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O Estatuto Científico da Parapsicologia

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Este artigo foi baseado no primeiro capítulo <strong>da</strong> dissertação de mestrado do autor, "<strong>Parapsicologia</strong> e Religião: Um<br />

estudo <strong>da</strong> importância <strong>da</strong>s experiências parapsicológicas para uma compreensão mais abrangente do fenômeno<br />

religioso", Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências <strong>da</strong> Religião, PUC-SP, 1996. O autor agradece o<br />

apoio financeiro <strong>da</strong> agência CAPES.<br />

O <strong>Estatuto</strong> <strong>Científico</strong> <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong><br />

Wellington Zangari*<br />

Este trabalho tem como objetivo discutir a cientifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong>. Esta discussão se faz<br />

necessária, sobretudo pelo pouco tratamento do tema no meio acadêmico brasileiro. Serão<br />

apresentados os argumentos favoráveis e desfavoráveis à aceitação <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> enquanto<br />

uma ciência, bem como o espaço social científico que tem conquistado desde sua fun<strong>da</strong>ção. Não<br />

se pretende fazer uma apresentação exaustiva <strong>da</strong> história dessa disciplina, mas uma história do<br />

embate político em torno de sua cientifici<strong>da</strong>de.<br />

O campo de estudo <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong>: Procurando unicórnios?<br />

Em to<strong>da</strong>s as culturas e em to<strong>da</strong>s as épocas há relatos de pessoas que dizem ter tido sonhos<br />

relacionados a eventos futuros. Pessoas que afirmam ter a capaci<strong>da</strong>de de contatar pessoas<br />

faleci<strong>da</strong>s. Feiticeiros e curadores que sustentam poder atuar sobre a saúde de pessoas que se<br />

encontram a longas distâncias. Outras relatam ter visto, na presença de outras pessoas, objetos<br />

levitando ou queimando sem que ninguém lhes ateassem fogo. São ain<strong>da</strong> numerosos os casos de<br />

pessoas que dizem poder sair de seus corpos e, então, viajar para lugares distantes onde jamais<br />

haviam estado. Sem falar dos casos em que pessoas são vistas levitando a grandes alturas<br />

enquanto estão em uma espécie de êxtase religioso. Há casos, ain<strong>da</strong> de animais que, ao se<br />

perderem de seus donos em mu<strong>da</strong>nças residenciais, aparecem, após meses, na nova casa <strong>da</strong><br />

família, há muitas centenas de quilômetros de distância <strong>da</strong> anterior.<br />

Experiências como as relata<strong>da</strong>s acima dão conta de processos de interação entre os seres<br />

humanos (e quem sabe, entre os animais), e entre os seres humanos (e talvez animais) e o meio<br />

ambiente. A Psicologia e a Fisiologia prevêem que os organismos interagem entre si e com o<br />

meio por intermédio dos sentidos e dos músculos. Assim, enquanto conversamos com uma outra<br />

pessoa, podemos ouvi-la e vê-la, e responder às suas perguntas. Mas o que dizer de experiências<br />

em que essas pessoas estão espacialmente distantes e, ain<strong>da</strong> assim, comportam-se como se<br />

estivessem recebendo flashs de informações umas <strong>da</strong>s outras? Houve apenas uma coincidência?<br />

Houve um erro de interpretação? As pessoas envolvi<strong>da</strong>s sofrem de algum tipo de psicopatologia?<br />

Ou existe algum tipo de interação que independe dos sentidos ordinários ou <strong>da</strong> ação muscular


conheci<strong>da</strong>? Não haveria um "sexto sentido", que pudesse explicar tais acontecimentos? Ou nosso<br />

conhecimento acerca dos sentidos e <strong>da</strong> ação muscular é ain<strong>da</strong> limitado?<br />

A <strong>Parapsicologia</strong> estu<strong>da</strong> "interações, tanto sensoriais quanto motoras, que parecem não ser<br />

media<strong>da</strong>s por qualquer agente ou mecanismo físico conhecido". (Rush, 1986, p. 4)<br />

Tradicionalmente, os parapsicólogos dividem os fenômenos parapsicológicos em duas<br />

categorias: os extra-sensoriais, ou fenômenos de percepção extra-sensroial, e os extra-motores,<br />

ou fenômenos psicocinéticos. A percepção extra-sensorial, ou ESP (do inglês, extrasensory<br />

perception) é composta por dois tipos de fenômenos de conhecimento: a telepatia, ou ESP cuja<br />

fonte é outro ser humano, e a clarividência, ou ESP cuja fonte seria o próprio meio ambiente.<br />

Telepatia e clarividência poderiam estar relaciona<strong>da</strong>s a eventos do passado (retrocognição),<br />

presente, (simulcognição) e futuro (precognição). A psicocinesia, ou PK (do inglês,<br />

psychokinesis), ou seja, a ação parapsicológica sobre o meio, poderia se <strong>da</strong>r no mundo físico<br />

diretamente observável (macro-PK) ou sobre o mundo físico microscópico (micro-PK). Todos<br />

esses fenômenos juntos são chamados de psi, vigésima terceira letra do alfabeto grego,<br />

geralmente utiliza<strong>da</strong> como o X em matemática, como a incógnita de uma equação. Utiliza-se o<br />

termo psi como um termo neutro, sem a pretensão de descrever ou explicar os fenômenos por ele<br />

expressos.<br />

A <strong>Parapsicologia</strong>, portanto, estu<strong>da</strong> interações aparentemente extra-sensório-motoras, o que é<br />

muito diferente de dizer que a <strong>Parapsicologia</strong> estu<strong>da</strong> fenômenos paranormais. Isto implicaria que<br />

os parapsicólogos assumissem que tais experiências envolveriam, de fato, interações extrasensório-motoras.<br />

A utilização do termo "aparentemente" tem como objetivo não oferecer<br />

qualquer explicação apriorística. Assim, apenas parecem, seja àquele que o vivenciou ou ao<br />

cientista que o investigou, estar fora do reino conhecido pelas ciências em geral. A<br />

paranormali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s experiências cita<strong>da</strong>s é uma <strong>da</strong>s hipóteses a serem investiga<strong>da</strong>s. E a última.<br />

Muitas vezes o pesquisador reconhece uma explicação "normal" , isto é, aceita pelo<br />

establishment científico, para uma experiência que, para aquele que a viveu, era ti<strong>da</strong> como<br />

paranormal. Por exemplo, um dia fui procurado por um senhor que dizia que sua casa estava<br />

sendo habita<strong>da</strong> por fantasmas. Dizia que grandes quanti<strong>da</strong>des de água apareciam<br />

misteriosamente em diversos pontos de sua residência e as lâmpa<strong>da</strong>s se queimavam<br />

freqüentemente. Um rápido exame do local mostrou que, na ver<strong>da</strong>de, as interpretações do<br />

consulente estavam equivoca<strong>da</strong>s. A casa era antiga e o encanamento, já apodrecido pelo tempo,<br />

fazia minar água por quase to<strong>da</strong> sua extensão. As lâmpa<strong>da</strong>s se queimavam acima <strong>da</strong> freqüência<br />

habitual não pela ação dos supostos fantasmas, mas porque a flutuação elétrica era excessiva<br />

devido à proximi<strong>da</strong>de de sua casa a uma fábrica que consumia grandes e variáveis quanti<strong>da</strong>des<br />

de energia elétrica. Há, entretanto, casos em que nenhuma explicação <strong>da</strong><strong>da</strong> pelas ciências<br />

estabeleci<strong>da</strong>s parece ser suficiente para a sua compreensão. É nesses casos que a hipótese<br />

paranormal é levanta<strong>da</strong>.<br />

Dizer que a <strong>Parapsicologia</strong> estu<strong>da</strong> interações aparentemente extra-sensório-motoras, não<br />

significa dizer o que ela estu<strong>da</strong>. A definição negativa do objeto de estudo <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> leva<br />

a problemas terminológicos, metodológicos e filosóficos. Tornou-se tradição referir-se aos<br />

fenômenos aparentemente extra-sensoriais como fenômenos de percepção extra-sensorial. Então,<br />

poder-se -ia perguntar: se não se trata de uma percepção sensorial, de que tipo de percepção se<br />

trata? Dizer que algo não é alguma coisa, não significa dizer o que de fato é. Como estu<strong>da</strong>r algo


que não se sabe o que é? Não conhecendo as variáveis que influenciam a produção dos<br />

fenômenos em questão, como controlá-las? Supondo que existam processos paranormais<br />

envolvidos na sua produção, a ciência estaria erra<strong>da</strong> ou incompleta? Como sair dos aparentes<br />

impasses que elas implicam?<br />

Antes de mais, seria importante saber de que maneira a <strong>Parapsicologia</strong> tenta responder a essas<br />

questões. Ela o faz utilizando a metodologia científica, levantando hipóteses e testando-as. A<br />

primeira pergunta que se tentou responder em <strong>Parapsicologia</strong> foi: essas experiências são<br />

realmente o que parecem ser? Realmente existem processos extra-sensório-motores? Para<br />

responder a essa pergunta foram realiza<strong>da</strong>s milhares de séries experimentais com o objetivo de<br />

testar a variável independência dos sentidos conhecidos e dos músculos. Qual o resultado dessas<br />

pesquisas dirigi<strong>da</strong>s à prova? Tais pesquisas -algumas <strong>da</strong>s quais serão detalha<strong>da</strong>s mais adiante<br />

neste trabalho - apresentam <strong>da</strong>dos suficientes para demonstrar que há evidências <strong>da</strong> existência <strong>da</strong><br />

interação extra-motora.<br />

Isto significa que os parapsicólogos acreditam em fenômenos como a transmissão de<br />

pensamento, a premonição, as casas mal-assombra<strong>da</strong>s? O Dr. Richard Broughton, presidente <strong>da</strong><br />

Parapsychological Association (1996), a mais importante instituição profissional que congrega<br />

parapsicólogos de todo o mundo, relata que foi entrevistado por um jornalista que lhe fez essa<br />

mesma pergunta. O Dr. Broughton respondeu: "Não, eu não acredito". E explica:<br />

