vida mais digna em todos os sentidos.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Antes de o próximo orador fazer<br />

uso da palavra, informo ao Plenário que o Pequeno Expediente se encerraria às<br />

15h. Os oradores do Grande Expediente são os Deputados que tiveram seus<br />

pronunciamentos transferidos para a tarde de hoje.<br />

Ainda falarão no Pequeno Expediente os Srs. Deputados Luiz Carlos Hauly,<br />

Eduardo Valverde e Luciana Genro. Os demais Parlamentares terão oportunidade<br />

de dar seus pronunciamentos como lidos.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado Luiz Carlos Hauly.<br />

O SR. LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, semana passada, o movimento dos funcionários<br />

públicos federais, estaduais e municipais tomou conta de Brasília. A discussão era<br />

sobre a reforma da Previdência, e, no plenário, sobre o aumento salarial de 1%,<br />

concedido pelo Governo do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.<br />

Estamos percebendo a enorme revolta dos funcionários públicos do País<br />

contra o Presidente Lula e o PT, o que não é bom.<br />

Ontem à noite, no Jornal Nacional, pude perceber a preocupação do<br />

Presidente Lula. Durante entrevista concedida em Pelotas, no Rio Grande do Sul,<br />

S.Exa. demonstrou enorme instabilidade emocional diante das responsabilidades.<br />

Hora é taxa de juros, outra, reforma da Previdência, reforma tributária, reforma<br />

política, ajustes das contas, compromissos do Governo, alto nível de desemprego,<br />

além das propostas que ainda não foram implementadas. S.Exa. não consegue<br />

conter o desemprego. Realmente, o Presidente da República não se encontra diante<br />

de uma boa situação e, como brasileiros, nós nos preocupamos também.<br />

Sou Deputado — hoje na Oposição — de postura firme e dura, e não poupo<br />

críticas quando precisam ser feitas. Quero demonstrar minha preocupação. Espero<br />

que S.Exa. retorne aos trilhos e coloque as coisas no eixo. Estamos aqui para<br />

contribuir com o País. Desejo, principalmente, a realização da reforma<br />

previdenciária, assim como o Brasil também, mas uma reforma que seja realizada<br />

dentro de um critério de justiça e que não fira direitos dos funcionários públicos.<br />

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Tenho uma proposta alternativa, completa e geradora de emprego e renda,<br />

infinitamente melhor que a proposta enviada pelo Governo e muito melhor do que a<br />

situação em que se encontra o sistema tributário brasileiro. É verdade que, nos<br />

últimos anos, nada foi feito.<br />

O que se fez foi agravar o sistema. E a situação proposta é de agravamento<br />

da situação também. Aliás, o Brasil não cresce de forma continuada e permanente,<br />

por várias razões. A principal delas é a questão tributária; a segunda, a taxa de<br />

juros; depois, o Custo Brasil.<br />

Sr. Presidente, o Brasil precisa realmente fazer uma reforma tributária. Não é<br />

somente o Presidente Lula que deseja essa reforma. S.Exa. vai ser beneficiário com<br />

o crescimento da economia do País. Se fizer a reforma tributária como estou<br />

propondo, fruto de estudo de muitos que passaram os últimos 15 anos neste<br />

Congresso Nacional, sempre ouvindo todos, faremos uma reforma tributária simples<br />

e colocaremos o Brasil bem próximo do sistema tributário americano e europeu. Aí,<br />

sim, o País vai crescer de forma sustentada. E o Governo Lula vai ser beneficiário,<br />

porque é ele que está no poder. A proposta que estamos fazendo para o Brasil visa<br />

à geração de empregos. Esta é a única saída para o Brasil. E com salário, com<br />

emprego, com riqueza, vêm mais impostos e aí a solução do problema social do<br />

País.<br />

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />

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A SRA. DRA. CLAIR (PT-PR. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputadas, quero parabenizar o Congresso Nacional, a<br />

Presidência desta Casa e o Colégio de Líderes pelo apoio à criação da Comissão<br />

Parlamentar de Inquérito destinada a apurar a remessa ilegal de divisas do País, em<br />

especial, os 30 bilhões desviados para o exterior entre os anos de 1996 e 1999, por<br />

meio do BANESTADO, antigo Banco do Estado do Paraná, privatizado em outubro<br />

de 2000.<br />

As irregularidades verificadas no mencionado caso são muitas. Estamos<br />

falando, repito, de cerca de 30 bilhões de dólares — possivelmente até mais —<br />

relativos à lavagem de dinheiro por meio de contas CC-5, de não-residentes no País,<br />

geralmente abertas em nome de casas de câmbio paraguaias. Após passarem pela<br />

fronteira brasileira, os recursos eram enviados para contas de doleiros abertas na<br />

agência do BANESTADO em Nova Iorque e distribuídos a outras contas existentes<br />

em paraísos fiscais. Essas contas podem ter ligações com narcotraficantes,<br />

contrabandistas e sonegadores de impostos.<br />

Esse tipo de conta costuma ter nome de fantasia ou pertencer a empresas<br />

com ações ao portador, sede virtual em paraísos fiscais e sem registros sobre seus<br />

proprietários — são as chamadas offshore —, o que deve ser apurado pelas<br />

autoridades e pelo Parlamento brasileiros.<br />

Há muitas investigações a serem feitas. Estamos tentando pôr o Brasil em um<br />

novo rumo, identificar e mostrar as irregularidades, para que elas não mais<br />

aconteçam. A violência hoje existente no País também é oriunda das operações que<br />

financiam o narcotráfico. De outro lado, se diminuirmos ainda que minimamente a<br />

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corrupção no Brasil, já estaremos dando grande passo rumo ao desenvolvimento do<br />

País e à melhora da vida da população, pois sobrará recursos para a educação, a<br />

saúde, a habitação.<br />

Nos últimos dias os jornais noticiaram que a direção do BANESTADO em<br />

Curitiba sabia das operações da agência de Nova Iorque. Um ex-gerente da agência<br />

de Nova Iorque afirmou que relatórios sobre as operações eram enviados<br />

diariamente para a sede do banco e que o pessoal que trabalhava nos Estados<br />

Unidos tinha total dependência operacional e administrativa da matriz. Há, porém,<br />

quem diga que o acompanhamento cotidiano da agência de Nova Iorque não existia.<br />

Essas contradições devem ser apuradas.<br />

Por isso a importância dessa CPI para ajudar a esclarecer os fatos e avaliar<br />

os prejuízos ocasionados ao país. Temos de dar uma satisfação à população acerca<br />

do que acontece no Brasil. Imaginem 30 bilhões de dólares investidos no Brasil em<br />

obras de grande alcance social, que resultado haveria para toda a sociedade!<br />

O Parlamento pode ajudar a realizar as investigações sobre a remessa ilegal<br />

de divisas do País e não deve ficar omisso diante desse fato de grande interesse<br />

social. Daí por que saúdo a independência do Presidente desta Casa, Deputado<br />

João Paulo Cunha.<br />

Desejo contribuir com meu trabalho para tal investigação e oferecer à<br />

sociedade e ao Governo medidas para punir os responsáveis, além de apresentar<br />

outras providências saneadoras para coibir a prática de atos que visem à remessa<br />

ilegal de divisas do País e, se possível, esclarecer o vínculo dessas operações<br />

financeiras com o narcotráfico.<br />

Muito obrigada, Sr. Presidente.<br />

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O SR. EDUARDO VALVERDE (PT-RO. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, comunico neste momento a provável tragédia<br />

que poderá ocorrer no sul da Bahia se for cumprida a ordem judicial dada pelo Juiz<br />

Federal Pedro Hollyday, que concedeu liminar à ação cautelar impetrada pelos<br />

pretensos proprietários de determinada localidade. Consoante laudo antropológico<br />

da FUNAI, aquelas terras são o local de origem dos povos pataxós.<br />

Tal imbróglio se dá em função de ação instaurada por fazendeiros há 20<br />

anos, que hoje se encontra parada no Supremo Tribunal Federal, na mão do<br />

Ministro Nelson Jobim, que protelou ainda mais a decisão que definiria se o laudo<br />

antropológico feito pela FUNAI estava correto.<br />

Pedimos à Polícia Federal que adie a execução da medida, para que o<br />

recurso impetrado pela Advocacia-Geral da União e pela FUNAI seja reavaliado pelo<br />

Supremo Tribunal Federal, que irá julgar se a decisão do juiz local está amparada<br />

pela lei.<br />

Apelo para a Polícia Federal no sentido de adiar o cumprimento da citada<br />

ordem judicial, a fim de que o Supremo Tribunal Federal avalie com cuidado os<br />

recursos impetrados pela AGU e de que seja recuperado o direito original do povo<br />

pataxó, que tem no sul da Bahia o seu lar e o seu hábitat natural.<br />

Sr. Presidente, repito: solicito ao Governo Federal, à Polícia Federal e ao<br />

Ministro da Justiça o adiamento da execução da liminar até que os recursos<br />

impetrados pela Advocacia-Geral da União sejam reavaliados, a fim de cassar de<br />

forma definitiva a liminar. Das 11 liminares concedidas pelo juiz local, 5 foram<br />

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cassadas, o que demonstra a precariedade da base legal de que aquele juiz tem-se<br />

valido para ordenar os despejos.<br />

Peço à Câmara dos Deputados que fique atenta ao fato, porque, se for<br />

cumprida a liminar da forma como está redigida, tal ação poderá resultar em morte<br />

sangrenta no sul da Bahia.<br />

Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a tolerância pelo tempo excedido, e peço a<br />

todos que compõem a Frente Parlamentar em Defesa da Causa Indígena que se<br />

mobilizem, para que não se pratique esse covarde ato, contrário aos interesses dos<br />

povos indígenas.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Esta Presidência informa que,<br />

entre a intervenção do primeiro orador do Grande Expediente, que vai viajar para<br />

seu Estado, fará um intervalo, a fim de passar a palavra, por 3 minutos, à Deputada<br />

Luciana Genro e aos Deputados Augusto Nardes, José Thomaz Nonô e Luiz Couto.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao Sr.<br />

Deputado Mauro Benevides.<br />

O SR. MAURO BENEVIDES (PMDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, uma das mais prósperas comunas da região do<br />

Cariri, a cidade Crato, iniciou o cumprimento de vasta programação para assinalar o<br />

transcurso dos 239 anos de sua criação, evento que merece o maior realce, uma<br />

vez que encarna luta permanente em favor do desenvolvimento socioeconômico do<br />

nosso Estado.<br />

A 540 quilômetros de nossa Capital, Crato tornou-se, pelo valor de sua gente,<br />

pólo de irradiação cultural do interior cearense, contribuindo, significativamente, para<br />

engrandecer o Nordeste, defendendo as nossas causas mais justas e legítimas.<br />

Como berço natal do Padre Cícero Romão Batista, aquela urbes é sede de<br />

uma diocese, integrante de nossa província eclesiástica, estando à frente de seus<br />

destinos Dom Fernando Panico, que antecedeu na Cúria prelados do porte de Dom<br />

Francisco de Assis Pires, Dom Vicente de Araújo Matos e Dom Newton Gurgel —<br />

todos com inestimáveis serviços prestados à coletividade cristã do vale caririense.<br />

Ressalte-se que ali a Universidade Regional do Cariri — URCA tornou-se<br />

esteio de nossa vida acadêmica, formando sucessivas gerações para enfrentar os<br />

desafios de um competitivo mercado de trabalho.<br />

Como chefe da municipalidade encontra-se o Prefeito Walter Peixoto,<br />

reconduzido ao cargo em razão do prestígio que desfruta entre os seus<br />

jurisdicionados.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Mais recuadamente, o gestor máximo daquela edilidade foi o competente<br />

médico Humberto Macário de Brito, transformado em autêntica legenda de dignidade<br />

e dinamismo, qualidades que pôs à mostra também no plano estadual, quando da<br />

profícua administração do saudoso Governador Virgílio Távora, exercendo funções<br />

de inquestionável relevo.<br />

Durante a última campanha eleitoral, participei de comícios e reuniões ao lado<br />

de Humberto Macário e de seu filho George, que desponta com amplas<br />

possibilidades de manter íntegra a imagem de seu pai, aureolada por notáveis<br />

empreendimentos em favor do povo cratense.<br />

As várias emissoras sediadas naquela urbes estão divulgando a extensa<br />

programação dos 239º aniversário, motivando todos os segmentos sociais para<br />

abrilhantarem as inúmeras promoções, ontem principiados numa concorrida sessão<br />

no Palácio Alexandre Arrais, sede da Prefeitura local.<br />

No próximo sábado, data exata da auspiciosa efeméride, as comemorações<br />

assumirão maior dimensão e abrangência, com presença das mais expressivas<br />

lideranças políticas, empresariais e comunitárias.<br />

Saúdo, Sr. Presidente, o 239º aniversário de Crato, homenageando todos<br />

quantos, ao longo destes mais de 2 séculos, construíram a grandeza de um dos<br />

mais tradicionais Municípios do Ceará, que soube se impor à admiração e ao<br />

respeito de todos os nossos irmãos do Nordeste.<br />

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O SR. WASHINGTON LUIZ (PT-MA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, estou confiante e acredito na capacidade do Governo Lula para virar a<br />

triste página das obras inacabadas que marcaram os governos anteriores.<br />

Refiro-me, Sr. Presidente, a um projeto de fundamental importância para o<br />

combate à fome e às desigualdades no Brasil, em especial no Maranhão, na região<br />

do Baixo Parnaíba, em que são registrados graves indicadores de pobreza.<br />

Participei, na semana passada, do seminário Projeto Tabuleiro:<br />

desenvolvimento ou desesperança, realizado no Município de Magalhães de<br />

Almeida, à beira do Rio Parnaíba, que nos avizinha do Estado do Piauí.<br />

O evento teve a participação do Poder Público Municipal e Estadual (através<br />

da Gerência Regional), de representantes de trabalhadores rurais, de associações e<br />

da Cáritas Brasileira para avaliar a situação do Projeto de Irrigação Tabuleiros de<br />

São Bernardo, localizado nos Municípios de Magalhães de Almeida e Araioses.<br />

O foco do projeto é a produção de frutas e hortaliças pelo sistema de irrigação<br />

em uma área de 25 mil hectares, com capacidade de geração de 13.980 empregos<br />

diretos e benefícios indiretos a 55.300 habitantes dos Municípios envolvidos,<br />

podendo viabilizar renda mensal familiar de até 5 salários mínimos.<br />

E quero registrar, Sr. Presidente, que o referido projeto está situado na área<br />

de abrangência do Município de Araioses, onde é registrado um dos piores quadros<br />

de pobreza do Brasil. O Município de Araioses, no Maranhão, Sr. Presidente, Sras. e<br />

Srs. Deputados, tem um Índice de Desenvolvimento Humano — IDH de 0,486.<br />

Ocorre, Sr. Presidente, que o Projeto Tabuleiros foi iniciado desde 1987, pelo<br />

extinto Ministério da Irrigação. Até 1999 foram empregados recursos da União na<br />

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ordem de R$ 30.019.828,00 (trinta milhões, dezenove mil, oitocentos e vinte e oito<br />

reais) que correspondem a 47% das obras. E para desesperança das organizações<br />

que compõem o projeto, as obras estão paralisadas desde 1999 e vêm sendo<br />

“empurradas” de Ministério a Ministério sem que haja qualquer solução para o<br />

problema.<br />

O descaso e a irresponsabilidade do Governo anterior, em duas gestões,<br />

levaram à desesperança milhares de famílias de uma das regiões mais pobres do<br />

País, fato denunciado pela mídia nacional como mais um capítulo nefasto das obras<br />

inacabadas.<br />

Agora, Sr. Presidente, é reacesa a chama da esperança da organização dos<br />

produtores responsável pela administração, operação e manutenção do projeto<br />

Tabuleiros de São Bernardo.<br />

É com esta motivação que venho à tribuna trazer as reivindicações dos<br />

companheiros de Magalhães de Almeida, de Araioses, de São Bernardo e de toda a<br />

região do Baixo Parnaíba, somando esforços às organizações sindicais, à Cáritas no<br />

Maranhão e a todos os segmentos interessados em revitalizar o Projeto Tabuleiros,<br />

que objetiva fornecer plena capacidade produtiva à área de 25 mil hectares voltada<br />

para a cultura de frutas e hortaliças.<br />

Destaco que apesar de todas as dificuldades, mesmo sem o sistema de<br />

irrigação, os agricultores do projeto têm cultivado em condição de sequeiro, em<br />

média, 250 hectares por ano.<br />

Mas isso é insignificante diante da magnitude da área de 25 mil hectares e da<br />

capacidade produtiva do projeto.<br />

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A região dispõe de todas as condições para alavancar a produção de frutas e<br />

hortaliças em grande escala, atendendo, num primeiro momento, à demanda do<br />

Programa Fome Zero.<br />

Mas a produção deve ser voltada também para o mercado externo, nacional e<br />

internacional, inserindo o Maranhão no contexto do agronegócio de fruticultura<br />

irrigada.<br />

Beneficiada pela proximidade da fonte hídrica do Rio Parnaíba, a área é<br />

perfeitamente adequada para o cultivo a que se propõe.<br />

Sras. e Srs. Deputados, hoje grande parte das frutas e hortaliças<br />

comercializadas no Maranhão são oriundas de outros Estados, enquanto<br />

desperdiçamos enorme potencial produtivo.<br />

Além disso, Sr. Presidente, o Projeto Tabuleiros de São Bernardo pressupõe<br />

um modelo de desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente correto,<br />

diferentemente da monocultura de soja que está causando sérios impactos<br />

ambientais na região do Baixo Parnaíba.<br />

O que falta, Sr. Presidente, para que o Projeto Tabuleiros possa produzir?<br />

Ao contrário dos governos anteriores, em que faltava vontade política, no<br />

Governo Lula percebemos grande motivação para incentivar a agricultura familiar e<br />

os pequenos proprietários, bem como parcerias com o setor empresarial produtivo.<br />

É por isso que trago a esta tribuna o pleito dos gestores do Projeto<br />

Tabuleiros, para que seja feita a regularização fundiária, com a titulação dos lotes<br />

aos irrigantes; que sejam criadas as condições para proporcionar assistência técnica<br />

e qualificação dos envolvidos no projeto; que possamos, através do Governo<br />

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Federal, alocar os recursos necessários à segunda etapa do projeto, através do<br />

Banco do Brasil e do Banco do Nordeste, principais agentes financeiros do Projeto<br />

Tabuleiros.<br />

Assim, o Governo Federal, em parceria com os gestores locais, vai possibilitar<br />

a infra-estrutura necessária para a revitalização dessa iniciativa tão importante para<br />

o combate à fome e para a geração de negócios para o Maranhão.<br />

Faço esse pleito para que o Governo Lula, que tem sido tão sensível e<br />

atuante em relação à produção agrícola, revitalize o Projeto Tabuleiros de São<br />

Bernardo. Assim, estaremos transformando desesperança em desenvolvimento!<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. ANTONIO NOGUEIRA (PT-AP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a atitude do Conselho de Ensino, Pesquisa e<br />

Extensão da UnB, ao aprovar a adoção de cotas para negros, é uma das mais<br />

louváveis decisões para o mundo acadêmico. A medida coloca a UnB como a<br />

primeira universidade federal do Brasil a adotar o sistema de cotas para negros.<br />

Assim, a Universidade de Brasília, tal como as universidades estaduais da<br />

Bahia e do Rio de Janeiro, a partir do vestibular de 2004, estará aplicando a<br />

experiência notável de procurar-se corrigir uma das maiores disparidades existentes<br />

no contexto nacional, a quase absoluta exclusão de negros nas universidades, onde<br />

essa representação é de apenas 3%.<br />

A discriminação racial no nosso País tem marcas deixadas por cerca de 300<br />

anos de escravidão negra mediante um esquema de tráfico de seres humanos, um<br />

mecanismo de abolição da escravatura sem levar em conta a necessidade da<br />

instituição de medidas reparadoras das injustiças cometidas, como a lei de terras de<br />

<strong>18</strong>50, que impedia o acesso dos negros a terra.<br />

No campo penal, até 1989 o crime de racismo era tipificado apenas como<br />

uma contravenção. Graças a Deus, demos um passo importante, mudando a<br />

legislação e qualificando-o como crime inafiançável e imprescritível, e quem o<br />

comete fica sujeito à pena de reclusão.<br />

E isso se deve especialmente ao grande trabalho de conscientização<br />

realizado pelos movimentos negros ao longo dos anos — de denúncia e de<br />

propostas. Agora se colhem lentamente, mas com firmeza, os resultados positivos<br />

da tarefa.<br />

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E daí, Sr. Presidente, nobres pares, a existência da Fundação Palmares, os<br />

Programas de Ação Afirmativa dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário, da<br />

Justiça, da Cultura, do Supremo Tribunal Federal — STF e do Tribunal Superior do<br />

Trabalho — TST, além da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial e a<br />

atitude do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nomear o magistrado Joaquim<br />

Benedito Barbosa Gomes, um negro, para ocupar uma das cadeiras na Suprema<br />

Corte do País.<br />

Finalizo, Sr. Presidente, dizendo que levo a decisão da UnB para apreciação<br />

da Universidade Federal do Amapá — UNIFAP e farei de tudo para convencê-los<br />

que é de extrema importância tomar tal medida.<br />

Porém, faço a seguinte ressalva: garantir o acesso dos negros é o primeiro<br />

passo, mas assegurar-lhes a permanência e o sucesso é o desafio seguinte.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ZÉ LIMA (PP-PA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, tenho examinado com atenção os diversos dispositivos da<br />

Proposta de Emenda à Constituição nº 41, de 20<strong>03</strong>, que busca alterar o Sistema<br />

Tributário Nacional, consubstanciando a chamada reforma tributária.<br />

Há muitos pontos inseridos no texto encaminhado pelo Poder Executivo que<br />

precisam ser modificados e aperfeiçoados, sob pena de termos um resultado<br />

bastante desfavorável em relação aos seus objetivos e que trarão mais problemas a<br />

Estados e Municípios, com isso comprometendo o próprio equilíbrio do sistema<br />

federativo.<br />

É fundamental que o Parlamento brasileiro, que debateu durante muitos anos<br />

a proposta anterior de reformulação do Sistema Tributário, encaminhada pelo Poder<br />

Executivo em 1995, sem que houvesse a deliberação sobre a matéria, realize agora<br />

um trabalho voltado para atender às justas reivindicações e necessidades de<br />

Estados e Municípios.<br />

Hoje analiso uma questão de grande interesse para os Municípios do sul do<br />

Pará, bem como de outros localizados próximos de usinas hidrelétricas. O texto<br />

constitucional vigente e a Proposta de Emenda nº 41, de 20<strong>03</strong>, provocam imensos<br />

prejuízos aos Municípios detentores de áreas alagadas com a construção de uma<br />

hidrelétrica. A razão é bastante simples: ao se estabelecer o valor agregado para a<br />

incidência do ICMS relativamente à energia gerada pelas usinas hidrelétricas, só se<br />

leva em conta o valor do processo operacional de geração daquela energia, não se<br />

considerando a participação dos demais Municípios na realização do<br />

empreendimento.<br />

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Ora, Sr. Presidente, os Municípios com terras alagadas a partir da construção<br />

da barragem necessária ao funcionamento da usina concedem uma grande<br />

participação para os resultados daquele investimento. E ao não receberem a devida<br />

retribuição acabam suportando um ônus por demais injusto, pois deixam de utilizar<br />

terras férteis que poderiam produzir cada vez mais, graças aos avanços<br />

tecnológicos hoje à disposição da agropecuária.<br />

O exemplo da Usina de Tucuruí, no meu Estado, o Pará, é bastante<br />

significativo. Vários Municípios estão nessa situação, com extensas áreas de suas<br />

terras alagadas desde a realização das obras. Novo Repartimento, do qual fui<br />

Prefeito, com muita honra, e sou representante nesta Casa, possui mais de 44% da<br />

área total alagada com a execução do projeto da hidrelétrica. E há outros<br />

Municípios, embora com participação menor na constituição da barragem, como<br />

Breu Branco, Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá e Nova Ipixuna.<br />

No entanto, de acordo com a legislação atual, somente a Tucuruí, que dispõe<br />

de 17,2% da área total alagada, é distribuído o retorno correspondente ao ICMS da<br />

energia produzida na região, exatamente por ser o Município sede da respectiva<br />

usina.<br />

Tal injustiça precisa ser reparada, pois Novo Repartimento e os demais<br />

Municípios que mencionei merecem receber parcelas relativas ao ICMS de forma<br />

compatível com a sua participação na viabilização daquela hidrelétrica. Seria até<br />

ocioso enfatizar que, sem o uso das terras dos referidos Municípios, não haveria<br />

como se realizar esse grande projeto de geração de energia em Tucuruí, que tanto<br />

tem beneficiado o Norte e as demais regiões do País.<br />

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O ilustre Deputado Mussa Demes, então Relator da PEC nº 175, de 1995, que<br />

estabelecia a reforma tributária e recentemente retirada pelo Poder Executivo,<br />

concluíra em seu parecer por uma emenda que resolvesse a pendência ainda<br />

vigente, de modo que os Municípios integrantes do complexo gerador da usina, e<br />

não apenas o de sua sede, passariam a receber parcelas do ICMS incidente sobre a<br />

energia ali produzida.<br />

Estou muito esperançoso diante do compromisso firmado pelo Deputado<br />

Mussa Demes, agora Presidente da Comissão Especial que analisa a reforma<br />

tributária nos termos da PEC nº 41, de 20<strong>03</strong>, e também pelo atual Relator da<br />

matéria, Deputado Virgílio Guimarães, que deverá propor em seu parecer, a ser<br />

apresentado nos próximos dias, a necessária emenda ao texto original.<br />

Estou certo de que essa luta, pela qual tenho-me empenhado na defesa de<br />

Novo Repartimento e de todos os Municípios do sul do Pará, incluindo-se<br />

obviamente Tucuruí, haverá de ser vitoriosa nesta Casa e, depois, no Senado<br />

Federal, por expressar isonomia e justiça para com aquelas comunidades que não<br />

estão recebendo o que deveriam pelo muito que contribuem para a geração de<br />

energia elétrica à região e ao País.<br />

Sr. Presidente, gostaria que fosse autorizada a divulgação deste<br />

pronunciamento no programa A Voz do Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em belíssimo e importante artigo, publicado no<br />

jornal Folha de S. Paulo, em 15 de junho próximo, o teólogo e escritor Leonardo Boff<br />

alertou para a grave crise de valores com o conseqüente obscurecimento do<br />

horizonte ético que acomete a contemporaneidade.<br />

No fundo, diz que o obscurecimento do horizonte ético provoca “uma<br />

insegurança muito grande na vida e uma permanente tensão nas relações sociais,<br />

agravada pela lógica dominante da economia e do mercado, que se rege pela<br />

competição, e não pela cooperação...”.<br />

Serve a lição do Mestre Boff, entre outras tantas finalidades, para refletirmos<br />

sobre a condição dos idosos, sobretudo os idosos pobres e os desassistidos neste<br />

nosso imenso e contrastante Brasil.<br />

Em muitas das vezes, idosos são aqueles esquecidos pelos filhos, netos,<br />

Estado, direito etc. Isolados são os muitos que, anos a fio, labutaram pela<br />

sobrevivência sua e dos que os têm em abandono e esquecimento. Idosos são<br />

aqueles tantos — meras estatísticas!! — no limiar desta existência.<br />

Em que pese essa realidade cruel, é de se considerar as iniciativas dos<br />

movimentos de terceira e/ou melhor idade, que, mesmo com as adversidades e as<br />

indiferenças, vêm atuando no sentido de pautar uma agenda que coloque na ordem<br />

do dia as reivindicações desses milhões de brasileiros.<br />

Entre tantas aspirações legítimas e fundamentais, exigem os idosos que, de<br />

imediato, seja instalado o Conselho Nacional do Idoso, conforme previsto na Lei nº<br />

8.842, de 1994, e que, como tal, seja acolhido institucionalmente pela Secretaria<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Nacional dos Direitos Humanos. Outra demanda não menos importante refere-se à<br />

exigência de aprovação urgente e na íntegra do Projeto de Lei nº 3.561, de 1997,<br />

que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.<br />

Tais providências ensejariam uma mudança qualitativa na relação do Estado<br />

e da sociedade para com as gerações atuais e futuras de idosos da nossa Pátria.<br />

Volto ao artigo de Leonardo Boff, que, coincidentemente, se intitula Como<br />

fundar a ética hoje?, para conclamar esta Câmara dos Deputados a cumprir sua<br />

obrigação ética de criar as condições para a estruturação de “valores fundamentais<br />

ligados à vida, ao seu cuidado, ao trabalho, às relações cooperativas e à cultura da<br />

não violência e pela paz”.<br />

Por isso, urge apressarmos as providências formais para assegurar as<br />

condições legítimas e inadiáveis, no sentido de proporcionar dignidade aos nossos<br />

irmãos brasileiros idosos.<br />

Finalmente, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, invoco vossas<br />

respeitosas atenção e sensibilidade para citar trecho de uma reflexão da atual<br />

Campanha da Fraternidade, da CNBB, cujo tema é Fraternidade e Pessoas Idosas:<br />

“Se meu andar é hesitante e minhas mãos<br />

trêmulas, ampara-me.<br />

Se minha audição não é boa e tenho de me<br />

esforçar para ouvir o que você está dizendo, procure<br />

entender-me.<br />

Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento<br />

escasso, ajuda-me com paciência.<br />

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Se minha mão treme e derrubo comida na mesa ou<br />

no chão, por favor, não se irrite, tentei fazer o que pude.<br />

Se você me encontrar na rua, não faça de conta<br />

que não me viu. Pare para conversar comigo. Sinto-me<br />

só.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Se você, na sua sensibilidade, me vir triste e só,<br />

simplesmente partilhe comigo um sorriso e seja solidário.<br />

Se lhe contei pela terceira vez a mesma história<br />

num só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me.<br />

carinho.<br />

abandone.<br />

Se me comporto como criança, cerque-me de<br />

Se estou doente e sendo um peso, não me<br />

Se estou com medo da morte e tento negá-la, por<br />

favor, ajude-me na preparação para o adeus.<br />

Todos nós, sejamos jovens ou crianças, um dia<br />

seremos idosos e daí poderemos colher os frutos<br />

plantados com nossas atitudes com os idosos de hoje.<br />

Que Deus nos conceda o dom da solidariedade e<br />

fraternidade”.<br />

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O SR. GUILHERME MENEZES (PT-BA. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o meu pronunciamento reforça o discurso do<br />

Deputado Valverde com relação aos índios no sul da Bahia, que durante anos vêm<br />

sofrendo humilhações, assassinatos, espancamentos e, entre liminares e agravos,<br />

perseguições.<br />

Sr. Presidente, incorporo ao meu pronunciamento relação de medidas que<br />

serão tomadas a partir de reunião realizada hoje no Ministério da Justiça, a nós<br />

enviada pelo Sr. Cláudio Mourão.<br />

Outra vez os índios pataxós hã-hã-hãe, em Pau Brasil, sul da Bahia, estão<br />

ameaçados de ser retirados de terras que lhes pertencem como ocupantes<br />

primordiais. Mais uma vez ocorreu uma decisão de reintegração de posse de<br />

membros do Judiciário do sul da Bahia que não aceitam os índios como donos<br />

legítimos de terras que sempre ocuparam e das quais foram retirados por meio de<br />

pressões, espancamentos e mortes. Aquela nação indígena já perdeu 16 lideranças,<br />

assassinadas nos últimos anos.<br />

A Polícia Militar de Itabuna, tendo como comandante da operação um militar<br />

sabidamente truculento e inimigo dos índios, foi chamada para a desocupação, o<br />

que poderia levar a uma chacina. Felizmente, a Polícia Federal foi chamada para<br />

substituir a PM baiana, mas não é a solução para a questão.<br />

Os invasores das terras dos pataxós são fazendeiros poderosos do sul da<br />

Bahia, cujos jagunços, apesar das comprovadas violências contra os índios, nunca<br />

foram punidos, pois membros da polícia baiana e representantes do Judiciário da<br />

região são claramente favoráveis aos fazendeiros.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

A decisão final sobre a luta permanente dos pataxós está para julgamento no<br />

STF. Enquanto isso, a esperança é de que os magistrados do STJ e do TRF em<br />

Brasília derrubem as seguidas liminares que juízes do sul da Bahia concedem aos<br />

fazendeiros invasores e agressores.<br />

Obrigado, Sr. Presidente.<br />

RELAÇÃO A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINA 767)<br />

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O SR. PAULO BALTAZAR (PSB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, segundo estudos do Instituto Brasileiro de<br />

Planejamento Tributário — IBPT, hoje o brasileiro precisa trabalhar, no mínimo, duas<br />

vezes mais do que na década de 70, para honrar os seus compromissos com o<br />

Fisco.<br />

Os 2 meses e 16 dias de salário que o contribuinte gastava nos anos 70 para<br />

quitar os tributos se transformaram, no ano de 2002, em 4 meses e 13 dias. Nesse<br />

período, a carga tributária, em relação ao Produto Interno Bruto, avançou 68%, de<br />

20,89% foi para 35,07%.<br />

Essa é a herança que o Governo do Presidente Lula recebeu do Governo<br />

neoliberal de FHC, que se preocupou muito mais em arrecadar do que em gerar<br />

emprego e reduzir os índices de exclusão social, altíssimos no Brasil.<br />

O pior, Sr. Presidente, é que o aumento de arrecadação não se refletiu na<br />

melhoria dos serviços públicos, que continuam precários, segundo conclusão do<br />

próprio IBPT. Como resultado disso, Sras. e Srs. Deputados, além dos tributos, a<br />

renda do trabalhador está sendo achatada pela aquisição de serviços de saúde,<br />

segurança, previdência privada e educação, uma vez que as opções oferecidas pelo<br />

Estado não satisfazem as necessidades das famílias brasileiras.<br />

Segundo o resultado da pesquisa feita pelo IBPT, uma família de classe<br />

média, com salário mensal de 5 mil reais e 2 filhos, gasta 63% de sua renda com<br />

tributos e serviços que o Governo deveria oferecer, com qualidade, para a<br />

população. Dos 5 mil reais mensais, cerca de 300 reais vão para os planos de<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

saúde, mil reais para educação e 150 reais para segurança, o que significa que as<br />

famílias brasileiras estão cada vez mais reféns do Fisco.<br />

Temos, Sr. Presidente, uma das tributações mais pesadas do mundo, porque<br />

além dos 133 dias para pagar os impostos, o trabalhador gasta mais 98 dias do ano<br />

para ter acesso a serviços de qualidade no País. Na década de 70, esse tempo era<br />

quase 4 vezes menor: 25 dias. No total, o contribuinte de classe média gasta 231<br />

dias para pagar impostos e serviços.<br />

O grande desafio do atual Governo é desonerar a produção e as exportações<br />

e livrar a classe média da pesadíssima carga tributária que foi colocada sobre seus<br />

ombros ao longo dos últimos anos.<br />

A proposta de reforma tributária já está no Congresso e será objeto de<br />

discussão e votação nesta Casa. Não podemos permitir que a carga tributária seja<br />

aumentada, mas trabalhar com determinação e prudência para que, a curto e médio<br />

prazos, ela possa ser aliviada, e assim possamos gerar mais empregos, produzir e<br />

exportar mais e tirar esse peso insuportável dos ombros da classe média, que<br />

sempre paga a conta, como se fosse a única responsável por todas as crises e<br />

déficits da economia nacional.<br />

Acreditamos no Governo do Presidente Lula e temos a certeza de que, ao<br />

final do seu mandato, teremos um cenário totalmente diferente do atual e um País<br />

mais justo, com uma legislação tributária menos confiscatória e mais equilibrada.<br />

Quero ainda abordar outro assunto, Sr. Presidente.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O jornal O Globo, edição do dia 13 último, divulgou uma síntese elaborada<br />

pelo IBGE sobre os indicadores sociais de 2002, mostrando, mais uma vez, o perfil<br />

da discriminação no nosso País.<br />

Segundo o IBGE, negros e pardos com 12 anos ou mais de estudo ganham<br />

70% do salário dos brancos com igual nível de instrução. Essa diferença é ainda<br />

maior nas Regiões Metropolitanas de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e<br />

Curitiba.<br />

Essa é uma das faces da violência com que temos de conviver diariamente,<br />

com o constante agravamento da desigualdade e a marginalização de milhões de<br />

brasileiros.<br />

Não basta aumentar o número de anos de estudo, segundo um dos<br />

responsáveis pela pesquisa, porque a discriminação é mais forte. As desigualdades<br />

se mantêm mesmo ao se igualarem as condições básicas das pessoas.<br />

Somos oriundos do cruzamento de várias raças, principalmente de negros e<br />

índios, e não se explica e muito menos se justifica toda essa discriminação e<br />

preconceito.<br />

Persiste, Sr. Presidente, a desigualdade entre homens e mulheres. E,<br />

também nessa relação, o estudo só verificou o aumento da distância de renda entre<br />

os dois gêneros. A diferença salarial está presente em todas as faixas de instrução,<br />

mas os indicadores sociais de 2002 mostram que as mulheres que conseguiram<br />

chegar à universidade ganham 51,7% do que ganha um homem com a mesma<br />

instrução e que mais de 70% das trabalhadoras ganham até 2 salários mínimos.<br />

