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Distúrbios respiratórios do sono na<br />
gravidez<br />
AUTORES: Adriana Hora de M. Fontes 1 , Eduardo Menezes Lopes 2 , Sonia Maria G. P. Togeiro 3<br />
1 Médica Especializanda em Pneumologia da Unifesp/Escola Paulista de Medicina (EPM)<br />
2 Médico pneumologista e Especializando em medicina do sono AFIP<br />
3 Doutora em pneumologia e Pesquisadora do Instituto do Sono- São Paulo<br />
Introdução<br />
Grávidas relatam, frequentemente, mudanças no padrão e<br />
duração do sono. A Insônia, a síndrome das pernas inquietas<br />
e os distúrbios respiratórios do sono (DRS) são prevalentes<br />
nesta população e ocorrem, principalmente, no último<br />
trimestre da gestação. O conceito de DRS refere-se ao<br />
conjunto de alterações que vão desde o ronco isoladamente<br />
e ou limitações do fluxo aéreo às manifestações mais graves,<br />
como apneia-hipopneia obstrutiva do sono. Essas desordens<br />
respiratórias são caracterizadas por episódios repetidos de<br />
obstrução parcial ou completa das vias aéreas superiores<br />
durante o sono, resultando em alteração na ventilação<br />
normal, hipoxemia intermitente e fragmentação do sono. 1-4<br />
A prevalência dos DRS na gravidez não é bem estabelecida<br />
na literatura, entretanto estudos sugerem a presença de<br />
ronco isoladamente em 14-45% das grávidas comparadas a<br />
15 % nas mulheres não grávidas. No entanto, faltam estudos<br />
com polissonografia para avaliar sua real frequência durante<br />
a gestação. 4<br />
O espectro clínico da doença varia de leve a grave, incluindo<br />
sintomas como: ronco habitual, fadiga, sonolência diurna,<br />
engasgos noturnos e pausas respiratórias. Entretanto, essas<br />
5, 6,7<br />
manifestações são ainda menos específicas nas grávidas.<br />
O diagnóstico e tratamento dos DRS na gestante são de<br />
fundamental importância, dada a sua associação às<br />
complicações obstétricas, principalmente desordens<br />
hipertensivas da gestação, além de diabetes gestacional e<br />
alterações no crescimento e vitalidade do feto. 1,4,5<br />
Fisiopatologia<br />
Nas gestantes, as evidências sugerem que o ronco, a<br />
apneia e a fragmentação do sono predispõem às<br />
complicações obstétricas. 2,8<br />
Alterações fisiológicas da gravidez que podem predispor<br />
a distúrbios respiratórios do sono incluem: ganho<br />
progressivo de peso, elevação do diafragma, alteração da<br />
mucosa nasofaringeana (por ação da rinite vasomotora e<br />
dos estrógenos levando a hiperemia e edema de mucosa).<br />
Tais condições podem reduzir significativamente a via aérea<br />
das gestantes, que associadas à redução da CRF podem<br />
aumentar a colapsibilidade desta, sobrepondo os efeitos<br />
protetores do aumento da ventilação mediado pela<br />
progesterona, da preferência pelo decúbito lateral<br />
(especialmente na fase mais tardia da gestação) e da própria<br />
4, 7, 9,10<br />
arquitetura do sono (redução do sono REM).<br />
As apneias e hipopneias cursam com hipóxia e hipercapnia<br />
intermitentes bem como a fragmentação do sono que, por sua<br />
vez, ativam os mecanismos envolvidos na gênese da hipertensão<br />
arterial, das alterações metabólicas e do desenvolvimento fetal.<br />
Aumento da atividade simpática, estresse oxidativo, inflamação,<br />
e ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal com consequente<br />
hipercortisolismo são os mecanismos envolvidos na cadeia<br />
3, 7, 8,11<br />
de complicações referidas. (Figura 1).<br />
Outro aspecto a ser discutido é que boa parte das<br />
gestantes apresentam roncos e episódios de limitação ao<br />
fluxo aéreo, mas sem a presença de apneias ou hipóxia.<br />
Sugere-se, nestas circunstâncias, que o aumento do esforço<br />
respiratório levando ao aumento da pressão negativa<br />
intratorácica e fragmentação do sono com consequente<br />
ativação simpática estariam envolvidos nos desfechos<br />
3, 7-10<br />
obstétricos desfavoráveis.<br />
Complicações Obstétricas<br />
Os DRS podem estar associados com complicações na<br />
gravidez como: desordens hipertensivas, diabetes<br />
gestacional, restrição de crescimento intrauterino, trabalho<br />
de parto prematuro e escores mais baixos de Apgar. 2,12,13<br />
As desordens hipertensivas estão entre as complicações<br />
médicas mais comuns na gravidez e são uma importante causa<br />
de morbimortalidade materna e perinatal no mundo. Com<br />
prevalência em torno de 6-8% nas grávidas estão divididas<br />
em três categorias: hipertensão crônica, hipertensão<br />
gestacional e pré-eclâmpsia. Esta última é a apresentação<br />
clínica mais grave e é definida como o aparecimento de<br />
hipertensão e proteinúria após 20 semanas de gestação em<br />
previamente normotensas ou piora da hipertensão e<br />
surgimento de nova proteinúria em hipertensas prévias.<br />
Associação entre as desordens hipertensivas gestacionais<br />
e os distúrbios respiratórios do sono foi descrita em diversos<br />
estudos. 5-8 A disfunção endotelial foi identificada como<br />
anormalidade chave na patogênese da hipertensão arterial e<br />
possivelmente, está presente nas gestantes com DRS,<br />
especialmente nas com apneia do sono mais grave. 2,3,12-16<br />
Diabetes gestacional e hiperglicemia isolada também<br />
Pneumologia Paulista Vol. 26, N o. 1/2012 35