"Eu respondi e então olhei para o rosto do repórter que demonstrava uma<br />

familiar expressão de perplexi<strong>da</strong>de. Claro que então eu tive que explicar<br />

ao surpreso repórter que eu considero a ‘crença’ como algo apropriado<br />

para assuntos ligados à fé, tais como questões religiosas, mas não para<br />

assuntos científicos. As crenças religiosas particulares requerem o que os<br />

teólogos chamariam de "arroubos de fé" porque não há evidências para<br />

sustentá-las. Como um cientista eu não tenho arroubos de fé em relação<br />

ao meu objeto de estudo. Eu estudo a evidência". (Broughton, 1991)<br />

Essas evidências são suficientes para se constituir uma ciência dedica<strong>da</strong> ao seu estudo? Se não se<br />

sabe o que se está estu<strong>da</strong>ndo, porque constituir uma ciência com a finali<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r essas<br />

evidências? Em primeiro lugar, as evidências são suficientes e respeitam os parâmetros<br />

utilizados pelas demais ciências. Quando os físicos afirmam ter evidências <strong>da</strong> existência de uma<br />

nova partícula subatômica, é porque estão certos disso, já que, supõe-se, tomaram precauções<br />

para evitar que enganos ocorressem. Tais precauções são as mesmas emprega<strong>da</strong>s pelos<br />

parapsicólogos. Se essas evidências existem, por que não investigá-las?<br />

A palavra dos críticos<br />

Desde o início <strong>da</strong> pesquisa dos fenômenos parapsicológicos há cientistas de várias disciplinas e<br />

mágicos e que têm se dedicado a avaliar as evidências <strong>da</strong> existência dos fenômenos<br />

parapsicológicos. Com essa finali<strong>da</strong>de, foram criados, em vários países, instituições de críticos.<br />

A mais importante dessas instituições é o Committee for the Scientific Investigation of Claims of<br />

the Paranormal (CSICOP), fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1976 pelo filósofo Dr. Paul Kurtz e pelo sociólogo Dr.<br />

Marcelo Truzzi. Kurtz e Truzzi se dedicavam ao estudo acadêmico de crenças e práticas ocultas.


Fizeram campanhas contra o que consideraram "pseudo-ciências", pricipalmente a Astrologia. O<br />

CSICOP nasceu com os seguintes objetivos:<br />

"a investigação crítica <strong>da</strong>s alegações do paranormal e <strong>da</strong> ciência<br />

marginal de um ponto de vista responsável e científico e a disseminação<br />

de informações factuais sobre os resultados de tais questões à<br />

comuni<strong>da</strong>de acadêmica e ao público". (Kurtz, 1976)<br />

O comitê teve, rapi<strong>da</strong>mente, grande número de adesões de profissionais de diversas áreas.<br />

Entretanto, o trabalho foi prontamente questionado pelos seus próprios membros. Truzzi<br />

abandonou-o, assim como muitos membros, alegando que o comitê havia se tornado um meio de<br />

luta contra a existência de anomalias científicas, abandonando seus objetivos iniciais.<br />

Um dos membros do CSICOP, C.E.M Hansel, um psicólogos inglês, dedica-se à análise de<br />

experimentos parapsicológicos. Sua tese é a de que os resultados positivos obtidos<br />

experimentalmente em favor <strong>da</strong> hipótese <strong>da</strong> percepção extra-sensorial foram frau<strong>da</strong>dos. (Hansel,<br />

1980) Hansel se detém, em suas análises, a construir o cenário dos conluios entre os<br />

pesquisadores ou às possibili<strong>da</strong>des de fraudes por parte dos sujeitos de experimentação.<br />

Como em qualquer área, também em <strong>Parapsicologia</strong> há pesquisadores inescrupulosos. Há dois<br />

casos bem documentados de pesquisadores que foram surpreendidos cometendo fraudes. O "caso<br />

Levy", como ficou conhecido, refere-se à fraude relaciona<strong>da</strong> a pesquisas de supostos fenômenos<br />

parapsicológicos em animais. (Rhine, 1974) Walter Levy modificava os resultados experimentais<br />

desfavoráveis por resultados positivos. Houve suspeitas por parte de seus colegas e Levy acabou<br />

confessando que utilizara do expediente <strong>da</strong> fraude para "melhorar" os resultados de suas<br />

pesquisas. O Outro caso clássico, refere-se às fraudes cometi<strong>da</strong>s pelo Dr. Soal, matemático<br />

inglês. Soal parece ter frau<strong>da</strong>do os resultados acrescentando <strong>da</strong>dos não obtidos nas sessões<br />

originais. (Irwin, 1994, p. 317)<br />

O argumento de que sempre há a possibili<strong>da</strong>de de fraude nas pesquisas parapsicológicas é um<br />

argumento que poderia ser utilizado para qualquer ciência. Isto nos levaria a invali<strong>da</strong>r os<br />

resultados <strong>da</strong>s pesquisas realiza<strong>da</strong>s por milhares de investigadores em to<strong>da</strong>s as áreas do<br />

conhecimento, o que é um absurdo. Não parece lógico que haja uma grande conspiração entre os<br />

parapsicólogos a qual poderia ser a razão dos bons resultados obtidos pelas pesquisas em favor<br />

<strong>da</strong> percepção extra-sensorial. Apesar disso, críticos como Hansel, continuam a sustentar tal<br />

explicação. Os casos de Levy e Soal representam uma ínfima parte dos pesquisadores envolvidos<br />

em programas de pesquisas parapsicológicas. Assim, o argumento de que "poderia ter havido<br />

uma fraude" parece insustentável.<br />

Críticas melhor elabora<strong>da</strong>s se detiveram a examinar as condições experimentais <strong>da</strong>s pesquisas<br />

parapsicológicas. A posição dos críticos é a de que "deve haver erro em algum lugar". Assim,<br />

suspeitaram que os alvos não fossem selecionados de forma aleatória, que não havia controle<br />

contra o vazamento sensorial em alguns experimentos, que a metodologia estatística não estava<br />

sendo adequa<strong>da</strong>.


As críticas desse tipo atingiram as pesquisas realiza<strong>da</strong>s no centro de pesquisas parapsicológicas<br />

mais importantes dos EUA, o Laboratório de <strong>Parapsicologia</strong> na Universi<strong>da</strong>de de Duke, na<br />

Carolina do Norte, EUA, fun<strong>da</strong>do em 1935, sob os auspícios do eminente psicólogo americano<br />

William McDougall. Dr. Joseph Banks, considerado o "Pai <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong>", sua esposa, a<br />

Dra. Louisa Ella Rhine, ambos biólogos de formação, integravam o laboratório, com outros<br />

colegas. A equipe do Laboratório de <strong>Parapsicologia</strong> tinha como marca a pesquisa experimental e<br />

o emprego <strong>da</strong> estatística matemática como auxiliar na investigação <strong>da</strong> hipótese <strong>da</strong> percepção<br />

extra-sensorial e <strong>da</strong> psicocinesia (ação direta <strong>da</strong> mente sobre o meio físico). Após a publicação<br />

do primeiro relatório, Extrasensory Perception, em 1933, Rhine e seus colegas foram duramente<br />

criticados pela suposta má utilização <strong>da</strong> estatística. Rhine chamou tais críticas de "as primeiras<br />

críticas sérias". (Rhine, 1937) Embora acreditasse não haver razão para tais críticas, respondeu a<br />

to<strong>da</strong>s elas, fazendo com que alguns de seus críticos mu<strong>da</strong>ssem de opinião:<br />

"Duvidou-se <strong>da</strong> matemática, é certo; não porém por parte de um único<br />

matemático. Dois psicólogos escreveram quatro artigos criticando-a; mas<br />

o autor de três deles convenceu-se de que sua crítica não tem razão de<br />

ser, agora que possui o que acha ser número suficiente de novas<br />

informações. Um terceiro psicólogo publicou, mais recentemente, uma<br />

revisão <strong>da</strong>s críticas e afirma que as estatísticas usa<strong>da</strong>s nessas pesquisas<br />

são substancialmente corretas". (Rhine, 1937)<br />

O que diziam os matemáticos? Em 1937, durante a convenção anual do Instituto Americano de<br />

Estatístaca Matemática, foi designa<strong>da</strong> uma comissão para avaliar a utilização <strong>da</strong> estatística<br />

emprega<strong>da</strong> no Laboratório de <strong>Parapsicologia</strong>. Após a análise, o presidente <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> convenção,<br />

E. H. Huntington, emitiu a posição dos membros do grupo de trabalho:<br />

"As investigações do Dr. Rhine têm dois aspectos: um experimental e<br />

outro estatístico. Na fase experimental os matemáticos, supõe-se, não têm<br />

na<strong>da</strong> a dizer. Mas na fase estatística, recentes trabalhos matemáticos<br />

estabeleceram o fato de que, admitindo que as experiências tinham sido<br />

realiza<strong>da</strong>s corretamente, a análise estatística é essencialmente váli<strong>da</strong>. Se<br />

a investigação de Rhine pode ser ataca<strong>da</strong>, há de sê-lo em outro terreno<br />

que não o matemático" (Rhine, 1971)<br />

Recentemente, críticos e parapsicólogos têm debatido resultados experimentais relacionados à<br />

pesquisa de duas técnicas de pesquisa parapsicológica: ganzfeld e visão remota. Mais à frente,<br />

neste trabalho, há uma sessão dedica<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> um desses experimentos. Portanto, não serão<br />

tratados neste momento em profundi<strong>da</strong>de. Interessa aqui a compreensão mínima <strong>da</strong>s técnicas<br />

para que o leitor possa entender sobre o que se está tratando e a posição de críticos e<br />

parapsicólogos a respeito delas.<br />

Ganzfeld, do alemão, significa campo completo, campo homogêneo, campo total. A técnica<br />

ganzfeld consiste em que uma pessoa esteja deita<strong>da</strong>, ou confortavelmente instala<strong>da</strong> em uma<br />

poltrona reclinável, enquanto vê e ouve estímulos padronizados. Sobre ca<strong>da</strong> um de seus olhos é<br />

coloca<strong>da</strong> meia bolinha de ping-pong. Nos ouvidos, o fone de ouvido transmite ruído branco,<br />

parecido ao som de rádio fora de estação. A pessoa se mantém com os olhos abertos, de forma a


ver a tonali<strong>da</strong>de avermelha<strong>da</strong> que é projeta<strong>da</strong> sobre as meias bolinhas de ping-pong. Essa<br />

técnica, desenvolvi<strong>da</strong> por psicólogos <strong>da</strong> gestalt na déca<strong>da</strong> de 1950, permite ao sujeito uma<br />

grande produção de imagens mentais, não apenas pela homogeneização <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> de estímulos<br />

sensoriais auditivos e visuais, mas também pela alteração de consciência que a técnica pode<br />

proporcionar.<br />

Os parapsicólogos se interessaram em aplicar a técnica ganzfeld em experimentos<br />

parapsicológicos por saberem que estados alterados de consciência aumentam a chance de<br />

ocorrência de experiências parapsicológicas. Sabia-se, por exemplo, que os sonhos, a meditação<br />

e a hipnose poderiam favorecer a emergência de conteúdos telepáticos do inconsciente para a<br />

consciência dos indivíduos. Uma pessoa submeti<strong>da</strong> à tecnica ganzfeld não poderia estar mais<br />

