Suplemento%20Especia%20-%20Maio
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34<br />
mariaNa boTelHo<br />
ESTUDOS SOBRE O SILÊNCIO<br />
I<br />
ficamos imóveis<br />
diante do imenso<br />
pássaro de pedra:<br />
.<br />
silêncio<br />
sólido impassível belo<br />
falamos<br />
e ele assume-se leve<br />
ave emplumada<br />
num vôo de morte<br />
II<br />
n’algumas coisas o silêncio<br />
canta<br />
n’outras arde<br />
em mim<br />
III<br />
no fundo da noite<br />
o silêncio<br />
canta<br />
tarde<br />
o escuro morre<br />
ele agita a carne<br />
morna e<br />
voa –<br />
essa ave<br />
nua<br />
Quando li "Estudos sobre o silêncio", de Mariana Botelho (O Silêncio tange o sino, Ateliê<br />
Editorial, 2010), revivi a calmaria, o sumo que guarda a tempestade que habita nossos morros,<br />
compassando o rumorejar das águas; o olhar transverso, o guizalhar dos grilos, o dobre<br />
dos sinos, a noite, a noite. E a palavra aérea, que se dissolve nessas minas, de Padre Paraíso<br />
a Pitangui. E a severidade da vida, entrecortada pelo vento que assobia o longe e semeia<br />
outonos na estridência da palavra, prenhes de silêncio e de sentido.<br />
Dagmar Braga<br />
UM PÍER<br />
SOBRE O<br />
SPREE<br />
simoNe Homem de mello<br />
tudo de terminal vem à traição<br />
à nuca,<br />
o fôlego<br />
urgente<br />
– tênue<br />
saber quem por último sentido,<br />
invisto: o outro faz-se inocular<br />
se é água a desmarginar corpo<br />
e anticorpo: algo imuniza,<br />
úmido de preamar<br />
quando súbito gatilho –<br />
ambos serenados<br />
e nem sequer chovia<br />
O poema “um píer sobre o spree” (do livro Extravio marinho, Ateliê Editorial,<br />
SP, 2010), de Simone Homem de Mello, é a história do encontro de um<br />
homem e uma mulher, contada com poesia. Enquanto olha para o rio, ela<br />
recebe um beijo na nuca e, súbito, dispara-se o gatilho do desejo que, molhado,<br />
mistura-se com o rio e umidece o poema, o leitor. E nem sequer<br />
chovia.<br />
Guilherme Mansur