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MÓIN-MÓIN - UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina ...

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Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s sobre Teatro <strong>de</strong> Formas Animadas<br />

<strong>MÓIN</strong>-<strong>MÓIN</strong><br />

verbo. Essa alquimia teatral é particularmente elaborada na técnica<br />

japonesa <strong>do</strong> Bunraku, na qual o(s) manipula<strong>do</strong>r(es) é (são)<br />

visível(eis), com máscara ou não, e dá (dão) movimento a um<br />

boneco manipula<strong>do</strong> frontalmente, maravilha <strong>de</strong> escultura e <strong>de</strong><br />

articulação: o elemento essencial e característico da personagem é<br />

anima<strong>do</strong>; segun<strong>do</strong> os casos trata-se <strong>do</strong>s olhos, das sobrancelhas, da<br />

boca, da mão, das falanges... Visível por <strong>de</strong>trás da marionete, o<br />

manipula<strong>do</strong>r tem uma relação complexa com ela: sombra da<br />

personagem, ou seu duplo, ou ainda sua alma, seu <strong>de</strong>us, anjo ou<br />

<strong>de</strong>mônio; relação que prolonga o jogo, que dá um senti<strong>do</strong> para ele,<br />

remete-nos à fábula, extirpa-nos da possível ane<strong>do</strong>ta que falseia a<br />

teatralida<strong>de</strong>, remete-nos ao mito ou ao símbolo, sem os quais o<br />

teatro já não tem senti<strong>do</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> era embaixa<strong>do</strong>r da França no Japão, Paul Clau<strong>de</strong>l<br />

<strong>de</strong>scobriu o Bunraku. Eis o que diz sobre ele no texto <strong>de</strong> introdução<br />

a Contribution à l´étu<strong>de</strong> du théâtre <strong>de</strong> poupées [Contribuição ao Estu<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Teatro <strong>de</strong> Bonecos], <strong>de</strong> Tsunao Miyajima (PUF, 1928)<br />

O ator vivo, seja qual for o seu talento, sempre nos incomoda<br />

misturan<strong>do</strong>, ao drama fictício que ele incorpora, um elemento<br />

intruso, algo atual ou quotidiano; ele continua a ser um<br />

disfarça<strong>do</strong>. A marionete, ao contrário, só possui a vida e o<br />

movimento que ela retira da ação. Ela se anima com o relato, é<br />

como que uma sombra que ressuscitamos nele, contan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong><br />

o que ela fez e que pouco a pouco <strong>de</strong> lembrança se torna<br />

presença. Não é um ator que fala, é uma palavra que age. A<br />

personagem <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira encarna a prosopopéia. A personagem<br />

nada numa fronteira in<strong>de</strong>cisa entre o fato e o relato. (...)<br />

A marionete é como um fantasma. Não põe os pés na terra,<br />

nós não a tocamos e ela não sabe tocar. Toda a sua vida, to<strong>do</strong> o<br />

seu movimento lhe vem <strong>do</strong> coração e <strong>de</strong>sse conciliábulo<br />

misterioso, atrás <strong>de</strong>la, <strong>de</strong> atores com máscara ou não, <strong>de</strong>ssa<br />

fatalida<strong>de</strong> coletiva da qual ela é a expressão.<br />

O Bunraku fascina os oci<strong>de</strong>ntais, mas a sua complexida<strong>de</strong>

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