"aberta" a receber pensamentos, sentimentos e imagens mentais de uma outra pessoa localiza<strong>da</strong> à<br />

distância? Assim, a utilização <strong>da</strong> técnica ganzfeld em experimentos parapsicológicos se<br />

processou, tendo como participantes um emissor, um receptor e um expeirmentador. O papel do<br />

emissor era o de olhar par uma imagem, como uma foto, ou um video-clip, e desejar transmiti-la<br />

ao receptor. Ao receptor, que se encontrava afastado espacialmente do emissor, cabia falar tudo o<br />

que lhe viesse à mente enquanto estava na situação ganzfeld, ou seja, com estímulos visuais e<br />

auditivos controlados. Todo o procedimento era controlado pelo experimentador, que dispunha<br />

de equipamentos de som e videocassete, para gravar o que o receptor falava e para enviar ao<br />

emissor a imagem a ser transmiti<strong>da</strong>.<br />

Charles Honorton foi um dos parapsicólogos que mais se dedicou à análise teórica e<br />

experimental <strong>da</strong> ação <strong>da</strong> técnica ganzfeld em testes parapsicológicos. (Honorton, 1977). Os<br />

resultados apresentavam índices de acerto acima dos níveis esperados pelo acaso, mostrando<br />

uma evidência <strong>da</strong> existência de uma forma de comunicação psi, facilita<strong>da</strong> pela técnica ganzfeld.<br />

Não demorou para que críticos explicassem os bons resultados por erros cometidos pelos<br />

parapsicólogos. Ray Hyman, um respeitado psicólogo americano, é o mais importante<br />

representante dos críticos dos experimentos ganzfeld em <strong>Parapsicologia</strong>. Honorton, por sua vez,<br />

tratou de argumentar em favor <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesquisa realiza<strong>da</strong> por ele e por seus colegas. As<br />

críticas feitas por Hyman se detiveram ao aspecto <strong>da</strong> taxa de repetição do experimento, acima <strong>da</strong><br />

espera<strong>da</strong> pelo acaso. Isto significa que os experimentos ganzfeld apresentaram resultados<br />

consistentes acima <strong>da</strong> média espera<strong>da</strong> pelas leis estatística.<br />

Entre outras críticas, Hyman afirmou que os resultados positivos foram obtidos porque os<br />

parapsicólogos publicavam apenas os experimentos que apresentavam bons resultados.<br />

Entretanto, um levantamento realizado por Susan Blackmore (Blakmore, 1980) dá conta de que<br />

os experimentos ganzfeld não publicados apresentavam resultados semelhantes aos experimentos<br />

publicados. Além disso, chegou-se à conclusão matemática de que, para invali<strong>da</strong>r o conjunto de<br />

trabalhos que apresentavam bons resultados experimentais, seria necessária uma quanti<strong>da</strong>de tal<br />

de pesquisas que não apresentassem índices acima do esperado pelo acaso, que superava a<br />

possibili<strong>da</strong>de de tempo possível de realização <strong>da</strong>s mesmas.<br />

Hyman ain<strong>da</strong> sustentou que os bons resultados poderiam ter sido obtidos pela existência de pistas<br />

sensoriais e por problemas no processo de aleatorização dos alvos. (Hyman, 1985) Essa crítica<br />

foi leva<strong>da</strong> foram leva<strong>da</strong>s em conta pelos parapsicólogos. Honorton e alguns colegas


desenvolveram um novo procedimento experimental, chamado ganzfeld automático ou autoganzfeld,<br />

com a finali<strong>da</strong>de de impedir a possibili<strong>da</strong>de de pistas sensoriais e de erros no processo<br />

de escolha dos alvos. (Honorton et al., 1990) Se Hyman estivesse certo, os índices obtidos com a<br />

nova técnica cairiam aos níveis esperados pela chance matemática. Entretanto, a meta-análise<br />

dos resultados <strong>da</strong>s pesquisas que empregaram o auto-ganzfeld, mostrou significação estatística,<br />

evidenciando uma vez mais a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência de processos de comunicação psi.<br />

(Honorton et al., 1990)<br />

Visão Remota, ou visão à distância, é o nome <strong>da</strong>do à técnica de pesquisa parapsicológica em que<br />

uma pessoa, o emissor, tenta obter informações de uma locali<strong>da</strong>de distante dele. Em outras<br />

palavras, o emissor tenta conhecer a reali<strong>da</strong>de física distante dele por clarividência. Essa técnica<br />

foi idealiza<strong>da</strong> nos anos 70 por dois físicos, Russell Targ e Harold Puthoff, no Stanford Research<br />

International. (Targ e Puthoff, 1977) A técnica clássica consistia em que o emissor tentasse<br />

descrever o lugar em que uma outra pessoa, o emissor, estava. O local era escolhido de forma<br />

aleatória, quando o emissor estava distante do receptor.<br />

Recentemente, os noticiários de todo mundo informaram que o governo americano gastou cerca<br />

de vinte milhões de dólares subvencionando pesquisas de visão remota, tendo em vista as<br />

possibili<strong>da</strong>des de aplicação militar. O programa, conhecido como Star Gate, foi realizado<br />

durante vinte e quatro anos, primeiramente com subvenção ao grupo do Stanford Research<br />

Institute International e, posteriormente, ao grupo do SAIC - Sciences Applications International<br />

Corporation, dirigido pelo Dr. Edwin C. May.<br />

As notícias vieram a público porque o congresso americano estava discutindo as destinações de<br />

verbas para o ano fiscal de 1995. O congresso orientou a CIA - Central Inteligence Action, para<br />

revisar os resultados dos vinte e quatro anos de pesquisa do Star Gate com a finali<strong>da</strong>de de<br />

reconhecer o real valor e pertinência dessas pesquisas. A CIA se uniu ao American Institute for<br />

Research (AIR) para realizar tal análise. Foram convi<strong>da</strong>dos especialistas de reconheci<strong>da</strong><br />

competência em suas especiali<strong>da</strong>des para compor um painel de discussões. O Prof. Ray Hyman<br />

foi convi<strong>da</strong>do, além <strong>da</strong> estatística e parapsicóloga, Profa. Jessica Utts, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Califórnia, Davis, dos doutores Michel Munford e Andrew Rose do American Institute Research.<br />

O Dr. David Goslin, presidente do AIR, coordenou o painel.<br />

A investigação <strong>da</strong> AIR, subvenciona<strong>da</strong> pela CIA, concluiu que "efeitos laboratoriais<br />

estatisticamente significativos foram demonstrados, mas que serão necessárias mais<br />

replicações". Hyman e Utts escreveram revisões separa<strong>da</strong>s que foram incluí<strong>da</strong>s no relatório <strong>da</strong><br />

AIR.<br />

Pediu-se ao Dr. Hyman que utilizasse o mesmo material usado pela Dra. Utts em sua análise.<br />

Entretanto, ele apenas fez um comentário sobre a análise que a Dra. Utts fez a respeito desse<br />

material. O Dr. Hyman concluiu que<br />

"o efeito de tamanho relatado nos experimentos do SAIC eram muito<br />

grandes e consistentes para serem desprezados como sendo um resultado<br />

acidental". (Hyman, 1995 p. 12)


Hyman, entretanto, afirmou que tal efeito matemático não seria suficiente para justificar a<br />

conclusão de demonstração <strong>da</strong> existência de processos anômalos de conhecimento. Sustentou,<br />

ain<strong>da</strong>, que ele não tinha segurança de que problemas metodológicos haviam sido eliminados e<br />

que os resultados obtidos pelo SAIC correspondiam aos resultados obtidos por outros centros<br />

parapsicológicos. (Hyman, 1995, p. 14)<br />

A conclusão <strong>da</strong> Profa. Utts foi assim resumi<strong>da</strong>:<br />

"Usando os padrões empregados em qualquer outra ciência, concluiu-se<br />

que o funcionamento parapsicológico foi bem demonstrado. Os resultados<br />

estatísticos dos estudos examinados apresentam resultados distantes dos<br />

esperados pelo acaso. Os argumentos de que os resultados poderiam ser<br />

obtidos por erros metodológicos nos experimentos foram fortemente<br />

refutados. Efeitos de semelhante magnitude àqueles encontrados nos<br />

programas do SRI e do SAIC, subsidiados pelo governo, têm sido<br />

encontrados em muitos laboratórios pelo mundo. Tal consistência não<br />

pode ser prontamente explica<strong>da</strong> por alegações de erros ou fraude". (Utts,<br />

1995, p. 15)<br />

Os debates entre parapsicólogos e críticos exemplificados acima refletem parte <strong>da</strong> luta trava<strong>da</strong><br />

pelos parapsicólogos para a aceitação <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> como ciência. Entretanto, como foi<br />

visto, os argumentos dos críticos sempre levantam a possibili<strong>da</strong>de de que algum ato de<br />

incompetência dos parapsicólogos poderia ser responsável pelos resultados positivos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas parapsicológicas. A alegação de que erros metodológicos poderiam ser<br />

responsabilizados levou os parapsicólogos a revisar suas situações experimentais e a incluir,<br />

muitas vezes, a presença de observadores críticos. Mas não há como responder a críticas do tipo<br />