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Precisamos continuar a nossa luta para reverter esses indicadores e<br />

promover a igualdade de raça e de sexo, fazendo com que todos os brasileiros<br />

sejam tratados igualmente, sem qualquer tipo de discriminação.<br />

O Poder Executivo e o Congresso Nacional têm grande responsabilidade<br />

diante desse quadro. Precisamos encerrar esta Legislatura com índices sociais bem<br />

menos cruéis, para sentirmos que valeu a pena a nossa luta.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. JOÃO TOTA (PP-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, o assunto que me traz a esta tribuna tem extrema<br />

importância para o bem-estar do homem: a pesquisa científica para o<br />

desenvolvimento da agricultura, que traz enormes benefícios para a humanidade em<br />

virtude do aumento da produção e o conseqüente combate à desnutrição.<br />

Numa época em que o Programa Fome Zero ganha as ruas, mobiliza a<br />

população e as instituições organizadas da sociedade, conquistando respaldo e<br />

apoio para o extermínio de um flagelo que afronta a cidadania nacional, nada mais<br />

oportuno que discutir tema que provoca os mais acalorados debates, com<br />

argumentos que precisam ser considerados dentro de parâmetros sérios e sob ótica<br />

estritamente científica. Refiro-me especificamente aos transgênicos, que possuem<br />

influência direta no meio ambiente e na saúde pública.<br />

Convém lembrar primeiramente que foi a utilização da biotecnologia a grande<br />

responsável pela safra recorde de soja nos campos gaúchos de mais de 9,1 milhões<br />

de toneladas. Quem plantou sementes transgênicas teve um aumento da<br />

produtividade de 15% a 20% em comparação aos produtores da soja convencional.<br />

É evidente que o clima auxiliou a conquista dessa safra modelo em todos os<br />

sentidos, mas é indiscutível que o uso de OGMs (Organismos Geneticamente<br />

Modificados) foi um verdadeiro divisor de águas para o campo, num dos locais onde<br />

a agricultura é sinônimo de pleno emprego, renda e circulação de riquezas.<br />

É válido ressaltar que atualmente é no campo onde o País vem colhendo os<br />

melhores frutos da economia, já que o chamado agronegócio garante a fixação do<br />

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homem na área rural, freando um êxodo que já faz parte da História brasileira e<br />

incha a periferia dos centros urbanos.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a utilização de transgênicos veio<br />

ainda contribuir para uma redução de cerca de 50% no uso de agrotóxicos, dado<br />

que reforça a conveniência desse tipo de produto, uma vez que evita em grande<br />

escala a utilização de químicas que podem ser absolutamente prejudiciais tanto para<br />

o solo como para o próprio organismo humano, perigo confesso para o meio<br />

ambiente e para a saúde da população.<br />

A soja transgênica carrega genes resistentes a alguns tipos de herbicidas e<br />

traz ainda a vantagem do uso de defensivos agrícolas biodegradáveis. Como é<br />

visível, além dos benefícios econômicos, as vantagens ambientais são indiscutíveis<br />

num mundo que cada vez mais se preocupa com o ecossistema, adequado manejo<br />

ambiental e equilíbrio ecológico. É fundamental enfatizar esse detalhe nas<br />

ponderações acerca da utilização dos transgênicos, pois a realidade palpável aponta<br />

uma série de condições favoráveis ao uso dos OGMs.<br />

Num gesto de extremo bom senso o Governo Federal, por meio de medida<br />

provisória, liberou a comercialização, até março de 2004, da soja transgênica<br />

plantada ilegalmente ano passado e elaborou projeto de lei, a tramitar em regime de<br />

urgência, que estabelece linhas mestras em relação ao plantio de espécies que<br />

contenham OGMs. Foi mantida, contudo a proibição do plantio de qualquer semente<br />

transgênica. É preciso dizer que algumas das variedades dessas sementes foram<br />

objeto de estudo e classificação da EMBRAPA, que utilizou seus melhores técnicos<br />

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e conhecimento científico para atingir excelência reconhecida mundialmente nesse<br />

setor.<br />

Além disso, é absolutamente indispensável que sejam oferecidas provas<br />

científicas irrefutáveis dos malefícios que o uso dos transgênicos possa representar<br />

para o ser humano, o que decididamente não ocorreu.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os defensores da utilização dos<br />

OGMs vão além: asseguram que os europeus devem mudar, a curto prazo, sua<br />

política agrícola. Hoje, apesar de a agricultura dos transgênicos estar suspensa na<br />

União Européia, o consumo destes alimentos é livre desde que apresentem no rótulo<br />

as especificações exigidas por lei. Quando ocorrer, no entanto, a mudança de<br />

posição e houver a abertura para os transgênicos em larga escala, o Brasil deverá<br />

estar preparado para assumir mercado de enormes proporções, ou simplesmente<br />

será ultrapassado pela concorrência argentina e norte-americana, que já aumentou<br />

suas exportações para a região em 50% ano passado. Ou, ainda pior, os<br />

agricultores brasileiros verão os próprios europeus plantando suas sementes<br />

modificadas.<br />

Por outro lado, existe forte e mobilizado grupo que defende o cultivo de<br />

sementes convencionais ou orgânicas para a produção de alimentos com<br />

segurança. Nota-se também a ação de movimentos sociais do meio rural e até<br />

Igrejas preocupadas com a saúde dos consumidores e com a ética na manipulação<br />

genética de seres vivos. Advogam até mesmo a soberania nacional para a produção<br />

de alimentos naturais sem qualquer interferência artificial ou manipulada.<br />

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Frente a posições tão díspares e visivelmente conflitantes, estimulado pelo<br />

meio político e pelo próprio Governo Federal, resta ao País a realização de debate<br />

amplo, aberto e democrático, para que o meio rural possa se definir em relação à<br />

conveniência ou não da quebra da proibição do plantio das sementes geneticamente<br />

modificadas. Sem esquecer que, à frente do Ministério do Meio Ambiente, hoje o<br />

Governo conta com uma mulher, a Senadora Marina Silva, que sempre estimulou a<br />

discussão e a troca de idéias e se curvou frente à decisão da maioria, democrata<br />

convicta que é.<br />

Nada mais oportuno nesse caso, portanto, que um grande debate nacional<br />

que venha a traçar rumos definitivos e benéficos para o País no que tange aos<br />

transgênicos.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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O SR. FERNANDO GONÇALVES (PTB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.)<br />

- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Governo do Rio de Janeiro está<br />

propondo uma lamentável alteração na Constituição Estadual, visando reduzir<br />

significativamente os recursos destinados à preservação do meio ambiente.<br />

É por demais preocupante tal proposta, Sr. Presidente, pois que o Estado<br />

vem sofrendo repetidas ações que atentam contra o meio ambiente, o que só pode<br />

ser evitado mediante um forte programa apoiado por recursos do Fundo de<br />

Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano previsto em nossa Constituição.<br />

A intenção da Governadora Rosinha Matheus, ao encaminhar a proposição à<br />

Assembléia Legislativa, é reduzir de 20% para 5% o total de recursos repassados<br />

àquele fundo, com base nos valores recebidos pelo Estado a título de royalties do<br />

petróleo.<br />

Ora, Sr. Presidente, trata-se de uma decisão muito grave da Governadora,<br />

pois, conforme eu mesmo apontei, em recente pronunciamento nesta tribuna, por<br />

ocasião do Dia do Meio Ambiente, é preciso intensificar o controle ambiental em<br />

nosso Estado, onde são muitas as formas de degradação ecológica, seja na Mata<br />

Atlântica, seja na Baía da Guanabara, como ainda na Lagoa Rodrigo de Freitas, em<br />

rios e ao longo do litoral fluminense.<br />

Sabemos todos das dificuldades financeiras por que passa o Estado do Rio<br />

de Janeiro, cuja administração enfrenta sérios problemas de caixa para cumprir<br />

compromissos correntes e inadiáveis. Mas não se pode conceber como solução a<br />

alternativa agora colocada pelo Governo do Estado, retirando recursos de área tão<br />

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importante como a preservação ambiental para serem utilizados na cobertura do<br />

déficit do Tesouro estadual.<br />

Uma das conseqüências inevitáveis, caso seja aprovada a emenda à<br />

Constituição do Rio de Janeiro, é a paralisação das obras do Emissário da Barra,<br />

orçadas em 70 milhões na primeira etapa e em 190 milhões de reais na segunda<br />

fase, com sérios prejuízos para o Estado, em face da necessidade de se fazer o<br />

devido saneamento naquela área — portanto, com risco de comprometimento da<br />

qualidade de vida da população.<br />

As obras de conservação do meio ambiente, Sr. Presidente, possuem como<br />

fonte de custeio apenas as verbas oriundas do referido Fundo, criado em 1986 e<br />

incluído na Constituição estadual em 1989. Assim sendo, faço um veemente apelo à<br />

consciência dos Deputados da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, no sentido<br />

de que não aprovem a proposta de redução dos recursos do Fundo Estadual de<br />

Conservação Ambiental — FECAM, medida que representaria um grande retrocesso<br />

nessa área tão importante para o futuro do nosso Estado.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. JOSÉ RAJÃO (PSDB-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, tomei conhecimento de que foram estendidos<br />

aos ex-servidores militares e Corpo de Bombeiros dos ex-Territórios do Amapá e de<br />

Roraima o reajuste de 3,5%, concedido aos servidores públicos federais, e o<br />

percentual de 3,17%, de que trata o art. 8º da Medida Provisória n.º 2.225-45, de 4<br />

de setembro de 2001. Esses reajustes são percebidos desde janeiro de 2002.<br />

Ouvidas nossas corporações, o Corpo de Bombeiros Militar e a Polícia Militar<br />

do Distrito Federal, entendemos que os militares locais não podem ficar à margem<br />

desses reajustes.<br />

Acreditamos que os companheiros militares do Distrito Federal não podem ter<br />

tratamento, em termos de remuneração, diferente dos companheiros dos ex-<br />

Territórios, uma vez que a lei de remuneração é a mesma, tanto para os militares do<br />

Distrito Federal como para os militares dos ex-Territórios. Queremos, sim,<br />

tratamento isonômico e idêntico.<br />

O Governo Federal não pode discriminar os militares da Capital Federal.<br />

Aliás, pelo aspecto econômico-social, a Capital Federal tem indicativos mais caros<br />

que o restante do nosso País. Não restam dúvidas, então, de que posso pedir<br />

especial atenção da União, em especial à Subsecretaria de Planejamento,<br />

Orçamento e Administração do Ministério da Fazenda, para que reconheça os<br />

direitos dos militares do Distrito Federal, da mesma forma que os reconheceu aos<br />

militares do ex-Territórios.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O clamor dos militares locais tem chegado até este Parlamentar e não posso<br />

omitir-me, sobretudo quando são evidenciadas algumas razões em favor dos<br />

militares do Distrito Federal, tais como:<br />

1. A Lei n.º 10.486, de 4 de julho de 2002, que dispõe sobre a remuneração<br />

dos militares do Distrito Federal, é a mesma que alcança os militares da ativa,<br />

inativos e pensionistas dos ex-Territórios Federais do Amapá, Rondônia e Roraima;<br />

2. A exemplo dos militares dos ex-Territórios Federais, os militares do Distrito<br />

Federal também são custeados pelos cofres da União;<br />

3. A Emenda Constitucional n.º 19, de 5 de junho de 1998, no seu art. 31,<br />

colocou a obrigatoriedade de revisão da remuneração dos militares dos ex-<br />

Territórios, à semelhança da remuneração dos servidores públicos, e, por analogia,<br />

os militares do Distrito Federal não podem ficar de fora desta revisão remuneratória;<br />

4. Historicamente, apesar da separação geográfica, o Corpo de Bombeiros e<br />

a Polícia Militar dos ex-Territórios sempre utilizaram as leis remuneratórias de seus<br />

parceiros do Distrito Federal, vide a Lei n.º 5.9<strong>06</strong> e a Medida Provisória 2.2<strong>18</strong>, que<br />

veio a se transformar na atual Lei n.º 10.486, que dispõe sobre a remuneração dos<br />

militares do Distrito Federal.<br />

Depois da conquista dos direitos políticos e civis e ampliação dos direitos<br />

socioeconômicos, nossos companheiros militares da Capital Federal não podem ver<br />

reduzidas suas conquistas.<br />

Sr. Presidente, peço a V.Exa. a transcrição nos Anais do material anexado a<br />

este pronunciamento.<br />

Obrigado.<br />

MATERIAL A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 780 A 780-C)<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ANSELMO (PT-RO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, no último dia 8 de junho, a população católica do Estado de<br />

Rondônia e do noroeste de Mato Grosso comemorou os 25 anos de criação da<br />

Diocese de Ji-Paraná, ocasião em que foi realizada a 3ª Romaria das Comunidades<br />

Eclesiais de Base — CEBs. Venho a esta tribuna no dia de hoje para prestar uma<br />

justa homenagem aos religiosos, aos missionários leigos e os agentes das<br />

Comunidades Eclesiais de Base por essa grande vitória.<br />

Pelos anos 60, Sr. Presidente, aquela região recebia levas de migrantes, que<br />

se somavam aos milhares com os que lá já encontravam: os ribeirinhos, os<br />

seringueiros e os indígenas. Até a década de 60, todo o Estado de Rondônia e a<br />

parte noroeste de Mato Grosso pertencia à Prelazia de Porto Velho, que tinha como<br />

Bispo D. João Batista Costa, que desde os anos 40 tinha sido enviado para lá. Como<br />

Igreja, devemos muito a D. João Batista: graças à sua coragem, ao seu heroísmo, à<br />

sua doação e ao seu amor à vocação, muitas sementes aqui foram lançadas,<br />

nasceram, cresceram e produziram.<br />

Orientado pela política da época de integrar a imensa região amazônica ao<br />

restante do Brasil, de década em década, ia crescendo o número de migrantes que<br />

chegavam ao então Território Federal de Rondônia. Nas bagagens vinha um pouco<br />

de tudo: risos e lágrimas, cansaço e coragem, saudade e convicção, dúvidas e<br />

certezas. Mas no peito vinha o sonho alimentado pela fé, a reza do terço, da<br />

ladainha, dos ofícios e do culto dominical. Nas casas de família, nas sombras dos<br />

arvoredos e nas pequenas choupanas que iam sendo feitas grupos de famílias se<br />

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reuniam com freqüência nos domingos e nos aniversários. Foi assim que nasceram<br />

Comunidades Eclesiais de Base — CEBs.<br />

Em 1978, inicia-se a caminhada como Igreja Particular de Ji-Paraná, sendo<br />

Prelazia. O que antes era chamado de Vila de Rondônia passa a ser Sede da<br />

Prelazia de Ji-Paraná, tendo como primeiro bispo e pastor D. José Martins da Silva.<br />

Sr. Presidente, era uma época de muita esperança, de todas as partes do<br />

Brasil continuavam chegando migrantes em busca de lugar, de pão e de paz. A<br />

Igreja Católica foi se tornado, dia após dia, a principal referência para os<br />

recém-chegados, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, contando com<br />

a orientação de D. José Martins da Silva. Com esforço e pedidos de D. José, vieram<br />

muitos missionários e missionárias para assumir as paróquias e acompanhar os<br />

migrantes, animando-os na fé. Aqui, quero manifestar meu profundo agradecimento<br />

a todas as congregações religiosas, do passado e do presente, bem como aos<br />

diocesanos, que se doam no serviço de evangelização.<br />

Um importante instrumento de evangelização, nessa região, Sr. Presidente,<br />

foram os Enviados e Mensageiros da Boa Nova. Eram leigos, homens e mulheres<br />

simples, que com muita dedicação levavam ao povo um novo jeito de ser Igreja. Ao<br />

longo do caminho, a Igreja foi se encarnando na realidade, sentindo as dores do<br />

povo, ouvindo seus clamores e assumindo, profeticamente, o Evangelho de Jesus<br />

Cristo. Era chegada a hora de dar um passo a mais, organizar o povo em<br />

movimentos populares, nos sindicatos, nas associações e em partidos políticos.<br />

Com o crescimento de comunidades, pastorais, movimentos e organizações<br />

populares, em 1983, a Prelazia foi transformada em Diocese de Ji-Paraná. Agora<br />

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com um universo de centenas de comunidades, com milhares de Grupos de<br />

Reflexão, a Igreja ganha um rosto e uma identidade própria. E para dar<br />

continuidade, sustentação e vigor à caminhada, Deus enviou seu mensageiro e<br />

servo, nosso companheiro e pastor D. Antonio Possamai. Aqui vai nosso<br />

reconhecimento a esses pioneiros da fé, à sua fidelidade e à sua dedicação<br />

incansáveis na condução desse rebanho, por seu amor à Igreja, à qual servem com<br />

muito carinho, pela maneira sábia de orientar a caminhada pastoral, pelo seu<br />

profetismo, no anúncio do Reino e na denúncia da injustiça, da corrupção e tantas<br />

formas de violência que fazem os pobres sofrer.<br />

Uma Igreja de pobres para os pobres, que vive à luz do Evangelho, causa<br />

incômodo e desconforto aos poderosos, latifundiários e corruptos. Essa é a melhor<br />

definição para a Igreja forjada naquela região brasileira, Sr. Presidente. Daí vem o<br />

sabor amargo da perseguição. Para dar testemunho da verdade alguns homens e<br />

mulheres se ofereceram de forma concreta e direta, sem voltar atrás, isto é, deram a<br />

vida, por garantir e defender as áreas indígenas, por garantir e defender o direito à<br />

propriedade e dignidade para os trabalhadores rurais e preço justo na hora da<br />

colheita, por emprego e salário justo, pela garantia do direito à saúde e à educação<br />

de qualidade, na cidade e no campo.<br />

É hora de nos comprometermos mais e acreditarmos na organização. E foi<br />

nessa luta de organização e presença junto aos explorados que Padre Ezequiel<br />

Ramin foi tombado pela brutalidade dos que quiseram calar sua voz. Mas a sua voz<br />

continua forte por meio das comunidades de base. Quiseram matar seus sonhos,<br />

mas o seu sonho é o sonho de todos nós e das nossas comunidades.<br />

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Trago presente, nesta tribuna, em nossos pensamentos, a lembrança de<br />

tantos companheiros e companheiras (homens e mulheres) que foram tombados<br />

neste chão que é terra prometida. Lembrem-se romeiros e romeiras: este chão em<br />

que pisamos é sagrado porque é obra do Criador e depois foi regado com suor,<br />

lágrimas e sangue de trabalhadores, trabalhadoras e profetas do nosso tempo.<br />

A Diocese esteve presente em grandes lutas e manifestações, dentro e fora<br />

dela, entre as quais podemos destacar: o Congresso Eucarístico Diocesano, em<br />

1985; a Romaria de Nossa Senhora Aparecida; as 6 Romarias da Terra, do Estado<br />

de Rondônia; as Semanas Sociais Brasileiras; o Grito dos Excluídos; o plebiscito<br />

popular pelo não pagamento da dívida externa e o plebiscito contra a ALCA. O<br />

Projeto Toda a Diocese em Mutirão é o mais recente exemplo que marcará o<br />

compromisso de todos nós nessa festa dos 25 anos. Vamos selar, hoje, este pacto,<br />

por ser um dia de festa, memória e compromisso. Essa é uma das razões pelas<br />

quais ninguém pode sair daqui do mesmo jeito que chegou. Vamos sair carregados<br />

de uma bagagem nova e que há de se renovar a cada dia.<br />

Teve destaque, também, o grande Movimento dos Atingidos por Barragens de<br />

Rondônia — MABRO, que surgiu para defender as áreas de agricultura e Indígenas.<br />

Era preciso tomarmos consciência de que havia outras alternativas de energia para<br />

Rondônia, sem que os pequenos fossem despejados. Trazemos presente a luta da<br />

Comissão Pastoral da Terra — CPT, do Centro de Estudos e Pastoral dos Migrantes<br />

— CEPAMI, dos sindicatos e dos movimentos populares.<br />

Nossa história é marcadamente cristã. O alicerce da Diocese em seus 25<br />

anos e de agora em diante foram e serão nossos grupos de reflexão e nossas<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Comunidades Eclesiais de Base — CEBs. As CEBs, iluminadas pela Palavra de<br />

Deus, foram encarregadas de instruir o povo na luta por um sindicato forte, de<br />

trabalhadores e trabalhadoras rurais; de nos organizarmos em associações de<br />

classe e em partidos políticos; de lutarmos por reforma agrária sem dar lugar aos<br />

latifundiários; de segurarmos a terra como dom de Deus; de lutarmos por saúde<br />

pública e educação. Daí, fomos crescendo com consciência política e cristã. Digo<br />

nós, Sr. Presidente, porque eu também sou fruto desse movimento religioso e<br />

político, minha formação como homem político, comprometido com as causas<br />

populares, com a organização dos trabalhadores e com o combate às injustiças, foi<br />

forjada no exercício prático das pastorais sociais da Igreja Católica, nos Grupos de<br />

Reflexão e na Comunidade Eclesial de Base.<br />

A grande vitalidade das CEBs, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, veio<br />

dos Mensageiros da Boa Nova, que tinham como objetivo conhecer e animar as<br />

comunidades. Em algumas Paróquias esse movimento está de pé e continua a<br />

contribuir muito na caminhada.<br />

As Escolas Família Agrícola — EFAs têm como missão formar os filhos e<br />

filhas das famílias de agricultores. É um sistema diferenciado do tradicional que o<br />

Estado oferece. As EFAs se preocupam com a formação humana,<br />

técnico-profissional e integral do educando, bem como em envolver a família e a<br />

comunidade no processo. Tudo isso para que as famílias permaneçam na terra.<br />

Esta terra, habitada hoje por milhares de migrantes, tinha dono. Quando aqui<br />

chegamos encontramos os nativos, indígenas, seringueiros, ribeirinhos e<br />

garimpeiros. Mas os verdadeiros donos das terras são os indígenas. Na época, do<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

início da colonização da Amazônia, a população indígena do Brasil era estimada em<br />

330 mil pessoas. Hoje, contamos com 10.683 pessoas em Rondônia. Os Grupos de<br />

Apoio aos Povos Indígenas — GAPIs foram a base da Pastoral. Eram grupos de<br />

pessoas que trabalhavam na sensibilização da sociedade, como voluntários, e<br />

também davam sua contribuição nas áreas, sendo presença de apoio.<br />

Para dar uma resposta mais concreta e direta aos anseios do povo foram<br />

surgindo os movimentos populares, sendo coordenados e animados por lideranças<br />

comunitárias que foram crescendo no Evangelho e praticando-o. Fruto desse<br />

engajamento cristão, social e político, surgiu primeiro o Movimento dos<br />

Trabalhadores Rurais Sem Terra — MST, que fez e continua fazendo história. De<br />

ocupação em ocupação, de acampamento em acampamento, o povo foi<br />

conquistando sua terra. Hoje, existem no Estado 7 acampamentos com um total de<br />

1.200 famílias acampadas e 8 assentamentos com aproximadamente 2.500 famílias<br />

assentadas. O movimento abre espaço para outras discussões como: a luta contra<br />

os transgênicos, contra o pagamento da dívida externa e contra a ALCA.<br />

Promovendo e participando de grandes manifestações e marchas, fiéis ao lema que<br />

mais que lema é missão: ocupar, resistir e produzir, sonhando grande, que um dia<br />

não haja espaço para o latifúndio nem em Rondônia, nem no Brasil. Sonhando,<br />

enfim, com a América Latina livre.<br />

Todas estas conquistas não vieram de graça, Sr. Presidente, houve, sim,<br />

muitas manchas de sangue em nossa história. Sangue de mulheres e homens, de<br />

jovens e crianças que se ofereceram para que se apressasse o dia da libertação.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Nos anos 80, o povo começa a se cansar de esperar por melhorias, sobretudo<br />

na roça. Não havia política agrícola que contemplasse os pequenos, a falta de<br />

estradas, de saúde e de escolas para seus filhos foi o motivo que levou a grande<br />

maioria a vender ou deixar suas terras e migrar para as cidades. Assim, cresceu<br />

assustadoramente o fenômeno chamado êxodo rural. Naquele tempo, já havia<br />

crianças e adolescentes disputando espaços de sobrevivência nas ruas. Preocupado<br />

com essa situação, D. Antonio implantou na Diocese o Projeto Padre Ezequiel, para<br />

despertar e apoiar iniciativas e alternativas concretas que trouxessem de volta a<br />

esperança do povo. Para isso, ele contou com a contribuição de agentes e<br />

lideranças pastorais.<br />

O Projeto Padre Ezequiel está hoje com 15 anos de atuação na Diocese de<br />

Ji-Paraná e desenvolve ações em 4 setores específicos: Pastoral da Saúde —<br />

missão: atuar no tratamento preventivo e curativo, através da medicina alternativa e<br />

popular; Pastoral do Menor — missão: atuar junto aos Conselhos dos Direitos e<br />

Tutelares, no cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, priorizando a<br />

formação integral da pessoa humana; Setor Agrícola — missão: contribuir com a<br />

afirmação da agricultura familiar, atuando na construção da agricultura sustentável,<br />

tendo como eixos assessoria, formação, capacitação e acompanhamento às<br />

associações, tendo como um dos instrumentos a Escola de Capacitação de<br />

Agricultores(as), construindo um modelo culturalmente adaptado, economicamente<br />

viável e ecologicamente sustentável; Setor Alfabetização de Jovens e Adultos —<br />

missão: desenvolver a construção do saber para o exercício da cidadania. Estamos<br />

nos aproximando do seu Quadro Vivo, que nos mostra um resumo desses 15 anos.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O Projeto tem o nome do nosso primeiro mártir, o Padre Ezequiel, como<br />

homenagem e gratidão por sua vida doada pelos excluídos e, mais do que isso, para<br />

reafirmar o nosso compromisso, como Igreja, com a causa dos empobrecidos e<br />

marginalizados.<br />

São essas as minhas palavras, Sr. Presidente.<br />

Muito obrigado.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Passa-se ao<br />

V - GRANDE EXPEDIENTE<br />

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Carlos Melles, por 25 minutos.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. CARLOS MELLES (PFL-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, uso o espaço do Grande Expediente hoje para fazer uma<br />

profunda reflexão sobre a crise da economia cafeeira, fazendo aqui uma<br />

homenagem ao ex-Governador e Chanceler Abreu Sodré, que, há 11 anos, fez um<br />

brilhante discurso sobre o general estar de pijama, fazendo alusão ao café.<br />

Quem despreza os ensinamentos da História corre o deliberado risco de<br />

cometer os erros do passado.<br />

Vivemos hoje as conseqüências de erros que se têm repetido ao longo de<br />

décadas e de séculos. Erros pelos quais, mais uma vez, o Brasil e o mundo<br />

enfrentam uma nova velha crise do café, um produto que não tem só significado<br />

econômico, mas também tem uma parte humana e social.<br />

Nos últimos 3 anos, o preço do café chegou ao seu mais baixo valor dos<br />

últimos 30 anos. Nos últimos 5 anos, o Brasil perdeu 4 bilhões de dólares na<br />

exportação de café. Em termos mundiais, esse período representa perda de 20<br />

bilhões de dólares para os países produtores.<br />

Essa é uma crise que afeta de forma dramática justamente os mais pobres.<br />

São 25 milhões de pequenos agricultores ao redor do mundo, e com eles seus<br />

agregados, perdendo fonte de renda; famílias dispondo de suas terras e, com elas, a<br />

sua única fonte de sobrevivência. São terras pequenas: 70% do café produzido no<br />

mundo vêm de propriedades rurais com menos de 10 hectares.<br />

A face dolorosamente humana de uma crise com o café são milhões de<br />

crianças retiradas das escolas, milhões de pessoas sem acesso a assistência<br />

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médica e a medicamentos, enfim, milhões de pessoas das quais se tira a esperança<br />

e que se jogam ao desespero.<br />

A fome e a pobreza crescem, e, com ela, a violência e as migrações<br />

desordenadas. A miséria cria alternativa de renda nas drogas, alimenta o<br />

narcotráfico e realimenta a violência, o crime organizado e a corrupção.<br />

Em alguns países, como o Peru, a Colômbia e a Bolívia, a coca volta a ser<br />

cultivada em torno dos pés de café, que deveriam substituir a droga. Em regiões da<br />

Ásia, ocorre a volta do cultivo da papoula para a heroína, e não mais o café, incapaz<br />

de gerar renda para seus produtores.<br />

Uma crise como a atual, com um produto do significado econômico, social e<br />

político como é o café, aumenta a insegurança de todos. Faz um mundo mais<br />

ameaçador, perigoso, desigual e menos fraterno.<br />

Portanto, quando o café entra em crise, não é só o cafezinho dos ricos que<br />

fica mais caro e com menor quantidade. Além do café amargo, nações inteiras<br />

experimentam a desestruturação de suas economias.<br />

Produtores com fome, comerciantes falidos e Governos que, sem sua receita<br />

de exportação gerada pelo café, cortam gastos em educação, em saúde e ficam<br />

sem ter como saldar suas dívidas ou importar. Sobem os juros, deprime-se o<br />

mercado, reduz-se o crescimento.<br />

O café responde por mais de 50% de receitas de exportação na Etiópia,<br />

quase 80% de ingressos no Burundi. No segundo país mais pobre da América<br />

Central, a Nicarágua, o café responde por 7% da renda nacional, e na Guatemala<br />

7% da população dependem do produto. No entanto, assim como na África ou no<br />

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Vietnã, os preços não estão cobrindo os custos de produção. Testemunhamos o<br />

mesmo aqui no Brasil.<br />

Enquanto o mundo fica mais pobre e mais se concentram riquezas nos países<br />

desenvolvidos, mais padecem os países em desenvolvimento, potências<br />

intermediárias como o Brasil. Perdemos mercado para nossos produtos de maior<br />

valor agregado e vemos acirrada a concorrência sobre os nossos produtos básicos,<br />

as commodities.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, as commodities, quando produzidas<br />

pelos ricos, não sofrem oscilações, são protegidas pelos seus governos, via<br />

subsídios, via barreiras, via financiamento. As commodities que eles não produzem<br />

são escravizadas pelas leis do mercado.<br />

O café, por sua vez, é um produto muito especial de commodity. Não se<br />

caracteriza como perecível e pode ser estocado por muito templo. Favorece, assim,<br />

o comércio especulativo. Um pequeno número de megaempresas domina o<br />

mercado comprador, impondo preços aviltados aos produtores. Num segundo<br />

passo, dominam também o mercado vendedor. Detentores dos estoques, impõem<br />

preços elevados aos consumidores, auferindo elevadas margens de lucro.<br />

Esse fenômenos faz com que a questão do café seja estrutural, e não<br />

conjuntural. Nas safras cheias, de mercado superabastecido, as grandes<br />

torrefadoras pagam pouco e continuam vendendo caro. Ao mesmo tempo em que<br />

sufocam os produtores, não baixam o preço aos consumidores, o que poderia<br />

favorecer o aumento do consumo e a criação do hábito do café. E, nas fases de<br />

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escassez, elevam os preços aos consumidores, não permitindo a recuperação de<br />

margens pelos produtores.<br />

Caracteriza-se, assim, um mercado imperfeito, que, por isso mesmo, não<br />

pode ser deixado totalmente livre. Há que se ter algum tipo de interferência nesse<br />

mercado. Para que seja justo, o mercado do café tem que ser minimamente<br />

administrado.<br />

Essa situação não é uma abstração teórica sobre oligopólio e oligopsônio.<br />

Tem nome, sobrenome e endereço. Cada uma das quatro maiores empresas de<br />

café do mundo — Kraft Foods, Nestlé, Procter & Gamble e Sara Lee — abocanha<br />

cerca de 1 bilhão de dólares de renda no café. Elas exibem lucros de 17% a 30%<br />

sobre o processamento e a comercialização do produto.<br />

Em 1991, na ponta do consumo, o café correspondia a 30 bilhões de dólares.<br />

Desse total, 10 a 11 bilhões de dólares voltavam aos países produtores. Ou seja, os<br />

produtores ficavam com 30% da renda e os países consumidores, com suas<br />

empresas comercializando e processando, ficavam com 70%.<br />

Dez anos depois, em 2001, num curto espaço de tempo, o mundo já<br />

consumia na ponta final 70 bilhões de dólares em café. No entanto, apenas 8%<br />

dessa riqueza eram repartidos entre os países produtores, enquanto países<br />

consumidores e suas empresas se apoderavam de 92% da riqueza gerada pela<br />

cafeicultura.<br />

As estimativas são de que o produtor se apropria de apenas 1% do valor de<br />

uma xícara de café tomada nos Estados Unidos. Façam as contas: somente do café<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

solúvel fabricado pela Nestlé são consumidas 3.900 xícaras por segundo — só 1%<br />

para o produtor.<br />

Nos supermercados, a matéria-prima tem uma participação um pouco maior:<br />

aproximadamente 16% do preço final. E, ao final das contas, o agricultor não se<br />

apropria de mais do que 8% do valor final do café que produziu.<br />

No Brasil, embora continuemos dominando mais de um quarto das<br />

exportações mundial, o café já não tem o mesmo peso de outrora, quando gerava<br />

dois terços de nossas receitas cambiais. Mesmo assim, o café tem contribuído com<br />

a média anual de mais de 2 bilhões de dólares para o nosso saldo comercial nos<br />

últimos 10 anos. Representando entre 3% e 5% da nossa economia, ele está<br />

presente em mais de 1.700 Municípios, em 300 mil propriedades — a grande<br />

maioria delas de pequenos produtores, como já disse —, e emprega 7 milhões de<br />

pessoas direta e indiretamente.<br />

Não nos esqueçamos das lições da história. O café faz parte da civilização<br />

brasileira desde a sua entrada no norte brasileiro, contrabandeado por Francisco<br />

Palheta e plantado na Província do Grão-Pará e Maranhão. Em <strong>18</strong>31, já na<br />

paisagem do Rio de Janeiro, resgatou a dívida externa e impediu a falência do<br />

Estado brasileiro. Em <strong>18</strong>49 e <strong>18</strong>50, atingimos 40% da produção mundial.<br />

Desde então, o café enfrenta crises cíclicas. Na virada do século XIX para o<br />

século XX, em 19<strong>06</strong>, foi preciso criar o Convênio de Taubaté. Passou por uma de<br />

suas fases de ouro no final dos anos 20, precisando ser queimado nos anos 30,<br />

quando se assistiu à erradicação dos cafezais — que voltaram a ser erradicados<br />

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entre 1964 e 1967. Estamos iniciando o século XXI novamente em crise. Uma crise<br />

controlada pelos compradores externos, na ausência da ação do Estado.<br />

Voltemos à história para entendermos a importância socioeconômica do café.<br />

Do Rio de Janeiro, onde continuou a gerar rendas, divisas e empregos, o café<br />

penetrou o território nacional. Subiu a Serra do Mar e entrou em Minas, entendeu-se<br />

pelo Vale do Paraíba e tomou conta de São Paulo, seguindo em direção a Ribeirão<br />

Preto, oeste do Estado, até atingir o Paraná.<br />

Por toda essa extensão de terras, o café foi o responsável pela criação de<br />

cidades e organização de sociedades, puxou estradas de ferro, pavimentou<br />

estradas, levou o progresso, industrializou o País. Proporcionou melhoria da<br />

qualidade de vida e promoveu distribuição de renda. Basta ver o exemplo de<br />

quantos imigrantes, principalmente italianos, vieram para o Brasil tendo como único<br />

capital a força de trabalho e, em poucos anos, transformaram-se eles próprios em<br />

proprietários e produtores — de café, naturalmente.<br />

O progresso proporcionado pelo café não é passageiro, mas uma riqueza<br />

gregária que permanece, que viabilizou um comércio pujante e a indústria regional<br />

do café.<br />

É uma saga que não pára. Depois da grande geada do Paraná, em 1975, o<br />

café voltou à minha Minas Gerais, hoje seu maior produtor. Mas já se deslocou para<br />

Rondônia. E também é a maior e mais promissora cultura e riqueza do sertão da<br />

Bahia, onde consolida cidades em torno dos cafezais, indústrias, comércio e gera<br />

algo sempre fundamental: empregos.<br />

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Quando o preço do café deixa de cobrir os custos ou oferece margem<br />

irrisória, 1.700 Municípios, que têm sua maior fonte de renda e de emprego no café,<br />

e mais de 7 milhões de brasileiros são afetados diretamente e, com eles,<br />

fornecedores de insumos, fabricantes e vendedores de máquinas, tecidos, comida,<br />

remédios. E o Brasil, assim, amplia sua fragilidade cambial.<br />

Quando o café perde preço e mercado, ocorre reforma agrária às avessas. Os<br />

pequenos produtores vendem suas terras e migram para os bolsões de pobreza que<br />

circundam as cidades, pressionando por mais assistência, caindo nas garras da<br />

violência, favorecendo a prostituição e a desagregação social. Tornam-se tão<br />

vítimas quanto algozes. Jogam-se no ralo bilhões de reais aplicados em reforma<br />

agrária.<br />

Ouço, com prazer, o nobre Deputado Mauro Benevides.<br />

O Sr. Mauro Benevides - Deputado Carlos Melles, V.Exa. faz realmente<br />

diagnose perfeita da situação da cafeicultura no País e, naturalmente, das<br />

repercussões no mundo inteiro, em função do que significava o café em nossa pauta<br />

de exportações. Há poucos instantes, V.Exa. se queixava, creio que por conhecer o<br />

problema, da falta de ação governamental que possa estimular a permanência do<br />

café na posição privilegiada que sempre desfrutou. Eu recordo, nobre Deputado e<br />

Ministro Carlos Melles, que, há alguns anos, funcionava um órgão específico para o<br />

café, o Instituto Brasileiro do Café. Para ser mais preciso, até me lembro de uns dos<br />

seus últimos presidentes, o Senador Nelson Maculan. Naquele instante, acredito que<br />

havia forma intensiva de garantir a posição do café no mercado internacional, mas, a<br />

julgar por esse relato minucioso, preciso que V.Exa. se propôs a fazer na tarde de<br />

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hoje, chegamos a uma constatação extremamente desestimulante. E digo mais a<br />

V.Exa.: no meu Estado, houve a tentativa de transformar a Serra da Ibiapaba em<br />

celeiro de plantadores de café. Mas essa experiência, lamentavelmente, não logrou<br />

