Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a ... - ArtCultura
Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a ... - ArtCultura
Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a ... - ArtCultura
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
51 Existem alguns movimentos<br />
organiza<strong>do</strong>s no mun<strong>do</strong><br />
que pretendem despertar nas<br />
pessoas o senso crítico em relação<br />
à publici<strong>da</strong>de e ao consumismo.<br />
Vale consultar, por<br />
exemplo: (em francês) ou<br />
(em francês) ou<<br />
http://www.adbusters.org><br />
(em inglês).<br />
52 ZUIN, Antônio A. S., PU-<br />
CCI, Bruno, e RAMOS-DE-<br />
OLIVEIRA, Newton. A<strong>do</strong>rno.<br />
O poder educativo <strong>do</strong> pensamento<br />
crítico, Petrópolis: Vozes,<br />
2000, p.131.<br />
53 ADORNO, Theo<strong>do</strong>r. Educação<br />
e emancipação, Rio de Janeiro:<br />
Paz e Terra, 1995, p. 181.<br />
118<br />
programa<strong>do</strong>s e nos jogos eletrônicos? Na educação à distância? Na<br />
internet? Quais são as formas autênticas de estabelecimento de laços sociais<br />
nas socie<strong>da</strong>des? É preciso pensar diariamente nisso. As crianças,<br />
a<strong>do</strong>lescentes e jovens <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> de hoje mostram-se ca<strong>da</strong> vez mais<br />
consumistas, individualistas, semiforma<strong>do</strong>s, desprepara<strong>do</strong>s para o<br />
compartilhamento de questões coletivas. Não estariam lhes faltan<strong>do</strong> oportuni<strong>da</strong>des<br />
de praticar alteri<strong>da</strong>de e negociação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s exigi<strong>do</strong>s na<br />
vi<strong>da</strong> social? Esse tema levaria a discussão <strong>do</strong> que é a vi<strong>da</strong> coletiva e o<br />
bem comum e de quem é a responsabili<strong>da</strong>de por sua defesa.<br />
Apesar de reconhecer a força <strong>do</strong>s movimentos sociais, ten<strong>do</strong> a confessar<br />
que são raras as minhas esperanças numa revolução <strong>da</strong>s massas<br />
ou <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong>, o que me leva a pensar com os filósofos <strong>da</strong> Escola de<br />
Frankfurt que devemos recusar a publici<strong>da</strong>de e o consumismo (de supérfluos),<br />
num movimento de “grande recusa” que depende principalmente<br />
de ca<strong>da</strong> um de nós individualmente 51 . Esse movimento implica num<br />
processo auto-crítico contínuo para ir além <strong>do</strong> conhecimento e passar<br />
para o subjetivo de ca<strong>da</strong> indivíduo. Nesse senti<strong>do</strong>, “é preciso reconstruir<br />
a individuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sujeito na experiência com os outros sujeitos, para<br />
que essa individuali<strong>da</strong>de seja a fonte impulsiona<strong>do</strong>ra de resistência num<br />
mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>nifica<strong>do</strong>.” 52 Para traduzir a possibili<strong>da</strong>de de emancipação em<br />
situações formativas concretas, é preciso que esse processo seja acompanha<strong>do</strong><br />
de certa firmeza <strong>do</strong> eu. É preciso ter um “eu firme” que não esquece<br />
nunca que a emancipação é uma categoria dinâmica, como um<br />
contínuo “vir-a-ser”, que entrelaça o eu e o outro. Esse tema levaria a<br />
discussão <strong>do</strong> papel <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de e <strong>do</strong>s indivíduos nas mu<strong>da</strong>nças sociais.<br />
A<strong>do</strong>rno, preocupa<strong>do</strong> com “as enormes dificul<strong>da</strong>des que se opõem<br />
à emancipação nesta organização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” 53 , defendia a educação<br />
como importante meio de superar a barbárie e a socie<strong>da</strong>de administra<strong>da</strong><br />
pela lógica <strong>do</strong> capital. Ele dizia que a questão inevitável “o que fazer?”<br />
muitas vezes sabota o desenvolvimento conseqüente <strong>do</strong> conhecimento<br />
necessário para possibilitar qualquer transformação. A educação apenas<br />
não tem condições de transformar sozinha a situação de barbárie<br />
pre<strong>do</strong>minante. Porém, é imprescindível que os motivos que levam à<br />
barbárie tornem-se conscientes, e isso só pode ser feito por meio <strong>da</strong> educação<br />
(formal e não formal), principalmente na primeira infância.<br />
Assumin<strong>do</strong> como necessária e urgente uma educação para a contradição<br />
e a resistência, resta-nos o desafio de saber como isso se <strong>da</strong>ria<br />
efetivamente. Como seriam a educação, o trabalho e o <strong>lazer</strong> para uma<br />
socie<strong>da</strong>de em busca de emancipação?<br />
Em A<strong>do</strong>rno, apesar de estar constata<strong>da</strong> e assumi<strong>da</strong> a dificul<strong>da</strong>de,<br />
no quadro <strong>do</strong> capitalismo, de se superar as condições objetivas <strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />
brechas de esperança aparecem quan<strong>do</strong> ele focaliza o la<strong>do</strong> subjetivo (falava<br />
em “inflexão em direção ao sujeito”) na educação e auto-reflexão<br />
<strong>crítica</strong>. É fun<strong>da</strong>mental, assim, conhecer os mecanismos internos que levam<br />
os sujeitos a cometerem atos como de violência, opressão, exploração<br />
e até de submissão e resignação.<br />
Longe de se assemelhar ao “individualismo meto<strong>do</strong>lógico” anteriormente<br />
critica<strong>do</strong>, a proposta a<strong>do</strong>rniana de uma volta ao sujeito, por<br />
meio <strong>da</strong> educação, para limpar nele os impedimentos que lhe foram imputa<strong>do</strong>s<br />
de forma a enfraquecer as suas resistências, tem um caráter<br />
<strong>ArtCultura</strong>, Uberlândia, v. 10, n. 17, p. 103-119, jul.-dez. 2008