"sempre pode haver uma fraude". Argumentos como este demonstram que a ver<strong>da</strong>deira posição<br />

do crítico é: "não pode haver um fenômeno como esse". Alguns críticos até chegam a fazer tal<br />

afirmação. (Alcock, 1981) Muitas vezes, o esforço do crítico em tornar sua crítica objetiva pode<br />

ser compreendido como uma forma de defesa contra a percepção de um elemento absolutamente<br />

irracional presente em sua análise. Ao invés de reconhecer a irracionali<strong>da</strong>de de seu argumento,<br />

acusa de irracionali<strong>da</strong>de os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s pesquisas.<br />

Se esta análise está correta, devem existir motivos para a rejeição <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de fenômenos<br />

parapsicológicos. Tais motivos devem ser suficientemente amplos, ou culturais, para que a<br />

análise não fique restrita à esfera individual, mas que se esten<strong>da</strong> aos cientistas enquanto grupo.<br />

AAAA ASSSASPoderíamos reconhecer tais motivos a partir <strong>da</strong> análise do que é considerado<br />

possível ou impossível no paradigma científico atual? Caso psi não esteja previsto por esse<br />

paradigma, que saí<strong>da</strong>s os parapsicólogos têm para garantir seu espaço na comuni<strong>da</strong>de científica?<br />

Ciência e <strong>Parapsicologia</strong><br />

A ciência pode ser defini<strong>da</strong> como "uma <strong>da</strong>s formas de conhecimento produzido pelo homem no<br />

decorrer de sua história" (An<strong>da</strong>ry et al., 1988). E caracteriza-se "por ser a tentativa do homem<br />

entender e explicar racionalmente a natureza, buscando formular leis que, em última instância,<br />

permitem a atuação humana". (An<strong>da</strong>ry et al., 1988)


Apesar <strong>da</strong> definição acima poder ser considera<strong>da</strong> suficiente para uma introdução ao tema, está<br />

longe de ser completa e ser admiti<strong>da</strong> em consenso pelos filósofos <strong>da</strong> ciência. Existem muitas<br />

abor<strong>da</strong>gens filosóficas e muitos critérios e concepções de avaliação do que é ou pode ser<br />

considerado científico.<br />

Para o objetivo deste trabalho, serão apresenta<strong>da</strong>s, a princípio, algumas abor<strong>da</strong>gens que<br />

caracterizam o que pode ser chamado de "a visão clássica" de ciência. Posteriormente será<br />

discutido, o conceito de cientismo, cujas raízes encontram-se finca<strong>da</strong>s sobre a concepção clássica<br />

de ciência. O cientismo servirá como base de reflexão sobre a cientifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> e<br />

novos paradigmas serão trazidos à discussão para resolver possíveis impasses.<br />

A ciência enquanto disciplina independente é uma criação do homem moderno. As bases<br />

epistemológicas sobre as quais a visão científica moderna se estabeleceu podem ser encontra<strong>da</strong>s<br />

nas postulações de alguns filósofos e cientistas modernos, como Galileu Galilei, René Descartes,<br />

Francis Bacon e Isaac Newton, entre outros. Stanislav Grof, ao discutir as fun<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> ciência<br />

ocidental, afirma que<br />

"durante os três últimos séculos, a ciência ocidental foi domina<strong>da</strong> pelo<br />

paradigma newtoniano-cartesiano, um sistema de pensamento baseado no<br />

trabalho do cientista inglês Isaac Newton e pelo filósofo francês René<br />

Descartes". (Grof, 1988)<br />

Quais seriam as seriam as características do pensamento newtoniano-cartesiano? A ciência<br />

ocidental her<strong>da</strong>ria de Newton a visão mecânica do universo, constituí<strong>da</strong>, dentre outras<br />

características: do atomismo; <strong>da</strong> noção de tempo absoluto e independente do mundo material; e<br />

<strong>da</strong> noção de causa e efeito. A partir <strong>da</strong> noção de átomo, já presente entre os gregos, sobretudo em<br />

Demócrito, Newton sustentou que tudo quanto existe no universo é composto por partículas<br />

materiais indivisíveis, cujo comportamento seria regido por leis físicas precisas, capazes de<br />

determinar o funcionamento íntimo <strong>da</strong> matéria. Em relação ao tempo, propôs sua autonomia do<br />

mundo material, apresentando um fluxo contínuo e imutável, do passado em direção ao futuro. O<br />

universo estaria submetido às leis de causa e efeito: to<strong>da</strong> ação física é acompanha<strong>da</strong> de um efeito<br />

previsível sobre o mundo material. A noção de causa e efeito estava na base <strong>da</strong> ação <strong>da</strong> força<br />

gravitacional, exerci<strong>da</strong> tanto entre os corpos celestes quanto entre os átomos e na base de sua<br />

concepção de ciência. Todos os fenômenos presentes podem ser compreendidos como o<br />

resultado de causas materiais identificáveis no passado.<br />

"A imagem do universo resultante é a de um relógio gigantesco<br />

inteiramente determinístico. As partículas movem-se de acordo com leis<br />

eternas e imutáveis, e os eventos e processos do mundo material consistem<br />

em cadeias de causas e efeitos interdependentes". (Grof, 1988)<br />

Ora, se as leis naturais são deterministas, podemos reproduzir a cadeia causa-efeito para obter<br />

um <strong>da</strong>do fenômeno. A reprodução experimental se tornou um importante instrumento de<br />

compreensão <strong>da</strong> natureza e um valioso parâmetro paraverificar a cientifici<strong>da</strong>de de uma<br />

disciplina.


Uma <strong>da</strong>s mais importantes contribuições do filósofo francês René Descartes para a formulação<br />

<strong>da</strong> ciência ocidental foi sua afirmação do dualismo existente entre mente (res cogitans) e<br />

matéria. (res extensa). O dualismo cartesiano implica em que o conhecimento é possível a partir<br />

do conhecimento objetivo do universo. O mundo material era compreendido como uma reali<strong>da</strong>de<br />

em si mesma, passível de ser apreendi<strong>da</strong>, utilizando-se o método correto. Descartes instaura,<br />

assim, a premissa <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de, ou seja, <strong>da</strong> autonomia entre o observador e a reali<strong>da</strong>de.<br />

Além <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> ciência moderna, Hoyt L. Edge e Robert L. Morris (Edge et al,<br />

1986), apontam outro importante postulado <strong>da</strong> ciência do século XVII: a observação como um<br />

espelhamento. Os autores referem-se ao filósofo empirista John Locke. Ao contrário de<br />

Descartes, que estava consciente <strong>da</strong>s deficiências <strong>da</strong> percepção humana como meio de conhecer<br />

a reali<strong>da</strong>de, Locke sustentava que a partir dos sentidos o ser humano conheceria o mundo<br />

material. Locke comparava a mente a um espelho, ou a uma folha de papel em branco. Em<br />

contato com o mundo material por meio dos sentidos, a mente seria toca<strong>da</strong> pelos traços <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de. A observação, como uma espécie de espelhamento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, seria um método<br />

eficaz e suficiente para apreender a reali<strong>da</strong>de tal qual ela é. A máxima de Locke, "Nihil est in<br />

intellectu quod no antea feurit in sensu" (Locke, 1823), está relaciona<strong>da</strong> com a questão do<br />

conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />

Edge e Morris se referem ain<strong>da</strong> a um outro importante postulado <strong>da</strong> ciência do século XVII: a<br />

distinção entre distinção primária e secundária.<br />

"A matéria é essencialmente átomos em movimento, cujas dimensões de<br />

tamanho e veloci<strong>da</strong>de são mensuráveis. Isto significa que há alguns<br />

atributos <strong>da</strong> matéria que são inatos e essenciais para isso - as quali<strong>da</strong>des<br />

primárias de solidez, extensão, quanti<strong>da</strong>de, movimento, sobra e número.<br />

Por outro lado, há quali<strong>da</strong>des secundárias que não descrevem a natureza<br />

inerente do mundo material". (Edge et al., 1986)<br />

Isto implica que algumas quali<strong>da</strong>des são percebi<strong>da</strong>s apenas indiretamente, pela mente, por<br />

exemplo. Seria o caso <strong>da</strong>s cores, dos sons, dos gostos e dos cheiros. A ciência estu<strong>da</strong>ria apenas<br />

as quali<strong>da</strong>des primárias, já que são diretamente mensuráveis. As quali<strong>da</strong>des secundárias apenas<br />

poderiam ser objeto de investigação científica quando houvesse um meio de substituir a sensação<br />

por algum parâmetro objetivo. Por exemplo, substitui-se a sensação ‘quente’ ou ‘frio’, pela<br />

medição objetiva <strong>da</strong> temperatura através de um termômetro. Como conseqüência disso, algumas<br />

experiências humanas poderão não figurar como objeto de estudo <strong>da</strong> ciência, ou seja, não seriam<br />

objetos legítimos de estudo, por não se enquadrarem no método de investigação proposto pela<br />

ciência.<br />

A dicotomia sujeito/objeto, a distinção primária e secundária, a observação como espelhamento,<br />

a existência de leis deterministas absolutas, a replicação e o atomismo podem ser considerados<br />

como os pressupostos que formam a base do pensamento científico moderno. A utilização de tais<br />

postulados foi, até certo ponto, fun<strong>da</strong>mental para o desenvolvimento <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> tecnologia.<br />

Nas palavras de Grof:


"O modelo newtoniano-cartesiano, em suas numerosas ramificações e<br />

aplicações, provou seu sucesso em diversas áreas do conhecimento, tendo<br />

proporcionado uma explicação compreensiva dos mecanismos básicos do<br />

sistema solar e sendo eficazmente aplicado para a compreensão do<br />

movimento contínuo dos fluidos, <strong>da</strong> vibração dos corpos elásticos e <strong>da</strong><br />

termodinâmica. Constitui-se como base e força propulsora dos incríveis<br />

progressos <strong>da</strong>s ciências naturais dos séculos dezoito e dezenove". (Grof,<br />

