Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a ... - ArtCultura
Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a ... - ArtCultura
Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a ... - ArtCultura
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
1 ADORNO, Theo<strong>do</strong>r. Educação<br />
e emancipação. Rio de Janeiro:<br />
Paz e Terra, 1995, p. 178.<br />
2 A Teoria Crítica reflete o pensamento<br />
<strong>do</strong>s autores <strong>da</strong> primeira<br />
geração <strong>da</strong> Escola de<br />
Frankfurt composta por Max<br />
Horkheimer, Theo<strong>do</strong>r A<strong>do</strong>rno,<br />
Walter Benjamin e Herbert<br />
Marcuse. “(...) a teoria <strong>crítica</strong><br />
passa a expressar um esforço<br />
no senti<strong>do</strong> de recuperar a radicali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> <strong>crítica</strong> de Marx<br />
ao capitalismo e à ideologia,<br />
sem, contu<strong>do</strong>, aceitar as idéias<br />
<strong>do</strong> autor de O Capital sobre<br />
o papel revolucionário <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong><br />
e sobre o encaminhamento<br />
<strong>da</strong> construção <strong>do</strong> socialismo”<br />
(KONDER, Leandro,<br />
A questão <strong>da</strong> ideologia. São Paulo:<br />
Companhia <strong>da</strong>s Letras,<br />
2002, p.79). Os membros <strong>da</strong><br />
Escola de Frankfurt se definiam<br />
teoricamente dentro de<br />
uma “perspectiva neomarxista<br />
<strong>crítica</strong>” (SOARES, Jorge<br />
C. Escola de Frankfurt: unin<strong>do</strong><br />
materialismo e psicanálise<br />
na construção de uma psicologia<br />
social marginal. In: VI-<br />
LELA, Ana Maria J., FERREI-<br />
RA, Arthur A.L. e PORTU-<br />
GAL, Francisco T. (orgs.). História<br />
<strong>da</strong> psicologia: rumos e percursos.<br />
Rio de Janeiro: Nau<br />
Ed., 2006.<br />
3 ADORNO, Theo<strong>do</strong>r e HOR-<br />
KHEIMER, Max. A indústria<br />
cultural. O iluminismo como<br />
mistificação <strong>da</strong>s massas. In:<br />
ADORNO, Theo<strong>do</strong>r. Indústria<br />
cultural e socie<strong>da</strong>de. Seleção de<br />
Textos de Jorge Mattos Brito<br />
de Almei<strong>da</strong>, São Paulo: Paz e<br />
Terra, 2006. Haug atribui uma<br />
nova denominação para indústria<br />
cultural, chaman<strong>do</strong>a<br />
de “indústria <strong>da</strong> ilusão” ou<br />
“indústria <strong>da</strong> distração”. Cf.<br />
HAUG, Wolfgang F. Crítica <strong>da</strong><br />
estética <strong>da</strong> merca<strong>do</strong>ria. São Paulo:<br />
Editora Unesp, 1997.<br />
104<br />
<strong>Desafios</strong> <strong>da</strong> <strong>crítica</strong> <strong>imanente</strong> <strong>do</strong> <strong>lazer</strong><br />
e <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> a partir <strong>do</strong> shopping center<br />
Valquíria Padilha<br />
RESUMO<br />
Este artigo analisa aspectos psicossociais<br />
<strong>do</strong> <strong>lazer</strong> e <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> como fenômenos<br />
sociais urbanos típicos <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong>des industriais capitalistas, partin<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> referencial teórico desenvolvi<strong>do</strong><br />
pelos autores <strong>da</strong> Escola de Frankfurt,<br />
que propõe o exercício <strong>da</strong> <strong>crítica</strong><br />
<strong>imanente</strong> como necessária para desven<strong>da</strong>r<br />
as ideologias e as contradições<br />
inerentes à “socie<strong>da</strong>de administra<strong>da</strong>”.<br />
O shopping center - templo de <strong>consumo</strong><br />
e de <strong>lazer</strong> reifica<strong>do</strong> - é locus privilegia<strong>do</strong><br />
de realização <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong>de econômica<br />
<strong>do</strong> capital e, por isso, é analisa<strong>do</strong><br />
mais de perto nesse texto, a partir<br />
<strong>do</strong>s conceitos de estranhamento<br />
(Marx) e de semiformação (A<strong>do</strong>rno).<br />
PALAVRAS-CHAVE: <strong>lazer</strong>; <strong>consumo</strong>;<br />
shopping center.<br />
℘<br />
ABSTRACT<br />
as pessoas aceitam com maior ou menor resistência aquilo que a existência<br />
<strong>do</strong>minante apresenta à sua vista e ain<strong>da</strong> por cima lhes inculca à força, como se<br />
aquilo que existe precisasse existir dessa forma. 1<br />
O procedimento e os limites <strong>da</strong> <strong>crítica</strong> <strong>imanente</strong><br />
This article analyses psychosocial aspect of<br />
leisure and consumption while the typical<br />
urban social phenomenon of the industrial<br />
societies, starting from the theory developed<br />
by Frankfurt School authors, that<br />
considers that a persistent discussion and<br />
evaluation is necessary to unfold the<br />
ideologies and contradictions inherent to<br />
the “administrated society”. The shopping<br />
mall or shopping centre, the reified consumption<br />
and leisure temple is a privileged<br />
locus for executing the econo-mic rationality<br />
of the capital and, therefore, is closely<br />
analyzed in this text, from the estrangement<br />
concept (Marx) and semiformation<br />
concept (A<strong>do</strong>rno).<br />
KEYWORDS: leisure; consumption;<br />
shopping mall.<br />
Lazer e <strong>consumo</strong> são vistos nesse artigo como dimensões de um<br />
mesmo fenômeno, analisa<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s pressupostos <strong>da</strong> Teoria Crítica 2<br />
e <strong>do</strong>s conceitos “indústria cultural” 3 e “shopping center híbri<strong>do</strong>” 4 . Por<br />
meio dessas dimensões e desses conceitos, procuro decifrar os elementos<br />
de uma tendência geral <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de nos dias atuais, de forma a propor<br />
um olhar psicossociológico que alcance a reali<strong>da</strong>de para além de suas<br />
aparências. Transcender as aparências, numa perspectiva dialética, supõe<br />
uma consciência capaz de romper a rede de ofuscamento que reifica<br />
e fetichiza o espírito, conforme sugeriu A<strong>do</strong>rno 5 . Desven<strong>da</strong>r as aparências<br />
<strong>do</strong>s fenômenos ideológico-sociais, tal como o <strong>lazer</strong> e o <strong>consumo</strong>, ain-<br />
<strong>ArtCultura</strong>, Uberlândia, v. 10, n. 17, p. 103-119, jul.-dez. 2008