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Suplemento%20Especia%20-%20Maio

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a NoVa poesia brasileira<br />

METEOROS.<br />

Fúrias riscando o céu.<br />

Estrelas despregadas caindo em<br />

estardalhaço.<br />

As folhas-de-flandres de um<br />

temporal,<br />

sem intervalos.<br />

(Imóveis, no leito,<br />

seu olho embaraçado ao meu<br />

a mão<br />

no meu peito.)<br />

gualde amarelo amarelo andante em verde<br />

partitura oscilante das flores o vento<br />

(ralento até o silêncio)<br />

mas ouça: na lousa da noite<br />

os grilos vão deixando reticências<br />

Um dos meus poemas memoráveis é METEOROS, que faz parte do livro<br />

Corola (Ateliê Editorial, 2000), de Claudia Roquette-Pinto. Gosto de lê-lo<br />

como um fragmento de um poema maior, indefinível, em que a autora<br />

nomeou Corola. A meu ver, isto o caracteriza como um poema de forma<br />

não terminada, uma anotação ou fragmento que está em afinidade com<br />

um sentido de rizoma poético. Foi essa elasticidade, bastante incomum<br />

entre nós, que me surpreendeu e me encantou quando o li pela primeira<br />

vez. Não se trata de uma parte de um poema longo, temático e discursivo.<br />

O que está em jogo neste fazer da autora é o entremeado, a pausa,<br />

o agenciamento. Aliás, todos os fragmentos do livro vêm dispostos sem<br />

títulos (apenas palavras maiúsculas grudadas no corpo do texto), para não<br />

atrapalharem o fluxo da leitura, sua continuidade incessante. METEOROS<br />

é uma das pausas de Corola que mais me identifico por trazer o evento<br />

externo, o acontecimento aberto, maravilhoso, quase sem medida –<br />

“Estrelas despregadas caindo em estardalhaço” –, e nas palavras finais, o<br />

evento externo migra para o acontecimento interno – “Imóveis, no leito,<br />

/ seu olho embaraçado ao meu / a mão / no meu peito”. Além do uso<br />

especialíssimo dos parênteses, um pequeno detalhe que diz muito da não<br />

gratuidade estética, há uma força centrípeta que atrai as coisas do macro<br />

para o microcosmo. A sensação é de que restos da imagem anterior passam<br />

a se revolver no peito de quem o lê. É um dos meus poemas contemporâneos<br />

prediletos.<br />

Terra dos Pinheirais, em 14/02/2013<br />

Ricardo Corona<br />

Este poema é de Claudia Roquette-Pinto, poeta carioca<br />

nascida em 1963. Faz parte do livro “zona de sombra”,<br />

publicado pela editora 7 Letras em 1997. Este livro chegou<br />

em minhas mãos quando começei a escrever poesia de<br />

forma mais consistente. A dicção do poema de Claudia,<br />

muito contemporânea, seu ritmo, a musicalidade, a estranheza<br />

da sintaxe e a forma como ela se refere à paisagem<br />

captaram minha atenção. É um poema curto, que flui, é<br />

imagético, e teve sobre mim um impacto no tipo de poesia<br />

que eu procurava escrever na época.<br />

Virna Teixeira<br />

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