1989)<br />

Delineado o modelo <strong>da</strong> ciência clássica, poderia-se perguntar: a <strong>Parapsicologia</strong>, desde o ponto de<br />

vista <strong>da</strong> ciência clássica, pode ser considera<strong>da</strong> uma ciência? A resposta é não. Em primeiro lugar,<br />

a <strong>Parapsicologia</strong> estu<strong>da</strong> experiências humanas. Experiências não seriam um objeto legítimo de<br />

estudo científico porque não são diretamente observáveis. O aspecto subjetivo <strong>da</strong> experiência<br />

anularia sua investigação.<br />

Em segundo lugar, tais experiências nem sempre permitem medição. Experiências, subjetivas por<br />

definição, nem sempre podem ser transforma<strong>da</strong>s em valores numéricos ou ser apreendi<strong>da</strong>s por<br />

equipamentos que permitam tornar objetivas as vivências e sensações do sujeito.<br />

Em terceiro lugar, muitas <strong>da</strong>s experiências que a <strong>Parapsicologia</strong> estu<strong>da</strong> podem implicar na<br />

interação entre a mente e a matéria, ou mesmo entre mentes. Esta característica colocaria em<br />

cheque o pressuposto de que o mundo material e a mente são autônomos, já que poderia haver<br />

alguma forma de interação entre sujeito e objeto, diferentes <strong>da</strong>s interações previstas, ou seja, por<br />

meio diferente dos sentidos.<br />

Em quarto lugar, há experiências que parecem estar relaciona<strong>da</strong>s a eventos à distância no espaço<br />

e no tempo. As experiências parapsicológicas podem trazer dúvi<strong>da</strong>s sobre as noções de espaço e<br />

tempo independentes, de continui<strong>da</strong>de permanente do fluxo do tempo e, sobretudo, de causa e<br />

efeito. Como seria possível existir um efeito antecedente a uma causa!?<br />

Em quinto lugar, essas experiências não puderam ser reproduzi<strong>da</strong>s à vontade. Isto significaria<br />

que o que se pretende estu<strong>da</strong>r não obedeceria a leis claras e determina<strong>da</strong>s, o que<br />

conseqüêntemente implicaria, de novo, na rejeição do objeto de estudo <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> do<br />

escopo científico.<br />

Em resumo: a <strong>Parapsicologia</strong> não seria uma ciência porque pretende estu<strong>da</strong>r experiências não<br />

apenas impossíveis de serem estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, mas impossíveis de existir.<br />

Apesar disso...<br />

A Pesquisa Psíquica, nome <strong>da</strong>do à disciplina que tinha como finali<strong>da</strong>de pesquisar experiências<br />

considera<strong>da</strong>s anômalas, nasceu no final do século XIX, com a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Society for Psychical<br />

Research (SPR), em Londres, em 1882, no contexto <strong>da</strong> ciência clássica. Os fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> SPR<br />

se opuseram à noção clássica <strong>da</strong> ciência e devotaram esforços para verificar a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

alegações de pessoas que se diziam possuidoras de capaci<strong>da</strong>des parapsicológicas. Henri<br />

Sidgwick, primeiro presidente <strong>da</strong> SPR, assim se manifestou no discurso inaugural <strong>da</strong> mesma:


"Por que constituir uma socie<strong>da</strong>de de investigações psíquicas neste<br />

momento para pesquisar não apenas o fenômeno de leitura do<br />

pensamento, mas também o de clarividência e mesmerismo, e inclusive a<br />

obscura massa de fenômenos comumente chamados espíritas? Todos<br />

devemos estar em acordo que o presente estado de coisas é um escân<strong>da</strong>lo<br />

para a época ilumina<strong>da</strong> em que vivemos. Mantém-se a discussão sobre a<br />

reali<strong>da</strong>de destes maravilhosos fenômenos, cuja importância científica não<br />

pode ser exagera<strong>da</strong> se apenas uma décima parte do alegado por<br />

testemunhos dignos de crédito fosse certo. Declaro que é escan<strong>da</strong>loso que<br />

subsista a discussão sobre a reali<strong>da</strong>de destes fenômenos quando tantos<br />

testemunhos competentes afirmaram neles acreditar, quando tantos outros<br />

estão profun<strong>da</strong>mente interessados em eluci<strong>da</strong>r a questão, não obstante a<br />

atitude de increduli<strong>da</strong>de que adotou a totali<strong>da</strong>de do mundo culto. Agora,<br />

nosso primeiro objetivo, o fim que perseguimos todos unidos, seja como<br />

crentes ou como incrédulos, é o de realizar uma tentativa segura e<br />

sistemática para pôr fim, dum ou doutro modo, a este escân<strong>da</strong>lo. Algumas<br />

<strong>da</strong>s pessoas às quais me dirijo, sentem sem dúvi<strong>da</strong>, que esta tentativa pode<br />

levar unicamente à demonstração destes fenômenos; outras acreditam que<br />

o mais provável é que a maioria deles, se não todos, sejam rejeitados;<br />

mas, como membros desta associação, não assumimos compromisso de<br />

nenhuma espécie e concor<strong>da</strong>mos em que qualquer investigação que<br />

façamos em particular, deve realizar-se com o único fim de determinar os<br />

fatos e sem chegar a nenhuma conclusão pré-concebi<strong>da</strong> sobre sua<br />

natureza". (Citado em Fantoni, 1981)<br />

William Crookes, grande físico e químico do século XIX, foi criticado pelos cientistas de sua<br />

época por estu<strong>da</strong>r fenômenos parapsicológicos. Diziam-lhe que estes fenômenos eram<br />

impossíveis e que, portanto, deixasse de estudá-los. Crookes, então, lhes disse: "Eu não digo se<br />

eles são possíveis ou impossíveis. Eu digo que eles existem". A resposta de Crookes nos dá conta<br />

de que a posição dos cientistas pode estar atrela<strong>da</strong> às concepções científicas aceitas em certo<br />

momento histórico. As palavras de Crookes e Sidgwick mostram um certo grau de<br />

descompromentimento com as concepções científicas, em favor do espírito científico de estu<strong>da</strong>r<br />

o que se apresente ao cientista. Na ver<strong>da</strong>de, o que está em questão é até que ponto os cientistas<br />

estão isentos <strong>da</strong>s concepções científicas de seu tempo.<br />

Algumas mu<strong>da</strong>nças nos postulados científicos ocorri<strong>da</strong>s durante o século XX foram<br />

fun<strong>da</strong>mentais para o questionamento <strong>da</strong> ciência clássica, ou newtoniana-cartesiana e como<br />

preparação para a aceitação de anomalias como as parapsicológicas. A verificação de que há uma<br />

certa descontinui<strong>da</strong>de na história <strong>da</strong> ciência, ofereceu aos cientistas uma dose de humil<strong>da</strong>de e<br />

desconfiança em relação aos processos científicos, muitas vezes vistos como inquestionáveis.<br />

A análise histórica que Thomas Khun (1962) faz <strong>da</strong> ciência é fun<strong>da</strong>mental para verificarmos<br />

quais são as relações entre o conhecimento científico, a aceitação de anomalias em <strong>da</strong>do<br />

momento histórico e o poder. Entre outras postulações, Khun define anomalia como o fenômeno<br />

para o qual não há teoria científica disponível aceita em consenso em <strong>da</strong>do momento histórico.<br />

Segundo Khun, a "ciência normal" a princípio rejeitaria tais anomalias como legítimas.


Posteriormente, graças à presença contínua <strong>da</strong>s anomalias, estas são, então, incorpora<strong>da</strong>s às<br />

teorias vigentes, que sofrem certa transformação, de forma a acomo<strong>da</strong>r as anomalias. Tais<br />

transformações não implicam em alteração substancial <strong>da</strong> teoria, apenas ajustes periféricos.<br />

Como novas anomalias são identifica<strong>da</strong>s e como simples acomo<strong>da</strong>ções teóricas passam a ser<br />

insustentáveis, novas teorias surgem, em um processo de "revolução científica", em que<br />

"ciências emergentes" passam a ser ciências normais graças à aceitação de seus postulados.<br />

A resistência na aceitação de anomalias é fun<strong>da</strong>mental para a estabili<strong>da</strong>de interna do processo<br />

científico. A rejeição de anomalias tem como parâmetro a teoria vigente. A análise de Khun<br />

demonstra que a ciência não trabalha com regras simples e que os cientistas estão<br />

comprometidos com seu paradigma. Livros-texto são produzidos informando aos neófitos os<br />

conhecimentos legítimos; apoio financeiro é <strong>da</strong>do aos trabalhos que sustentam, direta ou<br />

indiretamente, o paradigma vigente; resultados experimentais anômalos são rejeitados como<br />

sendo produtos de erros de metodologia... Khun exemplifica a força do paradigma com a órbita<br />

de Urano, no século XIX.<br />

"... os astrônomos reconheceram que a órbita de Urano, quando<br />

calcula<strong>da</strong> sob os princípios de Newton, não cabia nas observações.<br />

Entretanto, a razão para essa discrepância poderia ser que um outro<br />

planeta, desconhecido naquele momento, estaria exercendo uma força<br />

gravitacional sobre Urano e causando seu desvio <strong>da</strong> órbita espera<strong>da</strong>, <strong>da</strong><br />

mesma forma como a observação mostrava. Baseados nesta hipótese, os<br />

astrônomos predisseram o tamanho do planeta desconhecido e sua<br />

localização e observações posteriores de fato confirmaram que o planeta,<br />

Netuno, existia. É desnecessário dizer que isto foi uma dramática<br />

confirmação dos princípios newtonianos. Entretanto, uma situação<br />

exatamente análoga a essa noticiou que havia uma dispari<strong>da</strong>de entre a<br />

teórica órbita de Mercúrio e a órbita realmente observa<strong>da</strong>. Novamente, os<br />

astrônomos tomaram esse caso como mais um quebra-cabeça a ser<br />

resolvido através <strong>da</strong> estrutura teórica newtoniana, predizendo a<br />

existência de um outro planeta a ser descoberto. Neste caso, a fé de que o<br />

problema poderia ser resolvido pela mecânica newtoniana estava mal<br />

embasa<strong>da</strong>, já que apenas com a introdução <strong>da</strong> matemática prevista pela<br />

teoria geral <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de é que cálculos precisos sobre a órbia de<br />

Mercúrio puderam ser feitos". (Citado em Edge et al., 1986)<br />

Um outro fator fun<strong>da</strong>mental para a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> visão tradicional ou clássica de ciência foi a<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> noção de percepção. O filósofo Immanuel Kant questionou a visão clássica de<br />

percepção já no século XVIII. Para Kant, a mente não era uma espécie de espelho que apenas<br />

recebia os estímulos do meio tal qual eles se apresentavam na reali<strong>da</strong>de. Antes, a mente estava<br />

ativa, influenciando no que era percebido, através de ‘categorias’, filtros através dos quais<br />

percebemos.


