DIADORIM: SEREIA SILENCIOSA E SILENCIADA DO ... - pucrs
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trouxe. Era um rifle reiúno, peguei: mosquetão de cavalaria. Com aquilo, Joca<br />
Ramiro me obsequiava! Digo ao senhor: minha satisfação não teve beiras. Pudessem<br />
afiar inveja em mim, pudessem. Diadorim me olhava, com um contentamento.<br />
(ROSA, 2001, p.265)<br />
Da mesma forma o feminino extrapola o jagunço quando Diadorim, frente à ânsia de<br />
demonstrar rastro do seu sentimento a Riobaldo, de burlar as regras do silêncio, de selar a<br />
amizade transcendente, confia-lhe seu verdadeiro nome: ―– ―Pois então: o meu nome,<br />
verdadeiro, é Diadorim... Guarda este meu segredo. Sempre, quando sozinhos a gente estiver,<br />
é de Diadorim que você deve de me chamar, digo e peço, Riobaldo...‖ (ROSA, 2001, p.172)<br />
Há algo no revelar-se em partes que permite a Diadorim vislumbrar a unidade do seu<br />
ser fragmentado pelo disfarce. O jogo entre Riobaldo e Diadorim se dá neste nível: Riobaldo<br />
se compraze pelo silêncio, visto que para ele o silêncio é Diadorim; Diadorim escapa no<br />
entredizer, visto que para ela cifrar-se é uma forma de respirar.<br />
Diadorim estava indo lá, modo de caçar e recolher o revólver, que de minha mão<br />
tinha caído. Num repousozinho de coração, calado eu agradeci à amizade dele essa<br />
fineza. Daí, vim. Sempre longe em frente, portanto que meu cavalo soberbo não<br />
dava alcance para ele se emparelhar. Daí, cantei. Mesmo mal, me cantei por causa<br />
que via que, medeando tão grandes silêncios, era que Diadorim tomava mais<br />
sorrateiro poder em meu afeto, que não era possível concernente.<br />
Nesses momentos elaboradamente descritos por Riobaldo é que se vislumbra o<br />
sentimento que os une. Por serem dois homens jagunços, nada mais pode haver, e o que há já<br />
é muito: ―Homem com homem, de mãos dadas, só se a valentia deles for enorme. Aparecia<br />
que nós dois já estávamos cavalhando lado a lado, par a par, a vai-a-vida inteira. Que:<br />
coragem – é o que o coração bate; se não, bate falso. Travessia – do sertão – a toda travessia.‖<br />
(ROSA, 2001, p.518) Riobaldo, homem e livre, mantém à parte do amor seu plano futuro:<br />
Otacília. Diadorim, refém de sua condição esdrúxula, não planeja além do que Riobaldo pode<br />
suportar: ―vou lhe contar um segredo‖. Ambos se movem quase sempre em acordo triste e<br />
conformado dentro do que lhes é permitido.<br />
O que não digo, o senhor verá: como é que Diadorim podia ser assim em minha vida<br />
o maior segredo? De manhã, naquele mesmo dia, ele tinha conversado, de me dizer:<br />
– ―Riobaldo, eu gostava que você pudesse ter nascido parente meu...‖ Isso dava para<br />
alegria, dava para tristeza. O parente dele? Querer o certo, do incerto, coisa que<br />
significava. Parente não é o escolhido – é o demarcado. Mas, por cativa em seu<br />
destinozinho de chão, é que árvore abre tantos braços. Diadorim pertencia à sina<br />
diferente.<br />
Riobaldo sonda Diadorim durante todo o livro. O que falta, o que sobra, o que não se<br />
resolve naquela personalidade inviolável: tudo de Diadorim interessa a Riobaldo. Diadorim