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Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a ... - ArtCultura

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11 KONDER, Leandro e Frei<br />

Betto, O indivíduo no socialismo.<br />

São Paulo: Editora Fun<strong>da</strong>ção<br />

Perseu Abramo, 2000,<br />

p. 43.<br />

12 BENJAMIN, Walter. Sobre<br />

o conceito de História. In:<br />

BENJAMIN, Walter. Magia e<br />

técnica, arte e política: ensaios<br />

sobre literatura e história <strong>da</strong><br />

cultura. São Paulo: Brasiliense,<br />

1994. Ele afirma: “[...] o<br />

materialista histórico [...] considera<br />

sua tarefa escovar a<br />

história a contrapelo.” p. 225.<br />

13 RODRIGUES, Neidson. Elogio<br />

à educação. São Paulo:<br />

Cortez, 1999, p. 77.<br />

106<br />

ma:<br />

Sobre o pragmatismo, concor<strong>do</strong> com Leandro Konder quan<strong>do</strong> afir-<br />

A teoria não tem uso imediato e, para ser boa, não deve ter uso imediato, porque tem<br />

outro tipo de uso, um uso estratégico que nos aju<strong>da</strong> a pensar o que as urgências <strong>do</strong> diaa-dia<br />

não nos permitem examinar com mais atenção. Mas ela tem também uma função.<br />

Um pensa<strong>do</strong>r que admiro muito – Nicolau de Cusa – disse, lá pelo ano de 1400,<br />

que, para entendermos alguma coisa, precisamos antes complicá-la, e usava a seguinte<br />

imagem: você pega um papel e <strong>do</strong>bra (em latim: plicare), depois você o <strong>do</strong>bra<br />

novamente; assim, você já complicou, antes de poder des<strong>do</strong>brar, que é explicar. [...] É<br />

claro que não podemos desligar o trabalho teórico <strong>da</strong> ação prática na vi<strong>da</strong>, mas o<br />

trabalho teórico é fun<strong>da</strong>mental [...]. 11<br />

Num exercício de tornar públicas minhas <strong>crítica</strong>s e de “complicar”<br />

o debate, proponho examinarmos mais de perto os fenômenos <strong>do</strong> <strong>lazer</strong> e<br />

<strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, destacan<strong>do</strong>-os como elementos integrantes e fun<strong>da</strong>mentais<br />

<strong>do</strong> shopping center nas socie<strong>da</strong>des atuais, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> necessária <strong>crítica</strong><br />

<strong>imanente</strong>, malgré as limitações. Esse artigo não pretende <strong>da</strong>r respostas,<br />

oferecer passos a serem segui<strong>do</strong>s em busca de uma socie<strong>da</strong>de mais justa,<br />

menos desigual, mais humaniza<strong>da</strong> e menos coisifica<strong>da</strong>. A idéia é sistematizar<br />

algumas questões de forma a olhar para o <strong>lazer</strong>, o <strong>consumo</strong> e o<br />

shopping center, pentean<strong>do</strong> a socie<strong>da</strong>de “a contrapelo”, como propôs<br />

Walter Benjamin 12 . Usan<strong>do</strong> sua bela metáfora, afirmo que pentear no<br />

senti<strong>do</strong> contrário - ou despentean<strong>do</strong> - permite encontrar os problemas<br />

que se escondem na aparência <strong>do</strong>s pelos bem arruma<strong>do</strong>s.<br />

Os senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e <strong>do</strong> <strong>lazer</strong> no shopping center híbri<strong>do</strong><br />

O shopping center híbri<strong>do</strong> é aquele que se torna hoje muito mais <strong>do</strong><br />

que um espaço exclusivamente de <strong>consumo</strong> de objetos, mas também um<br />

centro urbano de compra de serviços, alimentação e <strong>lazer</strong>. É uma ci<strong>da</strong>de<br />

artificial, que pretende substituir a ci<strong>da</strong>de real e seus problemas. Esse<br />

espaço integra e reflete a estrutura socioeconômica <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des. Portanto,<br />

nas socie<strong>da</strong>des capitalistas, os shopping centers são espaços de segregação<br />

que selecionam a entra<strong>da</strong> e a circulação <strong>da</strong>s pessoas conforme<br />

clivagens de classe. Rodrigues afirma:<br />

O que permanece na civilização construí<strong>da</strong> a partir <strong>do</strong> shopping center é a segregação,<br />

mas não mais <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s desajusta<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s são assim considera<strong>do</strong>s, porque<br />

o desejo de protegê-los <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> externo segrega to<strong>da</strong>s as crianças, jovens e adultos<br />

nos limites <strong>do</strong> seu contorno. E ao mesmo tempo desenrola-se uma pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> me<strong>do</strong>:<br />

o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro, o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> espaço público, o me<strong>do</strong> <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. O que se constrói é<br />

uma visão de seres humanos ensimesma<strong>do</strong>s, individualistas, consumistas, competitivos,<br />

egoístas e amedronta<strong>do</strong>s. 13<br />

No meu livro Shopping center: a catedral <strong>da</strong>s merca<strong>do</strong>rias, defendi a<br />

idéia de que os shopping centers são ícones de uma socie<strong>da</strong>de que valoriza<br />

o espetáculo <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> de bens materiais e de <strong>lazer</strong>-merca<strong>do</strong>ria.<br />

Assim, esses centros comerciais configuram-se como espaços de <strong>lazer</strong><br />

aliena<strong>do</strong>, influencian<strong>do</strong> e deterioran<strong>do</strong> a construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de social<br />

de ca<strong>da</strong> um, tanto <strong>do</strong>s que freqüentam estes espaços como também<br />

<strong>ArtCultura</strong>, Uberlândia, v. 10, n. 17, p. 103-119, jul.-dez. 2008

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