O Estatuto Científico da Parapsicologia
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Da mesma forma, mais modernamente, a Psicologia é fun<strong>da</strong>mental para o reconhecimento <strong>da</strong><br />
complexi<strong>da</strong>de do fenômeno <strong>da</strong> percepção. A Psicologia <strong>da</strong> Gestalt, por exemplo, reconheceu o<br />
papel do observador no processo de percepção, afirmando que sempre há um envolvimento <strong>da</strong><br />
constituição psíquica do sujeito, um mecanismo de ação e não apenas de coleta de <strong>da</strong>dos. A<br />
Psicanálise foi importante por mostrar que tendemos a construir a reali<strong>da</strong>de conforme nossos<br />
desejos. (Freud, 1981) Piaget, com sua Epistemologia Genética, demonstrou que a construção do<br />
conhecimento é um processo complexo e jamais unilateral. (Piaget, 1969)<br />
Como foi visto na sessão anterior, a visão clássica de ciência, tomou como parâmetro de análise<br />
o desenvolvimento <strong>da</strong> Física. Quando se afirma que a filosofia científica clássica é newtonianacartesiana,<br />
se está reconhecendo, de certa forma, a importância que esta ciência tem sobre as<br />
noções do que é ou não científico. A Física parece representar uma espécie de diapasão, sob a<br />
égide do qual a orquestração científica ocidental deve estar embasa<strong>da</strong>. Talvez mais importante do<br />
que o reconhecimento <strong>da</strong> descontinui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> história <strong>da</strong> ciência e a mu<strong>da</strong>nça na visão de<br />
percepção, as novas formulações <strong>da</strong> Física foram fun<strong>da</strong>mentais para a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> visão clássica<br />
de ciência. A nova Física, basea<strong>da</strong> na Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong>de de Albert Einstein, e na Mecânica<br />
Quântica de Max Planck, revolucionou não apenas as concepções <strong>da</strong> Física Clássica, mas<br />
também a história do pensamento do século XX.<br />
A nova Física questionou o atomismo promovendo a noção de ‘funções contínuas’, rejeitou a<br />
aceitação de invariáveis físicas, aceitando a relativi<strong>da</strong>de ou inter-dependência entre tempo e<br />
espaço, e reintroduziu a consciência como importante fator na observação, sustentando que o<br />
observador influencia o observado.<br />
Os fatores de questionamento <strong>da</strong>s concepções <strong>da</strong> visão clássica de ciência apresentados foram<br />
suficientes para predispor os cientistas atuais para uma aceitação de anomalias como as<br />
parapsicológicas? A resposta a esta pergunta não é simples. Por um lado, como foi apresentado,<br />
há críticos cujos argumentos parecem estar alinhados à visão tradicional ou clássica de ciência.<br />
Por outro lado, é inegável que a <strong>Parapsicologia</strong> conquistou certo espaço científico. Assim, não se<br />
pode dizer que haja uma aceitação integral <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> nos meios científicos, <strong>da</strong> mesma<br />
forma que seria incorreto dizer que há rejeição.<br />
A análise do sociólogo James McClenon em seu livro Deviant Science: The Case of<br />
Parapsychology, pode ser útil para se compreender os processos de aceitação e rejeição <strong>da</strong><br />
<strong>Parapsicologia</strong> do contexto científico. McClenon sustenta que a rejeição por parte dos cientistas<br />
se dê por conta <strong>da</strong> impregnação do cientismo na mentali<strong>da</strong>de científica. Ele define cientismo<br />
como "o corpo de idéias usa<strong>da</strong>s para legitimar a prática <strong>da</strong> ciência. Essa idéias são usa<strong>da</strong>s para<br />
avaliar alegações de anomalias em termos de atitudes existentes na ciência institucionaliza<strong>da</strong>".<br />
(McClenon, 1984, p. 222) Os cientistas definem o que é ou não ciência a partir do cientismo, que<br />
prevê que anomalias devem ser investiga<strong>da</strong>s apenas quando puderem ser repeti<strong>da</strong>s, investiga<strong>da</strong>s<br />
em laboratório e permitirem explicações de tipo mecanicista. Segundo McClenon, a aceitação <strong>da</strong><br />
Parapsychological Association (PA) como membro <strong>da</strong> American Association for Advancement<br />
of Science (AAAS), em 1969, não se deveu à aceitação <strong>da</strong>s anomalias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela<br />
<strong>Parapsicologia</strong>, mas pelo papel desempenhado por aspectos políticos e retóricos que envolveram<br />
tal aceitação. Antes <strong>da</strong> aprovação em 1969, a afiliação <strong>da</strong> PA à AAAS havia sido nega<strong>da</strong> por<br />
quatro vezes, em 1961, 1963, 1967 e 1968. Na ver<strong>da</strong>de, a <strong>Parapsicologia</strong> não sofreu qualquer