Da mesma forma, mais modernamente, a Psicologia é fun<strong>da</strong>mental para o reconhecimento <strong>da</strong><br />

complexi<strong>da</strong>de do fenômeno <strong>da</strong> percepção. A Psicologia <strong>da</strong> Gestalt, por exemplo, reconheceu o<br />

papel do observador no processo de percepção, afirmando que sempre há um envolvimento <strong>da</strong><br />

constituição psíquica do sujeito, um mecanismo de ação e não apenas de coleta de <strong>da</strong>dos. A<br />

Psicanálise foi importante por mostrar que tendemos a construir a reali<strong>da</strong>de conforme nossos<br />

desejos. (Freud, 1981) Piaget, com sua Epistemologia Genética, demonstrou que a construção do<br />

conhecimento é um processo complexo e jamais unilateral. (Piaget, 1969)<br />

Como foi visto na sessão anterior, a visão clássica de ciência, tomou como parâmetro de análise<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong> Física. Quando se afirma que a filosofia científica clássica é newtonianacartesiana,<br />

se está reconhecendo, de certa forma, a importância que esta ciência tem sobre as<br />

noções do que é ou não científico. A Física parece representar uma espécie de diapasão, sob a<br />

égide do qual a orquestração científica ocidental deve estar embasa<strong>da</strong>. Talvez mais importante do<br />

que o reconhecimento <strong>da</strong> descontinui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> história <strong>da</strong> ciência e a mu<strong>da</strong>nça na visão de<br />

percepção, as novas formulações <strong>da</strong> Física foram fun<strong>da</strong>mentais para a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> visão clássica<br />

de ciência. A nova Física, basea<strong>da</strong> na Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong>de de Albert Einstein, e na Mecânica<br />

Quântica de Max Planck, revolucionou não apenas as concepções <strong>da</strong> Física Clássica, mas<br />

também a história do pensamento do século XX.<br />

A nova Física questionou o atomismo promovendo a noção de ‘funções contínuas’, rejeitou a<br />

aceitação de invariáveis físicas, aceitando a relativi<strong>da</strong>de ou inter-dependência entre tempo e<br />

espaço, e reintroduziu a consciência como importante fator na observação, sustentando que o<br />

observador influencia o observado.<br />

Os fatores de questionamento <strong>da</strong>s concepções <strong>da</strong> visão clássica de ciência apresentados foram<br />

suficientes para predispor os cientistas atuais para uma aceitação de anomalias como as<br />

parapsicológicas? A resposta a esta pergunta não é simples. Por um lado, como foi apresentado,<br />

há críticos cujos argumentos parecem estar alinhados à visão tradicional ou clássica de ciência.<br />

Por outro lado, é inegável que a <strong>Parapsicologia</strong> conquistou certo espaço científico. Assim, não se<br />

pode dizer que haja uma aceitação integral <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> nos meios científicos, <strong>da</strong> mesma<br />

forma que seria incorreto dizer que há rejeição.<br />

A análise do sociólogo James McClenon em seu livro Deviant Science: The Case of<br />

Parapsychology, pode ser útil para se compreender os processos de aceitação e rejeição <strong>da</strong><br />

<strong>Parapsicologia</strong> do contexto científico. McClenon sustenta que a rejeição por parte dos cientistas<br />

se dê por conta <strong>da</strong> impregnação do cientismo na mentali<strong>da</strong>de científica. Ele define cientismo<br />

como "o corpo de idéias usa<strong>da</strong>s para legitimar a prática <strong>da</strong> ciência. Essa idéias são usa<strong>da</strong>s para<br />

avaliar alegações de anomalias em termos de atitudes existentes na ciência institucionaliza<strong>da</strong>".<br />

(McClenon, 1984, p. 222) Os cientistas definem o que é ou não ciência a partir do cientismo, que<br />

prevê que anomalias devem ser investiga<strong>da</strong>s apenas quando puderem ser repeti<strong>da</strong>s, investiga<strong>da</strong>s<br />

em laboratório e permitirem explicações de tipo mecanicista. Segundo McClenon, a aceitação <strong>da</strong><br />

Parapsychological Association (PA) como membro <strong>da</strong> American Association for Advancement<br />

of Science (AAAS), em 1969, não se deveu à aceitação <strong>da</strong>s anomalias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela<br />

<strong>Parapsicologia</strong>, mas pelo papel desempenhado por aspectos políticos e retóricos que envolveram<br />

tal aceitação. Antes <strong>da</strong> aprovação em 1969, a afiliação <strong>da</strong> PA à AAAS havia sido nega<strong>da</strong> por<br />

quatro vezes, em 1961, 1963, 1967 e 1968. Na ver<strong>da</strong>de, a <strong>Parapsicologia</strong> não sofreu qualquer


importante alteração de 1961 a 1969. O que aconteceu? Em primeiro lugar, Douglas Dean, um<br />

ex-presidente <strong>da</strong> PA e, então, secretário dessa associação, havia empreendido cui<strong>da</strong>dosos<br />

esforços para melhorar as estratégias retóricas dos membros <strong>da</strong> PA antes <strong>da</strong>s audiências. Dean<br />

tratou de apresentar a proposta <strong>da</strong> PA de forma aceitável do ponto de vista científico. Além<br />

disso, em 1969 houve quatro pronunciamentos antes <strong>da</strong> votação dos membros <strong>da</strong> AAAS. O<br />

primeiro foi contrário à aceitação <strong>da</strong> PA, alegando que os fenômenos que a <strong>Parapsicologia</strong> dizia<br />

estu<strong>da</strong>r não existiam, portanto não havia trabalho científico a fazer. O segundo <strong>da</strong>va conta de que<br />

a pessoa não conhecia suficientemente a <strong>Parapsicologia</strong> a ponto de votar a respeito. O terceiro<br />

não foi identificado. O quarto foi feito por H. Bentley Glass, presidente <strong>da</strong> AAAS:<br />

"O Comitê do Conselho considerou o trabalho <strong>da</strong> PA por um longo<br />

período. O comitê chegou à conclusão de que esta é uma associação que<br />

está investigando fenômenos controvertidos ou inexistentes; entretanto,<br />

está aberta à afiliação de críticos e agnósticos; e eles ficaram satisfeitos<br />

porque ela usa métodos científicos de pesquisa; assim, essa investigação<br />

pode ser vista como científica. Além disso, informações chegaram até nós<br />

<strong>da</strong>ndo conta de que o número de Membros <strong>da</strong> AAAS que são também<br />

membros <strong>da</strong> PA não é de quatro como se encontra na agen<strong>da</strong>, mas nove".<br />

(McClenon, 1986, 128)<br />

Segundo McClenon, "Glass apresentou exemplos <strong>da</strong>s mais importantes estratégias retóricas dos<br />

parapsicólogos (o uso <strong>da</strong> metodologia científica, metamorfose)." Após a fala de Glass, ele<br />

perguntou se mais alguém gostaria de se pronunciar. A conheci<strong>da</strong> e respeita<strong>da</strong> antropóloga<br />

Margareth Mead tomou, então, a palavra:<br />

"Nos últimos dez anos nós temos estado debatendo o que constitui a<br />

ciência e o método científico e o que as socie<strong>da</strong>des usam disso. Nós até<br />

mesmo mu<strong>da</strong>mos nossos estatutos a respeito disso. A PA usa estatística e<br />

julgamento cego, placebos, julgamento de duplo-cego e outros<br />

expedientes científicos padrão. A ampla história do desenvolvimento<br />

científico está repleta de cientistas investigando fenômenos que o<br />

‘establishment’ não acreditava que existissem. Eu proponho para análise<br />

que nós votemos em favor do trabalho <strong>da</strong> associação". (McClenon, 1984,<br />

p. 182)<br />

A votação teve como resultado a aceitação <strong>da</strong> PA como membro <strong>da</strong> AAAS, por cerca de 160 a<br />

180 votos favoráveis contra entre 30 a 35 desfavoráveis. (McClenon, 1984)<br />

McClenon reafirma:<br />

"O opoio do voto de afiliação ilustra os aspectos políticos do processo de<br />

argumentação. Apesar de os parapsicólogos não utilizarem novas<br />

estratégias retóricas (por exemplo, um experimento replicável ou uma<br />

orientação teórica mais importante), eles desenvolveram a habili<strong>da</strong>de<br />

política necessária para apresentar seus argumentos. A influência de<br />

Dean em favor <strong>da</strong> causa dos parapsicólogos foi instrumental na conquista


<strong>da</strong> afiliação <strong>da</strong> PA. O apoio de Margaret Mead também deve ser<br />

considerado importante". (McClenon, 1984, p. 113)<br />

Os exemplo acima demonstra que a instituição ‘ciência’, enquanto instituição humana, está à<br />

mercê de aspectos subjetivos. Vemos que a aceitação <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> como campo científico<br />

legítimo passa, sobretudo, por questões ideológicas, filosóficas e de poder. O Dr. Stanley<br />

Krippner afirma que:<br />

A vitória <strong>da</strong> retórica e os limites <strong>da</strong> política<br />

"Alguns escritores tomaram a posição de que a Pesquisa Psíquica não se<br />

qualifica como ciência, mas esta avaliação depende dos pressupostos que<br />

eles fazem sobre o trabalho científico." (MacLellan, 1995)<br />

Existem alguns elementos que podem não constituir os principais fatores de verificação <strong>da</strong><br />

cientifici<strong>da</strong>de de uma disciplina, mas são tão fun<strong>da</strong>mentais para o desenvolvimento <strong>da</strong>s mesmas,<br />

que não se encontrará alguma ciência sem tais elementos. Estes elementos são: a existência de<br />

uma instituição profissional; a existência de publicações especializa<strong>da</strong>s; a existência de centros<br />

de pesquisa, acadêmicos ou privados; a existência de cursos acadêmicos que confiram graus. A<br />

