30.05.2013 Views

Suplemento%20Especia%20-%20Maio

Suplemento%20Especia%20-%20Maio

Suplemento%20Especia%20-%20Maio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

a NoVa poesia brasileira<br />

PAI<br />

Fabio WeiNTraub<br />

Desempregado há três anos<br />

no país do futuro<br />

Batendo perna nas ruas<br />

com o mostruário de meias<br />

Adivinhando<br />

o signo da morena<br />

o ascendente da loira<br />

Jogando xadrez<br />

assobiando um samba<br />

colecionando borboletas<br />

descobrindo a fórmula exata<br />

da tinta para balão<br />

(tinta que não racha<br />

sobre a pele inflável)<br />

Contra as determinações médicas<br />

filando cigarro<br />

fazendo piada com a perna<br />

que pode ser amputada<br />

louvando as próteses modernas<br />

dizendo que morre antes disso<br />

que não vai dar trabalho<br />

que some de casa<br />

vai pro asilo<br />

Meu pai de novo ao volante<br />

guiando o negro Landau<br />

O velho e bom batmóvel<br />

rodando sem freio ou cinto<br />

o vento de Gotham no rosto<br />

minha cabeça no banco de couro<br />

Meu pai cantando alto<br />

limpo e bonito como só ele<br />

numa estrada clara<br />

sem pedágio ou limite<br />

de felicidade<br />

A<br />

PARTIDA<br />

biaNKa de aNdrade<br />

Ora Circe,<br />

ora Penélope.<br />

Penélope, mas Circe.<br />

Circe, portanto Penélope.<br />

Mais Circe que Penélope.<br />

Tão Penélope quanto Circe.<br />

Penélope quando Circe.<br />

Circe, embora Penélope.<br />

Circe ou Penélope.<br />

Penélope e Circe.<br />

Nem Penélope,<br />

nem Circe.<br />

Mais que a água de Penélope e mais que o fogo de Circe, o<br />

poema “A partida” revela o desejo da poesia em traduzir a<br />

vida através da linguagem, símbolo de passagem em busca<br />

de uma poética radicalmente no rastro do tempo em que<br />

se vive: o terceiro milênio como a catarse ao vivo de seres<br />

partidos.<br />

Bianka de Andrade coloca em prática o desejo de ser,<br />

ser a origem a partir do próprio nome e suas ascendências,<br />

a árvore de uma origem, mas sendo, ao mesmo tempo e<br />

espaço, a metamorfose do passado no espelho do presente<br />

a caminho do futuro. Bianka de Andrade é “a partida” da<br />

poesia em estado de poesia sendo poesia.<br />

Wilmar Silva<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!