êxito. E nós, cearenses, estamos frustrados, porque nos vales mais próximos do<br />

território cearense não se conseguiu realmente garantir o plantio e a colheita do café<br />

nos percentuais que tinham sido almejados. Portanto, minhas congratulações por<br />

este pronunciamento abalizado, que mostra que V.Exa. conhece efetivamente a<br />

questão do café em nosso País.<br />

O SR. CARLOS MELLES - Muito obrigado, Deputado e Governador Mauro<br />

Benevides. Fico honrado com o aparte de V.Exa.<br />

Como o café perde preço e mercado, ocorre, como disse, uma fragilização da<br />

economia brasileira.<br />

Srs. Deputados, Sras. Deputadas — cada vez mais presentes na vida política<br />

nacional, sempre mais sensíveis às questões sociais e, por isso mesmo, mais<br />

atentas ao fato de que a mulher é a mais afetada por esse tipo de crise, de que são<br />

as mulheres as primeiras a dobrar o turno de trabalho, as primeiras a abrir mão do<br />

alimento e do remédio em benefício dos filhos —, se dramatizo aqui a situação<br />

dolorosa dos pequenos produtores; se aponto a frustração dos esforços dos médios<br />

e grandes produtores; se alerto para a fragilização do Brasil em conseqüência da<br />

crise do café, é para chamar a atenção para um problema que é de todos nós.<br />

É para demonstrar que o café não deveria ser um problema, mas sim solução<br />

na redução de miséria, na geração de emprego, na fixação do homem no campo e<br />

na redução da fragilidade externa do Brasil.<br />

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É para chamar a atenção do Governo para a responsabilidade do Estado em<br />

relação à cafeicultura. Desde que transformado em riqueza, o café tem sido<br />

defendido pelos Estados produtores.<br />

A França, como outros colonizadores, coibiu rigorosamente a saída de<br />

sementes e mudas de suas colônias. Reconhecia o valor dessa rubiácea.<br />

O Império e, depois, a República no Brasil interferiram com vigor no setor<br />

cafeeiro, como fonte de renda e financiador das nossas importações, sobretudo da<br />

nossa industrialização.<br />

Os produtores, isoladamente, não têm as condições necessárias e<br />

indispensáveis para atuar na arena internacional, onde se travam as grandes<br />

batalhas do café.<br />

É preciso e indispensável a participação ativa do Estado, não mais de forma<br />

autocrática, meramente arrecadatória e regulatória, mas como representação<br />

nacional de toda a cadeia produtiva, como harmonizador de interesses conflitantes<br />

dentro do próprio território nacional, para que o setor como um todo tenha<br />

representação única e eficaz nos fóruns internacionais.<br />

É preciso ação do Estado junto às instituições multilaterais, como o Fundo<br />

Monetário Internacional e o Banco Mundial, para que estes não imponham políticas<br />

imediatistas aos países mais pobres. O FMI e o Banco Mundial não podem continuar<br />

forçando os países pobres e devedores à abertura indiscriminada de seus<br />

mercados, nem ao exagerado esforço de exportação de commodities,<br />

desequilibrando ainda mais o mercado.<br />

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Essas instituições, controladas pelos mesmos países compradores, têm que<br />

parar de estimular, de forma indiscriminada e inadequada, o plantio de café pelos<br />

países em dificuldades cambiais. Esse estímulo, em 4 ou 5 anos, terá criado<br />

superoferta de café no mercado, aviltando os preços e fazendo com que os mais<br />

pobres dos agricultores desses países, já com alto índice de miseráveis, não<br />

consigam cobrir sequer os custos de sua produção. Ficam sem renda para produzir<br />

o café e sem renda para erradicar o mesmo café ou diversificar sua produção.<br />

Somente com apoio institucional explícito e estratégico da representação<br />

diplomática da Nação é que se conseguirá a reestruturação do mercado, hoje<br />

superabastecido — a produção tem crescido à taxa anual de 2%, enquanto o<br />

consumo não cresce a mais do que 1% ou 1,5%. Atualmente, produz-se 8% mais<br />

café do que se consome.<br />

Somente o esforço de Estado nacional, em negociações comerciais e<br />

diplomáticas, poderá reconquistar um mercado minimamente administrado. Único<br />

modo de impedir ou, pelo menos, minimizar as crises cíclicas do café.<br />

Concedo aparte ao nobre Deputado Zonta.<br />

O Sr. Zonta - Nobre Deputado Carlos Melles, quero cumprimentar V.Exa.<br />

pelo tema oportuno que traz a esta Casa, com todos os dados sobre essa atividade<br />

que já foi âncora do desenvolvimento socioeconômico do País, mas que, pelos<br />

dados apresentados, hoje se transforma num problema de exclusão no meio rural,<br />

especialmente das pequenas propriedades de produção do ciclo do café. V.Exa.,<br />

que é do ramo, cooperativista de primeira linha, sabe muito bem e aborda com<br />

profundidade a necessidade do apoio formal do Governo, do apoio institucional, que<br />

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nós queremos neste momento reforçar, para fazer com que, na organização desses<br />

pequenos plantadores de café, se possa ter a possibilidade de competir com o<br />

monopólio e muitas vezes o oligopólio de alguns empreendimentos que absorvem<br />

totalmente essa posição, excluindo essas pessoas dessa área e do emprego.<br />

V.Exa., no final, toca num ponto fundamental. O Brasil tem de continuar sendo<br />

agressivo no mercado internacional do café. Por isso, os acordos devem ser<br />

acompanhados por especialistas ou por adidos agrícolas com conhecimento. Essa é<br />

a contribuição que deixo neste momento, cumprimentando-o por este<br />

pronunciamento que aborda esse problema tão aflitivo e importante para o País,<br />

mas que acreditamos ter solução.<br />

O SR. CARLOS MELLES - Muito obrigado a V.Exa., Deputado Zonta,<br />

ex-Deputado Estadual, competente e eficiente Secretário de Agricultura de Santa<br />

Catarina, nosso grande companheiro, que vem agora enriquecer nossa bancada e a<br />

Câmara dos Deputados.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Brasil tem a responsabilidade,<br />

perante os brasileiros e os demais países produtores, de assumir a liderança na<br />

formulação e na gestão dos negócios de café. Como maior produtor e segundo<br />

maior consumidor, tem a capacidade de formar preços. Como líder em produção e<br />

produtividade, já conquistando importantes nichos de qualidade, o Brasil tem não só<br />

a oportunidade, mas o dever de assumir o seu papel.<br />

Hoje há amplo consenso, consubstanciado em recente reunião na sede da<br />

Organização Internacional do Café, em Londres. Produtores e representantes do<br />

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alto escalão do Banco Mundial, de torrefadores e de empresas comerciais entendem<br />

que o mercado de café é imperfeito e demanda intervenção.<br />

É nessas negociações que se poderá fazer com que produtores marginais e<br />

nações como os Estados Unidos — maior consumidor do mundo — voltem a<br />

participar de organizações e de fóruns que permitam a redução do desequilíbrio do<br />

mercado de café.<br />

Sras. e Srs. Deputados, o Brasil precisa deixar a inércia, vencer a apatia, o<br />

medo e definir uma política à altura da realidade do setor. Os demais países<br />

produtores do mundo estão à espera. Há mesmo grande perplexidade com o<br />

descaso do Brasil frente à crise do café.<br />

Diante das repercussões sociais e econômicas do café, o Governo não pode<br />

eximir-se de suas responsabilidades. Essa é uma realidade que se impõe. E não é<br />

só a opinião do político, do produtor e do representante de classe que aponta nesse<br />

sentido. Os maiores especialistas no assunto compartilham dessa visão. Aliás, visão<br />

que 11 anos atrás era expressa pelo saudoso cafeicultor, Governador de São Paulo<br />

e nosso ex-Ministro das Relações Exteriores Abreu Sodré, também ex-Presidente de<br />

honra do Conselho Nacional do Café.<br />

Opinião atualizada e repetida, recentemente, por ninguém menos que o<br />

Secretário-Geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e<br />

Desenvolvimento — UNCTAD, o nosso embaixador brasileiro Rubens Ricupero. O<br />

Governo, disse recentemente Ricupero, precisa “acordar” para a importância do<br />

comércio internacional, pois essa é a única saída hoje para o Brasil crescer e<br />

financiar o seu desenvolvimento.<br />

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Em artigo recente, o embaixador Rubens Ricupero perguntava se há futuro<br />

para o café e lembrava a reunião de fevereiro, em Genebra, dos principais atores do<br />

mercado. Dessa reunião promovida pela UNCTAD e o Instituto Internacional de<br />

Desenvolvimento Sustentável do Canadá surgiram sugestões úteis, mas de impacto<br />

limitado. Cita Ricupero a iniciativa do “comércio eqüitativo”, que favorece o café de<br />

pequenos produtores, mas não atinge mais do que 3% da produção, situação similar<br />

à do café orgânico. Também apontou como de aplicação duvidosa o uso do seguro<br />

de risco ou hedge para amenizar as flutuações. E colocou em dúvida a<br />

rentabilização da qualidade quando o que se vê, cada vez mais, é o café pior, mais<br />

barato, ser cada vez mais usado na mistura.<br />

O fato de o Brasil estar com sua produção de café recuperada não pode servir<br />

de desculpa para a apatia. Quando, em 1987, o Brasil produziu cerca de 47 milhões<br />

de sacas, contra demanda agregada de 80 milhões, o Governo de então teve a<br />

coragem de elaborar uma política à altura do desafio. Comprou café, estoques que<br />

foram depois devolvidos ao mercado na segunda metade da década dos anos 90,<br />

com alto retorno aos cofres da União. Estamos produzindo hoje os mesmos 47<br />

milhões de sacas, só que a demanda agregada subiu para 113 milhões, fazendo<br />

com que o desafio seja substancialmente menos complexo. Só que sem coragem e<br />

determinação os desafios viram barreiras intransponíveis.<br />

Não se pode negar, no entanto, que tem havido progresso nesse sentido, nos<br />

últimos anos, depois do desastre de 1990, quando o Governo abandonou<br />

completamente o setor, logo depois da quebra do sistema de mercado administrado.<br />

Substituído pelo livre mercado, este se mostrou predatório, pois é totalmente<br />

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desequilibrado. De um lado, potências econômicas, de outro, países pobres<br />

produtores sem poder de barganha.<br />

Tendo em vista a importância socioeconômica da cadeia produtiva do café, os<br />

vários setores que compõem a cadeia se mobilizaram em torno de Comissão<br />

Especial criada nesta Casa. Presidida por mim e relatada pelo Deputado Silas<br />

Brasileiro, essa Comissão aprovou recomendação que foi aceita pelo Governo, que<br />

em 1996 criou o Conselho Deliberativo da Política do Café — CDPC, vinculado ao<br />

Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, atual Ministério do Desenvolvimento,<br />

Indústria e Comércio.<br />

A iniciativa, no entanto, frustrou-se, seja pela descontinuidade, devido às<br />

sucessões ministeriais, seja por não ter maior independência e autonomia, seja por<br />

não ter gestão efetiva do FUNCAFÉ — Fundo de Defesa da Economia Cafeeira. No<br />

entanto, pode estar nesse mecanismo o início da solução para a questão do café.<br />

Nessas tratativas, Sras. e Srs. Deputados, os produtores têm sido<br />

representados com dedicação, eficiência e legítima representatividade pela<br />

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil — CNA e pelo Conselho Nacional<br />

do Café — CNC.<br />

A CNA tem dado seu apoio a este importante segmento da agricultura,<br />

abrindo seus espaços em Brasília e emprestando seu peso político às nossas<br />

reivindicações. Da mesma forma, o CNC, do qual fui um dos fundadores e tenho a<br />

satisfação de ser presidente de honra, continua congregando a cadeia produtiva do<br />

café, em busca da estabilidade e rentabilidade do setor.<br />

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Finalizando, Sr. Presidente, insisto em que o Brasil e o Governo brasileiro<br />

precisam adotar firmemente a atitude de defesa do café, postura que tem o apoio de<br />

seus parceiros internacionais. Os países produtores já cobram o Brasil nesse<br />

sentido.<br />

Estamos explorando o sangue e o suor do trabalhador e exportando o<br />

patrimônio do produtor brasileiro. Estamos, ainda, contribuindo para que os outros<br />

países empobreçam cada vez mais, na expectativa da responsabilidade e da<br />

liderança do Brasil no café.<br />

O Brasil não pode fugir dessa luta, pois que é uma luta justa. Concluo, Sr.<br />

Presidente, deixando aqui o desafio para que o Governo brasileiro, de olho nas<br />

lições da história, com a sensibilidade para reconhecer que o café significa<br />

empregos e renda, com a prudência dos que têm consciência de que a globalização<br />

é uma grande guerra comercial, cumpra o seu papel.<br />

Deixo também uma dúvida ou cobrança: permanecerá a cafeicultura e<br />

cafeicultores lutando sozinhos em defesa do Brasil, sem a participação ativa do<br />

Governo?<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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minutos.<br />

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A SRA. LUCIANA GENRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra, por 3<br />

A SRA. LUCIANA GENRO (PT-RS. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, dois temas importantes trazem-me a esta<br />

tribuna. Em primeiro lugar, quero registrar ofício que recebemos do Sindicato<br />

Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES), que nos relata<br />

que na plenária do último dia 14 de junho, com a presença de mais de 336<br />

delegados de entidades de servidores públicos federais de todo o Brasil, foi<br />

deliberada a deflagração de greve por tempo indeterminado a partir do dia 8 de julho<br />

de 20<strong>03</strong>. A paralisação tem como objetivo reivindicar ao Governo Federal a retirada<br />

de tramitação da PEC nº 40, que trata da reforma da previdência, ou ao Congresso<br />

Nacional a derrota da proposta.<br />

O ANDES nos aponta a necessidade de que se faça uma auditoria nas contas<br />

da Previdência, para que a reforma não acabe com direitos dos servidores, mas sim<br />

ataque os privilégios da alta cúpula dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e<br />

expanda para os trabalhadores da iniciativa privada os benefícios do servidor<br />

público. Os aposentados pelo INSS estão sendo massacrados por um modelo de<br />

aposentadoria em grande medida produzido pelo Governo Fernando Henrique, que<br />

introduziu aumento da idade mínima, fator previdenciário e desvinculação do<br />

reajuste do aposentado com o do salário mínimo.<br />

social.<br />

O ANDES quer uma verdadeira reforma da previdência, que promova justiça<br />

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O segundo tema que me preocupa é a ameaça de demissão que paira sobre<br />

os funcionários das empresas de aviação VARIG, Rio Sul e Nordeste em<br />

decorrência da fusão com a TAM. Seriam mais de 6 mil demissões, com custo<br />

estimado de mais de 600 milhões de reais, um valor muito maior do que o<br />

necessário para a recuperação da empresa gaúcha. Estamos, insisto, diante da<br />

possibilidade concreta de demissão do conjunto dos funcionários dessas<br />

companhias, que depois serão recontratados por salários mais baixos e terão de<br />

aceitar piores condições de trabalho.<br />

Estamos também na iminência de um calote nos créditos do Governo e dos<br />

trabalhadores, isto é, dos seus fundos de pensão. É um escândalo o que se poderá<br />

consumar com essa fusão.<br />

Não queremos a quebra da VARIG nem da TAM. A sociedade brasileira e o<br />

Governo precisam conhecer o projeto elaborado pela Associação dos Pilotos da<br />

VARIG — APIVAR, uma plano de reestruturação ampla para ser debatido, uma<br />

outra alternativa, que não submete os trabalhadores a risco de demissão e não<br />

coloca a VARIG na péssima condição de detentora de apenas 5% do capital da nova<br />

empresa, um claro privilégio aos acionistas e à TAM, que sairão do processo de<br />

fusão em muito melhores condições do que estão hoje.<br />

Sabemos que a TAM se encontra, assim como a VARIG, em sérias<br />

dificuldades financeiras.<br />

Sr. Presidente, esperamos que o plano de reestruturação ampla proposto pela<br />

APIVAR seja debatido nesta Casa e pelo Governo, para que se encontre uma saída<br />

que contemple os interesses da VARIG, da TAM e de seus funcionários,<br />

responsáveis maiores pela eficiência das duas companhias.<br />

Obrigada.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra à nobre<br />

Deputada Janete Capiberibe, para uma Comunicação de Liderança, pelo PSB.<br />

S.Exa. dispõe de 3 minutos na tribuna.<br />

A SRA. JANETE CAPIBERIBE (PSB-AP. Como Líder. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, apresentamos na Câmara<br />

Federal, no último dia 11 de junho, uma proposta de emenda à Constituição que<br />

insere novos parágrafos ao art. 212, para instituir o Fundo Nacional da Educação<br />

Infantil e fundos municipais para atendimento de crianças com até 3 anos, e dá nova<br />

redação ao art. 239 da Constituição Federal.<br />

A PEC nº 92, de 20<strong>03</strong>, tem o objetivo de garantir recursos para assegurar às<br />

crianças na primeira infância o atendimento em instituições educacionais<br />

apropriadas para essa idade.<br />

Observando os dados do último censo demográfico, realizado pelo IBGE em<br />

2000, verificamos que há aproximadamente 20 milhões de crianças no Brasil —<br />

entre área urbana e rural — entre 0 e 6 anos e pouco mais de 6 milhões de<br />

matrículas na educação infantil (MEC/INEP-2002). Em nossa proposta queremos<br />

garantir vagas para crianças de 0 a 3 anos, pois entendemos que a primeira fase da<br />

vida é determinante para todo o seu futuro.<br />

O Estado é responsável por garantir a essas crianças o acesso à educação e,<br />

por conseqüência, dar a elas qualidade de vida. Esse direito está garantido na<br />

Constituição Federal, no Capítulo dos Direitos Sociais, em seu art. 7º, inciso XXV,<br />

onde se lê que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais “a assistência gratuita<br />

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aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em creches e<br />

pré-escolas”.<br />

art. 208:<br />

Além disso, no Capítulo da Educação, da Cultura e do Desporto, estabelece o<br />

“Art. 208. O dever do Estado com a educação será<br />

efetivado mediante a garantia de:<br />

..................................................................................<br />

IV - atendimento em creche e pré-escola às<br />

crianças de zero a seis anos de idade”.<br />

Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA, no Capítulo IV,<br />

estabelece que crianças de 0 a 6 anos devem ser atendidas em creche e pré-escola,<br />

e nós sabemos que criança, de acordo com essa lei, é prioridade absoluta.<br />

Nossa proposta, assegurando educação às crianças, beneficia toda a família.<br />

As mães poderão exercer suas atividades profissionais ocupando seu espaço no<br />

mercado de trabalho sem serem obrigadas a deixar seus filhos em situação de<br />

vulnerabilidade; não será necessário contar com favor de familiares ou pagar alguém<br />

não qualificado para ocupar-se da criança; e ainda afasta o risco de maus tratos e<br />

violência a estas crianças.<br />

É importante deixar claro que as famílias não serão obrigadas a matricular<br />

seus filhos nas instituições que oferecem educação de 0 a 3 anos. Esta é uma<br />

opção que elas devem fazer e que o Estado deve garantir. Vale ressaltar que a<br />

iniciativa privada terá seu espaço garantido, mesmo após a aprovação e<br />

regulamentação da PEC em questão.<br />

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Bem, no que se refere à inserção de novos parágrafos no art. 212 da<br />

Constituição Federal — que define que “a União aplicará, anualmente, nunca menos<br />

de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco por cento,<br />

no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de<br />

transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” —, propomos que os<br />

Municípios instituirão fundos específicos para a manutenção e o desenvolvimento da<br />

educação infantil com o objetivo de assegurar o atendimento às crianças de até 3<br />

anos de idade e que estes fundos serão constituídos, entre outros recursos, por não<br />

menos de 25% dos impostos municipais e, ainda, que o Fundo Nacional de<br />

Desenvolvimento da Educação Infantil completará os recursos municipais.<br />

O FUNAEI foi pensado para aglutinar recursos de diversas fontes para<br />

suplementar os Municípios no financiamento de suas creches.<br />

Assim, teríamos que cada Município — fundo municipal — passaria a contar<br />

com 25% da receita do IPTU — Imposto Predial e Territorial Urbano, do ISS —<br />

Imposto sobre Serviços, do ITBI — Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis e<br />

do IRRF-SM — Imposto de Renda Retido na Fonte de Servidores Municipais para,<br />

obrigatoriamente, investir em creches ou instituições equivalentes que<br />

matriculassem crianças com até três anos.<br />

Já as receitas oriundas das transferências de impostos federais e estaduais<br />

— FPM, IPI-Exportação, ITR, ICMS e IPVA — continuariam regidas pelas regras<br />

atuais: 60% obrigatoriamente para o ensino fundamental e 40% para as duas<br />

primeiras etapas da educação básica, incluindo toda a educação infantil e o ensino<br />

fundamental de jovens e adultos.<br />

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Teríamos ainda que o FUNAEI seria essencialmente constituído por uma<br />

porcentagem da receita bruta do IR — Imposto de Renda, do IPI e por outra que<br />

incide na arrecadação social que alimenta o Fundo de Amparo ao Trabalhador —<br />

FAT (PIS) cuja soma fosse suficiente para a complementação do financiamento das<br />

creches nos Municípios.<br />

Exemplificando, em termos de recursos, no caso de 20<strong>03</strong>, 1% do IR geraria<br />

aproximadamente 650 milhões de reais e 6% do PIS alcançaria cerca de 770<br />

milhões de reais, o que resultaria na disponibilidade para as creches de 1.420<br />

milhões de reais no FUNAEI. O FAT é um fundo que tem apresentado superávits,<br />

em média, de 5 bilhões de reais nos últimos cinco anos. Seu patrimônio total<br />

aproxima-se dos 80 bilhões de reais e seu rendimento nos últimos anos superou os<br />

7 bilhões de reais anuais.<br />

Se o FUNAEI já estivesse em vigor em 20<strong>03</strong>, contaria com recursos do IR e<br />

IPI de, respectivamente, 670 milhões de reais e 217 milhões de reais. Com isso, a<br />

complementação federal atingiria 1,71 bilhão de reais com previsão de 1,86 bilhão<br />

de reais para 2004. Temos, ainda, os recursos dos Municípios estimados em 7 a 8<br />

bilhões de reais anuais. Somando-se tudo teríamos um total de 9 a 10 bilhões de<br />

reais para gastos com creches, montante que praticamente triplica as despesas<br />

atuais — menos de 3 bilhões.<br />

Dessa forma, utilizar recursos do PIS, por intermédio da retirada de uma<br />

pequena parcela do FAT, para a educação em creches é atender a objetivos gerais<br />

de trabalhadores, pois seus filhos de 0 a 3 anos estariam sendo atendidos no<br />

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período inicial de seu desenvolvimento com garantia de alimentação e educação,<br />

enquanto os pais participam do mercado de trabalho.<br />

Importante ressaltar que esta PEC não irá alterar a contribuição do cidadão;<br />

ele não passará a pagar mais impostos, pois os recursos necessários para<br />

educação infantil de 0 a 3 anos serão retirados de porcentagem dos impostos já<br />

cobrados.<br />

A educação infantil deve ser tratada com seriedade, pois é o início da<br />

socialização da criança e sua inserção cidadã no mundo.<br />

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O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

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DISCURSO DO SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ QUE,<br />

ENTREGUE À REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE<br />

PUBLICADO.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Concedo a palavra ao Sr.<br />

Deputado Gilberto Nascimento. S.Exa. disporá de 25 minutos na tribuna.<br />

O SR. GILBERTO NASCIMENTO (PSB-SP. Sem revisão do orador.) – Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo a tribuna esta tarde para discorrer sobre<br />

assunto do qual todo mundo já fala.<br />

Ontem, estava vendo programa de televisão em que um jornalista foi a uma<br />

feira livre questionar as pessoas sobre juros. Observei que as mulheres que<br />

estavam fazendo compras na feira já estavam falando em spread e em SELIC;<br />

estavam preocupadas, queriam que os juros baixassem. É uma situação que a<br />

população já não suporta mais.<br />

Tenho esperança de que este seja um bom Governo, que encurte as<br />

distâncias sociais. Na Câmara dos Deputados, temos aprovado matérias de<br />

iniciativa do Governo e estamos dispostos a ajudá-lo naquilo que for possível para<br />

melhorar as condições do povo. Acredito que o Governo foi eleito com esse objetivo.<br />

Todos estamos dispostos a ajudar o País.<br />

O jornal Folha de S.Paulo desta semana traz matéria com a seguinte<br />

manchete: Lucro do BankBoston cresce 410% em 20<strong>03</strong>.<br />

Vou ler a matéria:<br />

“O BankBoston foi a instituição financeira que<br />

apresentou o maior crescimento no lucro nos três<br />

primeiros meses deste ano, entre os 50 maiores bancos<br />

do país. O resultado saltou de R$ 31,8 milhões de janeiro<br />

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É lamentável!<br />

Continua a matéria:<br />

a março de 2002 para R$ 162,4 milhões neste primeiro<br />

trimestre, um crescimento de 410% no período.<br />

Os dados do primeiro trimestre dos 50 maiores<br />

bancos constam no site do Banco Central, e o estudo com<br />

a comparação do desempenho das instituições foi<br />

elaborado pelo economista Alberto Borges Matias,<br />

professor da faculdade de economia da USP de Ribeirão<br />

Preto.<br />

‘O BankBoston foi o maior beneficiário com a<br />

política econômica do governo’, afirmou Matias”.<br />

“No ranking, em segundo lugar vem a Nossa<br />

Caixa,” — que é um banco oficial — “com um pulo de<br />

140% no resultado do primeiro trimestre deste ano em<br />

relação ao mesmo período de 2002”.<br />

Observem que o BankBoston aumentou seu lucro em 410%, enquanto o<br />

banco brasileiro mais próximo, a Nossa Caixa, de São Paulo, teve variação de<br />

140%. Portanto, não estamos falando da diferença de 340% para 410%, mas de<br />

410% para 140%.<br />

Prossegue a matéria:<br />

“O aumento no lucro do Itaú (3º colocado) foi de<br />

132%, e o do BRADESCO (7º), de 20%.<br />

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O vice-presidente de finanças do BankBoston, Alex<br />

Zornig, afirmou que o resultado do banco no primeiro<br />

trimestre se deve, em grande parte, à desvalorização do<br />

dólar. O banco acreditou na queda do dólar neste início<br />

de ano e ganhou”.<br />

É um banco inteligente, um banco que acredita e adivinha.<br />

Continua:<br />

“Segundo Zornig, do total de US$ 1,2 bilhão de<br />

capital do banco, US$ 300 milhões estão aplicados em<br />

operações reais, que proporcionam ganhos quando a<br />

moeda brasileira se valoriza, como ocorreu no início do<br />

ano. ‘Como estávamos “vendidos” (apostavam na queda<br />

da moeda) em dólar, tivemos lucro’, disse.<br />

Assim como a grande maioria dos bancos, o<br />

BankBoston também se beneficiou bastante da alta dos<br />

juros. O banco obteve uma rentabilidade de 43% nas<br />

aplicações em títulos e valores mobiliários e de 27%<br />

sobre o crédito. ‘O valor do mercado de título melhorou<br />

bastante’, afirmou Zornig. Com a alta dos juros do<br />

primeiro trimestre, os bancos registraram ganhos<br />

expressivos com a aplicação em títulos públicos, que<br />

rendem os juros fixados pelo BC”.<br />

Sr. Presidente, com essa situação, observamos que o País está parado.<br />

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Não faço críticas ao Governo. Temos de tentar desenvolver o Brasil.<br />

Precisamo-nos juntar para fazer o País crescer.<br />

Infelizmente, constatamos que enquanto os bancos têm lucros absurdos —<br />

repito que o lucro do BankBoston aumentou 410% no trimestre passado —,<br />

empresas que deles tomam dinheiro emprestado estão falindo; enquanto os bancos<br />

crescem, as empresas quebram; enquanto os bancos têm altos lucros, as pessoas<br />

ficam sem dinheiro no bolso e, conseqüentemente, o consumo diminui.<br />

Há poucos dias, vi a propaganda de uma empresa que oferece dinheiro a<br />

funcionários públicos. Ela dizia: “Se você está sem dinheiro, se está em dificuldades,<br />

se está com alguma dívida, nos telefone”. Cheguei a consultar algumas pessoas que<br />

tomaram dinheiro emprestado e, logo depois, também li no jornal Folha de S.Paulo<br />

matéria muito interessante sobre o assunto, a qual mostrava que os funcionários que<br />

tomam dinheiro emprestado dessas empresas pagam — pasmem, Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados —, no crédito pessoal, mais de 1.000% de juros ao ano.<br />

Não é por acaso que há poucos dias o Ministro Guido Mantega, numa reunião<br />

em que falava sobre o Plano Plurianual no Senado Federal — eu estava presente —<br />

afirmou ser um verdadeiro assalto à mão armada o que os bancos estão fazendo.<br />

Porém, é mais do que assalto à mão armada: eles estão matando pessoas.<br />

O desequilíbrio da sociedade tem acontecido porque as empresas estão<br />

quebrando, as pessoas estão perdendo o emprego e os jovens não têm o direito de<br />

sonhar, porque, infelizmente, não conseguem seu primeiro emprego. Isso tem<br />

acontecido por culpa da economia desacertada em que ainda estamos vivendo, na<br />

qual os bancos têm tantos lucros.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Fiz um arrazoado para mostrar que um banco empresta 100 reais a outro com<br />

a expectativa de receber 126,50 reais, pois a taxa SELIC atualmente é de 26,5% ao<br />

ano. No entanto, ao emprestar 126 reais a uma indústria que precisa de capital de<br />

giro, o custo do dinheiro fica mais alto.<br />

Vejam a composição dos custos da atividade bancária: 37% do que o banco<br />

recebe são para garantir seu lucro; 28% para pagar tributos; 19,2% para cobrir<br />

custos administrativos; e 15,8% para cobrir prejuízos com calotes, inadimplência. Ou<br />

seja, o banco empresta dinheiro a uma taxa de juros mais alta porque acha que não<br />

vai receber o valor aplicado. Então, por que não aplica taxa menor de juros? Assim,<br />

provavelmente reduziria a inadimplência, e a taxa a ela relativa talvez pudesse cair<br />

de 15,8% para 10%.<br />

Qual o resultado das altas taxas praticadas pelos bancos? A indústria cobra<br />

mais; os comércios atacadista e varejista cobram mais; o consumidor, desprotegido,<br />

paga a conta e cai o seu poder de compra; os estoques não circulam e inicia-se o<br />

processo recessivo.<br />

Chega a ser ridículo o percentual da oferta de crédito em relação ao PIB<br />

brasileiro — cerca de 23% —, principalmente se comparado ao de outros países:<br />

51% no Uruguai, 81% no Canadá, 90,7% na França, 128% no Japão e 144% nos<br />

Estados Unidos, todos nossos parceiros no mercado mundial.<br />

O que quero dizer com isso? Que num determinado momento, se não houver<br />

crédito, giro de dinheiro no mercado com preços compatíveis com o que o brasileiro<br />

pode pagar, infelizmente não haverá desenvolvimento.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

A burocracia, as altas taxas de juros e as elevadas tarifas bancárias são os<br />

principais problemas para a obtenção de empréstimos. As exigências, como excesso<br />

de documentação, necessidade de fiador, de imóvel e de dinheiro em conta para dar<br />

em garantia são fatores que dificultam o acesso aos bancos. Banco só gosta de<br />

quem tem dinheiro. Banqueiro não gosta de quem não tem dinheiro, de quem não<br />

pode pagar. Banqueiro quer dinheiro.<br />

Srs. Deputados, quando o funcionário público de todos as esferas —<br />

municipal, estadual e federal — precisa de crédito, o coitado encontra dificuldades.<br />

Quando procura o auxílio do banco, tem que se sujeitar às regras que lhe são<br />

impostas, pois seu cartão e cheque especial já estão estourados e o gerente liga<br />

para ele todos os dias para cobrar-lhe que quite seu débito. Para fazer face aos<br />

juros cobrados, a fim de que, pelo menos, seu nome não seja mandado para uma<br />

carteira de inadimplentes, recorre a uma dessas financeiras — talvez sua única<br />

saída —, a quem praticamente vende a sua alma, porque tem de mostrar seu<br />

holerite para conseguir algum dinheiro.<br />

Nos Estados Unidos, 82 de cada 100 dólares que circulam na economia são<br />

frutos de empréstimos, feitos a juros baixíssimos e com longo prazo de devolução.<br />

No Brasil, falta liqüidez: apenas 27 de cada 100 reais são empregados em<br />

financiamentos para a iniciativa privada, com juros altos e prazos curtos.<br />

Vejam V.Exas. que se o volume de crédito fosse ampliado, haveria mais<br />

dinheiro disponível e mais concorrência entre os bancos, o que beneficiaria os<br />

tomadores de empréstimos, pois as taxas de juros seriam pressionadas para baixo.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

No Brasil, 25 milhões de pessoas que não têm conta bancária integram a<br />

população economicamente ativa de 80 milhões de brasileiros. É necessário<br />

adotar-se com urgência uma decisão política de gradual redução da SELIC, a taxa<br />

básica dos juros estabelecida pelo Banco Central.<br />

Como a taxa SELIC é de 26,5% — dizem que vai ser reduzida hoje —,<br />

descontado o índice de inflação de 10% ao ano, conclui-se que os juros reais são de<br />

16%. O Brasil é campeão mundial de juros altos. Na Argentina, a taxa anual de juros<br />

é de 15,57%; no Chile, 9,31%; no México, 8,49%; na Tailândia, 6,55%; na Coréia do<br />

Sul, 6,35%; nos países de Primeiro Mundo, varia de 1% a 2% ao ano.<br />

O sistema bancário nacional está revelando todos os sintomas da construção<br />

de um monopólio, pois, entre 1994 e 2001, 7 ou 8 bancos tiveram praticamente total<br />

controle da atividade financeira do País. O número de instituições bancárias no<br />

Brasil caiu de 264 para <strong>18</strong>2, e os bancos de varejo logo serão reduzidos a 8 ou 10.<br />

Isso é um desrespeito ao Brasil. Ele precisa crescer. Vinte por cento da<br />

mão-de-obra do País está desempregada, por culpa dessa taxa tão alta que os<br />

bancos, infelizmente, cobram. Em conseqüência disso, as empresas e a sociedade<br />

em geral não têm condições de pagar.<br />

Concedo aparte ao Deputado Babá.<br />

O Sr. Babá - Deputado Gilberto Nascimento, agradeço a V.Exa. a concessão<br />

deste aparte. Hoje houve redução da taxa de juros em 0,5%. A taxa SELIC foi<br />

reduzida no fantástico percentual de meio ponto, o que não resolve o problema, pois<br />

é insignificante a diminuição. Entendemos que o Governo precisa mudar sua<br />

política, que privilegia os banqueiros, principalmente o BankBoston — é assustador<br />

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o crescimento de seus lucros neste início de mandato do atual Presidente e chega a<br />

ser inclusive comprometedor, porque Henrique Meirelles foi Presidente desse banco<br />

durante muitos anos. Deveria ter vindo para esta Casa uma reforma tributária que<br />

verdadeiramente punisse os grandes bancos, que cobram taxas altíssimas dos<br />

trabalhadores, e as grandes fortunas. Como V.Exa. disse, de 1994 a 2001 os lucros<br />

dos bancos aumentaram <strong>18</strong>0%, seu patrimônio líquido cresceu 70% e seus impostos<br />

foram reduzidos em 50%. Não dá para aceitar essa política! Nós a vemos com<br />

preocupação, porque ela gera desemprego. Tanto é assim que nos 5 primeiros<br />

meses do ano, o Governo Lula, ao passo que pagou mais de 45 bilhões de juros aos<br />

banqueiros, aplicou apenas 1% da verba destinada a investimentos no País. A<br />

política atualmente adotada é recessiva. O Governo não pode apenas reduzir a taxa<br />

de juros em 0,5%; tem que romper com a política do Fundo Monetário Internacional,<br />

que desgraçou a economia da Argentina e de vários países e que no Brasil foi<br />

firmemente atacada pelo atual Presidente durante o Governo Fernando Henrique<br />

Cardoso. Se não sinalizarmos com uma mudança clara, não vai haver como fazer<br />

mudanças neste País. A mudança que se pretende é na reforma previdenciária, que<br />

vai atacar direito dos trabalhadores para cumprir uma meta de superávit, outro<br />

problema, porque passou de 3,75% para 4,25%. Isso tem de ser reduzido<br />

drasticamente, porque a meta de superávit alta provoca o endividamento brutal e o<br />

pagamento de altas taxas de juros e ao mesmo tempo tira dinheiro da área de<br />

investimento, que vai parar nos bolsos dos banqueiros. Esse é o debate a ser feito,<br />

como V.Exa. apresentou. Sou favorável a que os bancos, os verdadeiros<br />

rapinadores do País, sejam taxados violentamente em impostos, para que não tirem<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

da população, que já não tem como sobreviver devido a essa taxa altíssima de juros<br />

cobrada tanto da empresa quanto do trabalhador de baixa renda que procuram as<br />

financeiras. Quem recebe salário mínimo paga às financeiras juros altíssimos. Isso<br />

atinge duramente os servidores públicos.<br />

O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobre Deputado Babá, agradeço o aparte<br />

a V.Exa. Logicamente não nos estamos manifestando aqui na linha de rompimento<br />

com o Fundo Monetário. Enfim, acredito muito nos Ministros Antonio Palocci e Guido<br />

Mantega. Neste momento fica meu protesto exatamente por não termos visto ainda<br />

nenhuma tendência para pressionar os bancos a baixarem suas taxas. O que<br />

observamos é que o grande problema são os spreads.<br />

Tenho dados que dizem que ao escolher um banco, todo cuidado é pouco,<br />

porque as tarifas cobradas chegam à diferença de 17.000%. Abertura de contas,<br />

manutenção de contas ativas, confecção de ficha cadastral, renovação de ficha<br />

cadastral — veja o que se paga a um banco —, concessão e renovação de cheque<br />

especial, cartão de conta comum, talão de cheques de vinte folhas, cheques<br />

devolvidos sem fundo, cheque administrativo, saque 24 horas, extração em terminal<br />

eletrônico, ordem de pagamento, cobrança de cheque na compensação, entre<br />

outros, cobrem cerca de 80% da folha salarial dos bancários. Os 20% restantes vêm<br />

do fabuloso spread, a diferença entre a captação de cliente e a aplicação do<br />

tomador.<br />

Vejam, senhores: da renda de uma família brasileira de classe média — esse<br />

dado é interessante, Coronel Alves —, 40% vão para alimentação, moradia,<br />

transporte, saúde, educação, lazer e outras despesas essenciais e 60% vão para<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

gastos com tributos e juros. Este valor poderia ser menor para que as pessoas<br />

tivessem mais dinheiro para consumir.<br />

Ouço, por 1 minuto, o Deputado Rubinelli. Faltam somente 6 ou 7 minutos<br />

para terminar meu tempo e ainda quero concluir este assunto e entrar em outro.<br />