<strong>Parapsicologia</strong> conta com tais elementos.<br />

Como já foi apresentado, a PA foi aceita como membro <strong>da</strong> AAAS, em 1969. A PA é uma<br />

organização profissional, que congrega pouco menos de 400 membros. Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1957, a PA<br />

tem como objetivos: o desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> como ciência; a disseminação do<br />

conhecimento do campo; e a integração de seus resultados àqueles de outros ramos <strong>da</strong> ciência.<br />

Anualmente, a PA realiza uma convenção, com a finali<strong>da</strong>de de apresentar as pesquisas em<br />

desenvolvimento, facilitando o trabalho crítico dos seus membros. Publica os anais <strong>da</strong>s<br />

convenções, o Research in Parapsychology e um boletim informativo, o PA News. A PA<br />

também tem como trabalho refletir sobre o papel dos parapsicólogos, através <strong>da</strong> consideração<br />

dos aspectos éticos que envolvem as ativi<strong>da</strong>des dos profissionais. Um código de ética,<br />

constantemente revisado, foi publicado pela PA, com a finali<strong>da</strong>de de oferecer parâmetros de<br />

comportamento para os pesquisadores. O sistema de afiliação é rígido, sobretudo para os níveis<br />

mais altos <strong>da</strong> PA. A maioria dos membros <strong>da</strong> PA são vinculados a instituições científicas<br />

universitárias ou priva<strong>da</strong>s.<br />

Existem vários centros de pesquisa espalhados pelo mundo, com ativi<strong>da</strong>des varia<strong>da</strong>s, como<br />

publicações, pesquisas e ensino. Nos Estados Unidos, destacam-se três centros de pesquisa. O<br />

Rhine Research Center, o Princeton Engeenering Anomalies Research Laboratories e a<br />

Consciousness Research Division.<br />

O Rhine Research Center (RCC), antiga Foun<strong>da</strong>tion for Research on the Nature of Man, é o<br />

mais tradicional de todos e também o mais antigo. Foi fun<strong>da</strong>do em 1964 pelo casal Rhine,<br />

quando J. B. Rhine se aposentou de suas ativi<strong>da</strong>des na Duke University. O RCC abarca o<br />

Institute for Parapsychology, dedicado à área de pesquisa e ensino e a Parapsychology Press,


que tem a finali<strong>da</strong>de de manter o Journal of Parapsychology. Na área de pesquisas, sua ênfase é<br />

eminentemente experimental, seguindo a tradição do Dr. Rhine. Atualmente são realiza<strong>da</strong>s<br />

pesquisas na área de ganzfeld, ESP e percepção subliminar. Na área de ensino, o RRC promove<br />

anualmente o Summer Study Program, um curso de oito semanas durante os meses de junho e<br />

julho. A direção atual está nas mãos <strong>da</strong> Dra. Sally Feather, filha do casal Rhine. Os principais<br />

parapsicólogos do RRC são o Dr. Richard Broughton, diretor de pesquisas, e o Dr. John Palmer,<br />

diretor de ensino.<br />

O Princeton Engeenering Anomalies Research Laboratories (PEARL) está sediado na<br />

Universi<strong>da</strong>de de Princeton, e tem como seu diretor o Dr. Robert Jahn. O PEARL tem como<br />

principal ativi<strong>da</strong>de a pesquisa sobre o relacionamento entre mente-matéria, a partir <strong>da</strong>s<br />

investigações de psicocinesia. O laboratório conta com equipamentos que permitem a realização<br />

de milhares de séries experimentais em curto espaço de tempo.<br />

A Consciousness Research Division (CRD) é o centro mais recente. Fun<strong>da</strong>do em 1994, a CRD,<br />

tem como diretor o Dr. Dean Radin. O foco <strong>da</strong>s pesquisas de Radin e Jannine Rebman, também<br />

pesquisadora <strong>da</strong> CRD, são "experimentos psi na vi<strong>da</strong> cotidiana", ou seja, situações do dia-a-dia,<br />

altamente controla<strong>da</strong>s, em que psi poderia estar em funcionamento. Situações como essas são<br />

encontra<strong>da</strong>s em cassinos, em que há um rigoroso controle sobre a aleatori<strong>da</strong>de dos jogos e <strong>da</strong>s<br />

condições de motivação dos participantes. Radin e Rebman têm realizado investigações que<br />

visam verificar quais as potenciais aplicações práticas de psi. (Radin e Rebdman, 1996)<br />

Ain<strong>da</strong> nos EUA, a American Society for Psychical Research (ASPR) é importante, sobretudo por<br />

publicar o Journal of American Society for Psychical Research (JASPR). A linha editorial do<br />

JASPR é balancea<strong>da</strong> entre pesquisas experimentais, pesquisas de casos espontâneos e artigos<br />

teóricos.<br />

Na Europa, o centro mais importante é a Koestler Chair of Parapsychology (KCP), na<br />

Universi<strong>da</strong>de de Edimburgo. Estabeleci<strong>da</strong> em 1985 com fundos doados pelo casal Cristina e<br />

Artur Koestler, a KCP é não apenas um centro de investigações, mas também um centro de<br />

formação acadêmica, que confere o grau de Doutor em Psicologia, para pesquisadores que<br />

apresentem teses cujo tema seja ligado à <strong>Parapsicologia</strong>. Dirigido pelo Dr. Robert Morris, o foco<br />

<strong>da</strong> KCP é o relacionamento entre Psicologia e <strong>Parapsicologia</strong>, <strong>da</strong>í porque serem considerados<br />

trabalhos que apresentem, por exemplo, aspectos relacionados à psicologia <strong>da</strong> fraude, aos<br />

aspectos fenomenológicos <strong>da</strong>s experiências parapsicológicas, aos aspectos de personali<strong>da</strong>de<br />

relacionados à tecnica ganzfeld e aos aspectos diferenciais entre psicopatologias e manifestações<br />

parapsicológicas. A KCP publica o European Journal of Parapsychology.<br />

Na América Latina há alguns centros de pesquisa e difusão <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong>. Sem dúvi<strong>da</strong>, a<br />

Argentina é o país que mais tradição apresenta na área. As déca<strong>da</strong>s de 1960 e 1970 ficaram<br />

marca<strong>da</strong>s pelo trabalho do psicólogo de reconheci<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de profissional, Dr. Ricardo Musso.<br />

Nas déca<strong>da</strong>s de 1970 e 1980, o trabalho do jesuíta e químico Novillo Pauli, no Instituto de<br />

<strong>Parapsicologia</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>d del Salvador, foi reconhecido pelas suas pesquisas a respeito <strong>da</strong><br />

ação psicocinética sobre o crescimento de plantas. Atualmente, o Instituto de Psicologia<br />

Paranormal é o mais ativo dos centros argentinos. Dirigido por Alejandro Parra, o instituto<br />

promove encontros, pesquisas e a publicação <strong>da</strong> Revista Argentina de Psicologia Paranormal.


No Brasil, as mais conheci<strong>da</strong>s personali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> são o Pe. Oscar G. Quevedo e o<br />

engenheiro Hernani Guimarães Andrade. O Pe. Quevedo dirige o Centro Latino-Americano de<br />

<strong>Parapsicologia</strong> (CLAP), criado por ele no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960. O CLAP tem como ativi<strong>da</strong>de<br />

fun<strong>da</strong>mental a difusão <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> através de cursos e publicações. Na déca<strong>da</strong> de 1970,<br />

algumas pesquisas experimentais foram empreendi<strong>da</strong>s e, até a atuali<strong>da</strong>de, são desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

pesquisas de casos espontâneos, sobretudo, do assim chamado fenômeno de poltergeist ou casas<br />

mal-assombra<strong>da</strong>s. O Pe. Quevedo escreveu nove livros até o momento, todos ligados à<br />

<strong>Parapsicologia</strong> e a questões religiosas. (Quevedo, 1978, 1982, 1983a, 1983b, 1983c, 1989,<br />

1992a, 1992b, 1996)<br />

Hernani Guimarães Andrade é um conhecido e ativo espírita, que fundou, na déca<strong>da</strong> de 1960, o<br />

Insituto Brasileiro de Psicobiofísica. Realizou várias pesquisas de casos espontâneos, sobretudo,<br />

do fenômeno poltergeist, e de casos de lembranças de vi<strong>da</strong>s passa<strong>da</strong>s. Escreveu monografias e<br />

livros em que apresenta e discute o impacto de suas pesquisas em suas concepções metafísicas.<br />

(Andrade, 1959, 1976, 1983, 1984, 1986, 1987, 1988) Quevedo e Andrade são o retrato <strong>da</strong><br />

<strong>Parapsicologia</strong> brasileira até o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990. As preocupações de ambos sempre<br />

residiram na utilização <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> como instrumento de defesa e ataque religioso. (Hess,<br />

1991; Zangari e Machado, 1995; Machado, 1996) No início dos anos 90, a <strong>Parapsicologia</strong><br />

brasileira ganhou a presença de jovens parapsicólogos, mais afinados com propósitos científicos<br />

do que religiosos. Integrados ao trabalho dos demais membros <strong>da</strong> Parapsychological<br />

Association, esses parapsicólogos se organizaram e formaram centros de pesquisas e ensino,<br />

iniciaram publicações e fun<strong>da</strong>ram uma organização profissional nacional. Tais parapsicólogos<br />

integram vários centros de pesquisa e/ou ensino, como o Instituto Pernambucano de Pesquisas<br />

Psicobiofísicas; a Facul<strong>da</strong>de de Ciências Bio-Psíquicas do Paraná; o Curso de Pós-Graduação em<br />

Ciência e <strong>Parapsicologia</strong>, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Veiga de Almei<strong>da</strong>, no Rio de Janeiro; e o INTER PSI<br />

- Instituto de Pesquisas Interdisciplinares <strong>da</strong>s Áreas Fronteiriças <strong>da</strong> Psicologia, <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />

Anhembi Morumbi. Surgiu uma publicação especializa<strong>da</strong>, a Revista Brasileira de<br />

<strong>Parapsicologia</strong> e uma associação nacional, a Socie<strong>da</strong>de Brasileira para o Progresso <strong>da</strong><br />

