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MÓIN-MÓIN - UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina ...

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Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s sobre Teatro <strong>de</strong> Formas Animadas<br />

<strong>MÓIN</strong>-<strong>MÓIN</strong><br />

templos, nas igrejas ou nos pago<strong>de</strong>s, diante <strong>de</strong>le mostra esses<br />

fantasmas, essas figuras. Ele não encarna: mostra; não o vemos:<br />

vemos apenas a elas, a essas figuras anteriores e imemoriais em que<br />

o especta<strong>do</strong>r olha, se <strong>de</strong>scobre, se reflete.<br />

Essas figuras agem como espelhos sem aço, e ele, o ator, aquele<br />

que mostra, está atrás <strong>do</strong> vidro, ele o esten<strong>de</strong> aos especta<strong>do</strong>res, e é<br />

ele quem se torna testemunha <strong>de</strong> um diálogo estranho e suntuoso<br />

entre o público e o seu fantasma, entre o ser e o irreal, e ele, o ator<br />

que não esqueceu as suas origens, bate nesse espelho, faz com que<br />

dance, move o reflexo, muda os ângulos. Torna-se contempla<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong>ssa dança premonitória em que a imagem prece<strong>de</strong>, em que o<br />

reflexo antecipa, em que o espelho sugere, em que o virtual é ativo<br />

e o real passivo. O viajante com o espelho sem aço é o especta<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, assiste a <strong>de</strong>bates estranhos, a confrontos singulares entre<br />

o público e suas figuras, e a sua percepção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> torna-se<br />

sensível e aguda, pois ele conserva os rastros <strong>de</strong>sses reflexos fugitivos<br />

e revela<strong>do</strong>res <strong>de</strong> um povo, <strong>de</strong> uma situação, <strong>do</strong>s sofrimentos e das<br />

esperanças comuns.<br />

O espelho sem aço po<strong>de</strong> ser esplêndi<strong>do</strong> ou embacia<strong>do</strong>,<br />

trabalha<strong>do</strong> ou rústico, liso ou bisela<strong>do</strong>; o viajante o esten<strong>de</strong><br />

incansavelmente e recebe os reflexos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com alegria ou<br />

tristeza, entusiasmo ou terror. Ele sabe ler um frêmito ou um<br />

silêncio, sabe pesar um murmúrio ou uma respiração. Às vezes a<br />

emoção é excessivamente forte, excessivamente violenta, e o espelho<br />

tem um leve tremor, e um pouco <strong>de</strong> vapor, logo dissipa<strong>do</strong>, aparece<br />

no reverso <strong>do</strong> espelho sem aço.<br />

Às vezes ele segura o espelho cola<strong>do</strong> ao corpo, tão perto que o<br />

especta<strong>do</strong>r tem a ilusão <strong>de</strong> que é ele próprio a figura, que ele encarna<br />

realmente o papel. Às vezes ele o afasta <strong>de</strong> leve, ele o segura diante<br />

<strong>do</strong> rosto, e trata-se da máscara, cômica ou trágica, e o corpo <strong>do</strong><br />

ator sublinha as expressões, as imagens enviadas pelo espelho. Ele<br />

po<strong>de</strong> segurá-lo <strong>de</strong>saparecen<strong>do</strong> no escuro ou por atrás <strong>de</strong> uma<br />

empanada: a ilusão é inquietante. Ocorre, por fim, que ele segure<br />

o espelho na ponta <strong>do</strong> braço, que o segure firmemente na mão,

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