O Sr. Rubinelli - Nobre Deputado Gilberto Nascimento, parabenizo-o pela<br />

maneira excelente como tem exercido seu mandato não só pelo Brasil, mas também<br />

por São Paulo. V.Exa. tem engrandecido nosso Estado com o grande trabalho que<br />

vem fazendo, especialmente em defesa dos trabalhadores, que muitas vezes são<br />

roubados pelas taxas bancárias, conforme foi muito bem explicado no seu<br />

pronunciamento. Realmente é preciso que não só V.Exa. mas todos os Deputados<br />

imediatamente comecem a analisar o problema do elevado número de cobranças<br />

por parte do sistema bancário e a forma às vezes desumana como trata os<br />

correntistas. Os bancos funcionam como verdadeiros vampiros que atacam e sugam<br />

dos trabalhadores o pouco dinheiro que têm. Além do abuso, um dos poucos<br />

infratores do setor que a Justiça brasileira iria colocar atrás das grades, Salvatore<br />

Cacciola, fugiu para a Itália. Infelizmente, no Brasil, os banqueiros fazem o que<br />

querem, com a complacência dos Poderes constituídos. V.Exa. está de parabéns<br />

pelo discurso e pelas críticas proferidas.<br />

O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobre Deputado Rubinelli, precisamo-nos<br />

juntar ao Governo de um país que tem 3 safras por ano, 170 milhões de habitantes e<br />

um povo trabalhador. Devemos dizer ao Presidente da República e aos Srs.<br />

Ministros que precisamos ver essa mudança e que, para isso, podem contar com a<br />

Câmara Federal, com cada um dos Srs. Deputados.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Não podemos ver alguns banqueiros tomarem nosso dinheiro e o levarem<br />

para o exterior enquanto as indústrias perdem sua capacidade de produção e,<br />

conseqüentemente, geram desemprego, o que favorece o total desacerto social. É<br />

contra isso que precisamos protestar.<br />

Ouço, por um minuto, o Coronel Alves, porque, infelizmente, o tempo aqui<br />

passa muito rapidamente.<br />

O Sr. Coronel Alves - Deputado Gilberto Nascimento, V.Exa. se soma à voz<br />

do PL, que já foi inclusive expressa pelo nosso Vice-Presidente da República, a<br />

respeito do absurdo dos juros. Não vou mais externar-me, respeitando o tempo que<br />

ainda lhe resta, para não atropelar o mecanismo da sessão. Os dados que V.Exa.<br />

traz são tão transparentes que não há o que se questionar. Meio por cento é<br />

insignificante, e sabemos que só interessa aos banqueiros. Os empresários que<br />

querem e devem promover empregos estão à míngua, como está o povo brasileiro.<br />

Temos grande esperança de que este Governo realmente baixe os juros.<br />

O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Muito obrigado, Deputado Coronel Alves.<br />

Ouço, por 30 segundos, o Deputado Zico Bronzeado.<br />

O Sr. Zico Bronzeado - Deputado Gilberto Nascimento, é com prazer que me<br />

manifesto para parabenizá-lo, porque temas com tal magnitude poucos chegam a<br />

esta tribuna para abordar. A informação que temos é que hoje 0,5% já foi tirado<br />

daqueles alarmantes juros que estão consumindo a esperança da maioria dos<br />

pequenos, médios e grandes empresários. O Governo está no caminho certo.<br />

O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobre Deputado Zico Bronzeado,<br />

sabemos do esforço gigante que o Governo tem feito nessa direção. É claro que<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

entendemos que uma queda de 0,5% é uma sinalização que se dá ao mercado. Mas<br />

esperamos que o Governo pressione os bancos, porque o grande problema não é só<br />

a taxa SELIC, mas o spread, esta diferença tão grande entre o momento em que<br />

captam e emprestam o dinheiro. Essa é a nossa briga, que vai continuar por muito<br />

tempo nesta Casa, contra os banqueiros, aqueles que infelizmente acabam levando<br />

todo o lucro desta Nação.<br />

Ouço, com prazer, o aparte do nobre Deputado Darcísio Perondi.<br />

O Sr. Darcísio Perondi - Deputado Gilberto Nascimento, parabéns pela<br />

coragem, clareza e inteligência com que fala sobre os juros. Agora a costureira que<br />

vai a uma loja comprar uma máquina de costura, o taxista que vai comprar um carro,<br />

todos os empregados do Brasil, enfim, quem produz está de parabéns: o Governo<br />

reduziu os juros em 0,5%. Uma vergonha! Faltou coragem e determinação para<br />

dizer a quem produz que iria baixar a taxa SELIC. É uma lástima que o Governo<br />

brasileiro não tenha atendido ao clamor da produção, de quem quer investir e<br />

empregar. V.Exa. foi ao coração. Os banqueiros brasileiros estão assaltando mais<br />

do que nunca quem investe, quem emprega, quem tem cheque. É um estupro ao<br />

brasileiro o juro e o lucro dos banqueiros nacionais, em relação aos quais o<br />

Ministério da Fazenda e o Banco Central ficam cegos. Parabéns, Deputado Gilberto<br />

Nascimento.<br />

O SR. GILBERTO NASCIMENTO - Nobres Deputados, gostaria ainda de<br />

comentar um assunto lamentável que estamos vendo nos jornais. Inclusive, estou<br />

tentando marcar uma audiência com o Ministro da Saúde, porque entendo que isso<br />

não é projeto do Governo, provavelmente não é do Ministro da Saúde. Talvez<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

alguém do meio campo do Governo, infelizmente, venha tomando atitudes como<br />

essa.<br />

Há poucos dias, dizíamos desta tribuna que o Ministério da Saúde, através de<br />

um setor do Ministério, estava distribuindo em São Paulo cachimbos para que<br />

menores pudessem fumar crack. E diziam que tinham que dar o cachimbo porque,<br />

se não dessem, o menor iria ter que comprar de alguém ou usar um o do outro.<br />

Agora, estamos lendo em uma manchete que vão ser distribuídos<br />

preservativos nas escolas. Uma das hipóteses é instalar em algumas escolas<br />

máquinas de fornecimento de preservativos. Isso é incentivo ao sexo precoce. Numa<br />

escola com crianças com 12, 13 ou 14 anos, na medida em que forem distribuídos<br />

preservativos, haverá um incentivo ao sexo precoce. Não creio que esse seja um<br />

programa de Governo. Provavelmente, algum órgão do Ministério da Saúde esteja<br />

fazendo isso sem orientação do próprio Governo.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, muito obrigado. Um bom final de<br />

semana a todos os senhores. Que Deus os abençoe; que tenham uma feliz viagem<br />

e que semana que vem voltemos pagando um pouco menos juros para os<br />

banqueiros internacionais.<br />

Durante o discurso do Sr. Gilberto Nascimento, o<br />

Sr. Inocêncio Oliveira, 1º Vice-Presidente, deixa a cadeira<br />

da presidência, que é ocupada pelo Sr. João Caldas, 4º<br />

Suplente.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Jackson Barreto, para uma Comunicação de Liderança, pelo PTB. S.Exa. disporá de<br />

5 minutos.<br />

O SR. JACKSON BARRETO (PTB-SE. Como Líder. Sem revisão do orador.)<br />

- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ouvimos atentamente no plenário desta<br />

Casa pronunciamento de um Parlamentar que fez críticas a respeito do<br />

comportamento do nosso conterrâneo e ex-Senador da República, Sr. José Eduardo<br />

Dutra, atual presidente da PETROBRAS.<br />

O Congresso Nacional conhece a trajetória do ex-Senador José Eduardo<br />

Dutra, sabe da sua competência, ética, honestidade e fidelidade aos princípios do<br />

seu partido, o Partido dos Trabalhadores.<br />

Gostaria imensamente de ouvir, nesta Casa, uma discussão a respeito do<br />

comportamento do presidente da PETROBRAS, Sr. José Eduardo Dutra, no que se<br />

refere ao crescimento da empresa, à respeitabilidade, à credibilidade, à força das<br />

suas ações e ampliação dos seus trabalhos, porque, cada vez mais, há descoberta<br />

de novos poços de petróleo, o que tem fortalecido a nossa PETROBRAS.<br />

Tenho certeza absoluta de que essas mesmas vozes que hoje criticam o<br />

Presidente José Eduardo Dutra não se levantaram quando esta Casa, apoiando a<br />

política neoliberal do Sr. Fernando Henrique Cardoso, achou por bem quebrar o<br />

monopólio estatal do petróleo, previsto na Lei nº 2.004, de 1953.<br />

Neste momento, quero solidarizar-me com o Presidente da PETROBRAS, Sr.<br />

José Eduardo Dutra, ao mesmo tempo em que parabenizo S.Sa. pelo grandioso<br />

trabalho que realiza à frente da nossa grande empresa.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O crescimento da PETROBRAS vem sendo ressaltado pelas informações<br />

transmitidas pela grande imprensa. São grandes os lucros obtidos pela empresa,<br />

que atualmente atua em quase todo o mundo e tem presença marcante na vida do<br />

nosso País nas áreas social, cultural e científica. Tudo isso vem acontecendo sob o<br />

comando do ex-Senador José Eduardo Dutra, que presta grande serviço à Nação.<br />

Sr. Presidente, gostaria de ver a discussão em torno do nome do Sr. José<br />

Eduardo Dutra relacionada ao seu trabalho como Parlamentar brilhante, eficiente,<br />

competente e guerreiro. Hoje, S.Sa. traduz sua ética e compromisso com o Brasil e<br />

com o Governo Lula à frente da PETROBRAS.<br />

Quero dizer àqueles que nesta Casa fazem críticas ao Presidente José<br />

Eduardo Dutra que levem em consideração o respeito que este País tem não<br />

somente à PETROBRAS, mas também à pessoa do seu Presidente, pela sua vida<br />

marcante no Congresso Nacional.<br />

Ao Sr. José Eduardo Dutra, Presidente da PETROBRAS, declaro não apenas<br />

nosso apoio, mas nossa confiança no seu trabalho e na sua dignidade.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concordo em gênero, número e grau<br />

com o pronunciamento de V.Exa., nobre Deputado Jackson Barreto.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Osório Adriano.<br />

O SR. OSÓRIO ADRIANO (PFL-DF. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desta tribuna temos denunciado a equivocada<br />

política econômica adotada pelo atual Governo nestes primeiros meses de mandato<br />

— política esta, aliás, conservadora, pois, na realidade, segue as mesmas diretrizes,<br />

e até mais acerbamente, de Governos anteriores, não obstante suas continuadas<br />

promessas de mudanças.<br />

O Brasil, é claro, até tem recebido elogios de seus credores e de outros<br />

países; aqui, porém, os protestos são cada vez maiores. É notório, inclusive, que na<br />

gestão passada os técnicos não tinham o rigor da inflexibilidade presente na<br />

condução da política monetária e a ajustavam a eventuais oscilações dos fatores<br />

financeiros nacionais e internacionais.<br />

O resultado dessa diretriz inflexível aí está aos nossos olhos, confirmados<br />

pelos dados estatísticos mais recentes, divulgados pela Fundação Getúlio Vargas,<br />

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE e por outras instituições<br />

de pesquisa, que demonstram a perigosa tendência que tomou a nossa economia.<br />

Corremos até o risco de que o País pare. E quem disse isso, Sr. Presidente,<br />

foi alguém com grande bagagem e enorme experiência na área empresarial: o Sr.<br />

José Alencar, Vice-Presidente do Brasil.<br />

A ampla abrangência dos dados divulgados dia-a-dia não permite a realização<br />

de análise aprofundada nos poucos minutos deste pronunciamento. Considero,<br />

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entretanto, importante ressaltar alguns aspectos essenciais para o preciso<br />

diagnóstico da situação que atravessamos.<br />

O que ocorre de forma preponderante em todo o nosso panorama econômico,<br />

Sr. Presidente, é a queda da produção industrial, que, em abril, chegou ao índice<br />

negativo de 4,2%, com conseqüências que já se tornam desastrosas. Isso porque há<br />

falta de consumo. Não há financiamento, não há nada.<br />

Destaque-se que a queda ainda maior, de 13,6% dos bens de consumo<br />

duráveis e de 10,6% dos não-duráveis, reflete o grave declínio do poder aquisitivo<br />

da população e da capacidade financeira das empresas, hoje sem capital giro e sem<br />

recursos para aplicar na manutenção e ampliação de suas estruturas, aliás, sequer<br />

no aproveitamento de sua capacidade produtiva, já altamente ociosa.<br />

A conseqüência disso todos nós conhecemos: a redução das jornadas de<br />

trabalho, a antecipação de férias coletivas, o fechamento de fábricas e a demissão<br />

de trabalhadores.<br />

Se ainda se constatou um pequeno aumento de 2,5% nos últimos 12 meses<br />

no setor industrial, este foi conseqüência preponderante do crescimento da<br />

produção de bens destinados a exportação, operação beneficiada pelo câmbio. E,<br />

se não fosse isso, estaríamos mergulhados em verdadeiro caos.<br />

A deflação já está batendo às nossas portas. Em abril, o Índice Geral de<br />

Preços de Mercado — IGP-M, acusou o valor negativo de 0,47%, até então o índice<br />

mais baixo desde o ano de 1994.<br />

Hoje, Sr. Presidente e nobres Deputados, tivemos a infeliz constatação, por<br />

intermédio de dados divulgados pela imprensa relativos ao mês de maio, de uma<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

deflação histórica, que chega a 0,66% negativos, segundo o Índice Geral de Preço<br />

de Mercado, situação já verdadeiramente alarmante, mas que parece não<br />

sensibilizar os proeminentes técnicos do Governo.<br />

Todos sabemos que a inflação em nível incontrolável desorganiza o sistema<br />

econômico e corrói o patrimônio social e, por conseqüência, que a estabilidade do<br />

valor moeda é condição básica do próprio desenvolvimento sustentável e<br />

harmonioso. No entanto, Sr. Presidente, não estamos mais atravessando, no<br />

momento, nenhum processo de inflação galopante. Ao contrário, os indicadores<br />

convergem para situação de razoável controle, não obstante ainda seja preciso<br />

admitir equilibrada cautela.<br />

O que não se justifica são as descabidas medidas de contenção na área<br />

monetária, alternativa que somente beneficia os negócios financeiros, os bancos, e<br />

promove maior escalada do endividamento público, enquanto, por outro lado, exclui<br />

toda possibilidade de desenvolvimento econômico.<br />

O resultado social negativo é ainda mais sério em razão dos milhões de<br />

desempregados já existentes no País, contingente que dia-a-dia se avoluma. Há<br />

preocupação do Governo e — por que não dizer? — de todos nós com a área social;<br />

mas, com o País parado, não teremos como socorrer os que necessitam.<br />

No Brasil, ao que se estima, são mais de 16 milhões os desempregados. Nos<br />

grandes centros metropolitanos, como São Paulo, somam-se mais de 1 milhão e 265<br />

mil desempregados. Em outras cidades, como Brasília, proliferam favelas e núcleos<br />

populacionais marginalizados, que se afundam na ociosidade e, muitas vezes, são<br />

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obrigados a aceitar condições subumanas de trabalho na informalidade ou a se<br />

encaminharem para a mendicância ou para o tráfico de drogas e o crime.<br />

Mesmo para aqueles que ainda têm emprego, a situação não é boa, em face<br />

dos baixos salários ou das precárias condições de trabalho, da carestia, da<br />

dificuldade de transporte, do custo da alimentação, da falta de assistência médica e<br />

de recursos para a educação dos filhos e para o lazer da família.<br />

Sr. Presidente, caros colegas Deputados, a situação com que nos<br />

defrontamos passou da fase de simples estagnação para, de fato, entrar em<br />

processo de recessão econômica. Urgem, portanto, medidas imediatas para evitar o<br />

incontrolável agravamento desse processo recessivo.<br />

Diante da contínua queda da produção industrial e, principalmente, da<br />

demanda, chegando à deflação, não é possível permanecermos estáticos.<br />

Concedo, com prazer, aparte ao nobre Deputado Darcísio Perondi.<br />

O Sr. Darcísio Perondi - Deputado Osório Adriano, o discurso de V.Exa. não<br />

vem do livro, da teoria ou do jornal; é o discurso de um empresário, que emprega,<br />

que luta, que produz e paga seus impostos. Trata-se de discurso sério, consistente e<br />

de conteúdo. Que o Sr. Ministro da Fazenda, médico, e o Sr. Presidente da<br />

República, que disse na campanha que cortaria, no dia seguinte à posse, 50% dos<br />

juros, leiam com atenção, mergulhem no seu discurso. Trata-se do discurso de<br />

empresário e enfoca o núcleo do Poder, que precisa dizer “não” aos banqueiros,<br />

sendo fiel às suas promessas de campanha; precisa dizer “não” ao Fundo<br />

Monetário, correspondendo aos 56 milhões de brasileiros que nele votou. Acima de<br />

tudo, é preciso que o Governo gere emprego, produção, investimento e tenha<br />

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coragem para enfrentar o assalto que os bancos estão fazendo no Brasil — não<br />

apenas bancos privados, mas bancos oficiais também. O Brasil hoje está de luto. O<br />

Brasil da produção, o Brasil do emprego, o Brasil do empresário está de luto:<br />

reduziram apenas 0,5% a taxa de juros. Parabéns, Deputado Osório Adriano!<br />

O SR. OSÓRIO ADRIANO - Obrigado, nobre Deputado Darcísio Perondi.<br />

Realmente é um discurso de críticas pesadas, mas é a realidade do País hoje.<br />

Agradeço a V.Exa. o aparte.<br />

Não podemos, Sr. Presidente, concordar com a continuidade da política do<br />

Governo em manter juros altíssimos, que chegaram ao patamar de 26,5% da taxa<br />

SELIC, renitentemente mantida pelo Banco Central, ou de elevar os limites dos<br />

depósitos compulsórios bancários, restringindo ainda mais as linhas de<br />

financiamento e de crédito para os setores produtivos.<br />

É lógico que os banqueiros preferem emprestar dinheiro ao Governo e não à<br />

iniciativa privada. Não se justifica a fremente busca de superávits primários para<br />

liberar recursos em favor do pagamento de juros da dívida pública, enquanto os<br />

investimentos necessários ao nosso desenvolvimento são postergados.<br />

A continuar a insistência governamental em relação a essa política,<br />

correremos sério risco de projetar para o País o caos econômico e social. Não<br />

queremos ser pessimistas, apregoando incertezas negativas porquanto sempre<br />

acreditamos no potencial de nosso País para superar qualquer crise, seja ela<br />

oriunda de fatores internos ou externos. Mas temos de ser realistas e nos precaver<br />

quanto a qualquer fato que possa conduzir a Nação ao retrocesso de suas<br />

conquistas tão duramente alcançadas.<br />

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O Governo insiste nessa política recessiva, que conduz o povo a sacrifícios<br />

cada vez maiores.<br />

Onde estão os 10 milhões de empregos prometidos? Quando se iniciará a<br />

retomada do desenvolvimento? Não é com migalhas de doações para combater a<br />

fome que podem ser compensadas socialmente as malévolas conseqüências do<br />

retrocesso econômico que se instala. O País precisa que recursos financeiros<br />

circulem, precisa de investimentos, de crédito, de incentivos aos setores produtivos.<br />

Se a política do Governo promove o contrário, como evitar o descalabro<br />

econômico, seja no âmbito interno, seja frente aos grupos econômicos financeiros<br />

externos? O que vamos fazer? Como conseguir a façanha de vencer a<br />

competitividade que se desenvolve em todas as nações do mundo, se destroçamos<br />

o potencial de produtividade e rentabilidade de nossas empresas com elevados<br />

tributos e altas taxas de juros? Jamais o conseguiremos se não promovermos o<br />

nosso próprio desenvolvimento, se não proporcionarmos investimentos contínuos.<br />

Como conseguir essa façanha, se liquidamos a política de incentivos aos setores<br />

produtivos, à indústria, à agropecuária, que tão bravamente tem ajudado o País a<br />

crescer, se decretamos o achatamento do poder aquisitivo do povo?<br />

É difícil aceitar a continuidade desta situação e permanecer inerte diante dos<br />

fatos consumados.<br />

Nós, o Poder Legislativo, temos erguido a voz para alertar o Governo quanto<br />

aos verdadeiros rumos que devem ser trilhados para salvaguardar a possibilidade de<br />

progresso para o País. Somos representantes do povo. As nossas mensagens têm<br />

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de ser ouvidas por todos os Poderes constituídos, e não somente pelos membros<br />

desta Casa. A Nação espera medidas concretas para reverter esse quadro.<br />

Nós, Parlamentares, faremos a nossa parte e cumpriremos nossas<br />

responsabilidades, especialmente neste momento em que se propõem reformas,<br />

tendo em vista a recondução do País ao seu rumo certo.<br />

Sr. Presidente, tomamos conhecimento hoje de que o COPOM decidiu baixar<br />

os juros em 0,5%. Isso não é nada, parece brincadeira! Só se salva o gesto, a<br />

intenção, porque, na realidade, nada mudou. Quando se baixam os juros em outros<br />

países de 2% para 1,5%, significa 25%. Aqui baixaram apenas 0,5%. O significado<br />

dessa redução é apenas simbólico, como no caso do aumento de 1% do salário dos<br />

servidores públicos.<br />

Na prática, esse aumento não representa nada: quem ganha 500 reais,<br />

passará a receber 505 reais. É lamentável a postura do atual Governo! Esperamos<br />

que o País suporte a situação.<br />

Ouço, com prazer, o Deputado Wasny de Roure.<br />

O Sr. Wasny de Roure - Deputado Osório Adriano, faço este aparte ao<br />

discurso de V.Exa. para contribuir com o debate aqui travado. Na realidade, o<br />

COPOM discute tecnicamente a taxa de juros. Sabemos que a taxa de juros é o<br />

preço da moeda. Nesse processo, existe algo extremamente delicado, além da<br />

inflação. O atual Governo recebeu dolorosa herança: uma dívida interna na casa dos<br />

900 bilhões de reais, algo inusitado, histórico. Naturalmente, sendo o principal<br />

demandador de moeda do mercado, o Estado exerce papel decisivo na definição do<br />

preço da moeda, como já afirmei, da taxa de juro. A herança recebida tem um<br />

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responsável; ela não nasceu do dia para noite. A dívida é enorme. O COPOM tomou<br />

hoje acertada decisão, porque temos de recuperar as perdas. Foi muito difícil, mas,<br />

em curto espaço de tempo, o Governo conseguiu reverter a taxa de inflação, quando<br />

já se perdia o seu controle no início do ano. Portanto, a decisão do COPOM tem de<br />

ser analisada nas suas conseqüências, ainda que, lamento, o grande prejudicado<br />

seja o povo e o grande aproveitador, os banqueiros. Isso, sim, é spread bancário: a<br />

taxa de lucro, a taxa de administração. Não se trata apenas dos tributos que se<br />

incorporam ou da decisão do COPOM. As taxas de juros brasileiras são<br />

estratosféricas porque estratosférico é o índice de lucratividade que os bancos<br />

exigem do povo brasileiro.<br />

O SR. OSÓRIO ADRIANO – Deputado Wasny de Roure, nobre representante<br />

do Distrito Federal, agradeço a V.Exa. o aparte e lhe digo que a inflexibilidade deste<br />

Governo em relação à política econômica adotada está indo além do que devia. O<br />

Governo passado adotava a mesma política, mas tinha flexibilidade.<br />

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Leandro Vilela.<br />

O SR. LEANDRO VILELA (PMDB-GO. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, muito tem sido dito a respeito da grande missão<br />

do Congresso Nacional na votação das reformas, mas a Câmara tem outro<br />

compromisso inadiável com o Brasil, configurado num projeto que precisa ser<br />

urgentemente votado e aprovado por esta Casa. Trata-se do projeto de lei que cria o<br />

seguro rural, um dos mais modernos instrumentos de política agrícola, praticado em<br />

todos os grandes países produtores de grãos, menos no Brasil.<br />

O seguro rural é um instrumento que protege o produtor dos caprichos da<br />

natureza, dos riscos climáticos, de pragas e doenças, enfim, de fenômenos que<br />

fogem ao seu controle. Ao dar segurança ao produtor numa atividade tão suscetível<br />

a riscos, o seguro rural funciona como um incentivador da produção e um indutor de<br />

novas tecnologias, na medida em que facilita o acesso a novos créditos.<br />

O elevado nível de comprometimento do patrimônio dos produtores rurais<br />

dificulta-lhes o acesso a novos créditos. A garantia dada pelo seguro rural remove<br />

essas barreiras, possibilitando novos financiamentos. Estudos preliminares mostram<br />

que, já no primeiro ano após a sua implantação, a área plantada segurada no Brasil<br />

deve aumentar de 3% para 15%, passando de 1,6 milhão para 8 milhões de<br />

hectares.<br />

Todos os importantes países agroexportadores do mundo que competem com<br />

o Brasil no mercado internacional dispõem de um sistema de seguro extremamente<br />

desenvolvido e com forte participação oficial. Os Estados Unidos, por exemplo,<br />

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mantêm o programa por intermédio de uma agência governamental que num<br />

período de 6 anos efetuou gastos de 8,2 bilhões de dólares, cerca de 1,4 bilhão por<br />

ano.<br />

Na Europa existem vários modelos de seguro agrícola. O mais desenvolvido<br />

está na Espanha, que também dispõe de uma agência governamental. A Espanha<br />

gasta anualmente 500 milhões de euros com seu programa de seguro agrícola. O<br />

mesmo sistema é executado com sucesso pelo México, um país de grande<br />

similaridade econômica com o Brasil.<br />

Há cerca de 15 dias, em viagem à cidade do México, tive a oportunidade de<br />

conhecer de perto o programa mexicano. Também participaram da viagem os<br />

Deputados Moacir Micheletto e Luis Carlos Heinze, o ex-Ministro da Agricultura<br />

Alysson Paulinelli e o Dr. Emiliano Pereira Botelho, Presidente da CAMPO. Foi uma<br />

experiência importante, que nos deixou convencidos da necessidade de o Brasil<br />

implantar seu próprio modelo de seguro rural. A partir daí, com certeza o País<br />

colherá um grande aumento na produção de grãos.<br />

O momento é oportuno para a aprovação dessa matéria. Na semana<br />

passada, o Presidente Lula afirmou que a implantação do seguro rural é prioridade<br />

do seu Governo. Da mesma forma, o Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues,<br />

vem repetindo com insistência que é preciso implantar o projeto ainda este ano.<br />

O interesse do Governo e do Ministro ficou evidenciado na criação de um<br />

grupo de trabalho que já começou a estudar a regulamentação da lei. Esse grupo é<br />

formado por representantes dos Ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento<br />

Agrário e da Fazenda, além da Federação Nacional das Empresas de Seguros<br />

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Privados, da Brasil Resseguros S.A., da Superintendência de Seguros Privados e da<br />

Federação Brasileira de Bancos. O trabalho desse grupo garantirá que o projeto,<br />

assim que for aprovado na Câmara, imediatamente comece a ser implementado.<br />

O interesse demonstrado pelo Governo é fundamental para o sucesso do<br />

seguro rural. A experiência internacional mostra que, para que o projeto seja<br />

eficiente, é fundamental a participação do Governo. A atividade rural possui certas<br />

peculiaridades que impõem um custo operacional excessivamente alto às<br />

seguradoras privadas, o que inviabilizará o negócio, se não houver subsídios<br />

oficiais.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, todos os ventos sopram em favor<br />

da implantação do seguro rural no Brasil. Esse moderno instrumento vai suprir uma<br />

lacuna existente na política agrícola brasileira. O andamento do projeto está agora<br />

em nossas mãos. É preciso haver urgência em sua tramitação. Precisamos votá-lo<br />

ainda este ano e, aprovado, implantá-lo a partir de 2004.<br />

Com a implantação do seguro rural, os produtores brasileiros vão igualar-se<br />

aos seus principais concorrentes internacionais. Com mais segurança e mais crédito,<br />

poderão investir em novas tecnologias. Com isso, não há dúvida de que<br />

aumentaremos nossa produção, o que trará expressivos ganhos para a economia<br />

brasileira, com reflexos altamente positivos na área social, já que a agricultura é uma<br />

das atividades que mais empregam no País.<br />

As últimas estatísticas mostram que tem sido exatamente o agronegócio o<br />

grande sustentáculo da economia brasileira. Criar mecanismos para incentivar esse<br />

setor é quase um imperativo para que o Brasil possa voltar a crescer com índices<br />

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expressivos. Temos agora a grande oportunidade de dar nossa contribuição a esse<br />

processo, aprovando rapidamente a lei que cria o seguro agrícola.<br />

Aproveito a oportunidade para fazer referência a assunto comentado pelos<br />

colegas que nos antecederam. Os juros praticados em nosso País realmente estão<br />

sufocando não só produtores, empresários, comerciantes e industriais, mas a<br />

sociedade brasileira como um todo. É chegado o momento de o Brasil voltar a<br />

crescer, e a passos largos. É hora de revermos a taxa dos juros, de o Governo voltar<br />

toda a sua atenção para o problema da redução dessas taxas. O que os bancos<br />

pagam pelas aplicações é muito pouco, é irrisório. Mas, quando se toma um<br />

empréstimo dos bancos, os juros são altíssimos. O lucro dos banqueiros é altíssimo.<br />

É necessário que o País volte a se desenvolver, e o Governo tem de voltar sua<br />

atenção para a sociedade.<br />

Ouço, com prazer, o nobre Deputado Neucimar Fraga.<br />

O Sr. Neucimar Fraga - Deputado Leandro Vilela, parabenizo V.Exa. pelo<br />

belíssimo e importante discurso que faz nesta tarde. Pelo que passa a agricultura<br />

brasileira, sempre massacrada, como sabemos, é bom termos na Casa<br />

Parlamentares comprometidos com o setor, pessoas que se preocupam, que têm<br />

sensibilidade e responsabilidade para com o assunto. Sabemos que a agricultura é<br />

realmente o mecanismo que impulsiona a economia, e também a solução para os<br />

grandes problemas que enfrentamos, como o da fome que assola o Brasil. Este<br />

país, com 54 milhões de pessoas passando fome, é o único lugar do mundo em que<br />

o agricultor tira da terra 3 colheitas por ano. Ou seja, o Governo Federal precisa<br />

investir na agricultura e garantir aos agricultores brasileiros um preço mínimo para os<br />

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produtos agrícolas, pelo menos para alguns itens. É preciso também garantir o<br />

escoamento da safra e o acesso à tecnologia de ponta. O fato de saber que na Casa<br />

há Parlamentares comprometidos com esse setor deixa-nos muito felizes.<br />

Parabenizamos V.Exa. por seu discurso.<br />

O SR. LEANDRO VILELA - Muito obrigado, Deputado Neucimar Fraga.<br />

Concedo aparte ao nobre Deputado Moacir Micheletto.<br />

O Sr. Moacir Micheletto - Deputado, nesta tarde venho aparteá-lo com muita<br />

alegria, visto que V.Exa. faz, com grande sensibilidade, a defesa de um projeto de<br />

suma importância para a agricultura brasileira. Tenho certeza absoluta de que o dia<br />

em que esta Casa aprovar o projeto do Executivo, cujo Relator é o eminente<br />

Deputado Luis Carlos Heinze, o Brasil vai tornar-se um país diferente. A história da<br />

agricultura brasileira vai dividir-se em duas fases: a de antes e a de depois do<br />

seguro agrícola. Não é possível que um país como o Brasil, líder na produção de<br />

alimentos, não faça seguro agrícola. A agricultura carrega o Brasil nas costas e gera<br />

superávit na balança comercial. Vários países do mundo praticam o seguro agrícola.<br />

Como V.Exa. relatou, há alguns dias um grupo de Deputados, numa missão da qual<br />

V.Exa. participou, esteve no México em visita oficial. Essa visita foi liderada pelo ex-<br />

Ministro da Agricultura Alysson Paulinelli, que continua sendo Ministro do País, e<br />

contou também com a companhia do Presidente da CAMPO, Emiliano Botelho, que<br />

se encontra hoje na Casa. Vimos que lá o seguro agrícola não chega a 3% do custo<br />

da produção, e 99% dos agricultores daquele país utilizam esse extraordinário<br />

mecanismo para a garantia da sua produção. Portanto, congratulo-me com V.Exa.<br />

por tratar desse assunto em seu discurso. Se Deus quiser, o seguro agrícola, uma<br />

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promessa do Presidente da República no lançamento do Plano de Safra e também<br />

um compromisso do Ministério da Agricultura, agora sob a direção do eminente<br />

Ministro Dr. Roberto Rodrigues, será aprovado por esta Casa ainda este ano.<br />

Repito: o Brasil será diferente depois do seguro agrícola.<br />

Micheletto.<br />

O SR. LEANDRO VILELA - Agradeço-lhe o aparte, Deputado Moacir<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, reafirmo o compromisso, que<br />

espero seja de todos os Parlamentares desta Casa, de contribuir, com a aprovação<br />

da lei, para a implantação do seguro rural no País, a fim de que possamos dar mais<br />

segurança ao produtor rural, além de colaborar para o aumento da produção e para<br />

a geração de emprego e riquezas no País.<br />

Ouço, com prazer, o Deputado Darcísio Perondi.<br />

O Sr. Darcísio Perondi - Deputado Leandro Vilela, brilhante liderança de<br />

Goiás, jovem que no seu primeiro mandato desponta com um ótimo trabalho na<br />

Casa, na Comissão da Agricultura, parabéns pelo seu discurso sobre o projeto do<br />

seguro agrícola. De fato, a agricultura dará mais um salto com a implantação do<br />

seguro agrícola. Na semana passada, vimos com muita alegria que o atual Governo<br />

manteve o PRONAF, programa implantado pelo Presidente Fernando Henrique<br />

Cardoso. Deu continuidade, ainda, ao MODERFROTA, que fixa o juro em 8,75%<br />

para a agricultura de extensão, programa também do Governo anterior. Com o<br />

seguro agrícola, o PRONAF, o MODERFROTA e a aprovação de uma equilibrada e<br />

serena lei de biotecnologia, nenhum país do mundo vai segurar a expansão da<br />

agricultura brasileira, que já assusta os Estados Unidos e a Europa, os grandes<br />

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mercadores do mundo. O Brasil crescerá como o país da agricultura que é, gerando<br />

riqueza no campo e emprego na cidade. Parabéns, Deputado Leandro Vilela.<br />

O SR. LEANDRO VILELA - Muito obrigado, Deputado Darcísio Perondi.<br />

Sras. e Srs. Parlamentares, a criação do seguro rural está em nossas mãos.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. NEUCIMAR FRAGA (PL-ES. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vivemos em contexto de<br />

modesta atividade econômica, juros elevados e renda real em queda, as estatísticas<br />

de inadimplência têm atraído especial atenção de analistas, de investidores, da<br />

mídia, da população em geral, e hoje gostaria que atraíssem a atenção desta Casa.<br />

Um levantamento da SERASA, empresa do Brasil em análises<br />

econômico-financeiras para apoiar decisões de crédito e negócios, revelou que o<br />

volume de cheques devolvidos por falta de fundos, em relação ao total de<br />

compensados, em março de 20<strong>03</strong>, foi de 16,7 cheques devolvidos a cada mil<br />

compensados, com alta de 3,1% em relação ao mesmo mês do ano passado,<br />

quando foram registrados 16,2 cheques devolvidos a cada mil compensados. No<br />

mês de maio deste ano, esse percentual representa 3,27 milhões de cheques sem<br />

fundos.<br />

O estudo aponta aumento de 2% no volume de cheques sem fundos também<br />

na comparação primeiro trimestre 20<strong>03</strong>/2002. Nos primeiros três meses de 20<strong>03</strong>,<br />

foram 15,1 cheques devolvidos a cada mil compensados, contra 14,8 no mesmo<br />

período do ano passado. Segundo a SERASA, os números de março, comparação<br />

mensal e trimestral, são os maiores já registrados desde 1991, ano em que foi criado<br />

o índice.<br />

Os juros altos, o continuado processo de queda da renda pessoal e a não<br />

recomposição dos salários, na mesma razão da evolução dos preços, levam o<br />

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cheque, por sua liquidez — é o segundo meio de pagamento mais utilizado no País,<br />

vem depois do dinheiro —, a assumir o papel de quase moeda na economia.<br />

Neste início de 20<strong>03</strong>, na comparação do primeiro bimestre em relação ao<br />

mesmo período de 2002, foi verificada uma variação de 1,4%. Apesar de pequeno,<br />

nunca deve ser entendido como irrelevante qualquer crescimento na inadimplência,<br />

pois não resulta em benefício de ninguém, muito pelo contrário, dificulta e encarece<br />

o crédito no exercício de suas funções primordiais.<br />

Temos ainda no País, em todas as regiões, uma situação peculiar, em que o<br />

comércio varejista, pressionado pela necessidade de gerar caixa ante as<br />

representativas taxas de juros, que impedem a captação de capital de giro, utiliza a<br />

modalidade de cheque pré-datado para financiar seus clientes. Com isso, é comum<br />

em todas as cidades brasileiras encontrarmos comerciantes com as gavetas cheias<br />

de cheque sem fundo.<br />

Devemos ter em mente que o cheque, na forma de ordem de pagamento à<br />

vista, é muito eficiente, mas na modalidade de pré-datado possui características de<br />

venda a prazo e, por esta razão, envolve riscos em seu recebimento que requerem a<br />

criação urgente, pelo Banco Central, que é o agente regulador do sistema financeiro,<br />

de mecanismos que forcem as instituições financeiras a serem responsáveis pelo<br />

cheque até determinado valor, pelo menos 100 reais por folha, porque os bancos<br />

não cobrem o valor dos cheques e são os varejistas que ficam com o prejuízo e têm<br />

que procurar o emitente para tentar receber o dinheiro de outra maneira. O banco<br />

tem de respeitar a data que foi escrita pelo consumidor no cheque. Mais absurdo<br />

ainda é o banco incluir o nome do cliente na SERASA por causa de um cheque<br />

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pré-datado depositado antes do prazo. Está tramitando nesta Casa o Projeto de Lei<br />

nº 360, de 20<strong>03</strong>, de minha autoria, que obriga os bancos a reconhecerem a data<br />

expressa no corpo do cheque, mesmo que seja ela para data futura.<br />

Outra idéia seria a criação do cadastro nacional de controle de cheques<br />

pré-datados, em que o receptor realizaria o cadastramento no momento em que<br />

recebesse o cheque pré-datado de seu cliente, podendo assim ser consultado o<br />

numero de cheques pré-datados que uma pessoa já distribuiu no mercado.<br />

Mas, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, por que não se busca uma<br />

solução para o problema? A resposta é simples, está estampada no lucro<br />

exorbitante que os nossos bancos têm alcançado nos últimos anos. Eles são os<br />

maiores beneficiados na devolução de um cheque.<br />

Os bancos tiveram receita próxima de 220 milhões de reais com a emissão de<br />

cheques sem fundo nos 4 primeiros meses do ano. O dinheiro corresponde às tarifas<br />

cobradas por eles pelos cheques devolvidos por inadimplência. Os ganhos<br />

potenciais crescem ainda mais e podem atingir 420 milhões de reais e mais de 1<br />

bilhão de reais no ano quando são incluídas as tarifas cobradas pela exclusão do<br />

nome da pessoa do cadastro de inadimplentes do Banco Central (CCF). A receita<br />

média dos bancos para cada cheque devolvido 3 vezes é de 17 reais e 54 centavos,<br />

mas pode subir para 33 reais e 6 centavos se for considerada a exclusão do CCF,<br />

que deve ocorrer no futuro, quando o inadimplente saldar suas dívidas. Além da<br />

tarifa bancária, o Banco Central cobra 0,35 centavos por devolução e também 6<br />

reais e 82 centavos para retirar os registros de inadimplência do cadastro. Quem<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