<strong>Parapsicologia</strong>. Alguns brasileiros têm apresentado trabalhos nas convenções anuais <strong>da</strong> PA e<br />

publicado artigos em publicações afilia<strong>da</strong>s à PA (Carvalho, 1992; Zangari e Machado, 96)<br />

demonstrando o início de uma troca de informações entre brasileiro e estrangeiros. A<br />

<strong>Parapsicologia</strong> no Brasil, como ciência, é ain<strong>da</strong> adolescente: está se estruturando e buscando uma<br />

identi<strong>da</strong>de. (Zangari e Machado, 1995)<br />

Apesar dessas e outras vitórias, a <strong>Parapsicologia</strong> não conta com a aceitação <strong>da</strong> maior parte dos<br />

cientistas de elite. Em 1982, McClenon realizou uma pesquisa entre os cientistas de elite <strong>da</strong><br />

American Association for Advancement of Science com o objetivo de obter informações sobre a<br />

posição e conhecimento dos mesmos em relação à <strong>Parapsicologia</strong>. (McClenon, 1984) Tais<br />

informações seriam importantes para se formar um quadro do processo de reconhecimento <strong>da</strong><br />

<strong>Parapsicologia</strong>, tendo como pano-de-fundo o fato de que a legitimação científica do campo é um<br />

processo retórico e político. Como conclusão dessa pesquisa, McClenon escreceu:<br />

"A população dos cientistas de elite pesquisa<strong>da</strong> neste estudo demonstrou<br />

um grau de ceticismo em relação à ESP mais alto do que qualquer outro<br />

importante grupo pesquisado nos últimos vinte anos. Essa dúvi<strong>da</strong> sobre a<br />

probabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ESP está positivamente relaciona<strong>da</strong> à rejeição <strong>da</strong>


legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong>. Na população de cientistas que constituia<br />

uma elite ‘administrativa’, esses resultados lançam luz sobre a razão pela<br />

qual a <strong>Parapsicologia</strong> falhou em ganhar total legitimi<strong>da</strong>de na<br />

comuni<strong>da</strong>de científica, mesmo que seus proponentes tentassem adequá-la<br />

a to<strong>da</strong>s as normas e cânones <strong>da</strong> ciência. Nesse grupo de cientistas de<br />

elite, a crença na ESP está mais proximamente relaciona<strong>da</strong> à experiência<br />

pessoal do que à familiari<strong>da</strong>de com a literatura sobre psi. Há uma<br />

tendência <strong>da</strong>queles que duvi<strong>da</strong>m <strong>da</strong> existência <strong>da</strong> ESP em citar uma razão<br />

apriorística para sua opinião. A freqüência de experiências anômalas<br />

relata<strong>da</strong>s pelos membros dessa população é alta e positivamente<br />

relaciona<strong>da</strong> à sua crença na ESP. Compara<strong>da</strong> com a população<br />

americana em geral, essa elite de cientistas relata baixa porcentagem de<br />

experiências anômalas. Isto sugere que tais experiências violam aspectos<br />

<strong>da</strong> visão de mundo científica e que aspectos <strong>da</strong> educação científica e do<br />

processo de socialização reduzem o valor <strong>da</strong>do a essas experiências.<br />

Estes resultados são semelhantes àqueles apresentados pelo Gallup<br />

(1982). Ele encontra em um levantamento nacional líderes científicos e<br />

autori<strong>da</strong>des médicas tendem a rejeitar, desacreditar ou explicar os casos<br />

de ‘experiências próximas <strong>da</strong> morte’. Enquanto 67% <strong>da</strong> amostra nacional<br />

endossou a crença na vi<strong>da</strong> depois <strong>da</strong> morte, apenas 32% dos médicos e<br />

16% dos cientistas assumiram tal posição na amostra do Gallup.<br />

Pode-se esperar que os cientistas de elite defen<strong>da</strong>m a visão de mundo<br />

científico mais vigorosamente que os cientistas que não são de elite<br />

porque parte de seu papel como elite é definir a natureza <strong>da</strong> ciência. Isto<br />

os leva à tendência de estigmatizar os cientistas que investigam<br />

experiências anômalas (ou que tentam induzir tais experiências sob<br />

condições de laboratório) como tolos, incompetentes ou fraudulentos".<br />

(McClenon, 1984)<br />

"Apesar <strong>da</strong> maioria dos cientistas modernos enxergarem a pesquisa<br />

parapsicológica como legítima, os cientistas de elite se constituem em<br />

problema especial aos parapsicólogos. Diferentemente <strong>da</strong> maioria dos<br />

cientistas de facul<strong>da</strong>des, que aceitam a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência de ESP<br />

(Wagner & Monet, 1979), os cientistas de elite tendem a rejeitar<br />

alegações parapsicológicas." (McClenon, 1990)<br />

Essa pesquisa nos mostra que os cientistas de elite não conhecem as pesquisas parapsicológicas,<br />

seus resultados e suas implicações. A crença na ESP, basea<strong>da</strong> em experiências pessoais, é o fator<br />

mais importante para, indiretamente, legitimarem a <strong>Parapsicologia</strong>. Mas, a partir <strong>da</strong> pesquisa de<br />

McClenon, é possível se esperar uma crescente aceitação <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong>, já que haveria uma<br />

crescente crença em psi. Existe um relacionamento positivo entre i<strong>da</strong>de e crença na ESP.


"Em 1981, a porcentagem dos cientistas de elite <strong>da</strong> AAAS que nasceram<br />

antes de 1919 e que acreditavam na ESP como um ‘fato’ ou como<br />

‘provável’, foi de 25%. Daqueles nascidos depois de 1936, 39%<br />

enquadram-se nessa categoria. Se essa correlação significa uma<br />

tendência, a maioria dos ‘mais jovens’ cientistas de elite serão mais<br />

‘crentes’ na ESP nas próximas déca<strong>da</strong>s". (McClenon, 1984)<br />

O que é importante notar, novamente, é que a legitimação <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> depende de fatores<br />

objetivos como a vali<strong>da</strong>de dos métodos de avaliação utilizados; do peso <strong>da</strong>s análises estatísticas<br />

favoráveis à exitências dos fenômenos parapsicológicos; mas também de fatores subjetivos,<br />

relacionados a aspectos pessoais e grupais. É possível que Heisemberg estivesse certo ao afirmar<br />

que "uma geração não mu<strong>da</strong> de opinião pela mera apresentação de argumentos. As opiniões são<br />

mu<strong>da</strong><strong>da</strong>s porque essa geração morre e uma nova toma o seu lugar".<br />

Panorama futurista<br />

Que fatores poderiam contribuir para a total legitimação <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> como ciência? O que<br />

isto representaria a nível de impacto para a ciência?<br />

McClenon oferece quatro possíveis cenários para que a <strong>Parapsicologia</strong> seja aceita integralmente<br />

como ciência. O primeiro seria se os parapsicólogos oferecessem uma explicação macanicista<br />

para psi.<br />

"Tal explicação deve interpretar os fenômenos como máquina, de forma<br />

causal, geralmente usando termos físicos, químicos ou matemáticos".<br />

(McClenon, 1990, p. 129)<br />

O apelo à teoria conheci<strong>da</strong>, à visão clássica de ciência ou de cientifici<strong>da</strong>de de uma disciplina, é<br />

vista como uma saí<strong>da</strong> possível. Mas isto não implicaria na interpretação errônea de psi? A<br />

compreensão de psi não implicaria, como as pesquisas parecem apontar, que será necessária uma<br />

nova concepção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, que possa integrá-lo como ‘natural’ ou ‘normal’? A aceitação de<br />

psi não está esperando por um cenário de revolução científica?<br />

O segundo cenário proposto, teria como base o fato de que algumas pesquisas em outras áreas <strong>da</strong><br />

ciência pudessem <strong>da</strong>r apoio à crença de psi. Por exemplo, descobertas <strong>da</strong> Física, ou <strong>da</strong><br />

Neurologia, poderiam <strong>da</strong>r suporte à ESP, digamos, por reconhecer a existência de ‘troca de<br />

informação entre sistemas vivos à distância’.<br />

O terceiro cenário teria como protagonistas não os cientistas apenas, mas to<strong>da</strong> a população, que<br />

teria tal nível de aceitação <strong>da</strong> idéia de psi, que seria impossível negar seu estudo nos meios<br />

acadêmicos. A crença em psi pode ser uma <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong> expansão de movimentos<br />

sociais, como o Esoterismo ou a Nova Era, ou mesmo o Espiritismo, que não nega a existência<br />

de psi entre os vivos, apenas a estende para a possibili<strong>da</strong>de de psi entre vivos e mortos.


O quarto cenário seria produzido por mu<strong>da</strong>nças demográficas pelas quais as nações estão<br />

passando. A população de velhos aumenta rapi<strong>da</strong>mente no planeta. Isto poderia levar a<br />

população a se interessar mais pelo tema <strong>da</strong> morte.<br />

"Um ramo <strong>da</strong> <strong>Parapsicologia</strong> que conduz pesquisas científicas sociais<br />

‘normais’ relaciona<strong>da</strong>s a eventos de experiências próximas à morte e de<br />

aparição, poderão ser aceitos pelos cientistas estabelecidos que estarão<br />

buscando pelo desenvolvimento de técnicas de aju<strong>da</strong> a uma população<br />

crescentemente mais idosa e sofrendo dos traumas <strong>da</strong> morte" (McClenon,<br />

1990, p. 133)<br />

Não sabemos qual será o futuro <strong>da</strong> pesquisa parapsicológica, mas sabemos que as implicações<br />

científicas relaciona<strong>da</strong>s com as experiências parapsicológicas são evidentes. Nosso<br />

conhecimento sobre a consciência pode estar limitado. Os limites que impomos à reali<strong>da</strong>de<br />

podem ser muito estreitos. Nossas teorias sobre a comunicação humana podem estar deixando de<br />

lado um aspecto importante do relacionamento entre os seres humanos. Da mesma maneira,<br />

nossas concepções sobre a ação do ser humano no ambiente podem estar excluindo processos<br />

que implicariam em uma maior integração entre o ser humano e seu meio.<br />

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* Wellington Zangari<br />

Coordenador<br />

Inter Psi<br />

Grupo de Semiótica, Interconectivi<strong>da</strong>de e Consciência,<br />

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