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passa cheque sem fundo, além da dor de cabeça, tem que pagar multa de pelo<br />

menos 40 reais e 58 centavos por folha de cheque para conseguir limpar o nome.<br />

Os dados divulgados pela SERASA — Centralização dos Serviços dos<br />

Bancos S.A. mostram que, na média do ano, para cada mil cheques emitidos, 14,7<br />

foram devolvidos 2 vezes por falta de fundos. Isso significa que cerca de 12,7<br />

milhões de cheques não foram saldados desde o início de 2002.<br />

É tão escandalosa a situação atual, que a sustação ou oposição ao<br />

pagamento é uma ordem imediata através dos terminais de saque. Nem todos os<br />

bancos exigem a comprovação do motivo da sustação, seja por roubo ou extravio,<br />

acompanhada de ocorrência policial, ou cancelamento de negócios. Ocorre, nobres<br />

colegas, que é facultativo ao emitente de cheque sem fundos, alegando extravio,<br />

apresentar ao banco uma declaração de anuência emitida por suposto credor e<br />

obter o cancelamento desse registro, ficando assim liberado para obter talões de<br />

cheques e continuar efetuando compras sem qualquer incômodo.<br />

Por que essa facilidade? Porque este serviço de sustação é cobrado<br />

conforme tabela do banco.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, neste momento em que tanto se<br />

discute a regulamentação do sistema financeiro, é importante notar que a<br />

inadimplência é o segundo componente de maior peso individual na formação da<br />

taxa de juros.<br />

Uma economia dinâmica é caracterizada pela diversidade de meios de<br />

pagamento. O cheque pré-datado faz parte da cultura brasileira e não é o principal<br />

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causador da inadimplência total, porém, sua operacionalização exige o uso de<br />

avançadas ferramentas de crédito para controle desse mecanismo.<br />

Infelizmente, não podemos viver sem nos relacionar com tais instituições. A<br />

prática do depósito de salários em bancos também nos obriga a consumir seus<br />

serviços. Todos sabemos que, com bancos, é preciso estar sempre alerta, o custo<br />

maior da inadimplência por cheques sem fundo pesa no caixa das empresas e não<br />

no das instituições financeiras.<br />

Com todos esses problemas, o povo sai perdendo e as instituições financeira<br />

saem lucrando.<br />

Que Deus abençoe esta Casa!<br />

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O SR. REGINALDO LOPES - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. REGINALDO LOPES (PT-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) -<br />

Sr. Presidente, informo que hoje, às 19h, em Goiânia, começa o 48º Congresso da<br />

UNE. Trata-se de importante entidade, cujo papel foi fundamental para a<br />

redemocratização do País.<br />

Sr. Presidente, aproveito esta oportunidade para solicitar a transcrição do<br />

release em que destaco minha participação na Exposição Nacional SIFE Brasil e em<br />

que relato qual será a minha participação no 48º Congresso da UNE.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Está feito o registro.<br />

RELEASE A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINA 850)<br />

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O SR. ORLANDO DESCONSI - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. ORLANDO DESCONSI (PT-RS. Pela ordem. Sem revisão do orador.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, no que se refere à política de inclusão de<br />

pessoas que hoje estão fora do regime previdenciário, conversamos há pouco com o<br />

Relator da reforma da Previdência, Deputado José Pimentel, sobre a inserção dos<br />

trabalhadores domésticos na lógica de reduzir o valor da contribuição de 20% para<br />

10%, em que o trabalhador pagaria 2% e o empregador 10%. O Relator se mostrou<br />

simpático. Hoje são 1 milhão e 780 mil pessoas que estão nessa situação e apenas<br />

25% com carteira assinada.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Está feito o registro.<br />

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O SR. MARCELINO FRAGA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. MARCELINO FRAGA (PMDB-ES. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna enfatizar o<br />

trabalho da Companhia Siderúrgica de Tubarão — CST, empresa que obtém<br />

faturamento anual da ordem de US$ 983,5 milhões, produção recorde de 5 milhões<br />

de toneladas de aço líquido, segunda produtora brasileira de aço bruto em 2002<br />

(17% da produção nacional), sétima maior exportadora do Brasil (vendas de US$<br />

829 milhões).<br />

Além disso, a CST é responsável por 20% do volume global comercializado,<br />

vendas totais de 4,65 milhões de toneladas em 2002. Desde o início da operação,<br />

em 1983, acumula mais de 62 milhões de toneladas comercializadas, sendo 91%<br />

destinadas ao exterior. Carteira de clientes com cerca de 60 companhias (20<br />

países). Sistema de Garantia da Qualidade com Certificado ISO 9001/2000. Sistema<br />

de Gestão Ambiental com Certificado ISO 14.001.<br />

Ostenta um dos mais baixos custos de produção de aço do mundo, com<br />

excelência operacional e localização estratégica. Produz placas 100% via<br />

lingotamento contínuo desde 1998. Produção diversificada desde 2002, com entrada<br />

em operação do Laminador de Tiras a Quente, com capacidade de produção de 2,0<br />

milhões de toneladas/ano, com foco no mercado interno. Consolida-se como<br />

fornecedora preferencial de semi-acabados de aço de qualidade (placas e bobinas a<br />

quente) para a exigente indústria automotiva. Apresenta indicadores entre os<br />

melhores do mundo nas áreas de meio ambiente (ênfase no desenvolvimento<br />

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sustentável) e segurança no trabalho. Auto-suficiente em energia elétrica (gera, a<br />

partir do aproveitamento de gases do processo produtivo, 100% da energia<br />

necessária à sua produção).<br />

Recentemente, a Yaskawa, empresa japonesa do setor elétrico, assinou<br />

contrato com a CST no valor de R$6,5 milhões, para fornecer 7 pontes rolantes para<br />

a locomoção de bobinas e outros itens do novo laminador da CST inaugurado no fim<br />

do ano passado.<br />

A CST, maior produtora mundial de placas de aço, investiu US$450 milhões<br />

no Laminador de Tiras a Quente (LTQ). Essa unidade alcançará a plena capacidade<br />

instalada de produção de 2 milhões de toneladas de bobinas a quente por ano, em<br />

2005. Até agosto deste ano será entregue a última ponte rolante da CST.<br />

Destaco ainda que, com a aprovação, em 22 de abril, pelo Conselho de<br />

Administração, da execução do plano de expansão da produção de placas de aço<br />

para 7,5 milhões de toneladas/ano, a Companhia dá continuidade a seu<br />

planejamento estratégico e inicia uma nova fase de investimentos. O novo<br />

investimento permitirá à CST manter sua liderança como fornecedora preferencial de<br />

semi-acabados de qualidade para a indústria siderúrgica mundial.<br />

Sr. Presidente, mais uma vez, congratulo-me com essa importante<br />

Companhia pelo trabalho que presta ao nosso País e ao mundo.<br />

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que autorize a divulgação deste<br />

pronunciamento em todos os meios de comunicação da Casa.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Em continuidade ao Grande Expediente,<br />

concedo a palavra à Deputada Mariângela Duarte, do PT de São Paulo. S.Exa. tem<br />

até 25 minutos para o seu pronunciamento.<br />

A SRA. MARIÂNGELA DUARTE (PT-SP. Sem revisão da oradora.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta é a primeira vez que me manifesto no<br />

Grande Expediente.<br />

Sr. Presidente, fiquei assustada com as reportagens sobre o programa de<br />

pesca e aqüicultura e sobre o lançamento da Conferência Nacional de Pesca e<br />

Aqüicultura pelo Presidente Lula e pelo Ministro Fritsch, no Palácio do Planalto, na<br />

última sexta-feira. É impressionante o fato de que neste País, com seus 8,5 mil<br />

quilômetros de extensão, que abrangem uma zona econômica exclusiva de mais de<br />

3,5 milhões de quilômetros quadrados, correspondendo a quase metade do<br />

território, com uma área extensa que pode ser utilizada para a pesca e a aqüicultura,<br />

além dos mais de 2 milhões de hectares de terras alagadas, ainda se considere que<br />

pesca e aqüicultura mereçam políticas menores. Ora, se vamos cuidar de segurança<br />

alimentar, preocupação maior de qualquer sociedade, como não considerar<br />

essencial o alimento produzido nessas atividades, num país como o nosso?<br />

Represento neste Parlamento, com muito orgulho, a região caiçara de São<br />

Paulo, o litoral do Estado. Este País, com seu imenso potencial para a pesca e a<br />

aqüicultura, aproveita seus recursos hídricos numa atividade de exploração natural,<br />

sem qualquer sofisticação. Esse setor está abandonado há mais de 20 anos. Já<br />

tivemos no Brasil um determinado banco de crédito para a pesca, ocasião em que<br />

produzíamos 70% do que se produz hoje. E para quem conhece e defende o<br />

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agronegócio, saibam a tilápia alcança no mercado externo o preço de 6 dólares o<br />

quilo. Não há produto, nem mesmo o frango, que alcance esse preço. Portanto, Sr.<br />

Presidente, estou indignada com a repercussão canhestra das medidas adotadas<br />

pelo Governo. Disseram que o Presidente liberou 1,5 milhão de reais, o que já seria<br />

uma verba considerável. Não é verdade. As ações não se resumem a isso. Portanto,<br />

para esclarecimento desta Nação, solicito que seja transcrito aos Anais da Casa,<br />

como parte integrante do meu pronunciamento, o anúncio feito pelo Palácio do<br />

Planalto, na sexta-feira, sobre a nova política de pesca e aqüicultura. Trata-se da<br />

estruturação de programas para esse setor vital para a segurança alimentar do<br />

povo, para garantir-lhe um nível adequado de ingestão de proteínas, contribuindo<br />

para o aumento da capacidade de funcionamento do cérebro das crianças<br />

brasileiras. Sem dúvida essa política terá sucesso.<br />

Sr. Presidente, em primeiro lugar, cabe indagar: por que não se deu destaque<br />

ao programa Pescando Letras, desenvolvido em parceria da Secretaria Especial de<br />

Aqüicultura e Pesca com o Ministério da Educação? Esse programa vai tirar da<br />

cegueira e do escuro do analfabetismo 65 mil pessoas, a fim de resgatar a cidadania<br />

da população caiçara brasileira, e não foi divulgado. Como se explica isso? Por que<br />

um projeto para a educação dos pescadores do nosso litoral e do interior do País<br />

não é valorizado? Então, alfabetizar 65 mil pessoas que atuam nessa área não é<br />

importante?<br />

Em segundo lugar, Sr. Presidente, cumpre ressaltar que recursos no valor de<br />

1,5 bilhão de reais do BNDES, oriundos do Fundo de Marinha Mercante, serão<br />

destinados à construção de embarcações adequadas à pesca oceânica, e quero<br />

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alertar, principalmente a quem não lida com a pesca mas por oportunismo já está<br />

movimentando-se para entrar nesse rol, para o fato de que o Governo e os tempos<br />

são outros. No Governo Lula, com o companheiro José Fritsch à frente dessa<br />

Secretaria, não teremos aventureiros candidatando-se ao dinheiro da pesca<br />

oceânica.<br />

Em terceiro lugar, saliento que serão destinados, inicialmente, 800 milhões de<br />

reais para ampliar e modernizar a pesca e a aqüicultura no Norte e no Nordeste por<br />

meio do Acordo de Cooperação entre o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia,<br />

com aportes dos Fundos Constitucionais das respectivas Regiões. É preciso deixar<br />

claro para todo o povo brasileiro o alcance dessa medida.<br />

Ainda na mesma direção, estaremos firmando, no papel de Governo,<br />

convênios com a FAO, a Fundação Banco do Brasil e a CODEVASF para o<br />

desenvolvimento da aqüicultura do semi-árido brasileiro. Não bastasse isso, com<br />

esse mesmo foco, voltado para o pescador artesanal, nosso Governo decidiu liberar<br />

55 milhões de reais para financiamentos do PRONAF/Pesca, e encaminhará a esta<br />

Casa, em regime de urgência, projeto de lei que reduz de 3 anos para apenas 12<br />

meses o tempo de carteira exigido para o acesso do pescador familiar artesanal ao<br />

seguro-desemprego nos períodos do defeso.<br />

Finalmente, nosso Governo anunciou que decidiu equalizar os preços do óleo<br />

diesel marítimo para a frota pesqueira nacional. Com essa medida, vamos reduzir<br />

em 20%, em média, os preços de um item que representa quase a metade dos<br />

custos de produção.<br />

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Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, concluo a primeira parte<br />

deste meu pronunciamento dizendo que, numa meta tímida, vamos avançar na<br />

produção brasileira de pescados, passando de 859 mil para 1,5 milhão de toneladas<br />

em apenas 2 ou 3 anos, e ainda geraremos emprego e renda numa atividade que é<br />

essencial para a alimentação do povo brasileiro. E nenhum órgão da imprensa<br />

apresentou esses dados.<br />

Esse setor foi abandonado pelos sucessivos Governos do País por 20 anos.<br />

Ora, desde quando o IBAMA é órgão para cuidar da pesca? Agora os Estados terão<br />

de correr para remediar essa situação. Os Municípios litorâneos e os que possuem<br />

grandes espelhos d’água terão de cuidar da pesca e da aqüicultura. Portanto, Sr.<br />

Presidente, após esse vácuo, esse desleixo, esse abandono que durou 20 anos, um<br />

verdadeiro crime, nosso Governo agora presta integral atenção à pesca e à<br />

aqüicultura.<br />

Concedo, com prazer, o aparte ao meu colega de bancada, o nobre Deputado<br />

Wasny de Roure.<br />

O Sr. Wasny de Roure - Deputada Mariângela Duarte, parabenizo V.Exa. e<br />

registro meus cumprimentos pela determinação com que vem conduzindo seu<br />

mandato nesta Casa, em defesa do interesse público, respondendo assim à<br />

expectativa da nossa sociedade. Tenho observado seu empenho, enormemente<br />

qualificado, na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Já<br />

há algum tempo observo seu denodo com relação à pesca. Observo também o<br />

acúmulo de experiência que V.Exa. tem nessa área, não apenas por vir de Santos,<br />

uma cidade à beira-mar, mas sobretudo por defender um segmento que, como<br />

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V.Exa. disse há pouco, está abandonado, sucateado, negligenciado que foi por<br />

aproximadamente 20 anos. O Brasil tem uma extensa região costeira, portanto uma<br />

enorme população que trabalha na pesca, que cuida da pesca, sem mencionar a<br />

população pesqueira interiorana, em face da qualidade das nossas águas doces,<br />

dos nossos rios. Havia uma total ausência de políticas para esse setor fundamental<br />

para a nossa economia. Resolver essa questão era crucial, não apenas pelo<br />

montante de recursos envolvidos e pela capacidade econômica desse setor, mas<br />

pela necessidade de geração de renda em um País que tem sido negligente com<br />

sua população carente. O Presidente Lula foi extremamente sábio. É mais um fato<br />

para se registrar, marcando a real diferença deste Governo em relação ao anterior:<br />

Lula foi capaz de resgatar e qualificar a pesca brasileira, dando-lhe tal status que o<br />

setor conta agora com um Ministério, ou seja, com a garantia de políticas públicas<br />

que potencializem a economia pesqueira. Parabéns, Deputada Mariângela Duarte.<br />

Continue dedicando-se a essa área, a exemplo de outros Parlamentares, como a<br />

Deputada Selma Schons. Com certeza seu trabalho será de extrema valia para a<br />

economia brasileira, sobretudo para essa população que vive no anonimato e<br />

precisa de vozes que clamem por seus interesses, que façam a defesa desses<br />

trabalhadores da pesca em nosso País.<br />

A SRA. MARIÂNGELA DUARTE - Agradeço o aparte ao Deputado Wasny de<br />

Roure, Parlamentar brasiliense que dá muito valor à pesca e à aqüicultura.<br />

Ouço com prazer o nobre Deputado Nicias Ribeiro.<br />

O Sr. Nicias Ribeiro - Deputada Mariângela Duarte, V.Exa. é de Santos, do<br />

Estado de São Paulo; eu venho de um país chamado Pará, lá de cima, do Norte. No<br />

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meu Estado, na minha região amazônica, tão falada, com tantos defensores — até<br />

demais —, temos a maior bacia hidrográfica deste planeta. Até a Bíblia Sagrada, no<br />

Gênesis, fala da sabedoria do povo egípcio no aproveitamento das várzeas do<br />

grande Rio Nilo, que os egípcios chamam de "mãe Nilo", porque, com suas<br />

enchentes periódicas, de 6 em 6 meses ele fertiliza aquelas várzeas, tornando-as<br />

cada vez mais ricas e produtivas, graças ao húmus que espalha. No Brasil temos um<br />

rio chamado Amazonas, maior que o Nilo, tanto em extensão como em volume de<br />

água, com várzeas dos dois lados e cheio de ilhas. O húmus do Amazonas é mais<br />

rico que o do Nilo. Como sabemos, o húmus é constituído pela decomposição<br />

orgânica. Mas saiba V.Exa. que esse húmus amazônico não é aproveitado há 20<br />

anos. Desde que o Brasil foi descoberto, nesses 500 anos de História oficial do País,<br />

com 100 anos de República e quase 200 anos de independência, lamentavelmente<br />

nenhum Governo até hoje se dedicou a fazer um grande projeto de aproveitamento<br />

das várzeas do Amazonas. Veja bem, se as várzeas do Amazonas são mais ricas<br />

que as do Nilo, onde há enchentes de 6 em 6 meses, imagine V.Exa. o potencial de<br />

produtividade das várzeas da Ilha de Marajó, que são fertilizadas de 6 em 6 horas<br />

pelo húmus do Rio Amazonas. Fico feliz por ouvir V.Exa. e perceber seu entusiasmo<br />

pelo apoio que o Presidente Lula presta à pesca, que sempre foi abandonada neste<br />

País, e faço coro com V.Exa., esperando que o atual Governo e especialmente o<br />

Ministério da Agricultura lembrem que no Pará e em toda a Amazônia há várzeas<br />

riquíssimas, prontas para produzir os alimentos de que o Presidente Lula precisa<br />

para matar a fome da população carente deste País. Parabéns a V.Exa. pelo<br />

discurso.<br />

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A SRA. MARIÂNGELA DUARTE - Agradeço o aparte a V.Exa., Deputado<br />

Nicias Ribeiro, legítimo representante do Amazonas. Para o segundo assunto de<br />

que vou tratar, peço muita atenção a V.Exa., dada a enormidade da importância de<br />

um projeto de lei que apresentei a esta Casa sobre a biodiversidade, que diz<br />

respeito também à Amazônia. Solicito também a atenção dos demais Deputados<br />

para esse projeto, que versa sobre biologia molecular e faz a defesa dos biomas<br />

nacionais. Examinando o assunto, constatei que não temos legislação que<br />

contemple essa área, além de decretos federais; então, elaborei o projeto, cuja<br />

justificativa passo a ler aqui:<br />

"Em defesa da Mata Atlântica<br />

Há tempos a exploração desordenada da Mata Atlântica<br />

tem sido preocupação desta Deputada, especialmente porque o<br />

domínio dessa região estende-se por 1,2 milhão de quilômetros<br />

quadrados, ao longo da costa brasileira do Rio Grande do Norte<br />

ao Rio Grande do Sul, avançando para o interior, principalmente<br />

nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.<br />

Considerada a quinta área mais ameaçada e rica em<br />

espécies do mundo, essa região apresenta-se como um mosaico<br />

diversificado de ecossistemas, com estruturas e composições<br />

florísticas diferenciadas, em virtude da diversidade de solo e<br />

relevo e das características da ampla área de ocorrência,<br />

aproximadamente 7,3% de sua cobertura florestal original.<br />

Estudos apontam a existência de 1.361 espécies da fauna<br />

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brasileira, com 261 espécies de mamíferos, 620 de aves, 200 de<br />

répteis e 280 de anfíbios, sendo que 567 dessas espécies só<br />

ocorrem nesse bioma, segundo informações retiradas do portal<br />

Ambiente Brasil.<br />

Possui ainda cerca de 20 mil espécies de plantas<br />

vasculares, das quais 8 mil também só ocorrem na Floresta<br />

Atlântica. No sul da Bahia foi identificada a maior diversidade<br />

botânica do mundo de plantas lenhosas, ou seja, foram<br />

registradas 454 espécies em um único hectare, destacando-se<br />

como ecossistema ameaçado a floresta de araucárias,<br />

distribuída por cerca de 400 mil quilômetros quadrados.<br />

Apesar de considerada, por pesquisadores, uma das<br />

maiores biodiversidades do País e do mundo, o que resta da<br />

Mata Atlântica é praticamente desconhecido de nossa<br />

população. Na região litorânea, por exemplo, prevalece o<br />

interesse apenas pelo gozo das belas praias; o turismo<br />

prospera, graças a Deus; no entanto, não se atenta para o<br />

potencial da biodiversidade, e nega-se, dessa forma, um<br />

fabuloso banco genético de possibilidades para uma gama de<br />

atividades, especialmente a indústria farmacêutica de<br />

medicamentos naturais e a biogenética.<br />

O estudo da biodiversidade tende a ser um dos principais<br />

ramos científicos responsáveis pela transformação do futuro,<br />

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mundialmente, e por isso há grande disputa pela exploração de<br />

biorregiões por empresas multinacionais e estrangeira".<br />

Importante destacar que 50% da Mata Atlântica — do que resta, ou seja,<br />

7,5% — preservada encontra-se no Vale do Ribeira, região que considero irmã da<br />

que represento, o Vale da Baixada Santista. Cinqüenta por cento da reserva da Mata<br />

Atlântica intocada encontra-se na região mais pobre do Estado mais rico do Brasil,<br />

uma das regiões mais esquecidas do Estado de São Paulo. Ali a população<br />

sobrevive em condições de pobreza, numa região riquíssima quanto à<br />

biodiversidade. Destaco que o nosso projeto ressalta o valor do Vale do Ribeira,<br />

uma das mais esquecidas regiões do Estado de São Paulo, que, ademais, possui o<br />

Complexo Lagamar, de imensa riqueza como ecossistema costeiro e marítimo, do<br />

mesmo modo que os pesquisadores apontam o Vale do Ribeira e Bertioga, no litoral<br />

de São Paulo, como regiões que apresentam as maiores reservas de biodiversidade<br />

do País, talvez do planeta.<br />

"Apesar de o Brasil despontar, na América Latina, como<br />

um grande expoente em biotecnologia, sobretudo pela sua vasta<br />

biodiversidade, de acordo com manifestação de pesquisadores<br />

da EMBRAPA, não possui uma política séria, voltada ao manejo<br />

sustentável dos seus recursos florestais e à inclusão das<br />

populações locais, como denunciam inúmeras organizações<br />

não-governamentais.<br />

Preocupada, inicialmente, com a implantação de um<br />

Centro de Biotecnologia da Mata Atlântica, nos moldes do<br />

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recém-inaugurado Centro de Biotecnologia da Amazônia, que<br />

integra o Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para Uso<br />

Sustentável da Biodiversidade da Amazônia — PROBEM,<br />

instituído pelo Decreto Federal nº 4.284, de 2002, protocolei, no<br />

plenário desta Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 614,<br />

de 20<strong>03</strong>, estabelecendo as diretrizes do Programa Brasileiro de<br />

Ecologia Molecular para Uso Sustentável da Biodiversidade da<br />

Mata Atlântica, da zona costeira e marítima, da Amazônia e de<br />

outros biomas nacionais, como o cerrado, no intuito de que a<br />

implementação e a manutenção de programa da envergadura do<br />

PROBEM se faça com a segurança jurídica da lei.<br />

Lutaremos para que, a exemplo do Centro de<br />

Biotecnologia da Amazônia, que abre um leque de perspectivas<br />

de negócios relacionados ao aproveitamento da biodiversidade<br />

da região, apontando para a formação de um pólo de<br />

bioindústrias em médio prazo, seja implantado o Centro de<br />

Biotecnologia da nossa Mata Atlântica, interligado a uma rede<br />

nacional de laboratórios e grupos de pesquisadores, ao lado da<br />

conservação e do desenvolvimento sustentável, com fomento e<br />

difusão do conhecimento científico, que incorpore as populações<br />

locais e garanta, ainda, a promoção da capacitação tecnológica<br />

das empresas regionais em biotecnologia e o desenvolvimento<br />

de bioprodutos, além da articulação dos canais de<br />

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financiamento, especialmente através dos fundos setoriais de<br />

ciência de tecnologia, a formação de empresas de base<br />

tecnológica, o crescimento das empresas existentes e a atração<br />

de novas empresas para o setor de recursos naturais, bem como<br />

a contribuição para a formação de recursos humanos.<br />

Essa é uma contribuição inicial para as discussões sobre<br />

esse tema de cunho estratégico para o País, e este projeto de lei<br />

representa um vigoroso sinalizador de estruturação legal para<br />

aglutinar as forças que ainda teimam em lutar pelos benefícios<br />

advindos do uso sustentável da biodiversidade, cabendo frisar<br />

que as únicas formas de se enfrentar a ambição estrangeira, que<br />

percebe a riqueza dos bancos de genes do Brasil, são as<br />

mobilizações políticas e populares, de forma que não podemos<br />

admitir que se ignore a necessidade de implantação de centros<br />

de estudo e pesquisa com estrutura e investimentos, já que não<br />

há tradição de nossas empresas em pesquisa, e as<br />

Universidades não dão conta desse processo, a fim de que se<br />

afaste de vez a negligência e a omissão do País, que insiste em<br />

investir apenas 0,80% do PIB nacional em pesquisa."<br />

Ouço com prazer o aparte do Deputado Valdenor Guedes.<br />

O Sr. Valdenor Guedes - Deputada Mariângela, aproveito a oportunidade<br />

para cumprimentá-la e parabenizá-la por tão brilhante pronunciamento, que<br />

apresenta, acima de tudo, sugestões para projetos que serão desenvolvidos não só<br />

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na Amazônia, mas em todo o Brasil. Venho lá do Estado do Amapá, que está acima<br />

do Estado do Pará, lá onde começa o Brasil. Também fazemos parte da nossa<br />

Amazônia. E V.Exa. defende um setor vital, que importa não somente à Amazônia,<br />

mas a todo o Brasil: a pesca, que, como disse o nobre Deputado que me antecedeu,<br />

passou do status de Secretaria para o de Ministério. Logicamente, nós que<br />

convivemos neste País com água doce e salgada, com nossos imensos rios,<br />

sabemos que nossa população — principalmente aqueles que fazem da pesca seu<br />

meio de vida — precisa de mais estrutura, Deputada. O Brasil, nessa área, precisa<br />

de grandes investimentos, para que possa tornar-se um país exportador. Vemos<br />

pequenos países que não têm um décimo da produção de pesca do Brasil e são<br />

exportadores, com um PIB elevado em relação à pesca. O IBAMA já fez um grande<br />

trabalho em termos de fiscalização. Com o Ministério teremos uma maior<br />

participação nessa área, além da atuação do IBAMA, cuja presença desde já<br />

agradecemos, mas queremos que seja revista, no que se refere à produção de<br />

pescado no Brasil. Por exemplo, no Amapá há hoje uma superpopulação de jacarés,<br />

que estão tomando conta dos rios da Amazônia. Não há como eliminá-los. O IBAMA<br />

proíbe que se faça isso. Deputada, parabéns pelo seu brilhante pronunciamento.<br />

A SRA. MARIÂNGELA DUARTE - Agradeço ao Deputado Valdenor Guedes,<br />

aliás, aos dois Deputados que me apartearam, ambos da Amazônia, defensores da<br />

pesca e da biodiversidade.<br />

Sr. Presidente, para concluir, quero fazer um registro estarrecedor: em 1996,<br />

a Assembléia Legislativa do Acre instalou uma CPI para investigar o roubo de<br />

espécimes da Amazônia brasileira, um crime contra a nossa biodiversidade, e<br />

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constatou-se que num único ano levaram 560 mil quilos de sementes para serem<br />

patenteadas em outros países. Isto é, roubam nossos recursos naturais e utilizam-<br />

nos como insumos para a fabricação de medicamentos que depois nos vendem a<br />

preços estratosféricos.<br />

Agradeço a V.Exa. e aos nobres pares, especialmente aos queridos<br />

Deputados da Amazônia. Estaremos todos envolvidos nesse projeto da pesca, da<br />

aqüicultura e da defesa da nossa biodiversidade, dos nossos diversos biomas, para<br />

que este País saia da situação de atraso científico e tecnológico em que se<br />

encontra.<br />

ANÚNCIO A QUE SE REFERE A ORADORA<br />

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(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINA 867)<br />

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O SR. WASNY DE ROURE - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. WASNY DE ROURE (PT-DF. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nenhum homem ou mulher de<br />

bem deste País pode aceitar que dezenas de pessoas de várias partes do Brasil<br />

continuem sendo vítimas de remédios contaminados. Causam-nos revolta notícias<br />

diárias dando conta de que dois medicamentos são responsáveis pela morte de 23<br />

pessoas e da cegueira total ou parcial de pelo menos outras 13.<br />

As mortes teriam sendo provocadas pelo medicamento Celobar, que é<br />

utilizado para facilitar a realização de exames radiológicos. Praticamente não há<br />

mais dúvidas de que, para economizar 100 dólares — o equivalente a trezentos<br />

reais — o Laboratório Enila falsificou o medicamento, contaminando-o com<br />

carbonato de bário, substância tóxica usada em veneno para ratos. A Fundação<br />

Oswaldo Cruz já divulgou laudo comprovando a contaminação.<br />

Como se não bastasse, dois colírios, o Methyl Lens Hypac 2%, do Laboratório<br />

Lenssurgical Oftalmologia e o Oftvisc, do laboratório Oftvision, são suspeitos de ter<br />

causado cegueira em 13 pessoas. Esses colírios são utilizados na cicatrização de<br />

cirurgias de cataratas.<br />

O que é gravíssimo, Sr. Presidente, é que, segundo noticia a imprensa, o<br />

Laboratório Lenssurgical não tinha licença da Agência Nacional de Vigilância<br />

Sanitária para fabricar o colírio. Pior: esse colírio estava interditado pela ANVISA.<br />

Uma constatação que nos assusta ainda mais é que, segundo publicou o<br />

jornal Correio Braziliense, com base em revelações feitas pela Gerência-Geral de<br />

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Inspeção de Medicamentos da ANVISA, as instituições públicas responsáveis pela<br />

fiscalização da produção de remédios não têm estrutura para fazer vistorias<br />

periódicas nas indústrias. Pelo menos 20% de todos os laboratórios e farmácias de<br />

manipulação do Brasil não são fiscalizados anualmente pelos órgãos de vigilância<br />

sanitária estaduais.<br />

Não podemos continuar assistindo passivamente à morte de tantas pessoas,<br />

à destruição de tantas vidas e lares. Algo de muito errado acontece quando um pai<br />

ou uma mãe de família, ou ainda uma criança ou adolescente se dirige a um hospital<br />

para fazer um exame de raio X e morre logo em seguida, ou quando um adulto fica<br />

cego após uma simples cirurgia de catarata.<br />

Quero somar minha indignação à de todo o povo brasileiro e cobrar das<br />

autoridades públicas iniciativas concretas para que os culpados sejam duramente<br />

punidos e os danos causados aos pacientes sejam reparados. Que a indignação do<br />

Ministro da Saúde se concretize em punição exemplar para os criminosos, que a<br />

ANVISA demonstre maior empenho no exercício do seu papel fiscalizador da<br />

qualidade do medicamento comercializado para a sociedade brasileira e, além disso,<br />

que o Poder Público encontre meios estruturais e preventivos para que tragédias<br />

como essa não ocorram mais em nosso País, sob pena de descrédito e<br />

desmoralização internacional, em um momento em que o mundo voltou a acreditar<br />

no Brasil.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. ZEQUINHA MARINHO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. ZEQUINHA MARINHO (PTB-PA. Pela ordem. Sem revisão do orador.)<br />

- Sr. Presidente, meu pronunciamento versa sobre a passagem dos 92 anos da<br />

Igreja Evangélica Assembléia de Deus no Brasil. Fundada exatamente em <strong>18</strong> de<br />

junho de 1911, essa Igreja saiu de Belém do Pará para o Brasil e para o mundo.<br />

Hoje temos uma grande instituição religiosa evangélica, que espalha, de forma<br />

extraordinária, a mensagem transformadora do Evangelho, a paz e a educação<br />

religiosa.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é com extraordinária alegria que<br />

venho a esta tribuna para comunicar a este douto Plenário o aniversário de uma das<br />

instituições mais respeitadas do País: a Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Não<br />

posso deixar passar despercebida esta data, pois, além de com orgulho fazer parte<br />

dessa Igreja, a maioria dos votos que obtive nas últimas eleições foram-me<br />

concedidos pelo povo evangélico do meu Estado do Pará, em especial da<br />

Assembléia de Deus, e se aqui estamos como Parlamentar agradecemos àqueles<br />

servos de Deus.<br />

Devo informar-lhes, Sras. e Srs. Deputados, que a Assembléia de Deus no<br />

Brasil foi organizada exatamente na Capital do Estado que represento, como já<br />

disse, em <strong>18</strong> de junho de 1911, por dois missionários ainda bem jovens, mas cheios<br />

do Espírito Santo, chamados Gunnar Vingren e Daniel Berg. A eles se somaram<br />

alguns cristãos que estavam, nessa ocasião, desligando-se da Igreja Batista em<br />

Belém. Hoje, portanto, completam-se 92 anos de bênçãos para esta Nação.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Convém ressaltar que, ao longo dessa trajetória, foram muitos os desafios<br />

enfrentados pelos pioneiros assembleianos, que ainda hoje lutam para que a chama<br />

pentecostal continue acesa como algo imprescindível na vida do povo de Deus.<br />

Jamais se poderá negar, Sr. Presidente, a importância da Igreja Evangélica<br />

Assembléia de Deus no Brasil, que de forma decisiva tem dado sua contribuição<br />

para a redução dos grandes problemas enfrentados pela população brasileira, entre<br />

eles o elevado índice de violência, que tem sido constantemente combatido pela<br />

pregação da palavra de Deus. Assim sendo, essa Igreja tem cumprido seu papel<br />

como sociedade religiosa, pois presta relevantes serviços ao nosso País, não só<br />

com a evangelização, mas com o efetivo atendimento social, principalmente nas<br />

áreas da educação e da saúde.<br />

Atualmente, são aproximadamente 20 milhões de fiéis espalhados pelos 4<br />

cantos do País, disseminando as Boas Novas do Senhor Jesus aos cidadãos<br />

brasileiros.<br />

No meu Estado do Pará, com enorme dimensões territoriais, a Assembléia de<br />

Deus está presente nos lugares mais difíceis, com mais de 500 igrejas sedes e<br />

cerca de 7 mil templos à disposição da população paraense, atendida por<br />

abnegados pastores, sob o comando do Presidente da Convenção de Ministros e<br />

Igrejas Evangélicas Assembléia de Deus no Pará, o Reverendo Gilberto Marques de<br />

Souza, que tem sido incansável na obra de Deus.<br />

Na cidade de Belém, capital do Estado do Pará, conhecida como o berço do<br />

movimento pentecostal no Brasil, onde se está comemorando a festa dos 92 anos,<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

além do majestoso Templo Central, ainda existem 400 Congregações a serviço do<br />

Reino de Deus.<br />

Portanto, Sras. e Srs. Deputados, requeiro, na forma regimental, que sejam<br />

registradas nos Anais desta Casa Legislativa minhas congratulações a todos os que<br />

fazem a Assembléia de Deus no Brasil, na data em que comemoram os 92 anos de<br />

Pentecostes na Evangelização.<br />

Muito obrigado.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Nicias Ribeiro, para uma Comunicação de Liderança, pelo PSDB.<br />

O SR. NICIAS RIBEIRO (PSDB-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ontem toda a Nação assistiu ao<br />

pronunciamento do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cidade de Pelotas, no<br />

Rio Grande do Sul.<br />

Mais uma vez S.Exa. — e ontem de maneira muito mais enfática — decidiu<br />

fazer comparações um tanto quanto esdrúxulas, como, por exemplo, magistrados<br />

com canavieiros, professores com tiradores de cana.<br />

Em primeiro lugar, solidarizo-me com a Magistratura nacional pela forma<br />

desairosa com que tem sido tratada pelo Presidente da República, Sr. Luiz Inácio<br />

Lula da Silva.<br />

Em segundo lugar, congratulo-me com o ilustre Presidente do Supremo<br />

Tribunal Federal, Ministro Maurício Corrêa, pelo pronunciamento sobre a discussão<br />

dos anseios da classe que coordena a respeito da reforma da Previdência Social,<br />

que se anuncia nesta Casa e no Brasil.<br />

Sr. Presidente, Rui Barbosa, em seu discurso Oração aos Moços, discutiu a<br />

regra da igualdade. Mostrou aquele causídico que não se pode tratar desiguais<br />

como se fossem iguais. Tratar desiguais com igualdade, segundo Rui Barbosa, é<br />

desigualdade flagrante e não igualdade real.<br />

O meu partido e eu entendemos que o Brasil precisa das reformas da<br />

Previdência Social e tributária. Não posso admitir que, à guisa de se discutir ou de<br />

se reformar a Previdência Social, se busque a solução para o déficit público.<br />

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Não é possível que tratem atividades absolutamente desiguais como se todos<br />

integrassem conjunto orgânico igual. Por esta razão, solidarizo-me e congratulo-me<br />

com o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa. Inquieta-me o<br />

momento em que a Magistratura nacional não tiver a segurança de aposentadoria<br />

tranqüila e que nos preocupemos com o dia-a-dia dos senhores magistrados.<br />

Em qualquer Justiça do País, não podemos correr o risco de constituir<br />

Magistratura medíocre, despreparada intelectualmente e, como se disse no encontro<br />

dos Promotores de Justiça, realizado no Pará, que haja a contratação de pessoas<br />

que aceitem negociar para sobreviver.<br />

Desejo a construção de uma Magistratura comprometida com o futuro do<br />

País. Por isso, usei da tribuna para me congratular com tal Magistratura, na<br />

expectativa de que, na discussão da reforma da Previdência, possamos dar a César<br />

o que é de César, e a Deus o que é de Deus, dar tratamento específico aos<br />

magistrados, porque entendemos que eles integram carreira de Estado.<br />

Por fim, não poderia deixar de comentar o pronunciamento do Presidente<br />

Lula, em resposta àquilo que entendeu ser talvez uma agressão do ex-Presidente<br />

Fernando Henrique Cardoso sobre o estado em que recebeu esta Nação.<br />

O Governo anuncia o superávit primário. Estamos festejando a supersafra<br />

agrícola deste ano. Todavia, é importante sabermos que se essa safra está sendo<br />

colhida em 20<strong>03</strong> deve-se ao fato de os grãos terem sido plantados em 2002 e 2001.<br />

Portanto, não se planta hoje — usando a expressão do próprio Presidente — para<br />

se colher amanhã. Plantou-se ontem exatamente para que o Presidente Lula<br />

pudesse hoje colher e, com a grande exportação de produtos agrícolas, melhorar a<br />

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balança comercial brasileira e aumentar o tão festejado superávit primário,<br />

fantástico, que tem atendido às metas previstas pelo Fundo Monetário Internacional.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nesta oportunidade registro também<br />

minha inquietação com outra declaração do Presidente Lula. Em dias anteriores,<br />

preocupou-se em abrir, segundo S.Exa., a caixa-preta do Poder Judiciário deste<br />

País. Reitero que, ontem, mais uma vez, não tratou bem a Magistratura brasileira.<br />

Entendo que deve haver, em nome da manutenção da democracia, um<br />

perfeito equilíbrio de comportamento entre o Chefe do Poder Executivo e os<br />

representantes dos demais Poderes que integram a União.<br />

Agradeço à Mesa a atenção e a oportunidade.<br />

Que Deus continue ajudando o Brasil!<br />

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A SRA. FÁTIMA BEZERRA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) – Tem V.Exa. a palavra.<br />

A SRA. FÁTIMA BEZERRA (PT-RN. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero fazer dois breves comunicados.<br />

Primeiro gostaria de parabenizar esta Casa e o Senado Federal pela instalação da<br />

CPI do BANESTADO. Setores da imprensa vinham fazendo sérias acusações ao<br />

nosso Governo, insinuando que ele não tinha interesse nessa Comissão, por isso<br />

estaria dificultando sua criação. Hoje a CPI foi finalmente instalada e, com certeza,<br />

atuará com toda a seriedade e transparência, fazendo as devidas apurações. O<br />

resultado dos seus trabalhos será encaminhado ao Ministério Público e à Justiça, a<br />

quem cabe efetivamente julgar as denúncias.<br />

No outro comunicado breve, Sr. Presidente, quero reiterar a importância do<br />

programa de fiscalização patrocinado desde abril pela Controladoria-Geral da União.<br />

No primeiro momento, somente 5 Municípios seriam fiscalizados; no mês passado<br />

esse número subiu para 26; e hoje, com o terceiro sorteio, já são 50 Municípios,<br />

entre os quais dois do meu Estado, Angicos e Taipu.<br />

O programa tem significado extraordinário. Como tem dito o próprio Ministro<br />

Waldir Pires, não se pretende fiscalizar os Prefeitos em si. Os fiscais da<br />

Controladoria irão analisar em cada um dos Municípios selecionados a aplicação de<br />

recursos federais feita por órgãos da Administração Federal ou, por meio de<br />

repasse, sob qualquer forma, por órgãos das administrações dos Estados e dos<br />

Municípios ou quaisquer outras entidades legalmente habilitadas. Esses recursos<br />

são do povo, são patrimônio público.<br />

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Sr. Presidente, congratulo-me com o Governo Lula e com o Ministro Waldir<br />

Pires, que, atendendo a reivindicações da bancada do PT e de vários outros<br />

Parlamentares, aumentou o número de Municípios a serem fiscalizados, dando<br />

prosseguimento a um programa que, sem dúvida nenhuma, tem caráter didático,<br />

pois significa o Governo atuando e mostrando que não aceita a corrupção.<br />

Tolerância zero!<br />

Finalmente, agradeço ao Deputado Zico Bronzeado a generosidade da<br />

espera. Sei que o pessoal da sua região está ansioso por ouvi-lo. Não tenho dúvida<br />

de que seu pronunciamento será brilhante.<br />

Muito obrigada, Sr. Presidente.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Dando continuidade ao Grande<br />

Expediente, concedo a palavra ao Deputado Zico Bronzeado, do PT.<br />

O SR. ZICO BRONZEADO (PT-AC. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, meu pronunciamento trata da minha Amazônia,<br />

especialmente do meu Estado, o Acre, mas antes quero registrar parte de discurso<br />

em que elogiei o Presidente Lula e que mereceu do Jornal da Câmara o seguinte<br />

comentário:<br />

“Deputado elogia ousadia das mudanças. (...)<br />

Deputado Zico Bronzeado disse que a construção de uma<br />

sociedade justa requer regras estáveis e duradouras,<br />

sustentáveis no tempo e nas finanças públicas. ‘Governos<br />

medíocres pensam em sua própria duração, apostam na<br />

popularidade fácil e no discurso momentâneo. Só os<br />

grandes governos é que ousam pensar a longo prazo e<br />

estabelecem políticas além de suas próprias<br />

provisoriedades, a exemplo do Governo Lula’, ressaltou”.<br />

Sr. Presidente, o Governo Lula está planejando a governabilidade do Brasil.<br />

Apenas 5 meses se passaram, e foi um tempo dedicado ao planejamento. Não se<br />

admite que um Governo que passou 8 anos aprovando nesta Casa tudo o que<br />

queria critique uma administração que tem hoje mais de 60% de popularidade e já<br />

deu sinais visíveis de que o Brasil está no caminho certo.<br />

Nesse sentido, cito 3 indicativos que o povo pode acompanhar todos os dias<br />

na televisão e no rádio: o Risco Brasil alcançou seu menor índice, isto é, seu maior<br />

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grau de confiança, ficando abaixo dos 700 pontos; o dólar despencou, agradando<br />

tantos aos pequenos quanto aos grandes investidores; e não se fala mais em<br />

inflação, só em deflação.<br />

Segundo o Deputado Darcísio Perondi, o primeiro tijolo do muro que dividia as<br />

duas Chinas foi assentado hoje, quando o Banco Central baixou em meio ponto<br />

percentual a taxa SELIC. Para começar, já é um número significativo. O Governo<br />

anterior não adotou nenhuma medida que lhe desse credibilidade junto ao povo.<br />

Sr. Presidente, o Brasil tem 500 anos. Não se transforma uma economia, não<br />

se geram milhões e milhões de empregos em apenas 5 meses. Mas o povo<br />

brasileiro jamais vai esquecer que o Governo Fernando Henrique teve, durante 8<br />

anos, a oportunidade de melhorar o Brasil. Com 8 anos, Deputado Darcísio Perondi,<br />

um menino já começa a debater problemas com seus pais, já pergunta por que o<br />

dólar chegou a quase 4 reais, por que a inflação é o kamikaze desta Nação. Não<br />

pode um Governo que teve nesta Casa a maior bancada de apoio de todos os<br />

tempos criticar o que, em apenas 5 meses, fez o Governo Lula.<br />

Deixo, portanto, registrada a minha insatisfação com os comentários feitos<br />

pelo ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o Governo Lula, que já<br />

recebeu o maior elogio com que poderia sonhar: o do próprio povo.<br />

Mas faço justiça ao ex-Presidente, que ajudou o Acre ao liberar recursos para<br />

a malha viária do Estado e permitiu que tirássemos do isolamento o Município de<br />

Assis Brasil, distante 110 quilômetros da minha cidade, Brasiléia. Vamos elogiar<br />

aquilo que é bom, mas não podemos admitir que o ex-Presidente Fernando<br />

Henrique, depois de passar belas férias na França, condene o que fez em 5 meses o<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

nosso Presidente Lula, que, mais do que ninguém, tem conhecimento dos<br />

problemas do País e já demonstra que é possível governar com transparência e<br />

compromisso com o futuro.<br />

Sr. Presidente, sou da Amazônia. Meu Estado, o Acre, foi um dos mais<br />

discriminados pelo Governo passado, apesar da enorme potencialidade de suas<br />

florestas.<br />

Após conceder o aparte ao Deputado Bassuma, meu colega de partido, vou<br />

abordar tema de fundamental importância para o crescimento da Amazônia.<br />

O Sr. Bassuma - Deputado Zico Bronzeado, vamos ficar atentos ao<br />

pronunciamento de V.Exa. sobre o Acre, importante Estado da Nação que tem a<br />

maior reserva de biodiversidade do planeta. V.Exa. referiu-se ao início do nosso<br />

Governo — somos Deputados Federais do mesmo partido. Tenho dito na Bahia, em<br />

todas as audiências e debates de que tenho participado, quando eventualmente há<br />

alguma crítica como essa ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que talvez o maior<br />

mérito de S.Exa. seja exatamente suportar as pressões feitas de forma precipitada.<br />

Este País começará a crescer muito em breve, e permanentemente. Não será como<br />

no passado, com bolhas que duram algum tempo e são seguidas por longos<br />

períodos de recessão. Elogio V.Exa. pelo pronunciamento. Estamos confiantes em<br />

que este Governo mudará a história do País.<br />

O SR. ZICO BRONZEADO - Agradeço a V.Exa. o aparte, nobre Deputado.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os desafios hoje colocados para o<br />

desenvolvimento da Amazônia representam uma pauta que deve estar sendo<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

discutida não somente pelos Estados que compõem a nossa vasta região, mas, sim,<br />

em termos de um projeto para o País.<br />

É nesse sentido que chamo a atenção das Sras. e Srs. Deputados para falar<br />

de algumas experiências que estão sendo desenvolvidas no Estado do Acre, com o<br />

intuito de construir um modelo de sustentabilidade para toda a Amazônia e de<br />

demonstrar o potencial estratégico que nossa região pode adquirir para o Brasil<br />

frente ao mundo.<br />

Podemos hoje dizer que os resultados positivos que temos alcançado em<br />

algumas ações de políticas públicas para o desenvolvimento local devem-se, em<br />

grande parte, ao caráter endógeno dos modelos assumidos, em que a floresta se<br />

torna a base para criar empregos e gerar renda para o Estado.<br />

Sendo assim, gostaria, primeiramente, de elogiar a atitude do Presidente Lula<br />

de levar ao Acre, há cerca de um mês, 9 de seus Ministros para se reunirem com<br />

Governadores e lideranças da Amazônia, num esforço para projetar o<br />

desenvolvimento a partir das demandas da região.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não resta dúvida de que tal postura<br />

do nosso Presidente foi um marco inovador na maneira de se desenharem as<br />

políticas regionais, de forma a integrá-las em uma ampla política nacional.<br />

Nós, amazônidas, somos um povo da floresta, que nela vive e dela tira seu<br />

sustento. Porém, historicamente, a maioria dos projetos para a Amazônia foram<br />

quase sempre orientados de fora para dentro, importando modelos e incentivando<br />

atividades econômicas totalmente alheias à nossa identidade.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O resultado concreto de tais modelos é visível não somente pelos indicadores<br />

socioeconômicos nefastos, mas também pelos desmatamentos mostrados nas<br />

imagens de satélite.<br />

O PIB da imensa Região Norte corresponde apenas a 4,6% do PIB brasileiro.<br />

A renda per capita é de 3.907 reais, estando 40% abaixo da média nacional. E todos<br />

os anos vem desaparecendo na Amazônia uma área de floresta de 10 mil km²,<br />

correspondente à área da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Estado do Acre,<br />

onde vivem mais de 1.500 famílias extrativistas.<br />

A floresta na Amazônia vem sendo derrubada para resolver o dilema da<br />

busca da matéria-prima para outras regiões e para fortalecer as exportações de<br />

grãos plantados em solos outrora cobertos pela mata.<br />

Como se sabe, o Brasil é o maior produtor e o maior consumidor de madeira<br />

tropical do mundo: 95% da produção de madeira da Amazônia é feita de forma<br />

predatória e 85% de toda a produção é consumida dentro do próprio País,<br />

principalmente pela Região Sudeste.<br />

Mas a população local, como demonstram os indicadores citados, não tem<br />

sido devidamente beneficiada. Em toda a Amazônia Legal, que corresponde a 57%<br />

do território nacional, já foram desmatados mais de 15% das áreas de floresta,<br />

segundo dados do IBGE de 1996, e a região pouco se desenvolveu.<br />

Não temos energia nem infra-estrutura de transportes. Somos altamente<br />

dependentes de repasses do Governo Federal. Não temos acesso amplo a crédito<br />

nem a tecnologias para explorar nossos recursos de forma sustentável. Não temos<br />

tratamento tributário diferenciado.<br />

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Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, não podemos continuar a colocar a nossa<br />

floresta no chão. Portanto, a necessidade de reversão desse processo faz-se<br />

urgente.<br />

É um paradoxo a atual condição periférica da Amazônia em relação à sua<br />

posição estratégica para o País, dada a magnitude da importância que sua floresta<br />

representa para o mundo.<br />

Ali temos a maior reserva de biodiversidade do planeta, concentramos 35%<br />

do que resta das florestas tropicais mundiais e 20% de toda a água doce da Terra. A<br />

Floresta Amazônica cumpre papel importantíssimo para a minimização dos efeitos<br />

da mudança climática. A nossa Amazônia presta serviços ambientais ao mundo<br />

todo.<br />

Mas enquanto não se resolvem as discussões internacionais sobre o<br />

pagamento pelos serviços ambientais e a implantação de instrumentos como o<br />

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, por exemplo, podemos nos antecipar e<br />

estruturar um desenho produtivo que sustente o nosso desenvolvimento a partir de<br />

nossas vocações naturais.<br />

Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, devemos, urgentemente,<br />

repensar os modelos e orientar a economia na Amazônia para o setor florestal.<br />

Precisamos criar condições de incentivo ao manejo da floresta e à implantação local<br />

de uma indústria compradora de matéria-prima florestal capaz de dinamizar toda a<br />

cadeia produtiva, gerando emprego e trabalho decente, criando renda e aumentando<br />

a autonomia da região.<br />

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Sr. Presidente, quero relatar exatamente algumas experiências de arranjo<br />

produtivo de base florestal que vêm sendo construídas no Acre, como, por exemplo,<br />

no Município de Xapuri, terra de nosso grande líder Chico Mendes. Nesse Município<br />

de forte tradição na luta pela defesa da floresta e de seus povos, e onde o<br />

Presidente Lula esteve, no mês passado, para se encontrar com seus antigos<br />

companheiros, os desafios foram encarados como oportunidades. Os diferenciais<br />

locais foram reconhecidos como vantagens para a implantação de uma iniciativa<br />

pioneira de política pública para o desenvolvimento local e regional e, o que é ainda<br />

mais oportuno, em consonância com as propostas do Ministério da Integração de<br />

implantação de arranjos produtivos para alavancar o desenvolvimento local e<br />

sustentável da região.<br />

O Município reúne, assim como toda a região em que se localiza, importantes<br />

elementos de diferenciação: abundância e diversidade de recursos naturais, capital<br />

social e saber tradicional sobre o uso da floresta, além da vontade política<br />

governamental, tanto local como estadual.<br />

A implantação dessa experiência-piloto para estruturar um sistema produtivo<br />

que abrange desde a produção de matéria-prima, através do manejo florestal<br />

comunitário, até a industrialização localizada na zona urbana, tem sido responsável<br />

por uma grande dinamização da atividade econômica local.<br />

A diversificação econômica, com a introdução de mais um componente no<br />

sistema produtivo extrativista, no caso, a produção sustentável de madeira,<br />

juntamente com a promoção da industrialização e da certificação socioambiental,<br />

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gerou, até agora, um aumento de 470% na renda familiar no Seringal Cachoeira,<br />

além de vários empregos na cidade.<br />

Sr. Presidente, estamos criando competências locais e coletivas<br />

fundamentadas no saber tradicional e na capacidade de organização comunitária.<br />

Estamos gerando modelos não excludentes, empregos, distribuindo renda,<br />

promovendo o intercâmbio com o saber científico e a interação institucional.<br />

Estamos, atualmente, difundindo essa experiência-piloto ainda no âmbito do<br />

Município, mas temos certeza de seu potencial de replicabilidade para todas as<br />

comunidades florestais da Amazônia.<br />

Isso sem falar nas políticas do Governo do Acre para o manejo empresarial<br />

nas Florestas Estaduais de Produção e, também, na criação dos Assentamentos<br />

Florestais e na proposta para a reforma agrária na Amazônia defendida pela nossa<br />

bancada e pelo Governo Lula.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, este é o modelo que defendemos<br />

para a Amazônia: a floresta como base para criar empregos, gerar renda para o<br />

Estado, promover a economia e o desenvolvimento regional.<br />

Todo o potencial de nossa floresta, utilizado de forma sustentável e<br />

agregadora, representa não somente o desenvolvimento da região, mas uma<br />

estratégia produtiva para o País. Os novos produtos sustentáveis, como madeira,<br />

cosméticos, óleos, sementes, frutas, fibras, fármacos e outros, incorporam o valor<br />

dos serviços ambientais mantidos com a conservação da floresta.<br />

Não somente o mercado interno está crescendo para os produtos florestais,<br />

mas também o mercado internacional, pois exige hoje a certificação socioambiental.<br />

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De toda a área de floresta certificada no Brasil pelo FSC, cerca de 1,2 milhão<br />

de hectares, somente 25% correspondem a operações de manejo na floresta<br />

amazônica; o restante são as florestas plantadas de eucalipto e pinho do Sul do<br />

País, ligadas à indústria exportadora.<br />

No Brasil, somente para a madeira já existem 133 empresas com a<br />

certificação FSC para a cadeia de custódia. São indústrias compradoras de madeira<br />

certificada. Seus produtos vão de lápis e casas pré-fabricadas, passando pela<br />

produção de carvão vegetal e lenha, até a prestação de serviços, como secagem de<br />

madeira.<br />

Sr. Presidente, é esse o tipo de indústria que precisamos estimular na<br />

Amazônia. Sua instalação junto às áreas de produção sustentável de matéria-prima<br />

diminui não somente os custos das empresas, mas também os gastos do País com<br />

petróleo e subsídios ao óleo diesel. Por exemplo: na cadeia de produção de madeira<br />

serrada, produzida na Amazônia e consumida no Sul do País, 89% de todo o<br />

consumo de energia é gasto na fase de distribuição do produto. O frete representa<br />

33% do custo total da madeira colocada nesses mercados.<br />

Ouço, com prazer, o aparte do nobre Deputado Valdenor Guedes, importante<br />

para a discussão sobre a nova fase de desenvolvimento da nossa região.<br />

O Sr. Valdenor Guedes - Deputado Zico Bronzeado, tenho o prazer e a<br />

satisfação de participar deste seu brilhante pronunciamento não apenas como<br />

ouvinte, mas também como aparteante. V.Exa. faz discurso que há mais de 10 anos<br />

não se ouvia nesta Casa. Muito se ouve falar em desenvolvimento sustentável,<br />

inclusive em meu Estado, o Amapá. V.Exa. apresenta o assunto de maneira simples,<br />

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mas com muita propriedade. Diversas pessoas começam a perguntar o que é<br />

desenvolvimento sustentável. São muitas as definições, mas posso dizer que<br />

desenvolvimento sustentável é aquele que proporciona ao homem melhor qualidade<br />

de vida, com respeito, acima de tudo, à capacidade produtiva dos ecossistemas nos<br />

quais vive. Isso, Deputado, faz com que projetos como o desenvolvido no Acre<br />

possam ser imitados, especialmente pelo Ministério do Meio Ambiente. A Ministra<br />

Marina Silva, que com grande competência dirige aquele Ministério, vai apresentar<br />

dentro de poucos dias um grande plano de desenvolvimento sustentável para o<br />

País. Antes disso, teremos a honra de conversar com S.Exa. e pedir-lhe que não<br />

privilegie somente as florestas e os rios, mas, acima de tudo, o homem. Ele deve<br />

estar no centro de todas as coisas. Para que possamos preservar a natureza e ao<br />

mesmo tempo obter o desenvolvimento sustentável, não podemos repetir o que se<br />

faz no Amapá, cujo território está quase todo comprometido: 4,4 milhões de hectares<br />

foram destinados a reservas indígenas, reservas biológicas, estações ecológicas e<br />

outros parques. Além disso, 3,8 milhões de hectares foram reservados para o<br />

Parque Nacional das Montanhas de Tumucumaque. Portanto, 58% das terras do<br />

Amapá são destinadas a parques e outras reservas, de modo que não há condições<br />

de ele se desenvolver. É um crime, uma afronta ao nosso Estado! Será, Deputado<br />

Zico Bronzeado, Sras. e Srs. Deputados, que para preservarmos a Amazônia temos<br />

de delimitá-la e criar áreas que são verdadeiros cenários fotográficos, dos quais se<br />

fazem cartões postais? Não queremos isso na Amazônia! Queremos projetos como<br />

o que V.Exa. hoje apresenta neste plenário, a fim de promover o verdadeiro<br />

desenvolvimento da região. Parabéns, nobre Deputado Zico Bronzeado, pelo<br />

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brilhante pronunciamento. Somente agora fiquei sabendo o que é realmente um<br />

projeto de desenvolvimento sustentável: é aquele que leva indústrias, gera<br />

empregos e divisas para os habitantes e estimula a economia da região.<br />

O SR. ZICO BRONZEADO - Agradeço ao nobre Deputado Valdenor Guedes<br />

o aparte, que incorporo ao meu pronunciamento.<br />

um aparte?<br />

O Sr. Carlos Abicalil - Nobre Deputado Zico Bronzeado, permite-me V.Exa.<br />

O SR. ZICO BRONZEADO - Com muito prazer, ouço o aparte de V.Exa.<br />

O Sr. Carlos Abicalil - Nobre Deputado Zico Bronzeado, também quero<br />

apartear V.Exa. na qualidade de membro da bancada amazônica. Em meu Estado<br />

de Mato Grosso, temos a felicidade de ter três biomas: o cerrado, o pantanal e a<br />

floresta. Quero divergir do nobre colega que me antecedeu. V.Exa., Deputado Zico<br />

Bronzeado, mostra que é possível promover o desenvolvimento sustentável em<br />

áreas de preservação, com populações originais e tradicionais, aliado à inclusão<br />

social e à proteção ambiental — esse é um seriíssimo problema que precisamos<br />

enfrentar. Por último, quero compartilhar da indignação de V.Exa. em relação aos<br />

comentários feitos pelo ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso — chefe do<br />

desgoverno passado. Tais críticas nos servem de alento porque, se toda a<br />

irritabilidade demonstrada pelo ex-Presidente representa a oposição ao Governo<br />

Lula, ela apenas mostra que estamos no caminho correto e devemos mantê-lo no<br />

sentido de garantir, ao lado da credibilidade externa, a sustentabilidade, a autonomia<br />

e a soberania brasileiras. Dessa forma, os próximos 4 anos trarão o resgate da<br />

cidadania e da produção, a valorização do trabalho, do empreendimento e sobretudo<br />

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da auto-estima do povo brasileiro, que é capaz de sobreviver com independência e<br />

dignidade. Parabéns a V.Exa. pelo pronunciamento. Tenho convicção de que os<br />

exemplos de desenvolvimento sustentável que aponta neste momento claramente<br />

representam as mudanças que faremos nos próximos anos.<br />

O SR. ZICO BRONZEADO - Muito obrigado, Deputado. Incorporo, com muito<br />

prazer, o aparte de V.Exa. ao meu pronunciamento.<br />

Ouço o Deputado Nicias Ribeiro.<br />

O Sr. Nicias Ribeiro - Nobre colega, ainda há pouco me apresentei. Também<br />

sou da Amazônia, caboclo da Ilha de Marajó. O ilustre Deputado de Mato Grosso,<br />

que me antecedeu, festeja o trabalho de convivência e de preservação do meio<br />

ambiente. No meu Estado, lamentavelmente, a preservação me parece exagerada:<br />

parques, florestas nacionais e reservas extrativistas foram criados aos montes pelo<br />

ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso — nenhum criou tantos quanto ele, não<br />

só no Pará, mas em toda a Amazônia. Ainda há pouco, o Deputado Valdenor<br />

Guedes falava exatamente da criação, no Amapá, do Parque de Tumucumaque, que<br />

dividiu o Estado quase ao meio. Há algo que me preocupa. Sou caboclo do interior<br />

da Ilha de Marajó, Deputado Zico Bronzeado, e desde menino conheço o azeite de<br />

andiroba, que passava na perna para tirar a dor quando a machucava jogando bola.<br />

Quando me cortava, o golpe sarava imediatamente se eu passasse óleo de copaíba<br />

— para quem não sabe, esse óleo tem grande poder cicatrizante. No Estado de<br />

V.Exa., o Acre, há muita castanha-do-pará, cujo nome está sendo mudado, parece-<br />

me, para castanha-do-brasil. No meu Estado, e acho que também no seu, há<br />

cupuaçu e bacuri, frutas que conhecemos desde meninos. Neste ano, descobri —<br />

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qual não foi meu espanto! — que ninguém mais pode usar o nome cupuaçu, porque<br />

está registrado como propriedade industrial de uma empresa do Japão. O mesmo<br />

acontece com a andiroba e a copaíba, na França. Então, quero somar minhas<br />

palavras às de V.Exa. Talvez não concorde com a tese que defende, mas estou ao<br />

lado de V.Exa. na defesa da respeitabilidade da Amazônia. Acima de tudo, é preciso<br />

evitar saques em nossa região, que se leve para fora o que é nosso e se registrem<br />

nossos frutos em outros países, para aplicá-los na medicina e em outras atividades<br />

profissionais. Peço perdão à Mesa e particularmente a V.Exa. por ter talvez<br />

exagerado no meu aparte e ter exaurido o tempo de V.Exa. Parabéns pelo discurso<br />

que pronuncia nesta Casa.<br />

Ribeiro.<br />

O SR. ZICO BRONZEADO - Agradeço a V.Exa. o aparte, Deputado Nicias<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Deputado Zico Bronzeado, peço a<br />

V.Exa. que conclua seu pronunciamento.<br />

O SR. ZICO BRONZEADO - Sr. Presidente, reconheço que o tempo é de<br />

grande valor para esta Casa. No entanto, sem o aparte dos ilustres colegas, este<br />

discurso não teria a dimensão que eu e o povo da Amazônia queremos lhe dar.<br />

Prossigo, Sr. Presidente.<br />

Caso sejam mantidos os modelos atuais de exploração predatória e<br />

transporte sem beneficiamento, pode vir a ocorrer um aumento de 72% no consumo<br />

de combustível para o transporte de madeira no Brasil.<br />

Isso significa enormes e novos gastos para o País, principalmente devido ao<br />

subsídio ao óleo diesel. Esse custo adicional poderá ser evitado por meio de<br />

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políticas de incentivo ao manejo florestal e ao beneficiamento de produtos na própria<br />

Amazônia.<br />

Sr. Presidente, os arranjos produtivos de base florestal na Amazônia são,<br />

portanto, uma estratégia que beneficia amplamente não somente a região mas o<br />

País como um todo e, também, o restante do mundo.<br />

Até mesmo os setores que tradicionalmente converteram a floresta, como a<br />

pecuária e a agricultura extensiva, poderão ser beneficiados com o equilíbrio<br />

climático garantido pela floresta que ainda resta em pé.<br />

A Amazônia reúne condições iniciais maduras para desenvolver uma forte<br />

economia de base florestal, mas muitas lacunas estruturais deverão ser preenchidas<br />

para que o Brasil possa usufruir de todo o potencial que a região nos reserva.<br />

O exercício da transversalidade, de que fala a Ministra do Meio Ambiente,<br />

deverá ser posto em prática por todos nós. Para consolidar nossa competência,<br />

precisaremos abrir portas junto à esfera institucional; criar mecanismos de incentivos<br />

tributários, de crédito e de apoio à comercialização para os produtos sustentáveis;<br />

abrir novas frentes para a pesquisa tecnológica e para a formação especializada; e<br />

incrementar a nossa infra-estrutura.<br />

Será necessário ampliar o diálogo e integrar as ações entre as várias esferas<br />

de governo, como INCRA, IBAMA, BASA, A<strong>DA</strong>, SUFRAMA, EMBRAPA e outros<br />

órgãos. Também com o empresariado, com os movimentos sociais, os sindicatos, as<br />

cooperativas e as ONGs, assim como os institutos de pesquisa e as universidades.<br />

O debate sobre a Amazônia, seus desafios e oportunidades deve ser mantido<br />

na pauta de todos os setores e instituições como base para a implementação de<br />

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uma política ampla para a região, que valorize suas vocações naturais e incorpore<br />

as variáveis da conservação ambiental, da valorização da cultura e do saber local,<br />

do acúmulo de capital social, da geração de empregos e do uso de tecnologias<br />

limpas e apropriadas.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na quinta-feira passada, em seminário<br />

proposto por mim e realizado pela Comissão de Economia, Indústria, Comércio e<br />

Turismo desta Casa, tivemos a oportunidade de conhecer e debater as experiências<br />

de manejo florestal comunitário em curso no Estado do Acre, como modelo para o<br />

desenvolvimento da Amazônia.<br />

Naquele mesmo dia, juntamente com as Deputadas Perpétua Almeida e<br />

Vanessa Grazziotin, apresentamos emenda à proposta de reforma tributária em<br />

tramitação na Casa. A emenda, apoiada pela bancada da Amazônia, prevê<br />

tratamento tributário diferenciado aos produtos e serviços que façam uso sustentável<br />

da biodiversidade e dos recursos naturais renováveis das áreas do patrimônio<br />

nacional.<br />

Entendemos, Sr. Presidente, a necessidade de tratamento tributário<br />

favorecido como forma de minimizar os custos da sustentabilidade, cujos benefícios<br />

serão disseminados amplamente e de forma igualitária para todos. Os modelos de<br />

produção e de práticas de uso da terra até hoje incentivadas na Amazônia, ao<br />

contrário, concentram benefícios e disseminam os custos para o resto do País.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, temos neste momento a oportunidade<br />

de dar nossa contribuição concreta para o desenvolvimento sustentável do País, de<br />

valorizar o patrimônio que herdamos e de enriquecê-lo para as futuras gerações.<br />

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Agradeço ao Acre a oportunidade de aqui representá-lo nesta nova<br />

concepção de desenvolvimento para toda a Amazônia.<br />

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que meu pronunciamento seja transcrito na<br />

íntegra nos Anais, divulgado em todos os meios de comunicação da Casa e no<br />

programa A Voz do Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Paes Landim, para uma Comunicação de Liderança pelo PFL, que disporá de até 8<br />

minutos.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE À<br />

REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Em continuidade ao Grande Expediente,<br />

concedo a palavra ao Deputado Bassuma, do PT da Bahia, que disporá de até 25<br />

minutos.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

DISCURSO DO SR. DEPUTADO BASSUMA QUE, ENTREGUE À<br />

REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Durante o discurso do Sr. Bassuma, assumem<br />

sucessivamente a Presidência os Srs. Reginaldo<br />

Germano, § 2º do art. <strong>18</strong> do Regimento interno, e João<br />

Caldas, 4º Suplente de Secretário.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. VICENTINHO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) – Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. VICENTINHO (PT-SP. Pela ordem. Pronuncia o seguinte discurso.) Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os dados contidos na Síntese de Indicadores<br />

Sociais 2002, da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),<br />

divulgada há poucos dias, comprovam o abismo racial existente no Brasil,<br />

mostrando, em resumo, um dado que nos alarma: a população negra (e parda), com<br />

mais de 12 anos de estudo, ganha 70% do que recebem os brancos com a mesma<br />

instrução.<br />

Não podemos fugir de uma realidade cruel e perversa: a discriminação racial<br />

está muito presente em nosso País, entranhada em grande parte da população. Isso<br />

faz com que o caminho dos negros seja cada vez mais difícil. Portas ainda são<br />

fechadas por conta de um preconceito que magoa e fere. Sim, magoa e fere. Mas,<br />

paradoxalmente, somos capazes de reunir essa mesma mágoa, essa mesma dor, e<br />

fazer de ambas força e energia para as nossas lutas, nossa união, nossa disposição<br />

em impedir que a cor da pele seja diferencial discriminatório em qualquer das<br />

atividades do ser humano: a profissional, a social, a cultural, a política etc.<br />

O mesmo relatório do IBGE apresentou outros dados: a diferença salarial é<br />

ainda maior nas regiões metropolitanas de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e<br />

Curitiba.<br />

E há mais: entre as pessoas com menos escolaridade (até 4 anos de estudo),<br />

a situação não é muito diferente. Negros (e pardos) ganham 65,2% dos rendimentos<br />

dos brancos com a mesma escolaridade.<br />

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Um dos responsáveis pela pesquisa, o cientista social José Luiz Petrucelli,<br />

disse à imprensa: “Não basta aumentar o número de anos de estudo, pois a<br />

discriminação é mais forte. As desigualdades se mantêm mesmo ao serem<br />

igualadas as condições básicas das pessoas”.<br />

Um dado da pesquisa nos deixa ainda mais perplexos. De acordo com o<br />

cientista social José Luiz Petrucelli, as desigualdades são mais gritantes na região<br />

metropolitana de Salvador. Negros (e pardos) na capital baiana representam 82% da<br />

população empregada. O rendimento médio mensal dos trabalhadores brancos na<br />

região da Grande Salvador é o 2º maior do Brasil: R$1.233. Negros (e pardos)<br />

ganham em média apenas 34% desse valor: R$421. Em todo o Brasil, negros (e<br />

pardos) ganham, em média, R$376, pouco menos da metade do que recebem os<br />

brancos (R$757).<br />

O cientista social foi enfático e incisivo ao afirmar, analisando os números de<br />

Salvador: “A região metropolitana de Salvador mostra o modelo de sociedade de<br />

elite branca”.<br />

Aqui no Distrito Federal, comprova o IBGE, os brancos têm a melhor média<br />

mensal de rendimentos do País: R$1.414. E está aqui no Distrito Federal a menor<br />

distância entre os trabalhadores: negros (e pardos) recebem, em média, no Distrito<br />

Federal, R$737, uma diferença de 52%. Na região metropolitana de São Paulo, os<br />

negros (e pardos) ganham, em média, R$556, metade dos rendimentos dos<br />

brancos: R$1.089.<br />

Outro assunto, Sr. Presidente. Acompanhado da Vereadora Claudete Alves,<br />

da cidade de São Paulo, e do Deputado Estadual Tiãozinho, representante de<br />

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Campinas na Assembléia Legislativa de São Paulo, participei, no último domingo, de<br />

uma bela festa popular. Aconteceu no Bairro da Penha, Zona Leste da cidade de<br />

São Paulo, mesmo bairro no qual morava o músico Itamar Assumpção, a quem<br />

desejo homenagear. Itamar Assumpção, que tinha fortes ligações com a região do<br />

ABC, foi sepultado na minha cidade, em São Bernardo, que recebeu assim o corpo<br />

de um dos mais importantes músicos dos últimos anos. Seu comportamento,<br />

equivocadamente considerado por muitos como anti-social, na verdade era um grito<br />

de alerta contra a sociedade do lucro, da ganância, da usura e da falta de<br />

fraternidade entre os seres humanos. Ele nunca, mesmo nos momentos de maior<br />

fama, nunca se afastou do povo, dos pobres, dos moradores do Bairro da Penha.<br />

Também por isso era tão querido.<br />

Na festa do último domingo, que comemorava as obras de reforma da Igreja<br />

Nossa Senhora do Rosário, na Penha, diversas manifestações religiosas e<br />

populares aconteceram. Centenas de pessoas apreciaram, com alegria, a Congada<br />

de São Bernardo, cujo presidente é Mestre Ditinho, apresentações de viola caipira,<br />

Folia de Reis e desfile de estandartes das Veneráveis Ordens e Irmandades, entre<br />

outras manifestações religiosas e culturais, que fazem parte da vida do povo, mas<br />

que são sistematicamente deixadas de lado pelos meios de comunicação,<br />

preocupados com o lucro fácil que vem do lixo cultural do exterior, que nada tem a<br />

ver conosco, com a nossa realidade, com a vida de alegria do nosso povo mais<br />

simples e humilde.<br />

Ao final daquela bela manhã de domingo, participamos de uma inesquecível<br />

missa afro. Danças, oferendas, cores, cantos e orações fizeram um conjunto pleno<br />

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de harmonia, uma comunhão perfeita com o outro e com o Deus da vida, da fartura,<br />

da esperança e do amor.<br />

Momento único foi reverenciar a entrada da imagem de Nossa Senhora do<br />

Rosário, que veio até o altar pelo meio da praça, trazida em um belo ritual de dança<br />

por uma das participantes. É emocionante ver homens e mulheres, brancos e<br />

negros, reverenciando, beijando, pedindo e agradecendo à santa negra, humilde e<br />

simples, bela e divina.<br />

Sr. Presidente, gostaria de homenagear ainda, aproveitando este momento,<br />

um desenhista e ilustrador, um grande artista gráfico que se chama Maurício<br />

Pestana. Ele recebeu, na noite de sexta-feira, 6 de junho, o título de Cidadão<br />

Paulistano, uma iniciativa da mesma amiga e companheira, a Vereadora Claudete<br />

Alves.<br />

Apenas a título de registro, e de repúdio, relato o que aconteceu à nossa<br />

Vereadora há poucas semanas. Claudete é negra, e sentiu a dor da humilhação pela<br />

qual passam centenas de negros em nosso País. Acompanhada de um motorista,<br />

ela foi ao aeroporto de Congonhas. Foram então abordados por dois policiais, que<br />

pediram a ambos que se identificassem. Ela mostrou a carteira de vereadora, mas o<br />

policial disse que era falsa. Até tudo ficar definido, Claudete se viu às voltas com<br />

uma acusação leviana. E decidiu processar os policiais.<br />

Pois bem. Vamos voltar a falar de fatos alegres. Claudete decidiu dar o título<br />

ao artista Maurício Pestana. Também negro, Maurício nasceu em Santo André, e é<br />

desses artistas ligados ao povo, à luta dos trabalhadores, à defesa dos que não têm<br />

voz e lutam para conquistá-la. Tem livros publicados, ilustra cartilhas da CUT, do<br />

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Movimento Negro e está sempre disponível. Seu traço chega a todos os cantos, às<br />

fábricas do ABC, e seu humor já ajudou a mudar muitas consciências.<br />

O salão nobre da Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo estava<br />

lotado. Maurício merece: seu traço, como bem definiu Suely Carneiro, da entidade<br />

Geledés, é o verdadeiro “humor negro”!<br />

Tudo isso nos faz ratificar uma certeza: o Brasil que queremos, o mundo que<br />

queremos, não é dividido entre brancos e negros, vermelhos e amarelos. Na<br />

verdade, não é dividido. Nele deveriam habitar todos os que desejam viver com<br />

justiça, paz e liberdade.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) – Concedo a palavra ao Deputado<br />

Casara, do PSDB, que dispõe de 25 minutos.<br />

O SR. CASARA (PSDB-RO. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras.<br />

e Srs. Deputados, uso o período do Grande Expediente para falar sobre<br />

desenvolvimento sustentável, sobre o Estado de Rondônia e, acima de tudo, sobre a<br />

relação da ecologia com a economia, setores que, muitas vezes, geram tantos<br />

conflitos, mas que poderiam produzir muitas soluções, como geração de postos de<br />

serviços, distribuição de renda e proteção à biodiversidade.<br />

Quero fazer um breve passeio sobre a questão do ambientalismo em todo o<br />

Planeta, partindo da Europa, seguindo pelos Estados Unidos e Brasil, e<br />

aprofundando o tema com enfoque em Rondônia, que, diga-se de passagem, é um<br />

dos primeiros Estados brasileiros a ter zoneamento socioambiental, ou zoneamento<br />

sócio-ecológico-econômico — excelente instrumento de planejamento e de políticas.<br />

Sr. Presidente, com o crescimento da população mundial, precisou-se<br />

compatibilizar essa ocorrência com as necessidades emergenciais do homem. Tal<br />

acomodação, Sr. Presidente, levou o mundo à grande reflexão.<br />

Temos como marcos iniciais na relação meio ambiente/economia,<br />

principalmente a Revolução Industrial na Europa. Em Londres, os produtores rurais,<br />

em menor quantidade, começavam a discutir esse polêmico problema. No entanto,<br />

os produtores rurais não foram suficientes para enfrentar todos os discursos e todas<br />

as estratégias montadas pelos economistas e pelos desenvolvimentistas,<br />

impulsionados pela consolidação da industrialização no Velho Continente.<br />

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O movimento saiu da Europa e passou para os Estados Unidos. Em face dos<br />

impactos exagerados da industrialização e da necessária proteção ao meio<br />

ambiente, os Estados Unidos se viram obrigados a rever seu modelo ambiental,<br />

calcado em cima do preservacionismo e do conservacionismo. Tal preservacionismo<br />

conduziu à criação das unidades de conservação dos parques nacionais. Aquele<br />

país contribuiu decisivamente na consolidação dos seus parques nacionais, e, ao<br />

longo de alguns anos, exerceu influência sobre toda a América Latina e o Caribe.<br />

Foi o início de um discurso mais inovador e promissor, o conservacionista.<br />

Mas esse discurso não evoluiu, em face do expansionismo da fase industrial<br />

ocorrida nos Estados Unidos e de todo o trabalho realizado no pós-guerra.<br />

Enfraqueceu-se brutalmente o trabalho da conservação, o que deu espaço para o<br />

entendimento de que os recursos naturais eram inesgotáveis. Com isso, imprimiu-se<br />

um ritmo acelerado de crescimento econômico e deixou-se de lado os cuidados<br />

necessários com a proteção ambiental.<br />

Tudo isso levou a uma reflexão, na década de 1970, ocasionada também por<br />

problemas gerados na Europa e no Japão, principalmente com a contaminação dos<br />

mares por metais pesados provenientes das indústrias, pelo efeito estufa e pelo<br />

rompimento da camada de ozônio.<br />

Durante a Conferência de Estocolmo, passamos a ter um novo modelo em<br />

discussão, que denominamos de desenvolvimento sustentável, assunto sobre o qual<br />

quero discorrer, Sr. Presidente.<br />

O termo desenvolvimento sustentável tornou-se conhecido mundialmente a<br />

partir da divulgação pelas Nações Unidas dos documentos Nosso Futuro Comum e<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Estratégia Mundial para Conservação, que têm como elementos essenciais a<br />

manutenção dos processos vitais dos ecossistemas na exploração dos recursos<br />

naturais e o objetivo de proporcionar bem-estar às gerações presentes e futuras.<br />

Como podemos observar, pela própria definição do termo, o grande problema<br />

é estabelecer conteúdos mais precisos para o desenvolvimento sustentável do ponto<br />

de vista prático.<br />

Questões complexas envolvendo a ordem econômica e social e os recursos<br />

naturais deverão ser equacionadas e solucionadas com o objetivo de atender às<br />

necessidades humanas e, ao mesmo tempo, buscar a manutenção e a reposição<br />

dos estoques naturais, de forma racional, possibilitando ao mercado absorver os<br />

custos da proteção ambiental.<br />

O grande desafio para a sociedade moderna e seus agentes políticos é,<br />

portanto, planejar o desenvolvimento de seu grupo social dentro dos parâmetros de<br />

desenvolvimento sustentável, em que o cuidado com o meio ambiente é uma<br />

necessidade vital.<br />

Medidas como o estabelecimento de diretrizes claras para a integração das<br />

políticas setoriais temáticas, que compõem o complexo pool de atividades<br />

econômicas que se utilizam de recursos naturais, são de vital importância para o<br />

desenvolvimento sustentável, como é importante a sustentabilidade para a vida,<br />

assim como para a obtenção da matéria-prima que move as indústrias, que, por sua<br />

vez, move a circulação dos produtos do mercado, que geram postos de trabalho e<br />

renda para o povo.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Sr. Presidente, temos um divisor de águas muito claro a partir de 1500,<br />

quando o grande discurso que permeava o mundo e as grandes navegações era o<br />

expansionismo e o territorialismo como poder.<br />

Hoje, face à globalização dos mercados e outros instrumentos, temos que<br />

pensar na produtividade e na sustentabilidade, para que possamos criar<br />

competitividade e fortalecer nossos instrumentos e definir nossos lucros dentro do<br />

modelo da economia global.<br />

O Brasil, Sr. Presidente, a partir da década de 1990, participa exemplarmente<br />

do consenso de que os problemas ambientais impõem interpretação responsável, e<br />

vem agindo localmente e pensando globalmente através de uma política nacional de<br />

desenvolvimento sustentável, que tem obtido a cada ano resultados muito positivos<br />

em relação ao desenvolvimento humano e à preservação do meio ambiente.<br />

Sr. Presidente, a proteção do meio ambiente exige um conjunto de atividades<br />

e de proteção ambiental pela União, pelos Estados e pelos Municípios. Somente<br />

assim será possível uma efetiva proteção e coordenação do desenvolvimento<br />

sustentável. Hoje ela constitui um dos principais compromissos do Governo<br />

brasileiro.<br />

Quero, dentro deste tema, Sr. Presidente, destacando minha abordagem<br />

entre as questões ambiental e econômica, falar um pouco, principalmente sobre as<br />

políticas temáticas e setoriais que compõem a grande estrutura da política de meio<br />

ambiente. Na realidade, temos a política de meio ambiente como uma matricial que<br />

precisa necessariamente de instrumentos, de sustentação, para que possamos<br />

implementar uma efetiva política de meio ambiente para o País. Sem trabalharmos<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

esses instrumentos, jamais vamos construir uma política de meio ambiente para o<br />

nosso Brasil.<br />

Quero dar um enfoque, efetivamente, à política de floresta, política esta que<br />

tem o seu embasamento no manejo florestal, na relação de crédito, na assistência<br />

técnica, na extensão rural, na pesquisa, no reflorestamento e em outros<br />

instrumentos extremamente importantes.<br />

Quero mostrar que, no instrumento do manejo florestal, encontramos a melhor<br />

possibilidade de conciliar e harmonizar a atividade econômica com a atividade de<br />

proteção ambiental. É nessa atividade que conseguiremos proteger nossos grandes<br />

biomas e nossos grandes ecossistemas, tirando a matéria-prima da floresta para<br />

aquecer o setor industrial florestal madeireiro, gerando emprego e renda,<br />

fortalecendo o parque moveleiro e o parque de artesanatos e de artefatos. Para isso,<br />

precisamos conciliar esses 2 extremos entre a ecologia e a economia. É<br />

fundamental que, acima de tudo, tenhamos crédito para que essas questões sejam<br />

realizadas. É preciso dar continuidade a todo o processo de desburocratização dos<br />

planos de manejo, a fim de que efetivamente consolidemos uma política florestal<br />

para a Amazônia e para o resto do País.<br />

Dito isso, Sr. Presidente, entendo que essa relação de crédito vai muito bem<br />

e, de forma apropriada, os demais setores da economia do País, da Amazônia, do<br />

meu Estado, Rondônia. É necessário que esses créditos também cheguem para<br />

apoiar efetivamente o melhor instrumento de política florestal — o manejo florestal<br />

—, seja o crédito para a elaboração dos planos de manejo, de forma<br />

desburocratizada, seja o crédito que prestará assistência técnico-florestal no campo<br />

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e promoverá a reciclagem da mão-de-obra, a fim de reduzir os impactos da estação<br />

florestal no campo.<br />

Acima de tudo, Sr. Presidente, temos de ter crédito para apoiar o setor<br />

industrial florestal madeireiro, a fim de que se verticalize seu parque industrial e<br />

possamos melhorar cada vez mais a eficiência no aproveitamento dessa matéria-<br />

prima e, com isso, exercer menor esforço nas florestas nativas da longevidade de<br />

aproveitamento dessa matéria-prima, criar sustentabilidade ao processo e, ao<br />

mesmo tempo, promover maior geração de emprego e de renda para nossa<br />

população.<br />

Sr. Presidente, não é diferente a questão da pesca. Temos de criar uma<br />

política de pesca integrada e lincada à política de meio ambiente; do contrário, o<br />

cidadão vai continuar sendo sacrificado, pagando 2 contas ao mesmo tempo. Temos<br />

de vincular sempre essas políticas setoriais e temáticas, que se utilizam de recursos<br />

naturais, a uma política matricial — a política de meio ambiente. Precisamos agir<br />

com racionalidade, respeitando-se os prejuízos imputados hoje à sociedade e, com<br />

isso, pagarmos apenas os custos operacionais e deixarmos de lado os custos de<br />

recuperação.<br />

Sr. Presidente, quero referir-me mais especialmente à política de pesca.<br />

Precisamos, rapidamente, fortalecer todo o serviço de monitoramento, controle e<br />

proteção das 200 milhas marítimas, em razão da rapinagem que promovem frotas<br />

estrangeiras na costa brasileira. E aqui quero adentrar à pesca de águas interiores,<br />

principalmente na Amazônia. Temos que definir com clareza os instrumentos de<br />

política desse setor que temos de trabalhar.<br />

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Mais uma vez, esse setor carece do instrumento de crédito para que<br />

possamos instrumentalizar toda a parte industrial, apoiar o custeio e, acima de tudo,<br />

criar um programa sustentável de apoio social aos pescadores, que começam a<br />

deixar essa atividade.<br />

O Sr. Coronel Alves - Concede-me V.Exa. um aparte?<br />

O SR. CASARA - Ouço V.Exa. com prazer.<br />

O Sr. Coronel Alves - Deputado como eu, oriundo da região amazônica,<br />

muita preocupação tem V.Exa. com o desenvolvimento da nossa área. V.Exa. traz a<br />

esta Casa grande contribuição, dizendo que nós, na Amazônia, não somos contra o<br />

desenvolvimento. Queremos que essa região fique desenvolvida. E, se assim for,<br />

com certeza, Deputado Casara, será a região mais rica e mais produtiva do Brasil. O<br />

que não queremos para lá são os megaprojetos que não venham ao encontro da<br />

necessidade principalmente do povo que lá habita. Por isso, V.Exa., técnico que tem<br />

anos de vivência na área do desenvolvimento sustentado, traz em sua fala grande<br />

contribuição para nós, Parlamentares, e para todos aqueles que estão nos<br />

assistindo. A preocupação visa principalmente ao homem; também ao<br />

desenvolvimento sustentado, mas em especial ao homem. É isso que nós, da<br />

Amazônia, temos para oferecer como contribuição. Primeiro, a valorização da vida<br />

— acima de todas, a melhor das valorizações. Queremos, sim, desenvolvimento da<br />

pesca, da agricultura, da agropecuária, mas, acima de tudo, um desenvolvimento<br />

sustentável que dê condições ao povo da floresta, como você, eu e muitos que lá<br />

estão, ter sua qualidade de vida melhorada. Portanto, V.Exa. está de parabéns pelo<br />

tema que traz à tribuna. Nós, que estamos ouvindo suas palavras, vamos sair daqui<br />

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premiados com o conhecimento que V.Exa. está a compartilhar conosco. Parabéns<br />

pelo tema!<br />

O SR. CASARA - Agradeço a V.Exa., Deputado Coronel Alves, o aparte e o<br />

incorporo ao meu pronunciamento.<br />

Entendo que não teremos proteção ambiental e fortalecimento do movimento<br />

conservacionista, se nos distanciarmos e continuarmos agindo como a história já<br />

nos mostrou: ambientalistas de um lado e desenvolvimentistas de outro. Precisamos<br />

da conciliação e do diálogo. Vivemos num regime democrático; devemos conversar<br />

e discutir. Mas, acima de tudo, precisamos estabelecer alianças em prol da<br />

população brasileira, notadamente das regiões amazônica e rondoniense.<br />

Falava eu, Sr. Presidente, sobre a política de pesca. Temos uma quantidade<br />

imensurável de recursos naturais e precisamos deles. Devemos fortalecer os<br />

instrumentos de políticas, promover a modernização dessas frotas e, acima de tudo,<br />

a reciclagem. E, quando falo em pesca na Amazônia, de águas interiores, refiro-me<br />

à pesca amadora e esportiva, que deverão necessariamente ser melhor observadas<br />

pelos órgãos de assistência técnica, para que possamos, usando essa mesma<br />

quantidade de recursos naturais, promover uma geração de postos de serviço maior<br />

e, ao mesmo tempo, criar sustentabilidade para esse processo. E isso é de<br />

fundamental importância.<br />

Quero reprisar minha vontade de ter encaminhado, nesta Casa, maior<br />

preocupação para com os pescadores, principalmente com aqueles que não têm<br />

assistência social e, por isso, se distanciam da sua vida útil de trabalho.<br />

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Quero também destacar toda a potencialidade que há nas nossas unidades<br />

de conservação, nos parques nacionais, nas estações ecológicas, nas reservas<br />

biológicas, nas florestas nacionais, nas reservas extrativistas e nas de<br />

desenvolvimento sustentável. Essa categoria surgiu na Amazônia e de tal maneira<br />

conciliou homem e natureza.<br />

É exatamente nessa nova lógica que queremos discutir política ambiental<br />

para a Amazônia, para o Brasil; política que concilie homem e natureza e procure,<br />

de forma racional, utilizar esses recursos naturais em favor do homem.<br />

Nas unidades de conservação, há necessidade de fortalecer a pesquisa, a<br />

assistência técnica, a educação ambiental e também identificar atividades<br />

econômicas que tragam benefícios ao homem, como o turismo ecológico em<br />

algumas localidades, como os parques nacionais, estaduais e municipais; o manejo<br />

florestal das florestas nacionais, estaduais e municipais; a pesca esportiva nos rios<br />

que compõem as florestas nacionais; as reservas extrativistas; os parques<br />

nacionais, estaduais e municipais.<br />

Essa conciliação entre proteção e desenvolvimento vai garantir e perpetuar<br />

toda a proteção à nossa biodiversidade.<br />

Sr. Presidente, lembro que no Estado de Rondônia temos um fantástico<br />

instrumento: o zoneamento ecológico econômico. Esse instrumento irá permitir que<br />

se desencadeie entre o Governo Federal e o Governo do Estado de Rondônia um<br />

grande programa de reflorestamento que vá conciliar a atividade florestal madeireira<br />

com as atividades da agricultura e da pecuária. O programa deverá ter papel<br />

importantíssimo, do ponto de vista da redução do desmatamento, acima de tudo da<br />

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verticalização das atividades econômicas de pecuária, agricultura e do setor<br />

florestal, porque a atividade vai incorporar a tecnologia e, com isso, certamente<br />

vamos produzir mais por área, ter produtividade melhor, e, o mais importante na<br />

relação, vamos conferir sustentabilidade ao processo.<br />

Amazônia.<br />

Estamos criando um novo momento, gerando uma nova oportunidade para a<br />

Faço referência também à política de fauna, sobre a qual me pronunciei neste<br />

plenário; ao criminoso tráfico de animais silvestres que promove evasão de várias<br />

espécies do País. Precisamos de medidas consistentes para reduzir o tráfico e de<br />

alternativas econômicas que se utilizem dos recursos faunísticos, como a atividade<br />

de turismo ecológico, do manejo, da produção de proteína para o povo, mediante<br />

essa política setorial.<br />

Não podemos deixar mais a política de fauna à margem das grandes<br />

discussões, da centralização da política ambiental brasileira.<br />

Também quero falar sobre a política mineral deste País. Precisamos, com<br />

urgência, consolidar uma real política de desenvolvimento mineral para o Brasil.<br />

Hoje temos a possibilidade de criar estruturas menores como as cooperativas e<br />

associações, para dividir e fazer com que as bases produzam de melhor forma e que<br />

haja melhor distribuição da renda. Hoje não o fazemos por falta de uma efetiva<br />

política mineral ou por falta do seu fortalecimento.<br />

Sr. Presidente, falarei agora de um assunto polêmico, que nos causa certos<br />

arrepios: a saída de materiais genéticos de nosso País. Temos pelo menos 5<br />

grandes biomas no Brasil: a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga, o Cerrado e a Mata<br />

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Atlântica. Todos eles detêm um pool de biodiversidade de material genético que<br />

mexe com a economia de qualquer continente. Precisamos, com uma certa<br />

urgência, criar meios nesta Casa para que os órgãos de preservação ambiental e de<br />

assistência técnica criem os instrumentos de proteção, monitoramento, controle e<br />

fiscalização, mas, acima de tudo, instrumentos econômicos que apóiem essas<br />

comunidades que são vítimas dos processos criminosos de extração clandestina dos<br />

recursos genéticos de nosso País.<br />

Precisamos, acima de tudo, criar e fortalecer uma rede de instituições de<br />

pesquisa para que, de forma pragmática, ao invés de permitirmos que materiais<br />

genéticos sejam daqui levados para serem pesquisados e que todos os seus<br />

códigos sejam desdobrados fora do País, façamos com que os pesquisadores<br />

internacionais possam dar sua contribuição nos laboratórios brasileiros.<br />

Com isso, Sr. Presidente, quero falar do necessário fortalecimento do<br />

laboratório de biotecnologia centralizado na Amazônia Ocidental, na cidade de<br />

Manaus.<br />

Quero também externar minha preocupação com o conhecimento gerado por<br />

nossa biodiversidade, com o saber tradicional das nossas populações tradicionais,<br />

que está sendo surrupiado. Muitas vezes, pessoas travestidas ingressam em nosso<br />

País, desrespeitam, patenteiam projetos. Mais uma vez, deixamos as nossas<br />

populações tradicionais, as populações indígenas, ribeirinhas, os quilombolas à<br />

margem desse processo.<br />

DISCURSO ENCAMINHADO PELO ORADOR<br />

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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, com o desenvolvimento humano e o<br />

crescimento populacional, o homem passou a atuar na capacidade do sistema<br />

natural em responder às tensões impostas pelos seres humanos ao meio ambiente.<br />

Sendo que dois fatos marcaram significativamente a importância e a velocidade das<br />

alterações provocadas pelo homem ao meio ambiente: a descoberta do fogo em<br />

passado remoto, e, modernamente, a Revolução Industrial, que mudou radicalmente<br />

o relacionamento entre o homem e o planeta que o sustenta.<br />

No início da Revolução Industrial, Sr. Presidente, quando Londres e outras<br />

cidades européias eram atingidas pela poluição atmosférica decorrente da queima<br />

de carvão, começou a aparecer a consciência desse fenômeno, cujos principais<br />

representantes desse incipiente movimento ambientalista eram, em sua maioria,<br />

latifundiários que procuravam defender a natureza bucólica de suas próprias terras,<br />

o que não foi suficiente para sensibilizar os economistas da época, que apostavam<br />

na industrialização, como forma de realização de riqueza e desenvolvimento com a<br />

acumulação de capital através do trabalho.<br />

A pequena população da Inglaterra na época da Revolução Industrial e a<br />

poluição relativamente simples causada pela industrialização não indicavam<br />

problemas ambientais que representassem ameaça à atividade econômica; além do<br />

que, havia as enormes quantidades de terra e recursos naturais a serem explorados<br />

no Novo Mundo.<br />

No início deste século, os Estados Unidos da América, Sras. e Srs.<br />

Deputados, já sob o impacto da industrialização, começaram a rever o seu modelo<br />

ambientalista, que possuía duas correntes; a preservacionista, que tinha por objetivo<br />

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assegurar tanto quanto possível as belezas naturais do país; e a conservacionista,<br />

que era direcionada a um gerenciamento inteligente das terras e à utilização<br />

criteriosa dos recursos naturais do país, de modo a gerar uma fonte de riqueza<br />

permanente para os americanos.<br />

O preservacionismo motivou a criação dos parque nacionais americanos, e<br />

outras unidades assemelhadas no mundo todo, com resultados bastante positivos.<br />

Entretanto, o mesmo êxito não foi logrado na prática pelo conservacionismo, devido<br />

à grande expansão da atividade econômica mundial após a Segunda Guerra<br />

Mundial, especialmente para os países do Hemisfério Norte, onde ficou claramente<br />

exposto o equívoco de que os recursos naturais eram inesgotáveis, assim como a<br />

capacidade de recuperação da natureza frente aos rejeitos resultantes do progresso<br />

material.<br />

Os graves problemas ambientais ocorridos nos Estados Unidos da América e<br />

em outros países industrializados, na segunda metade deste século, promoveram a<br />

partir do final dos anos 60 e na década de 70, um período marcado por um forte<br />

movimento ambientalista em todo o mundo.<br />

Uma série de graves acidentes ambientais, que em muitos casos<br />

transcendiam às fronteiras nacionais, como o do petroleiro “Torrey Canyon”, que em<br />

1967 contaminou a costa britânica, e a doença de Minamata, na baía japonesa, em<br />

1968, causado por deposição de metais pesados, assim como os efeitos nocivos<br />

para o meio ambiente por causa da poluição espalhada por todo o mundo pela<br />

manufatura moderna, que trouxe o efeito estufa e o aquecimento global, o buraco na<br />

camada de ozônio, a perda de 20 milhões de hectares de florestas por ano e 25<br />

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bilhões de toneladas de húmus por efeito da erosão e desertificação, além do uso<br />

indiscriminado do DDT, estimularam a Organização das Nações Unidas a promover,<br />

em 1972, uma Conferência sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo.<br />

Este novo conceito entendeu que a melhoria da qualidade ambiental dos<br />

países em desenvolvimento dependeria da obtenção de melhores condições de<br />

saúde, educação, nutrição e habitação apenas alcançáveis mediante o<br />

desenvolvimento econômico, devendo, portanto, as considerações ambientais serem<br />

incorporadas ao processo de desenvolvimento integral.<br />

Esta abordagem sobre o desenvolvimento humano significava que os meios e<br />

fins do crescimento econômico deveriam ser equacionados com os meios e fins do<br />

desenvolvimento psicossocial, cultural e ambiental, abrindo assim o discurso sobre a<br />

idéia de sustentabilidade planetária, que tomaria forma na expressão<br />

“desenvolvimento sustentável”.<br />

O termo “desenvolvimento sustentável”, Sr. Presidente, tornou-se conhecido<br />

mundialmente a partir da divulgação pela ONU dos documentos “Nosso Futuro<br />

Comum” e “Estratégia Mundial para a Conservação”, que têm como elementos<br />

essenciais a manutenção dos processos vitais dos ecossistemas na exploração dos<br />

recursos naturais e o objetivo de proporcionar bem-estar às gerações presentes e<br />

futuras.<br />

Como podemos observar pela própria definição do termo, o grande problema<br />

é estabelecer conteúdos mais precisos para o desenvolvimento sustentável, do<br />

ponto de vista prático.<br />

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Questões complexas envolvendo a ordem econômica e social e os recursos<br />

naturais deverão ser equacionadas e solucionadas, com o objetivo de atender às<br />

necessidades humanas, ao mesmo tempo buscando a manutenção e a reposição<br />

dos estoque naturais de uma forma racional, e possibilitando ao mercado absorver<br />

os custos da proteção ambiental.<br />

O equilíbrio entre a satisfação das necessidades humanas e o uso racional<br />

dos estoque naturais é atualmente o grande desafio da humanidade, que, através<br />

dos movimentos ecológicos trouxe para os mais importantes foros de discussão de<br />

todo o mundo, a preservação da natureza, que, muitas vezes, transcende aos limites<br />

geopolíticos, pois questões como a qualidade do ar, poluição de mares e rios, chuva<br />

ácida e outras mazelas da era industrial que afetam a todos em uma dimensão<br />

global.<br />

O grande desafio para a sociedade moderna e seus agentes políticos é<br />

portanto, planejar o desenvolvimento de seu grupo social dentro de parâmetros do<br />

desenvolvimento sustentável, em que o cuidado com o meio ambiente é uma<br />

necessidade vital.<br />

Medidas como estabelecimento de diretrizes claras sobre a integração das<br />

políticas setoriais ou temáticas que compõem o complexo pool de atividades<br />

econômicas que se utilizam de recursos naturais, são de vital importância, Sr.<br />

Presidente, para o desenvolvimento sustentável, como é importante a<br />

sustentabilidade para a vida, assim como para a obtenção de matéria-prima que<br />

move as indústrias, que, por sua vez, promovem a circulação de produtos no<br />

mercado, que gera postos de trabalho e renda para o povo.<br />

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Por volta de 1500, Sr. Presidente, o mundo vivia o momento do<br />

expansionismo, da territorialidade, e tinham nessas variáveis seus instrumentos de<br />

poder. Hoje, face à globalização dos mercados e outros instrumentos, temos que<br />

pensar na produtividade, na sustentabilidade para que possamos criar<br />

competitividade e, assim, fortalecer nossos instrumentos e definir nossos lucros<br />

dentro do modelo da economia global.<br />

Por isso, Sras. e Srs. Deputados, quero salientar a importância das políticas<br />

temáticas e setoriais que se apresentam como instrumentos de Política Ambiental,<br />

observado as peculiaridades regionais, o bioma brasileiro e todos os nossos<br />

ecossistema.<br />

A base de uma correta política do meio ambiente está com seus alicerces<br />

sobre alguns instrumentos dos quais citamos 4 temas como fundamentais:<br />

• a floresta, que necessita de crédito para o plantio e exploração, bem como<br />

de toda a economia extensiva oriunda de sua exploração; a assistência técnica, sem<br />

a qual corre-se o grave risco da utilização de métodos improdutivos e predatórios; o<br />

manejo, que é a forma de utilizar-se os recursos florestais com um mínimo de<br />

agressão ao meio ambiente, colocando-se em prática as determinações do<br />

desenvolvimento sustentável; e a pesquisa, que necessita de investimentos<br />

permanentes, para buscar novos métodos e a tecnologia necessária à manutenção<br />

do uso dos recursos florestais, dentro dos limites impostos pela sustentabilidade;<br />

• a pesca, que é mal explorada no País, devido à falta de crédito, de uma<br />

política que contemple toda a extensão do setor pesqueiro, de uma política nacional<br />

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de assistência técnica e de pesquisa para o setor, da promoção de eventos no setor,<br />

como por exemplo, a pesca esportiva;<br />

• a fauna, que vem sendo vilipendiada por traficantes de animais silvestres,<br />

precisa de proteção, ou seja, de recursos materiais e humanos, de controle nas<br />

estradas, rios, fronteiras, portos e aeroportos e pesquisa, além de uma política de<br />

desenvolvimento sustentável para esse setor;<br />

• e as minas, que precisam de política definida, de ordenamento, trazendo<br />

assim melhorias em todos os sistemas que se utilizam dos recursos naturais.<br />

Transcorridas 3 décadas desde a Conferência de Estocolmo, modificou-se<br />

consideravelmente a percepção do mundo em relação aos problemas ambientais,<br />

conforme atestam as iniciativas internacionais, com a realizada no Rio de Janeiro,<br />

em 1992, conhecida como Rio-92, onde foram assumidos vários compromissos<br />

pelos países participantes, destacando-se a “Agenda 21”, assinada por 170 países,<br />

estabelecendo um plano abrangente de ação destinado a promover o<br />

desenvolvimento sustentável, em escala planetária. Nos 40 capítulos que compõem<br />

o documento são propostas ações para resolver problemas cruciais relacionados à<br />

pobreza, condições de saúde humana, assentamentos humanos, poluição do ar e da<br />

água, desmatamento, desertificação, seca, redução da diversidade biológica,<br />

produção agrícola, recursos hídricos, resíduos e substâncias perigosas.<br />

A sociedade sustentável, Sras. e Srs. Deputados, pode parecer uma utopia do<br />

ponto de vista político-econômico; todavia, o estado crítico em que se encontra o<br />

planeta, tanto nos aspectos ambientais como socioeconômicos, exige o seu<br />

estabelecimento.<br />

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No contexto mundial, há sinais evidentes de mudanças importantes na<br />

estruturação da economia, resultante de um conjunto de inovações tecnológicas e<br />

de importantes arranjos institucionais globais, e de uma nova matriz tecnológica<br />

caracterizada pelo baixo consumo de matérias-primas e de energia.<br />

O Brasil, Sr. Presidente, que tem condições ímpares para inserir-se nesse<br />

novo paradigma tecnológico, no qual a diversidade e a qualidade são elementos<br />

altamente valorizados, pratica a política de que o crescimento econômico e a<br />

melhoria da qualidade de vida da população brasileira não podem estar<br />

subordinados, acriticamente, à manutenção de um meio ambiente mundial mais<br />

saudável e uma melhor gestão de recursos naturais do planeta. Embora tanto o<br />

Governo quanto a sociedade brasileira reconheçam a existência de sérios<br />

problemas ambientais, e que são os países mais industrializados os principais<br />

responsáveis pela gravidade do problema em escala mundial.<br />

O Brasil a partir da década de 90, participa exemplarmente do consenso de<br />

que os problemas ambientais impõem uma interpretação responsável, e desta forma<br />

vem agindo “localmente e pensando globalmente”, através de uma política nacional<br />

de desenvolvimento sustentável, que é aprimorada a cada ano, com resultados<br />

muito positivos em relação ao desenvolvimento humano e à preservação do meio<br />

ambiente.<br />

Esta nova conduta política encontrou no ex-presidente Fernando Henrique<br />

Cardoso um ardoroso defensor, que, ao conseguir implantar e manter uma política<br />

de estabilidade da moeda, dedicou-se à implantação de programas sociais que<br />

melhorassem, de forma definitiva, a qualidade de vida das populações mais carentes<br />

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do Brasil, e à criação de uma política econômica que estabelecesse as bases de um<br />

desenvolvimento econômico sustentável a longo prazo.<br />

A proteção ambiental exige ação conjunta de repressão aos crimes<br />

ambientais pela União, Estados e Municípios, pois somente assim será possível uma<br />

efetiva fiscalização e coordenação de um desenvolvimento sustentável, que hoje<br />

constitui um dos principais compromissos do Governo brasileiro.<br />

Para concluir, Sr. Presidente, para que o IBAMA cumpra sua missão de<br />

guardião do meio ambiente brasileiro, faz-se necessário o aumento substancial do<br />

corpo de funcionários da instituição, assim como o de recursos técnicos e materiais<br />

para a realização desta proteção; e um amplo programa de Educação Ambiental<br />

para a população sobre a legislação ambiental e quanto ao Desenvolvimento<br />

Sustentável.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao Deputado Sérgio<br />

Miranda, por 25 minutos.<br />

O SR. SÉRGIO MIRAN<strong>DA</strong> (PCdoB-MG. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, nobres colegas, há uma poesia, se não me engano de Geir Campos,<br />

que muito me impressionava. Eu a lia naqueles pequenos livros, nos Cadernos do<br />

Povo Brasileiro, do período pré-64. O poeta usava o seguinte argumento: “Queria<br />

ser claro de tal forma que, ao dizer ‘rosa’, todos soubessem o que sentir; mas eu<br />

queria ser claro de tal forma que, ao dizer ‘já’, todos soubessem como agir”.<br />

Quero buscar a clareza do poeta para tratar do tema “Previdência Social”,<br />

para falar da compreensão por parte dos cidadãos do nosso País das mudanças<br />

preconizadas pelo Governo por meio da Emenda Constitucional nº 40. Considero<br />

isso fundamental pelas conseqüências sociais. Podemos dizer que o sistema de<br />

proteção social se constrói a partir da Previdência, que foi a origem de toda a<br />

concepção de seguridade social. O caráter do Governo e sua política social, sem<br />

dúvida, serão determinados pelo tratamento dado à Previdência Social .<br />

Por isso, considero que a forma mais correta de entender esta questão é ser<br />

objetivo, até mesmo asséptico, cirúrgico, para que as pessoas, ao tomarem<br />

conhecimento da reforma, possam se posicionar.<br />

Começarei dizendo o que a reforma não é. Não é propriamente reforma da<br />

Previdência Social, já que esta representa o regime geral, que atende 20 milhões de<br />

brasileiros, com a despesa de 105 bilhões de reais para 20<strong>03</strong>.<br />

A reforma praticamente não cuida do regime geral nem da inclusão social, já<br />

que é o maior drama social do País. O que a Previdência Social fez pelos idosos<br />

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rurais poderia fazer pelos idosos urbanos, porque previdência não significa apenas<br />

proteção na aposentadoria e nas pensões, mas auxílio em acidente de trabalho, à<br />

natalidade e ao desemprego. Quantas milhões de mulheres, no Brasil, não têm<br />

nenhuma proteção quando vão dar à luz?<br />

A reforma não trata da inclusão social. Ao contrário. De certa forma, referenda<br />

as modificações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998, proposta<br />

pelo ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, porque avaliza, a<br />

partir daquelas alterações, que o sistema do regime geral está equilibrado<br />

financeiramente. Não trata do regime próprio dos militares, que praticamente será<br />

excluído. Trata apenas de poucos pontos.<br />

Não se trata de reforma do regime geral, mas do regime próprio dos<br />

servidores públicos civis da União, dos Estados e dos Municípios. Também não se<br />

trata da unificação dos regimes. Já vimos muitas pessoas pregarem um regime<br />

único para a previdência. Não unifica os regimes, mas apenas o teto, e diferencia as<br />

outras regras: do cálculo do benefício, do reajuste do benefício, das pensões, dos<br />

inativos. Há profundas diferenças entre os 2 regimes.<br />

Não se trata também de questão fiscal. A urgência da reforma é devido à<br />

suposta falência do regime previdenciário, caso não seja reformado. O próprio<br />

Ministro, em texto de sua lavra, divulgado pela UnB, é explícito: “Fazemos a reforma<br />

não porque o País vai quebrar se ela não ocorrer”. Não é também por questão de<br />

justiça. Ao contrário, está se cometendo enorme injustiça em relação aos servidores<br />

públicos civis, porque, durante uma transição, fruto da Emenda Constitucional nº 20,<br />

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se rompe esse contrato e se introduz nova transição profundamente perversa e cruel<br />

com os servidores.<br />

Num debate na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, um dos<br />

convidados utilizou uma frase que considero lapidar, porque é este o sentimento de<br />

mágoa de inúmeros servidores: “O Estado tem obrigação de agir de boa-fé”. Não se<br />

pode surpreender as pessoas. É preciso definir prazos, apresentar propostas que<br />

respeitem direitos adquiridos. Ou melhor, nem diria direitos adquiridos, porque os<br />

grandes apenados com essa reforma serão os servidores em processo de aquisição<br />

de direitos.<br />

Então, a reforma não é da Previdência, porque não trata do regime geral, não<br />

unifica os regimes. Ao contrário, diferencia-os mais e profundamente. Não é questão<br />

fiscal nem de justiça. O que é a reforma apresentada pela Emenda Constitucional nº<br />

40? É uma mudança estrutural do regime próprio dos servidores públicos civis, ao<br />

introduzir teto e complementação de fundo de pensão. Esta é a essência da reforma:<br />

criação de teto e de fundo de pensão, a partir do raciocínio, que a vida, os fatos e as<br />

evidências não comprovam, de que os fundos de pensão serão instrumento de<br />

formação de poupança nacional e de financiamento do nosso desenvolvimento.<br />

Para contra-argumentar essa questão, citarei trecho do livro divulgado pela<br />

própria Previdência Social, em que se diz claramente:<br />

“A introdução do mecanismo de capitalização em<br />

assuntos previdenciários não necessariamente levará ao<br />

aumento da poupança do País, tampouco à garantia de<br />

maior crescimento econômico”.<br />

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E cita autores divulgados pela própria Previdência, como o Sr. Nicholas Bhar:<br />

“Tomando-se a evidência como um todo, não há<br />

um indício forte de que uma mudança para capitalização<br />

aumenta a poupança em qualquer país, exceto nos<br />

Estados Unidos. E a evidência norte-americana é<br />

controversa.<br />

Argumenta-se também que a capitalização<br />

contribui indiretamente com o crescimento ao expandir e<br />

aprofundar os mercados de capital. No entanto, a<br />

magnitude do impacto da capitalização sobre crescimento<br />

é controversa. Apesar de haver alguns indícios empíricos<br />

de que a capitalização contribui para mais poupança nos<br />

Estados Unidos, não há o indício forte sobre os efeitos<br />

semelhantes em nenhum outro lugar”.<br />

Essas afirmações sobre fundos de pensão são feitas também por prata da<br />

casa. Leiamos o Prof. João Sayad. E também sobre eminências do próprio FMI,<br />

leiamos o Prof. Joseph Stiglitz, que, de forma cabal, definitiva, diz que é ilusão<br />

pensar que fundo de pensão gera poupança nacional.<br />

Com essa concepção, com essa alteração em profundidade, com a mudança<br />

instituindo teto e fundo de pensão, quer-se unir o setor público de servidores de nível<br />

superior ao regime de fundos de pensão. Tratava-se do único setor do mercado de<br />

trabalho excluído dos fundos de pensão, porque possuía a integralidade dos seus<br />

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proventos de aposentadoria e não necessitava recorrer aos fundos de pensão para<br />

assegurar velhice mais tranqüila.<br />

Ora, o que se pretende com a reforma é integrar esse setor dos servidores<br />

públicos de maior remuneração, de nível superior, ao regime de fundos de pensão,<br />

por meio da capitalização individual.<br />

A proposta tem duas conseqüências. A primeira é fiscal. Toda mudança de<br />

sistema previdenciário tem um custo, por causa do passivo representado pelos<br />

aposentados já existentes e pelo tempo de contribuição daqueles que estão na ativa<br />

e ainda não se aposentaram. Como cobrir esse custo? Daqui para frente a União, o<br />

Estado, o Município vão receber menos, porque a contribuição será sobre o teto e,<br />

além do mais, o ente terá de suportar o fundo de pensão, contribuindo, no mínimo,<br />

com os mesmos recursos que os servidores vão contribuir. Para compensar esse<br />

aumento de gastos, faz-se o quê? Introduzem-se regras profundamente rigorosas:<br />

contribuição dos inativos, cálculo do benefício pela média da vida laboral, redução<br />

das pensões e outras, que analisarei à frente.<br />

A segunda conseqüência é que, ao atingir profundamente o regime próprio de<br />

previdência dos servidores civis, atinge-se uma concepção de Estado, e isso é o<br />

mais grave.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a modernidade surgiu no Brasil a<br />

partir de Getúlio Vargas, com a Revolução de 30. A modernidade surgiu com a<br />

construção do Estado nacional, com a construção de instituições permanentes que<br />

pudessem garantir o nosso desenvolvimento. Getúlio criou o <strong>DA</strong>SP, em 1937, e o<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

IPASE, na década de 30, buscando consolidar uma burocracia estável,<br />

profissionalizada e competente para ser o instrumento do nosso desenvolvimento.<br />

Os estatutários dos Poderes Judiciário e Executivo tinham a garantia da<br />

integralidade desde a década de 30. Ora, a concepção ideológica que está<br />

subjacente a essa reforma é a de que o Estado é igual a uma empresa. Em Minas,<br />

por exemplo, se for tempo de crescimento, a pessoa trabalha na FIAT; recebe uma<br />

boa oferta e vai para a Belgo; depois, recebe outra melhor e vai para a Mannesman;<br />

depois pode voltar para a FIAT.<br />

Querem tratar o Estado Nacional da mesma forma. A função pública será<br />

exercida de acordo com as circunstâncias. Hoje estou no serviço público, amanhã<br />

saio. E haverá um incentivo à saída, porque as condições de aposentadoria do<br />

regime geral serão melhores do que as do setor público.<br />

É essa a concepção de Estado, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,<br />

cidadãos deste País, que está posta em causa. Se nós não reagirmos, não vamos<br />

ter um instrumento essencial para a defesa da soberania nacional. Existe Nação<br />

sem Estado nacional que garanta a soberania? Não. Existem políticas públicas<br />

universais sem Estado? Não. Existem instituições que garantam justiça,<br />

desenvolvimento, políticas públicas, elaboração e aplicação sem Estado? Não, Sr.<br />

Presidente! É por isso que o Poder Judiciário se revolta. O juiz terá condições de<br />

exercer o seu mandato público, se vai aposentar-se com 2.400 reais e uma<br />

aplicação financeira de um fundo de pensão? E se quebrar? É privado, não é<br />

público! Não tem responsabilidade pública pelo fundo de pensão. Não é de benefício<br />

definido. Tal fundo é de contribuição definida. Que garantia terá?<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

É contra essa concepção de desvalorização do papel do Estado nacional que<br />

eu quero que reflitamos de forma desapaixonada, objetiva. Pode-se construir esta<br />

Nação, impulsionar uma política de desenvolvimento, enfrentar os dramas sociais,<br />

elaborar e aplicar políticas universalistas com tal instabilidade da função pública?<br />

Na minha opinião, não.<br />

Sr. Presidente, quero dedicar-me essencialmente às mudanças propostas. O<br />

que é acessório na PEC nº 40, como a questão do teto e do subteto, vamos<br />

confessar, surge por causa de um erro desta Casa. A Emenda Constitucional nº 19,<br />

ao propor que o teto fosse regulado por uma lei de iniciativa comum dos Chefes dos<br />

três Poderes, não tinha noção de que isso não iria viabilizar-se — como não se<br />

viabilizou — nos últimos 4 anos.<br />

Então, se nos escoimarmos disso, o que é a reforma da Previdência? São<br />

alterações no art. 40, onde se definem regras permanentes para aposentadoria dos<br />

servidores públicos civis e uma nova transição.<br />

São poucos os artigos que deveríamos estudar. Basicamente, mantém-se a<br />

idade de 60 anos para quem começou a trabalhar depois de 1998, caso seja<br />

homem, e a de 55 anos para a mulher. Essa regra da idade não existe no regime<br />

geral, Sr. Presidente.<br />

Ouço comentários de que há pessoas aposentando-se aos 48 anos de idade.<br />

Como? Primeiro, se já era servidor antes de 1998, teria de cumprir um pedágio de<br />

20% do tempo que faltava para ter sua aposentadoria, ou de 40%, se quisesse se<br />

aposentar de forma proporcional. A média de aposentadoria para os homens, hoje,<br />

no serviço público civil da União é em torno de 58 anos.<br />

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Sr. Presidente, quais são as novas regras? Teto salarial de 2.400 reais, o<br />

mesmo teto do regime geral; fim da integralidade; cálculo da aposentadoria pela<br />

média — depois esclarecerei esse ponto; redução da pensão de até 70%; fim da<br />

paridade, que era uma forma de garantir ao aposentado do setor público a<br />

manutenção do valor integral do seu benefício; fundo de pensão sem regra<br />

específica.<br />

Cada um dos 27 Estados, cada um dos 5.500 Municípios pode criar o seu<br />

fundo de pensão baseado nas regras gerais das Leis Complementares nºs 108 e<br />

109. Não existe mais regra específica. Pergunta-se: naqueles Estados que têm<br />

fundo de pensão, como será a transição para o futuro fundo de pensão? Como será<br />

a contribuição, que deveria ter sido feita pelo ente, para as aposentadorias? Vão<br />

entrar na Justiça. Vamos viver uma grande contenda judicial sobre o tema. Salários<br />

de contribuição serão devidamente atualizados.<br />

Sr. Presidente, por que se incluiu na reforma que os benefícios de<br />

aposentadoria não poderão ser maiores do que os salários da ativa? Isso era<br />

compreensível quando havia integralidade. Por quê? Porque, se houver a correção<br />

dos salários de contribuição, sem dúvida se ultrapassará o salário da ativa, uma vez<br />

que há servidores que não receberam nesse período a correção da corrosão<br />

inflacionária. São essas as regras, além da contribuição dos inativos.<br />

Há também a nova transição, com redutor, no que diz respeito à idade, de 5%<br />

por ano a partir dos 60 anos. O abono atinge também os professores. Garante os<br />

direitos adquiridos, sim, mas direitos adquiridos congelados. Prestem atenção, Srs.<br />

Deputados. O que é o direito adquirido congelado? É o direito adquirido na época,<br />

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com as condições do momento em que o servidor o adquiriu. Se ele se aposenta<br />

proporcionalmente com 90% do salário, daqui a 2 anos vai continuar podendo se<br />

aposentar com os mesmos 90%. Mas, caso seja promovido, receberá a nova<br />

promoção, ou o direito adquirido vale para aquele salário que ele tinha quando<br />

adquiriu o direito?<br />

Srs. Deputados, vou apresentar a V.Exas. um pequeno trabalho que fiz e<br />

estou divulgando no meu sítio na Internet. Diz-se que o servidor público é<br />

privilegiado. Vamos comparar os dois regimes.<br />

No regime geral é proibida a contribuição de aposentados e pensionistas —<br />

art. 95, inciso II, da Constituição —, mesmo dos que ganham mais do que o teto.<br />

Aquelas “velhinhas de Santos” que motivaram o escândalo noticiado na TV Globo<br />

não vão contribuir com 11%, são do regime geral. Já no regime próprio dos<br />

servidores públicos a cobrança dos 11% incidirá sobre os benefícios de aposentados<br />

e pensionistas. Inclui-se aí algo que vai merecer contestação, porque se define para<br />

os atuais a cobrança a partir do limite de isenção do Imposto de Renda. Como? A<br />

contribuição é previdenciária e o Imposto de Renda é um tributo de caráter genérico.<br />

Como poderão ter a mesma base? Se amanhã quisermos aumentar o limite de<br />

isenção do Imposto de Renda, que está sendo corroído pela inflação, não<br />

poderemos fazê-lo porque Prefeitos e Governadores vão reclamar que perderão a<br />

arrecadação dos inativos.<br />

A pensão, no regime geral, equivale a 100%, de acordo com a Constituição;<br />

no regime próprio, a até 70%.<br />

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Cálculo do benefício. No regime geral, 80% das melhores contribuições a<br />

partir de junho de 1994; portanto, descartam-se as 20% piores. No regime próprio<br />

dos servidores públicos, Sr. Presidente, faz-se o cálculo de toda a vida laboral. É<br />

com isso que eu não me conformo, porque essa norma prejudica quem começou de<br />

baixo e mais cedo. O cidadão que trabalhava e estudava ao mesmo tempo, depois<br />

fez um concurso e mais outro para melhorar de nível, será prejudicado.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Deputado Sérgio Miranda, dada a<br />

relevância do pronunciamento de V.Exa., vou conceder-lhe o tempo que estaria<br />

reservado ao PCdoB nas Comunicações Parlamentares.<br />

O SR. SÉRGIO MIRAN<strong>DA</strong> – Por favor, Sr. Presidente.<br />

Observem V.Exas., Sras. e Srs. Deputados, que o trabalhador do regime<br />

geral alcançará 35 anos de média daqui a 25 ou 26 anos, mas querem impor ao<br />

servidor público 35 anos de média a partir de hoje, quando esses números não<br />

estão disponíveis. A lei vai tratar essa questão de forma aleatória, aposto, porque,<br />

como já dispunha a mensagem que regulou o fator previdenciário, o SERPRO só<br />

tem esses dados a partir de 1994.<br />

O fator previdenciário foi instituído por lei, após a reforma, quando caiu o<br />

limite de idade. Foi então definido o fator previdenciário — que julgo inconstitucional,<br />

mas o Supremo decidiu pela sua constitucionalidade —, uma fórmula que tem a<br />

seguinte característica: se é menor do que 1, serve como redutor para quem se<br />

aposenta com menos de 60 anos; se é maior do que 1, eleva o benefício para quem<br />

se aposenta com mais de 60 anos.<br />

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Eu fiz os 2 cálculos, Sr. Presidente, o do fator previdenciário e o do redutor de<br />

5%. É impressionante o resultado! Quem diria, os servidores públicos devem lutar<br />

pelo fator previdenciário, porque ele aumenta o seu benefício. Segundo apurei, o<br />

prejuízo do servidor que tem 53 anos é de 11,6% e do servidor que tem 65 anos, de<br />

32,5%. Essa é a diferença em relação ao fator previdenciário.<br />

Mais ainda. A aposentadoria proporcional se mantém no regime geral de<br />

previdência — 40% do tempo que falta para a idade de 53 anos —, mas acaba no<br />

regime próprio dos servidores.<br />

Pelo regime geral, conforme estabelece a Constituição, o piso para qualquer<br />

benefício é de 1 salário mínimo, seja ele pensão ou provento de aposentadoria. O<br />

regime próprio dos servidores — pasmem os senhores — não contempla essa regra,<br />

porque havia integralidade. Caindo a integralidade, não há garantia de piso de<br />

salário mínimo para aposentadoria e pensão. Isto é, se o servidor público ganha 300<br />

reais, ao retirarmos os 30%, ele receberá 210 reais; menos que 1 salário mínimo,<br />

portanto.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o regime geral não estipula idade,<br />

mantém a regra de 35 anos de contribuição para homem e 30 anos para mulher.<br />

Esta Casa mesma derrubou a exigência, em votação neste plenário. O regime<br />

próprio dos servidores estabelece idade.<br />

Estou levantando estas questões para que os cidadãos deste País analise a<br />

reforma. É muito importante entender o que está sendo proposto. O servidor público<br />

tem de fazer a sua conta, porque não existe mais aposentadoria pelo cargo. Somos<br />

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colegas, mas não vamos nos aposentar juntos. Um pode ter aposentadoria de “x”,<br />

outro de “x” sobre 2, porque o que vale é a vida laboral. A redução é enorme.<br />

Sras. e Srs. Deputados, vamos analisar todas essas questões de forma<br />

objetiva, cirúrgica, para garantirmos o Estado nacional e podermos nos justificar<br />

perante a sociedade.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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O SR. CARLOS MOTA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. CARLOS MOTA (PL-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não quis interromper o Deputado Sérgio<br />

Miranda, porque S.Exa. estava dando uma verdadeira aula sobre a proposta de<br />

reforma da Previdência. São irretorquíveis os comentários do nobre Deputado,<br />

dignos de ser divulgados para todo o País, porque refletem verdadeiramente o que<br />

se pretende com esta reforma.<br />

A grande reforma que a Previdência Social está merecendo é, de um lado, o<br />

incremento da cobrança da contribuição previdenciária; não existe contribuição mais<br />

sonegada do que a previdenciária; só a dívida ativa inscrita na Previdência é de 160<br />

bilhões de reais; e, de outro, a necessidade de haver mais cuidado com a concessão<br />

de benefícios, como, por exemplo, os por invalidez, excetuando aquela situação em<br />

que a pessoa quase moribunda chega à fila do INSS e ainda assim não é<br />

aposentada. O mais grave são as aposentadorias por invalidez indevidas. Há<br />

estimativa, em alguns Estados, de que de 20% a 25% das aposentadorias por<br />

invalidez são indevidas. E qual é o profissional que afere a justeza de uma<br />

aposentadoria por invalidez? O médico perito do INSS.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero reforçar as nobres palavras de<br />

alguns colegas Parlamentares que manifestaram nesta Casa a preocupação com a<br />

realidade vivida pelos médicos peritos da Previdência Social. Como já foi<br />

mencionado, a carreira passa por um processo de abandono e precisa de medidas<br />

urgentes por parte do Governo Federal. Sabemos que o setor de perícia médica é o<br />

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responsável pela concessão de aposentadoria e atende diretamente os usuários da<br />

Previdência Social. Aliás, suas atribuições superam os limites do INSS, onde cuidam<br />

das aposentadorias especiais, benefícios por incapacidade, nexo técnico de<br />

doenças ocupacionais, inspeções de ambientes de trabalho, assessoria à<br />

Procuradoria, entre outras. Fora do INSS, atuam na concessão e revisão dos<br />

benefícios sociais e, mesmo fora do MPAS, julgam os enquadramentos de doenças<br />

invalidantes para quitação de seguro habitacional e isenção de Imposto de Renda de<br />

Pessoa Física. Uma área, portanto, muito importante e vital para o perfeito<br />

andamento da instituição. Embora a Perícia Médica do INSS, juntamente com a<br />

Auditoria Fiscal e a Procuradoria, seja uma das funções estratégicas da Previdência<br />

Social, o setor enfrenta problemas com o quadro de pessoal defasado e<br />

desestruturado.<br />

Chamo novamente a atenção para a necessidade de elaboração de projeto<br />

de lei sobre regulamentação da carreira dos médicos peritos da Previdência Social,<br />

como forma de valorização e justiça, visto que ela foi excluída da Medida Provisória<br />

nº 46, de 2002, que estruturou as carreiras de Auditor Fiscal do Trabalho e Auditor<br />

da Receita Federal. A carreira dos médicos peritos do INSS deve ser qualificada<br />

como típica de Estado devido as suas especificidades. E como carreira típica, o<br />

serviço deve ser prestado unicamente por médicos peritos do INSS, concursados<br />

para tal cargo. O Governo não pode continuar permitindo a terceirização de perícias<br />

médicas. Lembro que a decisão pericial interfere diretamente em direitos<br />

fundamentais da cidadania e, como Procurador do INSS, preocupo-me<br />

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particularmente com o acesso ao trabalho e aos direitos previdenciários e<br />

trabalhistas com repercussões cíveis e até criminais.<br />

Por fim, enfatizo que o médico perito, sob a ótica dos usuários da Previdência,<br />

é o seu principal servidor. Não pode permanecer 26 anos sem concurso, com<br />

remuneração imprópria à sua dimensão e — volto a dizer — sem a regulamentação<br />

com suas especificidades de carreira própria do Estado. Após a regulamentação da<br />

carreira, o Governo Federal precisa imediatamente realizar concurso público para<br />

preencher o quadro de pessoal e suprir a demanda de milhares de usuários que<br />

diariamente dão entrada a processos de concessão de aposentadorias.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Coronel Alves, para uma Comunicação de Liderança, pelo PL.<br />

O SR. CORONEL ALVES (PL-AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero fazer o registro de algumas indicações<br />

que apresentei durante esta semana.<br />

É sabido que para uma das grandes categorias que contribuem para nossa<br />

sociedade, trabalhando no campo da segurança pública, muitas vezes falta algum<br />

apoio do Estado, do Município e até mesmo da União. O apoio a que estou dando<br />

enfoque agora é a moradia. Em vários Estados — a mídia está sempre a informar<br />

sobre isto —, o policial militar ou civil, todos os integrantes da segurança pública,<br />

aqueles que arriscam sua vida para promover a segurança da sociedade, estão<br />

residindo próximo da marginalidade. Muitas vezes, o policial não tem condições de<br />

mostrar seu uniforme depois de ser lavado ou sua carteira profissional, porque está<br />

morando ao lado da bandidagem.<br />

Como contribuição a essa matéria, fiz uma indicação aos Ministros da área —<br />

Ministro da Justiça e Ministro do Trabalho — para se proporcionar linha de crédito<br />

destinado à construção de casa própria para esses policiais.<br />

Sei que não é uma idéia nova, mas nós a estamos retomando.<br />

No Estado do Amapá ainda não tivemos a recepção dessa idéia. Por isso,<br />

apresentei essas indicações aos Ministros da área para conseguirem do Presidente<br />

da Caixa Econômica Federal linhas de crédito para construção de casas populares.<br />

O servidor da segurança pública, como o servidor público, é humilde. Ele não está<br />

pensando numa casa grande, mas num lugar em que possa, ao sair para o trabalho<br />

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para defender a sociedade e colocar em risco sua própria vida, deixar sua família<br />

com um pouquinho mais de tranqüilidade.<br />

Quero registrar essas minhas indicações para que essa categoria tão sofrida,<br />

que trabalha tanto pelo engrandecimento do País e pela proteção da sociedade,<br />

possa ter atendido um dos seus grandes anseios: uma morada digna.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Valdenor Guedes, para Comunicação de Liderança, pelo PP.<br />

O SR. VALDENOR GUEDES (PP-AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje, <strong>18</strong> de junho, se comemora o Dia do<br />

Químico. Aqui estou para prestar homenagem a todos os profissionais que<br />

trabalham voluntária e cientificamente e — por que não dizer? — no anonimato para<br />

toda a população brasileira.<br />

Se hoje estou com esta roupa e este sapato, é porque houve um trabalho<br />

realizado pelos químicos.<br />

Se hoje falo neste microfone, se nos alimentamos e ingerimos água límpida e<br />

transparente, devemos esse trabalho a esses profissionais que cuidam tão bem da<br />

água, para que tenhamos melhor qualidade de vida.<br />

Sr. Presidente, não poderia deixar de registrar que esses profissionais têm-se<br />

preocupado, acima de tudo, com o desenvolvimento da ciência em nosso País. Eles<br />

não fazem estardalhaço, não querem aparecer na mídia, mas dependemos, de uma<br />

maneira muito grande, do trabalho dos químicos. Quem não gosta de um<br />

refrigerante? Talvez algumas pessoas não possam beber refrigerante, mas é um<br />

trabalho desses profissionais. Aqueles que já passaram por uma escola aprenderam<br />

com seus professores que na Tabela Periódica há mais de 100 átomos espalhados<br />

pela natureza, que se unem entre si, formando moléculas, tecidos, fazendo parte de<br />

inúmeras substâncias que utilizamos diariamente. Se prestarmos atenção, veremos<br />

em nossas casas vários produtos químicos que usamos diariamente.<br />

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Hoje já me pronunciei nesta Casa, por exemplo, sobre o sabão que<br />

utilizamos. A união de um ácido graxo orgânico e uma base inorgânica dá como<br />

resultado um sal que se chama sabão. Tudo isso é realizado por esse grande<br />

profissional: o químico.<br />

Sr. Presidente, hoje falei com o Ministro da Justiça e ontem com a Ministra<br />

Benedita da Silva sobre prestar grande contribuição a este País e especialmente às<br />

nossas crianças. Há milhares de crianças cheirando inalantes, produtos químicos<br />

vendidos nos postos de combustíveis, nos supermercados, nas clínicas e nos<br />

hospitais. Existem também os cheiradores de cola de sapateiro, que nada mais é do<br />

que uma substância chamada tolueno, que serve para manter a consistência do<br />

produto.<br />

Nós, os químicos, estamos elaborando um projeto sobre a obrigatoriedade de<br />

as fábricas colocarem uma substância mascarante, enjoativa, a fim de que nossas<br />

crianças não continuem inalando essas substâncias que causam câncer, problemas<br />

no estômago, infecções nos rins e pâncreas e até problemas cardiovasculares.<br />

Sr. Presidente, é esta a contribuição dos químicos.<br />

Se as taquígrafas estão escrevendo, é porque um profissional da química fez<br />

excelente trabalho para que obtivéssemos o papel e a tinta.<br />

apoio.<br />

Quero parabenizar esses grandes profissionais, que merecem todo o nosso<br />

Peço ao Governo que invista mais em ciência e tecnologia para que este País<br />

tenha pesquisa, tecnologia e indústria para produzir e gerar mais empregos aos<br />

brasileiros.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. REGINALDO GERMANO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. REGINALDO GERMANO (PFL-BA. Pela ordem. Sem revisão do<br />

orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo esta tribuna trazendo na<br />

mão esquerda a Constituição Federal e, infelizmente, na direita parecer vergonhoso<br />

do Procurador-Geral da República Geraldo Brindeiro, apelidado e reconhecido pela<br />

imprensa como engavetador, ou seja, aquele que engavetou, durante a maior parte<br />

do seu mandato como Procurador-Geral, o que era de interesse do Governo. Essa<br />

foi a fama que o Sr. Geraldo Brindeiro deixou.<br />

Além disso, Sr. Presidente, observo que havia dois pesos e duas medidas na<br />

atuação do Sr. Geraldo Brindeiro. Um Governador do PT, se não me engano de<br />

Mato Grosso, foi acionado na Justiça Eleitoral sob a acusação de ilegalidade na<br />

campanha eleitoral, e o processo contra ele foi engavetado; já no caso do<br />

Governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz — mesmo processo, mesma<br />

acusação, mesma situação —, foi pedida abertura de processo de cassação do<br />

mandato.<br />

Ao se despedir do Ministério Público Federal, o Sr. Geraldo Brindeiro diz que<br />

as cotas para negros e afro-descendentes adotadas nas universidades no Rio de<br />

Janeiro e na Bahia são ilegítimas.<br />

Sr. Presidente, gostaria de entender como o Sr. Geraldo Brindeiro, na<br />

qualidade de Procurador-Geral da República, conseguiu pegar este livro chamado<br />

Constituição do Brasil, que no art. 5º diz que todos são iguais perante a lei, e redigir<br />

um parecer no sentido de que as cotas são ilegítimas. Ora, este livro diz que somos<br />

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iguais perante a lei. No entanto, do universo de alunos que hoje cursam o 3º grau,<br />

do total de alunos de universidades, apenas 2% são negros.<br />

Não entendo a forma do Sr. Geraldo Brindeiro analisar a situação, embora<br />

possa até entender seu trabalho como engavetador, pois gostava de agradar quem<br />

estava no poder. Talvez estivesse querendo do Presidente Lula uma vaguinha em<br />

algum outro órgão do Governo.<br />

Tratarei ainda de outro assunto, Sr. Presidente. Quero dizer aos Deputados<br />

da Oposição, que não querem receber o dinheiro da convocação extraordinária, que<br />

o dinheiro que vou receber é limpo e justo, porque trabalharei e votarei a favor do<br />

povo brasileiro. Não vou votar contra o salário mínimo, como eles, que foram<br />

favoráveis ao salário mínimo de 240 reais e nos impediram de dar-lhe aumento<br />

maior — essa, sim, é uma forma feia de agir.<br />

Outro dinheiro muito feito aparece quando verificamos as contas do gabinete<br />

do Presidente da República. O gasto anual do gabinete do ex-Presidente Fernando<br />

Henrique Cardoso foi de 42 milhões e agora vai pular para 130 milhões, no gabinete<br />

do Presidente Lula. Esse, sim, é um dinheiro feio.<br />

O dinheiro que vou receber pela convocação extraordinária é limpo e justo.<br />

Não sou empresário; não tenho empresa; vivo da minha atividade parlamentar. Não<br />

vim para cá enviado por grupo de empresários para votar contra o trabalhador, para<br />

retirar seus direitos. Ao contrário. Vim para votar de acordo com a vontade do povo<br />

brasileiro. Por isso, meu salário é limpo e justo.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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ordem.<br />

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. JOÃO MENDES DE JESUS - Sr. Presidente, peço a palavra pela<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. JOÃO MENDES DE JESUS (PDT-RJ. Pela ordem. Pronuncia o<br />

seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, aproveito a<br />

oportunidade para falar a esta Casa sobre dados constantes da Síntese de<br />

Indicadores Sociais 2002, divulgada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia<br />

e Estatística, que nos dá um retrato do Brasil e nos mostra a forma como vivem os<br />

brasileiros.<br />

Os dados colhidos pelo IBGE apontam que o traço mais marcante da nossa<br />

sociedade continua sendo a desigualdade social.<br />

Entre os pontos pesquisados, chamaram-me a atenção o número de idosos<br />

no País, que aumentou 29 vezes desde 1940, e a renda familiar per capita de 41,4%<br />

desses idosos, que é inferior a um salário mínimo.<br />

Na área da educação, a pesquisa fornece os seguintes resultados: os alunos<br />

da rede pública de ensino estão mais atrasados que os da rede particular, o que<br />

demonstra a falta de respeito com que os Governos anteriores tratavam o ensino<br />

público; pouco mais de um terço das crianças de 0 a 6 anos e dos jovens de <strong>18</strong> a 24<br />

anos freqüentam escola ou creche; apenas um quarto dos estudantes de <strong>18</strong> a 24<br />

anos freqüentam o ensino superior; e ainda é alto o índice de atraso escolar no<br />

grupo de alunos de 7 a 14 anos de idade.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, neste discurso dispensarei maior<br />

atenção às questões relacionadas ao modo de vida dos negros e apontadas pela<br />

Síntese de Indicadores Sociais.<br />

A pesquisa nos mostra que a busca pela melhoria de escolaridade da<br />

população negra e parda no Brasil não é suficiente para acabar com a desigualdade<br />

racial no mercado de trabalho. Os dados indicam ainda que negros e pardos têm<br />

renda média menor que a dos brancos, mesmo quando são comparados grupos<br />

com o mesmo nível de escolaridade.<br />

Os números do IBGE demonstram que quanto mais tempo uma pessoa<br />

estuda, maior é seu rendimento médio. Porém, esse acréscimo na renda acontece<br />

de maneira diferenciada para brancos e negros. Com 9 a 11 anos de estudo, a<br />

média de rendimento do cidadão negro ou pardo é de 3,10 reais para cada hora de<br />

trabalho. Mas, para os brancos, esse valor aumenta para 4,40 reais.<br />

A Síntese indica que os negros e pardos que conseguem chegar até a<br />

universidade e estudam pelo menos um ano no ensino superior ganham em média<br />

8,30 reais por cada hora de trabalho, contra 11,80 reais dos brancos.<br />

Para concluir, Sr. Presidente, o resultado da pesquisa sobre a discriminação<br />

sofrida ao longo dos anos aponta o fato de que, em 2001, 87,2% dos brasileiros que<br />

pertenciam ao segmento de 1% mais rico da população eram brancos. Entre os 10%<br />

mais pobres, 67,3% eram negros e pardos. No total, 53,4% se declararam brancos;<br />

5,6%, negros; e 40,4%, pardos. Portanto, nobres Parlamentares, as condições de<br />

vida dos cidadãos negros ainda continuam abaixo das usufruídas pelos brancos.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O estabelecimento de cotas, tema tão debatido nas universidades e órgãos<br />

públicos, é apenas o ponto de partida para a inclusão social das pessoas de pele<br />

negra. Essa inclusão deve ser feita com mais ênfase no início da vida escolar,<br />

especialmente no período de 0 a 6 anos. Dessa forma, daremos aos negros as<br />

mesmas condições dadas aos brancos e não precisaremos, no futuro, estabelecer<br />

regime de cotas para que entrem nas universidades.<br />

Para concluir, Sr. Presidente, quero enfatizar que os cidadãos afro-<br />

descendentes possuem a mesma capacidade intelectual dos cidadãos brancos. Só<br />

precisamos ter as mesmas oportunidades.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado.<br />

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Número Sessão: 119.1.52.O Tipo: <strong>Ordinári</strong>a - CD<br />

Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. FEU ROSA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

DISCURSO DO SR. DEPUTADO FEU ROSA QUE, ENTREGUE À<br />

REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Concedo a palavra ao nobre Deputado<br />

Elimar Máximo Damasceno, para uma Comunicação de Liderança, pelo PRONA.<br />

O SR. ELIMAR MÁXIMO <strong>DA</strong>MASCENO (PRONA-SP. Como representante.<br />

Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, antes de ler meu pronunciamento sobre o<br />

acadêmico Gustavo Barroso, apresento projeto de lei à Mesa que inscreve o nome<br />

do Marechal João Batista Mascarenhas de Morais no Livro dos Heróis da Pátria.<br />

O presente projeto de lei pretende instituir justa e oportuna homenagem a um<br />

dos personagens de nossa História, que, por sua atuação militar, principalmente na<br />

2ª Guerra Mundial, à frente da Força Expedicionária Brasileira, merece ter seu nome<br />

registrado no referido Livro.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna homenagear a<br />

memória de um dos mais admiráveis intelectuais da História do Brasil — o<br />

acadêmico cearense Gustavo Barroso, autor de vasta obra literária sobre os mais<br />

diversos temas, Diretor do Museu Histórico Nacional, a partir de 1922, e Patrono<br />

dos Dragões da Independência, regimento que monta guarda à Presidência da<br />

República e cujos belos uniformes foram por ele desenhados, após longa e<br />

minuciosa pesquisa histórica.<br />

Gustavo Barroso nasceu em dezembro de <strong>18</strong>88, em Fortaleza, capital<br />

cearense, e faleceu em dezembro de 1959, no Rio de Janeiro. Sua estréia na<br />

literatura deu-se muito cedo, aos 23 anos, quando publicou o livro Terra de Sol, sob<br />

o pseudônimo de João do Norte; ensaio poético sobre a natureza e os costumes do<br />

sertão cearense.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Gustavo Barroso foi advogado, professor, político, contista, folclorista,<br />

cronista, ensaísta e romancista. A vasta obra de Gustavo Barroso, de 128 livros,<br />

abrange história folclórica, crítica, erudição, filologia, ensaios, contos, crônicas,<br />

novelas regionais, pensamentos, memórias, viagens políticas e até dicionário.<br />

Com apenas 35 anos de idade, Gustavo Barroso foi eleito para a Academia<br />

Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 19, onde desempenhou intensa e<br />

relevante atividade até o fim da vida.<br />

Em 1923, como tesoureiro da instituição, comandou a adaptação do prédio do<br />

Petit Trianon, que o Governo francês oferecera ao Governo brasileiro para nele<br />

instalar a sede da Academia. Presidiu a instituição por 4 mandatos.<br />

Em janeiro de 1941 foi escolhido, a par de Afrânio Peixoto e Manoel Bandeira,<br />

para coordenar os estudos e pesquisas relativo ao folclore brasileiro.<br />

Em 1933, após ouvir a conferência do Chefe da Ação Integralista Brasileira,<br />

Plínio Salgado, Gustavo Barroso aderiu ao Integralismo, tornando-se seu mais<br />

importante doutrinador. No mesmo ano publicou o livro O Integralismo em Marcha, e,<br />

no ano seguinte, produziu a obra que daria ao Movimento Integralista seus mais<br />

sólidos fundamentos teóricos: Brasil, Colônia de Banqueiros. Nessa obra, Gustavo<br />

Barroso defende a tese ainda hoje polêmica de que o Brasil não é um país<br />

independente, uma vez que o brado retumbante de D. Pedro I resultou num<br />

compromisso com a dívida externa que a Inglaterra herdara de Portugal. Seríamos,<br />

pois, dependentes do imperialismo inglês, assim como hoje haveria dependência do<br />

capital internacional.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

Em 1937 publicou Integralismo e catolicismo; A maçonaria: seita judaica;<br />

Judaísmo, maçonaria e comunismo; e A sinagoga paulista. No ano seguinte,<br />

escreveu o livro Corporativismo, cristianismo e comunismo.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é lamentável que no nosso País não<br />

se tenha por hábito enobrecer a memória de nomes como Gustavo Barroso, que<br />

tanto contribuiu para a cultura e a política do País. Não faz sequer um século que ele<br />

nos deixou; fragmentos de sua atuação, como a criação do Museu Histórico<br />

Nacional, ocupa lugar de destaque no cenário nacional. Pergunte-se, porém, a<br />

qualquer cidadão bem formado sobre quem foi Gustavo Barroso e ele dificilmente<br />

saberá.<br />

Sr. Presidente, nobres colegas, ao ocupar um microfone do plenário desta<br />

Casa para falar algumas palavras sobre a vida e a obra de Gustavo Barroso,<br />

pretendi resgatar do esquecimento algo da trajetória deste extraordinário intelectual.<br />

Espero que minha modesta iniciativa contribua para tornar mais conhecida a<br />

participação deste cidadão invulgar na constituição do patrimônio simbólico nacional.<br />

Parabéns ao povo cearense!<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Antes de encerrar a presente sessão,<br />

registro meus votos de pesar pelo passamento do Deputado, colega e amigo Moisés<br />

Lipnik, que deixa grande lacuna na Casa.<br />

S.Exa. está sendo sepultado hoje, nos Estados Unidos. Rogamos a Deus que<br />

lhe dê o bom lugar que merece, pois tinha coração fraterno, era boa pessoa e bom<br />

companheiro. Deixou-nos prematuramente.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

VI - PROPOSIÇÕES<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Os Senhores Deputados que tenham<br />

proposições a apresentar queiram fazê-lo.<br />

APRESENTAM PROPOSIÇÕES OS SRS.:<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

VII - ENCERRAMENTO<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Nada mais havendo a tratar, vou<br />

encerrar a sessão.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

O SR. PRESIDENTE (João Caldas) - Encerro a sessão, convocando para<br />

sexta-feira, dia 20 de junho, às 9h, sessão ordinária da Câmara dos Deputados.<br />

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Data: <strong>18</strong>/<strong>06</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176/4171<br />

(Encerra-se a sessão às 20 horas e <strong>18</strong> minutos.)<br />

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